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Sonia Regina de Mendonça - A Industrialização Brasileira-Moderna
Sonia Regina de Mendonça - A Industrialização Brasileira-Moderna
de Mendonça
A
industrialização
brasileira
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Sumário
INTRODUÇÃO 6
1. A Era Colonial 8
É proibido instalar manufaturas 8
A indústria está a caminho 15
4. Desenvolvimentismo e internacionalização 62
A industrialização na gangorra 62
A civilização do automóvel 67
Quem são as classes produtoras? 74
Indústria moderna, país dependente 76
5. Um modelo perverso 80
Os anos críticos 80
Depois da tempestade, vem o "milagre" 84
As classes trabalhadoras "pagam o pato" 94
O "milagre" se desfez " 97
6. Desnacionalização e desindustrialização 10S
Neoliberalismo e globalização avançam lOS
A desindustrialização brasileira............................................... 110
Desnacionalizando a economia....... .. 114
Desemprego e pobreza no Brasil do Real 119
GLOSSÁRIO 129
CRONOLOGIA 132
BIBLIOGRAFIA 135
5
POLÊMICA
Introdução
6
poderemos compreender alguns dos motivos de um presente tão difícil
como o nosso.
É a história dessa industrialização - as suas origens, fases e carac-
terísticas - que este livro conta. Mas não se tem aqui uma daquelas
histórias cheias de heróis e datas importantes. O que vamos descrever é
um longo processo, em que a ação dos grupos sociais - com as suas dis-
putas, as suas lutas e os seus acordos - foi determinante para definir os
passos dessa indústria, que só deslanchou em pleno século XX, com mais
de cem anos de atraso em relação à Europa e aos Estados Unidos.
Para se chegar até esse ponto, no entanto, é preciso "passear" pelo
túnel do tempo, passando pelo século XIX, quando no Brasil ainda havia
escravidão e monarquia, e recuando até o século XVI, quando começou
a exploração colonial.
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1. A Era Colonial
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A INDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA
por ser ela também uma mercadoria comercializável-, deveriam ser ca-
nalizados para a produção extensiva, da qual a chamada agroindústria açuca-
reira nordestina dos séculos XVI e XVII foi o principal exemplo.
Logo, todos os grandes senhores de engenho da colônia subme-
tiam-se ao monopólio exercido por Portugal, tal como acontecia com
os demais colonos ligados a outras atividades. O açúcar produzido só
podia ser vendido a comerciantes portugueses - ou outros autorizados
pela Coroa - pelo preço que lhes era imposto.
O outro lado do pacto colonial consistia no igual exclusivismo dos
negociantes lusitanos em venderem à colônia tudo aquilo de que os seus
habitantes necessitassem. E, conseqüentemente, esse "tudo" consistia em
artigos manufaturados que Portugal, sem condições de produzir, adqui-
ria de fornecedores europeus.
Assim, como colônia de exploração, o Brasil representava para a
Coroa portuguesa uma dupla fonte de lucros: os que ganhava, ao reven-
der na Europa toda a produção aqui comprada a baixos preços; e os que
obtinha, com a venda aos colonos, a preços altos, dos manufaturados
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POL~MICA
utilizados no seu dia-a-dia - ainda que para isso contasse com alguns
aliados, como os holandeses, que, entre os séculos XVI e XVII, em troca
do fornecimento de recursos a Portugal, tinham autorização para trans-
portar e redistribuir o açúcar no continente europeu.
Até que ocorresse a junção das duas Coroas - Portugal e Espanha
-, ante os problemas dinásticos sucessórios durante a chamada União
Ibérica (1580-1640), a Holanda foi a principal aliada de Portugal nessa
fase de consolidação da agroindústria açucare ira colonial. A partir desse
momento, no entanto, tal quadro seria revertido, já que a Holanda, em
luta com a Espanha, seria proibida de comercializar o açúcar brasileiro,
ao que reagiu de forma radical: as invasões holandesas do Nordeste
(Bahia e Pernambuco) foram o seu corolário. Entre 1624 e 1654, os
pólos açucareiros da Colônia Brasil viveriam sob domínio flamengo.
Descontentes com a cobrança dos empréstimos que lhes tinham sido
feitos pelos invasores - que, além do mais, não eram católicos -,
os senhores de engenho dariam início à luta contra o jugo holandês, con-
tando para tal com os demais habitantes da região, integrando assim
a Insurreição Pernambucana. Por volta de 1650, os flamengos estavam
derrotados e, com o fim da União Ibérica, em 1640, o monopólio portu-
guês restabeleceu-se na colônia.
Esta, por sua vez, teria as suas atividades econômicas ampliadas,
entre os séculos XVII e XVIII, com a exploração das especiarias (drogas
do sertão) obtidas na Floresta Amazônica, a expansão pastoril no inte-
rior nordestino e a mineração nas Gerais.
