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PRÓ-REITORIA ACADÊMICA
DEPARTAMENTO DE ENSIONA À DISTÂNCIA
CURSO DE BACHARELADO EM ADMINISTRAÇÃO
JUIZ DE FORA
2020
LAILA ARAÚJO MACHADO
JUIZ DE FORA
2020
LAILA ARAÚJO MACHADO
Avaliadores
____________________________________________
Professor da disciplina
____________________________________________
Coordenadora do curso
JUIZ DE FORA
2020
RESUMO
O presente trabalho busca, através de uma pesquisa-diagnóstico, propor um roteiro
personalizado para implantação de Programa de Qualidade baseado no modelo
SEBRAE. Diante de um mercado globalizado e altamente competitivo, micro e
pequenas empresas deixam transparecer sua fragilidade. Nesse contexto, a Gestão
da Qualidade é fundamental para promover transformações no pensamento e atitudes
das formas de gerenciamento praticadas na maioria das empresas. Pensando nisso,
o SEBRAE criou um roteiro para implantação de um Programa de Qualidade nas
Pequenas Empresas. Frente a vários casos de insucesso, este trabalho objetivou
propor um roteiro personalizado para a empresa objeto de estudo, levando em conta
as suas particularidades. Acredita-se que um roteiro de implantação de Programa de
Qualidade adaptado às necessidades individuais da empresa, venha a constituir um
caso de sucesso para tal organização.
ABSTRACT
The present word seeks, through a diagnosis-research, to propose a personalized
script for the implementation of a Quality Program based on the SEBRAE model: facing
a globalized and highly competitive market, micro and small companies show their
fragility. In this context, Quality Management is fundamental to promote attitudes and
mindsets transformations in the forms of management practiced in most companies.
With that in mind, SEBRAE has created a roadmap for implementing a Quality Program
in Small Businesses. Facing several cases of failure, this work aimed to propose a
personalized script for the studying company, taking into account its particularities. It
is believed that a roadmap for implementing a Quality Program adapted to the
individual needs of the company, will constitute a case of success to the organization
in question.
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 7
1.1 O PROBLEMA ............................................................................................................................ 8
1.2 OBJETIVO................................................................................................................................... 9
1.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .................................................................................................... 9
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .................................................................................................. 10
2.1 A HISTÓRIA DA QUALIDADE ............................................................................................... 10
2.2 FERRAMENTAS TRADICIONAIS DA QUALIDADE .......................................................... 13
2.3 PROGRAMAS DE QUALIDADE ........................................................................................... 19
2.4 NORMAS REGULAMENTADORAS ..................................................................................... 21
3. CARACTERÍSTICAS DAS PEQUENAS EMPRESAS ............................................................ 24
3.1 FORÇA ECONÔMICA E ESPECIFICIDADES .................................................................... 24
3.2 OBSERVAÇÕES DA EMPRESA EM ESTUDO ................................................................. 26
4. QUALIDADE NA PEQUENA EMPRESA .................................................................................. 28
4.1 CONCEITO DE QUALIDADE PARA MPE........................................................................... 28
4.2 PRINCÍPIOS E DESAFIOS .................................................................................................... 29
5. PROPOSTA .................................................................................................................................... 33
5.1 O MODELO SEBRAE PARA IMPLANTAÇÃO DE PROGRAMA DE QUALIDADE ...... 33
5.2 ADAPTAÇÃO DO MODELO SEBRAE PARA A EMPRESA EM ESTUDO .................... 34
6. METODOLOGIA ............................................................................................................................ 37
7. CONCLUSÃO ................................................................................................................................. 38
8. BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................................. 39
LISTA DE FIGURAS
7
As micro e pequenas empresas (MPE) segundo vários estudiosos são de
fundamental importância para o desenvolvimento da economia do país. Apesar de
serem registrados um grande número delas, é necessário que sejam sólidas, e de fato
gerem empregos e contribuam efetivamente para o crescimento econômico. Para
isso, é preciso que sejam competitivas, superando as dificuldades principalmente
gerenciais. O Sistema de Gestão da Qualidade surge como uma alternativa para
capacitação gerencial e desenvolvimento que culminam com o sucesso empresarial
(CÂNDIDO, 1998).
