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CERS – COMPLEXO EDUCACIONAL

RENATO SARAIVA –AULA INTERATIVA


CARTÓRIOS – SC – RCPJ
RESOLUÇÃO DE QUESTÕES -PARTE II
PROFE: GRACIANO PINHEIRO DE
SIQUEIRA
1. Conceitos de pessoa jurídica, personalidade jurídica, sujeitos de direito e entes
despersonificados
CONCEITO DE PESSOA JURÍDICA: consiste, em regra, numa reunião de pessoas (Ex:
sociedades e associações) ou de patrimônios (Ex: fundação), com o intuito de exercer
atividades lícitas, com ou sem fins lucrativos, e a quem a lei confere personalidade
jurídica, o que lhes permite serem considerados, como entes personificados, SUJEITOS
DE DIREITO, ou seja, titulares de direitos e obrigações na órbita da vida civil.
A sociedade limitada pode, desde sua constituição, ser formada por um único sócio. O
mesmo se dá com a subsidiária integral (art. 251 da LSA), com a SAF (Lei nº
14.193/2021), com a sociedade individual de advocacia (Lei nº 13.247/2016) e, também,
com a empresa pública. A propósito, foi editado o Decreto nº 11.048, de 18.4.2022, que
altera o Decreto nº 8.945, de 27.12.2016 (que regulamenta, no âmbito da União, a Lei nº
13.303/2016, que dispõe sobre o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de
economia mista e de suas subsidiárias, no âmbito da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios).
Portanto, a SOCIEDADE, para se constituir, unipessoalmente, há a necessidade de
expressa previsão legal. Porém, durante sua existência, a SOCIEDADE, qualquer que seja
o TIPO SOCIETÁRIO adotado, pode tornar-se unipessoal, por prazo indeterminado, eis
que não há mais a exigência de recomposição da pluralidade de sócios no prazo de 180
dias, em face da revogação do inciso IV e do parágrafo único do art. 1.033 do Código
Civil, pela Lei nº 14.195/2021 (Lei de Melhoria do Ambiente de Negócios).
CONCEITO DE PERSONALIDADE JURÍDICA: é uma aptidão genérica, conferida pela lei,
que permite a determinados entes serem considerados como sujeitos de direito.
Além das PESSOAS, físicas ou jurídicas, existem alguns ENTES DESPERSONIFICADOS que
são considerados como sujeitos de direito: o condomínio edilício, a massa falida, o
espólio, a herança jacente, a sociedade sem registro (em comum – irregular ou de fato –
e a sociedade em conta de participação).
Toda pessoa, física ou jurídica, é sujeito de direito, porém, nem todo sujeito de direito é
pessoa.
2. Atribuições do RCPJ
É atribuição dos Oficiais do Registro Civil das Pessoas Jurídicas:
a) registrar os atos constitutivos, contratos sociais e estatutos das sociedades simples; das
associações, incluídos os sindicatos; dos partidos políticos e seus diretórios; das
organizações religiosas; e, das fundações de direito privado.
Com MP 1.085/2021, convertida na Lei nº 14.382/2022, eliminou-se, em definitivo, de
nosso ordenamento jurídico, a EIRELI. A alternativa é que as EIRELI constituídas se
CONVERTAM em Sociedade Limitada (unipessoal), que não é, diga-se de passagem,
nenhum TIPO novo de sociedade. Trata-se, apenas, da mesma sociedade limitada, regida
pelas regras dos arts. 1.052 e segs. do Código Civil, só que formada por um ÚNICO sócio.
Daí não ser correto falar-se, v.g., em transformação de sociedade limitada (composta por
dois ou mais sócios) em SLU.
Para o registro da constituição de pessoa jurídica será suficiente a apresentação de uma
única via original do ato constitutivo (contrato social ou estatuto), acompanhada de
requerimento firmado pelo representante legal ou interessado, considerado este como
toda e qualquer pessoa que, tendo direito ou legítimo interesse, possa ser afetada pela
ausência do registro do ato.
De acordo com a MP 1.085/2021, convertida na Lei nº 14.382/2022, deve ser apresentada
UMA ÚNICA VIA (ORIGINAL) DO ATO CONSTITUTIVO, podendo o requerimento ser
dispensado caso o representante legal conste do ato constitutivo, compromisso ou
estatuto (conforme caput e § 1º do art. 121 da LRP, com a nova redação que lhe deu a
MP, confirmada pela Lei nº 14.382/2022).
A via original deverá ser devolvida para o apresentante, após o registro.
Pela MP 1.085/2021, convertida na Lei nº 14.382/2022, a via original (em papel) ficará à
disposição do apresentante pelo prazo de 180 (cento e oitenta) dias, podendo, uma vez
ultrapassado este prazo ser descartado.
Se o ato constitutivo for apresentado em papel, deverá conter os
reconhecimentos de firma, das assinaturas de todos os sócios.
A rigor, em se tratando de sociedade limitada, por exemplo, o reconhecimento
de firmas não deveria ser exigido, eis que o art. 39 do Decreto nº 1.800/1996 os
dispensa.
Se o ato constitutivo for apresentado em formato eletrônico, serão necessárias
as assinaturas digitais de todos os sócios, com certificado digital ICP-Brasil, nos
padrões exigidos em lei e atos normativos.
A MP 1.085/2021, convertida na Lei nº 14.382/2022, prevê o uso de assinatura
digital avançada (emitida fora do âmbito do ICP-Brasil) e qualificada (emitida no
âmbito do ICP-Brasil), dependendo de regulamentação da CN-CNJ.
b) registrar as sociedades simples revestidas das formas empresárias, conforme
estabelecido no Código Civil, com exceção das sociedades anônimas e das sociedades
em comandita por ações.
O termo SOCIEDADE SIMPLES tem dois sentidos: 1º sociedade simples é natureza de
sociedade – a sociedade simples ao lado da sociedade empresária; e, 2º sociedade
simples é TIPO SOCIETÁRIO, conhecido como SOCIEDADE SIMPLES PURA, que é a
sociedade de natureza simples (não empresária) que não adotou nenhum dos tipos
empresários possíveis (limitada, em nome coletivo e em comandita simples), regendo-
se pelas regras que lhe são próprias (arts. 997 a 1.038 do Código Civil), que são
consideradas como normas gerais de direito societário, eis que se aplicam,
subsidiariamente, a outros tipos societários, como a sociedade despersonificada
(sociedade em comum e sociedade em conta de participação), a sociedade em nome
coletivo, a sociedade em comandita simples e, até mesmo, a sociedade limitada, desde
que não haja, no contrato social, cláusula expressa no sentido de que, nos casos de
omissão do contrato ou da lei, serão aplicadas, supletivamente, as regras da sociedade
anônima.
A sociedade simples pura, assim como a cooperativa, admitem sócio de serviço.
O Código Civil, vigente há, exatamente, 20 anos, adotou a Teoria da Empresa, em
substituição à Teoria dos Atos de Comércio. No tempo em que esta vigorou, existiam
duas naturezas de sociedades: a sociedade civil e a sociedades comercial, que se
distinguiam em face do objeto social exercido. Se fosse ele comércio ou indústria, a
sociedade era comercial e o seu arquivamento era feito perante a Junta Comercial. Se
praticasse a sociedade prestação de serviços, era ela, em regra, considerada como
sociedade civil, registrando-se perante o RCPJ. Atualmente, existem a sociedade
simples e a sociedade empresária, que se distinguem não mais em razão do objeto
social, isoladamente considerado, mas, pelo modo como esse objeto é exercido. Se
com empresarialidade (organização – dos fatores de produção: capital, trabalho alheio,
insumos e tecnologia) a sociedade é empresária, arquivando seus atos constitutivos e
posteriores alterações na Junta Comercial. Se com predominância da atuação pessoal
dos sócios sobre a tal organização, a sociedade é simples, registrando-se perante o
RCPJ.
Não cabe ao órgão de registro público (Junta Comercial ou RCPJ) dizer se a
sociedade é empresária ou simples. Tal incumbência é dos sócios, no próprio
contrato social.
O fato é que tanto a sociedade simples, quanto a sociedade empresária exercem
atividade econômica. Até mesmo as associações e as fundações podem exercer
atividade econômica – como MEIO para alcançar a ATIVIDADE-FIM para as quais
foram criadas e que as caracteriza como associação ou fundação, ou seja,
pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos. O importante é que o
LUCRO eventualmente alcançado por conta da prática de atividade econômica
pelas associações e fundações não seja distribuído entre os seus dirigentes, mas
seja revertido em benefício da ATIVIDADE-FIM para a qual foram constituídas.
O que diferencia a SOCIEDADE da ASSOCIAÇÃO é o fito de lucro, inerente à
primeira.
A sociedade simples pode adotar alguns tipos societários empresários. São eles:
sociedade limitada, sociedade em nome coletivo e sociedade em comandita simples.
Ao adotar tipo empresário, nem por isso a sociedade de natureza simples se torna
empresária, registrando-se perante o RCPJ.
Quando a sociedade simples adota tipo empresário ela deverá seguir, em primeiro
plano, as regras do tipo societário escolhido. Assim, por exemplo, se a sociedade
simples adota o tipo limitada, ela deverá seguir, em primeiro lugar, as regras da
limitada – arts. 1.052 e segs. do Código Civil. Por esta razão, não é possível, por
exemplo, a existência de sócio de serviço numa sociedade simples limitada, por
expressa vedação legal.
c) matricular jornais, revistas e demais publicações periódicas, oficinas impressoras,
empresas de radiodifusão que mantenham serviços de notícias, reportagens,
comentários, debates e entrevistas, e as empresas que tenham por objeto o
agenciamento de notícias.
A matrícula nada tem a ver com aquisição de personalidade jurídica. Trata-se,
em verdade, de um cadastro para, especialmente em relação às publicações
periódicas, controlar se as mesmas estão circulando clandestinamente e para
identificar os seus proprietários e responsáveis a fim de, quando for o caso,
enquadrá-los pela prática de crimes de imprensa, que já não mais existem, pela
não recepção da Lei nº 5.250/1967 (Lei de Imprensa) em face da CF/88.
Eventualmente, no entanto, poderão eles responderem pelos crimes de calúnia,
injúria e difamação, previstos no Código Penal.
A matrícula se justificava no período da ditadura. Importante observar que os
arts. 122 a 126 da LRP, que dela tratam, nada mais são do que uma reprodução
dos arts. 8º e 9º da extinta Lei de Imprensa.
d) averbar, nas respectivas inscrições e matrículas, todas as alterações
supervenientes.
e) fornecer certidões dos atos arquivados e dos que praticarem em razão do
ofício.
f) registrar e autenticar livros das pessoas jurídicas registradas, exigindo a
apresentação do livro anterior, observando-se sua rigorosa sequência
numérica, com a comprovação de, no mínimo, 50% (cinquenta por cento) da
utilização de suas páginas, bem como uma cópia reprográfica do termo de
encerramento para arquivo no Serviço.
Serão submetidos à autenticação do RCPJ os termos de abertura e de
encerramento de qualquer instrumento de escrituração que o interessado
julgue conveniente adotar, segundo a natureza e o volume de seus negócios,
inclusive, livros não obrigatórios.
A autenticação da Escrituração Contábil Digital - ECD, por meio do Sistema
Público de Escrituração Digital - SPED, desobriga qualquer outra autenticação,
nos termos do § 2º do art. 78-A do Decreto nº 1.800, de 30 de janeiro de 1996.
Observe-se que, de acordo com o art. 1.150 do Código Civil, quando a sociedade
simples adota tipo empresário (limitada, em nome coletivo e em comandita
simples), o registrador do RCPJ deve ater-se às regras do Registro Público de
Empresas Mercantis, a cargo das Juntas Comerciais. Tais regras são, exatamente,
a Lei nº 8.934/1994 e o seu Decreto regulamentador – Decreto nº 1.800/1996.
Ressalte-se que as Juntas Comerciais estão, tecnicamente, vinculadas ao DREI –
Departamento de Registro Empresarial e Integração, antigo DNRC –
Departamento Nacional de Registro do Comércio, o qual edita Instruções
Normativas de observância obrigatória, apenas, para as Juntas Comerciais. Não
obstante, muitas dessas Instruções Normativas caem como uma luva para o
registrador do RCPJ, no mínimo como parâmetro procedimental. Vide, por
exemplo, as IN DREI nº 81, 82 e 112.
