Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESUMO
Este artigo tem como objetivo identificar como são trabalhados os conteúdos matemáticos na
sala de Atendimento Educacional Especializado (AEE) em uma escola da rede estadual de
Crateús-CE. A partir deste estudo busca-se tomar conhecimento, especificamente, em quais
são as deficiências dos alunos atendidos na sala de AEE da escola e como é a relação dos
mesmos com a matemática, assim como também, as metodologias utilizadas pelos professores
para o ensino dos conteúdos de matemática na sala de AEE, e por fim, buscamos, também,
conhecer quais são os recursos pedagógicos utilizados para a realização das atividades
matemáticas nesta sala de AEE. Este trabalho trata-se de uma pesquisa qualitativa, no qual foi
realizada aplicação de entrevista com a professora da sala de AEE da escola pesquisada, como
também realizamos observações dos atendimentos com foco na Matemática. Cinco (5)
estudantes e uma (1) professora foram a amostra desta pesquisa, construída a partir das falas
da professora durante a realização da entrevista somados aos resultados obtidos durante as
observações dos atendimentos realizados na sala de AEE da escola. A tratar do referencial
teórico, foi pensado de acordo com as seguintes categorias: Projeto Político Pedagógico (PPP)
e sua consonância com a legislação nacional de educação especial na perspectiva da educação
inclusiva; Conhecendo os sujeitos e as funcionalidades da sala de AEE da E.E.M.T.I
Lourenço Filho. Autores como Veiga (2002), Mantoan (2003), Borges (2020) e Martins
1
Estudante do Curso de Licenciatura em Matemática, do Instituto Federal do Ceará (IFCE), Campus Crateús,
e-mail: maria.jordania.gomes08@aluno.ifce.edu.br.
2
Professora mestra em Fundamentos da Educação, do Instituto Federal do Ceará (IFCE), Campus Crateús.
e-mail: karla.gomes@ifce.edu.br.
3
Professor doutor em Matemática, do Instituto Federal do Ceará (IFCE), Campus Crateús.
e-mail: valricelio.xavier@ifce.edu.br.
(2006), contribuem no referencial teórico. Quanto aos resultados, identificamos o quanto é
importante o atendimento educacional especializado para o ensino dos alunos com
deficiência. Também identificamos que existem poucos estudos relacionados ao ensino de
Matemática e o Atendimento Educacional Especializado, principalmente quando tratamos dos
conteúdos de Matemática do Ensino Médio que, no caso, é o nível de ensino da escola na
qual a pesquisa foi realizada.
Palavras-chave: Ensino de Matemática. Educação Especial e Inclusiva. Atendimento
Educacional Especializado.
ABSTRACT
This article aims to identify how mathematical contents are worked in the Specialized
Educational Assistance (AEE) room in a state school in Crateús-CE. From this study, we seek
to know, specifically, what are the deficiencies of the students assisted in the school's SES
room and what their relationship with mathematics is like, as well as the methodologies used
by teachers to teach students. mathematics content in the SES room, and finally, we also seek
to know what are the pedagogical resources used to carry out mathematical activities in this
SES room. This work is a qualitative research, in which an interview was carried out with the
teacher of the AEE room of the researched school, as well as we carried out observations of
the attendances with a focus on Mathematics. Five (5) students and one (1) teacher were the
sample of this research, built from the teacher's speeches during the interview, added to the
results obtained during the observations of the services carried out in the school's AEE room.
Dealing with the theoretical framework, it was thought according to the following categories:
Pedagogical Political Project (PPP) and its consonance with the national legislation of special
education in the perspective of inclusive education; Getting to know the subjects and
functions of the SES room at E.E.M.T.I Lourenço Filho. Authors such as Veiga (2002),
Mantoan (2003), Borges (2020) and Martins (2006), contribute to the theoretical framework.
As for the results, we identified how important specialized educational services are for
teaching students with disabilities. We also identified that there are few studies related to the
teaching of Mathematics and Specialized Educational Assistance, especially when we deal
with the contents of Mathematics in High School, which, in this case, is the level of education
of the school in which the research was carried out.
Keywords: Mathematics Teaching. Special and Inclusive Education. Specialized Educational
Service.
2
1 INTRODUÇÃO
Quando falamos em Educação Especial, fala-se junto de Educação Inclusiva, essa, por
sua vez, busca promover a interação desses educandos com a comunidade escolar em geral,
como também, pode trabalhar a inclusão da diversidade cultural. Podemos falar também sobre
o Atendimento Educacional Especializado (AEE), onde o mesmo surgiu por meio do Decreto
nº 6571, de 18 de setembro de 2008, como um complemento para a sala de aula regular.
Muitos acham que o AEE é apenas um reforço, ou atendem apenas estudantes portadores de
algum tipo de deficiência, mas na verdade, o serviço não pode ser considerado um reforço, e
sim uma ajuda para os professores da sala de aula regular, onde o aluno com deficiência ou
aqueles que por sua vez possuem super habilidades, pode está tendo um apoio maior com a
ajuda de um profissional capacitado para atender tais especificidades.
As atividades realizadas no AEE acontecem no contraturno do aluno, nas salas de
recursos multifuncionais. Esse ambiente precisa ser um espaço organizado, ter disponíveis
materiais didáticos, pedagógicos e equipamentos necessários, e profissionais capacitados com
a devida formação para o atendimento às necessidades educacionais especiais. Vale ressaltar
ainda que todas as atividades realizadas no AEE estão de acordo com o projeto pedagógico da
escola.
3
Os conteúdos estudados na sala regular, por muitas vezes são de difícil absorção para
aqueles que não necessitam de nenhum apoio especializado, imagina para os alunos que
portam algum tipo de deficiência. E quando falamos do componente curricular Matemática, o
assunto é um pouco mais delicado na hora desses alunos absorverem o conteúdo, pois
precisam de profissionais bastante capacitados e empenhados em prol da aprendizagem dos
educandos. A matemática é uma ciência bastante temida por muitos estudantes, uma área que
poucos se identificam e que se saem bem, conhecida por seus difíceis cálculos e teoremas,
mas que também por outro lado, é muito importante e bonita olhando por ângulos diferentes.
