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Quando o calor se torna perigoso à saúde e como se

proteger
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Crédito, EPA-EFE/REX/Shutterstock
Legenda da foto,
Quando exposto ao calor, primeira reação do organismo é transpiração

14 novembro 2023

Em meio à onda de calor que atinge, sobretudo, as regiões Sudeste e Centro-Oeste, o que
acontece com o nosso corpo quando exposto a temperaturas extremas? Por que corremos
mais riscos? E quais cuidados devemos tomar?

Nesta segunda-feira (14/11), o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) emitiu um aviso no


qual prolongou até sexta (17/11) o alerta vermelho, o nível mais alto, uma vez que as
temperaturas estão pelo menos 5°C acima da média por um período maior do que cinco
dias — o forte calor, segundo o instituto, pode representar um risco para a saúde.

Segundo especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, mesmo que algumas regiões do
Brasil frequentemente experimentem altas temperaturas durante o mês de novembro, e os
brasileiros estejam geralmente mais adaptados ao calor em comparação com populações

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de outros países, a situação é particularmente perigosa devido à sua intensidade.

O que acontece

Quando o ar fica mais quente que a temperatura da pele, que normalmente é de 36°C a
37°C, ou se o suor não evapora, começamos a ganhar calor, e a temperatura central do
nosso corpo sobe gradativamente.

No entanto, se esse aumento não for controlado e a temperatura corporal continuar subindo,
respiração, pele, rins e coração podem ser afetados.

As consequências podem variar desde um simples mal-estar ou dor de cabeça até a morte,
nos casos mais graves (veja recomendações sobre como se proteger ao fim desta
reportagem).

Um estudo recente mostrou que países tropicais como o Brasil enfrentarão provavelmente
condições "perigosamente" quentes quase diariamente até ao final do século.

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"Perigoso", neste caso, refere-se à probabilidade de exaustão pelo calor, a perda excessiva
de sais (eletrólitos) e líquidos devido ao calor.

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A exaustão pelo calor não vai causar sua morte se você conseguir pará-la e desacelerá-la
— ela é caracterizada por fadiga, náusea, batimentos cardíacos lentos e possivelmente
desmaios.

Mas você já não pode trabalhar nessas condições.

O índice de calor indica quando é provável que uma pessoa atinja esse limite.

O Serviço Nacional de Meteorologia dos Estados Unidos (NWS, na sigla em inglês) define
como "perigoso" um índice de calor de 39,4°C e "extremamente perigoso" de 51,7°C.

Se uma pessoa atingir temperaturas "extremamente perigosas", pode sofrer insolação, uma
condição muito séria.

Nesse nível, você tem algumas horas para procurar atendimento médico para esfriar seu
corpo ou suas chances de morte aumentam consideravelmente.

"À medida que a temperatura externa aumenta, cresce a pressão sobre o nosso organismo
para manter a temperatura interna, que gira em torno de 36,5°C. A frequência cardíaca
aumenta como um mecanismo compensatório, assim como a pressão arterial", diz Lucas
Albanaz, clínico geral, coordenador da clínica médica do Hospital Santa Lúcia, de Brasília, e
mestre em Ciências Médicas.

"Dependendo da gravidade do caso, pode ocorrer até a morte, seja pela desidratação
extrema, por enfarto ou até mesmo por Acidente Vascular Cerebral (AVC ou derrame)",
acrescenta ele.

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'Termorregulação'

Nosso corpo passa por uma série de ajustes para regular a temperatura interna quando está
"em estresse térmico", ou seja, quando fica exposto a temperaturas extremas.

Quando exposto ao calor, a primeira reação do organismo é a transpiração e a dilatação dos


vasos sanguíneos periféricos.

No entanto, em temperaturas muito altas, especialmente quando também está úmido, o


mecanismo de resfriamento do suor se torna menos eficaz, levando ao superaquecimento
corporal, insolação e possíveis danos aos órgãos.

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Isso porque a umidade do ar influencia na transpiração — quando o nível da umidade
relativa do ar (umidade atmosférica) está alto em um dia quente, o suor na nossa pele não
consegue evaporar de forma eficiente no ar, sendo, portanto, mais difícil regular a
temperatura corpórea.

Por essa razão, os efeitos do calor extremo no corpo tendem a ser diferentes dependendo
da área onde você estiver.

"A atual onda de calor é bem ampla, vai atingir cerca de 15 estados. Se pensarmos numa
característica básica, a onda de calor será mais seca, com baixos índices de umidade do ar,
especialmente em áreas interioranas, longe do litoral, onde valores mais baixos de umidade
predominam mais (interior de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Gross, por exemplo), já
em áreas litorâneas, como na costa do Paraná, de São Paulo e no Rio de Janeiro, a
umidade fica em bons níveis (acima de 60%)", diz à BBC News Brasil Carine Gama,
meteorologista da Climatempo.

