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ESTADO DO CEARÁ
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
GABINETE DESEMBARGADORA MARIA IRANEIDE MOURA SILVA

Processo: 0050048-40.2021.8.06.0080 - Apelação Cível


Apelante: Maria Aurileide de Almeida Alcantara. Apelado: Município de Graça.
Custos Legis: Ministério Público Estadual

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MARIA IRANEIDE MOURA SILVA, liberado nos autos em 27/09/2023 às 22:58 .
MANDADO DE SEGURANÇA. SERVIDORA PÚBLICA EFETIVA.
EXERCÍCIO DE CARGO EM COMISSÃO. GRATIFICAÇÃO DE
REPRESENTAÇÃO. PLEITO DE INCORPORAÇÃO À

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjce.jus.br/esaj, informe o processo 0050048-40.2021.8.06.0080 e código 2E83D63.
REMUNERAÇÃO. ARTIGO 121 DA LEI MUNICIPAL Nº 61/1994.
ESTATUTO DOS SERVIDORES PÚBLICOS MUNICIPAIS.
EXIGÊNCIA DE PERÍODO DE 08 ANOS CONSECUTIVOS OU 10
ANOS INTERCALADOS NO EXERCÍCIO DE CARGO EM
COMISSÃO. IMPETRANTE EXERCEU O CARGO POLÍTICO DE
CONTROLADORA GERAL DO MUNICÍPIO, EQUIVALENTE A
SECRETÁRIO MUNICIPAL E SECRETARIA DO TRABALHO E
ASSISTÊNCIA SOCIAL. PARTE DO TEMPO COMPUTADO.
NATUREZA JURÍDICA DIVERSA DA PREVISTA EM LEI.
IMPOSSIBILIDADE DE INCLUSÃO DESSE PERÍODO.
PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO. AUSÊNCIA DE
ILEGALIDADE PASSÍVEL DO CONTROLE JUDICIAL. APELAÇÃO
CÍVEL CONHECIDA E DESPROVIDA.

1. Cuida-se de Apelação Cível visando a reforma da sentença que denegou a segurança


pleiteada nos autos do Mandado de Segurança com pedido liminar, impetrado contra ato
reputado ilegal e abusivo do Prefeito do Município de Graça.

2. Impetrante, servidora pública do município/recorrido, aduz que a autoridade coatora


editou a Portaria n.º 28/2021, de 08 de janeiro de 2021, determinando a suspensão de
gratificações pagas aos servidores municipais e, em 13 de janeiro de 2021, foi notificada
da suspensão de sua gratificação, devendo “apresentar defesa escrita no Processo
Administrativo n.º 001/2021, instaurado pelo próprio Procurador Geral do Município.
Afirma que “o ato de supressão da gratificação incorporada, praticado pela
AUTORIDADE COATORA, deixou de obedecer ao comando constitucional de
garantia do contraditório e da ampla defesa, sendo, portanto, ilegal”. Requer a tutela de
urgência para que seja determinada a suspensão da Portaria n.º 28/2021,
restabelecendo prontamente o pagamento da gratificação incorporada, determinando a
suspensão do processo administrativo n.º 01, e no mérito, pugna a confirmação da
medida liminar concedida, com o julgamento procedente do presente writ.
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3. Conforme o art. 121, do Estatuto dos Servidores Públicos do Município de Graça


(Lei nº 061/1994), é assegurado o direito à incorporação da gratificação pelo exercício
ininterrupto por 8 (oito) ou 10 (dez) anos, consecutivos ou não, em função de
confiança.

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4. Das provas acostadas aos autos, verifica-se que a apelante, servidora pública
municipal, exerceu cargos em comissão na estrutura administrativa do Município de
Graça por um período total de 120 meses de exercício não contínuo, sendo 33 meses

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como Assessora Técnica; 24 meses como Assessora de Cont. Interno; 07 meses como
Assessora de Cont. Interno; 17 meses como Controladora Geral Município CC-03 e
39 meses como Sec. do Trab. Assist. Social.

5. Impetrante ocupou o cargo de Secretaria do Trabalho e Assistência Social, pelo


período de 39 meses, que corresponde a 03 anos. O cargo de Controladora Geral do
Município, que ocupou pelo período de 17 meses, que corresponde a 01 ano e 05
meses, equivalente a Secretário Municipal, tem essencialmente natureza política.