Em virtude da sua extrema importância como fator de sustentação da
Coroa portuguesa, que saíra depauperada da União Ibérica, a atividade mi-
neradora provocaria uma forte centralização administrativa na colônia, am-
pliando-se os mecanismos de controle da atividade extrativa e, por exten-
são, da própria população colonial da região. E para que servia tanto ouro?
Parte expressiva desse ouro revertia para Portugal sob a forma de
impostos, servindo não apenas para o sustento da Corte, como também
para saldar as inúmeras dívidas que o Reino português contraíra ao lon-
go do tempo. Assim, o ouro brasileiro não ficava somente em Portugal,
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Janeiro. E o Brasil, por sua vez, também se veria numa ambígua condi-
ção: a de colônia e de sede da Monarquia, ao mesmo tempo. Esse novo
quadro marcaria o início do fim da situação colonial brasileira.
É em meio a todas essas mudanças que podemos situar os antece-
dentes da história da indústria brasileira, pois, nesse momento, como
sede da Monarquia, a Colônia Brasil precisava ter a sua condição forço-
samente redefinida. Por um lado, porque seria preciso responder às no-
vas necessidades que a Corte trouxera consigo. Por outro, porque a pre-
sença da Corte em solo brasileiro dificultava, e muito, a manutenção do
tradicional monopólio, que tinha sido, até o momento, a chave da domi-
nação econômica e política de Portugal. Afinal, a Coroa estava aqui!
Diante da nova realidade, o príncipe regente D. João revogaria as
proibições do regime colonial no tocante à indústria pelo Alvará de 1 de 2
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2. Construindo a grande indústria
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DOS RAMOS ALIMENTICIO "
E TEXTIL. AO MESMO TEMPO, A FORTE
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A I DUSTRIALlZAÇÃO BRASILEIRA
·As palavras assinaladas com asterisco ao longo do texto constam do Glossário, no final do livro.
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com a Abolição, tal quadro mudaria. Até lá, porém, essa coexistência atra-
palharia muito a afirmação do operariado como classe entre nós.
Esses primeiros operários originavam-se das camadas mais pobres
da população urbana, sendo muitos deles menores de idade, retirados
de asilos ou de casas de caridade diretamente para o regime das fábri-
cas. As condições de trabalho e de vida desses aprendizes não eram me-
lhores do que as de muitos escravos, formando um contingente signifi-
cativo de trabalhadores não-especializados. Adultos e crianças chegavam
a trabalhar até dezesseis horas por dia, sem folga semanal ou qualquer
outro direito.
Já os operários qualificados, necessários ao desenvolvimento indus-
trial, eram contratados quase sempre na Inglaterra e sofriam muitas di-
ficuldades de adaptação ao clima do país, além de saírem bem mais ca-
ros para os primeiros industriais, que eram obrigados a pagar-lhes salá-
rios maiores do que os que estavam acostumados a pagar.
A entrada em massa de imigrantes no Brasil, a partir de 1870-
1880, começou a alterar a composição do operariado brasileiro. Os
estrangeiros - italianos, portugueses, espanhóis - aos poucos se tor-
naram maioria nas fábricas do Rio de Janeiro e de São Paulo, situação
que se manteve mesmo após a Abolição. Somente nos centros indus-
triais menos dinâmicos, como aqueles situados na Bahia, em Pernam-
buco ou no Pará, predominou o emprego de mão-de-obra nacional na
indústria.
O crescimento da grande indústria, verificado na virada do século
XIX para o XX, pouco contribuiu para melhorar as condições de vida dos
operários. A superexploração do trabalho industrial não só se manteria,
como seria agravada, em função de um novo fato: a incorporação maciça
de mulheres e crianças no trabalho fabril. É bom lembrar que as crianças
recebiam salários ainda menores do que os trabalhadores adultos.
Outro fator que favorecia a superexploração do trabalhador industrial
era a ameaça do desemprego ou da diminuição temporária das frentes de
trabalho. Com a chegada de novos imigrantes às cidades, a oferta de mão-
de-obra aumentava, provocando demissões e desvalorização dos salários.
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Escola pertencente à Vila Operária Maria Zélío (São Paulo, início do século XX).
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A reação empresarial
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letra morta. Para eles, o fato de a chamada "questão social" estar deixando
de ser uma "questão de polícia" - como tinha sido tratada até então -
para tornar-se uma "questão de política" não era visto com simpatia, pois
isso significava uma intromissão do Estado nas suas relações com os traba-
1hadores. A resposta do empresariado a tais leis foi a sua total desobediên-
cia, sem que fosse ele cobrado por parte das autoridades competentes. Bas-
ta ver o que a elite industrial brasileira pensava, por exemplo, quanto à lei
que concedia quinze dias de férias anuais remuneradas aos trabalhadores:
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3. Entra em cena o Estado
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Nacionalismo e desenvolvimento
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QUADRO 1.