Diante disso, esse trabalho busca nesse momento uma maior compreensão do
significado da Qualidade, apresentar características da empresa em estudo, estimar
o possível impacto e importância de um Programa de Qualidade numa empresa de
pequeno porte e observar os principais pontos que afetam significantemente o
sucesso da empresa em questão. Em um segundo momento, irá ser proposto um
roteiro simplificado para implantação de um Programa de Qualidade na empresa em
estudo, baseado no modelo proposto pelo SEBRAE – Programa de Qualidade para
Pequenas Empresas.
No Capítulo 2 será feita uma abordagem teórica a respeito da história da
Qualidade, sua importância e ferramentas mais usadas.
O Capítulo 3 apresentará as principais caraterísticas das empresas de pequeno
porte, apontando também características da empresa em estudo.
O Capítulo 4 discorrerá sobre a importância da Qualidade, significado e princípios
e principais pontos da empresa em questão nos quais um Programa de Qualidade
impactaria.
No capítulo 5 será descrito o Programa de Qualidade criado pelo SEBRAE e será
apresentado modelo semelhante com adaptações para que atenda a empresa objeto
de estudo deste trabalho.
O Capítulo 6 trará a metodologia adotada, pesquisa-diagnóstico.
O capítulo 7 finalizará este trabalho com a conclusão da pesquisa realizada.
1.1 O PROBLEMA
8
1.2 OBJETIVO
9
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
11
Na década de 90, com a percepção da Qualidade como fator competitivo, aumento
constante do interesse das organizações na prática dela, fomentando estudos sobre
o assunto, foi apresentado o conceito de Qualidade Total. Feigenbaum, um estudioso
da época, mostrou o que conhece-se por TQC – Total Quality Control (Controle da
Qualidade Total). Esse programa busca mostrar a importância do envolvimento e
compromisso de todos os níveis da organização com a Qualidade, com um sistema
de gerenciamento visando a integração, demonstração com clareza das
responsabilidades, atribuições e processos para a melhoria contínua (PAIVA, 2013).
Uma vez que o entendimento de valor é diferente para cada indivíduo, o conceito
de Qualidade Total também se preocupa em apresentar as dimensões sobre as quais
um produto ou serviço pode ser avaliado pelo cliente.
BOND (2012) definem algumas dimensões da Qualidade que são principais alvos
quando os produtos estão sendo avaliados:
Competência: relaciona-se com a capacidade de compreender em sua
totalidade as necessidades dos clientes e conseguir atende-las;
Atendimento: preocupa-se com a satisfação do cliente no momento da compra,
personalização, atenção, empatia, limpeza, etc;
Flexibilidade: capacidade de atendimento de mudanças em momentos
emergenciais, ou pedidos inesperados;
Acesso: ligado à facilidade do cliente em entrar em contato com a empresa;
Custos: além do valor pago no produto/serviço, envolve também o quanto o
cliente se desgastou para adquirir o que desejava.
Outros autores, como PAIVA (2013), ainda abordam dimensões como o
desempenho – função básica do produto, características – funções secundárias,
confiabilidade – capacidade de funcionar por um tempo sem falhas, conformidade –
atendimento às especificações, durabilidade – vida útil, estética – aparência, som,
sabor, qualidade percebida - relacionada com a reputação da marca.
Ainda para entender e aplicar corretamente o conceito Qualidade Total, é preciso
a compreensão de que visando a melhoria contínua baseia-se em estratégias que se
relacionam com todas as ações da empresa.
Ainda para BOND (2012), algumas dessas estratégias são:
A Qualidade deve ser identificada pelo cliente, ou seja, atenção ao que o cliente
deseja deve ser dada para que o mesmo visualize essas atribuições no produto
que adquirir
A Qualidade deve estar presente em todos os processos da empresa, todos
devem estar comprometidos com a entrega de um resultado de qualidade, e
todos os processos devem ser pensados, medidos, controlados, sempre
visando atender às expectativas do consumidor
A Qualidade exige compromisso total dos funcionários, comprometimento de
toda a equipe de todos os níveis hierárquicos
A Qualidade exige parceiros de alta performance, fornecedores, colaboradores,
acionistas, todo com a mesma missão para atingir os mesmos objetivos
12
A Qualidade pode ser sempre melhorada, princípio da melhoria contínua da
qualidade sem custo maior, fazer as atividades de forma de uma única vez para
que não sejam gerados custos com retrabalhos
Qualidade como diferencial, como todos estão preocupados em ter qualidade
em suas organizações, ela já não é mais vista como um diferencial, portanto, é
preciso encontrar um diferencial, algo que vá além do que o cliente deseja ter
A Qualidade não mascara o produto/serviço ruim, processos e procedimentos
também são espelhos da qualidade, e refletem no resultado final, o
produto/serviço adquirido.