6. O detentor do cargo de Secretário Municipal recebe a contraprestação pecuniária pelo


seu labor em forma de subsídio, de modo que qualquer regra em sentido contrário seria
plenamente inconstitucional. Deriva daí o entendimento de que o período exercido em
tal cargo político não poderá ser computado para os fins postulados na lide.

7. A função de Secretária Municipal não se enquadra em cargo de confiança em sua


essência, tratando-se de cargo político, exercido por sua própria natureza de forma
precária e determinada, estando veiculado à ascensão por eleição.

8. Os períodos no qual a parte apelante exerceu o cargo de Secretária Municipal não


podem ser utilizados para efeitos de incorporação. Retirando-se tais tempos de
exercício de cargo político, conclui-se que a impetrante recorrente não logrou
acumular o tempo total necessário de 120 meses intercalados para a incorporação da
verba a qual pleiteia, de modo a não se verificar o direito líquido e certo vindicado.

9. Apelação Cível conhecida e desprovida.

ACÓRDÃO: Vistos, relatados e discutidos estes autos, acorda a 2ª Câmara Direito Público do
Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, por unanimidade de votos, em conhecer do
Recurso de Apelação, negando-lhe provimento, nos termos do voto da relatora.

Fortaleza, dia e horário registrados no sistema.


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Presidente do Órgão Julgador

DESEMBARGADORA MARIA IRANEIDE MOURA SILVA


Relatora

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MARIA IRANEIDE MOURA SILVA, liberado nos autos em 27/09/2023 às 22:58 .
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RELATÓRIO

Cuida-se de Apelação Cível interposta por Maria Aurileide de


Almeida Alcântara, visando a reforma da sentença prolatada pelo Juízo da Vara
Única da Comarca de Graça/CE, que denegou a segurança pleiteada nos autos do
Mandado de Segurança com pedido liminar, impetrado contra ato reputado ilegal e
abusivo do Prefeito do Município de Graça.

Na peça exordial(págs. 01/18), aduz a impetrante, em síntese, que a


autoridade coatora editou a Portaria n.º 28/2021, de 08 de janeiro de 2021,
determinando a suspensão de gratificações pagas aos servidores municipais e, em 13
de janeiro de 2021, foi notificada da suspensão de sua gratificação, devendo
“apresentar defesa escrita no Processo Administrativo n.º 001/2021, instaurado pelo
próprio Procurador Geral do Município. Afirma que “o ato de supressão da
gratificação incorporada, praticado pela AUTORIDADE COATORA, deixou de
obedecer ao comando constitucional de garantia do contraditório e da ampla defesa,
sendo, portanto, ilegal”. Requer a tutela de urgência para que seja determinada a
suspensão da Portaria n.º 28/2021, restabelecendo prontamente o pagamento da
gratificação incorporada, determinando a suspensão do processo administrativo n.º
01, e no mérito, pugna a confirmação da medida liminar concedida, com o
julgamento procedente do presente writ.

Liminar indeferida às págs. 235/238.


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O Município de Graça ofereceu informações, mencionando que “ao


servidor foi concedida incorporação de GRATIFICAÇÃO DE REPRESENTAÇÃO
PELO EXERCÍCIO DO CARGO DE SECRETÁRIO MUNICIPAL, em total afronta a
Constituição Federal de 1988, que afirma que os Subsídios de Secretário Municipal

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serão pagos em verba única, vedado o acréscimo de qualquer gratificação,
adicional, abono, prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória.”.
Acrescenta que a servidora não comprovou o exercício de cargo em comissão por

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120(cento e vinte) meses, de maneira que não faz jus à referida incorporação. Ao
final, requer a improcedência da presente demanda. (págs. 258/268)

O Ministério Público atuante em primeiro grau manifestou-se pela


denegação da segurança requestada, nos termos do parecer de págs. 334/336.

Proferida sentença às págs. 339/342, onde o magistrado


sentenciante julgou a demanda nos seguintes termos:

“(…)
Isto posto, é certo que, ao emanar a Portaria nº 28/2021, a
Administração Pública Municipal, no exercício da autotutela
administrativa, reviu posicionamento anterior,
fundamentadamente, delineado no Estatuto dos Servidores
Municipais, para coadunar-se com o previsto na CF e as
inúmeras decisões dos Tribunais Pátrios, declarando a
suspensão das gratificações pagas em razão do exercício de
cargos em comissão.
(…)
Por fim, saliento que a supressão das gratificações recebidas pela
impetrante em nada viola a previsão contida no art. 24, da
LINDB, vez que o caso em análise não comporta a aplicação do
dispositivo acima, haja vista que não se pode tolher o direito-
dever da Administração Pública de rever seus atos com base em
mudanças de entendimento, visando atender ao interesse
público.
Diante do exposto, não vislumbrando, in casu, direito líquido e
certo do autor à agregação das gratificações pleiteadas, nem ato
ilegal da Prefeita de Graça/CE ou de sua Procuradoria, razão
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pela qual julgo improcedente o feito e DENEGO A