MUDANÇAS ESTRUTURAIS NA ECONOMIA BRASILEIRA
I Anos
I Agricultura
I Indústria
1920-1929
I 4,1
I 2,8
1933-1939
I 1,7
I 11,2
1939-1945
I 1,7
I 5,4
Para se ter uma idéia ainda mais concreta das transformações ocor-
ridas na estrutura industrial brasileira do período, basta citar que a subs-
tituição de importações nos setores básicos, isto é, na indústria pesada, já
fazia com que um ramo como o do cimento, por exemplo, atendesse,
em 1937, a quase 90% do consumo interno. Outros, como o do ferro-
gusa, abastecia o mercado nacional em 99% das suas necessidades, as-
sim como o do aço em lingotes e o dos laminados já preenchiam, res-
pectivamente, 75% e 14% do mesmo mercado.
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Visito do presidente Getúlio Vergas à fNM IDuque de Coxias, Rio de Janeiro, 30 abr. 19451.
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de 240 mil-reis e a dos patrões 160 mil-r éis. A palavra final certamen-
te coube ao presidente Getúlio Vargas.
É claro que existe um terceiro ponto a ser considerado nessa rela-
ção, mas trata-se de um fator político, e não econômico: a sindicaliza-
ção atrelada ao Estado, por força do papel controlador do sindicato, cri-
ava uma mão-de-obra mais "dócil", e menos "politizada", para o patro-
nato, facilitando em muito a sua exploração.
Diante disso tudo, não é difícil entender a importância da fixação
do salário mínimo para o crescimento industrial brasileiro, até porque,
uma vez criado, ele passou a servir de base para o cálculo de todos os
demais salários vigentes no país. Com isso, diminuía-se o nível geral de
todas as remunerações pagas por quaisquer empregadores de todos os
setores econômicos.
Em meio a esse quadro, e percebendo o objetivo pretendido pelo
Estado, a classe operária tentou reagir. Tal reação caracterizou-se pelo
esvaziamento dos sindicatos. Os trabalhadores buscavam fugir daquilo que
se transformara no maior instrumento do seu próprio controle. Para
conter essa tendência, que ameaçava tanto o projeto do Estado quanto a
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4. Desenvolvimentismo
e internacionalização
A industrialização na gangorra
N
1937 ~
o ano de 1945, a ditadura do Estado N ovo ~ que vigorava desde
chegou ao seu fim. Getúlio Vargas foi deposto, dando início ao
período conhecido como redemocratização do país: o Brasil voltaria a ter
eleições, bem como um Congresso funcionando normalmente.
Mas por que a ditadura acabara? Em primeiro lugar, porque a en-
trada do Brasil, ao lado dos Aliados, na 2' Guerra Mundial (1939-1945),
visando combater o autoritarismo nazista, tornava contraditório o fato
de o país continuar sob uma ditadura. Em segundo lugar, porque a soci-
edade brasileira, cansada do regime em vigor, aproveitou essa chance
para se organizar contra ele, indo às ruas, produzindo manifestos, che-
gando até mesmo às greves, tão temidas quanto reprimidas.
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JK presto contas dos dois primeiros anos de governo (Rio de Janeiro, 30 maio 19581.
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Aquecimento de chapos para prensar os chassis dos carros DKW-Vemog (São Paulo,
década de 19501
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POLÊMICA
que estava sendo vivido pela economia nacional. Ainda na gestão de Du-
tra, alguns controles estatais foram restabelecidos, sobretudo nas áreas
cambial e alfandegária.
Radicalmente diversa foi a postura adotada pelo presidente eleito
após Dutra - Getúlio Vargas voltava mais uma vez ao poder, só que
agora aclamado pelo voto popular. Getúlio impôs o retorno da sua tra-
dicional política econômica nacionalista, com a volta do intervencionismo
estatal e a recusa do capital estrangeiro, exceto quando muito necessá-
rio. São exemplos dessa postura a criação do primeiro banco público
voltado para o desenvolvimento industrial- o Banco Nacional de De-
senvolvimento Econômico (BNDE) - e da Petrobras.
Só que a manutenção desse nacionalismo mostrava-se cada vez mais
difícil, pois, na verdade, existiam duas propostas conflitantes de desen-
volvimento econômico para o país. Uma, defendida pelos grupos neoli-
berais, pregava a abertura ao capital estrangeiro como estratégia para
modernizar a indústria brasileira. A outra, defendida pelos nacionalistas
- integrados por setores da classe média, oficiais do Exército e inte-
lectuais -, pregava uma industrialização com base no capital essencial-
mente nacional (privado e estatal), fazendo restrições à entrada do capi-
tal estrangeiro no Brasil.