Pensando no ensino de Matemática para esses educandos com deficiência, pode-se
afirmar que não é uma tarefa fácil na hora de repassar os conteúdos programáticos propostos
na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), já que, na maioria dos casos, os professores
das salas de aula comum não possuem capacitação para trabalhar com alunos com deficiência,
então cabe a escola ter um ambiente acolhedor e com recursos para esse fim. E o AEE ajuda
bastante nesse quesito, onde o aluno com deficiência vai no contraturno para tentar fechar as
lacunas deixadas na sala de aula comum, é interessante que nas salas de Atendimento
Educacional Especializado tenham professores especializados pelo menos em Língua
Portuguesa e em Matemática, ou seja, nas duas áreas bases de aprendizagens, para que dessa
maneira, o aprendizado consiga ser efetivado por esses alunos.
Portanto, o presente artigo busca compreender como são trabalhados os conteúdos
matemáticos na sala de Atendimento Educacional Especializado (AEE) em uma escola da
rede estadual de Crateús-CE. Tendo como objetivos específicos: verificar quais são as
deficiências dos alunos atendidos na sala de AEE da escola e como é a relação dos mesmos
com a matemática; conhecer as metodologias utilizadas pelos professores da sala de AEE para
o ensino aprendizagem dos conteúdos de matemática e identificar quais são os recursos
pedagógicos utilizados na sala de AEE para a realização das atividades matemáticas. A partir
disso, decorre a problemática desta pesquisa: quais dificuldades os professores de salas de
Atendimentos Educacionais Especializados enfrentam para realizar o ensino de matemática
para seus alunos?
O interesse em escrever sobre esse tema deu-se a partir de um seminário sobre o
Atendimento Educacional Especializado apresentado na disciplina de Políticas Educacionais,
que faz parte da ementa do curso licenciatura em Matemática do Instituto Federal de
educação, ciência e tecnologia do ceará - (IFCE) campus Crateús, onde, me senti bastante
confortável para falar sobre a temática, e obtive elogios das professoras que ministravam a
disciplina, que acabaram sugerindo-me esse tema como um possível estudo para a realização
4
2 METODOLOGIA
Por ser uma pesquisa de cunho qualitativo, iremos utilizar o método de estudo de caso,
tendo em vista que pesquisaremos uma situação específica, que no caso é o ensino de
Matemática no AEE da escola da rede estadual de Crateús-CE, por meio de observações e
análises de dados, sob essa perspectiva, Yin (2001, apud OLIVEIRA, 2019) o estudo de caso
5
é uma estratégia de pesquisa que compreende um método que abrange tudo em abordagens
específicas de coletas e análise de dados tentando assim, ajudar em futuras investigações
sobre o tema.
A técnica utilizada para a coleta de dados será uma entrevista, com o (a) professor (a)
da sala de Recursos Multifuncional, com o objetivo de entender quais deficiências o AEE da
escola atende assim como a familiaridade dos alunos em relação à matemática, as
metodologias adotadas para o ensino da matemática para cada aluno de acordo com a sua
deficiência e quais são os recursos pedagógicos disponibilizados na sala de Recursos
Multifuncionais para o facilitamento do ensino de Matemática. Foi realizado uma entrevista
estruturada, contendo onze (11) perguntas, buscando conhecer um pouco sobre o perfil do (a)
professor (a) entrevistado (a) em relação à formação acadêmica; quanto tempo de ensino no
AEE; como também a respeito do ensino de matemática em si dentro da sala de AEE e sobre
os recursos pedagógicos em que os mesmos utilizam.
Também ocorreram observações diretas da realidade dentro da sala de AEE, mediante
autorização da gestão escolar e do (a) professor (a) da sala de Atendimento Educacional
Especializado, com o objetivo de ver na prática a realização dos atendimentos realizados que
tenham relação com a matemática, para, Qassim, ser possível vivenciar pessoalmente o tema
escolhido para esta pesquisa. As observações aconteceram durante um período de dois (2)
dias: quarta-feira, dia três (3) de maio de dois mil e vinte e três (2023), no período da manhã,
indo de 7:30 até 11:30; terça-feira, dia nove (9) de maio de dois mil e vinte e três (2023), no
período da manhã, indo de 8h até 11:30. Foram escolhidos esses dias, pois eram os dias que
aconteciam os atendimentos dos alunos da escola, pois o AEE dessa instituição atende
também estudantes do fundamental I de outras escolas do município, estudantes estes que não
participaram da pesquisa, pois não era objeto de investigação. Durante as observações, não
houve interferência com relação ao professor e o aluno atendido, todas as anotações foram
registradas em um diário de campo, tendo assim, um suporte maior para o registro das
observações.
Foi estruturado a seguinte ordem de etapas para nossos estudos e dados coletados: 1º
Etapa: realização de um estudo inicial do tema discutido nesse artigo, por meio de leituras em
livros, artigos, sites, documentos e em Leis que asseguram a temática estudada, buscando
facilitar o início da escrita da pesquisa; 2º Etapa: contato com a direção da escola pesquisada,
para obtermos a autorização para a realização da pesquisa no Atendimento Educacional
Especializado da instituição; 3º Etapa: aplicação da entrevista com os professores da sala de
6
AEE e início das observações; 4º Etapa: análise geral de todos os dados encontrados mediante
a aplicação da entrevista (Continuidade na escrita da pesquisa e entrega).
Quatorze (14) alunos que estão matriculados na escola, são atendidos no AEE, porém,
nossa pesquisa ficou limitada em apenas cinco (5) destes alunos, pois, por falta de
disponibilidade de tempo da nossa parte, não foi possível termos como amostra todos os
quatorze (14) estudantes. Contamos também como amostra desta pesquisa, a professora da
sala de AEE a partir das observações realizadas durante os atendimentos e a entrevista
realizada com a professora da sala de Recursos Multifuncionais. Garantimos total respeito e
responsabilidade com os dados colhidos, como também manteremos em sigilo os nomes dos
sujeitos participantes. Usaremos siglas para diferenciar os alunos, assim os estudantes serão
identificados com A1 (Aluno 1), A2 (Aluno 2), A3 (Aluno 3), sucessivamente até o A5
(Aluno 5), e a professora será identificada como Aurora, nome esse fictício.
