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4/24/23, 4:53 PM Conteúdo Online

O século XX não foi apenas o século da Física de Albert Einstein, ou da Matemática de Kurt Gödel: foi também o
século da psicologia e da investigação do inconsciente. Ao final do século XIX e início do século XX, o cérebro, e
todos os processos a ele relacionados, havia se transformado no foco de atenção dos cientistas e médicos. Na
França, o psiquiatra Charcot estudava a histeria e, depois de um período trabalhando ao lado dele, Sigmund Freud
(1856-1939), médico que havia nascido no antigo Império Austríaco, iniciou seus estudos a respeito da cura
catártica, ou seja, a cura por meio da fala e da retomada de memórias ocultas. Não demorou muito para que esse
material permitisse a elaboração do conceito de inconsciente e o desenvolvimento da psicanálise, método
responsável por investigar os processos do inconsciente. Como seria possível fazer emergir o que estava reprimido
nas zonas mais profundas da mente? Por meio do estímulo à fala, à associação de ideias e à interpretação de
sonhos, foi a resposta de Freud. Em especial, Freud preocupou-se em estudar os fenômenos das representações
psíquicas, que nada mais eram do que unidades mentais de objetos ou situações que se originavam da experiência
sensorial. De fato, os processos psíquicos inconscientes eram responsáveis pela maior parte da nossa atividade
psíquica e a consciência nada mais era do que uma camada leve da superfície do oceano no qual estavam imersos
nossos sonhos, sentimentos, desejos e vontades.

Quase que simultaneamente, o psiquiatra suíço Carl Gustav Jung (1875-1961) desenvolvia os métodos de sua
psicologia analítica e alguns conceitos que, ainda hoje, são de importância fundamental no campo da psicologia.
Para Jung, a psique humana operava de forma simbólica; por isso, a análise dos sonhos era peça central da sua
terapia. A imaginação ativa permitia que o inconsciente viesse à tona, como se este fosse uma realidade em si, tão
real quanto qualquer coisa com a qual sonhássemos. Assim, sonhos ou desenhos poderiam fazer revelar o que se
passava no inconsciente.

Jung também desenvolveu o conceito de inconsciente coletivo: estudando várias religiões e mitos criados por
diferentes comunidades, Jung percebeu que algumas representações eram comuns: rituais associados à morte, ao
casamento, determinadas narrativas místicas, todo esse material mostrava que havia representações coletivas, e
que eram partilhadas por pessoas de diferentes culturas e visões de mundo.

Figura 1. A
alquimia,
astrologia,
filosofia oriental,
esoterismo,
mitos, sonhos e
fenômenos
parapsicológicos:
esses foram
alguns dos
materiais
utilizados por
Jung no
desenvolvimento
dos conceitos de
inconsciente
coletivo.

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Observação:

O contato entre Jung e Freud foi extremamente benéfico para o desenvolvimento das
obras de ambos os psiquiatras. Posteriormente, os dois romperam relações de forma
radical: Jung não concordava com a ênfase à sexualidade no trabalho de Freud, e este
não aceitava o espiritualismo e o misticismo na obra do colega. Afinal, Jung trabalhava
a partir de materiais aos quais não se atribuía qualquer atributo científico, tais como
alquimia, astrologia, filosofia oriental, esoterismo, mitos, sonhos e fenômenos
parapsicológicos.

Era uma questão de tempo para que os resultados dos trabalhos e os desenvolvimentos da psiquiatria alcançassem
os filósofos que estavam debatendo os processos de construção do conhecimento e os princípios ontológicos
(relacionados à existência do ser e da realidade) até então aceitos.

O contato entre a Filosofia e a Psicologia fez surgir a fenomenologia, corrente de pensamento que atribuiu ao
sujeito do conhecimento a capacidade de, por meio da consciência, constituir a realidade. Nessa nova área de
pesquisa, tornaram-se proeminentes os nomes de Husserl e Merleau-Ponty.