Nesse confronto, o projeto varguista foi derrotado. E isso devido às
próprias características da já analisada industrialização restrinpida. Se a ex-
pansão industrial brasileira dependia de reservas-ouro, e estas só eram
produzidas pela exportação de produtos agrários, era claro que a moder-
nização tecnológica do nosso parque industrial estaria sempre atrelada ao
comportamento das nossas exportações. A nova queda dos preços inter-
nacionais do café brasileiro, verificada no ano de 1953, foi a gota d'água
para a demonstração desse limite. Os grupos opositores ao projeto de
Getúlio Vargas precipitaram uma crise política sem precedentes no país,
culminando com o suicídio do presidente (24 de agosto de 1954).
Nesses termos, a abertura da economia brasileira ao capital estrangeiro
se colocou como solução para a crise do chamado "modelo" de industri-
alização nacionalista.
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A INDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA
A civilização do automóvel
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POLÊMICA
motivo, ainda que a média dos salários fosse baixa, o poder total de con-
sumo da população havia crescido.
Além disso, crescera também o quadro dos profissionais especiali-
zados que ganhavam maiores salários, acompanhando o desenvolvimen-
to econômico da época. Em conseqüência, ampliava-se o número de
consumidores capazes de comprar os bens de consumo duráveis produ-
zidos pelo novo setor implantado: automóveis e uma variedade crescen-
te de eletrodomésticos, como liquidificadores, batedeiras, aspiradores
..
Linha de montagem dos automóveis Aero-Willys e Dauphine [Sôo Bernardo do Campo,
São Paulo, 19601.
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QUADRO 2.
INDICES DE CRESCIMENTO DO PRODUTO REAL
I Ano
I Agricultura
I Indústria
I Transportes
1939
I 100
I 100
I 100
1949
I 99
I 130
I 124
1954
I 147
I 291
I 245
1959
I 181
I 505
I 304
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Detalhe do Palócio da Alvorada em construção !Bra-
silio. 1960).
Mas será que um plano tão ambicioso como esse teria sucesso? Pois
teve sim. Vejamos só alguns exemplos. A meta n" 8, que previa a constru-
ção de 10 mil quilômetros de rodovias, foi mais que ultrapassada, tendo-
se construido, no período, cerca de 20 mil quilômetros de novas estradas.
Em contraste, o tradicional e barato transporte ferroviário só ganhou na
gestão JK a ridícula cifra de 826 quilômetros de novos trilhos.
Também no setor energético houve grande sucesso do plano. A po-
tência das centrais elétricas, que em 1955 era de 3 milhões de quilowatts,
passou para quase 5 milhões, em 1961, enquanto estavam ainda em cons-
trução importantes centrais, como Furnas eTrês Marias. Bem maior foi o
crescimento da produção de petróleo: dos 2 milhões de barris por ano em
1955, ela saltou para 30 milhões de barris por ano, em 1960, significando
uma abundante fonte interna de combustíveis para o abastecimento dos
novos veicu '1" . Quanto a este u'1tímo
, 1os d"a era do automove . setor, os da-
dos são também chocantes: a meta prevista no plano era de chegar-se à
marca dos 100 mil veículos no ano de 1960. Entretanto, nesse ano, as
multinacionais instaladas no país produziram 321.150 automóveis!
Houve, porém, fracassos gritantes no Plano de Metas. E não é difícil
perceber em que ele falhou: justamente nas metas relativas à alimentação
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A INDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA
e à educação, como sempre acontece ... Mas no que diz respeito à industriali-
zação, ela chegou mesmo a crescer "cinqüenta anos em cinco". Só que o preço
pago por tal vitória foi a prifunda desnacionalização da economia brasileira.
No entanto, isso não prejudicou os interesses dos industriais brasi-
leiros. Muito pelo contrário. O grande salto tecnológico dado pela pre-
sença das multinacionais no setor de bens de consumo duráveis, bem
como a rápida ampliação da sua capacidade produtiva, levou a reboque
as indústrias nacionais, que também se modernizaram.
As empresas estrangeiras estimularam o surgimento de um cintu-
rão de novas empresas brasileiras, que forneciam para as montadoras
aqueles itens de que elas necessitavam, como, por exemplo, peças com-
plementares à montagem de veículos. Os efeitos da presença das multi-
nacionais no Brasil se irradiaram por todos os setores industriais, até
mesmo aqueles sob controle do Estado.
Mas o Plano de Metas trouxe também para a economia brasileira
algumas conseqüências muito graves, que serão analisadas no final deste
capítulo. Agora, é outra a questão que nos interessa. Se todo esse cresci-
mento foi atingido com base no investimento estrangeiro, no aumento
da dívida externa do país e na inflação, uma pergunta fica no ar: como
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moro 19601.
que o Estado brasileiro não tinha recursos suficientes para fazer com
que as suas indústrias crescessem no mesmo ritmo das multinacionais.
