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BASES PARA CÁLCULO – CAPÍTULO 4

Libânio M. Pinheiro

Colaboradores:

Cassiane D. Muzardo; Sandro P. Santos; Vinicius Slompo Pinto; Artur L. Sartorti

Fevereiro de 2016

BASES PARA CÁLCULO

4.1 ESTADOS-LIMITES

As estruturas de concreto armado devem ser projetadas de modo que


apresentem segurança satisfatória. Essa segurança está condicionada à verificação
dos estados-limites, que são situações em que, se atingidas, a estrutura apresenta
desempenho inadequado à finalidade da construção, ou seja, são estados em que a
estrutura se encontra imprópria para o uso. Os estados-limites podem ser
classificados em estados-limites últimos ou estados-limites de serviço, conforme
sejam referidos à situação de ruína ou de uso em serviço, respectivamente. Assim, a
verificação da segurança é feita de modo diferente, em relação à capacidade de
carga da estrutura e às condições de sua utilização em serviço.

4.1.1 Estados-limites Últimos

São aqueles que correspondem à máxima capacidade portante da estrutura,


ou seja, sua simples ocorrência determina a paralisação, no todo ou em parte, do
uso da construção. São exemplos:

a) Perda de equilíbrio como corpo rígido: tombamento, escorregamento


ou levantamento;
b) Resistência ultrapassada: ruptura do concreto;
c) Escoamento excessivo da armadura:  s  1,0% ;
d) Aderência ultrapassada: escorregamento da barra;
e) Transformação em mecanismo: estrutura hipostática;
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f) Flambagem;
g) Instabilidade dinâmica  ressonância;
h) Fadiga – cargas repetitivas;
i) Colapso progressivo;
j) Exposição ao fogo;
k) Ações sísmicas.

4.1.2 Estados-limites de Serviço

São aqueles que correspondem a condições precárias em serviço. Sua


ocorrência, repetição ou duração causam efeitos estruturais que não respeitam
condições especificadas para o uso normal da construção ou que são indícios de
comprometimento da durabilidade. A ocorrência repetitiva de situações que se
configurem em estados-limites de serviço pode conduzir a algum estado-limite
último. Podem ser citados como exemplos:

a) Danos estruturais localizados que comprometem a estética ou a durabilidade


da estrutura  fissuração;
b) Deformações excessivas que afetem a utilização normal da construção ou o
seu aspecto estético  flechas;
c) Vibrações excessivas que causem desconforto a pessoas ou danos a
equipamentos sensíveis.

4.2 AÇÕES

Ações são causas que provocam esforços ou deformações nas estruturas.


Na prática, as forças e as deformações impostas pelas ações são consideradas
como se fossem as próprias ações, sendo as forças chamadas de ações diretas e as
deformações, ações indiretas.

4.2.1 Classificação

As ações que atuam nas estruturas podem ser classificadas, segundo sua
4.2
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variabilidade com o tempo, em permanentes, variáveis e excepcionais.

a) Ações permanentes

As ações permanentes ocorrem com valores constantes, com pequena


variação em torno da média, durante praticamente toda a vida da construção, ou
com valores que aumentam no tempo, tendendo a um valor limite.

Essas ações podem ser subdivididas em permanentes diretas  como peso


próprio da estrutura ou de elementos construtivos permanentes (paredes, pisos e
revestimentos, por exemplo), peso dos equipamentos fixos, empuxo de terra não
removível etc.  e ações permanentes indiretas  como retração, recalques de apoio,
protensão, fluência do concreto e imperfeições geométricas.

Em alguns casos particulares, como reservatórios e piscinas, o empuxo de


água pode ser considerado uma ação permanente direta.

Segundo o item 11.3.3.4 da ABNT NBR 6118:2014, as imperfeições


geométricas podem ser divididas em imperfeições globais, como mostra a Figura
4.1, e imperfeiçoes locais, indicadas na Figura 4.2.

Figura 4.1 – Imperfeições geométricas globais.


FONTE: ABNT NBR 6118:2014

4.3
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Figura 4.2 – Imperfeições geométricas locais.


FONTE: ABNT NBR 6118:2014

Essas imperfeições são importantes, por exemplo, no cálculo de pilares, no


estudo dos quais essas ações será apresentado com detalhes.

b) Ações variáveis

São aquelas cujos valores têm variação significativa em torno da média,


durante a vida da construção. Há dois tipos de ações variáveis: as diretas, como as
cargas acidentais previstas para construção, e as indiretas, como a temperatura e as
ações dinâmicas. Podem ser fixas ou móveis, estáticas ou dinâmicas, pouco
variáveis ou muito variáveis. São exemplos: cargas de uso (pessoas, mobiliário,
veículos etc.) e seus efeitos (frenagem, impacto, força centrífuga), vento, variação
de temperatura, empuxos de água, alguns casos de abalo sísmico etc.

c) Ações excepcionais

Estas ações têm duração extremamente curta e muito baixa probabilidade


de ocorrência durante a vida da construção, mas que devem ser consideradas no
projeto de determinadas estruturas, nas quais seus efeitos não podem ser
controlados por outros meios. São, por exemplo, as ações decorrentes de
explosões, choques de veículos, incêndios, enchentes ou abalos sísmicos
excepcionais.

4.4
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4.3 VALORES REPRESENTATIVOS

No cálculo dos esforços solicitantes, devem ser identificadas e quantificadas


todas as ações passíveis de atuar durante a vida da estrutura e capazes de produzir
efeitos significativos no comportamento da construção.

4.3.1 Para Estados-limites Últimos

Com vistas aos estados-limites últimos, as ações podem ser quantificadas


por seus valores representativos, que podem ser valores característicos, valores
característicos nominais, valores reduzidos de combinação e valores convencionais
excepcionais.

a) Valores característicos (Fk)

Os valores característicos quantificam as ações cuja variabilidade no tempo


pode ser adequadamente expressa por meio de distribuições de probabilidade.