SEGURANÇA.
(…)” (págs. 339/342)

Em suas razões recursais, a impetrante alega que a Portaria nº

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28/21, além de não especificar as situações que pretende normatizar (daí ser
genérica), aponta como inconstitucional o instituto do apostilamento (estabilidade
financeira), insulta ao princípio constitucional da irredutibilidade dos vencimentos

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(CF/88, art. 37, inciso XV), afronta ao princípio constitucional da ampla defesa e do
contraditório (CF/88, art. 5.º, inciso LV), implica na proibida antecipação de
nulidade da incorporação para ilegalmente suprimir o pagamento da gratificação
incorporada à apelante, ofende dispositivo do Decreto-lei n.º 4.657, de 04.09.1942
(Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro) e, finalmente, viola a regra de
competência (§ 1.º do art. 111 da Lei Orgânica do Município), daí a existência
violação ao direito líquido e certo que reclame a concessão de segurança da autora
impetrante.

Pugna, ao final, o provimento do recurso, com a concessão da


segurança pleiteada, determinando o restabelecimento do pagamento da
gratificação de Controlador Geral do Município legalmente incorporada pela
impetrante, bem como o pagamento das verbas remuneratórias não recebidas
desde o momento da impetração do mandado de segurança, e aplicação da Súmula
271. (págs. 347/368)

Contrarrazões recursais pela manutenção do julgado. (págs.


372/383)

Cumpridas as formalidades legais, vieram os autos a esse e.


Tribunal de Justiça e distribuídos a esta Relatoria(pág. 387), que encaminhou o feito
à Procuradoria de Justiça(pág. 388), onde emitiu parecer pelo conhecimento e
desprovimento do apelo, devendo ser confirmada a sentença de primeiro
grau(págs. 392/400).

É o Relatório sucinto dos fatos essenciais.

VOTO
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Em Juízo de admissibilidade, conheço do Recurso de Apelação, posto


que preenchido os requisitos legais próprios intrínsecos e extrínsecos.

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Na hipótese vertente, o cerne do recurso apelatório cinge-
se em analisar o direito à incorporação aos vencimentos da servidora
impetrante Maria Aurileide de Almeida Alcântara, da gratificação de

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representação relativa ao cargo de Controladora Geral do Município,
com fundamento no artigo 121 da Lei Municipal nº 61/1994 (Estatuto
dos Servidores Públicos do Município de Graça), percebida durante o
período em que exerceu cargo comissionado perante a Administração
Pública Municipal.

Com efeito, das provas acostadas aos autos, verifica-se que a apelante,
servidora pública municipal, exerceu cargos em comissão na estrutura administrativa
do Município de Graça por um período total de 120 meses de exercício não contínuo,
conforme certidão acostada aos autos à pág. 28, sendo 33 meses como Assessora
Técnica; 24 meses como Assessora de Cont. Interno; 07 meses como Assessora de
Cont. Interno; 17 meses como Controladora Geral Município CC-03 e 39 meses como
Sec. do Trab. Assist. Social.

Relata a impetrante, que com fundamento no art. 121 da Lei


Municipal nº 61, de 16 de maio de 1994 - Estatuto dos Servidores Públicos do
Município de Graça/CE, escolheu a representação (gratificação) do cargo em
comissão de Controlador para ser incorporada aos seus vencimentos. Transcrevo o
teor do dispositivo supramencionado, in verbis:

Art. 121. O servidor investido em cargo em comissão, quando deste


afastado depois de 8 (oito) anos, sem interrupção, ou 10 (dez) anos
consecutivos ou não, fica com o direito de continuar a perceber a
representação correspondente ao cargo em comissão que ocupava à época
do afastamento, garantida a incorporação desta vantagem aos proventos
de aposentadoria.
§ 1º - Também para integralização do tempo de serviço
exigido no “caput” deste artigo, computar-se-á o período em
que o servidor atuar como membro de comissões percebendo
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gratificação equivalente a cargo comissionado a qualquer


tempo.
§ 2º - O servidor beneficiado pelo disposto neste artigo
poderá optar pela maior representação dos cargos em
comissão exercidos, no qual tenha permanecido por um

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período mínimo de 12 (doze) meses.

