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PROJUDI - Recurso: 0005496-86.2023.8.16.0000 - Ref. mov. 48.

2 - Assinado digitalmente por Lenice Bodstein:6546


26/06/2023: JUNTADA DE ACÓRDÃO. Arq: Voto Vencido (Desembargadora Lenice Bodstein - 11ª Câmara Cível)

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ
11ª CÂMARA CÍVEL

Validação deste em https://projudi.tjpr.jus.br/projudi/ - Identificador: PJ8YW EP7RQ PM3LL MZEF3


Autos nº. 0005496-86.2023.8.16.0000

AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº AI – DA 4ª VARA DE FAMÍLIA DE CURITIBA


AGRAVANTE : T.P.G.S.B.
AGRAVADO : W.B.
RELATOR : DESEMBARGADOR ROGÉRIO ETZEL
VOGAL : DESEMBARGADORA LENICE BODSTEIN

XXX INICIO FUNDAMENTACAO XXX

DECLARAÇÃO VOTO DIVERGENTE

Com a devida vênia, ouso divergir do voto do eminente Relator para manter a obrigação alimentar provisória fixada em
favor da ex-cônjuge.

Do Relatório.

A obrigação alimentar havia sido fixada na r. decisão de mov. 7.1, em favor da ex-cônjuge e da prole comum, nos
seguintes parâmetros:

“Diante de todas as circunstâncias que foram acima ponderadas, mas para garantir o
padrão de vida aproximado ao que a família vivenciava, entendo que o adequado é fixar
alimentos devidos pelo requerido da seguinte forma:

a) in natura em favor dos filhos e da ex-cônjugeno valor correspondente às despesas


com ensino dos filhos (incluindo mensalidades escolares, uniforme, material e lanche),
atividades extracurriculares (duas modalidades por filho), saúde (plano de saúde,
dentista e vacinas),despesas com moradia do imóvel no qual atualmente residem
(aluguel, condomínio, luz, água, gás, net a cabo, internet e diarista [até três vezes na
semana]), bem como IPVA, revisão anual e seguro do veículo. As despesas in natura
poderão ser custeadas diretamente pelo requerido aos prestadores de serviço;

b) para custeio das demais despesas com alimentação, higiene, transporte, vestuário,
lazer, etc, tendo por base a média do padrão de consumo do cartão de T. do ano de 2020
(ref. 1.74/1.82), que corresponde a um valor médio de R$ 8.000,00 (aproximadamente),
fixo alimentos provisórios em espécie, devidos pelo requerido, no valor de 4 (quatro)
salários mínimos para a autora T.P.G.S.B. e mais 4 (quatro) salários mínimospara os
filhos [R.G.B., A.G.B. e M.G.B.], que deverão ser depositados até o dia 10 (dez) de cada
mês, na conta corrente da genitora.

Deixo de estabelecer “alimentos compensatórios” porque no valor dos alimentos acima


fixado em favor da autora T. (assim considerado o valor in natura e em espécie) já foi
considerado para todos os fins os rendimentos advindos das empresas constituídas durante
o casamento, com base nas informações apresentadas até o momento, a partir dos
documentos que foram anexados (declaração de imposto de renda – ref. 1.145).”
PROJUDI - Recurso: 0005496-86.2023.8.16.0000 - Ref. mov. 48.2 - Assinado digitalmente por Lenice Bodstein:6546
26/06/2023: JUNTADA DE ACÓRDÃO. Arq: Voto Vencido (Desembargadora Lenice Bodstein - 11ª Câmara Cível)

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
Posteriormente, em sede de Agravo de Instrumento n. 0040974-29.2021.8.16.0000, os alimentos em pecúnia em favor da
ex-esposa foram reduzidos para 2 salários mínimos nacionais.

O presente Agravo de Instrumento interposto pela ex-cônjuge em face da r. decisão de mov. 388.1 que exonerou “o varão
da obrigação de arcar com o plano de saúde de sua ex-cônjuge”.

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Os alimentos provisórios foram fixados em favor da ex-cônjuge nos termos da decisão liminar proferida no mov. 7.1,
considerando a demonstração suficiente de dependência econômica estabelecida durante o matrimônio.

Extrai-se da inicial que o casamento celebrado em 2005 perdurou por cerca de 15 anos e, apesar de ter concluído a
graduação em Design no ano de 2008, por decisão conjunta do casal, abandonou a vida profissional para se dedicar aos
cuidados dos três filhos nascidos em 2013, 2015 e 2017.

A ação judicial de divórcio litigioso tramita há quase 3 (três) anos, sendo que a fase instrutória foi encerrada em março de
2023 e o feito aguarda decurso do prazo para alegações finais.

A obrigação alimentar vigente em favor da Agravante foi, portanto, tem natureza de alimentos provisórios estabelecidos
em sede de tutela de urgência na decisão de mov. 7.1.

Nos termos do artigo 13, §3º da Lei de Alimentos:

“ Art. 13 (...) § 3º. Os alimentos provisórios serão devidos até a decisão final, inclusive o
julgamento do recurso extraordinário.”

O Código de Processo Civil disciplina sobre a modificação da tutela de urgência:

“Art. 296. A tutela provisória conserva sua eficácia na pendência do processo, mas pode, a
qualquer tempo, ser revogada ou modificada.
(...)
Art. 298. Na decisão que conceder, negar, modificar ou revogar a tutela provisória, o juiz
motivará seu convencimento de modo claro e preciso.”