Os valores característicos das ações permanentes que provocam efeitos


desfavoráveis na estrutura correspondem ao quantil de 95% da respectiva
distribuição de probabilidade (valor característico superior  Fk,sup). Para as ações
permanentes favoráveis, os valores característicos correspondem ao quantil de 5%
de suas distribuições (valor característico inferior  Fk,inf). Seus valores estão
indicados na ABNT NBR 6120:1980.

Para as ações variáveis, os valores característicos são aqueles que têm


probabilidade entre 25% e 35% de serem ultrapassados no sentido desfavorável,
durante um período de 50 anos. As ações variáveis que produzam efeitos favoráveis
não são consideradas.

As ações em geral são quantificadas pelos seus valores representativos,


como se indica a seguir.

 Valores característicos nominais

Os valores característicos nominais quantificam as ações cuja variabilidade


4.5
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no tempo não pode ser adequadamente expressa através de distribuições de


probabilidade.

Para as ações com baixa variabilidade, com valores característicos


superiores e inferiores diferindo muito pouco entre si, adotam-se como
característicos os valores médios das respectivas distribuições.

 Valores reduzidos de combinação

Os valores reduzidos de combinação são empregados quando existem


ações variáveis de naturezas distintas, com possibilidade de ocorrência simultânea.

Esses valores são determinados a partir dos valores característicos com o


uso da expressão  0 Fk . O coeficiente de combinação  0 leva em conta o fato de
que é muito pouco provável que essas ações variáveis ocorram simultaneamente
com seus valores característicos.

 Valores convencionais excepcionais

São os valores arbitrados para as ações excepcionais. Em geral, esses


valores são estabelecidos em acordo entre o proprietário da construção e as
autoridades governamentais que nela tenham interesse.

4.3.2 Para Estados-limites de Serviço

Com vistas aos estados-limites de serviço, os valores representativos das


ações podem ser valores reduzidos de utilização e valores raros de utilização.

a) Valores reduzidos de utilização

Os valores reduzidos de utilização são determinados a partir dos valores


característicos, multiplicando-os por coeficientes de redução. Distinguem-se os
valores frequentes 1 Fk e os valores quase permanentes  2 Fk das ações
variáveis, sendo ψ1 e ψ2 dados pela tabela 11.2 da ABNT NBR 6118:2014.

Os valores frequentes decorrem de ações variáveis que se repetem muitas


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vezes (ou atuam por mais de 5% da vida da construção). Os valores quase


permanentes, por sua vez, decorrem de ações variáveis de longa duração (podem
atuar em pelo menos metade da vida da construção, como, por exemplo, a fluência).

b) Valores raros de utilização

São valores representativos de ações que atuam com duração muito curta
sobre a estrutura (no máximo algumas horas durante a vida da construção, como,
por exemplo, um abalo sísmico), sendo que sua colaboração é dada pelo valor
característico nominal da ação.

4.4 TIPOS DE CARREGAMENTO

Entende-se por tipo de carregamento o conjunto das ações que têm


probabilidade não desprezível de atuarem simultaneamente sobre a estrutura,
durante um determinado período de tempo pré-estabelecido. Pode ser de longa
duração ou transitório, conforme seu tempo de duração.

Em cada tipo de carregamento, as ações devem ser combinadas de


diferentes maneiras, a fim de que possam ser determinados os efeitos mais
desfavoráveis para a estrutura. Devem ser estabelecidas tantas combinações
quantas forem necessárias para que a segurança seja verificada em relação a todos
os possíveis estados-limites (últimos e de serviço).

Podem-se distinguir os seguintes tipos de carregamento, passíveis de


ocorrer durante a vida da construção: carregamento normal, carregamento especial,
carregamento excepcional e carregamento de construção.

4.4.1 Carregamento Normal

O carregamento normal decorre do uso previsto para a construção,


podendo-se admitir que tenha duração igual à vida da estrutura. Esse tipo de
carregamento deve ser considerado tanto na verificação de estados-limites últimos
quanto nos de serviço.

4.7
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Um exemplo desse tipo de carregamento é dado pela consideração, em


conjunto, das ações permanentes e variáveis (g + q), com seus valores
característicos, e das demais ações variáveis, com seus valores reduzidos de
combinação.

4.4.2 Carregamento Especial

O carregamento especial é transitório e de duração muito pequena em


relação à vida da estrutura, sendo, em geral, considerado apenas na verificação de
estados-limites últimos. Esse tipo de carregamento decorre de ações variáveis de
natureza ou intensidade especiais, cujos efeitos superam os do carregamento
normal. O vento é um exemplo de carregamento especial. Devem estar presentes as
ações permanentes e a ação variável especial, com seus valores característicos, e
as demais ações variáveis com probabilidade não desprezível de ocorrência
simultânea, com seus valores reduzidos de combinação.

4.4.3 Carregamento Excepcional

O carregamento excepcional decorre da atuação de ações excepcionais,


sendo, portanto, de duração extremamente curta e capaz de produzir efeitos
catastróficos. Como exemplo podem-se citar sismos e incêndios. Esse tipo de
carregamento deve ser considerado apenas na verificação de estados-imites últimos
e para determinados tipos de construção, para as quais não possam ser tomadas,
ainda na fase de concepção estrutural, medidas que anulem ou atenuem os efeitos.
Devem figurar as ações permanentes e a ação variável excepcional, quando existir,
com seus valores representativos, e as demais ações variáveis com probabilidade
não desprezível.

4.4.4 Carregamento de Construção

O carregamento de construção é transitório, pois, como a própria


denominação indica, refere-se à fase de construção, sendo considerado apenas nas
estruturas em que haja risco de ocorrência de estados-limites já na fase executiva.