Após apreciação da legislação aplicável ao caso, conclui-se que para

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ter direito à prefalada incorporação da gratificação percebida pelo desempenho de
cargo comissionado, deve comprovar ser servidor efetivo, com exercício de cargo em
comissão por 08 (oito) anos sem interrupção ou 10 (dez) anos consecutivos ou não.

A Constituição Federal, com a redação vigente após a publicação da


Emenda Constitucional nº 19/1998, instituiu regime jurídico remuneratório autônomo
e específico para os detentores de mandato eletivo, membros de Poder, os Ministros
de Estado e Secretários Estaduais e Municipais, estabelecendo, em seu artigo 39, §4º,
que “O membro de Poder, o detentor de mandato eletivo, os Ministros de Estado e os
Secretários Estaduais e Municipais serão remunerados exclusivamente por subsídio
fixado em parcela única, vedado o acréscimo de qualquer gratificação, adicional,
abono, prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória, obedecido, em
qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI.”.

Do texto constitucional emerge a compreensão de que o detentor do


cargo de Secretário Municipal recebe a contraprestação pecuniária pelo seu labor em
forma de subsídio, de modo que qualquer regra em sentido contrário seria
plenamente inconstitucional. Deriva daí o entendimento de que o período exercido
em tal cargo político não poderá ser computado para os fins postulados na lide.

Efetivamente, os cargos de secretário são considerados “cargos


políticos” e não simplesmente cargos em comissão. Sobre o assunto, colhe-se
precedente do Pretório Excelso, in verbis:
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Ementa: CONSTITUCIONAL. NOMEAÇÃO PARA CARGOS


POLÍTICOS. HIPÓTESE NÃO ALCANÇADA PELA SÚMULA
VINCULANTE 13. A APROVAÇÃO DE SÚMULA VINCULANTE
PRESSUPÕE A EXISTÊNCIA DE REITERADAS DECISÕES SOBRE

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A MATÉRIA (ART. 113-A, CF/1988). OS REPRESENTATIVOS QUE
DERAM ORIGEM AO ENUNCIADO VINCULANTE 13
LIMITARAM-SE A DISCUTIR NOMEAÇÕES PARA CARGOS EM

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COMISSÃO E FUNÇÕES DE CONFIANÇA, CONFORME
PREVISÃO DO ART. 37, V, CF/1988. DIFERENTEMENTE, A LIVRE
NOMEAÇÃO PARA O PRIMEIRO ESCALÃO DE APOIO AO
CHEFE DO PODER EXECUTIVO ENCONTRA PREVISÃO NO
ART. 84 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, ENTENDIMENTO
APLICÁVEL, POR SIMETRIA, AOS SECRETÁRIOS ESTADUAIS
E MUNICIPAIS (ART. 76, CF/1988).
1. Nos representativos que embasaram a aprovação da Súmula
Vinculante 13, a discussão centrou-se nas nomeações para cargos em
comissão e funções de confiança da administração pública (art. 37, V,
CF/1988), conforme demonstram os quatro precedentes: a ADC 12
(Rel. Min. AYRES BRITTO, Tribunal Pleno, julgamento em 16/2/2006,
DJ de 1º/9/2006), que declarou a constitucionalidade da Resolução
7/2005 do Conselho Nacional de Justiça, vedando o nepotismo no
Poder Judiciário; a ADI 1.521 (Rel. Min. RICARDO
LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em 19/3/2013, DJe de
13/8/2013); o MS 23.780 (Rel. Min. JOAQUIM BARBOSA, Tribunal
Pleno, julgado em 28/09/2005, DJ 3/3/2006); e o RE 579951 RG (Rel.
Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em
20/08/2008, DJe de 23/10/2008, resultando no julgamento do Tema 66,
com tese fixada no sentido de que a vedação ao nepotismo não exige
a edição de lei formal para coibir a prática, dado que essa proibição
decorre diretamente dos princípios contidos no art. 37, caput, da
Constituição Federal.
2. A grande distinção é que a construção do enunciado se refere
especificamente ao art. 37, V, CF/1988, e não a cargos políticos e
nomeação política. A previsão de nomeação do primeiro escalão do
chefe do Executivo está no art. 84 da Constituição Federal, tal
entendimento deve ser aplicado por simetria aos Secretários
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estaduais e municipais (art. 76, da CF/1988).


