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APONTAMENTOS II
1. O DOMÍNIO DO DIREITO INTERNACIONAL
O domínio do Direito Internacional compreende o espaço da projeção física do Direito Internacional. É feita distinção entre
duas categorias de Direito Internacional:

Domínio Indireto: Existe um espaço geográfico sujeito às competências das entidades que exercem os seus poderes a título
individual, podendo o DIP ser aplicado apenas por intermédio das técnicas de incorporação deste no Direito Interno. Aqui, há
o exercício de um poder estadual (ou equivalente) que se mantém dentro do território que lhe está adstrito. Perante as suas
competências pessoais há um exercício do poder público na esfera interna, incidindo sobre os nacionais, já quanto às suas
competências territoriais, há um Estado enquanto senhorio (permanência, plenitude e exclusividade) territorial, aí projetando
as suas leis. Neste domínio integram-se os seguintes espaços:

terrestre – composto por terra firme (artigo 8º CRP)

fluvial (onde vigora o princípio de liberdade de circulação) e lacustre – rios

marítimo sob soberania territorial

aéreo nacional

Domínio Direto: O DIP é aplicado imediatamente nos espaços que nele se compreendem, sem necessitar de qualquer
mediação por parte de entidades internas, estando os sujeitos internacionais em posição de igualdade.

Neste domínio incluem-se os seguintes espaços:

marítimo, não submetido a soberania territorial

polos terrestres

Pólo Norte: composto por água gelada e fria, aplicando-se o regime do mar alto e do espaço aéreo internacional,
tendo já vários Estados reivindicado a sua soberania, mas obviamente sem reconhecimento.

Antártida (Pólo Sul): constituído por espaço marítimo e território continental, havendo o Tratado de Washington
sobre esta, procurando-se a sua preservação livremente acessível por todos os sujeitos de Direito Internacional,
incluindo a autorização para pesquisa cientifica. Tem um regime com várias restrições como a sua não militarização,
a proibição de instalação de fortificações, bem como do lançamento de resíduos radioativos.

área internacional

exterior

1.1. Delimitação de Fronteiras


Domínio internacional: são imunes à alteração de circunstâncias e à guerra
Domínio interno: inclui-se nos limites materiais da Constituição da República Portuguesa

A delimitação de fronteiras é uma das questões que esteve na base de conflitos armados de grande gravidade.

No plano internacional, os tratados de delimitação de fronteiras são imunes à alteração de circunstâncias e à deflagração de
uma situação de guerra;

A demarcação de fronteiras pode apoiar-se em dois critérios simultaneamente alternativos e cumulativos:

1. Delimitação natural: divisão dos espaços em harmonia com acidentes naturais pertinentes para fazer as apropriadas
separações de território;

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de acordo com os acidentes naturais

2. Delimitação artificial: divisão especificamente organizada em falta de acidentes naturais que possam desempenhar tal
tarefa;

com a intervenção humana, por critérios racionalmente estabelecidos

3. Delimitação vertical: visa separar o espaõ geográfico em processo de delimtação de outros espaços

“supra” ou “infra” localizados

4. Delimitação Horizontal: tem o objetivo de distinguir o espaço geográfico em questão de outros espaços, congéneres ou
nao, que se situem no seu prolongamento.

Delimitação horizontal – nas várias direções (interior, exterior, lateral)

As fronteiras marítimas também são relevantes: os estados devem defini-las de modo equitativo, mas muitos preferem manter
uma situação em que não delimitam fronteiras para que possam beneficiar de uma maior área de exploração.

Demarcação de fronteiras: nenhum Estado pode delimitar unilateralmente as fronterias(artigo 75º/3 da CMB), logo os Estados
ou chegam a acordo ou recorrem para os Tribunais internacionais (artigo 83º).

Delimitação unilateral – ato jurídico público interno

Delimitação convencional – acordo entre Estados

Delimitação jurisdicional – decidida por Tribunal

1.2. Domínio Terrestre


A categoria mais óbvia de domínio indireto do Direito Internacional é a do domínio terrestre, que é onde se sedia a normalidade
da vida humana, bem como das respetivas instituições.