Devem ser estabelecidas tantas combinações quantas forem necessárias

4.8
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para a verificação das condições de segurança em relação a todos os estados-


limites que são de se temer durante a fase de construção. Como exemplo, tem-se:
cimbramento e descimbramento. Devem estar presentes as ações permanentes e a
ação variável especial, com seus valores característicos, e as demais ações
variáveis com probabilidade não desprezível de ocorrência simultânea, com seus
valores reduzidos de combinação.

4.5 SEGURANÇA

Uma estrutura apresenta segurança se tiver condições de suportar todas as


ações possíveis de ocorrer, durante sua vida útil, sem atingir um estado-limite.

4.5.1 Métodos Probabilísticos

Os métodos probabilísticos para verificação da segurança são baseados na


probabilidade de ruína, com curvas de distribuição normal das solicitações e das
resistências, conforme indica a Figura 4.3.

O valor da probabilidade de ruína (p) é fixado pelas normas e embutido nos


parâmetros especificados, levando em consideração aspectos técnicos, políticos,
éticos e econômicos. Por questão de economia, em geral, adota-se p  0,1  10 6 .

Figura 4.3 – Esquema dos métodos probabilísticos

4.9
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4.5.2 Método dos Coeficientes Parciais de Segurança

O método dos coeficientes parciais é um método semiprobabilístico, em que


se continua com números empíricos, baseados na tradição, mas se introduzem
dados estatísticos e conceitos probabilísticos, na medida do possível. São utilizados
para a aplicação dos princípios dos estados-limites. Em outras palavras, os estados-
limites são verificados com a aplicação de coeficientes de cálculo individuais para
cada variável do problema (coeficientes parciais).

É o melhor que se têm condições de aplicar atualmente, sendo uma situação


transitória, até se conseguir maior aproximação com o método probabilístico puro ou
com outro que se constitua em evolução na consideração da segurança.

Sendo Rk e Sk os valores característicos da resistência e da solicitação,


respectivamente, e Rd e Sd os seus valores de cálculo, o método pode ser
representado pelo esquema da Figura 4.4.

Figura 4.4 – Esquema do método dos coeficientes parciais (semiprobabilístico)

A idéia básica é:

a) Majorar ações e esforços solicitantes (valores representativos das


ações), resultando nas ações e solicitações de cálculo, de forma que a
probabilidade desses valores serem ultrapassados é pequena;
b) Reduzir os valores característicos das resistências (fk), resultando nas

4.10
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resistências de cálculo, com pequena probabilidade dos valores reais


atingirem esse patamar;
c) Equacionar a situação de ruína, fazendo com que o esforço solicitante
de cálculo seja igual à resistência de cálculo.

Os coeficientes de majoração das ações e das solicitações são


representados por f. Os coeficientes de minoração das resistências são indicados
por m, sendo c para o concreto e s para o aço, e seus valores são dados no item
12.4 da ABNT NBR 6118:2014, para cada situação de análise.

4.6 ESTÁDIOS DE TENSÃO NO CONCRETO

Denominam-se estádios às fases do diagrama de tensões no concreto em


uma seção transversal submetida à flexão, desde o início do carregamento até a
ruptura da seção. Há três fases distintas: estádio I, estádio II e estádio III.

4.6.1 Estádio I

Esta fase corresponde ao início do carregamento, em que o concreto resiste


tração. As tensões normais são de baixa intensidade e o diagrama de tensões linear
ao longo de toda a seção. Portanto, é válida a lei de Hooke (Figura 4.5).

Figura 4.5 – Comportamento do concreto na flexão pura (Estádio I)

Levando-se em conta a baixa resistência do concreto à tração, se


comparada com a resistência à compressão, percebe-se a inviabilidade de um

4.11
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possível dimensionamento nessa fase. É no estádio I que é feito o cálculo do


momento de fissuração, que separa o estádio I do estádio II.

Esse momento é usado para calcular a armadura mínima, de modo que esta
seja capaz de absorver, com adequada segurança, as tensões causadas por um
momento fletor de mesma magnitude, garantindo ductilidade à seção de concreto
armado. Também é no estádio I que se verificam as deformações por flexão em
serviço, para peças não fissuradas, como acontece na maioria das lajes maciças.

Portanto, o estádio I termina quando a seção fissura. Na ABNT NBR


6118:2014, o Estádio I é utilizado na verificação do estado-limite de formação de
fissuras. O Estádio I é importante para o dimensionamento dos elementos que
utilizem armaduras de protensão, já que se faz necessária, nesses elementos, a
verificação da segurança em relação aos estados-limites de descompressão e de
formação de fissuras.

4.6.2 Estádio II

O estádio II corresponde a um nível de carregamento em que o concreto não


mais resiste à tração. Portanto, a seção encontra-se fissurada na região de tração. A
contribuição do concreto tracionado pode ser desprezada. No entanto, o diagrama
de tensões permanece linear na parte comprimida, onde permanece válida a lei de
Hooke (Figura 4.6).

Figura 4.6 – Comportamento do concreto na flexão (Estádio II)

4.12
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Basicamente, o estádio II é empregado na verificação de peças em serviço,


para seções fissuradas. Como exemplos, citam-se o estado-limite de abertura de
fissuras e o estado-limite de deformações excessivas. Os valores estimados das
aberturas máximas das fissuras são da ordem de 0,3 mm em concreto armado e
0,2 mm em concreto com armaduras ativas.

O estádio II termina com o início da plastificação do concreto comprimido.


Com a evolução do carregamento, a fissura e a linha neutra caminham no sentido da
borda comprimida da seção, até que ocorra a ruptura do concreto, após a completa
plastificação da parte comprimida da seção.

4.6.3 Estádio III

No estádio III, a região comprimida encontra-se plastificada e o concreto


dessa região está em fase de ruptura (Figura 4.7). As deformações c2 e cu valem:
- Para concretos de classes C20 a C50:
 c 2  2 0 00 ;
 cu  3,5 0 00 ;
- Para concretos de classes C55 a C90:
 c 2  2 0 00  0,085 0 00.( fck  50)0,53 - f ck em MPa;
 cu  2,6 0 00  35 0 00.[(90  fck ) / 100]4 - f ck em MPa.