Logo, ainda que as NSCGJSP, bem como os demais
Códigos de Normas estaduais prevejam, como
competência do RCPJ, o registro e autenticação de
livros contábeis, estes, quando efetuados por meio do
SPED, estariam dispensados, “ex vi” do disposto no
citado § 2º do art. 78-A do Decreto nº 1.800, de 30 de
janeiro de 1996, aplicável ao RCPJ em face da regra
do art. 1.150 do CC.
3. Efeitos do registro efetuado perante o RCPJ
O registro feito perante o RCPJ, a exemplo do que ocorre com a Junta Comercial em relação às
sociedades empresárias, tem EFEITO CONSTITUTIVO, ou seja, a pessoa jurídica nasce com o registro
perante o órgão de registro público competente, diferentemente com o que ocorre com o registro
da pessoa natural feito perante o RCPN, cujo EFEITO é DECLARATÓRIO.
O registro do ato constitutivo provoca quatro efeitos:
1)pessoal – uma vez constituída a pessoa jurídica, esta se torna independente da pessoa dos seus
sócios, associados ou membros; (a pessoa física, assim como a pessoa jurídica sócia, não se
confundem com a pessoa jurídica da qual façam parte).
2) patrimonial – uma vez constituída a pessoa jurídica, seu patrimônio não se confunde com o de
seus sócios, associados ou membros. Evidentemente, dependendo, por exemplo, do TIPO
SOCIETÁRIO escolhido, esse patrimônio irá se comunicar. É o caso das sociedades em nome coletivo
e em comandita simples (o sócio comanditado responde ilimitadamente). Há, ainda, a hipótese de
desconsideração da personalidade jurídica, previsto no art. 50 do Código Civil, que assim dispõe:
Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de
finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do
Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, desconsiderá-la para que
os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens
particulares de administradores ou de sócios da pessoa jurídica beneficiados direta ou
indiretamente pelo abuso. (Redação dada pela Lei nº 13.874, de 2019 – Lei da
Liberdade Econômica) (DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA)
§ 1º Para os fins do disposto neste artigo, desvio de finalidade é a utilização da pessoa
jurídica com o propósito de lesar credores e para a prática de atos ilícitos de qualquer
natureza. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
§ 2º Entende-se por confusão patrimonial a ausência de separação de fato entre os
patrimônios, caracterizada por: (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019 – Lei da Liberdade
Econômica)
I - cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio ou do administrador ou
vice-versa; (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019 – Lei da Liberdade Econômica)
II - transferência de ativos ou de passivos sem efetivas contraprestações, exceto os de valor
proporcionalmente insignificante; e (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019 – Lei da Liberdade
Econômica)
III - outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial. (Incluído pela Lei nº 13.874,
de 2019 – Lei da Liberdade Econômica)
§ 3º O disposto no caput e nos §§ 1º e 2º deste artigo também se aplica à extensão das
obrigações de sócios ou de administradores à pessoa jurídica. (Incluído pela Lei nº 13.874,
de 2019 – Lei da Liberdade Econômica). (DESCONSIDERAÇÃO INVERSA DA
PERSONALIDADE JURÍDICA)
§ 4º A mera existência de grupo econômico sem a presença dos requisitos de que
trata o caput deste artigo não autoriza a desconsideração da personalidade da
pessoa jurídica. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019 – Lei da Liberdade
Econômica)
§ 5º Não constitui desvio de finalidade a mera expansão ou a alteração da
finalidade original da atividade econômica específica da pessoa jurídica. (Incluído
pela Lei nº 13.874, de 2019 – Lei da Liberdade Econômica)
3) processual – quando a pessoa jurídica acionar ou ser acionada judicialmente é
ela quem será autora ou ré, devidamente representada por seu representante
legal.
4) obrigacional – no sentido de que as obrigações assumidas pela pessoa jurídica
são obrigações dela e não de seus sócios.
Os dois primeiros efeitos – pessoal e patrimonial – foram reforçados pelo
disposto no artigo 49-A e respectivo parágrafo único do Código Civil, que
assim dispõem:
Art. 49-A. A pessoa jurídica não se confunde com os seus sócios, associados,
instituidores ou administradores. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019 -Lei da
Liberdade Econômica)
Parágrafo único. A autonomia patrimonial das pessoas jurídicas é um
instrumento lícito de alocação e segregação de riscos, estabelecido pela lei
com a finalidade de estimular empreendimentos, para a geração de
empregos, tributo, renda e inovação em benefício de todos. (incluído pela Lei
nº 13.874, de 2019 – Lei da Liberdade Econômica)
Com o registro no órgão competente, a pessoa jurídica adquire nome,
domicílio e nacionalidade.
4. Reconhecimento de firmas nos instrumentos apresentados a registro (lato senso)
perante o RCPJ
Se o ato constitutivo for apresentado em papel, deverá conter os reconhecimentos de
firma, das assinaturas de todos os sócios. Em se tratando de pessoa jurídica sem fins
lucrativos, haverá a necessidade de reconhecimento de firma do seu representante legal.
A rigor, em se tratando de sociedade limitada, por exemplo, o reconhecimento de firmas
não deveria ser exigido, eis que o art. 39 do Decreto nº 1.800/1996 os dispensa, lembrando
que este dispositivo aplica-se ao RCPJ por força do disposto no art. 1.150 do CC.
Se o ato constitutivo for apresentado em formato eletrônico, serão necessárias as
assinaturas digitais de todos os sócios com certificado digital ICP-Brasil, nos padrões
exigidos em lei e atos normativos.
A MP 1.085/2021, convertida na Lei nº 14.382/2022, prevê o uso de assinatura digital
avançada (emitida fora do âmbito do ICP-Brasil) e qualificada (emitida no âmbito do ICP-
Brasil), dependendo de regulamentação da CN-CNJ.
5. Visto de advogado nos atos constitutivos de pessoas jurídicas
De acordo com o item 16.3.3, o estatuto deverá conter visto de
advogado, com menção ao seu nome e número de inscrição na
OAB.
Esta regra se aplica, também, ao contrato social de sociedade,
exceto a enquadrada como ME ou EPP. Para os casos de
averbação, não há necessidade de visto de advogado.
6. ME e EPP
As siglas “ME” e “EPP” não poderão integrar a denominação ou a firma das pessoas jurídicas
(SOCIEDADES), devendo ser feita a regularização como requisito obrigatório para a próxima
averbação de alteração do ato constitutivo.
Estando a pessoa jurídica enquadrada como microempresa - “ME” ou empresa de pequeno porte -
“EPP”, deverá o interessado apresentar, em documento separado ou no próprio requerimento de
registro ou averbação, declaração expressa a esse respeito.
O enquadramento como ME ou EPP é tratado na Lei Complementar nº 123/2006, que lhes confere
tratamento diferenciado e favorecido, tendo ele a ver com a receita bruta anual auferida (ME:
receita bruta anual de até R$ 360.000,00; e, EPP: receita bruta anual de R$ 360.000,01 até R$
4.800.000,00).
Para efeitos da LC nº 123/2006, consideram-se ME ou EPP a sociedade empresária, a sociedade
simples e o empresário individual.
As microempresas e as empresas de pequeno porte são desobrigadas da realização de reuniões e
assembleias em qualquer das situações previstas na legislação civil, as quais serão substituídas por
deliberação representativa do primeiro número inteiro superior à metade do capital social.
O disposto no caput deste artigo não se aplica caso haja disposição contratual
em contrário, caso ocorra hipótese de justa causa que enseje a exclusão de
sócio ou caso um ou mais sócios ponham em risco a continuidade da empresa
em virtude de atos de inegável gravidade.
Nos casos referidos no § 1o deste artigo, realizar-se-á reunião ou assembleia de
acordo com a legislação civil (art. 70 e respectivos parágrafos da LC nº
123/2006).
Os empresários e as sociedades de que trata esta Lei Complementar, nos
termos da legislação civil, ficam dispensados da publicação de qualquer ato
societário (art. 71 da LC nº 123/2006)
O protesto de título, quando o devedor for microempresário ou empresa de
pequeno porte, é sujeito às seguintes condições:
I - sobre os emolumentos do tabelião não incidirão quaisquer acréscimos a título
de taxas, custas e contribuições para o Estado ou Distrito Federal, carteira de
previdência, fundo de custeio de atos gratuitos, fundos especiais do Tribunal de
Justiça, bem como de associação de classe, criados ou que venham a ser criados
sob qualquer título ou denominação, ressalvada a cobrança do devedor das
despesas de correio, condução e publicação de edital para realização da
intimação;
II - para o pagamento do título em cartório, não poderá ser exigido cheque de
emissão de estabelecimento bancário, mas, feito o pagamento por meio de
cheque, de emissão de estabelecimento bancário ou não, a quitação dada pelo
tabelionato de protesto será condicionada à efetiva liquidação do cheque;
III - o cancelamento do registro de protesto, fundado no pagamento do título,
será feito independentemente de declaração de anuência do credor, salvo no
caso de impossibilidade de apresentação do original protestado;
IV - para os fins do disposto no caput e nos incisos I, II e III
do caput deste artigo, o devedor deverá provar sua qualidade
de microempresa ou de empresa de pequeno porte perante o
tabelionato de protestos de títulos, mediante documento
expedido pela Junta Comercial ou pelo Registro Civil das
Pessoas Jurídicas, conforme o caso;
V - quando o pagamento do título ocorrer com cheque sem a
devida provisão de fundos, serão automaticamente suspensos
pelos cartórios de protesto, pelo prazo de 1 (um) ano, todos os
benefícios previstos para o devedor neste artigo,
independentemente da lavratura e registro do respectivo
protesto. (art. 73 da LC nº 123/2006).
7. Registro de cooperativa e de sociedade anônima
De acordo com o parágrafo único, do art. 982 do CC, independentemente de seu
objeto, considera-se empresária a sociedade por ações; e, simples, a cooperativa.
Não obstante, o registro desta, no âmbito do Estado de São Paulo, tem sido feito
perante a Junta Comercial, em face do disposto no art. 18, da Lei nº 5.764/1991
(Lei do Cooperativismo), combinado com a regra do art. 1.093 do CC. Vide, neste
sentido, o Enunciado nº 69, do Conselho da Justiça Federal.
As NSCGJSP, que, inicialmente, previam o registro de cooperativa perante o RCPJ,
foram alteradas para impedir tal registro. Há, entretanto, alguns Códigos de
Normas estaduais que admitem o registro da cooperativa perante o RCPJ.
8. Conclaves: reuniões e assembleias. Assembleias virtuais.
As deliberações de sócios e de associados são, em regra, tomadas em reuniões ou
assembleias da pessoa jurídica, que são órgãos da mesma.
Em se tratando de associação, dispõe o inciso V, do art. 54 do CC, que o estatuto deve
conter, sob pena de nulidade, dentre outros requisitos, a indicação do modo de
constituição e funcionamento dos órgãos deliberativos.
Além disso, ainda em relação à associação, devem também ser observados os seguintes
dispositivos do nosso diploma civil pátrio:
Art. 59. Compete privativamente à assembléia geral: (Redação dada pela Lei nº 11.127,
de 2005)
I – destituir os administradores; (Redação dada pela Lei nº 11.127, de 2005)
II – alterar o estatuto. (Redação dada pela Lei nº 11.127, de 2005)
Parágrafo único. Para as deliberações a que se referem os incisos I e II deste artigo é
exigido deliberação da assembleia especialmente convocada para esse fim, cujo quorum
será o estabelecido no estatuto, bem como os critérios de eleição dos
administradores. (Redação dada pela Lei nº 11.127, de 2005)
Art. 60. A convocação dos órgãos deliberativos far-se-á na forma do estatuto, garantido a
1/5 (um quinto) dos associados o direito de promovê-la. (Redação dada pela Lei nº
11.127, de 2005)
Art. 61. Dissolvida a associação, o remanescente do seu patrimônio líquido, depois de
deduzidas, se for o caso, as quotas ou frações ideais referidas no parágrafo único do art.
56, será destinado à entidade de fins não econômicos designada no estatuto, ou, omisso
este, por deliberação dos associados, à instituição municipal, estadual ou federal, de fins
idênticos ou semelhantes.
§ 1 o Por cláusula do estatuto ou, no seu silêncio, por deliberação dos associados, podem
estes, antes da destinação do remanescente referida neste artigo, receber em restituição,
atualizado o respectivo valor, as contribuições que tiverem prestado ao patrimônio da
associação.
