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Sumário
1. Teoria e ideologia................................................................................................................... 4
Teoria ....................................................................................................................................... 4
Ideologia................................................................................................................................... 5
2. Democracia ............................................................................................................................. 7
Três tradições históricas........................................................................................................ 7
Democracia liberal e social ................................................................................................... 8
Democracia e teoria das elites ............................................................................................. 9
3. Demagogia e Populismo ..................................................................................................... 11
Demagogia ............................................................................................................................ 11
Populismo .............................................................................................................................. 11
4. Autoritarismo e totalitarismo ............................................................................................... 13
Autoritarismo ......................................................................................................................... 13
Totalitarismo .......................................................................................................................... 13
5. Liberalismo e neoliberalismo .............................................................................................. 15
De Locke ao Iluminismo ...................................................................................................... 15
De Bentham ao séc. XIX ..................................................................................................... 16
De Mill ao séc. XX ................................................................................................................ 17
Do liberalismo clássico ao social-liberalismo ................................................................... 18
O neoliberalismo ................................................................................................................... 18
6. Capitalismo ........................................................................................................................... 20
Origens do conceito ............................................................................................................. 20
Interpretação marxista do capitalismo........................................................................... 20
Interpretação weberiana do capitalismo ....................................................................... 21
Aspectos controversos ........................................................................................................ 22
7. Anarquismo, Libertarianismo e Anarcocapitalismo......................................................... 23
Anarquismo ........................................................................................................................... 23
Libertarianismo ..................................................................................................................... 25
Anarcocapitalismo ................................................................................................................ 25
8. Nacionalismo e Patriotismo ................................................................................................ 26
Nacionalismo ......................................................................................................................... 26
Principais teorias .............................................................................................................. 26
Patriotismo ............................................................................................................................. 27
Patriotismo e Nacionalismo ................................................................................................ 27
9. Marxismo ............................................................................................................................... 29
Crítica à teoria hegeliana do Estado ................................................................................. 30
Teoria geral do Estado ........................................................................................................ 30
Estado burguês ..................................................................................................................... 31
Estado de transição ............................................................................................................. 31
Extinção do Estado .............................................................................................................. 31
10. Socialismo e Comunismo ................................................................................................. 33
Socialismo ............................................................................................................................. 33
As teorias socialistas ........................................................................................................... 34
Socialismo utópico............................................................................................................ 35
Anarquismo ........................................................................................................................... 35
Socialismo científico ou comunismo.............................................................................. 35
Socialismo e Comunismo .................................................................................................... 35
11. Fascismo ............................................................................................................................. 37
Contexto histórico ................................................................................................................. 37
Muitas definições .................................................................................................................. 38
Quem é fascista hoje ........................................................................................................... 40
12. Nazismo............................................................................................................................... 41
Contexto histórico ................................................................................................................. 41
Nazismo e socialismo (o nazismo é de esquerda?) ....................................................... 42
13. Social-democracia ............................................................................................................. 45
Conceito ................................................................................................................................. 45
História ................................................................................................................................... 45
14. Direita e Esquerda ............................................................................................................. 47
Definição inicial ..................................................................................................................... 47
2. Dimensão histórica .......................................................................................................... 48
3. Diferenças quanto a visões de mundo ......................................................................... 48
3.1 Política ......................................................................................................................... 48
3.2 Economia .................................................................................................................... 48
3.3 Sociedade ................................................................................................................... 49
4. Diagramas políticos ......................................................................................................... 50
4.1 Plano de Pournelle (1963) ........................................................................................ 50
4.2 Plano de Nolan (1969) .............................................................................................. 51
4.3 Compasso político ..................................................................................................... 51
1. Teoria e ideologia
Teoria
A palavra “teoria” vem do grego – theoria deriva de theion, divino, e orao, visão.
Etimologicamente, então, significa contemplar aquilo que é divino. Por derivação de
sentido, designa a contemplação daquilo que há de mais essencial, mais significativo,
mais importante na realidade.
O procedimento teórico, então, parte de interrogações sobre como se estrutura
o objeto de estudo. No que diz respeito à política, pode fazer isso de modo filosófico e
de modo científico1.
A Filosofia Política compreende três tipos de investigação:
1
BOBBIO, 1986 p. 55.