Admite-se que o diagrama de tensões seja da forma parabólico-retangular,


também conhecido como diagrama parábola-retângulo.

c2

Figura 4.7 – Comportamento do concreto na flexão pura (Estádio III).


4.13
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A ABNT NBR 6118:2014 permite, para efeito de cálculo, que se trabalhe


com um diagrama retangular equivalente (Figura 4.8), ou seja, para os dois
diagramas, devem ser próximos os respectivos valores da resultante de compressão
e da distância de seu ponto de aplicação até a linha neutra.

σcd
x
c2

Figura 4.8 – Deformações e tensões no concreto no estádio III.

Sendo:

 um coeficiente de valor:

- Para concretos de classes C20 a C50:

  0,8

- Para concretos de classes C55 a C90:

  0,8  ( fck  50) / 400 f ck em MPa

 cd a tensão resistente do concreto com o valor de cálculo já levando em conta o


efeito Rüsch e é escrita com os seguintes valores:

 cd  c . fcd , no caso da largura da seção, medida paralelamente à linha


neutra, não diminuir à partir desta para a borda comprimida (Figura 4.9);

4.14
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LN

Figura 4.9 – Seções nas quais a largura aumente para a borda mais comprimida.

 cd  0,9.c . fcd , no caso da largura da seção, medida paralelamente à linha


neutra, diminuir à partir desta para a borda comprimida (Figura 4.10);

LN

Figura 4.10 – Seções nas quais a largura diminui para a borda mais comprimida.

 c um coeficiente que leve em conta os fatores: 1) a diminuição da


resistência devido ao efeito de longa duração (efeito Rüsch) - diminuição da
ordem de 25%; 2) o estado triaxial de tensões provocado pelo atrito das
superfícies da prensa no corpo de prova – 0,95; o aumento da resistência do
concreto ao longo do tempo – 1,20. A multiplicação destes três valores
resulta em 0,75x0,95x1,20=0,855. A NBR 6118:2014 apresenta os seguintes
valores para  c :

- Para concretos de classes C20 a C50:

c  0,85

- Para concretos de classes C55 a C90:

c  0,85.[1,0  ( fck  50) / 200] f ck em MPa

É no estádio III que é feito o dimensionamento da seção à flexão, situação


que denomina cálculo no estado-limite último por ruptura do concreto, cálculo na
ruptura ou cálculo no estádio III.

4.15
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4.6.4 Diagramas de Tensão

O diagrama parábola-retângulo (Figura 4.7 e Figura 4.8) é formado por um


trecho retangular e um trecho no qual a tensão varia segundo uma parábola.

Para análise no estado-limite último, podem ser empregados o diagrama


tensão-deformação idealizado na Figura 4.11.

Figura 4.11 – Diagrama tensão-deformação idealizado.

Os valores a serem adotados para os encurtamentos  c 2 (deformação


especifica de encurtamento do concreto no início do patamar plástico) e  cu
(deformação específica de encurtamento do concreto na ruptura) são definidos a
seguir:
- Para concretos de classes C20 a C50:
 c 2  2 0 00 ;
 cu  3,5 0 00 ;
- Para concretos de classes C55 a C90:
 c 2  2 0 00  0,085 0 00.( fck  50)0,53 - f ck em MPa;
 cu  2,6 0 00  35 0 00.[(90  fck ) / 100]4 - f ck em MPa.

f cd é a tensão resistente do concreto à compressão com seu valor de cálculo.


Para combinações normais de ações do estado-limite último f cd  f ck / 1,4 .

A Tabela 4.1 indica os valores de  c 2 e  cu .

4.16
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Tabela 4.1 – Valores de  c 2 e  cu .


f ck (MPa) 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90
 c 2 ( 00)
0
2,0 2,0 2,0 2,0 2,0 2,0 2,0 2,2 2,3 2,4 2,4 2,5 2,5 2,6 2,6
 cu ( 0 00) 3,5 3,5 3,5 3,5 3,5 3,5 3,5 3,1 2,9 2,7 2,7 2,6 2,6 2,6 2,6

O diagrama retangular (Figura 4.8) também é permitido pela ABNT NBR


6118:2014.

4.6.5 Equacionamento dos Estádios I e II

Seja a seção transversal retangular de uma viga solicitada a momento fletor


positivo conforme ilustrada na Figura 4.12.

s'
cc
Rs'
d'

s'

Rcc

x
M x-d'
Zc

LN
d
h

Zt

d-x

Rct
Rs s

ct
h-d

As
b

Figura 4.12 – Seção transversal de uma viga e resultantes de forças.

Sendo:

As a armadura principal de tração;

As ' a armadura dupla (combate à compressão) ou a armadura porta estribos;

LN a linha neutra onde as tensões e deformações são nulas;


d a altura útil das barras principais;
x a profundidade da linha neutra medida da borda superior;
M o momento fletor aplicado;
Rs a resultante de tração das barras de As ;
4.17
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Rs ' a resultante de compressão das barras de As ' ;

Rcc a resultante de compressão do concreto;

Rct a resultante de tração do concreto, existente apenas no Estádio I;

Z c o braço de LN até Rcc ;

Z t o braço de LN até Rct ;

 cc a máxima deformação de compressão do concreto;


 ct a máxima deformação de tração do concreto;
 s ' a deformação de encurtamento de As ' ;
 s a deformação de alongamento de As .
Fazendo-se a equação de equilíbrio de forças tem-se:

Rs  Rct  Rcc  Rs '

Fazendo-se a equação de equilíbrio de momentos fletores em relação a LN


tem-se:

M  Rcc .Zc  Rs ' .( x  d ' )  Rct .Zt  Rs .(d  x)

No Estádio I Rs  Rs '  0 , pois o concreto resiste à tração.