3. A nomeação de parente, cônjuge ou companheira para cargos de
natureza eminentemente política, como no caso concreto, em que a
esposa do Prefeito foi escolhida para exercer cargo de Secretária
Municipal, não se subordina ao Enunciado Vinculante 13 (Rcl 30.466,

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de minha relatoria, 1ª Turma, Dje de 26/11/2018).
4. Reclamação a que se julga improcedente.
(Rcl 31732, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão:

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ALEXANDRE DE MORAES, Primeira Turma, julgado em 05/11/2019,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-019 DIVULG 31-01-2020 PUBLIC
03-02-2020) Destaquei.

Acerca da impossibilidade de considerar o cargo de secretário para


fins de incorporação de gratificação, observe-se o que decidiu este Tribunal de Justiça
no precedente a seguir transcrito:

ADMINISTRATIVO. CONSTITUCIONAL. MANDADO DE


SEGURANÇA. MUNICÍPIO DE GRAÇA. SERVIDOR EFETIVO
QUE EXERCEU AS FUNÇÕES DE SECRETÁRIO MUNICIPAL E
CHEFE DE GABINETE. INCORPORAÇÃO DE GRATIFICAÇÃO
DO CARGO. INVIABILIDADE. CARGO POLÍTICO. VEDAÇÃO
CONSTITUCIONAL. NÃO CONTEMPLAÇÃO DO REQUISITO
TEMPORAL. APELAÇÃO CONHECIDA E DESPROVIDA.
SENTENÇA MANTIDA.
1. O cerne do recurso apelatório cinge-se em analisar o direito à
incorporação aos vencimentos do Sr. Simão Pedro Brito da
gratificação percebida durante os períodos em que exerceu cargos
comissionados perante a Administração Pública Municipal.
2. No caso em tela, a parte apelante relata ser servidor público
municipal, tendo sido investido em cargos comissionados junto a
Administração Pública Municipal por um período total de 121 meses,
conforme certidão acostada aos autos às fls. 74, sendo 57 meses como
Secretário de Saúde, 34 meses como Chefe de Gabinete, 05 meses
como Subchefe de Gabinete, 20 meses em cargos comissionados
relacionados ao Magistério e 05 meses como Ouvidor.
3. Observo que a função de Secretário Municipal e Chefe de Gabinete
não se enquadram em cargos de confiança em sua essência, tratando-
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se de cargo político, exercido por sua própria natureza de forma


precária e determinada, estando veiculado à ascensão por eleição.
4. Logo, conclui-se que os períodos no qual a parte apelante exerceu
o cargo de Secretário Municipal e de Chefe de Gabinete não podem
ser utilizados para efeitos de incorporação. Retirando-se tais

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tempos de exercício de cargo político, vejo que o impetrante
recorrente não logrou acumular o tempo total necessário de 120
meses intercalados para a incorporação da verba a qual pleiteia.

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5. Recurso conhecido e desprovido.
(Apelação Cível - 0050151-91.2021.8.06.0130, Rel. Desembargador(a)
RAIMUNDO NONATO SILVA SANTOS, 2ª Câmara Direito Público,
data do julgamento: 26/10/2022, data da publicação: 26/10/2022)
Destaquei.

No presente caso, a impetrante escolheu a representação (gratificação)


do cargo em comissão de Controladora Geral do Município, cargo equivalente a
Secretário Municipal, conforme consta dos termos do procedimento administrativo
de pág. 25, para ser incorporada aos seus vencimentos.

Verifica-se que a impetrante ocupou o cargo de Secretaria do Trabalho


e Assistência Social, pelo período de 39 meses, que corresponde a 03 anos.

Ademais, o cargo de Controladora Geral do Município, que ocupou


pelo período de 17 meses, que corresponde a 01 ano e 05 meses, equivalente a
Secretário Municipal, tem essencialmente natureza política, sendo o seu detentor o
substituto natural do titular da pasta.

Nesse contexto, tem-se que o cargo político da impetrante era de


evidente precariedade, o que não viabiliza a estabilidade orçamentária, tampouco se
verifica a obrigação do Município de incorporar tal valor, pois é admissível para
qualquer um que um novo Prefeito designe, para cargos dessa natureza, pessoas de
sua confiança.