Ela ressalva, contudo, que "mesmo nas áreas interioranas, parte ou outra tem previsão de
chuva mais isolada, o que aumenta a umidade. Vale lembrar que a mesma oscila muito ao
longo do dia".

Crianças e idosos

Albanaz também lembrou que os riscos são maiores para determinados grupos,
especialmente crianças e idosos.

Os bebês e as crianças são particularmente vulneráveis, em parte porque perdem líquidos


mais rapidamente do que os adultos e dependem de cuidadores para os ajudar a se resfriar.

Já as pessoas mais velhas tendem a ter maior probabilidade de ter problemas de saúde
como a diabetes, o que as colocam em maior risco, e os seus corpos respondem ao calor
de forma diferente do que os das pessoas mais jovens.

Os idosos produzem menos suor por glândula e os vasos sanguíneos mudam à medida que
envelhecemos, o que torna mais difícil o bombeamento do sangue para a pele e o
resfriamento corporal.

Mas pessoas com problemas de saúde pré-existentes, aquelas que fazem uso de
medicações que, por algum motivo, as tornem mais vulneráveis ao calor e trabalhadores
que estão expostos ao sol (como vendedores ambulantes) também precisam tomar cuidado
extra.

Alguns antidepressivos e antipsicóticos podem afetar a produção de suor, enquanto


medicamentos para tratamento de doenças cardíacas, como remédios contra a hipertensão,
podem causar desidratação e afetar os rins.

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Até atletas de alto nível, como jogadores de futebol profissionais, podem sofrer com o calor
extremo — por essa razão, especialistas recomendam evitar qualquer exercício físico entre
12h e 16h.

Pesquisas também sugerem que o calor extremo também pode afetar a saúde mental.

Um estudo de 2018 publicado na revista científica Nature Climate Change constatou que o
aumento da temperatura está ligado a taxas de suicídio mais elevadas: para cada aumento
de 1° C na temperatura média mensal nos EUA, as taxas de mortalidade por suicídio
aumentaram 0,7%.

Segundo os autores da pesquisa, as altas temperaturas podem induzir mudanças negativas


no estado mental.

Outro estudo, publicado na revista científica JAMA Psychiatry em 2022, mostrou que as
temperaturas mais elevadas aumentaram a probabilidade de visitas ao pronto-socorro para
qualquer condição de saúde mental, incluindo transtorno por uso de substâncias,
transtornos de ansiedade e esquizofrenia.

Como se proteger do calor intenso

"A palavra de ordem é hidratação, que deve ser feita principalmente pela ingestão de
líquidos. Também é indicado hidratar a pele, com cremes, as narinas, com soro fisiológico, e
os olhos, com colírio. Essas partes do corpo também são afetadas", diz Albanaz.

Abaixo, destacamos dicas oferecidas pelos especialistas consultados na reportagem e


divulgadas pela OMS (Organização Mundial da Saúde):

Mantenha sua casa fresca

Tente manter a temperatura abaixo de 32°C durante o dia e 24°C à noite,


especialmente para crianças, idosos e pessoas com problemas de saúde crônicos;
Use o ar noturno para resfriar sua casa, abrindo janelas e persianas durante a noite;
Reduza a carga de calor interna fechando janelas expostas ao sol, desligando
dispositivos elétricos e pendurando cortinas.

Evite o calor

Procure os lugares mais frescos da casa, especialmente à noite;


Se a sua casa não estiver fresca, passe algumas horas por dia em locais com ar-
condicionado, como edifícios públicos;
Evite sair durante as horas mais quentes do dia e atividades físicas extenuantes.

Mantenha-se hidratado e fresco

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Tome banhos frios e use compressas frias para aliviar o calor;
Vista roupas leves e largas, incluindo chapéu e óculos de sol;
Use protetor solar
Beba água regularmente e evite álcool e cafeína, que contribuem para desidratação.
Faça refeições leves, pouco condimentadas e mais frequentes

Ajude outros

Verifique familiares, amigos e vizinhos vulneráveis;


Certifique-se de que todos em sua família saibam o que fazer em caso de calor
extremo;
Se tiver animais domésticos, evite passeios nos horários mais quentes.

Cuidados em caso de mal-estar

Procure ajuda se sentir tontura, fraqueza, sede intensa ou dor de cabeça;


Beba água ou suco para se reidratar;
Em casos graves, como delírio, convulsões e inconsciência, chame ajuda médica
imediatamente;
Leve a pessoa para um local fresco, deite-a, eleve as pernas e inicie o resfriamento
externo com compressas frias;
Não dê medicamentos sem orientação médica.

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