Portanto, a Qualidade segundo uma perspectiva atual chegou às empresas
baseada em princípios para melhora do desempenho com foco no cliente. Esses
princípios, desenvolvidos pelos estudiosos da Qualidade mais famosos baseiam-se
na total satisfação do cliente, em uma governança participativa, no desenvolvimento
de pessoas, repasse de informações de forma transparente e coerente, melhoria
continua, gerência dos processos, delegação, disseminação correta de informações,
garantia da qualidade e zero defeito. Tudo isso para o comprometimento
organizacional em fazer o melhor.
1. Fluxograma
Em uma empresa é preciso que estejam claras as etapas das atividades que
compõem os processos ou que precisam ser executadas para se prestar um serviço,
o fluxograma auxilia no conhecimento de todas essas etapas, sendo assim, ao surgir
13
um problema, a identificação da exata localização do mesmo fica facilitada. Segundo
OLIVEIRA (1996, p. 26 apud BOND 2014, p. 60) “É a representação gráfica destinada
ao registro das diversas etapas que constituem um determinado processo, facilitando
sua visualização e análise”.
Essa ferramenta pode ser usada não só para identificar causas de um problema,
como também na implementação de soluções e estabelecimento de projetos, melhor
compreensão do conjunto, fixação de limites, identificação de oportunidades, etc.
Existem vários símbolos que auxiliam na construção de um fluxograma eles têm
significados que substituem o uso de palavras e facilitam a compreensão como
apresentado na figura 2 a seguir.
A figura 3 a seguir apresenta um fluxograma que pode ser usado como oportunidade
de melhoria, ao permitir o retorno a uma atividade anterior caso o resultado encontrado
não tenha surtido o efeito desejado.
3. Histograma
Um histograma é um gráfico de barras resultado de uma coleta de dados. A partir
dele é possível reconhecer padrões da amostra, como por exemplo a frequência de
um problema. Com essa ferramenta estatística visualiza-se a distribuição de dados,
valor central e dispersão. Exemplos de histogramas são representados na figura 4 a
seguir.
4. Gráfico de Pareto
O gráfico de Pareto também é um gráfico de barras, que permite a classificação
das causas dos problemas em essenciais ou secundárias. O princípio de Pareto
afirma que 80% de defeitos derivam de 20% de falhas. Ao ordenar a frequência das
ocorrências da maior para a menor, é possível priorizar problemas, identificando as
causas mais significativas para que as ações sejam concentradas nelas.
5. Diagrama de Correlação
Conhecido também como diagrama de dispersão, mostra a relação entre duas
variáveis e o desenvolvimento de um estudo de comportamento entre elas. Esse tipo
de diagrama é usado para controle de processos, encontrar problemas, planejar
melhorias.
15
Para a construção do gráfico primeiramente coleta-se os dados das variáveis,
plota-se os dados em um gráfico, confirma-se se há relação entre as variáveis
observando o padrão de disposição dos pontos.
Uma correlação de variáveis pode ser do tipo positiva, quando o aumento de uma
variável implica no aumento de outra; negativa, quando o aumento de uma implica na
diminuição de outra, ou pode ser que não exista uma correlação entre as variáveis. A
figura a seguir demonstra esses comportamentos de forma gráfica.
6. Diagrama de Ishikawa
O diagrama de Ishikawa é conhecido também como diagrama de causa e efeito ou
ainda, espinha de peixe. “O diagrama de causa e efeito é uma representação gráfica
que permite a organização das informações, possibilitando a identificação das
possíveis causas de um determinado problema ou efeito” (OLIVEIRA; 1996, p.29 apud
BOND; 2014, p.72). Ou seja, através dele procura-se relacionar todas as causas
contribuintes de um efeito que pode ser positivo ou negativo.
Para a construção do diagrama, no que seria a “cabeça” do peixe escreve-se o
efeito, as espinhas seriam as causas, que segundo alguns autores estão relacionadas
a grupos, os 6M: materiais, mão de obra, métodos, máquina, medida, meio ambiente.
