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PENSAMENTO POLÍTICO

ANTIGO E MEDIEVAL
Ciência Política e Relações Internacionais · 3º ano · 1º semestre
Professor António Amaral · Ano Letivo 2023/24

RELATÓRIO I – PLATÃO (A REPÚBLICA)


“Ontem Desci ao Pireu…”
Localização na Obra: Livro I
Temática Principal: Diálogo sobre a Velhice
Resumo do Excerto:
• Contexto do Encontro no Pireu: O diálogo começa com Sócrates a narrar a história
de como ele e Gláucon desceram ao Pireu, o Porto de Atenas, a fim de testemunhar uma
procissão religiosa em honra da Deusa Bendis (1ª vez que a festividade ocorria).
• A Conversa com Céfalo sobre a Velhice: Quando iam retornar a Atenas, Polemarco
convida Sócrates e Gláucon a participar da festa noturna. Ambos concordam e a
temática da velhice aparece na conversa. Céfalo, o anfitrião, de coroa na cabeça, tinha
acabado de realizar um sacrifício religioso e cumprimenta Sócrates. Este responde que
deveria visitar mais frequentemente uma vez que aprecia conversar com pessoas mais
velhas pois acredita poder aprender algo com as suas experiências.
o Sócrates pede a opinião de Céfalo sobre a velhice e o mesmo lamenta a
passagem do tempo e a perda das alegrias da juventude.
o Por outro lado, Céfalo diz que a atitude das pessoas em relação à velhice
depende do modo como viveram as suas vidas. [uma pessoa que viveu de forma
virtuosa tem uma velhice e fase de vida agradável, caso não o tenha vivido dessa
forma a velhice pode ser “penosa”]
o A visão de Céfalo sobre a velhice também fornece uma introdução à relação
entre virtude, sabedoria e bem-estar que Platão explora ao longo do trabalho.
Notas e análise de Conteúdo
• Valorização da Sabedoria e Virtude: A conversa enfatiza a importância da sabedoria
e virtude numa sociedade. A atitude das pessoas em relação à velhice depende da forma
como vivem a sua vida. Esta premissa mostra como a virtude é uma qualidade essencial
dos governantes e cidadãos.
• Relação entre Ética e Política: A ética e a política estão intrinsecamente ligadas. A
virtude e o modo como as pessoas vivem as suas vidam impactam diretamente na forma
como uma sociedade é governada e em como as pessoas se relacionam umas com as
outras. A ética e a moralidade eram consideradas fundamentais para a boa governança.
• O Papel dos Anciãos na Sociedade: Os mais velhos tendem a ter um papel importante
na transmissão de conhecimento e sabedoria para as gerações mais jovens. Os anciãos
frequentemente ocupavam posições de liderança e aconselhamento em sociedades
antigas, o que significa que, se a velhice é valorizada e os idosos respeitados, há
implicações positivas para a estabilidade e continuidade da sociedade.
• Reflexão sobre a Passagem do Tempo: Questões filosóficas como o tempo, a
mudança e a natureza efêmera da vida humana, reflexões sobre a transitoriedade da
vida, são comuns na filosofia antiga e medieval e influenciam a forma como as pessoas
pensam sobre a mortalidade e a importância de viver uma vida virtuosa.

Alegoria da Luz (do Sol)


Localização na Obra: Livro VI
Temática Principal: Natureza da Realidade, a luz, a visão e a relação entre o “Bem” e o mundo
inteligível
Resumo do Excerto:
• Sócrates começa por discutir sobre como vemos o mundo físico, dizendo que é
necessária luz para que os nossos olhos possam perceber as cores e os objetos. Em
seguida, pergunta a Glauco qual a divindade celeste responsável por proporcionar essa
mesma luz. Glauco diz que o Sol é a causa da visão e da capacidade de ver as coisas no
mundo visível.
• Sócrates avança com a ideia de que o Sol é como o Bem no mundo sensível, assim
como o Bem é a causa do conhecimento e da verdade no mundo inteligível.
o O Bem é a forma suprema que ilumina o mundo da inteligibilidade, tornando
possíveis o conhecimento e a verdade.
o O Sol ilumina o mundo visível e permite que as coisas sejam vistas.
• O restante diálogo explora como as implicações desta analogia e como o Bem está
acima de todas as outras formas e é a causa de tudo o que é verdadeiro e bom.
Notas e análise de Conteúdo
• Esta secção é fundamental para a compreensão da filosofia platónica e de como o
autor concebe a natureza da realidade e a busca da verdade e da sabedoria
• Natureza da Verdade e o do Conhecimento: A alegoria da luz destaca a relação entre
a luz do sol e a visão, há um paralelo entre a visão do mundo físico e a inteligência do
mundo das ideias. A verdade e o conhecimento estão relacionados à iluminação da