§ 2 o Não existindo no Município, no Estado, no Distrito Federal ou no Território, em que a
associação tiver sede, instituição nas condições indicadas neste artigo, o que remanescer
do seu patrimônio se devolverá à Fazenda do Estado, do Distrito Federal ou da União.
Já em relação às sociedades de pessoas, com exceção da limitada, ou seja, a
comandita simples e a sociedade em nome coletivo, para a quais não está
necessariamente prevista a realização de reunião ou assembleia, deve ser
observada a regra do art. 999 do Código Civil, que assim dispõe:
“Art. 999. As modificações do contrato social, que tenham por objeto matéria
indicada no art. 997, dependem do consentimento de todos os sócios; as demais
podem ser decididas por maioria absoluta de votos, se o contrato não determinar
a necessidade de deliberação unânime”.
No tocante à sociedade limitada, o tema vem tratado dos artigos 1.071 ao 1.080-
A do Código Civil, que cuidam, dentre vários assuntos, (i) das matérias objeto
de deliberação, (ii) dos quoruns para instalação e deliberação e (iii) das formas
de convocação.
O art. 1.072 e respectivos parágrafos do Código Civil estabelecem que as deliberações dos
sócios, na limitada, poderão ser tomadas em reunião ou assembleia (uma coisa ou outra),
sendo obrigatória a realização da assembleia quando a sociedade for composta por mais de
10 (dez) sócios. A reunião se distingue da assembleia em razão da forma de convocação.
Nesta, o chamamento dos sócios deve ser feito por meio de publicação, por (três) vezes, ao
menos, a ser realizada em jornal de grande circulação e no Diário Oficial da União ou do
Estado (art. 1.152, § 1º e 3º do Código Civil). Naquela, o modo de convocação é livre,
desde que expressamente previsto no contrato social. Assim sendo, ainda que este
indique que as deliberações sociais serão tomadas em reunião, sem, contudo,
estabelecer a forma de convocação, esta deverá ser formalizada na forma prevista para
as assembleias (§ 6º, do art. 1.072 do Código Civil).
Observe-se que “As microempresas e as empresas de pequeno porte são desobrigadas da
realização de reuniões e assembleias em qualquer das situações previstas na legislação
civil, as quais serão substituídas por deliberação representativa do primeiro número
inteiro superior à metade do capital social” (art. 70, da LC 123/1976).
No dia 21 de setembro de 2022 foi sancionada a Lei nº 14.451, que
altera a Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2022 (Código Civil), para
modificar os quóruns de deliberação dos sócios da sociedade
limitada previstos nos arts. 1.061 e 1.076, a qual passará a vigorar 30
dias após a data de sua publicação, ocorrida no DOU de 22 de
setembro de 2022.
Assim sendo, é muito provável que questões, desde as provas
objetivas, seja em relação à matéria Registros Públicos, seja em
relação à matéria Direito Empresarial, comecem a surgir sobre esse
tema. IMPORTANTE!!!!
A MP 1.085/2021, convertida na Lei nº 14.382/2022, introduziu, no Código Civil,
o art. 48-A, com a seguinte redação:
“Art. 48-A. As pessoas jurídicas de direito privado, sem prejuízo do previsto em
legislação especial e em seus atos constitutivos, poderão realizar suas
assembleias gerais por meios eletrônicos, inclusive para os fins do disposto no
art. 59, respeitados os direitos previstos de participação e de manifestação.”
A Lei nº 14.010/2020, de caráter emergencial e transitório por conta da
pandemia de Covid 19, tem previsão no mesmo sentido:
“Art. 5º A assembleia geral, inclusive para os fins do art. 59 do Código Civil, até
30 de outubro de 2020, poderá ser realizada por meios eletrônicos,
independentemente de previsão nos atos constitutivos da pessoa jurídica.
Parágrafo único. A manifestação dos participantes poderá ocorrer por qualquer
meio eletrônico indicado pelo administrador, que assegure a identificação do
participante e a segurança do voto, e produzirá todos os efeitos legais de uma
assinatura presencial”.
9. Administrador Provisório
Dispõe o art. 49 do Código Civil que “Se a administração da pessoa jurídica
vier a faltar, o juiz, a requerimento de qualquer interessado, nomear-lhe-á
administrador provisório”.
Não é raro que, especialmente em relação às associações, sejam as mesmas
constituídas através do registro de seus atos constitutivos perante o RCPJ,
deixando de apresentar, por um longo período de tempo, atos (atas de
eleições de seus órgãos, atas de reforma de estatuto, etc...) para averbação, o
que faz com que a entidade permaneça acéfala (sem administração), com a
consequente quebra do princípio da continuidade. Nestes casos, a regra geral
é requerer, perante Juiz de Vara Cível, a nomeação de administrador
provisório.
Cabe, aqui, fazer referência aos Enunciados 39 e 40 aprovados na I Jornada de
Direito Notarial e Registral do Conselho da Justiça Federal, que cuidam do
aqui tratado, assim redigidos:
Enunciado 39. A regra da nomeação de administrador provisório
pelo juiz, nos termos do art. 49 do Código Civil, poderá ser
excepcionada quando a solicitação de reativação das atividades
da pessoa jurídica for feita ao oficial do RCPJ competente por,
pelo menos, 1/5 das pessoas que a integravam ao tempo de sua
paralização.
Enunciado 40. Em razão do princípio da continuidade registral,
antes de averbar de eleição/nomeação e posse da atual Diretoria
e órgãos deliberativos das pessoas jurídicas, é necessária a
averbação das atas anteriores de eleição/nomeação e posse,
bem como de qualquer alteração havida no decorrer dos
respectivos mandatos.
10. Prazo para registro no RCPJ e prazo da prenotação
Se o registro não puder ser efetuado imediatamente, o Oficial prenotará o título
atribuindo-lhe o respectivo número de ordem e informará ao apresentante, por
escrito e com recibo, o dia em que o documento estará registrado e disponível ou
com a indicação dos motivos pelos quais não o efetuou. Esse prazo será de 10
(dez) dias contados da data da prenotação.
O prazo de 10 dias está de acordo com a MP 1.085/2021, convertida na Lei nº
14.382/2022. Porém, a partir dela, serão DIAS ÚTEIS.
Portanto, o prazo para qualificação dos documentos apresentados a registro (lato
senso) perante o RCPJ será de 10 dias ÚTEIS, dela decorrendo o registro ou a
emissão de NOTA DEVOLUTIVA (aplicação da regra do art. 188, comb. c/ art. 198,
ambos da LRP, com a nova redação que lhes deu a MP 1.085/2021, convertida na
Lei nº 14.382/2022, ao RCPJ).
A NOTA DEVOLUTIVA, com as exigências formuladas, deve ser elaborada de forma
fundamentada, clara, objetiva e as exigências deverão ser lançadas de uma ÚNICA VEZ, a
menos que, em razão do cumprimento das mesmas, sejam verificadas novas
irregularidades. A inobservância desta disposição poderá ensejar quaisquer das punições
previstas no art. 32 da Lei nº 8.935/1994.
A prenotação, a partir da MP 1.085/2021, convertida na Lei nº 14.382/2022, vale por 20
dias ÚTEIS (aplicação, ao RCPJ, da regra do art. 205 da LRP, com a nova redação que lhe deu
referida MP).
A cópia da nota de devolução, com o recibo do apresentante, será arquivada em pasta
segundo a ordem cronológica, a fim de possibilitar o controle das exigências e a
observância dos prazos.
A ocorrência da devolução com exigência será lançada no Livro de Protocolo.
Satisfeita a exigência no prazo, o reingresso do título será também lançado na mesma
prenotação.
Não satisfeita a exigência nem requerida a suscitação de dúvida no prazo legal de 20 (vinte)
dias úteis, a prenotação será cancelada, após o que eventual reapresentação do
documento gerará uma nova prenotação.
11. Sociedade unipessoal
A sociedade limitada pode, desde sua constituição, ser formada por um único
sócio. O mesmo se dá com a subsidiária integral (art. 251 da LSA), com a SAF (Lei
nº 14.193/2021) e com a sociedade individual de advocacia (Lei nº 13.247/2016).
O mesmo se dá, também, com a empresa pública. A propósito, foi editado o
Decreto nº 11.048, de 18.4.2022, que altera o Decreto nº 8.945, de 27.12.2016
(que regulamenta, no âmbito da União, a Lei nº 13.303/2016, que dispõe sobre o
estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de economia mista e de suas
subsidiárias, no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios.
Portanto, para se constituir, unipessoalmente, há a necessidade de previsão legal.
Atualmente, durante sua existência, a SOCIEDADE, qualquer que seja o TIPO
SOCIETÁRIO, pode tornar-se unipessoal, por prazo indeterminado, eis que não há
mais a exigência de recomposição da pluralidade de sócios no prazo de 180 dias,
em face da revogação do inciso IV e do parágrafo único do art. 1.033 do Código
Civil, pela Lei nº 14.195/2021 (Lei de Melhoria do Ambiente de Negócios).
As SOCIEDADES e as ASSOCIAÇÕES, em regra, são reuniões de pessoas, ao passo que as
FUNDAÇÕES são reuniões de patrimônios.

12. Sociedade entre marido e mulher


Faculta-se aos cônjuges contratar sociedade, entre si ou com terceiros, desde que não tenham
casado no regime da comunhão universal de bens, ou no da separação obrigatória (art. 977
do Código Civil).
Portanto, é vedado aos sócios, quando casados, entre si, pelo regime da comunhão universal
de bens ou da separação obrigatória (hipóteses previstas no art. 1.641 do Código Civil) a
constituição de sociedade.
A vedação atinge, apenas, as sociedades novas. As já existentes à época da entrada em vigor
do Código Civil de 2002, podem permanecer como estão.
A vedação não significa que pessoas casadas sob o regime da comunhão de bens estejam
proibidas de ser sócias de qualquer sociedade. Só não podem ser sócias na mesma sociedade,
entre si ou com terceiros.
Na hipótese de um apenas um dos sócios ser sócio de sociedade, não é possível que o outro
cônjuge nela ingresse também na condição de sócio.
13. Transformação de associação e fundação em sociedade e vice-versa
As NSCGJSP estipulam, no seu item 32, ser “vedada a averbação de transformação de associação ou
fundação em sociedade, ressalvada a hipótese de instituição de ensino superior referidas no art. 13 da
Lei nº 11.096/2005 e as associações que tenham seu patrimônio dividido em cotas ou frações ideais, nos
termos do art. 56, parágrafo único, do Código Civil”.
Essa regra, em face da Lei da Liberdade Econômica (Lei nº 13.874/2019) deve ser revista. O DREI, por
exemplo, já autorizou as Juntas Comerciais a fazer o arquivamento da CONVERSÃO de associação em
sociedade e vice-versa (artigos 84 e 85 da IN DREI nº 81/2020). Neste sentido, há decisões proferidas
pelo Juiz Corregedor Permanente de Piracicaba, no processo administrativo nº 1009614-
51.2022.8.26.0451, bem pelo Juiz Corregedor Permanente de Sorocaba, no processo administrativo nº
1008693-61.2021.8.26.0602.
No tocante à conversão de fundação em sociedade ou vice-versa, a coisa é mais complicada, na medida
em que são pessoas jurídicas com estruturas incompatíveis.
Já o item 2.1 estabelece que “Aplicam-se às associações os institutos da fusão, incorporação e cisão”.
Por que essas operações são possíveis e a transformação não?
Muito antes da Lei da Liberdade Econômica entendiam alguns doutrinadores ser possível a aplicação, às
demais espécies de pessoas jurídicas de direito privado, das chamadas operações societárias
(transformação, incorporação, cisão e fusão), em face do disposto no art. 2.033 do Código Civil.
14. Livros de Registro do RCPJ
Além dos livros e classificadores obrigatórios e comuns a todas as Serventias
no Registro Civil das Pessoas Jurídicas haverá os seguintes livros:
a)"A", para os fins indicados no item 1, alíneas a, b e d com 300 (trezentas)
folhas;
b) “B” para os fins indicados no item 1, alínea “c”;
c) “Protocolo”: para protocolo de todos os títulos, documentos e papéis
apresentados diariamente para registro ou averbação. Nele serão lançadas
todas as ocorrências, desde o apontamento (prenotação) até a sua devolução,
com o registro ou com NOTA DEVOLUTIVA. Pelo Livro Protocolo se tem um
controle do título ou documento desde o seu ingresso na serventia para
apontamento (prenotação).
Os livros e classificadores obrigatórios estão elencados no Capítulo XIII, das
NSCGJSP – itens 38 e 38.1 (livros) e 57 (classificadores).