8. 5W2H
É uma ferramenta usada para tomada de decisões que envolvem um projeto ou
um plano de ação para melhoria de processos. O nome vem de palavras em inglês
What? Where? Who? When? Why? e How? How Much? que significam
respectivamente O que? Onde? Quem? Quando? Por quê? Como? Quanto custa?
A partir dessa ferramenta responsabilidades ficam mais claras e torna-se mais
fácil colocar em prática decisões.
10. Brainstorming
É destinado à solução de problemas buscando, em grupo, encontrar soluções ou
causas de um problema.
A tradução é “tempestade de ideias”, pois os colaboradores, de forma espontânea,
sem limites ou paradigmas, sugerem suas ideias sobre o assunto em questão, que
pode ser descobrir a origem de um problema, ou encontrar alternativas para a solução,
ou gerar ideias criativas para uma questão.
A imaginação prevalece no uso dessa ferramenta, sem discussões.
Para a sua aplicação, primeiro define-se o que vai ser discutido e então começa a
chuva de ideias, um líder registra tudo, que posteriormente é analisado para que se
chegue à uma conclusão final.
18
O Ciclo inicia-se no P – Plan (Planejamento), é a etapa em que chega-se à
conclusão de que existe uma oportunidade de melhoria e são traçadas metas,
objetivos, e como serão alcançados e o que será necessário para isso. Na etapa
seguinte, D – Do (Executar), começa-se a implementar a melhoria constatada,
seguindo o que foi definido na etapa anterior. Posteriormente, na etapa C – Check
(Verificação), os resultados do que foi obtido até o momento são conferidos e
comparados com a situação antiga para que seja avaliado se os objetivos foram
alcançados. E por fim, A – Action (Ação), onde são corrigidas as inconformidades, se
necessário, roda-se o ciclo novamente, ou se os resultados esperados tiverem sido
alcançados, as ações são normalizadas e padronizadas, a fase P é substituída pelo
S – Standard (Padronização), e o ciclo passará a ser chamado de SDCA, para que a
melhoria continue.
19
portanto, deve-se deixar claro a importância de se deixar o ambiente limpo, sinalizar
locais de perigo, usar equipamentos de proteção, ter e incentivar hábitos saudáveis.
Shitsuke – Senso de Disciplina, tornar como hábitos os sensos anteriores,
conscientizar sobre a responsabilidade de cada um em todas as tarefas, por menores
que pareçam, para obter um melhor aproveitamento de espaço e tempo dentro da
organização.
Outra metodologia conhecida, também originada no Japão, é o Just In Time – JUT.
Segundo PAIVA (2013) os objetivos dessa metodologia envolvem além da obtenção
de melhorias nos processos, a redução de custos e eliminação de desperdícios
através de uma redução de estoques (estoque mínimo), redução da utilização de
recursos, fabricação de pequenos lotes, menor tempo de preparo de lotes melhorando
a utilização de recursos humanos, controle e manuseio de materiais, um sistema de
produção chamada KANBAN, em que são produzidos em cada estágio somente o
necessário, incentivo ao questionamento e melhorias, o que chamou-se de sistema
ativo, não aceitação de erros, destaque da importância de cada mão-de-obra no
processo produtivo, leiaute em forma de células, onde as atividades parecidas ficam
juntas, eliminação de falhas, flexibilidade do sistema, velocidade de produção e
confiabilidade do produto.
Muito difundida na atualidade, tem-se a abordagem Seis Sigma, desenvolvida pela
Motorola nos anos 80, e trazendo excelentes resultados nas empresas até hoje. Esse
programa permite a entrega de produtos com maior confiabilidade, visando reduzir a
somente 3,4 peças com defeito por milhão de peças produzidas. Cada sigma
representa um número de defeitos por milhão de peças produzidas, quanto mais
sigmas, menor o número de defeitos por milhão de peças. (LÉLIS, 2012)
1 σ = 30,9% sem defeito
2 σ = 69,1% sem defeito
3 σ = 93,3% sem defeito
4 σ = 99,4% sem defeito
5 σ = 99,98% sem defeito
6 σ = 99,9997% sem defeito
Para a implantação desse programa ou metodologia, é usado um método
conhecido como DMAIC (define, measure, analyze, improve, control) que em
português significa definir, medir, analisar, melhorar, controlar. Esse método funciona
para processos já existentes, quando se trata de um processo para um novo produto
dá-se o nome de DAMDV - definir, medir, analisar, desenhar, verificar resultados.