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mente. A alegoria sugere que a verdade é algo a ser descoberto e não algo imposto de
fora.
• O Papel do Sol como Bem Supremo: O Sol é uma metáfora/analogia do Bem
supremo, que é a causa de todas as coisas no mundo sensível e o princípio organizador
do mundo das ideias. O Bem supremo deve ser o princípio orientador da ação política.
Outros autores, na idade média, como Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino,
exploraram esta ideia e argumentaram que o Bem divino deve ser a base da moralidade
e da política.
• Relação entre o Mundo Sensível e o mundo das Ideias: Relação entre o mundo
sensível e o mundo das ideias; a política ideal deve ser baseada em princípios eternos e
universais. Alta influência na filosofia política medieval que muitas vezes procurava
fundamentar a autoridade política na lei divina e na justiça eterna.
• A Busca da Virtude e da Justiça: A luz do Sol é associada à verdade e ao
conhecimento, que são fundamentais para a virtude e a justiça. Influencia nas ideias de
que a autoridade política deve ser exercida com sabedoria e virtude, procurando
alcançar o bem comum.

Alegoria da Linha
Localização na Obra: Livro VI
Temática Principal: Natureza da realidade, divisão entre o mundo sensível e o mundo das
ideias e a relação entre a visão e a inteligência
Resumo do Excerto:
• Divisão da Realidade: Sócrates começa por dividir a realidade em duas partes: o
mundo visível e o mundo inteligível. O mundo visível compreende as coisas que
percebemos com os sentidos; o mundo inteligível contém as formas eternas e imutáveis,
que são objetos do conhecimento.
• Divisão da Linha: Sócrates compara essa divisão à divisão de uma linha e quatro
segmentos desiguais, sendo que cada parte representa uma categoria da realidade:
o Imagens – Estão presentes dentro do mundo visível (sombras, reflexos, etc…)
o Objetos Físicos – Todas as coisas que conseguimos visualizar na natureza
(plantas, animais, artefactos, etc…)
o Conhecimento baseado em formas puras/ Razão - Os entes matemáticos e é
onde se dá o Entendimento (Inteligência)
o Conhecimento baseado em hipóteses/Ideias, Formas, o Belo – O mais elevado
segmento onde se toma a consciência, é própria do mundo inteligível. A

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consciência não se serve de dados provenientes do mundo visível, passando
diretamente de ideia para ideia e fazendo um movimento dialético. (ciência e
dialética)
• Funções da Alma: Sócrates associa cada segmento da linha a diferentes faculdades da
alma: inteligência à parte mais alta da alma; raciocínio à segunda parte; crença à terceira
parte; imaginação à última parte. Cada uma destas faculdades representa um grau de
compreensão.
• Esta parte de A República trata da natureza da realidade e da epistemologia, ou seja, da
natureza do conhecimento. É estabelecida uma hierarquia de conhecimento e a
discussão é fundamental para a filosofia de Platão tendo implicações na compreensão
da procura pela verdade e da natureza do conhecimento.

Alegoria da Caverna
Localização na Obra: Livro VII
Temática Principal: Natureza da realidade, do conhecimento e da educação
Resumo do Excerto:
• Alegoria da Caverna: Descrita uma cena imaginária de prisioneiros que passaram a
sua vida toda acorrentados numa caverna escura, de costas para a entrada, a olhar para
a parede que estava à sua frente. Eles apenas observam as sombras projetadas na parede
a partir dos objetos que passam pela entrada da caverna, iluminados por uma fogueira
atrás deles.
• Ignorância e Educação: Os prisioneiros, incapazes de se mover ou de se virarem para
a entrada da caverna, acreditam que as sombras são a única realidade. Eles confundem
as sombras com a verdadeira existência e formam as suas crenças com base nessas
mesmas sombras.
• Libertação e Educação: No caso de um prisioneiro ser libertado e forçado a subir em
direção à entrada da caverna, Sócrates diz que, primeiro, ele ficaria desorientado e cego
pela luz do sol, em seguida, e com o tempo, os seus olhos iriam acostumar-se e ele veria
o mundo exterior com mais clareza. Tal representa a jornada do conhecimento,
passando da ignorância à verdade.
• Regresso à Caverna: Sócrates argumenta que, se o prisioneiro voltasse à caverna para
libertar os outros, eles não entenderiam a sua experiência, rir-se-iam dele e resistiriam
à ideia de deixar a escuridão da caverna. Isso ilustra os desafios de educar e elevar as
almas humanas à verdadeira compreensão.

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• O sol, fora da caverna, representa o Bem supremo e o princípio de toda a verdade e
conhecimento, como entendemos pela alegoria da luz. O filósofo, que procura a
sabedoria, deve ascender à contemplação do Bem e, em seguida, compartilhar o seu
conhecimento com os outros, mesmo que seja difícil convencê-los a sair da ignorância
(da caverna).
• Esta alegoria é uma metáfora que Platão usa para destacar a procura da verdade, o
processo de educação e a natureza da realidade. Sugere que os governantes devem ser
filósofos, capazes de ver a verdade, a fim de liderar e educar o público.

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