Ideologia2
2
CHAUI, 2002.
2. Democracia3
Três tradições históricas
3
BOBBIO, Norberto, “Democracia” (verbete) In: BOBBIO [et. al], 1987, p. 319-329
democrático. Além disso, cabe ao povo e não só às instituições regular a conduta social,
por meio dos usos e costumes e não apenas das leis oficiais.
É Marsílio de Pádua (1275-1343), em Defensor pacis, que diz que dos dois
poderes fundamentais do Estado – o legislativo e o executivo – o primeiro pertence
exclusivamente ao povo e subordina o segundo, que o povo delega a outros sob forma
de mandato revogável.
Na teoria moderna, o debate acontece em termos de reino ou principado e
república.
Maquiavel (1469-1527), em O príncipe, proporá que todos os Estados se
dividem em repúblicas ou principados. Por república, o autor entende os governos
baseados em assembleias. Portanto, nesse rótulo, coloca tanto as aristocracias, quanto
as democracias.
Montesquieu (1689-1755), em O espírito das leis, retoma os três conceitos, de
inspiração aristotélica: monarquia, república e despotismo. Combina a definição de
Aristóteles com a de Maquiavel, inserindo um terceiro conceito. Define “despotismo”
como o governo de um só “sem lei, nem freios” – isto é, uma forma degenerada de
monarquia.
Rousseau (1712-1778), em Do contrato social, faz com que o ideal republicano
e o democrático se fundam na doutrina da soberania popular. É por meio da “vontade
geral” – intransferível, indivisível e infalível – que o poder de fazer leis deve ser
conduzido. Funda-se, assim, a política no ideal igualitário e consensual, contra a
desigualdade dos regimes monárquicos e despóticos.
3. Demagogia e Populismo
Demagogia4
A demagogia é uma prática política, que se apoia nas massas, estimulando suas
aspirações irracionais e elementares, desviando-a de sua participação consciente e
ativa na vida política.
Não é uma Forma de Governo no sentido técnico. Está presente, no entanto, em
diversas Formas de Governo. Realiza-se mediante fáceis promessas impossíveis de ser
mantidas – “Vou acabar com o problema da segurança pública, da educação e da saúde
em apenas 4 anos!”.
Na Grécia Antiga, era chamado de demagogo (de demos, “povo”, e gogos,
“condutor”) aquele que, sendo hábil orador, sabia conduzir o povo. É com Aristóteles,
em sua Política, principalmente no Livro IV, que o termo assume carga negativa. Trata-
se da prática corrupta pela qual se chega a instituir um governo despótico das classes
inferiores, em que tudo é decidido por assembleia e não pelas leis. O problema maior
identificado por Aristóteles é que se tudo for decidido por assembleia, não há como
haver uma comunidade política estável, uma vez que decisões de assembleia são
particulares, e não é possível regular uma cidade por decisões particulares.
Populismo5
4
ZUCCHINI, Giampaolo, “Demagogia” (verbete) In: BOBBIO [et. al], 1987, p. 318-319.
5
INCISA, Ludovico, “Populismo” (verbete) In: BOBBIO [et. al], 1987, p. 980-986.
4. Autoritarismo e totalitarismo
Autoritarismo
Totalitarismo
5. Liberalismo e neoliberalismo
6
FREEDEN, 2015.
Mas não era só. Além de estar se urbanizando, surgiam também na Europa cada
vez mais universidades. E, com a distribuição de universidades, portanto o aumento do
número de pessoas engajadas no debate intelectual, a lida com o conhecimento mudou.
Atrelou-se ao método científico, por um lado. E porque o método científico exige o
debate e o questionamento de ideias, firmou-se a convicção de que a liberdade para
pensar era fundamental para o avanço do conhecimento.
Foi neste cenário que, nas décadas seguintes após sua morte, surgiu a Idade
das Luzes ou Iluminismo.
Do suíço Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) ao francês Voltaire (1694-
1778), do escocês Adam Smith (1723-1790) ao alemão Immanuel Kant (1724-1804),
todos se debruçaram sobre o que Locke escreveu.