Além do mais, todas as instituições de ensino, precisam exercer seu papel, no quesito
inclusão de forma que aconteça uma equidade entre os alunos, pois é assegurado aos alunos
com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação,
pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) – Lei no 9.394/1996 – Lei no
4.024/1961, no seu artigo 59º:
A escola conta também com alguns projetos que tratam da educação especial e
inclusiva, que são, segundo o projeto político pedagógico (PPP): Setembro Azul LF, Semana
da Pessoa com Deficiência, Semana do Autismo e participação nos projetos durante a feira de
9
ciências da escola, o que é interessante, pois, dessa forma, acontece uma interação entre todos
os indivíduos que formam a comunidade escolar fazendo com que aconteça inclusão. Além do
mais a escola no que tange ao AEE, conta também com:
seguinte forma: um (1) surdo e um (1) autista nas salas de primeiros anos; dois (2) surdos,
dois (2) com deficiência intelectual e um (1) com baixa visão e deficiência motora nas salas
de segundos anos e um (1) autista nas salas de terceiros anos, os demais dentre os trinta e dois
(32) matriculados eram das escolas do município da cidade. O Projeto Político Pedagógico
não apresenta os dados anteriores a 2021 e nem do ano de 2022-3, mas com base nesta
pesquisa, pudemos obter a quantidade de alunos matriculados neste ano, que consiste no total
de 25 alunos.
Com base no (PPP) da escola, às avaliações realizadas no AEE da EEMTI Lourenço
Filho, tem como objetivo, identificar os recursos e apoios necessários à inclusão do aluno na
escola, além de:
geral, deveria ser formada para oferecer educação para todos, mas por muito tempo, essa
instituição não conseguiu e podemos afirmar que até hoje enfrenta dificuldades para conseguir
encarar a diversidade que está em cada indivíduo. Em consonância com Martins (2006, p. 17),
a escola age “[...] agregando e excluindo, de várias formas, os que fogem dos padrões por
requererem em seu processo de aprendizagem respostas específicas ou diferentes das que são
dadas à média dos alunos”. A partir disso, conseguimos entender que se faz necessário pensar
a cada dia em um acolhimento às diferenças dentro do contexto escolar.
Além da Constituição de 1988, a Declaração de Salamanca, instituída em 1994, foi um
marco para a política de inclusão. De acordo com este documento:
[...] toda criança tem direito fundamental à educação, e deve ser dada a oportunidade
de atingir e manter o nível adequado de aprendizagem, toda criança possui
características, interesses, habilidades e necessidades de 28 aprendizagem que são
únicas, sistemas educacionais deveriam ser designados e programas educacionais
deveriam ser implementados no sentido de se levar em conta a vasta diversidade de
tais características e necessidades, aqueles com necessidades educacionais especiais
devem ter acesso à escola regular, que deveria acomodá-los dentro de uma
Pedagogia centrada na criança, capaz de satisfazer a tais necessidades, escolas
regulares que possuam tal orientação inclusiva constituem os meios mais eficazes de
combater atitudes discriminatórias criando-se comunidades acolhedoras, construindo
uma sociedade inclusiva e alcançando educação para todos; além disso, tais escolas
provêem uma educação efetiva à maioria das crianças e aprimoram a eficiência e,
em última instância, o custo da eficácia de todo o sistema educacional
(SALAMANCA, 1994, 12).
[...] um processo educacional definido por uma proposta pedagógica que assegure
recursos e serviços educacionais especiais, organizados institucionalmente para
apoiar, complementar, suplementar e, em alguns casos, substituir os serviços
educacionais comuns, de modo a garantir a educação escolar e promover o
desenvolvimento das potencialidades dos educandos que apresentam necessidades
educacionais especiais, em todas as etapas e modalidades da educação básica.
(BRASIL, 2001).
[...] o AEE tem como função complementar ou suplementar a formação do aluno por
meio da disponibilidade de serviços, recursos de acessibilidade e estratégias que
eliminem as barreiras para a sua plena participação na sociedade e desenvolvimento
de sua aprendizagem. (BRASIL,2009).
12
Nesse mesmo sentido, o Decreto nº 7.611, de 17 de novembro de 2011, em seu art. 3º,
traz quais são os objetivos do AEE:
A Nota Técnica (2010) também atribui aos professores, para que eles orientem os
demais professores, como também as famílias sobre os recursos pedagógicos utilizados pelos
13
professores, mais recursos e assistências do Governo para com as escolas. No que se refere à
escola pesquisada, acreditamos que a mesma busca atender os atributos destinados ao
atendimento educacional especializado perante a lei, como também, se preocupa com as
obrigações dos professores de AEE, juntamente com os alunos que venham a ser atendidos no
AEE da escola. No que tange a estrutura da escola, acreditamos que a sala de recursos
multifuncionais da instituição é uma sala que possui espaço necessário para a realização da
aprendizagem, como também, disponibiliza de materiais didáticos que auxiliam no ensino.
Muitos são os desafios para os sistemas de educação no Brasil, e quando se trata da
educação inclusiva esses desafios se multiplicam, por exemplo, a falta de preparo dos
sistemas de ensino no ato de inclusão destes alunos, pois, muitas escolas não têm uma
estrutura adequada para estarem recebendo os estudantes, outra fragilidade que podemos citar,
é o fato dos professores, muitas das vezes, não possuírem uma formação adequada na área da
educação inclusiva que facilite a troca de conhecimentos com estes alunos, pois sabemos que
existem diversos tipos de deficiência, onde cada uma delas necessita de um conhecimento, no
mínimo básico, para que seja possível entender cada necessidades dos estudantes deficientes.
Podemos citar também os raros casos, onde os docentes não estão atentos se está havendo
inclusão da parte dos outros estudantes para com os alunos com deficiência.
Por isso, a formação continuada de professores com foco na educação especial, é de
suma importância, principalmente, quando tratamos também de professores da sala de
recursos multifuncionais, onde essa importância aumenta.