A MP 1.085/2021, convertida na Lei nº 14.382/2022, deu nova redação ao art.
116 da LRP, dela eliminando a menção à quantidade de fls. que deveriam ter o
Livro A (300) e o Livro B (150). Ao dar nova redação ao art. 116, o legislador
perdeu a oportunidade de nele incluir a menção ao inciso III, do art. 114 da LRP,
relativo ao registro, perante o RCPJ, dos Partidos Políticos. Além disso, poderia
ter aproveitado e dar nova redação aos incisos I e II do referido art. 114, neles
substituindo a expressão “sociedades civis”, que já não mais existem, a exemplo
do que ocorreu também com as sociedades comerciais, há 20 (vinte) anos,
substituídas que foram pelas sociedades simples. Lembre-se que o Código Civil
passou a adotar, em substituição à Teoria dos Atos de Comércio, do Código
Comercial de 1.850, a chamada “Teoria da Empresa”, onde existem duas novas
naturezas de sociedades: a sociedade simples e a sociedade empresária.
O livro “A” servirá para registro integral de atos constitutivos de pessoas
jurídicas, bem como para as averbações das alterações supervenientes do ato
constitutivo, de atas de reuniões e assembleias ou de quaisquer outros atos, de
natureza societária ou associativa, realizados pela pessoa jurídica.
Esse livro será composto por arquivos no formato “PDF-A”, assinados
eletronicamente pelo registrador ou por seu escrevente, contendo as imagens
digitalizadas do documento em papel apresentado pelo interessado ou a
anexação do arquivo eletrônico original apresentado pelo interessado, bem
como a certificação do registro, que deverá indicar o número de ordem no
protocolo, a data do protocolo, o número de ordem do registro e a data do
registro.
O livro “B” servirá para a matrícula de jornais, revistas e demais publicações
periódicas, oficinas impressoras e de agência notícias, bem como para as
averbações de todas as alterações supervenientes das declarações ou
documentos constantes na matrícula.
Esse livro será composto por arquivos no formato “PDF-A”, assinados
eletronicamente pelo registrador ou por seu escrevente, contendo as
imagens digitalizadas do documento em papel apresentado pelo interessado
ou a anexação do arquivo eletrônico original apresentado pelo interessado,
bem como a certificação do registro, que deverá indicar o número de ordem
no protocolo, a data do protocolo, o número de ordem do registro e a data do
registro.
Até a MP 1.085/2021, convertida na Lei nº 14.382/2022, a assinatura digital
do registrador ou de seu escrevente era a qualificada (emitida cf. ICP-Brasil).
Agora poderá ser também utilizada, não só pelo registrador ou seus
prepostos, a assinatura avançada (não emitida cf. ICP-Brasil), a depender de
regulamentação da CN-CNJ.
Os livros “A” e “B” poderão ser substituídos pelo sistema de
microfilmagem, com termos de abertura e encerramento no início e
no fim de cada rolo de microfilme.
No tocante à microfilmagem, a MP 1.085/2021, convertida na Lei nº
14.382/2022, revogou, na LRP, o art. 141 da LRP, que dela tratava.
Isto não significa que ela não poderá ser feita, até porque, nos
termos do art. 41, da Lei nº 8.935/1994, “Incumbe aos notários e aos
oficiais de registro praticar, independentemente de autorização,
todos os atos previstos em lei necessários à organização e execução
dos serviços, podendo, ainda, adotar sistemas de computação,
microfilmagem, disco ótico e outros meios de reprodução”.
O livro “Protocolo” deverá conter campos para a indicação de:
I - número de ordem;
II - dia e mês;
III - natureza do título ou documento;
IV – espécie de lançamento (registro, matrícula ou averbação);
V – nome do apresentante;
VI - anotações e averbações.
A numeração de ordem será contínua e sequencial.
Em seguida ao registro, far-se-á, no protocolo, remissão ao número e à data
do registro.
Será lavrado, no fim do expediente diário, termo eletrônico de encerramento,
datado e subscrito pelo Oficial ou seu substituto, contendo o número de
títulos apresentados. Isso não significa que o Livro Protocolo será encerrado
diariamente, mas, sim, o expediente diário.
Nenhuma nova apresentação será admitida após encerrado o expediente regulamentar de
atendimento ao público, mesmo que se prolongue o funcionamento da Serventia para
ultimação de serviços.
Deverá ser fornecido ao apresentante recibo contendo declaração da data da apresentação
e indicação do dia em que o título deverá ser devolvido registrado ou com eventual nota de
exigência.
A escrituração do livro “Protocolo” do Registro Civil de Pessoas Jurídicas deverá ser distinta
e independente àquela do Livro “A” de Protocolo do Registro de Títulos e Documentos.
Há Estados em que o RTD e o RCPJ podem usar o mesmo Protocolo.
Os Livros serão escriturados e mantidos em meio eletrônico e armazenados em sistema de
gerenciamento de banco de dados adotado pela serventia.
Visando garantir a segurança dos dados, a escrituração eletrônica de todos os livros deverá
observar as regras de segurança da informação previstas pelo Conselho Nacional de Justiça,
além de leis e atos normativos da Corregedoria Geral da Justiça.
A escrituração eletrônica de todos os livros também deverá ser objeto de
replicação e backup, com armazenamento em ambiente eletrônico seguro situado
fora do prédio onde esteja situada a serventia, podendo o registrador adotar
providências complementares de segurança das informações, incluindo a
microfilmagem.

15. Matrícula de jornais, revistas e outros periódicos; de oficinas impressoras; de


empresas jornalísticas e de radiodifusão
Especialmente em relação às publicações periódicas, é dupla a finalidade da
matrícula: 1) impedir que a publicação periódica circule clandestinamente; e, 2)
identificar o proprietário, pessoa física ou jurídica, ou o responsável pela
publicação periódica a fim de responsabilizá-los pela prática de crime de imprensa,
que, aliás, já não mais existe em face da revogação da Lei nº 5.250/1967 (Lei de
Imprensa) pela ADPF 130.
Os pedidos de matrícula serão feitos pelo registrador da comarca da
sede da administração, mediante requerimento, contendo as
informações e instruídos com os documentos seguintes (arts. 122 a
126 da LRP, que nada mais são do que reprodução dos arts. 8º e 9º
da Lei de Imprensa):
I - em caso de jornais e outros periódicos:
a) título do jornal ou periódico, sede da redação, administração e
oficinas impressoras (no caso de publicações em papel) ou
servidores (no caso de publicações em meio eletrônico),
esclarecendo, quanto aos últimos, se são próprias ou de terceiros,
com indicação dos respectivos proprietários;
b) nome, nacionalidade e respectivo comprovante, número do RG,
número do CPF e domicílio do diretor ou redator-chefe;
c) nome, nacionalidade e respectivo comprovante, número do RG, número do CPF
e domicílio do proprietário, se este for pessoa física;
d) nome, nacionalidade, número do CNPJ e exemplar do ato constitutivo da
proprietária, se esta for pessoa jurídica, bem como nome, nacionalidade, número
do RG, número do CPF e domicílio dos respectivos diretores, administradores e
sócios/associados/membros.
II - em caso de oficinas impressoras:
a) nome, nacionalidade e respectivo comprovante, número do RG, número do CPF
e domicílio do administrador e do proprietário, se este último for pessoa física;
b) sede da administração e endereço completo de funcionamento da oficina, com
a respectiva denominação;
c) nome, nacionalidade, número do CNPJ e exemplar do ato constitutivo da
proprietária, se esta for pessoa jurídica, bem como nome, nacionalidade, número
do RG, número do CPF e domicílio dos respectivos diretores, administradores e
sócios/associados/membros.
III - em caso de empresas de radiodifusão:
a) designação da emissora, sede de sua administração e local das instalações
do estúdio;
b) nome, nacionalidade, estado civil, profissão, RG, CPF, domicílio e prova da
nacionalidade do diretor ou redator-chefe responsável pelos serviços de
notícias, reportagens, comentários, debates e entrevistas;
IV - em caso de empresas noticiosas:
a) nome, nacionalidade, estado civil, profissão, RG, CPF, domicílio e prova da
nacionalidade do administrador e do proprietário, se pessoa natural;
b) sede da administração;
c) se propriedade de pessoa jurídica, exemplar do respectivo ato constitutivo,
contrato social ou estatuto, bem como nome, nacionalidade, estado civil,
profissão, RG, CPF, domicílio e prova da nacionalidade dos diretores,
administradores e sócios/associados/membros da proprietária, além da
indicação de sua inscrição no CNPJ.
As alterações em qualquer dessas declarações ou documentos deverão ser averbadas na
matrícula no prazo de 8 (oito) dias contados da sua realização, mediante requerimento
específico.
Verificando o oficial que os requerimentos de averbação acham-se fora de prazo, ou que
os pedidos de matrícula referem-se a publicações já em circulação, representará ao Juiz
Corregedor Permanente, para considerar sobre a eventual aplicação da multa, nos
termos da Lei de Registros Públicos.
A multa prevista no art. 124 da Lei de Registros Públicos será fixada de acordo com os
valores de referência, estabelecidos pelo Governo Federal.
Salvo disposição em contrário, a multa será recolhida pelo interessado à União, em guias
próprias.
Aplicam-se à matrícula, no que couber, os procedimentos para o registro constitutivo de
pessoas jurídicas.
O requerente apresentará sua petição em duas vias, com firmas reconhecidas,
acompanhada dos documentos exigidos na lei; autuada a primeira via juntamente com os
documentos, o oficial rubricará e numerará as folhas, certificando os atos realizados.
O oficial lançará, nas duas vias, a certidão do registro, com o respectivo número de
ordem, livro e folha, entregando a segunda ao requerente.

16. Passagem prévia por Conselhos Regionais de profissão regulamentada


Para o registro dos atos constitutivos e de suas alterações, das sociedades a que se
refere o art. 1º da Lei Federal 6.839, de 30 de outubro de 1980, exigir-se-á a
comprovação do pedido de inscrição no respectivo órgão de disciplina e fiscalização do
exercício profissional, exceto no caso de sociedades corretoras de seguros, em razão
do disposto no Decreto nº 60.459/67, na Resolução nº 81/2002, do Conselho Nacional
de Seguros Privados e na Circular nº 127/2000 da SUSEP.
Será obrigatória a comprovação da existência de um responsável técnico da empresa,
quando a lei assim o dispuser.
A passagem prévia, por Conselho Regionais, não tem mais sentido, principalmente
quando a SOCIEDADE adota tipo empresário. O art. 37 do Decreto nº 1.800/1996 a
dispensa, expressamente, sendo certo que tal disposição deveria estar sendo
observada pelo registrador do RCPJ, em face do disposto no art. 1.150 do Código Civil.
A rigor, quando a norma administrativa for incompatível com a lei em sentido
formal, deve aquela ser considerada ineficaz.
Quando o funcionamento da sociedade depender de aprovação da autoridade,
sem esta não poderá ser feito o registro (item 15, do Capítulo XVIII das
NSCGJSP).
Vide o § 1º do art. 35 da Lei nº 8.934/1994, que assim dispõe:
Art. 35.........
§ 1º O registro dos atos constitutivos e de suas alterações e extinções ocorrerá
independentemente de autorização governamental prévia, e os órgãos públicos
deverão ser informados pela Rede Nacional para a Simplificação do Registro e
da Legalização de Empresas e Negócios (Redesim) a respeito dos registros sobre
os quais manifestarem interesse. (Incluído pela Lei nº 14.195, de 2021 – Lei de
Melhoria do Ambiente de Negócios)
17. Elenco das pessoas jurídicas de direito privado. Distinção entre sociedade,
associação, fundação, organização religiosa e partido político
O RCPJ registra as pessoas jurídicas de direito privado, que estão elencadas no art. 44
do Código Civil, exceto a sociedade empresária, cujo arquivamento é feito perante a
Junta Comercial. Esta arquiva também os atos do empresário individual, que não tem
personalidade jurídica, embora tenha inscrição no CNPJ, sendo sua responsabilidade,
em regra, ilimitada. Exceção: § 2º do art. 974 do Código Civil: “Não ficam sujeitos ao
resultado da empresa os bens que o incapaz já possuía, ao tempo da sucessão ou da
interdição, desde que estranhos ao acervo daquela, devendo tais fatos constar do
alvará que conceder a autorização”.