Este domínio terrestre é composto pela terra firme sobre a qual está construída a autoridade dos Estados, sendo também o
lugar por excelência do exercício da atividade político-estadual.

O seu caráter indireto resulta da evidente interposição deste poder público, unilateralmente definido ao nível da autoridade
estadual, nela mediatamente intervindo o Direito Internacional se e na medida em que o Direito Interno o tenha de respeitar.
Abrange terra seca, lagos e rios.

O seu limite vertical superior é o espaço aéreo e os limites horizontais são o início de outros espaços (marítimos,
estrangeiros...).

No caso dos Estados, é irrecusável que a soberania assume uma nítida dimensão territorial, relativamente à qual permite um
regime de uso desse mesmo território, nos termos da teoria do domínio eminente ou senhorial do mesmo, frente a pessoas - as
competências internas territoriais.

Na maior parte das situações, esse regime é logicamente definido pelos respetivos textos constitucionais, que na caracterização do
Estado também se incumbe do elemento territorial, sob a dupla perspetiva da sua delimitação e do regime que lhes reserva.

Essa definição pode ser igualmente assumida pelo Direito Internacional porque a aceitação da relevância internacional dos
Estados, com os elementos que o constituem, faz supor a sua soberania territorial, para além das hipóteses específicas em que o
próprio Direito Internacional acolha a extensão da soberania sobre o território terrestre.

Com este objetivo, é possível indicar dois exemplos que o podem ilustrar, assim se frisando que a soberania territorial é
internacionalmente reconhecida:

na CCACI, na definição do território estadual a que se aplica esta convenção: "Para efeitos da presente Convenção,
constituem território de um Estado as regiões terrestres e as águas territoriais adjacentes que estejam sob a soberania,
jurisdição, proteção ou mandato desse Estado" (art. 2° da CCACI);

na CNUDM, na definição do mar territorial, que está adjacente ao oi território terrestre: "A soberania do Estado costeiro
estende-se, além do seu território..." (art. 2°, n° 1, primeira parte, da CCACI).

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Tem sido discutida a natureza jurídica do poder estadual sobre o seu território, colocando-se inclusivamente a opção de esse poder
ser de natureza real. Mais do que a sua natureza jurídica, é essencial perceber que esse poder consiste na projeção da ordem
jurídica interna, de organização e utilização do território, mas que não se confunde com outras manifestações de poder público,
em que o Estado e as restantes pessoas jurídicas podem agir em relação:

o domínio público do Estado e das demais pessoas coletivas públicas: o conjunto dos direitos de utilização de bens coletivos
que, por causa da sua função, não podem ser objeto de comércio privado;

o domínio privado do Estado e das demais pessoas coletivas públicas: o conjunto dos direitos de utilização de bens coletivos
que, ao contrário daqueles, permitem a sua entrada no comércio privado;

o domínio privado das pessoas coletivas privadas: o conjunto dos direitos reais que se exercem sobre bens, ao abrigo da
ordem jurídica estadual.

⚠ O regime aplicável ao território terrestre é o do poder senhorial máximo do Estado sobre pessoas e bens.
O poder estadual sobre o seu território consiste na projeção da ordem jurídica interna e de organização e utilização do
território. Estes espaços estão, portanto sujeitos ao domínio interno.

No domínio terrestre exceciona-se a Antártida, um espaço internacional acessível por todos os Estados para
efeitos de pesquisa científica e biológica, de modo que não aceita reivindicações de soberania. O Tratado de
Washington (1959) prevê ainda a proibição de militarização e de lançamento de resíduos radioativos neste espaço.

1.3. Dominio Fluvial e Lacustre


O domínio fluvial e lacustre (domínio aquático) encontra-se, normalmente, inserido no domínio terrestre, distinguindo-se do
domínio marítimo.

O domínio fluvial consiste no espaço aquático dotado de corrente circulatória, nomeadamente rios e seus afluentes.

O domínio lacustre consiste no espaço aquático desprovido de corrente circulatória, nomeadamente lagos e lagoas.