Diante disso, apresentamos Aurora, pseudônimo criado para identificar a docente
responsável pela sala de AEE da referida escola. Ela trabalha como professora da sala de
recursos multifuncionais da instituição desde abril de 2018, atuou como intérprete de Libras
em uma escola no município de Novo Oriente, e como docente na Educação de Jovens e
Adultos (EJA). Nesse sentido, na entrevista realizada, indagamos a professora Aurora sobre a
sua formação:
Sou licenciada em química, tenho uma pós graduação em Ensino de Ciências e
Matemática, a outra é de Neuropsicopedagogia, Interpretação e Tradução em Libras,
Psicopedagogia e Gestão Escolar. Aí tem os cursos de formação geral, né?!são os
outros cursos que é preciso para trabalhar no AEE, por exemplo, tenho curso de
Libras, Braille, sala de recursos multifuncionais, TOD, autismo, que são cursos
complementares que já complementam esses anos que eu atendo lá (AURORA,
2023)4
4
Entrevista realizada no dia dezesseis de maio de 2023, na cidade de Crateús-Ce.
15
seu ensino para com os estudantes com deficiência que a mesma venha atender na sala de
recursos multifuncionais. Além do mais, acreditamos que a formação continuada dos
professores em educação especial, é uma das muitas possibilidades, que ajudam no processo
de inclusão. Conclui-se esse pensamento MANTOAN (2003, p 30):
Confirma-se, ainda, mais uma razão de ser da inclusão, um motivo a mais para que a
educação se atualize, para que os professores aperfeiçoem suas práticas e para que as
escola públicas e particulares se obriguem a um esforço de modernização e de
reestruturação de suas condições atuais, a fim de responderem às necessidades de
cada um de seus alunos, em suas especificidades, sem cair nas malhas da educação
especial e de suas modalidades de exclusão.
Sabemos que nas últimas três décadas houve grandes avanços nas políticas
educacionais no Brasil, no sentido da universalização das matrículas, do financiamento da
educação, melhorias nas estruturas das instituições de ensino, na formação e valorização dos
profissionais da educação, por exemplo. Embora esses avanços, compreendemos que o
Estado brasileiro precisa ainda avançar na garantia da qualidade do ensino, na inclusão e
valorização de todos os sujeitos, especialmente na valorização daqueles e daquelas que estão
diretamente no chão da sala de aula: docente.
Quando discutimos educação, é importante trazer como centralidade o ser professor.
Compreendemos que a identidade docente se constrói com o decorrer da sua carreira
profissional, com o dia-a-dia nas escolas. Além da identidade profissional dos docentes se
construírem com o tempo de ensino, o domínio de conteúdo se consolida com a prática dentro
da sala de aula, porém, precisamos pensar em formações continuadas de professores, para que
cada vez mais, consigamos profissionais capacitados e habilitados para realizar um ensino de
qualidade, como diz Rios (2003 p.81) “[...] o desenvolvimento da competência conduz à
formação de um indivíduo qualificado”.
Sabe-se também que existem profissionais que acham que participar de formações não
é uma atividade importante, professores esses que adotam métodos arcaicos e, mesmo com o
passar do tempo, das idéias, das opiniões, insistem em não reformular suas práticas. De
acordo com ARRUDA:
Acreditamos que para que aconteça uma atualização dos métodos de ensino faz-se
necessário reformar o pensamento em relação ao ser professor, a formações continuadas, às
metodologias ativas, levando em conta que os recursos didáticos são oportunidades
fundamentais para outras novas formas de atuação docente.
Consideramos que mais formações de professores precisam acontecer, o Estado
precisa cada vez mais qualificar os seus profissionais e sabemos que, quando tratamos de
formação continuada de professores, no que tange a educação especial, ainda há muito a ser
feito enquanto política educacional. Todo professor precisa estar preparado para receber um
aluno com deficiência em sua sala de aula, precisa conhecer as melhores estratégias para
conseguir ensinar os conteúdos, com isso, acreditamos que o professor precisa buscar
formações na área da educação especial para se preparar para tal situação, e que é obrigação
do Estado ofertar condições para que os docentes possam se preparar para atuar de forma
coerente e inclusiva.
Quando tratamos de professores de salas de recursos multifuncionais, de AEE,
sabemos que é necessário formações específicas para atuar nesses ambientes, mas
acreditamos também que o professor de AEE precisa está em busca de conhecimentos a cada
instante, pois nunca sabe qual deficiência vai chegar até eles, então, pensando por esse lado, a
formação continuada é indispensável. Dessa forma, de acordo com Correia (2008):
É importante haver uma troca entre professores de sala de aula regular, com
professores de AEE, essa é uma orientação presente nos objetivos do AEE que raramente
acontece na prática. Muitas vezes, os professores das salas de aula regulares não se interessam
em conversar com o professor do AEE, exemplo este, citado pela a professora amostra desta
pesquisa, onde a mesma relata a falta de interação entre ela e os professores da sala regular.
Diante disso, podemos destacar a seguinte citação:
Dois (2) dos quatorze alunos (as), possuem autismo, onde um (1), estudante do 1º “A”
possui autismo ecolalia com baixo contato visual, agitação motora, e o outro do 3º “B”,
autismo leve com diabetes, enxaquecas e dificuldade de escrever. Um (1) dos quatorze (14)
possui síndrome de down e está matriculado na turma do 2º “C”. Três (3) dos quatorze (14),
matriculados respectivamente, no 1º “B” e 2º “A”, 3º “A”, são surdos.
Um (1) dos quatorze (14) alunos (as), possui dificuldades de aprendizagem, dislexia,
falta de atenção e deficiência intelectual leve, e o mesmo, está matriculado na sala do 2º “C”.
O último aluno (a), dentre os (as) quatorze (14) atendidos no AEE da escola, possui
intelectual leve, distúrbio de atenção e de conduta, e está matriculado (a) na sala do 3º “A”. A
respeito do acompanhamento desses alunos no atendimento educacional especializado durante
o ensino fundamental, não obtivemos essa informação, pois a pesquisa delimita-se apenas
sobre os atendimentos realizados durante o ensino médio.
A partir de agora, apresentaremos a análise dos dados baseada na entrevista, pensada
para tentarmos alcançar os objetivos deste estudo. É uma entrevista estruturada de (11)
questões realizada com a professora do AEE pela a plataforma google meet, pois
pessoalmente não foi possível acontecer o encontro por desavença de horários juntamente
com os dois dias de observações dos atendimentos, focado no ensino da Matemática.