Concordaram e discordaram, discutiram, mas em comum todos abraçavam
aquele pacote de princípios novos. Liberdade cresceu como valor. A ideia de um Estado
autocrático passou a ser vista como repulsiva. E aqueles debates não ficaram isolados
entre pensadores. Desembocaram na Revolução Americana (1776) e na Revolução
Francesa (1789).
De Bentham ao séc. XIX
em que se enxerga a pobreza como uma forma de tirania, algo que tira do indivíduo sua
liberdade, como argumentar por uma intervenção do Estado sem promover o fim da
liberdade de outros?
John Atkinson Hobson (1858-1940), um economista, rearranjou o argumento.
Se a sociedade é o conjunto de indivíduos, o bem da sociedade é do interesse de cada
indivíduo. Com este objetivo, faz sentido que o Estado faça determinadas intervenções
na economia. O terreno para este argumento havia sido aberto por Stuart Mill ao falar
de igualdade de oportunidades. Hobson estava participando, ali, da fundação de uma
nova corrente que, na Inglaterra, seria batizada New Liberalism e que atende hoje por
Social-Liberalismo.
Tais ideias, no governo de David Lloyd George (1863-1945), deram origem ao
Estado de Bem-Estar Social britânico, que teve por principal teórico o jovem
economista John Maynard Keynes (1883-1946). As ideias de Keynes, por sua vez,
quando aplicadas aos EUA da Grande Depressão (Crise de 1929) formaram a base
para o país que chegou ao pós-Guerra como a maior democracia do planeta.
Do liberalismo clássico ao social-liberalismo
O neoliberalismo
permitindo-lhe alcançar novos grupos de eleitores. Por outro, oferece a críticos vindos
da esquerda uma caricatura do liberalismo mais fácil de atacar.
O segundo desafio não é externo, é inerente ao liberalismo.
Há cinco fases na história deste conjunto de ideias.
1. Ele nasce, após a Renascença, como uma resistência à tirania. É onde está
Locke, que propõe a ideia de que o Estado não deve perturbar a autonomia de
cada indivíduo.
2. Na segunda fase surge o conceito de mercado — este espaço onde indivíduos
se relacionam uns com os outros. Agora, o Estado não deve perturbar as inter-
relações entre indivíduos.
3. Mill apresenta a terceira fase, tirando o foco do mercado — sem ignorá-lo — e o
trazendo para uma sociedade capaz de despertar o potencial máximo de cada
indivíduo.
4. A quarta fase é aquela que percebe, na pobreza, uma forma de tirania que deve
ser combatida.
5. E a quinta fase, já na segunda metade do século 20, observa de forma mais
complexa a sociedade. Pois, entre o indivíduo e o todo desta sociedade há, no
intermediário, grupos que reúnem pessoas com interesses comuns. O
movimento de mulheres, de negros, o movimento LGBTQIA+, que buscam a
expansão de direitos individuais para os seus.
Mas um problema se coloca: em que momento, nesta fragmentação da
sociedade em grupos, não começam a se perder os indivíduos?
Avanço de nacionalismos populistas pela direita, pressão via esquerda de um
discurso que enxerga a sociedade, mas não as pessoas, e o debate interno continuado
sobre as tensões inerentes às contradições sempre presentes no conjunto de suas
ideias. Às vezes acuado, às vezes à frente das transformações da sociedade, o
liberalismo é uma das doutrinas políticas mais influentes hoje.
6. Capitalismo7
Origens do conceito
Interpretação marxista do capitalismo
7
RUSCONI, Enrico Gian, “Capitalismo” (verbete) In: BOBBIO [et. al], 1987, p. 141-148; GIDDENS, Antony,
“Capitalismo” (verbete) In: GIDDENS [et. al.], 2017, p. 112-117.
domínio dos meios em relação ao fim, por meio de três princípios: calculabilidade,
generalizabilidade e previsibilidade.
Em termos weberianos, falar de essência do capitalismo é falar de
racionalização e otimização das oportunidades do mercado de trabalho livre.
Aspectos controversos
8
BRAVO, Gian Mario, “Anarquismo” (verbete) In: BOBBIO [et. al], 1987, p. 23-29
Libertarianismo9
Anarcocapitalismo
Em meados do século XX, os defensores da direita libertária do
anarcocapitalismo cooptaram o termo libertário para defender o capitalismo laissez-faire
e fortes direitos de propriedade privada, como terras, infraestrutura e recursos naturais,
liberdades civis, lei natural, capitalismo de livre mercado e uma grande reversão do
moderno estado de bem-estar. Afirma um de seus principais representantes, Murray N.