(PAIVA; 2013, p. 276)
20
Figura 9: Método DMAIC
Fonte: LÉLIS (2012, p. 115)
22
Segundo PAIVA (2013), o processo de certificação inicia-se com o planejamento e
implementação, que pode levar de 8 meses a 1 ano, depois é feita uma pré-auditoria
que vai avaliar a aptidão da empresa para obter a certificação, estando apta, é
contratado um Organismo Certificados de Sistemas que apresenta um programa,
planejamento de auditoria, e realiza a auditoria final, estando tudo de acordo com as
normas, ele emite um certificado com validade de 3 anos, passível de auditorias
regulares a cada 6 meses ou 1 ano.
Diante do exposto, ficou claro a importância da Qualidade nas empresas para que
sobrevivam competitivas no mercado globalizado atual. Além disso, conheceu-se as
principais ferramentas e Programas de Qualidade, que ao serem implementados
conforme norma regulamentadora podem ser certificados garantindo ao consumidor
a efetiva qualidade de seus produtos ou serviços.
23
3. CARACTERÍSTICAS DAS PEQUENAS EMPRESAS
24
Quanto a gestão, as pequenas empresas são marcadas pela centralização na figura
do dono, normalmente autoritário, com pouca participação dos funcionários, o que
concentra a tomada de decisão nas mãos do empreendedor. Uma gestão informal,
muitas vezes sem a separação de patrimônios empresariais e particulares,
atrapalhando análises contábeis. A informalidade impede a construção de estratégias
competitivas e um planejamento adequado. A centralização nas mãos do
empreendedor acaba por deixar o mesmo com inúmeras tarefas cotidianas
impedindo-o de realizar um bom planejamento, focar nas necessidades dos clientes e
perceber as vantagens competitivas e fazer uso das mesmas aumentando seu
potencial de crescimento (CÂNDIDO, 1998).
Além disso, os recursos humanos dessas organizações não são vistos como uma
relação de custo/benefício. A contratação da mão-de-obra é problemática, simplista,
muitas vezes funcionários são próprios familiares dificultando a distinção de níveis
hierárquicos e divisão de responsabilidades. Dificilmente há investimentos em
educação e treinamentos o que impactaria significantemente na Qualidade da
empresa. (LEONE, 1999)
A pouca disponibilidade de recursos também configura-se como um problema
inerente às pequenas empresas.
Outras deficiências estão ligadas a falta de planejamento de vendas, marketing,
ausência de controle de estoques, pouco ou nenhum mecanismo de controle de
Qualidade. (CÂNDIDO, 1998)
LEONE (1998) aponta em seu artigo que as pequenas e médias empresas tem
especificidades que podem ser divididas em: organizacionais, individuais e
decisionais, como foi resumido no quadro a seguir.
25
Embora as micro e pequenas empresas apresentem vários problemas no que diz
respeito à gestão, eficiência, produtividade e qualidade, autores afirmam que algumas
dessas várias características dadas como negativas e problemáticas, facilitam a
implantação de um Programa de Qualidade. Algumas vantagens mencionadas por
CÂNDIDO (1998) serão comentadas a seguir.
Em relação a grandes empresas, a pequena empresa responde mais rapidamente
a mudanças de mercado, uma vez que a quantidade reduzida de funcionários permite
que o fluxo da informação seja mais fácil. As mudanças em grandes organizações
precisam passar por vários níveis gerenciais até que a decisão seja acordada e
implementada. Com menos níveis hierárquicos, a pequena empresa responde de
forma mais veloz.
Outra vantagem apontada está na melhor compreensão das necessidades do
cliente pelos funcionários devido ao contato direto e próximo e, pelo chefe, que em
muitos casos não se atém tanto ao escritório ficando perto dos clientes.
Devido às condições do mercado, mudar essas características das pequenas
empresas que fazem parte de uma cultura organizacional enraizada nas mesmas
tornou-se vital. Como qualquer transformação, sobretudo profunda como uma
mudança de cultura, é preciso tempo, preparação, qualificação e um programa com
bases sólidas que garanta a Qualidade. É preciso mudanças de comportamento, de
rotina, manutenção dos programas e total comprometimento de toda organização.
Dessa forma, resultados como redução de custos, maior retorno, mais segurança,
novos negócios, e vários outros poderão ser alcançados.