No Estádios II o concreto estará fissurado, logo Rct  0 . Se não existir

armadura dupla Rs '  0 .

Podem ainda ser escritas as seguintes equações de compatibilidade de


deformações:

 cc  s' s  ct
  
x (x  d ' ) ( d  x) ( h  x)

- Homogeneização da seção transversal

Nas análises de seções que envolvem materiais diferentes, existe a


necessidade de se fazer uma homogeneização da seção transversal. A
homogeneização consiste em transformar um dos materiais diferentes em uma área
equivalente ao outro material. No caso das estruturas de concreto armado, a
homogeneização é realizada “transformando-se” a seção de aço em uma área
4.18
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equivalente de concreto através da razão modular, que é a razão entre os módulos


de elasticidade do concreto e do aço.

A razão modular é definida por:

Es
e 
Ec

Sendo:

Es o módulo de elasticidade do aço com valor de 210 GPa;

Ec o módulo de elasticidade do concreto com o valor tangente inicial ( Eci ) para o

Estádio I e o valor secante ( Ecs ) para o Estádio II.

Seja então a seção homogeneizada ilustrada na Figura 4.13.

Acs' - Área de concreto


As' equivalente a As'
cc cc
d'

s' cs'
x-d'

x-d'
LN
d
h

d-x

d-x

s cs

ct ct
h-d

As DEFORMAÇÕES TENSÕES
b Acs - Área de concreto
equivalente a As

Figura 4.13 – Seção transversal homogeneizada de uma viga.

Na Figura 4.13 as tensões  cs e  cs ' são as tensões nas áreas equivalentes

de concreto Acs e Acs ' , respectivamente. Acs , Acs ' ,  cs e  cs ' são calculados como se

segue:

s  s'
Acs   e . As Acs '   e . As '  cs   cs ' 
e e

4.19
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É importante destacar que as deformações são iguais tanto na seção real


quanto na seção homogeneizada.

Do diagrama de tensões da Figura 4.13 podem ser escritas as seguintes


equações de compatibilidade de tensões:

 cc  cs '  cs  ct
  
x (x  d ') (d  x) ( h  x)

Reescrevendo tem-se:

 cc  s' s  ct
  
x  e .( x  d ' )  e .(d  x) (h  x)

- Verificações no Estádio I

As equações para as verificações no Estádio I são deduzidas com o auxílio


da Figura 4.14.

e.As'
d'
x
x-d'
x/2

LN
d

(h-x)/2
h

d-x
h-d

e.As

Figura 4.14 – Seção no Estádio I.

A posição da LN no Estádio I é determinada pela somatória dos momentos


estáticos ( Qs ) em relação a LN.

 Q  s LN 0
x hx
b.x.  As ' . e .( x  d ' )  b.(h  x).   As . e .(d  x)  0
2  2 

4.20
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b.h 2
  e .( As .d  As ' .d ' )
x 2
b.h   e .( As  As ' )

O momento de inércia da seção no Estádio I irá valer:


2
b.h3 h 
II   b.h.  x   As ' . e .( x  d ' ) 2  As . e .(d  x) 2
12 2 

As tensões no concreto e no aço no Estádio I, devido a um momento fletor


característico M k , valerão:

Mk Mk
 cc  .x  ct  .(h  x)
II II

 s' M k s Mk
 cs '   .( x  d ' )  cs   .(d  x)
e II e II

As deformações no Estádio I valerão:

 cc  ct
 cc   ct 
Eci Eci

 s' s
 cs '  s 
Es Es

- Verificações no Estádio II

As equações para as verificações no Estádio II são deduzidas com o auxílio


da Figura 4.15.

A posição da LN no Estádio II é determinada pela somatória dos momentos


estáticos ( Qs ) em relação a LN, porém sem a consideração do concreto inferior que

está fissurado.

2. e 2. e
x2  .( As  As ' ).x  .( As .d  As ' .d ' )  0
b b

O momento de inércia da seção no Estádio II irá valer:

b.x3 b.x3
I II    As ' . e .( x  d ' )2  As . e .(d  x)2
12 4
4.21
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Bases para cálculo

e.As'

d'
x
x-d'
x/2
LN

d
h

d-x
h-d
e.As

Figura 4.15 – Seção no Estádio II.

As tensões no concreto e no aço no Estádio II, devido a um momento fletor


característico M k , valerão:

Mk
 cc  .x  ct  0
I II

 s' M k s Mk
 cs '   .( x  d ' )  cs   .(d  x)
 e I II  e I II

As deformações no Estádio II valerão:

 cc  cc .(h  x)
 cc   ct 
Ecs x

 s' s
 cs '  s 
Es Es

4.6.6 Momento de fissuração ( M r )

Pode-se imaginar o “histórico de carregamento” de uma viga de concreto


armado para as solicitações normais, como a ilustrada na Figura 4.16.

A passagem do Estádio I para o Estádio II é caracterizada quando o


momento fletor solicitante é maior que um denominado momento de fissuração M r .

4.22
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Bases para cálculo

Ruína

M=0 M = Mr M = Múltimo

Este ponto caracteriza o ELS-F


Estádio I Estádio II
Estádio III
- Concreto não fissurado; - Concreto fissurado;
- Algumas peças tem o ELS-DEF - Verificações dos ELS: - Pontual
verificado aqui. ELS-W - Concreto e aço plastificados;
ELS-DEF - Dimensionamento é aqui (ELU);
- Aqui que se aplica a teoria dos
Domínios de deformação.

Figura 4.16 – Histórico de carregamento de uma viga.

A NBR 6118:2014 estabelece no item 17.3.1 o valor de M r .