Rothbard (1926-1995), em seu livro Betrail of the American Mind, p. 83:
“Um aspecto gratificante de nossa ascensão a algum destaque é que, pela primeira vez
em minha memória, nós, “nosso lado”, capturamos uma palavra crucial do inimigo.
Outras palavras, como "liberal", foram originalmente identificadas com libertários laissez-
faire, mas foram capturadas por estatistas de esquerda, forçando-nos na década de 1940
a nos chamarmos de liberais, um tanto quanto debilmente, "verdadeiros" ou "clássicos".
“Libertários ”, em contraste, há muito tem sido simplesmente uma palavra educada para
anarquistas de esquerda, ou seja, para anarquistas antipropriedade privada, seja do tipo
comunista ou sindicalista. Mas agora tínhamos assumido o controle, e mais
apropriadamente do ponto de vista da etimologia; uma vez que éramos defensores da
liberdade individual e, portanto, do direito do indivíduo à sua propriedade 10.
9
Ver WOODCOCK, 1962.
10
One gratifying aspect of our rise to some prominence is that, for the first time in my memory, we,
“our side,” had captured a crucial word from the enemy. Other words, such as “liberal,” had been
8. Nacionalismo e Patriotismo
Nacionalismo
Principais teorias
originally identified with laissez-faire libertarians, but had been captured by left-wing statists, forcing us
in the 1940s to call ourselves rather feebly “true” or “classical” liberals.15 “Libertarians,” in contrast,
had long been simply a polite word for left-wing anarchists, that is for anti-private property anarchists,
either of the communist or syndicalist variety. But now we had taken it over, and more properly from
the view of etymology; since we were proponents of individual liberty and therefore of the individual’s
right to his property.
11
HECHTER, 2004.
12
MYLONAS, TUDOR, 2021.
Patriotismo
Patriotismo e Nacionalismo
O patriotismo pode ser fortalecido pela adesão a uma religião nacional (uma
religião civil ou mesmo uma teocracia). Isso é o oposto da separação entre Igreja e
Estado exigida pelos pensadores iluministas, que viam o patriotismo e a fé como forças
semelhantes e opostas.
Nesse sentido, em geral, a distinção entre patriotismo e nacionalismo não é tão
nítida e teoricamente estabelecida. Para sair da discussão acadêmica, que ainda não é
consensual sobre esse assunto, apresento a visão de George Orwell, que, mesmo não
amplamente aceita, pode servir de esclarecimento provisório.
Orwell, em seu influente ensaio Notes on Nationalism13, distinguiu patriotismo de
nacionalismo:
13
ORWELL, 2021.
9. Marxismo
14
BOBBIO, Norberto, “Marxismo” (verbete) In BOBBIO [et. al], 1987, p. 738-744.
A inversão das relações entre sociedade civil e Estado, realizada por Marx
representa uma ruptura com a tradição da Filosofia Política moderna.
A Filosofia Política moderna tende a ver na sociedade pré-estatal uma
subestrutura, real mas efêmera, destinada a ser absorvida na estrutura do Estado.
Somente neste último, o homem poderia conduzir uma vida racional. Nesse caminho
vão o estado de natureza de Hobbes, a sociedade natural de Locke, o estado primitivo
de natureza de Rousseau, o estado das relações de direito privado-natural de Kant, a
família e a sociedade civil do próprio Hegel.
De modo diferente, Marx considera o Estado — entendido como o conjunto das
instituições políticas onde se concentra a máxima força imponível e disponível numa
determinada sociedade — pura e simplesmente como uma superestrutura em relação
à sociedade pré-estatal, que é o lugar onde se formam e se desenvolvem as relações
materiais de existência. Sendo superestrutura, é destinado, por sua vez, a desaparecer
na futura sociedade sem classes.
