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A Psicologia Fenomenológico-Existencial: Contextualização

Etimologicamente, psicologia significa ciência da alma. A curiosidade acerca da alma sempre foi e continua sendo uma
característica do homem. O primitivo considerava a alma como uma entidade responsável pelas manifestações de
natureza subjetiva, que se justificava pela vivência dos sonhos, pelas manifestações delirantes e pela experiência da
morte, chegando a conceituá-la como substância sutil numa concepção materialista, constituindo um duplo.

Aristóteles, também interessado no estudo da alma, porém com o propósito de averiguar sua imortalidade, definiu-a
como o ato prime.iro, ou seja, como perfeição fundamental de um ser vivo.

Atualmente, a alma ainda constitui-se num alvo de interesse do homem contemporâneo e é descrita como um
substrato substancial das representações, das sensações, das emoções, dos sentimentos; enfim, de uma expressão
psíquica.

Ocorre que com o advento da ciência, a alma, como objet6 de estudo, tomou-se inconcebível. A psicologia passou a
ser definida como a ciência que estuda o comportamento. O comportamento substitui a alma, uma vez que a ele é
possível empregar todos os princípios científicos e seus respectivos métodos, principalmente o método hipotético-
dedutivo.

Por conseguinte, a psicologia passou a pertencer ao rol das ciências naturais, que contêm no bojo de seu objeto de
estudo os fenômenos fisiológicos. Neste aspecto a psicologia fica reduzida à fisiologia

Brentano surge em ferrada oposição a Wundt como a qualquer outra proposta que considere os fenômenos
psicológicos como epifenômenos. Por outro lado defende que não cabe à psicologia preocupar-se com a condição da
imortalidade da alma. Este ponto de vista fica claro na passagem de seu livro Psychologie du point de vie empirique
(1944):

"Assim, anunciar-se-ia para a psicologia, o mesmo espetáculo que vimos acontecer com as ciências da natureza. Foi a
ambição dos alquimistas de produzirem ouro, fazendo ligas de metal, que os levou às pesquisas químicas. Mas tendo
atingido a maturidade, a ciência renunciou à transmutação como coisa impossível." (p.43)

Desta forma identifica-se em Brentano uma nova direção ao estudo dos fatos psicológicos. Define a psicologia como a
ciência dos fenômenos psíquicos, cuja verdade é somente uma verdade relativa, visto que anterior ao comportamento
há a intencionalidade do homem, cujo ato consciente se revela livre.

A partir da possibilidade oferecida por Brentano, surgem seus discípulos com o propósito de

aprofundar os conhecimentos sobre intencionalidades Entre eles pode se destacar Freud e Husserl. Do primeiro
desenvolve-se a Psicanálise, enfatizando a intencionalidade inconsciente. Do segundo surge a Fenomenologia
destacando a consciência intencional.

Husserl cria o método fenomenológico, que não pretende ser dedutivo, nem empírico, consistindo na descrição do
fenômeno, tal como ele se apresenta, sem reduzi-lo a algo que não aparece. Considera como fundamental a relação.
Epistemologicamente, opõe-se à visão de sujeito e objeto isolados, passando a considera-los como correlacionados, já
que a consciência é sempre intencional.

A escolha pelo método fenomenológico pode parecer estranha. O método pode até ser questionado com relação à sua
cientificidade. Nas palavras de Gil (1995), estudioso dos métodos da ciência: "a adoção do método fenomenológico
implica uma mudança radical de atitude em relação à investigação científica. Por essa razão é que embora muito
comentado, o método fenomenológico não vem sendo muito empregado na pesquisa social" (p.33).

A psicologia fenomenológico-existencial propõe a aplicação do método fenomenológico aos princípios existenciais


constantes da realidade concreta.

A proposta existencialista inicia-se nas reflexões de Kierkegaard sobre a existência, que se opunham a toda filosofia
racionalista, principalmente a Hegel, cujo interesse residia no homem abstrato, cuja vivência caberia num sistema
explicativo e absoluto. Kierkegaard afirma a existência concreta, onde a verdade é construída na vivência de cada
homem, portanto sendo impossível ser abarcada por um sistema.

Heidegger vai ser o primeiro a empreender a tarefa de aplicar o método fenomenológico aos princípios existenciais
propostos por Kiekegaard, entre eles: a verdade, a liberdade, a angústia, o desespero, a solidão e a decisão.

Na psicologia foi Rollo May (1954), quem em seu livro Existencia primeiro sistematizou as idéias dos fenomenólogos
tais como Binswanger, Medard Boss e outros, bem como explicitou a proposta da psicologia existencial como um
enfoque capaz de lançar luz sobre uma maior compreensão da existência humana. A psicologia fenomenológico-
existencial constitui-se numa tentativa de refletir e propor soluções às questões da vida cotidiana. Neste aspecto tem
como pretensão não só a reflexão, como também extrair daí uma praxis.
MAY, Rollo; Ellenberg. Existencia. Madrid, Gredos, 1954.

BRENTANO, Franz. Psychologie du point de vie empirique. Paris, Montaigne, 1944.

HUSSERL, Edmund. A idéia da Fenomenologia. Lisboa, Edições 70, 1958.

GIL, Antônio C.. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo, Atlas, 1995.

Ana Maria Lopez Calvo de Feijoo

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