 . f ct .I c
Mr 
yt

Sendo:

 é o fator que correlaciona aproximadamente a resistência à tração na flexão com


a resistência à tração direta:
  1,2 para seções T ou T duplo (seções π);
  1,3 para seções I ou T invertido;
  1,5 para seções retangulares;
yt é a distância do centro de gravidade da seção bruta de concreto à fibra mais

tracionada;
I c é o momento de inércia da seção bruta de concreto à fibra mais tracionada;

f ct é a resistência à tração direta do concreto, com quantil apropriado a cada

verificação particular. Para determinação do momento de fissuração, deve ser usado


o f ctk ,inf no estado-limite de formação de fissura (ELS-F), e o f ct , m no estado-limite de

deformação excessiva (flecha) (ELS-DEF).

Portanto, se o momento fletor aplicado na peça for menor que M r , a peça


estará no Estádio I. Caso contrário ela estará no Estádio II, e em casos extremos no
Estádio III.

4.23
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Bases para cálculo

4.7 DOMÍNIOS DE DEFORMAÇÃO NA RUÍNA

Como foi indicado no item anterior, os estádios consideram o diagrama de


tensões no concreto na seção transversal. Já os domínios referem-se às
deformações. São situações em que pelo menos um dos materiais  o aço ou o
concreto  atinge o seu limite de deformação, caracterizando dessa forma os
estados-limites últimos:

 alongamento último do aço (s = 10 ‰);

 encurtamento último do concreto (cu na flexão e c2 na compressão


simples).

O primeiro caso é denominado ruína por deformação plástica excessiva


do aço, e o segundo, ruína por ruptura do concreto. Ambos serão estudados nos
itens seguintes e referem-se a uma seção como a indicada na Figura 4.17.

As'
d'
d
h

h-d

As
b

Figura 4.17 – Seção retangular com armadura dupla

Algumas hipóteses iniciais devem ser destacadas. A primeira é a perfeita


aderência entre aço e concreto, ou seja, a deformação das barras é a mesma
deformação do concreto que as envolve. A segunda é a Hipótese de Bernoulli
(seções planas permanecem planas durante a deformação). A terceira refere-se à
nomenclatura: quando mencionada a flexão, sem que se especifique qual delas 

4.24
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Bases para cálculo

simples ou composta , entende-se que pode ser tanto uma quanto a outra.

4.7.1 Ruína por Deformação Plástica Excessiva do Aço

Para que o aço atinja seu alongamento máximo, é necessário que a seção
seja solicitada por tensões de tração capazes de produzir na armadura A s uma

deformação específica de 1% (s = 1% = 10‰). Essas tensões podem ser

provocadas por esforços tais como:

 Tração (uniforme ou não uniforme)

 Flexão (simples ou composta)

Considere-se a Figura 4.18. Nessa figura se encontram, à esquerda, uma


vista lateral da peça de seção indicada anteriormente (Figura 4.17), e à direita, o
diagrama em que serão marcadas as deformações específicas.

cu

As'

As

10‰
Figura 4.18 – Vista lateral da peça e limites das deformações

Nesse diagrama, a linha tracejada à esquerda corresponde ao alongamento


máximo de 1%  limite do aço , e a linha tracejada à direita, ao encurtamento
máximo do concreto na flexão. A linha cheia corresponde à deformação nula, ou
seja, separa as deformações de alongamento e as de encurtamento.

A ruína por deformação plástica excessiva do aço pode ocorrer na reta a e


nos domínios 1 e 2, como será visto a seguir.

4.25
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Bases para cálculo

a) Reta a

A linha correspondente ao alongamento constante e igual a 1% é


denominada reta a (indicada também na Figura 4.19). Ela pode ocorrer na tração
simples, se as áreas de armadura As e As’ forem iguais, ou de uma tração
excêntrica em que a diferença entre As e As’ seja tal que garanta o alongamento
uniforme da seção.
cu

s'
As'
Reta a

As s

10‰
Figura 4.19 – Alongamento de 1 % – Reta a

Para a notação ora utilizada, a posição da linha neutra é indicada pela


distância x até a borda superior da seção, sendo esta distância considerada positiva
quando a linha neutra estiver abaixo da borda superior, e negativa no caso contrário.

Como para a reta a não há pontos de deformação nula, considera-se que x


tenda para -.

b) Domínio 1

No domínio 1 a seção ainda se encontra inteiramente tracionada, mas com


diagrama de deformação não uniforme. A armadura mais tracionada (As) continua

com deformação plástica máxima (s = 1%) e a deformação na borda menos


tracionada varia entre 1% e zero (Figura 4.20). O domínio 1 corresponde a tração
excêntrica e a posição x da linha neutra varia entre - e zero.

4.26
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Bases para cálculo

x
0 cu

As' s'

Reta a

d
N 1
As s

10‰
Figura 4.20 – Domínio 1

c) Domínio 2

No domínio 2 parte da seção é comprimida. A armadura As continua com


deformação plástica máxima (s = 1%) e a deformação na borda comprimida c varia
entre zero e cu (Figura 4.21).
Este domínio correspondendo a flexão simples ou a flexão composta, com
força normal de tração ou de compressão. Neste caso a linha neutra já se encontra
dentro da seção, variando de zero a x23, limite entre os domínios 2 e 3.
O domínio 2 é o último caso em que a ruína ocorre com deformação plástica
excessiva da armadura.
Neste domínio, o aço é bem aproveitado, pois trabalha com tensão f yd, no
limite de deformação plástica excessiva. Porém, o concreto é mal aproveitado, pois
não é solicitado em sua capacidade máxima.

0 cu
s'
x

As'
M
2
Reta a

N
d
d-x

1
As s

10‰

Figura 4.21 – Domínio 2


4.27
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Bases para cálculo

4.7.2 Ruína por Ruptura do Concreto na Flexão

A ruína por ruptura do concreto na flexão ocorre nos domínios 3, 4 e 4a,


como será apresentado a seguir.