PERGUNTAS:
O rol do art. 44 do Código Civil é taxativo ou meramente exemplificativo? (sindicatos,
serviços sociais autônomos, condomínio edilício).
A exemplo do que ocorre com os regimes de bens do casamento, é possível misturar os
tipos societários existentes e criar uma sociedade sui generis?
A resposta é negativa.
O termo SOCIEDADE SIMPLES tem dois sentidos: 1º sociedade simples é
natureza de sociedade – a sociedade simples ao lado da sociedade empresária;
e, 2º sociedade simples é TIPO SOCIETÁRIO, conhecido como SOCIEDADE
SIMPLES PURA, que é a sociedade de natureza simples (não empresária) que
não adotou nenhum dos tipos empresários possíveis (limitada, em nome
coletivo e em comandita simples), regendo-se pelas regras que lhe são próprias
(arts. 997 a 1.038 do Código Civil), que são consideradas como normas gerais
de direito societário, eis que se aplicam, subsidiariamente, a outros tipos
societários, como a sociedade despersonificada (sociedade em comum e
sociedade em conta de participação), a sociedade em nome coletivo, a
sociedade em comandita simples e, até mesmo, a sociedade limitada, desde
que não haja, no contrato social, cláusula expressa no sentido de que, nos
casos de omissão do contrato ou da lei, serão aplicadas, supletivamente, as
regras da sociedade anônima.
À sociedade de natureza simples, especialmente a que adota tipo empresário,
aplica-se a regra do art. 64 da Lei nº 8.934/1994, possibilitando que, no caso
de transferência de bens imóveis de sócio para a sociedade, para fins de
integralização de capital social, quer se trate de ato constitutivo, quer se trate
de alteração contratual que tenha por objeto o aumento do capital social, seja
dispensada escritura pública.
Há, no âmbito do Estado de São Paulo, duas decisões do CSM neste sentido:
Processo de Apelação n° 1031098-21.2016.8.26.0100 e Processo de Apelação
nº 1036892-23.2016.8.26.0100. Existe, ainda, no mesmo sentido, o Enunciado
nº 478 do Conselho da Justiça Federal, fruto da V Jornada de Direito Civil.
Cabe observar que esse tema é bem antigo e remonta à época em que
vigoravam o Decreto n° 3.708/19, antiga lei que regia a sociedade por quotas
de responsabilidade limitada (atual limitada), e o Código Civil de 1916.
Sempre se argumentou, sem que isso fosse acatado, que uma sociedade civil, a exemplo
da sociedade comercial, que adotasse o tipo sociedade por quotas de responsabilidade
limitada, poderia se valer do disposto no art. 64 da Lei n° 8.934/94, quando da
integralização de seu capital social, formalizando o seu ato constitutivo ou a sua alteração
contratual para aumento desse capital por meio de instrumento particular, em razão da
regra do art. 18 do DL 3.708/19, combinada com a do art. 89 da Lei n° 6.404/76 (Lei das
Sociedades Anônimas), que assim dispunham:
“Art. 18. Serão observadas quanto às sociedades por quotas, de responsabilidade
limitada, no que não for regulado no estatuto social, e na parte aplicável, as disposições
da lei das sociedades anônimas”.
“Art. 89. A incorporação de imóveis para formação do capital social não exige escritura
pública”.
Já não era sem tempo essa mudança de entendimento, pois se estava dando tratamento
desigual a coisas absolutamente homogêneas.
Sobre o recolhimento de ITBI, ver o quanto decidido no RE 796.376/SC, que provocou um novo
entendimento sobre o tema, o qual é mencionado no Acórdão da Apelação/Remessa Necessária nº
1027788-49.2021.8.26.0482 julgada pela 14ª. Câmara de Direito Público do TJSP, em 14.06.2022 – A não
incidência vai até o valor atribuído ao capital social, incidindo o imposto pelo valor restante atribuído a\o
imóvel conferido à sociedade, pelo sócio, para fins de integralização do aludido capital.
O Código Civil, vigente há, exatamente, 20 anos, adotou a Teoria da Empresa, em substituição à Teoria
dos Atos de Comércio. No tempo desta, existiam as sociedades civis e as sociedades comerciais que se
distinguiam em face do objeto social exercido. Se fosse ele comércio ou indústria, a sociedade era
comercial e o seu arquivamento era feito perante a Junta Comercial. Se praticasse a sociedade prestação
de serviços, era ela, em regra, considerada como sociedade civil, registrando-se perante o RCPJ.
Atualmente, existem a sociedade simples e a sociedade empresária, que se distinguem não mais em razão
do objeto social, isoladamente considerado, mas, pelo modo como esse objeto é exercido. Se com
empresarialidade (organização – dos fatores de produção: capital, trabalho alheio, insumos e tecnologia)
a sociedade é empresária, arquivando seus atos constitutivos e posteriores alterações na Junta Comercial.
Se com predominância da atuação pessoal dos sócios sobre a tal organização, a sociedade é simples,
registrando-se perante o RCPJ.
Não cabe ao órgão de registro público (Junta Comercial ou RCPJ) dizer se a sociedade é
empresária ou simples. Tal incumbência é dos sócios, no próprio contrato social.
O fato é que tanto a sociedade simples, quanto a sociedade empresária exercem
atividade econômica. Até mesmo as associações e as fundações podem exercer
atividade econômica – como MEIO para alcançar a ATIVIDADE-FIM para as quais foram
criadas e que as caracteriza como associação ou fundação, ou seja, pessoas jurídicas de
direito privado sem fins lucrativos. O importante é que o LUCRO eventualmente
alcançado por conta da prática de atividade econômica pelas associações e fundações
não seja distribuído entre os seus dirigentes, mas seja revertido em benefício da
ATIVIDADE-FIM para a qual foram constituídas.
A palavra EMPRESA não é sinônima da palavra SOCIEDADE, embora na prática, inclusive
no meio jurídico e na própria lei, seja usada como tal. Em verdade o termo EMPRESA é
sinônimo de ATIVIDADE (econômica organizada para a produção ou circulação de bens
e a prestação de serviços).
EMPRESÁRIO (sujeito de direito), EMPRESA (atividade econômica) e ESTABELECIMENTO (tal
como definido no art. 1.142 do Código Civil: complexo de bens ORGANIZADO de que se serve
o EMPRESÁRIO para o exercício de sua EMPRESA) são três coisas indissociáveis, que
caracterizam a EMPRESARIALIDADE.
IMPORTANTE: A MP 1.085/2021, convertida na Lei nº 14.382/2022, acrescentou três
parágrafos ao art. 1.142 do Código Civil, que conceitua ESTABELECIMENTO, com o seguinte
teor:
§ 1º O estabelecimento não se confunde com o local onde se exerce a atividade empresarial,
que poderá ser físico ou virtual. (Incluído Pela Medida Provisória nº 1.085, de 2021)
§ 2º Quando o local onde se exerce a atividade empresarial for virtual, o endereço informado
para fins de registro poderá ser, conforme o caso, o endereço do empresário individual ou de
um dos sócios da sociedade empresária. (Incluído Pela Medida Provisória nº 1.085, de
2021)
§ 3º Quando o local onde se exerce a atividade empresarial for físico, a fixação do
horário de funcionamento competirá ao Município, observada a regra geral
prevista no inciso II do caput do art. 3º da Lei nº 13.874, de 20 de setembro de
2019. (Incluído Pela Medida Provisória nº 1.085, de 2021)
EMPRESÁRIO é gênero do qual são espécies o empresário individual e a sociedade
empresária. A EIRELI deixou de existir como pessoa jurídica de direito privado.
O EMPRESÁRIO é registrado perante o Registro Público de Empresas Mercantis, a
cargo das Juntas Comerciais.
Ser EMPRESÁRIO independe do registro perante a Junta Comercial. O que
caracteriza o empresário é a prática reiterada, habitual e profissional do exercício
da atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens e
prestação de serviços. O empresário individual não tem personalidade jurídica e,
embora tenha inscrição no CNPJ, não é uma pessoa jurídica. O registro na Junta
Comercial dá ao empresário, apenas, regularidade. Exceção: empresário rural, que
precisa do registro perante a Junta Comercial para ser considerado empresário.
O que diferencia a SOCIEDADE da ASSOCIAÇÃO é o fito de lucro, inerente à primeira.
Também a fundação não tem fins lucrativos.
Diferentemente do que ocorre com as sociedades e com as associações, que foram
conceituadas, respectivamente, nas regras dos artigos 981 e 53 do Código Civil, as
ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS, que foram introduzidas no rol do citado art. 44 do mesmo
Código no ano de 2005, não foram definidas pelo legislador. As primeiras decisões
administrativas a respeito das mesmas entendiam que a ORGANIZAÇÃO RELIGIOSA seria a
entidade religiosa que cuidasse da religião propriamente dita, do culto religioso e da
liturgia. As mais recentes permitem que, além disso, exerçam as organizações religiosas
atividades de caráter assistencial, de auxílio ao próximo, por exemplo. Uma forma de
distinguir a organização religiosa da associação religiosa, espécies do gênero entidade
religiosa, está na norma de regência. Basta para a organização religiosa que o seu estatuto
contemple, pelo menos, os elementos previstos no art. 46 do Código Civil. Já a associação
religiosa, além dos requisitos do art. 46 deve também conter os do art. 54 do Código Civil,
sob pena de nulidade do estatuto.
No que tange às organizações religiosas, o Enunciado nº 37 aprovado na I Jornada de
Direito Notarial e Registral do Conselho da Justiça Federal assim dispõe:
“Os atos constitutivos de organizações religiosas, e suas alterações, observarão o
disposto nos arts. 44 e 46 do CC/2002, sendo tais organizações livres quanto à
regência de cultos e atos confessionais”.
O STF decidiu que entidades religiosas podem se beneficiar da imunidade
tributária conferidas às instituições de assistência social, abrangendo, além de
impostos sobre o seu patrimônio, renda e serviços, os tributos sobre a importação
de bens a serem utilizados na consecução de seus objetivos estatutários.
No julgamento do RE 630.790, com repercussão geral reconhecida (Tema 336), o
Tribunal entendeu que a filantropia exercida com base em preceitos religiosos não
desvirtua a natureza assistencial das entidades, para fins de direito à imunidade
prevista no art. 150, inciso VI, alínea “c”, da CF.
Na avaliação do Relator, Ministro Luis Roberto Barroso, a imunidade não deve ser restrita
ao patrimônio, à renda ou aos serviços decorrentes: ela abrange, também, eventuais
propósitos paralelos, desde que os valores obtidos sejam revertidos à consecução dos seus
objetivos sociais.
Esse entendimento foi reafirmado também no julgamento do RE 611.510 (Tema 328), em
que se definiu que a imunidade em questão abrange o Imposto sobre Operações
Financeiras (IOF) incidente sobre as operações financeiras de partidos políticos e suas
fundações, de entidades sindicais dos trabalhadores e de instituições de educação e de
assistência social sem fins lucrativos “O alcance da imunidade é determinado pela
destinação dos recursos auferidos pela entidade, e não pela origem ou natureza da rend”a,
explicou Barroso.
A tese de repercussão geral fixada foi a seguinte: “As entidades religiosas podem se
caracterizar como instituições de assistência social a fim de se beneficiarem da imunidade
tributária prevista no art. 150, VI, c, da Constituição, que abrangerá não só os impostos
sobre seu patrimônio, renda e serviços, mas também os impostos sobre a importação de
bens a serem utilizados na consecução de seus objetivos estatutários”.
Cuidando-se de fundação, o registro pressupõe a prévia aprovação do estatuto
pelo Ministério Público, por meio da Curadoria ou Provedoria de Fundações,
exceto em se tratando de fundação previdenciária, caso em que a aprovação
caberá ao órgão regulador e fiscalizador.
Esse órgão regulador e fiscalizador é mencionado no art. 72, da Lei
Complementar nº 109/2001.
É vedado o registro de quaisquer atos relativos às sociedades simples;
associações; organizações religiosas; fundações de direito privado; partidos
políticos e seus diretórios; e, sindicatos, se os atos constitutivos não estiverem
registrados no mesmo Serviço. (Princípio da continuidade)
A sociedade de advogados e a sociedade individual de advocacia são
registradas perante a OAB.
18. Entidades sindicais
As entidades sindicais (Sindicatos, Federações e Confederações) adquirem
personalidade jurídica através do registro de seus atos constitutivos perante o
RCPJ do local da sede. Não obstante, devem também registrar-se junto ao
Ministério do Trabalho e Previdência (Portaria MTP nº 671, de 08 de novembro
de 2021 – arts. 232 a 308). Caso de duplo registro.