Conforme evidenciado na metodologia, cinco (5) alunos e a professora do (AEE) da escola
investigada, foram a amostra deste estudo. A professora concordou em participar de forma
voluntária da pesquisa, além de concordar com a gravação da entrevista, como também,
nenhum dos cinco (5) alunos se incomodaram com as observações realizadas durante os
atendimentos dos mesmos. Todos os participantes desta pesquisa foram resguardados pelos
princípios éticos. Inicialmente, iremos apresentar os dados coletados a partir da entrevista
realizada com a professora, no qual já apresentamos anteriormente, com base em falas da
docente mediante a entrevista, em seguida, apresentaremos os resultados colhidos através das
observações dos atendimentos realizados com os cinco (5) alunos.
Continuando com o roteiro, indagamos sobre a relação dos estudantes atendidos no
AEE com a Matemática, ela respondeu:
Eu vou dizer assim por cima, né, porque é individual né, teria que falar individual,
mas tem três alunos que eles são os alunos que têm mais dificuldades, aí quando eu
levo qualquer atividade que seja relacionada a matemática, por mais simples
possível, eles já ficam assim, com medo de fazer, eles sentem mais dificuldades, eles
dizem…, isso os meninos da escola, do ensino médio, os pequenininhos eles fazem
assim tudo que é proposto, não reclamam ainda, né. Os da escola, os três eles
reclamam, dizem: tia, eu não consigo aprender, eu sou burro, eu não consigo prestar
atenção, e é exatamente a parte da Matemática que eles tem que fazer os cálculos,
19
eles dizem isso, então, eles tem essa aversão mesmo, mais é com medo de errar, com
medo de não entender, e não, de não gostar do que estão aprendendo, no caso de não
gostar da Matemática. A relação deles é essa. Eu acho que é mais por conta da
frustração que eles têm, deles saberem que sempre tiram nota baixa, que não
conseguem responder ou calcular determinada coisa, não é nem porque eles não
gostam de aprender. (AURORA, 2023)
Ou seja, pelo o que foi evidenciado, na maioria das vezes, os estudantes acabam não
gostando de Matemática por insegurança com os cálculos, devido às notas baixas nas
avaliações tanto internas como externas. Mas sabemos também que a Matemática é uma das
áreas de ensino bastante complexa, segundo Monteiro e Pretto (2012), a matemática é um
ramo da educação que também é complexa de ser abordada, pois envolve números, medidas, a
qual foi desenvolvida com o passar do tempo para suprir necessidades sociais dos indivíduos
a muitos anos atrás. Além de contar com uma infinidade de teoremas bastantes importantes
para o desenvolver da Matemática, como também, diversos axiomas, definições, lemas e etc.
Continuando com o roteiro: A escola/Estado tem oferecido formação para os
professores de AEE na área de Matemática?
autores: BRIGHENTI e SOUZA (2014) acreditam que [...] técnicas devem ser aprimoradas
constantemente e seus métodos e metodologias de ensino, consequentemente, atender às
necessidades que vão surgindo. Quando perguntado a professora Aurora sobre quais eram as
metodologias adotadas por ela para o ensino de Matemática, a mesma respondeu:
Eu vou falar em Matemática, mas é o que eu costumo usar também para as outras
coisas que eu apresento, eu sempre apresento recursos visuais, esse recurso visual ou
vai de algum material concreto que dê para eles pegarem, ou também de vídeos, que
eu sempre mostro o vídeo, nesses vídeos, ou vai ser de uma aula, que contenha
várias coisas ilustrativas, né, coisas diferentes, não apenas o visual, ou vai ser
música, utilizo essas coisas, dependendo da idade e da deficiência do aluno, né;
como também jogos, utilizo muitos jogos; a terceira via, é a atividade impressa, né,
que é depois que eu já passo por isso: pelo recurso visual, pelos jogos, para ter a
prática e no final a atividade impressa ou então atividade mesmo que eles respondam
no quadro, né, aquele mais ativo, para que eles fiquem ativos na hora de responder,
uma coisa mais lúdica, então eu uso essas quatro coisas, eu acho que só. (AURORA,
2023)
É o último recurso que eu uso é a atividade impressa, porque às vezes é muito chato,
aí eu sempre uso, ou eu uso o vídeo aí eu uso o jogo e uso a questão de responder no
quadro, agora quando não dá para responder no quadro aí eu levo impresso, né,
porque aí não dá para fugir também. Aí quando eu proponho uma coisa assim, não
se em algumas das aulas que você observou, eu mostrei, mas eles assim, ah de novo
ter que escrever, aí eu já coloco mesmo só jogo ou responder no quadro, uma coisa
rápida, mas nunca deixa de faltar, porque, assim, vou usar entre aspas, é quase
obrigatório, a questão do visual e do jogos para eles, porque é uma alternativa, no
AEE é uma alternativa né, porque a gente foge do convencional, por que se no
convencional eles não estão aprendendo, a gente busca uma alternativa, então é
obrigatório procurar esse outro meio, mais lúdico, mais fácil, que eles gostem, que
não seja chato, que eles possam visualizar, pegar, então é isso, além de interesse
também, o mais importante, que faça com que eles consigam aprender, porque a
gente procura uma coisa que ele consiga aprender. (AURORA, 2023)
Pronto, lá, tem tudo que você imaginar de jogos de matemática, viu?! Tem aqueles,
aqueles, escala Cuisenaire, que chama é… tem a escalazinha de Cuisenaire, tem o
material dourado, tem jogos de operações básicas da matemática, deixa eu vê o que
tem mais lá de Matemática, peraí que eu vou lembrando, tem os jogos que eu
produzo né, para levar quando não tem na sala eu produzo, aí tem jogo de dominó,
21
tem quebra cabeça, tem o soroban que é utilizado para alunos com cegueira né,
alunos com deficiência visual, tem o soroban, aí tem régua adaptada, tem as réguas
lá também, de medição, eu acho que só, é jogos e esse material que eu te falei, o
material das escalas lá… tem os de raciocínio lógico que também se encaixa na
Matemática de alguma forma, lá no outro armário também, um azul, que ele é
sempre trancado, lá tem tipo aquelas… me esqueci o nome agora, mulher, tem
tangram, tem aquela balança lá que eu não sei o nome (risos), calma aí que eu vou
lembrar, aquela balançazinha para equilibrar os pesos, é um joguinho de madeira que
a gente equilibra, eu acho que é isso, e tem aquele lá que é a torre de Hanoi.
