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FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DO PORTO

DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA | 2023-2024


AULAS PRÁTICAS

Ficha n.º 8

D é, desde 1987, trabalhadora do Centre informatique du Centre Ouest Atlantique,


um organismo da segurança social francesa. Na sequência de um acidente ocorrido entre
o seu domicílio e o seu local de trabalho, D esteve de baixa médica no período
compreendido entre 3 de novembro de 2005 e 7 de janeiro de 2007. Uma vez regressada
ao trabalho, o seu empregador – o Centre informatique du Centre Ouest Atlantique -
comunicou‑lhe o número de dias de férias a que, segundo os seus cálculos, D teria direito,
relativamente ao período da sua ausência. Inconformada, e por considerar ter direito a
mais dias de férias, D recorreu às vias judiciais. O Tribunal entendeu, porém, que não lhe
assistia razão, dado que, nos termos da legislação laboral francesa, o direito a férias estava
dependente da prova de que o trabalhador, durante o ano de referência, trabalhara para o
mesmo empregador durante um período equivalente ao mínimo de um mês de trabalho
efetivo, o que não tinha sido o caso de D.

[Baseado no processo C-282/10]

1. Considerando que a Diretiva 2003/88/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 4


de novembro de 2003, relativa a determinados aspetos da organização do tempo de
trabalho, determina, no seu artigo 7.º, n.º 1 que «Os Estados-Membros tomarão as
medidas necessárias para que todos os trabalhadores beneficiem de férias anuais
remuneradas de pelo menos quatro semanas, de acordo com as condições de
obtenção e de concessão previstas nas legislações e/ou práticas nacionais», aprecie a
compatibilidade desta norma de DUE com a referida legislação laboral francesa.

2. Poderá o artigo 7.º, n.º 1 da Diretiva ser, de algum modo, utilizado pelo juiz nacional,
de forma a garantir o direito a férias de D?

a) Sendo a sua resposta negativa, disporá D de alguma via alternativa, para efeitos
de ver ressarcido o dano decorrente desta situação?

1
II

Maria Bauer é a única herdeira do seu marido, falecido em 20 de dezembro de 2010, que
era empregado pelo Município de Wuppertal, na Alemanha. À data da morte, o marido
de Maria Bauer não havia ainda gozado os 25 dias de férias anuais a que tinha direito.
Nesta sequência, Maria pediu ao Município de Wuppertal que lhe fosse concedida, na
qualidade de herdeira, uma retribuição financeira equivalente aos dias de férias não
gozados no valor total de 5.857,75 Euros.

O Município de Wuppertal indeferiu o pedido de Maria por entender que a lei alemã
determina que o direito do trabalhador a férias anuais remuneradas se extingue com a sua
morte, pelo que não pode ser convertido num direito a uma retribuição financeira
nem fazer parte da massa sucessória. Um tribunal nacional alemão confirma esta
interpretação, mais esclarecendo que qualquer outra interpretação dessas disposições
nacionais é contra legem e não pode, portanto, ser acolhida.

1. Poderia Maria invocar contra o Município de Wuppertal o n.º 1 e 2 do artigo 7.º


da Diretiva 2003/88/CE, sabendo que o n.º 2 do referido artigo dispõe que «O
período mínimo de férias anuais remuneradas não pode ser substituído por
retribuição financeira, exceto nos casos de cessação da relação de trabalho»?

2. Martina Broßonn encontra-se na mesma situação, porém, o seu marido era, à data
do falecimento, trabalhador da empresa privada Willmeroth.

a) Poderia Martina invocar contra a entidade empregadora o artigo 7.º da


Diretiva 2003/88/CE?

b) Sabendo que o n.º 2 do artigo 31.º da CDFUE dispõe que «Todos os


trabalhadores têm direito a uma limitação da duração máxima do
trabalho e a períodos de descanso diário e semanal, bem como a um
período anual de férias pagas», poderia Martina invocar em juízo, para
lhe ser reconhecido e atribuído o direito a retribuição financeira,
consequentemente desaplicando-se a legislação nacional alemã, o artigo
31.º, n.º 2 da CDFUE?

2
III

Em 1984, B adquiriu uma moradia para habitação na periferia de uma pedreira já inativa
há alguns anos. Em 1997 e em 1999, as autoridades competentes definiram as condições
à luz das quais aquela pedreira poderia ser novamente explorada. B entende que as
autoridades competentes desrespeitaram o disposto na Diretiva 85/337/CEE do Conselho,
de 27 de junho de 1985, relativa à avaliação dos efeitos de determinados projetos públicos
e privados no ambiente, cujo n.º 1 do artigo 2.º determina que «Os Estados‑Membros
tomarão as disposições necessárias para que, antes da concessão da aprovação, os
projectos que possam ter um impacto significativo no ambiente, nomeadamente pela sua
natureza, dimensões ou localização, sejam submetidos à avaliação dos seus efeitos».

[Baseado no processo C-201/02]

1. B decide, com base na Diretiva, cujo artigo 2.º não encontrava amparo em qualquer
norma nacional, acionar a Secretaria de Estado competente. Considerando a natureza
da Secretaria de Estado, analise a possibilidade de invocação da Diretiva neste litígio.

2. X, proprietária da pedreira, entende que o Tribunal nacional nunca poderia aplicar as


disposições da Diretiva, dado que isso teria por consequência privar X dos seus
direitos enquanto proprietário. Quid iuris?

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