Enquanto a Filosofia da História dos escritores anteriores a Hegel (e
especialmente no próprio Hegel) caminha para um aperfeiçoamento cada vez maior do
Estado, a Filosofia da História de Marx caminha, ao invés, para a extinção do Estado. O
que, para os escritores precedentes, é a sociedade pré-estatal, ou seja, o reino da força
irregular e ilegítima. Para Marx, ao contrário, o Estado é nada mais que o prolongamento
do estado de natureza como estado histórico real da humanidade.
Estado burguês
Estado de transição
Extinção do Estado
Todos os Estados que existiram foram sempre ditaduras de uma classe, nessa
visão apresentada. A esta regra não faz exceção o Estado em que o proletariado se
torna classe dominante. Porém, diferentemente das ditaduras das outras classes, que
foram sempre ditaduras de uma minoria de opressores sobre uma maioria de oprimidos,
a ditadura do proletariado, sendo ditadura de uma enorme maioria de oprimidos sobre
uma minoria de opressores destinada a desaparecer, é ainda uma forma de Estado,
mas tal que, tendo como objetivo a eliminação do antagonismo das classes, tende à
gradual extinção daquele instrumento de domínio de classe que é o próprio Estado.
O primeiro indício do desaparecimento do Estado se encontra na última página
da Miséria da filosofia: "A classe operária substituirá, no curso de seu desenvolvimento,
a antiga sociedade civil por uma associação que excluirá as classes e seu antagonismo
e não existirá mais poder político propriamente dito" (p. 140).
O Manifesto inclui o tema do desaparecimento do Estado no próprio programa: "Se o
proletariado, na luta contra a burguesia, se constitui necessariamente em classe, e, por
intermédio da revolução se transforma a si mesmo em classe dominante destruindo
violentamente, como tal, as antigas relações de produção, ele elimina também, junto
com estas relações de produção, as condições de existência do antagonismo de classe,
das classes em geral e, portanto, também do seu mesmo domínio de classe".
15
PIANCOLA, Cesare, “Socialismo” (verbete) In BOBBIO [et. al], 1987, p. 1196-1202.
16
ARNOLD, Samuel, “Socialism” (verbete) In Internet Encyclopedia of Philosophy. Disponível em:
<https://iep.utm.edu/socialis/>. Acesso em 22/11/2021.
As teorias socialistas
Socialismo utópico
Socialismo e Comunismo
11. Fascismo
Contexto histórico
Foram difíceis aquelas primeiras décadas de século 20. Por um lado, para quem
as viveu, era patente que o mundo havia dado uma guinada, que mudava a olhos vistos.
Havia automóveis nas ruas onde, anos antes, ainda se andava a cavalo. O telégrafo,
depois o rádio e o telefone, passaram a permitir um nível de instantaneidade de
comunicações jamais imaginado. Neste sentido, no de que a tecnologia parecia
caminhar mais rápido do que nunca e de que o mundo todo ficava cada vez mais
próximo, este início de século 21 é muito parecido com aquele início de século 20.
Mas havia complicadores fundamentais: a economia ainda era essencialmente
agrária. A ideia de Estados nacionais era muito recente. O prussiano Otto von Bismarck
assumiu o governo de uma Alemanha unificada em 1871. O Reino da Itália nascia dez
anos antes. Para um alemão de 1920, o conceito de uma só Alemanha era mais recente
do que o Golpe de 1964 é para um brasileiro de 2021. Havia inúmeras pessoas vivas
com memória do tempo em que não existia país e, assim como na Itália, havia a
convicção de que a nação não estava ainda de todo formada. Outros povos por essência
alemães — os austríacos, muitos suíços, para dar exemplos — viviam fora da fronteira.
(Hitler era austríaco.)
E há um último ponto fundamental: a tragédia única que foi a Primeira Guerra. A
tecnologia bélica já avançara para novos padrões, mas o pensamento militar não a
acompanhou. Lutou-se a Grande Guerra (1914-18), como se lutou todas as guerras
anteriores: no corpo a corpo. Mas os canhões e as granadas eram outros. As armas de
mão tampouco precisavam mais ser carregadas bala a bala — havia metralhadoras. E,
num tempo em que a química ainda começava a ser dominada de fato, exércitos
regulares usaram Gás cloro, Cianureto de hidrogênio e Gás mostarda com um nível de
impunidade que, hoje, seria considerado bárbaro. Foi uma carnificina que deixou
aleijados traumatizados e gente incapaz de trabalhar com não havia acontecido antes.