Antes da CF/1988, os Sindicatos eram somente registrados perante o Ministério
do Trabalho, adquirindo personalidade jurídica com a concessão da CARTA
SINDICAL, que já não mais existe.
Não cabe ao registrador verificar questões relacionadas à unicidade sindical
(somente pode existir um único sindicato, de categoria profissional
(trabalhadores) ou econômica (empregadores) na mesma base territorial) e à
base territorial (área de atuação do sindicato, a qual não pode ser inferior à
área de um Município, sendo delimitada pelo próprio sindicato, em seu
estatuto. Antes, quem delimitava a base territorial era o Ministério do
Trabalho). Esta matéria está tratada no art. 8º, da CF/1988.
O Enunciado nº 38 da I Jornada de Direito Notarial e
Registral do Conselho da Justiça Federal é exatamente
neste sentido. Senão, vejamos:
“Enunciado 38. Não cabe ao registador, quando da
qualificação dos atos constitutivos, verificar a unicidade
sindical e a base territorial de entidade sindicais”.
19. Procedimento de dúvida e pedido de providências no RCPJ
No âmbito do RCPJ o termo REGISTRO diz respeito à inscrição do
ATO CONSTITUTIVO (contrato social ou estatuto). Tudo o que for
feito depois dele é ato de AVERBAÇÃO. E isto tem importância,
aqui no Estado de São Paulo, especialmente no caso de
suscitação de dúvida, pois esta só é admitida no caso de
REGISTRO ESTRITO SENSO, ou seja, inscrição do ato constitutivo.
Nos demais Estados não é assim.
A dúvida é tratada nos arts. 198 e segs. da LRP e, apesar de ser
um procedimento administrativo previsto para o Registro de
Imóveis, se aplica às demais modalidades de registros públicos
por força da regra do art. 296 mesma lei.
A DÚVIDA a consiste numa dissensão entre o apresentante do documento e o
registrador acerca de exigências por este formulada com as quais aquele não
concorda. Ela é processada perante o Juiz Corregedor Permanente, que, ao
dirimir o caso, dará uma SENTENÇA, normalmente, de procedência ou
improcedência. Sendo procedente, caberá recurso de APELAÇÃO, no prazo de
15 dias, recebido nos efeitos suspensivo e devolutivo, julgado pelo CONSELHO
SUPERIOR DA MAGISTRATURA. Desse procedimento participa,
necessariamente, o MP. O recurso de APELAÇÃO pode ser interposto pelo
apresentante (interessado juridicamente), pelo terceiro prejudicado e pelo MP.
O registrador, por não ser parte, não pode recorrer da decisão. Tem-se
admitido a intervenção, no procedimento de dúvida, do notário, quando ele
lavra o documento a ser registrado, apenas, como “amicus curiae”, sem poder
recorrer.
Na dúvida, além do recurso de apelação, cabem, também, embargos
declaratórios.
O processo de suscitação de dúvida tem natureza tipicamente administrativa e, por
isso mesmo, não se enquadra no conceito de causa a que alude o artigo 105, III, “a” e
“c” da Constituição Federal, razão pela qual o recurso especial não pode ser
conhecido (STJ, Rec. Esp. 13.637-MG, rel. Min. Atos Carneiro, apud Theotonio
Negrão, Código de Processo Civil e legislação processual em vigor, 30ª edição, pág.
1.667). Como assentado pela 2ª Seção do Colendo Superior Tribunal de Justiça, por
ocasião do julgamento do REsp. 1570.655.-GO, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, j.
23.11.2016, o procedimento de dúvida registral, previsto no artigo 198 e seguintes da
Lei de Registros Públicos, tem, por força de expressa previsão legal (LRP, artigo 204),
natureza administrativa e não se qualifica como prestação jurisdicional stricto sensu.
Daí descaber o acesso à via do recurso especial contra decisão proferida em
procedimento administrativo, ainda que evidenciada a existência de litigiosidade ou
emanada a decisão de órgão do Poder Judiciário, em função atípica.
Também não cabe Recurso Extraordinário em face de processo de dúvida.
A decisão, do processo de dúvida, não faz coisa julgada material, de forma que o caso
poderá ser rediscutido na esfera jurisdicional competente.
Para os casos de averbação, a dissenção também é processada perante o Juiz
Corregedor Permanente, que se pronunciará, em PEDIDO DE PROVIDÊNCIAS,
por meio de uma DECISÃO ADMINISTRATIVA, da qual caberá RECURSO
ADMINISTRATIVO, endereçado à CORREGEDORIA GERAL DA JUSTIÇA. O MP
também participa desse procedimento.
De acordo com o item 20.2 do Capítulo XVIII das NSCGJSP, “Aplicam-se ao
Registro Civil de Pessoas Jurídicas as normas previstas no Capítulo XX
relativamente aos procedimentos de processamento da dúvida registral e do
procedimento administrativo registral”.
Por isso, a jurisprudência administrativa é composta por decisões do JCP, do
CSM e da CGJ.
No Estado de São Paulo, em matéria administrativa, os serviços notariais e de
registro regem-se pela Lei de Organização Judiciária (Código Judiciário – DL
Complementar nº 3/1969, pelas Resoluções 1 e 2 do TJSP e pelas NSCGJSP.
Tem sido admitida, embora não prevista na LRP, a chamada dúvida inversa, ou dúvida
reversa ou dúvida às avessas.
Os atos constitutivos de pessoas jurídicas e suas alterações não poderão ser registrados
quando o seu objeto ou circunstâncias relevantes indiquem destino ou atividades ilícitos
ou contrários, nocivos ou perigosos ao bem público, à segurança do Estado e da
coletividade ou à ordem pública ou social. Trata-se de uma repetição, nas NSCGJSP, da
regra do art. 115 da LRP, que possibilitada que o oficial registrador suscite dúvida “ex
officio” (exceção à regra geral de que a dúvida é suscitada pelo registrador, a
requerimento do interessado).
Ocorrendo quaisquer desses motivos, o oficial do registro, de ofício ou por provocação de
qualquer autoridade, sobrestará o processo de registro, prenotará o título e suscitará
dúvida para o Juiz Corregedor Permanente, que a decidirá.
Na hipótese de dúvida, o oficial anotará no Livro de Protocolo sua ocorrência, ficando
sobrestado o cancelamento da prenotação até decisão final do Juízo competente.
Neste caso, a prenotação se prorroga até a decisão final do procedimento de dúvida.
Certificado o cumprimento do disposto neste item, remeter-se-ão ao juízo competente, mediante
carga, as razões da dúvida, acompanhadas do título, daí decorrendo a sentença judicial pela
procedência ou improcedência da dúvida. Em algumas situações, a dúvida é julgada prejudicada. Ex:
quando o interessado concorda com uma ou algumas das exigências formuladas pelo registrador.
No curso do processo de dúvida, as irregularidades apontadas não poderão ser sanadas, sob pena de
uma injustificada prorrogação da prenotação, em detrimento de eventuais terceiros interessados.
A suscitação de dúvida pelo registrador, a requerimento do interessado, é OBRIGATÓRIA, sendo que,
em caso de descumprimento, estará o registrador sujeito às penas da Lei nº 8.935/1994 (§ 2º, do art.
198 da LRP, com a nova redação que lhe deu a MP 1.085):
“Art. 198.................
§ 2º. A inobservância ao disposto neste artigo ensejará a aplicação das penas previstas no art. 32 da
Lei nº 8.935, de 1994, nos termos estabelecidos pela Corregedoria Nacional de Justiça do Conselho
Nacional de Justiça”.
O inconformismo decorrente de dissenção entre o registrador e o apresentante do título acerca de
exigência por aquele formulada, com a qual este não concorda não pode ser enfrentado por meio de
mandado de segurança, mas, sim, pelo procedimento de dúvida. Vide, neste sentido:
“Mandado de Segurança contra ato de Oficial de Registro de imóveis que indeferiu
pedido de averbação da construção de apartamento. Impossibilidade. Via eleita
inadequada. Questão que poderia ser solucionada na via administrativa. Entendimento
de que o Oficial do Cartório não é autoridade para efeito de Mandado de Segurança.
Sentença mantida. Recurso improvido (TJSP - Apelação n° 994.01.042790-8, j.
8/11/2010, Rel. José Joaquim dos Santos).
21. Não havendo impedimento ou sendo a dúvida julgada improcedente, o oficial
efetivará o registro de constituição da pessoa jurídica, obedecidas as seguintes
indicações:
a) a natureza jurídica da pessoa jurídica, dentre aquelas expressamente previstas em lei;
b) a denominação ou firma;
c) os fins ou objeto social;
d) a sede;
e) o tempo de sua duração, presumindo-se, na falta de menção expressa, cuidar-se de
prazo indeterminado;
f) o fundo social, se houver;
g) o nome e números do CPF ou CNPJ dos fundadores ou instituidores e das
pessoas que ocupem cargos previstos no ato constitutivo da pessoa jurídica;
h) o modo de administração da pessoa jurídica;
i) o modo de representação da pessoa jurídica, ativa e passivamente, judicial
e extrajudicialmente;
j) se o ato constitutivo é reformável no tocante à administração, e de que
modo;
k) se os membros respondem, ou não, subsidiariamente pelas obrigações
sociais;
l) as condições de extinção da pessoa jurídica e o respectivo destino do seu
patrimônio.
Como regra geral, a dúvida é suscitada pelo registrador, a requerimento do
interessado. Exceção: art. 115 da LRP = dúvida suscitada de ofício pelo
registrador.
20. Nome empresarial
NOME EMPRESARIAL é gênero do qual são espécies a denominação social e a razão social, às
quais se aplicam dois princípios: veracidade e novidade.
Ademais, está proibido, no âmbito do RCPJ, o registro de pessoas jurídicas com nome
empresarial (denominação social e razão social) ou denominação (de sociedade simples pura,
associação, organização religiosa, partido político e fundação) idêntico ou semelhante.
Atualmente, o inciso V, do art. 35 da Lei nº 8.934/1994 admite o arquivamento, na Junta
Comercial, de EMPRESÁRIO, gênero do qual são espécies o empresário individual, que não
adquire personalidade jurídica, e a sociedade empresária com nome SEMELHANTE. A rigor,
por força da regra do art. 1.150 do Código Civil, no tocante às sociedades, seria possível o
registro das que tivessem nome semelhante, desde que não causasse confusão ou prejuízo.
Atualmente, não é mais obrigatório levar-se a entender, na denominação social, o objeto
social (faculdade), não mais prevalecendo o disposto no § 2º do art. 1.158 do Código Civil. Isto
se aplica a todos os tipos societários que adotam denominação social. Vide inciso III, do art.
35, da Lei nº 8.934 e as novas redações dos artigos 1.160 e 1.161 do Código Civil, pela MP
1.085/2021 (Lei nº 14. 382/2021).
A matéria NOME EMPRESARIAL é tratada, no Código Civil, em seus arts. 1.155 e
segs. De acordo com o parágrafo único do art. 1.155, equipara-se ao nome
empresarial, para os efeitos da proteção da lei, a denominação das sociedades
simples (PURA), associações e fundações. Porém, o legislador não disse como se
forma a denominação da sociedade simples pura, das associações e das
fundações.
O uso de FIRMA (RAZÃO) SOCIAL é obrigatório quando, na sociedade, existirem
sócios de responsabilidade ilimitada (Ex: sociedade em nome coletivo e em
comandita simples). Exceção: sociedade limitada, que pode adotar tanto
DENOMINAÇÃO SOCIAL como FIRMA (RAZÃO) SOCIAL.
De acordo com o item 3.2. do Capítulo XVIII das NSCGJSP, “O registro de
constituição de nova pessoa jurídica ou a averbação de alteração da
denominação de pessoa jurídica já registrada dependerá de prévia busca em
todos os Oficiais de Registro da Comarca, para constatação da inexistência de
prévia utilização da denominação ou firma pretendida.
Já pelo item 3. do mesmo Capítulo XVIII, “É vedado, na mesma
Comarca, o registro de pessoas jurídicas com nome empresarial
(denominação social ou razão social) ou denominação idêntica ou
semelhante a outra já existente, que possa ocasionar dúvida aos
usuários do serviço”.
Essa regra afronta o disposto no art. 1.166 do Código Civil, que
estabelece que “A inscrição do empresário, ou dos atos
constitutivos das pessoas jurídicas, ou as respectivas averbações, no
registro próprio, asseguram o uso exclusivo do nome nos limites do
respectivo Estado”.