(AURORA, 2023)
Pronto, para eu montar o material, é feito no início do ano, com uma aplicação de
uma diagnóstica com eles, né, então a partir dessa diagnóstica que eu faço com eles
ou da anamnese que é feita, eu tenho uma noção do que eles sabem ou não sabem,
por exemplo, eu acho que eu cheguei a te mostrar, mostrei? lógica de conseguir
montar a sequência numérica, se o aluno conseguiu fazer a sequência numérica eu já
vou saber que nos próximos atendimentos eu não vou precisar trabalhar a sequência
numérica, se ele não conseguiu eu vou trabalhar, se ele não conseguiu fazer as
operações básicas da Matemática, então todos atendimentos eu vou está vendo essas
operações básicas da Matemática [...] (AURORA, 2023)
22
Eu que noto quando eu estou aplicando prova com eles, aí eu aplico provas com eles
e vejo que eles não entenderam nada, aí eu que noto e procuro, entendeu? fazer as
coisas, o professor ele não procura não, e aí se você for perguntar, qualquer
professor vai dizer: não, é falta de tempo, é porque tem muito aluno na sala, não dá
para eu vê a deficiência de um, né, tô dizendo isso de Matemática, essas coisas, a
justificativa. (AURORA. 2023)
Realmente a sobrecarga de trabalho é um fator que pode fazer com que os professores
não procurem a professora para discutirem sobre cada aluno com deficiência que está
matriculado na sala regular. A partir disso, podemos perceber no quanto a sobrecarga pode
influenciar no trabalho realizado pelos os professores, como também, nas aprendizagens dos
estudantes, principalmente os estudantes que possuem deficiência.
Seguimos com o roteiro da entrevista, perguntamos: Quais são as suas maiores
dificuldades na hora da realização do ensino dos conteúdos de Matemática? Ela respondeu
23
que são duas dificuldades, uma é a questão dos estudantes, muitas das vezes, não saberem o
básico, enfatiza, que nessa questão, a própria deficiência trás suas dificuldades e acaba
colaborando para a não aprendizagem. A segunda dificuldade citada pela a professora é:
Mas a gente tenta né, eu digo que eu sou ruim, mas até agora eu não encontrei um
conteúdo que fosse passar para eles que eu sentisse dificuldades, porque como você
notou, são conteúdos básicos né, não tão avançados assim, então eu ainda não
encontrei, mas eu sou, é… como é que eu posso dizer… eu não sou muito boa em
Matemática, se um dia eu encontrasse, por exemplo, um aluno superdotado, porque
também eu terei que atendê-lo, aí eu sentiria dificuldade, eu já não conseguiria
acompanhar ele (risos), mas até agora eu não encontrei dificuldades não, mas eu
tenho minhas dificuldades também em Matemática, nunca fui boa. (AURORA,
2023)
[...] é um tema que eu vejo que para você como futura professora, né, e como
também, suas colegas, as pessoas que vão ler o seu trabalho, vão ter uma atenção
voltada para essa área, que é voltada a preocupação em ser um bom professor de
Matemática para os alunos com deficiência, até porque, futuramente você vai pegar
vários alunos com deficiência na sua profissão, as pessoas que vão ler o seu
trabalho, também, vão ter um norte, né, de como é a importância desse trabalho, e é
importante que o professor de Matemática dê atenção para esses alunos, para
entenderem quais são as dificuldades também, eu fico feliz das duas formas, de está
participando da sua pesquisa e de está contribuindo com o seu trabalho, contribuindo
com a sua formação, como também, saber que você se interessou e vai contribuir
24
com o seu trabalho para essa parte, na formação de outros profissionais, para ficar aí
como pesquisa, para né, os outros professores que venha vê o seu trabalho, e eu
também me sinto confortável de está participando, não me incomodei de nenhuma
forma nas suas observações, na sua participação, viu?! Foi show, por mim, foi só
coisas boas. (AURORA, 2023)
[...] desde quando eu ingressei na minha licenciatura, eu não tinha essa intenção de
trabalhar com a educação especial, né, foi devido mesmo ao encaminhar de
trabalhos, que eu ingressei nessa área, comecei a estudar para trabalhar nessa área, e
estou aí trabalhando até hoje, e eu sempre me senti muito feliz de trabalhar com isso,
muito orgulhosa de trabalhar com isso, cada dia mais, embora, é, eu veja que tem
dificuldades, que são muitas [...] (AURORA, 2023)
A mesma conclui sua fala frisando que para ela é maravilhoso sentir que está contribuindo
para aquele aluno que ela venha a ensinar, comentou também o quanto aprende com cada
estudante. E termina sua fala da seguinte forma:
Essa última fala da professora nos faz pensar no quanto a profissão de professor é bela, pois
ao passo que ensinamos nossos alunos, os alunos nos ensinam, e as experiências adquiridas
dentro das salas de aula são bagagens para a formação integral de ser professor. Por fim,
acreditamos que com a entrevista, nas partes que tange às metodologias adotadas pela a
professora, que consiste em recursos visuais, jogos e atividades impressas, e a respeito dos
recursos pedagógicos utilizados nos atendimentos, onde podemos citar novamente os jogos
matemáticos, conseguimos alcançar os objetivos desta pesquisa.
recursos didáticos utilizados. Os dias de observações foram escolhidos com base na minha
disponibilidade, a professora Aurora me deu total liberdade para vir em qualquer momento.
As observações dos atendimentos aconteceram em dois dias, sendo, os dois no período da
manhã. A primeira observação ocorreu no dia três de maio de dois mil e vinte três,
quarta-feira. Cheguei na escola, fui ao encontro da professora Aurora na sala de recursos
multifuncionais, fui bem recebida pela a docente que pediu para esperar um pouco pois ela
iria verificar se o aluno do primeiro atendimento já havia chegado na escola. Quando a mesma
retornou, avisou-me que o estudante ainda não estava presente na instituição e, que
provavelmente iria faltar, mas que eu podia ficar à vontade esperando o horário dos próximos
alunos a serem atendidos.