Estes espaços são somente relevantes para a aplicação do Direito Interno, uma vez que essas mesmas porções de água doce se
contêm dentro das fronteiras de uma entidade estadual. A sua relevância internacional apenas pode ocorrer em casos de rios
internacionais sucessivos ou contíguos ou em lagos que fazem fronteira. Nestes tópicos enfatizam-se o princípio da liberdade de
navegação e o princípio da igualdade de tratamento de terceiros Estados.

1.4. Dominio Aéreo


O domínio aéreo consiste no espaço que compreende os espaços situados acima do território terrestre e a parcela do espaço
marítimo relevante tanto para o Direito Interno, como para o Direito Internacional.

A delimitação do espaço aéreo, num plano vertical, reporta-se ao espaço terrestre e marítimo subjacente e, quanto ao limite
superior não há consenso. Existem várias opiniões quanto ao limite vertical superior do espaço aéreo, entre elas que este termina
no espaço aéreo navegável, no ponto de limite da vida, no limite da atração gravitacional da terra, ou no ponto em que o Estado
tem capacidade para controlá-lo efetivamente. Não havendo consenso, convenciona-se os 100km para limite superior – Linha de
Karner.

O limite horizontal são os outros espaços aéreos adjacentes.

1. Espaço aéreo nacional

Compreende os espaços situados acima do território terrestre e da parcela do espaço marítimo sob soberania estadual,
sendo aqui aplicado o Direito Interno.

O artigo 15º da CRP fala-nos num território historicamente definido, mar territorial, etc, tendo-se uma lacuna constitucional, isto
é, o legislador não disse que o espaço aéreo pertence ao território nacional.

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2. Espaço aéreo internacional

Corresponde à massa de ar que se encontra acima dos espaços marítimos internacionais (por exclusão das massas de ar que
se encontram acima dos territórios e espaços marítimos sujeitos a soberania estadual). É uma zona internacional, submetida
à aplicação direta do DIP, sendo uma zona sujeita à liberdade de uso (para fins pacíficos). Encontrando-se 5 liberdades neste:

o direito de sobrevoo, escala técnica, tráfego e de desembarcar e embarcar pessoas e mercadorias.

Apesar das várias teorias (Espaço Aéreo Navegável, do Limite de Vida, da Atracção gravitacional da Terra ou do Controlo
Efectivo pelo Estado), a doutrina concorda que o espaço aéreo tem como limite os 100km de altitude (seja para os espaços
aéreos nacionais, seja para os internacionais).

O regime internacional da Convenção de Chicago sobre a Aviação Civil Internacional (1944) tem por pressuposto fundamental
no seu artigo 1º, o reconhecimento da soberania do Estado sobre o respetivo espaço aéreo. Têm, todavia, de respeitar um
conjunto de liberdades aéreas:

Direito de sobrevoo (passagem inofensiva)

Direito de escala técnica para reabastecimento e reparações

Direito de desembarcar e embarcar pessoas e mercadorias

Direito de tráfego em Estados terceiros

O domínio aéreo ganha relevância para o Direito Internacional quando se tratam de massas de ar que se encontram por cima dos
espaços marítimos internacionais.

Estas são zonas internacionais sujeitas a liberdade de uso. Trata-se do espaço aéreo internacional.

O espaço sideral ou exterior engloba o espaço constituído por todas as realidades físico- espaciais que se encontram para além
dos outros espaços (vácuo sideral, estrelas, planetas...).

É a zona acima dos 100km de altitude, estando sujeita à aplicação direta do Direito Internacional. O espaço exterior é
composto por toda a realidade físico-espacial que se encontra para além dos outros espaços, incluindo o vácuo sideral,
planetas e estrelas (e todos os outros elementos sólidos, líquidos ou gasosos conhecidos ou desconhecidos – ex. estrelas e
planetas).

Por se tratar de uma zona internacional está sujeita a um regime de liberdades, como a liberdade de navegação ou circulação
ou a liberdade de investigação científica.A internacionalidade do espaço exterior não está completamente regulamentada,
mas esta é uma zona considerada como pertencente à Humanidade, havendo então o princípio de in apropriação do espaço e
corpos celestes.