A pequena empresa tomada como objeto de estudo para esse trabalho, está
localizada na cidade de Três Rios e tem seu quadro de funcionários composto pelo
proprietário que é também o administrador e mais três funcionários.
Apesar de existir há 28 anos e ter sua participação no mercado local consolidada,
a empresa sente os reflexos da crise atual e se vê na necessidade de promover
mudanças organizacionais que a impedem de obter maiores lucros, mais segurança,
redução de custos, etc.
Com isso, após observação do dia-a-dia da empresa, foram relatados pontos que
contribuem negativamente no crescimento da mesma. Embora alguns sejam
aparentemente triviais, são hábitos enraizados que precisam de uma atenção
especial, paciência e persistência para serem mudados e assim trazer inúmeros
benefícios. A seguir serão mencionados os principais pontos observados.
O empreendedor, proprietário e administrador do comércio não tem técnicas
definidas de gestão, tendo criado seu próprio método de trabalho baseado na intuição
e vivência.
26
Ao contrário do que predomina nesse tipo de empresa, apesar das decisões
estarem concentradas nas mãos do dono, o mesmo não é totalmente autoritário. Foi
observado que muitas vezes, principalmente no processo de compras, seus
funcionários foram consultados sobre as necessidades dos clientes.
Um grande problema notado foi que o proprietário é extremamente conservador,
pouco aberto a mudanças e pouco otimista em relação a efetividade do processo,
além de criar expectativas de resultados a curto prazo. Porém, diante das dificuldades
enfrentadas, está disposto a se engajar na proposta de seguir um roteiro para Gestão
da Qualidade.
Não existe um planejamento para ações futuras, e o dono pouco tem tempo para
pensar e planejar algo, pois acumula diversas funções que deveriam ser executadas
por seus funcionários.
Os funcionários configuram também um entrave na evolução da empresa. Um
problema que inicia no processo de contratação onde, aparentemente, a oportunidade
é dada ao mais necessitado e não ao mais eficiente. O problema se estende, pois
além de pouco qualificados, não tem interesse em realizar treinamentos, não
cumprem com as tarefas da forma correta, acarretando inúmeros prejuízos.
A falta de organização do ambiente gera gastos desnecessários, por vezes foram
compradas mercadorias por não terem sido achadas em estoque. Produtos
alimentícios foram frequentemente descartados por terem perdido seus prazos de
validade. A perda de material é grande.
O estoque é pouco organizado e não é controlado. Esse problema reflete no dia-a-
dia com a dificuldade de encontrar mercadorias, tomando tempo dos funcionários
nesse processo. E ainda, aumenta a probabilidade de roubos por não ser controlado.
Não existe um planejamento de vendas. Os funcionários comunicam ao dono
quando certo produto está próximo a acabar. Muitas vezes esquecem de avisar, ou
avisam quando já acabou, deixando clientes em falta.
Algum recurso é eventualmente aplicado para o marketing do negócio, porém de
forma ineficaz e em canais que trazem pouco retorno.
Existe também algum recurso para investimento em mudanças, porém, é
frequentemente usado da forma indevida. No entanto, é um fator que poderá contribuir
positivamente no processo que será proposto no próximo momento deste trabalho.
Diante disso, pode-se observar que muitas mudanças precisam acontecer para a
evolução do negócio, e com a adoção de um Programa de Qualidade esse processo
será melhor guiado e, se corretamente implementado, trará muitos ganhos. Porém, é
preciso cautela, as bases e fundamentos da Qualidade precisam primeiramente ser
explicitados e incorporados por todos, para que um roteiro para Gestão da Qualidade,
ainda que simplificado, possa ser seguido.
27
4. QUALIDADE NA PEQUENA EMPRESA
28
Portanto, é com o intuito de fazer com que as MPE’s se adaptem, lucrem e
sobrevivam no mercado marcado por grandes transformações constantes, que é
indicado a adoção de Programas de Qualidade. Fazendo com que os pontos fracos
desse tipo de organização sejam alvo de melhorias e aproveitando os pontos fortes
que favorecem a implantação da Qualidade para alcançar o sucesso.
29
A multifuncionalidade, ou seja, não especialização dos funcionários em uma só
função, também configura-se como fator essencial. Dessa forma, a ausência de um
funcionário não impactará no dia-a-dia da organização.