Da forma como colocada, será possível a existência de pessoa
jurídica com nome igual ou semelhante em diversas Comarcas do
Estado. Com a implantação e funcionamento do SERP essa situação
poderá ser corrigida.
Ainda, pelo item 3.3. do Capítulo XVIII, “A busca deverá ser respondida no prazo de 2 (dois)
dias passando o requerente a ter prioridade para utilização da denominação ou firma que
não estiver previamente em uso, desde que protocole o pedido de registro ou averbação
no prazo máximo de 30 (trinta) dias contados do pedido de busca”.
Aqui um equívoco: a prioridade para utilização da denominação ou firma não pode
decorrer da busca feita, mas, sim, do apontamento do ato constitutivo/alteração de nome
no Livro Protocolo, pois, só a partir dele e, especialmente do registro, é que se tem
garantida a proteção do uso do nome empresarial. Vide art. 33, da Lei nº 8.934/1994, que
assim dispõe:
“Art. 33. A proteção ao nome empresarial decorre automaticamente do arquivamento dos
atos constitutivos de firma individual e de sociedades, ou de suas alterações”. Tal
arquivamento (registro) é feito perante o órgão de registro público competente.
Atualmente é possível o uso do número do CNPJ como nome empresarial (art. 35-A, da Lei
nº 8.934/1994).
21. Registro de Partido Político e seus Diretórios
De acordo com o item 1, do Capítulo XVIII, das NSCGJSP, “É atribuição dos
Oficiais do Registro Civil das Pessoas Jurídicas: a) registrar os atos constitutivos,
contratos sociais e estatutos das sociedades simples; das associações, incluídos
os sindicatos; DOS PARTIDOS POLÍTICOS E SEUS DIRETÓRIOS; das organizações
religiosas; das fundações de direito privado; das empresas individuais de
responsabilidade limitada, de natureza simples”. Estas últimas, como sabido, por
força da MP nº 1.085/2021, convertida na Lei nº 14.382/2022, deixaram de
figurar no rol das pessoas jurídicas de direito privado.
A ação do partido político tem caráter nacional e é exercida de acordo com seu
estatuto e programa, sem subordinação a entidades ou governos estrangeiros.
O Partido Político adquire personalidade jurídica na forma da lei civil, com o
registro de seu estatuto perante o RCPJ do local de sua sede (e não mais,
necessariamente, perante o RCPJ do DF), sendo que após a aquisição da
personalidade jurídica o mesmo estatuto deverá ser também registrado
junto ao Tribunal Superior Eleitoral (arts. 7º e 8º da Lei nº 9.096/1995).
Hipótese de duplo registro.
Observe-se que a Lei nº 14.382/2022 deu nova redação ao art. 116 da LRP,
para dele eliminar a referência que se fazia ao número de folhas que
deveriam conter os livros de registros do RCPJ (Livro A, 300 fls. e Livro B,
150 fls.). Perdeu o legislador, entretanto, a oportunidade de atualizar a
redação do aludido art. 116, para nele também mencionar o inciso III, do
art. 114 da LRP, que trata, justamente, dos partidos políticos.
A referência aos Diretórios estaduais e municipais dos Partidos Políticos foi introduzida, nas
NSCGJSP, pelo Provimento CGJ/SP nº 05/2021, que nelas são tratados como se filiais
fossem da entidade nacional (vide item 27.1, do Capítulo XVIII, das NSCGJSP). Ao fazê-lo,
citado Provimento considerou a redação do § 2º, do art. 10, da Lei nº 9.096/1995 (Lei dos
Partidos Políticos), dada pela Lei nº 13.877/2019. Ocorre, entretanto, que referido
parágrafo recebeu, em 2020, nova redação, dada pela Lei nº 14.063. Ademais, segundo o §
6º, do art. 5º, desta, “As certidões emitidas por sistema eletrônico da Justiça Eleitoral
possuem fé pública e, nos casos dos órgãos partidários, substituem os cartórios de registro
de pessoas jurídicas para constituição dos órgãos partidários estaduais e municipais,
dispensados quaisquer registros em cartórios da circunscrição do respectivo órgão
partidário”. Portanto, para fins da Lei nº 9.095/1995, os Diretórios são meros órgãos
partidários. Além disso, a mesma Lei nº 14.063, deu nova redação ao § 2º, do art. 10 e ao §
6º do art. 32, ambos da Lei nº 9.096/1995, de modo que, atualmente, os Diretórios de
Partidos Políticos só precisam ser legalizados perante o TSE. Destarte, os itens das NSCGJSP
que tratam do registro de Diretórios dos Partidos Políticos devem ser considerados
ineficazes, pois contrariam disposição legal (lei em sentido formal), no sentido que, aos
Diretórios estaduais e municipais de Partidos Políticos, basta sua inscrição perante o TSE.
22. Exclusão de sócios
Existem algumas situações, previstas no Código Civil, que ensejam a exclusão (expulsão)
de sócio de sociedade: 1) sócio declarado falido ou aquele cuja quota tenha sido
liquidada nos termos do parágrafo único do art. 1.026 (parágrafo único do art. 1.030); 2)
sócio remisso (o que não integralizou o capital social na forma e no prazo previsto no
contrato social – art. 1.058); e, 3) por incapacidade superveniente (art. 1.030).
Mas, a exclusão que queremos aqui ressaltar é aquela provocada em razão da prática de
uma justa causa, prevista no art. 1.030, relativamente a sócio de sociedade de pessoas,
exceto a limitada, a qual somente pode ser processada judicialmente, e no art. 1.085,
relativamente a sócio de sociedade limitada, que pode ser processada judicial ou
extrajudicialmente, desde que, no último caso, haja expressa previsão contratual
permissiva neste sentido, podendo o contrato social, exemplificativamente, elencar
situações consideradas como justa causa.
Não nos parece que a simples indicação de quebra da “affecio societatis” seja uma justa
causa em si, mas, sim, uma consequência decorrente da prática de ato considerado
como “justa causa”.
23.Registro e autenticação de livros, contábeis ou não
As NSCGJSP indicam, como competência do RCPJ, dentre outras, registrar e
autenticar livros das pessoas jurídicas registradas, exigindo a apresentação do livro
anterior, observando-se sua rigorosa sequência numérica, com a comprovação de,
no mínimo, 50% (cinquenta por cento) da utilização de suas páginas, bem como
uma cópia reprográfica do termo de encerramento para arquivo no Serviço.
Serão submetidos à autenticação do RCPJ os termos de abertura e de
encerramento de qualquer instrumento de escrituração que o interessado julgue
conveniente adotar, segundo a natureza e o volume de seus negócios, inclusive,
livros não obrigatórios.
Os Oficiais do Registro Civil das Pessoas Jurídicas podem registrar e autenticar os
livros contábeis, obrigatórios e facultativos, em papel ou em formato eletrônico,
das pessoas jurídicas cujos atos constitutivos nele estejam registrados, ou as fichas
que os substituírem, bem como livros não contábeis (Ex: Livro de atas de órgãos de
sociedades, associações, etc...).
Quando os instrumentos de escrituração mercantil forem conjuntos
de fichas ou folhas soltas, formulários impressos ou livros
escriturados por processamento eletrônico de dados poderão ser
apresentados para registro ou autenticação encadernados,
emblocados ou enfeixados.
A autenticação de novo livro será feita mediante a exibição do livro
anterior a ser encerrado.
Faculta-se o uso de chancela para a rubrica dos livros, devendo
constar do termo o nome do funcionário ao qual for atribuído esse
encargo.
Não há necessidade de requerimento escrito solicitando registro ou
a autenticação de livros, bastando a indicação, pelo interessado, do
ato registral pretendido.
O registro de livros será feito por meio da digitalização integral de seu conteúdo,
averbando-se ao registro de constituição da respectiva pessoa jurídica.
No caso de livro eletrônico apresentado para registro, constarão do arquivo de registro
do tipo PDF-A, que será entregue ao requerente e arquivado na serventia, a folha de
certificação e as imagens das páginas do livro registrado, devidamente chanceladas
eletronicamente, além do arquivo apresentado pelo requerente, como anexo, sem
qualquer alteração, carimbo, chancela ou rubrica.
No caso de livro em papel apresentado para registro, além do arquivo de registro do
tipo PDF-A que ficará arquivado na serventia, será entregue ao requerente uma
certificação do registro feita em folha avulsa, contendo a indicação do número total de
folhas do livro registrado, nas quais deverão ser inseridas, a caneta, por impressão, por
carimbo ou por chancela mecânica, as rubricas do registrador ou de seu preposto e a
identificação da serventia.
A autenticação será efetuada por meio da digitalização do termo de abertura e, se o
livro já tiver sido encerrado, do termo de encerramento, averbando-se ao registro de
constituição da respectiva pessoa jurídica.
No caso de livro eletrônico apresentado para autenticação, constará do arquivo
de registro do tipo PDF-A, que será entregue ao requerente e arquivado na
serventia, apenas a folha de certificação com a indicação do hash do livro
autenticado, a imagem do respectivo termo de abertura e, se o livro já tiver sido
encerrado, a imagem do termo de encerramento, devidamente chanceladas
eletronicamente.
No caso de livro em papel apresentado para autenticação, além do arquivo de
registro do tipo PDF-A que ficará arquivado na serventia, será entregue ao
requerente uma certificação da autenticação feita em folha avulsa, contendo a
indicação do número total de folhas do livro registrado, nas quais deverão ser
inseridas, a caneta, por impressão, por carimbo ou por chancela mecânica, as
rubricas do registrador ou de seu preposto e a identificação da serventia.
Se adotado o sistema de fichas, poder-se-á escriturar englobadamente ambos os
livros, abrindo-se uma ficha para cada sociedade, nela fazendo constar o registro
e as autenticações subsequentes.
As custas e emolumentos correspondentes serão cobrados na mesma proporção dos
valores previstos para a autenticação de livros comerciais pelos Distribuidores.
Não obstante, a autenticação da Escrituração Contábil Digital - ECD, por meio do Sistema
Público de Escrituração Digital - SPED, desobriga qualquer outra autenticação, nos termos
do § 2º do art. 78-A do Decreto nº 1.800, de 30 de janeiro de 1996.
Observe-se que, de acordo com o art. 1.150 do Código Civil, quando a sociedade simples
adota tipo empresário (limitada, em nome coletivo e em comandita simples), o registrador
do RCPJ deve ater-se às regras do Registro Público de Empresas Mercantis, a cargo das
Juntas Comerciais. Tais regras são, exatamente, a Lei nº 8.934/1994 e o seu Decreto
regulamentador – Decreto nº 1.800/1996.
Observe-se que as Juntas Comerciais estão, tecnicamente, vinculadas ao DREI –
Departamento de Registro Empresarial e Integração, antigo DNRC – Departamento
Nacional de Registro do Comércio, o qual edita Instruções Normativas de observância
obrigatória, apenas, para as Juntas Comerciais. No entanto, muitas dessas Instruções
Normativas caem como uma luva para o registrador do RCPJ, no mínimo como parâmetro
procedimental. Vide, por exemplo, as IN DREI nº 81, 82 e 112.
24. Participação do incapaz (menor, por exemplo) em sociedade
É possível a participação de incapaz (menor, por exemplo) em sociedade, na
condição de sócio, desde que o capital social esteja totalmente integralizado, o
incapaz não exerça a administração da sociedade e seja ele assistido ou
representado - § 3º do art. 974 do Código Civil.
O menor, como regra geral, não pode ser empresário individual, mas nada
impede que ele seja sócio de sociedade, independentemente, inclusive, de
autorização judicial.
O fato de uma pessoa natural ser sócia de sociedade não significa que ela
passe a ostentar a condição de empresária. Empresária é a sociedade. A pessoa
natural, neste caso, deve ser considerada, simplesmente, como sócia.
25. Indisponibilidade de bens (cotas de sociedade simples)
A ordem de indisponibilidade que alcance cotas sociais específicas e individualizadas
integrantes de capital social de sociedades simples deve ser comunicada pela autoridade
que a expediu diretamente aos Oficiais de Registro Civil das Pessoas Jurídicas
competentes para averbação, por via eletrônica.