Há um tratado internacional: o Tratado sobre o Espaço Exterior, de 27. de janeiro de 1967 (TEUEE).

Estas matérias só se tornaram relevantes com a corrida ao espaço nos anos 50, sendo a partir daqui que surgem as principais
convenções sobre o tema.

1967 – Convenção sobre o espaço exterior + Acordo relativo ao Salvamento e Regresso de Astronautas e Retorno de Objetos
Lançados ao Espaço

1972 – Convenção que determina a responsabilidade internacional por danos causados por objetos espaciais por parte do
estado que lançou o objeto espacial, ainda que a sua queda não seja culpa sua.

1975 – Convenção sobre o Registo de objetos lançados ao Espaço exterior

1979 – Acordo regulador das Atividades dos Estados na Lua e outros corpos celestes

Para além de convenções existem já princípios costumeiros sobre a utilização do espaço sideral:

Princípios que regem o uso de satélites artificiais da Terra para Programas de Televisão Internacional pelos Estados

Princípios relativos à deteção remota da Terra do Espaço Exterior

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Princípios relativos à utilização de energia nuclear no espaço exterior

Declaração sobre a cooperação internacional na exploração e uso do espaço exterior em benefício e no interesse de todos os
Estados levando em especial Consideração as necessidades dos Países em Desenvolvimento

Do principal tratado que rege o espaço aéreo retiramos o princípio de inapropriabilidade do espaço e dos respetivos corpos
celestes, incluindo a Lua, sendo ilegítimas qualquer reivindicações de soberania.
Consagra também um conjunto de liberdades:

Navegação

Investigação científica

Instalação de satélites em órbita

Instalação na lua e outros corpos celestes de construções espaciais

Extração de recursos naturais dos corpos celestes

Liberdade de utilização do espaço exterior como meio de telecomunicação

Determina, ainda, que a utilização do espaço exterior deve ser conforme ao direito internacional: pacífica e adequada ao
interesse dos Estados → não é uma liberdade ilimitada.

As naves espaciais sujeitam-se ao mesmo regime dos navios e aeronaves, vigorando, em caso de acidente, o princípio da
responsabilidade internacional por danos causados.

1.5. Dominio Marítimo

💡 Neste domínio aplica-se, principalmente, a Convenção das Nações Unidas sobre Direito do Mar, também conhecida
como Convenção de Montego Bay (1982, a entrar em vigor em 1994).

A Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM), é um tratado multilateral celebrado sob os
membros da ONU em Montego Bay, Jamaica, a 10 de Dezembro de 1982, que define e codifica conceitos herdados
do direito internacional costumeiro referentes a assuntos marítimos, como mar territorial, zona econômica
exclusiva, plataforma continental e outros, e estabelece os princípios gerais da exploração dos recursos naturais do
mar, como os recursos vivos, os do solo e os do subsolo.

A Convenção também criou o Tribunal Internacional do Direito do Mar, competente para julgar as controvérsias
relativas à interpretação e à aplicação daquele tratado.

Um lugar à parte deve ser conferido ao Direito Internacional do Mar, além de que representa, nos dias de hoje, um dos mais
modernizados capítulos do Direito Internacional.

Os diversos espaços marítimos estão neste momento unitariamente concebidos pela CNUDM, sendo o resultado da III
Conferência das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, que durou 9 anos e que terminou em 10 de dezembro de 1982, quando foi
assinado, em Montego Bay, na Jamaica, aquele tratado internacional.

A sua vigência, porém, ficaria congelada durante bastante tempo, devido à oposição dos países mais ricos, numa reação de
discordância a respeito do novo regime jurídico da área.

Daí que tivesse sido necessário esperar pelo Acordo de Nova Iorque, relativo à aplicação da Parte XI, assinado naquela cidade em
28 de julho de 1994, que atipicamente reviu a CNUDM, fazendo com que esta pudesse, finalmente, entrar em vigor.

Participaram da conferência mais de 160 Estados.