Ao fim da Guerra e com o Tratado de Versailles, que selou sua paz, a Europa era outra.
Versailles impôs dívidas duras a todos os derrotados e dificultou a vida de um dos
vitoriosos — a Itália.
Muitas definições
12. Nazismo
Contexto histórico
Foram difíceis aquelas primeiras décadas de século XX. Por um lado, para quem
as viveu, era patente que o mundo havia dado uma guinada. Havia automóveis nas ruas
onde, anos antes, ainda se andava a cavalo. O telégrafo, depois o rádio e o telefone,
passaram a permitir um nível de instantaneidade de comunicações jamais imaginado.
Neste sentido, no de que a tecnologia parecia caminhar mais rápido do que nunca e de
que o mundo todo ficava cada vez mais próximo, este início de século 21 é muito
parecido com aquele início de século 20.
Mas havia complicadores fundamentais: a economia ainda era essencialmente
agrária. A ideia de Estados nacionais era muito recente. O prussiano Otto von
Bismarck (1815-1898) assumiu o governo de uma Alemanha unificada em 1871. O
Reino da Itália nascia dez anos antes. Para um alemão de 1920, o conceito de uma só
Alemanha era mais recente do que o Golpe de 1964 é para um brasileiro de 2021. Havia
inúmeras pessoas vivas com memória do tempo em que não existia país e, assim como
na Itália, havia a convicção de que a nação não estava ainda de todo formada. Outros
povos por essência alemães — os austríacos, muitos suíços, para dar exemplos —
viviam fora da fronteira. (Hitler era austríaco.)
E há um último ponto fundamental: a tragédia única que foi a Primeira Guerra. A
tecnologia bélica já avançara para novos padrões, mas o pensamento militar não a
acompanhou. Lutou-se a Grande Guerra (1914-18), como se lutou todas as guerras
anteriores: no corpo a corpo. Mas os canhões e as granadas eram outros. As armas de
mão tampouco precisavam mais ser carregadas bala a bala — havia metralhadoras. E,
num tempo em que a química ainda começava a ser dominada de fato, exércitos
regulares usaram Gás cloro, Cianureto de hidrogênio e Gás mostarda com um nível de
impunidade que, hoje, seria considerado bárbaro. Foi uma carnificina que deixou
aleijados traumatizados e gente incapaz de trabalhar com não havia acontecido antes.
Ao fim da Guerra e com o Tratado de Versailles, que selou sua paz, a Europa era outra.
Versailles impôs dívidas duras a todos os derrotados e dificultou a vida de um dos
vitoriosos — a Itália.
Àquela altura, a liberal-democracia ainda era jovem. Com momentos
conturbados — a Guerra Civil americana (1861-1865), o Período Napoleônico (1799-
1815), a decadência do Império Britânico —, ela ainda existia com alguma saúde nos
três países em que nascera. Em outros lugares, porém, o experimento não parecia
cumprir sua promessa. Economias devastadas, migração da produção agrícola para a
industrial, maus tratos de trabalhadores fabris, voto exclusivo da elite e pobreza – muita
pobreza. Até ali, a democracia liberal não entregara uma vida melhor, parecia só um
regime como todos os outros. Nos períodos de crise profunda do capitalismo, quando a
maneira de fazer dinheiro antiga se desmonta e a maneira nova ainda não se consolida,
o nível de insegurança na sociedade se multiplica. Nesse cenário, muita gente não está
capacitada para os novos trabalhos que existem, o trabalho de outros tantos deixa de
existir. De certo modo se parece ao cenário em que vivemos hoje, no início do séc. XXI.
13. Social-democracia
Conceito
História
17
HEYWOOD, 2007.
Definição inicial
18
BOBBIO, 2001, p. 107-8.
19
Sobre associação de cargas semânticas positivas e negativas à direita e à esquerda, diz Bobbio “Saber
qual dos dois [direita e esquerda] é o axiologicamente positivo e qual o axiologicamente negativo não
depende do significado descritivo, mas dos opostos juízos de valor que são dados às coisas descritas.”
Idem, p. 86.