Por isso, ocorreu um desequilibi io no crescimento dos três setores indus-
triais, o que era um problema difícil de ser contornado.
A saída encontrada, mais uma vez, foi prejudicial à economia brasi-
leira: as multinacionais passaram a importar tudo aquilo de que precisavam
para continuar crescendo velozmente, E isso acarretou dois outros pro-
blemas. Por um lado, apesar de a moderna indústria ter-se implantado no
Brasil, ela tornou-se ainda mais dependente do que antes das importa-
ções. Por outro, os saldos da balança comercial brasileira voltaram a ficar
negativos - afinal, vendíamos bens agrícolas e comprávamos bens de pro-
dução. Com saldos negativos, mais desvalorizada ficava a nossa moeda. E,
com a moeda em baixa, mais difícil era saldar a nossa dívida externa. Uma
espécie de bola-de-neve começava a envolver toda a economia nacional.
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5. Um modelo perverso
O MODELO "
ECONOMICO '6 19
DO POS- 4- CONSOLIDOU
,
A NOSSA DIVIDA EXTERNA, GERANDO O "MILAGRE BRASILEIRO. "
SEU PREÇO FOI A SUPEREXPLORAÇÃO DOS TRABALHADORES
Os anos críticos
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Trecho do BR-080, ligando Brosilio a Mo-
nous (1970),
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POLÊMICA
QUADRO 3. ,
SALÁRIO MíNIMO REAL (GUANABARA E SÃO PAULO)
I 1951
I 53,6 53,0
I 1960
I 140,2 130,8
I 1961
I 161,6 146,2
I 1962
I 137,5 123,9
I 1963
I 128,6
I 114,5
f19641 124,9
I 116,3
-
Fonte: F. Oliveira, Crítica à rozõo duolista, Sõo Paulo, Cebrop, 1977, p. 41.
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Comício dos Reformas, realizado diante da Central da Brasil (Riode Janeiro, 13 mar. 1964).
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impostos, que iriam garrotear o pequeno empresário, tais como o Imposto sobre
a Produção Industrial (IPI) e o Imposto sobre a Circulação de Mercadorias
(ICM). Incapazes de arcar com o peso de novos tributos, já que produziam em
menor escala e com custos maiores do que as grandes unidades fabris, a pe-
quena e a média empresas acabavam cedendo espaço aos oligopólios*.
Ao mesmo tempo, o Estado também lançou mão do expediente do
tabelamento dos preços dos produtos industriais, sempre em nome do cita-
do "combate gradualista à inflação". Como esses preços foram fixados
tomando por base o desempenho das grandes empresas que atuavam
com alta tecnologia e, por isso mesmo, produziam mais e mais barato,
resultava que eles não davam para pagar sequer os gastos do pequeno
empresário, que se via, assim, obrigado a vender os seus produtos por
preços abaixo daquilo que tinham gasto na sua fabricação. Seu estrangu-
lamento e falência eram inevitáveis.
O resultado dessas estratégias foi não apenas o favorecimento da gran-
de empresa oligopolística, em geral, mas da empresa oligopolística estran-
geira, em particular, que aumentou o seu poder de controle sobre os seto-
res mais dinâmicos da indústria brasileira, como se verifica no Quadro 4 .
..
QUADRO 4.
TAXAS ANUAIS MÉDIAS DO CRESCIMENTO DA
INDÚSTRIA BRASILEIRA - 1966-1973 (%)
SETORES
I INDÚSTRIAS
NACIONAIS
I PARTICIPAÇÃO
DAS MULTINACIONAIS
Minerais
não-metálicos I 11,3
I 59,72
I Metalurgia
I 10,3
I 26,50
I Mecânica
I 16,2
I 74,65
Mat. elétrico
I 14,7
I 76,16
Mat. transporte
I 14,7
I 96,44
Química
I 12,6
I 51,12
I
Fonte: G. Mantega & M. Moraes, Acumulação monopolisto e crises no Brasil, Rio de
Janeiro, Paz e Terra, 1979, p. 76.
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A INDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA
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Presidente Costa e Silva inaugura Estação de Telecomunicações em
Itaboraí, no Estado do Rio de Janeiro 128 fev. 1969).
93
POLÊMICA
94
A INDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA
95
POLÊMICA
que havia uma diferença: como as decisões sobre política salarial foram
transferi das da Justiça do Trabalho para o Executivo Federal, os sindicatos
ficaram esvaziados do seu papel político de contestação. Assim, as classes
trabalhadoras estavam cercadas, politicamente, por todos os lados.
O que o governo não esperava é que o descontentamento de alguns
segmentos de trabalhadores das grandes empresas metalúrgicas de São
Paulo e de Minas Gerais fosse forte o suficiente para levá-los ao enfrenta-
mento aberto do regime autoritário, resultando em duas explosões gre-
vistas no ano de 1968: as greves de Contagem (MG) e Osasco (SP), vio-
lentamente reprimidas por questionarem o "modelo econômico" adotado.