A relevância da CNUDM está bem patente na quantidade de assuntos sobre que lançou o seu esforço codificador,
distribuindo-se os seus 320 artigos por 17 partes, sem ainda esquecer os seus 9 anexos.

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Do estudo da CNUDM, que se fará especificadamente quanto aos principais espaços marítimos que regula, sobressai a
importância do confluência de duas contraditórias tendências do Direito Internacional do Mar, o mesmo fenómeno se conhecendo
noutros setores do Direito Internacional:

uma conceção territorialista, mais antiga, preocupada com a delimitação e defesa dos espaços submetidos à autoridade
estadual mais intensa, sempre que possível se expandindo em relação às conquistas já alcançadas, o que também aconteceria
na própria CNUDM;

uma conceção solidarista, mais recente, em que se visa, nalguns dos novos regimes que emergiram, a defesa das posições
económico-internacionais dos Estados geograficamente mais desfavorecidos ou economicamente em desenvolvimento, bem
como as soluções de tipo equitativo na delimitação de espaços.

Ao nível regulativo, a apresentação de normas e dos princípios faz-se combinando diversas metodologias, num acentuado
aprimoramento técnico-científico que o Direito Internacional do Mar testemunha.

A conceção tradicional deste setor jurídico-internacional sempre foi altamente tributária do espacialismo geografista, corrente que
opera a determinação dos efeitos jurídicos recortando os diversos espaços geográficos com independência do teor dos respetivos
aproveitamentos. Por causa disso e durante séculos, o estudo do Direito do Mar conformou-se com uma visão dicotómico-abstrata
destes espaços submetidos à soberania estadual e aos espaços sob um direto regime internacional.
Nas últimas décadas, tem sobressaído uma visão funcionalista, em que o Direito Internacional do Mar se torna mais sensível às
suas múltiplas utilidades, numa tendência regulativa que será tanto mais justa quanto mais próxima e adequada for para cada
aproveitamento que se quer versar.

O espaço marítimo caracteriza-se pela sua tridimensionalidade e interoperatividade. Existem três tipos de Estados:

Estados costeiros

Estados arquipelágicos

Estados sem mar

Delimitação de fronteiras marítimas:

Pode acontecer que Estados frente a frente não tenham 400 milhas a separá-los, o que impede a existência das 200 milhas da ZEE
a cada um.

A regra fundamental é a delimitação por acordo (Artigo 74º/3): nenhum Estado pode, unilateralmente determinar fronteiras
exceto quando é possível delimitar espaços marítimos na sua plenitude sem afetar os direitos de outros Estados.

Não sendo possível a determinação de fronteiras unilateral, os Estados fazem um acordo ou recorrem a tribunal. Enquanto não se
chega a acordo, os Estados devem fazer esforços para chegar a ajustes provisórios de natureza prática. Estes acordos facilitam a
convivência entre dos Estados que não conseguem delimitar fronteiras.

No caso de ilhas não se atribui a totalidade dos espaços marítimos: se um Estado é demasiado próximo do outro começa por
desenhar-se uma linha equidistante, depois verifica-se se há algo que justifique o desvio dessa linha (uma ilha, por exemplo)
e fazer, por fim, o teste da equidade: verificar se a divisão coloca ambos os Estados numa posição de igualdade.

Corte Horizontal

Águas Interiores
Correspondem à porção de mar que se situa entre a terra seca e o limite do mar territorial (portanto, é a zona entre a
linha de maré alta e a linha de maré baixa).

Delimitação natural: a delimitação interior é feita na linha de baixa-mar.

Delimitação artificial: a delimitação da linha interior é feita por linhas de base retas. Esta delimitação é excecional,
atendendo a acidentes ou fatores geográficos (Art. 5º. e 7º. CMB).

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Têm como limites verticais a delimitação aplicável ao Mar Territorial e quanto aos seus horizontais, estes tanto podem ser
naturais (espaço entre terra firme e a linha do baixo mar), como artificiais (feita por linhas de base recatas – artigo 7º/1)
Regime: Aplica-se o direito estadual (Soberania do Estado) – predomina o domínio internacional indireto.