A modificação da obrigação alimentar deve ser fundamentada na modificação do binômio alimentar, conforme preceitua o
artigo 1.699 do Código Civil:

“Art. 1.699. Se, fixados os alimentos, sobrevier mudança na situação financeira de quem os
supre, ou na de quem os recebe, poderá o interessado reclamar ao juiz, conforme as
circunstâncias, exoneração, redução ou majoração do encargo.”

Pois bem.

Com efeito, a obrigação alimentar entre ex-cônjuges tem, via de regra, caráter excepcional e transitório, motivo pelo qual a
jurisprudência do Superior Tribuna de Justiça orienta a fixação de prazo determinado, quando não estão presentes a
excepcionalidades que justificam a fixação do encargo por tempo indeterminado.

Nesse sentido:

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL - AÇÃO DE EXONERAÇÃO DE


ALIMENTOS - (...) 3. Nos termos da jurisprudência consolidada no STJ, os alimentos entre ex-
cônjuges devem ser fixados, como regra, com termo certo, somente se justificando a
manutenção por prazo indeterminado em casos excepcionais, como a incapacidade
permanente para o trabalho ou a impossibilidade de reinserção no mercado de trabalho.
(...)
(AgInt no AREsp n. 1.964.309/DF, relator Ministro Marco Buzzi, Quarta Turma, julgado em 23
/5/2022, DJe de 30/5/2022.)
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No entanto, a obrigação alimentar em discussão é provisória e não foi estabelecida por prazo pré-determinado, o que
poderá ser fixado no momento da apreciação dos alimentos definitivos por ocasião da sentença.

Entende-se que a fixação de prazo determinado para a vigência alimentar deve observar o caráter essencial dos alimentos
para a subsistência da parte alimentada, a fim de que a parte alimentada possa se adequar à sua nova realidade.

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O que não aconteceu nos autos de origem.

Depreende-se das razões para exoneração alimentar da r. decisão recorrida que a controvérsia sobre a obrigação “in
natura” de pagamento do plano de saúde instaurou-se a partir do inadimplemento do alimentante que a excluiu do plano
de saúde mantido junto à operadora Unimed.

Não obstante a controvérsia instaurada nos autos de origem sobre a possibilidade ou não de contratação de plano de
saúde em favor da alimentada sem cobertura de obstetrícia, denota-se do ofício de mov. 306.1 que a ordem judicial
expedida à Unimed foi integralmente cumprida com a reintegração da alimentada.

Veja-se:

Eventual impossibilidade posterior de manter a ex-esposa como dependente de seu plano de saúde não justifica, por si só,
a exoneração da obrigação alimentar.

Como leciona Maria Berenice Dias sobre os alimentos transitórios[1]:

“A obrigação alimentar persiste enquanto houver necessidade do credor e


possibilidade do devedor.
No entanto, ao menos com referência aos alimentos devidos a ex-cônjuge ou
excompanheiro, passou a jurisprudência a fixar, de forma absolutamente aleatória, prazo
determinado à pensão alimentar.
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Somente circunstâncias excepcionais, como a incapacidade laboral permanente, saúde
fragilizada ou impossibilidade prática de inserção no mercado de trabalho.
A justificativa é que, tendo o alimentando potencialidade para ingressar no mercado de
trabalho, não precisa mais do que um tempo para começar a prover ao próprio sustento.
Dita sustentação não dispõe de respaldo legal.
O parâmetro para a fixação dos alimentos é a necessidade, e não há como prever – a não

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ser por mero exercício de futurologia – que alguém, a partir de determinada data, vai
conseguir se manter.”

Ocorre que, no caso dos autos, não há demonstração suficiente de modificação da necessidade da alimentada a
fundamentar a exoneração imediata da obrigação de prestação do plano de saúde.

Cumpre destacar que a obrigação alimentar provisória poderá ser modificada diante da comprovação de posterior
modificação na possibilidade do Alimentante, ou da necessidade da alimentada, o que não há, neste momento recursal.

Ademais, ao proferir sentença, a MM. Juíza “a quo” fixará os alimentos definitivos conforme as provas que instruíram o feito
e poderá adequar a obrigação alimentar estabelecida de forma provisória ao contexto fático evidenciado.

Contudo, a exoneração da obrigação provisória de custear o plano de saúde não merece prosperar, na forma da
fundamentação anterior, porquanto não demonstrada a modificação no binômio alimentar.

Não obstante o caráter transitório da obrigação alimentar, o prazo de vigência deve ser pré-estabelecido, de forma a
possibilitar a parte alimentada a adequação financeira.

Nesse contexto, a exoneração de forma inesperada concedida na decisão agravada representa risco à subsistência da
parte alimentada, tendo vista o caráter essencial da obrigação alimentar.

Portanto, a divergência é para conhecer e dar provimento ao recurso para manter a obrigação do Agravado em custear o
plano de saúde em favor da ex-esposa, como prestação alimentar “in natura”, seja para mantê-la dependente do seu plano
de saúde Unimed ou, na impossibilidade, para arcar com o valor da mensalidade do plano de saúde Unimed com co-
participação na forma da Proposta de Adesão de mov. 1.5, cuja mensalidade correspondia a R$ 683,25 ao tempo da
distribuição do recurso.

Isto posto:

Divirjo do voto do Eminente Relator para conhecer e dar provimento ao Recurso para manter a obrigação alimentar “in
natura” de oferta de plano de saúde em favor da Agravada vigente.

É como voto.

LENICE BODSTEIN

Desembargadora Vogal

16 de junho de 2023.

XXX FIM FUNDAMENTACAO XXX

[1] DIAS, Maria Berenice. “Manual de Direito das Famílias”. São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2017. [livro
eletrônico não paginado].
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