Como já foi visto, denomina-se flexão a qualquer estado de solicitações


normais em que se tenha a linha neutra dentro da seção. Na flexão, a deformação
específica última do concreto, na borda comprimida, é cu.

a) Domínio 3

No domínio 3 ocorre ruptura do concreto, com cu, na borda comprimida, e s

varia entre 1% e yd, ou seja, o concreto encontra-se na ruptura e o aço tracionado


em escoamento (Figura 4.22).

Nessas condições, a seção é denominada subarmada. Tanto o concreto


como o aço trabalha com suas resistências de cálculo. Portanto, há o
aproveitamento máximo dos dois materiais.

A ruína ocorre com aviso, pois a peça apresenta deslocamentos visíveis e


intensa fissuração.

Este domínio pode ocorrer na flexão simples ou na composta, com força


normal de tração ou de compressão. A linha neutra ocorre no intervalo entre x23 e
x34, limites entre os domínios 2 e 3 e os domínios 3 e 4, respectivamente.

0 cu
s'
As'
x

M
2
Reta a

N
d
3

d-x

1
As s
yd

10‰

Figura 4.22 – Domínio 3


4.28
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Bases para cálculo

b) Domínio 4

No domínio 4 também ocorre ruptura do concreto com deformação


cu na borda comprimida e s varia entre yd e zero (Figura 4.23), ou seja, o
concreto encontra-se na ruptura, sendo bem aproveitado, mas o aço tracionado não
atinge o escoamento. Portanto, o aço é mal aproveitado. Neste caso, a seção é
denominada superarmada. A ruína ocorre sem aviso, pois os deslocamentos são
pequenos e há pouca fissuração.

Nesse domínio, se houver força normal, embora seja possível que ela seja
de tração com valor pequeno, é mais comum que ela seja de compressão. Portanto,
no domínio 4 geralmente ocorre flexão simples ou flexocompressão.

A linha neutra varia no intervalo entre x34 e 1, limites entre os domínios 3 e 4


e os domínios 4 e 4a, respectivamente.
0 cu
s'
As'
M
2
Reta a

x
N

d
3

1 4
d-x

As s
yd

10‰

Figura 4.23 – Domínio 4 (yd  s  0, se houver força normal, em geral é de


compressão)

c) Domínio 4a

No domínio 4a (Figura 4.24), as duas armaduras são comprimidas. A ruína


ainda ocorre com cu na borda comprimida. A deformação na armadura A s é muito
pequena e, portanto, essa armadura é muito mal aproveitada. Esta situação só é
possível na flexocompressão. A linha neutra encontra-se entre d e h.

4.29
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Bases para cálculo

0 cu
s'
As'
M

2
Reta a
N

d
x
h
3
1 4 4a
As
s
yd

10‰

Figura 4.24– Domínio 4a (força normal de compressão)

4.7.3 Ruína de Seção Inteiramente Comprimida

Os dois últimos casos de deformações na ruína, domínio 5 e a reta b,


encontram-se nas Figuras 4.25 e 4.26, respectivamente.

a) Domínio 5

No domínio 5 tem-se a seção inteiramente comprimida (x  h), com c

variando de cu até c2 na linha distante [(cu-c2).h]/cu da borda mais comprimida
(Figura 4.25). O domínio 5 só é possível na compressão excêntrica.

( cu - c2).h
cu

0 c2 cu
s'
As'
M
2
Reta a

N
h
3

4a
x

1
As 4 5
yd s

10‰

Figura 4.25 – Domínio 5

4.30
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Bases para cálculo

b) Reta b

Na reta b tem-se deformação uniforme de compressão, com encurtamento


igual a c2 (Figura 4.26). Neste caso, x tende para +.

0 c2 cu
s'
As'

2
Reta a

h
3
4a
1
As 4 5
yd s

Reta b
10‰

Figura 4.26 – Reta b

4.7.4 Diagrama Único da ABNT NBR 6118:2014

Para todos os domínios de deformação, com exceção das retas a e b, a


posição da linha neutra pode ser determinada por relações de triângulos.

Os domínios de deformação podem ser representados em um único


diagrama, indicado na Figura 4.27.

Verifica-se, nesta figura, que da reta a para os domínios 1 e 2, o diagrama


de deformações gira em torno do ponto A, o qual corresponde à ruína por
deformação plástica excessiva da armadura As.

Nos domínios 3, 4 e 4a, o diagrama de deformações gira em torno do


ponto B, relativo à ruptura do concreto com cu na borda comprimida.
Finalmente, verifica-se que do domínio 5 para a reta b, o diagrama gira em
torno do ponto C, correspondente à deformação c2 e distante [(cu-c2).h]/cu da
borda mais comprimida.

4.31
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Bases para cálculo

Figura 4.27 – Domínios de deformação na ruína.


FONTE: ABNT NBR 6118:2014

4.7.5 Limites de Domínios

Os limites de entre os domínios são caracterizados por posições da linha


neutra, que podem ser encontradas por relações gráficas retiradas dos diagramas
x
de domínios de deformação. Definindo a relação  x  tem-se os seguintes limites
d
expressos por  x .