É preciso que o crescimento pessoal seja valorizado, para isso, deve-se conferir
aos funcionários tarefas que lhes desafiem, que não sejam repetitivas, motivando-os
e fazendo com que se desenvolvam.
O 11º princípio mencionado por ANHOLON (2003) se refere ao relacionamento da
empresa com os fornecedores. Visando conseguir produtos de qualidade com preços
razoáveis, e, caso preços razoáveis não sejam conseguidos, deve-se sempre optar
pela qualidade.
O controle da qualidade é fundamental e existem inúmeras ferramentas para isso.
O autor afirma que, antes de ser implementado o Programa de Qualidade, deve ser
escolhida a ferramenta adequada.
O 13º princípio diz respeito ao conhecido 5S, sensos de utilização, ordenação,
limpeza, saúde e autodisciplina, tais práticas devem ser diárias e contribuem
significativamente para o melhor desempenho.
Fato muito comum é o abandono dos Programas de Qualidade frente a situações
complicadas. Portanto, o 14º princípio demonstra que as situações complicadas no
decorrer do processo são frutos de desorganização da empresa, e somente mantendo
um Programa de Qualidade essas situações serão melhor controladas e dificilmente
acontecerão. Não abandonar o processo frente a qualquer situação é fator primordial.
O último princípio refere-se a constância do Programa, a Qualidade deve fazer parte
do dia-a-dia, todos os princípios devem ser sempre considerados, os resultados só
perdurarão frente a manutenção do Programa.
No entanto, alterar uma cultura de uma organização, enfrentar e aplicar todos os
princípios listados como fundamentais para o sucesso do Programa, é tarefa árdua.
As micro e pequenas empresas passarão por inúmeros desafios até que seu objetivo
de alcançar a Qualidade seja atingido.
Os desafios a serem enfrentados estão ligados principalmente às especificidades
das pequenas empresas já tratadas nesse trabalho.
A necessidade do comprometimento total de toda a equipe em especial do
empreendedor, que deve romper com suas crenças, dedicar tempo ao planejamento
e definição de metas, deixar o conservadorismo, ser persistente na busca por
resultados. Além disso, o chefe deve ser um líder que motiva e faz sua equipe
acreditar e trabalhar pelos resultados.
Sabe-se também que o número reduzido de funcionários faz com que os mesmos
tenham inúmeras atribuições, a falta de tempo para se dedicar a tarefas ligadas a
Programas de Qualidade, assim como para treinamentos é um desafio. As atividades
precisam ser planejadas e executadas de forma que não atrapalhe o dia-a-dia da
empresa.
30
Deve-se escolher a metodologia correta e compatível com a realidade da empresa,
para que o excesso de dificuldades não desestimule os colaboradores e faça com que
desistam precocemente do processo. A desistência é fator comum nas empresas que
tentam implementar Programas de Qualidade, pois a maioria espera por resultados
significativos a curto prazo, e tais Programas embora apontem pequenos resultados
em pouco tempo, só apresentam respostas significativas e duradouras após certo
período.
Embora lidar com um número reduzido de funcionários seja uma vantagem no que
diz respeito à resistências, esse fator também pode ser um desafio a ser enfrentado
seja por falta de confiança no líder ou descrença dos resultados.
A manutenção frequentemente é deixada de lado, e, com isso, o processo regride
e não traz os resultados esperados. Controlar as mudanças, manter o processo,
medir, quantificar e apresentar os resultados ajuda na continuidade das ações.
Ter poucos recursos para investir em treinamentos, em bonificações que motivem
os funcionários na adesão do Programa, é um problema, desafio a ser enfrentado. A
empresa deve definir com os recursos que tem as melhores maneiras de capacitar
seus funcionários, bonificar e manter o Programa. Com o planejamento adequado,
com o tempo, recursos podem ser alocados para tal.
CÂNDIDO (1998) elaborou um quadro em que relaciona as dificuldades da
implantação da Qualidade com as características das pequenas empresas, como
pode ser observado na figura 12 a seguir.
A identificação e correlação dessas características com as dificuldades a serem
enfrentadas, facilitam a adequação do Programa e planejamento adequado das ações
a serem realizadas. Tornando realizável a adoção de um Programa de Qualidade não
só nas grandes empresas, como também nas micro e pequenas.