Se a política salarial e trabalhista do pós-1964 em muito contribuiu
para o "milagre" econômico brasileiro, o outro lado da moeda foi a cres-
cente deterioração da qualidade de vida dos trabalhadores, que pode ser
medida por dois critérios: o já citado crescimento do número de acidentes de
trabalho e o aumento dos índices de mortalidade infantil, que, como sabe-
mos, decorrem, ambos, muito mais da desnutrição do que das condi-
ções de saúde propriamente ditas.
96
A INDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA
o "milagre" se desfez
Passado o boom de crescimento econômico do período de 1968 a
1974, a indústria brasileira começaria a dar mostras de uma nova reces-
são. A "crise do petróleo" e o arrefecimento da economia mundial que
dela decorreu ajudariam a levantar o "véu de euforia" que acompanhara
o "milagre", pondo a nu o que nele havia de artificial e de desequilibra-
do, mas que pudera ser disfarçado enquanto houve abundância de capi-
tais no mercado internacional.
A chamada crise do "milagre brasileiro" caracterizou-se por duas
peculiaridades: por um lado, foi uma crise de endividamento externo,
e, por outro, uma crise da capacidade do Estado em continuar "bancan-
do" o ritmo do crescimento industrial brasileiro. Por que essas caracte-
rísticas teriam vindo à tona em 1973-1974?
Antes de mais nada, vale a pena lembrar o papel estratégico desem-
penhado pela grande empresa estrangeira na economia do país, o que im-
plicava, como vimos, uma constante remessa dos seus lucros para o exte-
rior, desnacionalizando a economia. Essa saída de capitais era, por sua vez,
compensada pela tomada de novos empréstimos externos pelo governo.
97
/
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A INDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA
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A INDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA
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6. Desnacionalização
e desindustrialização
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F - ---- -/.........
!
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A INDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA
QUADROS.
CRESCIMENTO DA RENDA NOS PAíSES DESENVOLVIDOS
(TAXA MÉDIA ANUAL, EM PORCENTAGEM)
~O
PAíSES
1196001973119740197911980019971(B)/(A)
(A) (B)
I TAXA DE_
DESACELERAÇAO
I EUA
I 4,0 r-;-~~I 1,5
I Japão
I 10,6
I 3,7
I 3,4
~I 2,3
I Alemanha
I 5,3
I 2,4
I 2,0 fD.381 2,1
I França
I 5,7
I 3,1
I 1,9 fD.331 2,2
1 Reino Unido
I 3,2 j1.31 1,9
FI 1,5
Fonte: Reinaldo Gonçalves, G/oba/ização e desnacionalização, São Paulo, Paz e Terra, 1999, p. 32.
107
POLÊMICA
108
A INDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA
109
POLÊMICA
A desindustrialização brasileira
110
A INDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA
QUADRO 6.
BRASIL: CRESCIMENTO ANUAL DO PIB
1994 - 2001 (%)
I ANOS
I %
1994
I 5,9
I 1995
1996
I
I
4,2
2,7
II 1997
1998
I
I
3,3
0,1
I 1999
I 0,8
I 2000 I 4,4
I 2001 I 1,5
111
POLÊMICA
112
A INDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA
"
QUADRO 7.
INDÚSTRIA DETRANSFORMAÇÃO (SETORES DE USO)
~ ~
I I
~p
Bens de consumo
I I I I I
Não-duráveis
I 1,7
I 0,9
I 34,5
I 36,5
I 36,5
Duráveis
I 0,0
I 3,4
I 15,2
I 14,0
I 17,3
I Bens de capital
I -2,0 1-1,2 f12.81 9,8
1
8,0
I Total
I 0,9
I 0,2 Ff1õOf1õO
"i.
Fonte: Wilson Cano, Soberania e política econômica na América Latina, São Pau/o, Unesp, 2000, p. 275.
o único setor industrial que contou com avanço efetivo entre 1989
e 1998 foi o da produção de bens duráveis de consumo, que passou da
média anual de crescimento de 14,0%, em 1989, para 17,3%, em 1998.
Nos demais setores, a produção industrial reduziu-se, comparando-se
ambos os anos. Esses dados demonstram o retrocesso da industrializa-
ção brasileira, já que os únicos setores industriais capazes de alavancar o
desenvolvimento, isto é, a produção de bens de capital e de bens inter-
mediários, definharam drasticamente no período. Em matéria de cres-
cimento industrial, o Brasil da década de 1990 foi refém de uma "falsa
promessa" de chegada ao Primeiro Mundo.