Às 7:30 o aluno do primeiro atendimento chegou, bem feliz, cumprimentou a
professora, a mesma explicou o motivo do porquê que eu estava lá, e o avisou que eu iria
observar o atendimento. O estudante não discordou. Sempre que falarmos deste estudante,
iremos identificá-los por A1 (aluno 1)
O A1 é um estudante com síndrome de down e está matriculado no segundo ano do
ensino médio, como já sabemos, a síndrome de down é uma condição genética causada por
um problema nos cromossomos. A professora avisou qual seria a primeira atividade dele que,
no caso, era ir até o quadro para ele colocar o nome dele. A escolha dessa atividade ocorreu
pelo fato do A1 ainda não conseguir escrever seu nome sem olhar, então, ele ainda está no
processo de alfabetização. A atividade se deu da seguinte forma: primeiro, a professora
colocou o nome dele na lousa e logo abaixo escreveu algumas linhas para ele repetir a escrita
do nome, pediu para ele soletrar letra por letra após repetir a escrita do nome. Apesar dessa
atividade não envolver Matemática é uma atividade essencial no processo de alfabetização do
próprio nome.
A segunda atividade, foi uma atividade de adição (+), mas antes de irem de fato
responder o que estava sendo proposto a professora escreveu os numerais na lousa e pediu
para o A1 ir reconhecendo, o mesmo conseguiu reconhecer os números escritos na lousa,
exceto, o 6 e o 9, pois ele sempre se confunde. Após o reconhecimento dos numerais, os dois
começaram a responder a atividade de adição. Pode-se perceber que o estudante possuía
bastante dificuldade na contação, se confundia na sequência numérica, além de não
reconhecer os símbolos que representam a operação de soma e de subtração, porém, mesmo
com todas as dificuldades do A1, a professora conseguiu que ele entendesse a atividade.
A terceira atividade foi com foco no reconhecimento do sistema monetário brasileiro,
para introduzir o assunto a professora Aurora utilizou de modelagem Matemática, onde a
26
mesma perguntou sobre o mercado do pai do A1, ele ficou super empolgado com a pergunta,
e citou diversas coisas vendidas no mercado de seu pai juntamente com o valor de cada coisa.
Logo depois, a professora explicou que eles iriam aprender sobre dinheiro e chamou o A1
para ir até o computador para assistir um vídeo na plataforma YouTube sobre o sistema
monetário. Após o vídeo, os dois começaram a realizar a quarta atividade, que consistia em
reconhecer as cédulas e moedas, para essa atividade, utilizou de cards de dinheiro falso. O A1
só conseguiu reconhecer a moeda de 1 real, as outras ele teve muita dificuldade.
O segundo atendimento do dia, foi de 8:40 às 9:50, onde seriam atendidos dois alunos,
porém, um deles, recusou o atendimento, pois acreditava não precisar, este aluno possui
TDAH e está no terceiro ano do ensino médio, então o compromisso da professora para com
ele, era auxiliando nas avaliações e incentivando-o em participar das atividades escolares. O
segundo aluno, uma de suas deficiências é a esquizofrenia, e estava passando por fortes crises,
então, por esse motivo, ele não estava comparecendo às aulas, e suas atividades eram
encaminhadas para casa.
O terceiro atendimento ocorreu de 9:50 às 11:30, eram dois alunos atendidos, os dois
com TDAH, porém, um possuía também TOD. A primeira atividade sobre Matemática,
consistia em resoluções de situações problemas utilizando as quatro operações matemáticas,
vale ressaltar que, os dois alunos estam matriculados no primeiro ano do ensino médio e que
iremos identificá-los por A2 e A3, onde o A2 era o que possuía apenas TDAH e o aluno 3 o
que possuía além de TDAH, TOD. Eram cards de situações problemas em que cada um
escolhia um card aleatório, lia em voz alta, e se dirigia ao quadro para responder. De início os
dois dominaram bem as operações, mas em um determinado momento o A2, não conseguiu
responder um problema que envolvia divisão, então, a professora pediu para que ele pensasse
um pouco mais sobre, em seguida o A2 teve dificuldade em outro problema que envolvia
soma e subtração juntos, e o mesmo não estava conseguindo assimilar as informações.
Enquanto isso, o A3 conseguiu responder todas as situações problemas, até mesmo as que o
A2 estava com dificuldade, então o A3 terminou suas atividades antes do horário. Enquanto
isso, a professora ficou ajudando o A2 nos problemas que ele estava com dificuldade, onde a
dificuldade maior dele, era a operação de divisão. Enquanto o A3 esperava o A2 para irem
para a sala, o mesmo ficou escrevendo expressões algébricas simples no quadro, como por
exemplo, 2X = 30 então X=?. Ao final do atendimento, o A3 explicou ao A2 como ele
poderia resolver as situações problemas que faltava ele responder, com isso, acabou os
atendimentos pela a parte da manhã.
27
A segunda observação, aconteceu no dia nove de maio de dois mil e vinte e três, no
período da manhã. O período do primeiro atendimento, era de 7:50 às 9:30, com dois alunos
sendo atendidos, onde os dois estão matriculados no primeiro ano do ensino médio. Um dos
alunos, será identificado como A4, no qual possui TDAH elevado, e o outro estudante, será
identificado como A5 e possui deficiência intelectual e TDAH. A primeira atividade do
atendimento, foi uma atividade sobre sequência lógica, onde a professora distribui para cada
um deles dez (10) fichas de objetos, incompletas, para eles descobrirem qual era a sequência,
e com isso, conseguir completar cada ficha.
O A5 conseguiu entender o objetivo da atividade mais rápido que o A4, enquanto o
A5 estava na décima ficha, o A4 estava na quarta ficha, lembrando que a atividade não era
uma competição, porém, comentamos esse momento, para vermos como se deu o processo de
cada um diante da atividade proposta. Na hora da correção, a professora foi conferir ficha por
ficha de cada aluno, primeiro ela corrigiu as fichas do A5, pois ele realizou a atividade
primeiro, com a correção, pode-se perceber que o estudante se confundiu no final de todas as
fichas, enquanto o A4 acertou todas as fichas.