31
Figura 12: Desafios da implantação da qualidade e características das MPE's
Fonte: CÂNDIDO (1998, p.63)
32
5. PROPOSTA
34
Diversos autores como ALENCAR FILHO (1995), CÂNDIDO (1998), ORTEGA
(1998) E PANIGAS (1998), além de próprios estudos do SEBRAE, atribuem ainda
como fatores de insucesso a falta de diagnóstico organizacional e de planejamento.
Os hábitos enraizados na empresa, que já fazem parte do dia a dia não são
identificados como entraves para o crescimento da organização, principalmente pelos
funcionários. Nessa nova etapa, sugere-se que um consultor observe a rotina da
empresa por alguns dias, definidos em número por ele, e, por fim, seja realizada uma
discussão com toda a equipe em que os mesmos sejam instigados a perceber os
pequenos problemas que passam despercebidos na rotina. Com isso, será elaborado
o diagnóstico organizacional em conjunto, assim como será apresentado, num
segundo momento, proposta de planejamento realizada pelo consultor e pelo
empresário/líder. A construção do diagnóstico em equipe não deve ultrapassar 6 horas
e o planejamento das próximas etapas não deve ter duração maior que 12 horas,
divididas conforme necessidade1.
Uma vez que todos estejam envolvidos e dispostos, o Bloco I do Programa
SEBRAE de Qualidade para Pequenas Empresas, composto por 7 módulos de 4
horas cada, seria adaptado para módulos mais curtos, sugere-se 8 módulos de 2
horas cada. A redução na carga horária de cada módulo é justificada pelo tempo de
concentração que os funcionários teriam. Como mencionado, o quadro é composto
por funcionários com baixo nível de escolaridade, distantes há muito tempo de
qualquer forma de ensino, mantê-los atentos por 4 horas seria, possivelmente, tarefa
árdua. E, uma vez que a etapa de sensibilização será estendida, esse módulo se
concentraria apenas no estudo das necessidades dos clientes. O Bloco I agora teria
seu foco em discussões entre toda a equipe sobre o perfil dos clientes, o que esperam
da organização, como querem ser tratados, porque compram no estabelecimento.
Nessa etapa poderão ser usadas ferramentas de pesquisa de satisfação simples
como Escala Likert ou questionários curtos. As discussões serão guiadas pelo
consultor, que também terá a função de explicar como fazer uso das ferramentas que
serão aplicadas pelos funcionários.
O desperdício e a falta de organização foram constatados como principais pontos
que impactam negativamente na empresa, portanto, o Bloco II – D’Olho na Qualidade
será de fundamental importância. No modelo SEBRAE esse bloco é dividido em 5
módulos de 4 horas cada. Para este modelo adaptado, o bloco será composto por 7
módulos de 3 horas. As primeiras 6 horas serão para o consultor passar para a equipe
os objetivos a serem alcançados, traçar metas, dividir tarefas, revisar as ferramentas
a serem usadas e montar, em conjunto, um cronograma de aplicação que se encaixe
às outras tarefas que já fazem parte do cotidiano dos colaboradores. No segundo
momento, os módulos serão para discussões, retirada de dúvidas e avaliação de
resultados.
Por fim, o Bloco III, chamado no modelo SEBRAE de Melhoria de Processos, terá
a mesma duração de 20 horas, as primeiras 8 horas, divididas em dois dias na semana
de 2h, por 2 semanas, serão acordadas e normalizadas as melhores ferramentas de
melhoria de processos. Uma vez normalizadas, a equipe terá todo preparo e material
1
O número de horas sugerido nesta etapa foi baseado em experiências anteriores da autora.
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para seguir adiante com o processo até que a cultura da Qualidade esteja enraizada
na empresa. As 12 horas seguintes, serão divididas em 1 hora a cada semana, em
que o consultor, juntamente com a equipe, irá discutir sobre o andamento do processo.
Finalizado o Programa conduzido com o auxílio do consultor, a empresa será
totalmente capaz de prosseguir. Sugere-se que após esse período, mensalmente, o
consultor ainda faça visitas até que o Programa seja dado como um sucesso de
implantação.
As divisão de horas e as sugestões foram dadas de acordo com a vivência do
cotidiano da empresa, as experiências vividas durante o período de estágio e
sugestões da própria equipe.
Sabe-se que o processo é lento e gradual, que metas são definidas principalmente
a longo prazo, e, portanto, é preciso paciência e persistência.
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6. METODOLOGIA
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7. CONCLUSÃO
38
8. BIBLIOGRAFIA
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