A comunicação de levantamento de indisponibilidade cadastrada será efetuada na Central
Nacional de Indisponibilidade de Bens – CNIB pela autoridade competente, sem prejuízo
de comunicação, pela referida autoridade, diretamente ao Oficial de Registro Civil das
Pessoas Jurídicas em que promovida averbação da indisponibilidade de cotas sociais
específicas, a fim de que proceda ao seu cancelamento.
A consulta ao Banco de dados da Central Nacional de Indisponibilidade de Bens – CNIB
será obrigatória, no Estado de São Paulo, para os Oficiais de Registro Civil das Pessoas
Jurídicas sujeitos então ao poder correcional da Corregedoria Geral da Justiça do Estado
de São Paulo, no desempenho regular de suas atividades e para prática dos atos de ofício,
nos termos da Lei e das normas específicas.
Os Oficiais de Registro Civil das Pessoas Jurídicas verificarão, obrigatoriamente,
pelo menos na abertura e uma hora antes do encerramento do expediente, se
há comunicação de indisponibilidade de bens para impressão ou importação
(XML) para seu arquivo, visando ao respectivo procedimento registral.
Ficam dispensadas da verificação continuativa prevista no item anterior as
serventias que adotarem solução de comunicação com a Central Nacional de
Indisponibilidade de Bens – CNIB via WebService configurada para consulta em
menor tempo, desde que atendidas as normas técnicas e de segurança
utilizadas para integração de sistemas.
O acesso para inclusão de ordens de indisponibilidade, de comunicações de
seus cancelamentos e de consultas circunstanciadas deve ser feito
exclusivamente com utilização de Certificado Digital ICP-Brasil nos padrões
exigidos em lei e atos normativos e depende de prévio cadastramento do
respectivo órgão.
Os Oficiais de Registro Civil das Pessoas Jurídicas, antes da prática de qualquer
ato registral que tenha por objeto cotas sociais de sociedades simples, devem
promover prévia consulta à base de dados da Central Nacional de
Indisponibilidade de Bens – CNIB.
Os Oficiais de Registro Civil das Pessoas Jurídicas devem manter, em relação a
todas as indisponibilidades, registros em fichas, ou em base de dados
informatizada off-line, ou mediante solução de comunicação com a CNIB via
WebService, que serão destinados ao controle de indisponibilidades e às
consultas simultâneas com a pesquisa sobre a tramitação de títulos
representativos de direitos contraditórios.
Constatada a existência de cotas sociais no nome cadastrado, a
indisponibilidade será prenotada e averbada em livro próprio (Livro A), no
assentamento mantido pelo Oficial de Registro Civil de Pessoas Jurídicas. Caso
não figure do registro o número do CPF ou o do CNPJ, a averbação da
indisponibilidade somente será realizada se não houver risco de se tratar de
pessoa homônima.
Em caso de aquisição de cotas participação de capital social de sociedades
simples por pessoa cujos bens foram atingidos por ordem de
indisponibilidade, deverá o Oficial de Registro Civil das Pessoas Jurídicas,
logo após o lançamento do registro do título em livro próprio (Livro A),
promover a averbação da indisponibilidade, independentemente de prévia
consulta ao adquirente.
Imediatamente depois do lançamento da averbação da indisponibilidade, o
Oficial de Registro Civil das Pessoas Jurídicas fará o devido cadastramento,
em campo próprio da Central Nacional de Indisponibilidade de Bens – CNIB,
que contemplará espaço para essa informação.
As indisponibilidades averbadas nos termos das NSCGJSP e as decorrentes
do § 1.º, do art. 53, da Lei n.º 8.212, de 24 de julho de 1991, não impedem a
inscrição de constrições, onerações e alienações judiciais de cotas sociais
referentes a capitais sociais de sociedades simples.
Aplicam-se subsidiariamente à Seção das NSCGJSP que trata da indisponibilidade
de cotas de sociedade simples as disposições do Provimento n.º 39, de 25 de
julho de 2014, da Corregedoria Nacional de Justiça.

26. Associações privadas, públicas e empresárias


As associações privadas estão conceituadas no art. 53 do Código Civil. Em suma,
são elas pessoas jurídicas de direito privado que exercem atividade não
econômica. Tal conceito, no entanto, não é dos melhores, pois nada impede que
uma associação exerça atividade econômica e, no mais da vezes, ela o faz como
MEIO para alcançar a ATIVIDADE-FIM para a qual foi constituída e que a define
como ASSOCIAÇÃO. A melhor forma de definir a associação privada é que ela é
uma pessoa jurídica de direito privado sem fins lucrativos.
Existem ASSOCIAÇÕES PÚBLICAS – inciso IV, do art. 41 do Código Civil (consórcio público,
previsto na Lei nº11.107/2005, que dispõe sobre normas gerais de contratação pela União,
Estados, Municípios e DF de consórcios públicos e dá outras providências visando a
realização de objetivos de interesse comum e dá outras providências).
No dia 18/05/2022 foi editada a Lei nº 14.341, publicada no DOU do dia 19/05/2022, a
qual dispõe sobre a Associação de Representação de Municípios. O art. 5º da mesma trata
dos requisitos que o estatuto dessa modalidade de associação deve conter, sob pena de
nulidade.
Os clubes de futebol, que, normalmente, são constituídos sob a forma de associação
privada, caso se registrem na Junta Comercial, passarão a ser considerados como
ASSOCIAÇÃO EMPRESÁRIA (novidade prevista no parágrafo único do art. 971 do Código
Civil, incluído pela Lei nº 14.193/2021 (Lei da SAF – Sociedade Anônima do Futebol). A
propósito, os clubes de futebol, mesmo sendo associações e independentemente de se
transformarem em SAF, têm conseguido, por exercerem atividade econômica, pedir
recuperação judicial, em face do disposto nos arts. 13 e 25 da Lei nº 14.193/2021. Alguns já
vinham requerendo recuperação judicial antes mesmo da Lei da SAF. Já requereram
recuperação judicial o Figueirense e a Chapecoence.
De acordo com o Informativo do STJ nº 729, de 21 de março de 2022,
foi julgado, em 15 de março de 2022, o AgInt no TP 3.654-RS, Rel.
Min. Raul Araújo, Rel. Acd. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma,
cuja decisão foi majoritária. Ramo do Direito: DIREITO EMPRESARIAL,
RECUPERAÇÃO JUDICIAL. Tema: Recuperação Judicial. Associações
Civis sem fins lucrativos. Finalidade e atividades econômicas.
Legitimidade ativa. DESTAQUE: Associações civis sem fins lucrativos
com finalidade e atividades econômicas detêm legitimidade para
requerer recuperação judicial. No julgamento, argumentou-se que,
apesar de não se enquadrarem as associações no conceito de
sociedade empresária do art. 1º da Lei 11.101/205 (Lei de
Recuperação e Falência), elas não estão inseridas no rol dos agentes
econômicos excluídos da recuperação judicial (art. 2º).
27. Proteção do nome empresarial
Decorre do registro (arquivamento) do ato constitutivo
ou da alteração contratual onde haja a sua mudança
perante o órgão de registro público competente. Essa
proteção se dá, no mínimo, em âmbito estadual (art.
1.166 do Código Civil).
A proteção dada ao nome empresarial se estende à
denominação da sociedade simples pura, associação e
fundação.
28. Desconsideração da personalidade jurídica
A matéria vem tratada nos artigos 50 do Código Civil, 28 do CDC e 133 a 137 do CPC.
Assim dispõe o art. 50 do Código Civil:
Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de
finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do
Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, desconsiderá-la para que os
efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens
particulares de administradores ou de sócios da pessoa jurídica beneficiados direta ou
indiretamente pelo abuso. (Redação dada pela Lei nº 13.874, de 2019 – Lei da Liberdade
Econômica) (DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA)
§ 1º Para os fins do disposto neste artigo, desvio de finalidade é a utilização da pessoa
jurídica com o propósito de lesar credores e para a prática de atos ilícitos de qualquer
natureza. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
§ 2º Entende-se por confusão patrimonial a ausência de separação de fato entre os
patrimônios, caracterizada por: (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019 – Lei da Liberdade
Econômica)
I - cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio ou do administrador
ou vice-versa; (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019 – Lei da Liberdade Econômica)
II - transferência de ativos ou de passivos sem efetivas contraprestações, exceto os de
valor proporcionalmente insignificante; e (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019 – Lei da
Liberdade Econômica)
III - outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial. (Incluído pela Lei nº
13.874, de 2019 – Lei da Liberdade Econômica)
§ 3º O disposto no caput e nos §§ 1º e 2º deste artigo também se aplica à extensão das
obrigações de sócios ou de administradores à pessoa jurídica. (Incluído pela Lei nº
13.874, de 2019 – Lei da Liberdade Econômica). (DESCONSIDERAÇÃO INVERSA DA
PERSONALIDADE JURÍDICA)
§ 4º A mera existência de grupo econômico sem a presença dos requisitos de que trata
o caput deste artigo não autoriza a desconsideração da personalidade da pessoa
jurídica. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019 – Lei da Liberdade Econômica)
§ 5º Não constitui desvio de finalidade a mera expansão ou a alteração da finalidade
original da atividade econômica específica da pessoa jurídica. (Incluído pela Lei nº
13.874, de 2019 – Lei da Liberdade Econômica)
Algumas observações em relação aos fundos de investimentos:
Os fundos de investimento são tratados no Código Civil pelos arts. 1.368-C, 1.368-D,
1.368-E e 1.368-F, tendo sido introduzidos pela Lei da Liberdade Econômica. Segundo o
art. 1.368-C, o fundo de investimento é uma comunhão de recursos, constituído sob a
forma de condomínio de natureza especial, destinado à aplicação em ativos financeiros,
bens e direitos de qualquer natureza. Embora tenha inscrição no CNPJ, não é pessoa
jurídica, mas, mesmo não sendo PJ, poderá participar, na condição de quotista ou
acionista, de sociedade empresária; poderá ser transformado em sociedade anônima de
capital autorizado; poderá ser investidor-anjo nas startups; e, poderá ser sócio de
Sociedade Anônima do Futebol – SAF.
Podem os fundos de investimentos, mesmo não sendo pessoas jurídicas, ser titulares de
direito real perante o Registro de Imóveis (vide Processo 1008575-05.2022.8.26.0100 –
1ª. VRP/SP).
Recente julgado do STJ assim estabeleceu:
“As normas aplicáveis aos fundos de investimento dispõem expressamente que eles são
constituídos sob a forma de condomínio, mas nem todos os dispositivos legais que
disciplinam os condomínios são indistintamente aplicáveis aos fundos de investimento,
sujeitos a regramento específico ditado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Embora destituídos de personalidade jurídica, aos fundos de investimento são imputados
direitos e deveres, tanto em suas relações internas quanto externas, e, não obstante
exercerem suas atividades por intermédio de seu administrador/gestor, os fundos de
investimento podem ser titular, em nome próprio, de direitos e obrigações.
O fato de ser o Fundo de Investimento em participação (FIP) constituído sob a forma de
condomínio e de não possuir personalidade jurídica não é capaz de impedir, por si só, a
aplicação do instituto da desconsideração da personalidade jurídica em caso de
comprovado abuso de direito por desvio de finalidade ou confusão patrimonial.
O patrimônio gerido pelo Fundo de Investimento em Participações pertence, em
condomínio, a todos os investidores (cotistas), a impedir a responsabilização do fundo por
dívida de um único cotista, de modo que, em tese, não poderia a constrição judicial recair
sobre todo o patrimônio comum do fundo de investimento por dívidas de um só cotista,
ressalvada a penhora da sua cota-parte.
As cotas dos fundos de investimento podem ser objeto de penhora em processo
de execução por dívidas pessoais dos próprios cotistas, mas não podem ser
penhoradas por dívidas do fundo, tampouco de outros cotistas que não tenham
nenhuma relação com o verdadeiro devedor.
A impossibilidade de responsabilização do fundo por dívidas de um único cotista,
de obrigatória observância em circunstâncias normais, deve ceder diante da
comprovação inequívoca de que a própria constituição do fundo de investimento
se deu de forma fraudulenta, como forma de encobrir ilegalidades e ocultar o
patrimônio de empresas pertencentes a um mesmo grupo econômico.
Comprovado o abuso de direito, caracterizado pelo desvio de finalidade (ato
intencional dos sócios com intuito de fraudar terceiros), e/ou confusão
patrimonial, é possível desconsiderar a personalidade jurídica de uma empresa
para atingir o patrimônio de outras pertencentes ao mesmo grupo econômico”.
Resp 1.965.982
Informativo STJ nº 733, de 25.4.2022

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