E dizemos falsa, porque a política econômica da Era FHC gerou uma
armadilha para o crescimento da produção nacional, em que qualquer ten-
tativa de favorecer a indústria viu-se anulada pela abertura comercial e a
valorização do câmbio, facilitadoras das importações. Os poucos ramos in-
dustriais com desempenho dinâmico no país foram aqueles mais "invadidos"
por capitais estrangeiros, como, por exemplo, o de plásticos, a metalurgia,
o de farmácia e o de materiais elétrico e eletrônico. E aqui chegamos à se-
gunda característica que acompanhou o processo de desindustrialização do
país: a rápida e projanda desnacionalização da nossa economia.
113
POLÊMICA
Desnacionalizando a economia
114
A INDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA
QUADRO 8.
PARTICIPAÇÃO DAS EMPRESAS ESTRANGEIRAS NO
CONJUNTO DAS MAIORES EMPRESAS NO BRASIL: 1994-1997
(PARTICIPAÇÃO PERCENTUAL NAS VENDAS)
I SETOR
I 1994
I 1995
I 1996
I 1997
Alimentos
I 41 I 50 I 42 I 57
Auto-indústria 91
I 93 I 93 I 95
Bebidas 55 I 49 I 15 I 15
Comércio atacadista 23 I 25 I 35 I 34
Comércio varejista 18 I 23 I 17 I 25
Informática 69 I 78 I 79 I 81
Confecções 8 I 8 I 8 I Nd
Têxteis 7 I 12 I 15 I Nd
Eletroeletrônico 34 I 45 I 43 I 48
~
Construção I O
I O
I O
I 3
I
Farmacêutico 73
I 63 I 72
I 79
Higiene e limpeza 91
I 89
I 89
I 97
Mecânico 44
I 44
I 46
I 45
Mineração 6
I 7
I 7
I 12
Papel e celulose 16
I 16
I 18
I 18
Plásticos e borracha 58 I 49 I 49 I 62
Química/petroquímica 24
I 22 I 20
I 22
Serviços de transporte 2 I 2 I 4 I 2
!
Serviços públicos O
I O
I 3 I 7
Siderurgia/metalurgia Nd
I 21 I 25 I 24
Telecomunicações 32
I 33
I 34
I 36
.•
Fonte: Reinaldo Gonçalves, G/oba/ização e desnocionolizaçôo, São Paulo, Paz e Terra, 1999, p. 135.
115
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Panorama geral da região da empresa Vale do Ria Dace, após sua
privatização.
116
A INDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA
QUADRO 9.
EXEMPLOS DE GRANDES EMPRESAS BRASILEIRAS COMPRADAS
POR GRUPOS ESTRANGEIROS: 1994·1998
I EMPRESA ICOMPRADOR I PAís I SETOR fANõ;
Petroquímica União Union Carbide I EUA 1 Petroquímico 11994 I
.-
Fonte: Adaptado de Reinaldo Gonçalves, Globalização e desnacionalizaçõo, São Paulo, Paz e Terra, 1999,
p.142.
117
POLÊMICA
QUADRO 10.
DISTRIBUiÇÃO DAS 100 MAIORES EMPRESAS POR TIPO DE PROPRIEDADE
(ANOS SELECIONADOS)
Estatal
I 38,0 f44.01 23,0
I 30,0
I 12,0 f21,O
Familiar
I 27,0 f23.01 26,0 1 17,0 I 26,0 f17,O
Dispersa
I 1,0 fD.Ol 3,0
I 2,0
I 4,0 f3.O
Cooperativas
I 2,0 f"2.Ol 2,0
I 2,0
I 1,0 ro.o
Fonte: Ricardo Carneiro, Desenvolvimento em crise: Q economia brasileira no último quarto do século XX,
São Paulo, Unesp/IE-Unicamp, 2002, p. 340.
118
A INDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA
119
POLÊMICA
QUADRO 11.
TAXAS DE DESEMPREGO EM CINCO ÁREAS METROPOLITANAS
Áreas
Metropolitanas
Brasília
r:-r:FFr:r::r:
1995
~~~~~~~
1996 1999 2000 2001
Fontes: Até o ano de 1999, Paul Singer, "Evolução da economia e vinculação internacional", in Ignacy Sachs
e outros, Brasil: um século de transFormações, São Paulo, Cia. das letras, 2001 f p. 118. Para os anos de
2000 e 2001, Dieese.
120
A INDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA
QUADRO 12.
VALOR DA CESTA BÁSICA POR CAPITAIS - 2000-2003
I
I Capital
2000 I
Valor da cesta básica (R$)
2001 I 2002 I 2003
Belém 102,09
I 110,33
I 136,60
I 162,28
Recife 98,37
I 98,91
I 124,81
I 147,50
Goiânia 93,28
I 106,16
I 137,51
I 151,08 I
Salvador 86,71
I 96,57
I 126,99
I 147,14
Fonte: Dieese.
!