“[...] fenomenologia é uma filosofia da experiência. Para a fenomenologia, a fonte última de todo significado e
valor é a experiência vivida dos seres humanos. Todos os sistemas filosóficos, teorias científicas ou julgamentos
estéticos têm o status de abstrações do fluxo e refluxo do mundo vivido. A tarefa do filósofo, de acordo com a
fenomenologia, é descrever as estruturas da experiência, em particular a consciência, a imaginação, as relações
com outras pessoas e a situação do sujeito humano na sociedade e na história. As teorias fenomenológicas da
literatura consideram as obras de arte como mediadoras entre as consciências do autor e do leitor ou como
tentativas de desvendar aspectos do ser humano e de seus mundos. O fundador moderno da fenomenologia é o
filósofo alemão Edmund Husserl (1859-1938), que procurou fazer da filosofia ‘uma ciência rigorosa’, voltando sua
atenção ‘para as próprias coisas’ (zu den Sachen selbst ). Ele não quer dizer com isso que a filosofia deva se tornar
empírica, como se os ‘fatos’ pudessem ser determinados objetiva e absolutamente. Em vez disso, buscando
fundamentos sobre os quais os filósofos pudessem fundamentar seu conhecimento com certeza, Husserl propõe
que a reflexão ponha de lado todas as suposições improváveis (sobre a existência de objetos, por exemplo, ou
sobre entidades ideais ou metafísicas) e descreva o que é dado na experiência. O caminho para uma filosofia sem
pressuposições, ele argumenta, começa com a suspensão da ‘atitude natural’ do conhecimento cotidiano, que
pressupõe que as coisas estão simplesmente lá no mundo externo. Os filósofos devem ‘colocar entre parênteses’ o
mundo-objeto e, em um processo que ele chama de epoché, ou ‘redução’, focalizar sua atenção no que é imanente
à própria consciência, sem pressupor nada sobre suas origens ou suportes. A descrição pura dos fenômenos dados
na consciência, Husserl acredita, daria aos filósofos uma base de conhecimento necessário e certo e, assim,
justificaria a afirmação da filosofia de ser mais radical e abrangente do que outras disciplinas.

Fenomenólogos posteriores foram céticos quanto à afirmação de Husserl de que a descrição pode ocorrer sem
pressuposições, em parte por causa da própria análise de Husserl da estrutura do conhecimento. Segundo Husserl,
a consciência é composta de "atos intencionais" correlacionados a ‘objetos intencionais’. A ‘intencionalidade’ da
consciência é o seu direcionamento para os objetos, que ela ajuda a constituir. Os objetos são sempre apreendidos
de forma parcial e incompleta, em ‘aspectos’ (Abschattungen ) que são preenchidos e sintetizados de acordo com
as atitudes, interesses e expectativas de quem percebe. Cada percepção inclui um ‘horizonte’ de potencialidades
que o observador assume, com base em experiências passadas ou crenças sobre tais entidades, que serão
preenchidas por percepções subsequentes [...]" (Universidade de Brown, In.: brown.edu/Departments)

Exercícios propostos
1. (UEM) – Para o pragmatismo, a experiência é substancialmente abertura para o futuro (…). Desse ponto de
vista, uma “verdade" não existe porque pode ser confrontada com os dados acumulados da experiência passada,
mas por ser suscetível de qualquer uso na experiência futura. Nesse sentido, a tese fundamental do pragmatismo é
a de que toda a verdade é uma regra de ação, uma norma para a conduta futura.

(ABBAGNANO, N. História de filosofia.


In: ARANHA, M. L. de A. Filosofar com textos: temas e história da
filosofia. São Paulo: Moderna, 2012, p. 487.)

Sobre o pragmatismo, assinale o que for correto.

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01) O fundamento filosófico do pragmatismo é a crença racional justificada pelo alcance teórico dos conceitos.

02) O pragmatismo está associado à fenomenologia, pois visa os conteúdos intencionais da consciência.

04) A função da experiência é a possibilidade de formar instrumentos capazes de orientar a ação.

08) Ao recusar um fundamento filosófico fundacionalista, o pragmatismo é relativista.

16) Segundo o pragmatismo, não há verdade absoluta, mas construção do conhecimento através do diálogo e do
intercâmbio de experiências.

2. (UEM) – Merleau-Ponty desfaz a ideia tradicional de que, de um lado, existe o mundo dos objetos, do corpo, da
pura facticidade e, de outro, o mundo da consciência e da subjetividade, da transcendência. O que ele pretende é
compreender melhor as relações entre a consciência e a natureza, entre o interior e o exterior. Essas relações são
de ambiguidade e sobreposição.

(ARANHA, M. L.; MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução à filosofia. 4.ª ed. São Paulo: Moderna, 2009, p. 241.)

A partir dessa afirmação e dos conhecimentos sobre fenomenologia, assinale o que for correto.

01) A facticidade é uma dimensão existencial que todo ser humano apresenta, isto é, é um conjunto de
determinações concretas e objetivas.

02) A fenomenologia visa superar a dicotomia segundo a qual a liberdade é pensada de acordo com as teses do
livre-arbítrio e do determinismo objetivo.

04) A subjetividade é o domínio cognitivo ou mental do ser humano.

08) A ambiguidade de que fala a fenomenologia de Merleau-Ponty é tributária da religião cristã.

16) A facticidade se opõe à transcendência, que é a disposição por meio da qual o ser humano vai além de suas
determinações físicas.

Gabarito
1. RESOLUÇÃO:

Soma: 4 + 16 = 20

2. RESOLUÇÃO:

Soma: 01 + 02 + 16 = 19

Referências

Textuais

CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2002. Universidade de Brown,
In.: brown.edu/Departments

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