Ressaltando que, retirando-se os 56 (cinquenta e seis) meses relativos


ao tempo em que laborou a apelante nesses cargos, não resta cumprido o requisito
temporal legalmente previsto, de modo a não se verificar o direito líquido e certo
vindicado.
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Ademais, o legislador constituinte estabeleceu que a classe de agentes


políticos, na qual se inserem os Prefeitos, Vice-Prefeitos e Secretários Municipais,
seriam remuneradas exclusivamente por subsídio fixado em parcela única, sendo
vedada qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de representação ou

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qualquer outra forma de acréscimo ao valor já percebido ou de reajuste atrelado à
forma de concessão aos demais servidores municipais.

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É o que dispõe o artigo 39, §§ 4º e 9º da Constituição Federal, cuja
redação ora transcrevo:

“Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão,


no âmbito de sua competência, regime jurídico único e planos de carreira para
os servidores da administração pública direta, das autarquias e das fundações
públicas.
(...)
§ 4º O membro de Poder, o detentor de mandato eletivo, os Ministros de Estado
e os Secretários Estaduais e Municipais serão remunerados exclusivamente por
subsídio fixado em parcela única, vedado o acréscimo de qualquer
gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de representação ou outra espécie
remuneratória, obedecido, em qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
(…)
§ 9º É vedada a incorporação de vantagens de caráter temporário ou
vinculadas ao exercício de função de confiança ou de cargo em
comissão à remuneração do cargo efetivo”.

Quanto ao procedimento administrativo deflagrado para averiguar a


regularidade da situação remuneratória da impetrante, constata-se, pela
documentação carreada às págs. 25/27, que não há configuração de ilegalidade,
tendo a Chefe do Executivo determinado à Procuradoria-Geral daquele Município,
a abertura do processo respectivo, no qual foram oportunizados ao servidor a
ampla defesa e o pleno exercício do contraditório.

ISSO POSTO,
fls. 419

ESTADO DO CEARÁ
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
GABINETE DESEMBARGADORA MARIA IRANEIDE MOURA SILVA

em consonância com o parecer ministerial, conheço do Recurso de


Apelação, mas para negar-lhe provimento, mantendo incólume a sentença planicial.

Sem condenação em honorários advocatícios, em face do que dispõem

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MARIA IRANEIDE MOURA SILVA, liberado nos autos em 27/09/2023 às 22:58 .
o artigo 25 da Lei Federal nº 12.016/2009 e as Súmulas nº 512, do Supremo Tribunal
Federal, e nº 105, do Superior Tribunal de Justiça.

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjce.jus.br/esaj, informe o processo 0050048-40.2021.8.06.0080 e código 2E83D63.
É como voto.

Fortaleza, dia e horário registrados no sistema.

Maria Iraneide Moura Silva


Desembargadora Relatora
fls. 420

ESTADO DO CEARÁ
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
SECRETARIA DA 2ª CÂMARA DIREITO PÚBLICO
Nº 0050048-40.2021.8.06.0080 Apelação Cível - Graça

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por ISMENIA NOGUEIRA ALENCAR BITENCOURT, liberado nos autos em 28/09/2023 às 21:00 .
Apelante: Maria Aurileide de Almeida Alcântara.
Apelado: Município de Graça.

CERTIDÃO

Certifico que, na sessão ordinária hoje realizada, foi julgado o presente

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjce.jus.br/esaj, informe o processo 0050048-40.2021.8.06.0080 e código 2E8C2C4.
processo, sob a Presidência da Exma. Sra. Desa. TEREZE NEUMANN
DUARTE CHAVES – Presidente da 2ª Câmara de Direito Público.

Sendo Relatora: Exma. Sra. Desa. MARIA IRANEIDE MOURA SILVA.

Decisão: "A Turma, por unanimidade, conheceu do recurso de Apelação, negando-


lhe provimento, nos termos do voto da Relatoria."

Julgadores: Exmos. Srs. Deses. MARIA IRANEIDE MOURA SILVA –


Relatora, LUIZ EVALDO GONÇALVES LEITE E TEREZE NEUMANN
DUARTE CHAVES.

Presente: Exmo. Sr. Dr. Luís Laércio Fernandes Melo – Procurador de


Justiça.

O referido é verdade. Dou fé.

SALA DAS SESSÕES DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ


27 de setembro de 2023.

ISMÊNIA NOGUEIRA ALENCAR BITENCOURT


COORDENADORA

Tribunal de Justiça do Estado do Ceará


Centro administrativo Gov. Virgilio Távora - Av. Gal. Afonso Albuquerque, s/n – Cambeba -
CEP: 60.822.-325 – Fortaleza – CE - Fone: * 0(**)85 – 3207-7000

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