Mesmo sabendo que o desemprego continua sendo talvez a mais
grave conseqüência social do "ajuste" neoliberal da economia brasileira,
não é demais recordar que o governo FHC preferiu enfatizar um outro
efeito - ainda que temporário - da sua política econômica. Trata-se
da relativa melhora do poder de compra por parte de alguns segmentos
mais pobres da população, que, devido à queda da inflação, entre 1994 e
1997, passaram a "comer mais frango". Mas isso se. referiu apenas ao
período inicial do Plano Real.
Não resta dúvida de que a estabilização de preços, naquele mo-
mento, melhorou de alguma forma a situação das camadas sociais com
menor renda. No entanto, como já vimos, a crise da atividade produtiva
121
POLÊMICA
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Flagrante da fila de quase 4 mil pessoas que se inscreveram para disputar voga de
gari no Rio de Janeiro, em 1999.
122
A INDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA
1994
Conta própria
Assalariados
Empregadores c/carteira
1998
Conta própria
Assalariados
cl carteira
Empregadores
Fonte: Jorge Mottoso, 'Produção e emprego: renascer dos cinzas', in Ivo lesbaupin (org.), O desmonte do
noção: balanço do governo FHC, Petrópolis, Vozes, 1999, p. 130.
123
POLÊMICA
124
A INDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA
menores salários foram os mais afetados. No entanto, não foi apenas isso
que ocorreu entre 1995 e 1998, tendo se verificado o crescimento do
desemprego também na classe média urbana do país, classe esta que igual-
mente empobreceu.
Outro processo derivado da política econômica desassalarizante da
Era FHC foi a brutal concentração da renda por ela produzida. Em fins da
década de 1990, o próprio governo divulgou resultados de uma pesquisa
demonstrando que a renda média dos 10% mais ricos do país era trinta
vezes maior que a renda dos 40% mais pobres. Além disso, em 1999, 25%
dos trabalhadores ocupados no Brasil, isto é, 14,5 milhões de um conjun-
to de 60 milhões, ganhavam apenas até um salário mínimo. O quadro se
agrava ao compararmos o valor real do salário mínimo de hoje com o seu
valor quando foi implantado, em 1940: para poder comprar o mesmo que
no passado, o salário mínimo atual deveria ser de R$ 661,00, bem distan-
te dos R$ 240,00 hoje em vigor.
A aposta numa política econômica recessiva e voltada para assegu-
rar o grau de confiabilidade dos investidores estrangeiros no Brasil pro-
vocou a deterioração do tecido social como um todo. O governo FHC
caracterizou-se pela enorme negligência com a questão social, já que o
corte de gastos faz parte do "enxugamento" da máquina do Estado im-
posto pelo neoliberalismo. O projeto político praticado pelo governo
nos últimos oito anos teve como alvo central o conjunto dos direitos soci-
ais, encarados como "gorduras a serem queimadas".
Dessas "gorduras", destacaram -se as áreas da educação e da saúde.
No primeiro caso, constatamos a sua redução por meio da evolução ne-
gativa do orçamento destinado à educação e à cultura, que caiu de R$
14 bilhões, em 1995, para R$ 11 bilhões, em 1998. Quanto à área da
saúde, o quadro não é menos grave, com a sua dotação reduzida de R$
19.962 bilhões, em 1995, para R$ 19.101 bilhões, em 1998. Aparente-
mente, trata-se de corte pequeno. Porém, vale lembrar que em 1998 foi
criado um novo imposto, cujo produto seria destinado ao setor: a Con-
tribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). Para onde
teria ido essa arrecadação?
125
POLÊMICA
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Flagrante de pessoos buscando restos de comida em lixôo locollzodo em São Gonçalo,
Rio de Janeiro.
126
Considerações finais
127
POL~MICA
128
Glossário
129
POLÊMICA
130
A INDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA
131
Cronologia
132
A INDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA
133
POLÊMICA
134
Bibliografia
135
POLÊMICA
136
POL&MiCJl
A industrialização
brasileira
Este livro analisa os condicionantes
internos e externos do processo de in-
dustrialização no Brasil, desde o apareci-
mento das primeiras ma-nufaturas, após
a vinda da Corte portuguesa para o país,
até os dias de hoje.
Neste trabalho são abordadas ques-
tões extremamente atuais que envolvem
a economia brasileira, tais como o neoli-
beralismo, a globalização, a política de
privatizações, a desindustrialização e a
destituição de direitos sociais nos anos
1990. Tudo isso sempre enfatizando a ar-
ticulação entre o papel do Estado e as
empresas privadas - nacionais e es-
trangeiras - na história recente do país.
Para chegar até aí, entretanto, é preci-
so um "passeio" no tempo, passando
pelo século XIX, quando no Brasil ainda
havia escravidão e monarquia, e recuan-
do até o século XVI, quando -começou a
exploração colonial.
:111 Moderna