20
“Uma coisa é a doutrina igualitária, ou um movimento nela inspirado, que tendem a reduzir as
desigualdades sociais e tornar menos penosas as desigualdades sociais e a tornar menos penosas as
desigualdades naturais; outra coisa é o igualitarismo, quando entendido como ‘igualdade de todos em
tudo’”. Idem, p. 116.
2. Dimensão histórica
3.2 Economia
3.3 Sociedade
4. Diagramas políticos
No primeiro eixo, há a
categoria do estatismo, postura
perante o Estado – uma
extremidade representando o
estatismo total; outra, o mínimo.
No segundo eixo, há a
categoria do racionalismo,
postura perante o uso da razão
como ferramenta de solução de
problemas sociais – uma
extremidade representando o
racionalismo total; outra, o
antirracionalismo, que ou
abandona a ideia do racionalismo como organizador social, ou prioriza outros
elementos, tais quais tradição, questões étnicas, questões folclóricas etc.
As diagonais definem os aliados, elementos que, embora em extremidades
diferentes, contêm elementos parecidos ou estão dentro de uma argumentação
semelhante.
As diagonais definem os aliados naturais, ou seja, elementos políticos que, ainda
que em extremidades opostas, possuem uma retórica ou uma base semelhante. Por
exemplo, os anarquistas clássicos, como é o caso de Bakunin (1814-1876), apresentam
semelhanças retóricas com os comunistas stalinistas. Não obstante discordarem quanto
ao papel do Estado, apresentam bases ideológicas semelhantes. Outro exemplo, o
libertarianismo, como é o caso de Ayn Rand (1905-1982), apresentam semelhanças
retóricas com os nazistas.
Nesse esquema, os adversários políticos são os que estão em quadrantes
próximos, não em quadrantes da diagonal.
A maior crítica a esse modelo veio dos libertários, em decorrência da associação
ideológica entre libertarianismo e nazismo.
economia deve ser controlada por uma entidade coletiva, seja o Estado, seja uma
comunidade. A direita defende que, progressivamente, deve haver total liberdade de
mercado.
No eixo Y, há a liberdade política. O autoritário defende que, progressivamente,
a liberdade deve ser controlada por uma entidade coletiva, seja o Estado, seja uma
comunidade. O libertário defende que, progressivamente, deve haver total liberdade
individual.
Nesse modelo, é possível haver:
• Libertarianismo de esquerda: controle da liberdade de mercado com liberdade
individual.
• Libertarianismo de direita: liberdade de mercado com liberdade individual.
• Autoritarismo de esquerda: controle da liberdade de mercado e controle da liberdade
individual.
• Autoritarismo de direita: liberdade de mercado e controle da liberdade individual.
• possui espírito crítico que opera via dúvida de tudo o que não passa pelo
crivo da razão, inclusive o conhecimento da tradição (Descartes),
• distingue-se por sua capacidade de se aperfeiçoar e não está limitado à sua
natureza (Rousseau),
• é livre para agir moralmente e negar o próprio egoísmo, rumo a princípios
universais (Kant).
Os grandes anseios humanos não mais se fundamentam na ordem cósmica,
nem na fé. Diferentemente, passam a querer se realizar no plano puramente humano.
Nesse panorama, acontecem por tripla via:
• Revolução (comunismo),
• Preservação e exaltação da nacionalidade (nacionalismo),
• Descoberta e inovação científicas (cientificismo).
O conservadorismo surge, então, como resposta às teorias que, a partir do séc.
XVIII, distanciaram-se da visão tradicional pré-moderna.
Ainda assim, o resultado que tendiam essas duas posturas – progressista e
conservadora – não se confundia com a postura anterior. Ambas viam a história humana
como um processo aberto e ascendente, baseado numa concepção de sociedade
dinâmica, não estática.
Conservadorismo
Conservadorismo e ideologia
Progressismo
Coletivismo
21
TONNIES, 2001.
22
WEBBER, 2004.
23
HOFSTEDE, 2001.
funcionar como um corpo, por meio da lealdade interna ao grupo. A negociação coletiva
entre trabalhadores e patrão é um exemplo de princípios econômicos corporativos.
Individualismo
Cautela no uso
24
WOOD, 1972.
Bibliografia