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Novos arranjos familiares rompem os padrões da

família tradicional brasileira


A família tradicional formada por um homem e uma mulher, com ou sem
filhos, não é mais a regra na sociedade brasileira. Outros formatos
familiares têm contribuído para uma reconfiguração do conceito de
família. São as relações de afeto formadas por casais homossexuais, por
mães ou pais solteiros com um ou mais filhos, avós ou avôs e netos e
netas ou até mesmo por pessoas com parentesco mais distante ou sem
parentesco – as chamadas famílias socioafetivas.
Esther Alves, adotada há 17 anos, faz parte de uma dessas histórias de
famílias estruturadas de forma diferente daquela considerada padrão. Ela
vive com dois pais. “Família é família independente de gênero e
sexualidade”, diz. Segundo a jovem, uma família se sustenta pela
presença, pela união entre os seus membros na alegria e na tristeza.
“Meus pais são bastante respeitados, e somos como qualquer outra
família”, comenta.
Em 2016, foram registrados no Brasil 1.095.535 casamentos civis, dos
quais 1.090.181 aconteceram entre pessoas de sexos diferentes e 5.354
entre companheiros do mesmo sexo, segundo pesquisa realizada pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). O número de casais
homoafetivos ainda é pequeno em relação ao total, mas demonstra o
movimento de transformação das estruturas familiares tradicionais.
A professora Adriana Silva Amorim, 43 anos, cresceu em uma família
formada por pai, mãe e três filhas. Contudo, construiu um núcleo familiar
em outros moldes. Foi mãe solteira e criou a filha sozinha até os seus dois
anos de idade, quando conheceu e se casou com um homem. Com ele,
teve mais dois filhos e conviveu durante 16 anos. Depois disso, ela se
descobriu lésbica e, atualmente, está em um relacionamento
homoafetivo. Nesse novo arranjo, tem sentido certa rejeição por parte de
alguns familiares. “Eu sinto que há um ‘não vamos falar disso’, sabe? Todo
mundo sempre torceu que eu voltasse para o meu ex-marido”, afirma.
Adriana e seus filhos. Fotos: Arquivo pessoal.
“As pessoas ainda olham estranho para famílias que não sejam compostas
pelo pai, a mãe e os filhos. Apesar de que, em 2015, apenas 42% das
famílias do Brasil eram compostas por pais, mães e filhos. Quer dizer, a
maioria das famílias, 58%, já era composta de outra forma”, diz o
professor do curso de Psicologia da Uesb, Daniel Marinho Drummond.
“Além da questão legal, existe também a dificuldade em relação à
aceitação por parte da sociedade desses novos arranjos familiares”,
complementa.
Daniel, além de ensinar como lidar com novos arranjos familiares,
também o vivencia na sua própria vida. Ele é pai socioafetivo do filho da
sua ex-esposa. O garoto se tornou seu filho oficial via documentação
registrada em cartório, que contou com a aprovação do pai biológico. “Ele
agora tem dois pais e uma mãe na certidão, inclusive, adicionou o meu
sobrenome. Além dos meus dois filhos biológicos com ela, ele também
virou meu filho tendo todos os direitos. Isso já é permitido”.
Já o presidente da Nascor (Nascidos do Coração), Vidal Campos, possui
dois filhos adotivos. Ele adotou o seu primeiro filho de forma
monoparental, ou seja, uma adoção de pai solteiro. De acordo com ele,
nessa época, ainda não havia nenhum apoio à adoção na Bahia, o que o
prejudicava a busca de informações e auxílio no processo.
A Nascor foi criada então por ele para tentar suprir a necessidade de apoio
às pessoas que estão no processo de pré e pós-adoção, pois não existe em
nível de estado, de política pública, uma estrutura judiciária capaz de
atender todas as demandas. “Não tem como as Varas e as Comarcas
tratarem de adoção de forma mais ampla porque não têm servidores.
Então são nos grupos de apoio, como a Nascor, que essas pessoas
encontram esclarecimentos”, explicou. “Essa troca de experiências traz
orientação para as pessoas e serve parar quebrar o preconceito que ainda
existente em torno da adoção”.
Orientação e amor
Para a psicóloga do Núcleo de Atenção à Criança e ao Adolescente de
Conquista, Néria Ribeiro, os papéis desempenhados pela família na vida
de uma criança vão muito além da figura materna ou paterna.
Independente da estrutura familiar apresentada, é fundamental que as
crianças possuam alguém que as oriente, acolha e dê segurança e
estabilidade emocional. Segundo a especialista, elas precisam de alguém
como referência, para confiar, dar carinho e ensinar a diferença entre o
certo e o errado. Essas atitudes afetivas são mais importantes do que
qualquer laço sanguíneo.
“A única coisa que uma criança precisa é ser amada”, defende a gerente
em exercício do Núcleo de Defesa da Criança e do Adolescente, Lucimeire
de Jesus Passos. “Não interessa se é pai, mãe, avó, avô, tios, vizinhos,
família homoafetiva, família socioafetiva, não importa. A única coisa que a
criança precisa para se tornar um adulto pleno é o amor”.
Lucimeire explica com conhecimento de causa. Ela foi criada em uma
família fora dos padrões tradicionais. Foi filha de mãe solteira e, aos 17
anos, ficou órfã e passou a conviver com uma família socioafetiva. Ao lado
do companheiro, teve um filho. Contudo, desde quando o bebê nasceu,
ela passou a fazer o papel do pai e da mãe da criança. Após se separar do
ex-marido, ela continuou criando sozinha o filho. Apesar de passar por
diversas dificuldades, nunca deixou de ser o alicerce para ele, que hoje
tem 24 anos.
Esse processo não foi fácil, Lucimeire sofreu preconceito por ser separada
e sentia uma pressão das pessoas em que ela interpretava como “seu filho
precisa ser mais perfeito do que os filhos de famílias tradicionais”.
Segundo ela, a sociedade foi muito cruel. Mas isso não a impediu de
vencer as dificuldades, cada luta valeu a pena e hoje a palavra orgulho é a
que define a família formada após tantas lutas.