Limite entre a Reta a o domínio 1 (  xRa1 )

xRa1     xRa1  

Limite entre os domínios 1-2 (  x12 )

x12  0   x12  0

Limite entre os domínios 2-3 (  x 23 )

x23  cu   cu   cu
  x23   .d   x 23 
d 10 00   cu
0
 10 00   cu 
0 10 00   cu
0

Limite entre os domínios 3-4 (  x 34 )

 cu   cu 
x34
  x34   .d   x 34   cu
d  yd   cu     yd   cu
 yd cu 

4.32
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Bases para cálculo

f yd
Lembrando-se que:  yd 
Es

25 / 1,15
CA-25→  yd   1,035 0 00
21000
50 / 1,15
CA-50→  yd   2,070 0 00
21000
60 / 1,15
CA-60→  yd   2,484 0 00
21000
Limite entre os domínios 4-4a (  x44a )

x44a  d   x 44a  1

Limite entre os domínios 4a-5 (  x 4a 5 )

h
x4 a 5  h   x 4 a 5 
d
Limite entre o domínio 5 e a Reta b (  x5 Rb )

x5 Rb     x5 Rb  

Tabela 4.2 – Valores de  x nos limites de domínios.


fck (MPa) 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90
Limite 2-3
(  x 23 )
0,259 0,259 0,259 0,259 0,259 0,259 0,259 0,238 0,224 0,215 0,210 0,207 0,207 0,206 0,206

CA-25 0,772 0,772 0,772 0,772 0,772 0,772 0,772 0,751 0,736 0,726 0,720 0,717 0,716 0,715 0,715
Limite 3-4

 x 34 CA-50 0,628 0,628 0,628 0,628 0,628 0,628 0,628 0,602 0,582 0,569 0,562 0,558 0,557 0,557 0,557

CA-60 0,585 0,585 0,585 0,585 0,585 0,585 0,585 0,557 0,537 0,524 0,517 0,513 0,512 0,511 0,511

A ABNT NBR 6118:2014 estabelece no item 14.6.4.3 que para proporcionar


o adequado comportamento dúctil em vigas e lajes, a posição da linha neutra no
ELU deve obedecer os seguintes limites:

- Para concretos com fck ≤ 50 MPa:


x
 lim   0,45
d
- Para concretos com 50 MPa < fck ≤ 90 MPa:
x
 lim   0,35
d

4.33
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Bases para cálculo

Este limite normativo caracteriza um limite convencional entre os domínios


3 e 4. Destaca-se que é um limite convencionado e não o real. Os limites reais
estão na Tabela 4.2.

QUESTIONÁRIO

1) O que são estados-limites e em que níveis de solicitação eles podem ocorrer?


2) O que são estados-limites últimos? Relacionar os principais.
3) E de serviço? Quais são os principais e quais os problemas que eles podem
ocasionar?
4) O que são ações permanentes, variáveis e excepcionais? Dar exemplos.
5) Como se quantificam os valores característicos das ações permanentes e das
variáveis?
6) O que são valores característicos nominais?
7) Quando são empregados valores reduzidos de combinação?
8) Como são arbitrados os valores convencionais excepcionais?
9) Como são determinados os valores reduzidos de utilização?
10) O que são valores frequentes? E valores quase permanentes? Dar exemplo.

11) Quais os tipos de carregamento que podem atuar em uma construção e em que
estados-limites eles devem ser considerados?
12) O que se entende por carregamento normal e por carregamento especial? Dar
exemplos.
13) E carregamento excepcional? Em que situação ele deve ser considerado?

14) O que é carregamento de construção? Dar exemplos.

15) Em que condição se considera que uma estrutura apresenta segurança?

16) O que são métodos probabilísticos? Como é fixado o valor da probabilidade de


ruína?
17) O que é um método semiprobabilístico?

18) Qual a ideia básica do método dos coeficientes parciais de segurança?

19) O que são estádios?

20) Quais as características do estádio I com relação a: resistência do concreto à


4.34
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Bases para cálculo

tração, intensidade e forma do diagrama de tensões. Para que serve esse


estádio?
21) Idem para estádio II e estádio III.

22) Qual a diferença entre estádios e domínios?

23) Quais os limites de deformação para o aço e para o concreto?

24) Quais os tipos de ruína relativos a cada um desses limites?

25) Quais as hipóteses iniciais que devem ser ressaltadas?

26) Quais os tipos de solicitação que podem provocar deformação plástica excessiva
do aço?
27) Quais os domínios em que ocorre ruína por deformação plástica excessiva?

28) O que caracteriza uma ruína na reta a, para tração simples e para tração
excêntrica?
29) Como se considera a posição da linha neutra na reta a?

30) O que é domínio 1? Qual a deformação na armadura As e qual a variação da


deformação na borda menos tracionada? Qual o tipo de solicitação e a variação
da linha neutra?
31) O que é domínio 2? Qual a deformação na armadura As e qual a variação da
deformação na borda comprimida? Quais os tipos de solicitação e a variação da
linha neutra? Quais as características desse domínio, com relação ao
aproveitamento dos materiais?
32) Em que domínios ocorre ruptura do concreto na flexão? Qual a deformação
última do concreto nesses casos?
33) Como ocorre a ruína no domínio 3? Qual a deformação no concreto e na
armadura As? Quais as características desse domínio, com relação ao
aproveitamento dos materiais? Quais os tipos de solicitação e a variação da
linha neutra?
34) O que significa ruína com aviso?

35) Como ocorre a ruína no domínio 4? Qual a deformação no concreto e na


armadura As? Quais as características desse domínio, com relação ao
aproveitamento dos materiais? Quais os tipos de solicitação e a variação da
linha neutra?
36) O que são seções subarmadas e seções superarmadas?

37) Como se comportam as armaduras no domínio 4a? Como ocorre a ruína? A


4.35
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Bases para cálculo

armadura é bem aproveitada? Por quê? Quais os tipos de solicitação e a


variação da linha neutra?
38) Quais os domínios relativos a seções inteiramente comprimidas?

39) Quais as deformações no concreto, em cada um desses casos? E os tipos de


solicitação? E a variação da linha neutra?
40) No diagrama único da ABNT NBR 6118:2014, qual o polo de rotação do
diagrama de deformações da reta a para os domínios 1 e 2. Onde se situa esse
ponto?
41) Idem nos domínios 3, 4 e 4a? E do domínio 5 para a reta b?

REFERÊNCIA

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 6118:2014:


Projeto de estruturas de concreto – Procedimento. Rio de Janeiro.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 6120:1980:


Cargas para o cálculo de estruturas de edificações. Rio de Janeiro.

4.36

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