A segunda atividade, de primeiro momento, era assistir dois vídeos sobre sistema
monetário, mesmo conteúdo do primeiro atendimento da primeira observação, porém, vídeos
com níveis de entendimento diferentes. Quando os dois alunos se dirigiram para a mesa do
notebook para assistir os vídeos, o A5, de início não conseguia se concentrar na atividade,
sempre se distraindo olhando para os papéis colados nas paredes. A partir do primeiro vídeo,
os dois alunos estavam aptos a identificar o conceito de equivalência, maior do que, menor do
que (< >), assuntos esses, comentados durante o vídeo. Quando se deu início ao segundo
vídeo, novamente o A5 não conseguiu se concentrar na atividade. Após assistirem os dois
vídeos, os estudantes, começaram a realização da segunda atividade do dia, atividade esta,
sobre situações problemas envolvendo o sistema monetário, para realizar esta atividade, a
professora utilizou de dinheiro falso como material didático. A atividade se deu da seguinte
forma: os estudantes escolhiam uma situação problema aleatória, em seguida, liam,
respondiam, e por fim, pegavam a solução, e formavam a quantidade com as cédulas e
moedas disponibilizadas pela a professora. Os dois alunos conseguiram sair bem diante das
situações problemas, apenas, quando chegaram na última situação problema, os dois sentiram
dificuldade para respondê-la.
A terceira atividade do atendimento, tinha como objetivo, os dois alunos descobrirem
quais parcelas somadas dariam o total escolhido pela a professora, onde os mesmos,
utilizaram do material didático trago pela professora: os dinheiros falsos. A professora
28
utilizou do mesmo exemplo para os dois alunos, o primeiro a responder foi o A4, a docente
escolheu um total e ele tinha que formar, com o dinheiro, as parcelas, que quando somadas,
resultam no valor total escolhido pela docente. Apesar de ser o mesmo exemplo, os dois
alunos não podiam repetir a solução. No segundo exemplo, o A5 se confundiu um pouco na
hora da resolução. Para o terceiro exemplo, a professora mudou o método, ao invés de os
alunos descobrirem duas parcelas em prol do total, ela já disponibilizou uma parcela,
juntamente com o total, então, os dois precisavam encontrar apenas a outra parcela. De início
o A4 se confundiu e não estava conseguindo realizar a atividade, o A5 respondeu, porém,
quando a professora foi corrigir, ele tinha errado a solução, pois não tinha compreendido bem
o que era para ser feito.
Com o fim da terceira atividade, partiram para a realização da quarta e última
atividade do atendimento. A quarta atividade, era um exercício impresso, com sete (7)
questões sobre o sistema monetário. As questões envolviam, essencialmente, a operação de
multiplicação, além de, preços de produtos e armar a conta para realizar as operações. O A4,
de início, ficou nervoso, e não conseguiu entender o que as questões estavam pedindo,
enquanto o A5, estava conseguindo realizar a atividade.
Em uma das questões havia a abordagem da adição de números decimais, e o A4 não
conseguiu resolver. Quando o A5 terminou, o mesmo pediu para que a professora olhasse a
atividade dele, para saber se estava correta, quando a professora começou a corrigir, percebeu
que ele havia errado duas questões, então a mesma, pediu para que ele refizesse as questões.
Enquanto isso, o A4 ainda estava respondendo a atividade, porém, estava tendo bastante
dificuldades com as operações básicas da Matemática. O A5 refez as questões que tinha
errado, na última questão, o A5 somou ao invés de subtrair, que era o que a questão pedia,
quando a professora foi corrigir, ela disse que estava certo, o que de fato estava, porém a
questão não pedia para somar os valores informados, e sim, subtrair, ao final. Nem o A5, nem
a professora, perceberam esse engano. Como o A5 terminou a atividade antes do A4, o
mesmo foi liberado para ir para a sala, enquanto o A4 ficou respondendo a atividade. Quando
acabou o atendimento dos dois, a professora informou-me que não haveria os próximos
atendimentos, pois os alunos que seriam atendidos estavam participando de uma apresentação
e o horário do atendimento, seria o horário do ensaio.
Podemos perceber com as observações quais as metodologias adotadas pela a docente
na hora de repassar os conteúdos, os recursos didáticos utilizados, e o desenvolvimento dos
alunos atendidos. Lembrando que cada aluno possui suas limitações, muitas delas que provém
29
da própria deficiência, então não devemos comparar os alunos entre si e nem os níveis em que
cada um se encontra.
Com base nas observações, podemos perceber o quão é importante o atendimento
educacional especializado, no sentido de complementar as aprendizagens dos alunos com
deficiência, pois muitas vezes, os professores da sala de aula regular não dão conta de
dedicarem um atendimento específico para cada aluno, sendo assim, os alunos com
deficiência acabam sendo “deixados de lado” e por consequência, tardando os processos de
aprendizagens. No campo do ensino de Matemática, focando na Matemática do ensino médio,
os estudantes atendidos na sala de recursos multifuncionais estão fragilizados em relação a
domínio de conteúdos, mas faz-se necessário lembrar que cada deficiência trás suas
limitações, o que acaba influenciando na aprendizagem, como também, podemos elencar a
grande dificuldade dos alunos em geral em relação a aprendizagem matemática, por se tratar
de uma área bastante complexa, como já mencionado anteriormente. Articulando a entrevista
realizada com a professora e as práticas observadas da docente, percebemos que a professora
cumpre com o que relatou na entrevista.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ARRUDA, M. P.; ARAÚJO, A. P.; LOCKS, G. A.; PAGLIOSA, F.L. Educação permanente:
uma estratégia metodológica para os professores da saúde. Revista Brasileira de Educação
Médica. 2008; 32(4); 518-524.
FILHO, EEMTI Lourenço. Projeto político pedagógico. Escola Estadual do Ceará. Crateús,
2023.
FULLAN, M., HARGREAVES, A. Por que é que vale a pena lutar? O trabalho de equipa
na escola. Porto: Porto Editora, 2001.
MANTOAN, Maria Tereza Eglér. Inclusão escolar: o que é? por quê? como fazer? São
Paulo: Moderna, 2003.
MARTINS, Lúcia de Araújo Ramos. Inclusão escolar: algumas notas introdutórias. In:
MARTINS, Lúcia de Araújo Ramos. Inclusão: compartilhando saberes. Petrópolis/RJ: Vozes,
2006. p. 17-26.
RIOS, T. A. (2003). Compreender e ensinar: por uma docência da melhor qualidade. 4. ed.
São Paulo: Cortez.