DIVERSIDADE DE ARRANJOS FAMILIARES


Núcleo tradicional: um casal de homem e mulher com um ou dois filhos,
sendo a relação matrimonial ou não.
Matrimonial heteroafetivo - união entre homem e mulher, sendo o casamento o
instrumento de formalizar a família matrimonial.
Informal - união estável entre homens e mulheres.
Homoafetivo - união entre dois homens ou duas mulheres.
Socioafetivo - Relacionamentos emocionais familiares que envolvem pessoas
não ligadas por sangue.
Anaparental - sem a presença de pai ou mãe, com a participação de outros
parentes de sangue.
Monoparental - quando apenas um dos pais se responsabiliza pela criação dos
filhos.
Mosaico ou pluriparental - o casal ou um dos dois tem filhos provenientes de
um casamento ou relação anterior.
Extensa ou ampliada - têm parentes próximos com os quais o casal e/ou filhos
convivem e mantêm vínculo forte.
Poliafetiva - na qual três ou mais pessoas mantém relações afetivas românticas.
Eudemonista - aquela que busca a felicidade individual.
QUANTIDADE DE HOMENS E MULHERES
Segundo dados da PNAD Contínua (Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios Contínua) 2021, o número
de mulheres no Brasil é superior ao de homens.
A população brasileira é composta por 48,9% de
homens e 51,1% de mulheres.

A distribuição por sexo vai mudando quando


comparamos grupos etários. Nos grupos mais jovens,
existe maior proporção de homens. No grupo de 25 a
29 anos, o contingente de homens e mulheres é similar.
A partir dos 30 anos, o percentual de mulheres é maior
que o de homens. Observe as informações abaixo:
O PAPEL DO MASCULINO E DO FEMININO: DESIGUALDADE DE GÊNERO

https://mundoeducacao.uol.com.br/sociologia/desigualdade-de-genero.htm

Desigualdade de gênero é a desigualdade de poder entre


homens e mulheres. Desigualdade de poder refere-se ao
acesso às oportunidades nos âmbitos econômico, político,
educacional ou cultural

Definição de desigualdade de gênero

O conceito de gênero é relativamente novo, fruto


do movimento feminista. Sua contribuição em mostrar que a
construção do ser feminino e ser masculino não é biológica,
mas social e cultural, por meio de relações, ações e valorações,
também serviu em grande medida para desnaturalizar a
desigualdade entre homens e mulheres.
Assim como as diferenças no corpo, as diferenças de
comportamento e de destino eram consideradas naturais. A
conceituação do gênero como constructo social, performance,
divisão de papéis concebida e consolidada no campo das
relações humanas permitiu que as discrepâncias também fossem
identificadas no campo das relações de poder e, portanto,
passíveis de mudança.
A diferença de papéis entre homens e mulheres pode ser
exemplificada na divisão sexual do trabalho. Em muitas
sociedades, as mulheres ficam a cargo do trabalho reprodutivo e
do ambiente privado (cuidar da casa e da família) e os homens a
cargo do trabalho produtivo no ambiente público (empreender,
governar, conduzir a política e a economia).
A construção de masculinidade e feminilidade é aprendida
desde o nascimento, envolve a maneira de agir, sentir, falar e
pensar. A diferenciação dá-se de maneira muito rígida e
hierárquica, isto é, há constrangimento e uma gama de punições
para aquele que incorporar as características do outro lado, por
exemplo, homens emotivos podem ser considerados “bananas” e
mulheres que se portam com firmeza podem ser consideradas
“machonas”, não existe uma liberdade na formação para que
meninos e meninas desenvolvam suas potencialidades que
estão culturalmente atreladas ao grupo oposto. (EX:
Homens: cozinhar / Mulheres: governar)
Além disso, o que é considerado “coisa de mulher”, como ser
emotivo, sensível, detalhista, é desvalorizado, o que é
considerado “coisa de homem”, como ser forte, viril, corajoso, é
valorizado. Isso se reflete em todos os campos da vida.

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