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Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ
11ª CÂMARA CÍVEL
Com a devida vênia, ouso divergir do voto do eminente Relator para manter a obrigação alimentar provisória fixada em
favor da ex-cônjuge.
Do Relatório.
A obrigação alimentar havia sido fixada na r. decisão de mov. 7.1, em favor da ex-cônjuge e da prole comum, nos
seguintes parâmetros:
“Diante de todas as circunstâncias que foram acima ponderadas, mas para garantir o
padrão de vida aproximado ao que a família vivenciava, entendo que o adequado é fixar
alimentos devidos pelo requerido da seguinte forma:
b) para custeio das demais despesas com alimentação, higiene, transporte, vestuário,
lazer, etc, tendo por base a média do padrão de consumo do cartão de T. do ano de 2020
(ref. 1.74/1.82), que corresponde a um valor médio de R$ 8.000,00 (aproximadamente),
fixo alimentos provisórios em espécie, devidos pelo requerido, no valor de 4 (quatro)
salários mínimos para a autora T.P.G.S.B. e mais 4 (quatro) salários mínimospara os
filhos [R.G.B., A.G.B. e M.G.B.], que deverão ser depositados até o dia 10 (dez) de cada
mês, na conta corrente da genitora.
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Posteriormente, em sede de Agravo de Instrumento n. 0040974-29.2021.8.16.0000, os alimentos em pecúnia em favor da
ex-esposa foram reduzidos para 2 salários mínimos nacionais.
O presente Agravo de Instrumento interposto pela ex-cônjuge em face da r. decisão de mov. 388.1 que exonerou “o varão
da obrigação de arcar com o plano de saúde de sua ex-cônjuge”.
Extrai-se da inicial que o casamento celebrado em 2005 perdurou por cerca de 15 anos e, apesar de ter concluído a
graduação em Design no ano de 2008, por decisão conjunta do casal, abandonou a vida profissional para se dedicar aos
cuidados dos três filhos nascidos em 2013, 2015 e 2017.
A ação judicial de divórcio litigioso tramita há quase 3 (três) anos, sendo que a fase instrutória foi encerrada em março de
2023 e o feito aguarda decurso do prazo para alegações finais.
A obrigação alimentar vigente em favor da Agravante foi, portanto, tem natureza de alimentos provisórios estabelecidos
em sede de tutela de urgência na decisão de mov. 7.1.
“ Art. 13 (...) § 3º. Os alimentos provisórios serão devidos até a decisão final, inclusive o
julgamento do recurso extraordinário.”
“Art. 296. A tutela provisória conserva sua eficácia na pendência do processo, mas pode, a
qualquer tempo, ser revogada ou modificada.
(...)
Art. 298. Na decisão que conceder, negar, modificar ou revogar a tutela provisória, o juiz
motivará seu convencimento de modo claro e preciso.”
A modificação da obrigação alimentar deve ser fundamentada na modificação do binômio alimentar, conforme preceitua o
artigo 1.699 do Código Civil:
“Art. 1.699. Se, fixados os alimentos, sobrevier mudança na situação financeira de quem os
supre, ou na de quem os recebe, poderá o interessado reclamar ao juiz, conforme as
circunstâncias, exoneração, redução ou majoração do encargo.”
Pois bem.
Com efeito, a obrigação alimentar entre ex-cônjuges tem, via de regra, caráter excepcional e transitório, motivo pelo qual a
jurisprudência do Superior Tribuna de Justiça orienta a fixação de prazo determinado, quando não estão presentes a
excepcionalidades que justificam a fixação do encargo por tempo indeterminado.
Nesse sentido:
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No entanto, a obrigação alimentar em discussão é provisória e não foi estabelecida por prazo pré-determinado, o que
poderá ser fixado no momento da apreciação dos alimentos definitivos por ocasião da sentença.
Entende-se que a fixação de prazo determinado para a vigência alimentar deve observar o caráter essencial dos alimentos
para a subsistência da parte alimentada, a fim de que a parte alimentada possa se adequar à sua nova realidade.
Depreende-se das razões para exoneração alimentar da r. decisão recorrida que a controvérsia sobre a obrigação “in
natura” de pagamento do plano de saúde instaurou-se a partir do inadimplemento do alimentante que a excluiu do plano
de saúde mantido junto à operadora Unimed.
Não obstante a controvérsia instaurada nos autos de origem sobre a possibilidade ou não de contratação de plano de
saúde em favor da alimentada sem cobertura de obstetrícia, denota-se do ofício de mov. 306.1 que a ordem judicial
expedida à Unimed foi integralmente cumprida com a reintegração da alimentada.
Veja-se:
Eventual impossibilidade posterior de manter a ex-esposa como dependente de seu plano de saúde não justifica, por si só,
a exoneração da obrigação alimentar.
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Somente circunstâncias excepcionais, como a incapacidade laboral permanente, saúde
fragilizada ou impossibilidade prática de inserção no mercado de trabalho.
A justificativa é que, tendo o alimentando potencialidade para ingressar no mercado de
trabalho, não precisa mais do que um tempo para começar a prover ao próprio sustento.
Dita sustentação não dispõe de respaldo legal.
O parâmetro para a fixação dos alimentos é a necessidade, e não há como prever – a não
Ocorre que, no caso dos autos, não há demonstração suficiente de modificação da necessidade da alimentada a
fundamentar a exoneração imediata da obrigação de prestação do plano de saúde.
Cumpre destacar que a obrigação alimentar provisória poderá ser modificada diante da comprovação de posterior
modificação na possibilidade do Alimentante, ou da necessidade da alimentada, o que não há, neste momento recursal.
Ademais, ao proferir sentença, a MM. Juíza “a quo” fixará os alimentos definitivos conforme as provas que instruíram o feito
e poderá adequar a obrigação alimentar estabelecida de forma provisória ao contexto fático evidenciado.
Contudo, a exoneração da obrigação provisória de custear o plano de saúde não merece prosperar, na forma da
fundamentação anterior, porquanto não demonstrada a modificação no binômio alimentar.
Não obstante o caráter transitório da obrigação alimentar, o prazo de vigência deve ser pré-estabelecido, de forma a
possibilitar a parte alimentada a adequação financeira.
Nesse contexto, a exoneração de forma inesperada concedida na decisão agravada representa risco à subsistência da
parte alimentada, tendo vista o caráter essencial da obrigação alimentar.
Portanto, a divergência é para conhecer e dar provimento ao recurso para manter a obrigação do Agravado em custear o
plano de saúde em favor da ex-esposa, como prestação alimentar “in natura”, seja para mantê-la dependente do seu plano
de saúde Unimed ou, na impossibilidade, para arcar com o valor da mensalidade do plano de saúde Unimed com co-
participação na forma da Proposta de Adesão de mov. 1.5, cuja mensalidade correspondia a R$ 683,25 ao tempo da
distribuição do recurso.
Isto posto:
Divirjo do voto do Eminente Relator para conhecer e dar provimento ao Recurso para manter a obrigação alimentar “in
natura” de oferta de plano de saúde em favor da Agravada vigente.
É como voto.
LENICE BODSTEIN
Desembargadora Vogal
16 de junho de 2023.
[1] DIAS, Maria Berenice. “Manual de Direito das Famílias”. São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2017. [livro
eletrônico não paginado].
PROJUDI - Recurso: 0005496-86.2023.8.16.0000 - Ref. mov. 48.2 - Assinado digitalmente por Lenice Bodstein:6546
26/06/2023: JUNTADA DE ACÓRDÃO. Arq: Voto Vencido (Desembargadora Lenice Bodstein - 11ª Câmara Cível)
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