Caso as linhas de base retas abranjam uma grande porção de água, aplica-se o regime do direito de passagem inofensiva.

Mar Territorial:

Abrange a porção de mar que contiguamente se situa à sua costa marítima (artigo 2º/1).
A sua extensão é definida pelo artigo 3º: até um limite de 12 milhas, calculadas a partir da linha de base (assim, o
território dos Estados termina nestas 12 milhas – limite horizontal).

Incluem-se vários poderes ao Estado como o de pesca, utilização do espaço aéreo, exploração do solo e do subsolo, assim
como a instalação de cabos e oleodutos, tendo os Estados jurisdição sob os navios:

Poder de cabotagemo

Poder de pesca

Poder de utilização do espaço aéreo

Poder de exploração do solo e subsolo

Poder de regulamentação da passagem de navios estrangeiros

Poder de instalação de cabos e oleodutos

Poder de exercer a jurisdição, penal ou civil, sobre os navios

O mar territorial compreende também o solo e subsolo que lhe estão adjacentes (artigo 2º/2).

No mar territorial é aplicado o regime da soberania estadual, competindo ao Estado os poderes de pesca, exploração do solo
e subsolo, regulamentação da passagem de navios estrangeiros, entre outros. Este regime de soberania conhece alguns limites
impostos por princípios internacionais como o direito de passagem inofensiva (Artigos 17º e ss.) que assenta nos seguintes
pressupostos:

A passagem deve ser contínua e rápida(Art.18º/2);

Os navios submersíveis devem fazer a passagem à superfície e não em submersão, arvorando a sua bandeira (Art.
20º);o A passagem deve ser inofensiva para os valores fundamentais do Estado costeiro: “a paz, a boa ordem e a
segurança” (Art. 19º)

Contudo, tal soberania é limitada pelo direito de passagem inofensiva, previsto nos artigos 19º a 32º, de modo a garantir
uma navegação internacional.

Zona Contígua:
Espaço marítimo entre as 12 e as 24 milhas imediatamente adjacente ao mar territorial e tem uma missão
essencialmente defensiva da soberania estadual (não serve para aproveitamento dos recursos piscatórios), é como uma
zona tampão de defesa do Mar Territorial (art.33º/2 CMB)
Permite a limitação do regime de liberdade do Mar Alto, pela qual se permite ao Estado alguns poderes de mera jurisdição,
no âmbito da fiscalização do cumprimento da sua legislação, com o objetivo de evitar infrações às leis e regulamentos
aduaneiros, fiscais, de imigração e sanitários no seu território ou no seu mar territorial (art.33º/1/b) CMB); e reprimir estas
infrações, quando as haja.

Zona Económica Exclusiva (ZEE)


Zona situada além do mar territorial até às 200 milhas (não susceptivel a alargamento), sujeita a um regime híbrido,
com poderes que não se identificam exclusivamente com o modelo estadual nem com o modelo internacional (artigo
55º).

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Foi criada para garantir ao Estado Costeiro direitos preferenciais dos recursos vivos e existentes.

aproveitamento de recursos naturais e energéticos: o Estado costeiro tem direitos preferenciais na exploração destes,
mas é limitado: deve fazer uma exploração racionalizada, não podendo extingui-los e devendo partilhá-los com Estados
que não têm costa (Art. 61º, 69º e 70º) - Soberania limitada porque o Estado Costeiro tem primazia na sua exploração;

instalação de estruturas artificiais, de investigação científica e de proteção do meio marinho: está a cargo do Estado
costeiro, tendo este jurisdição exclusiva sobre essas estruturas (art.60º/2).

navegação, colocação de cabos marinhos e outras utilizações lícitas do mar são livres, estando acessíveis a qualquer
Estado, como se vigorasse o regime do Alto Mar (Art. 58º);

Mar Alto
Para lá das 200 milhas Zona internacional identificada por exclusão das outras zonas (na realidade, são as águas para lá da
ZEE). Por estar sujeita ao regime de DIP, é uma zona de liberdade internacional de navegação, de sobrevoo, de
instalação de cabos submarinos e instalações artificiais de pesca e investigação científica.O Mar Alto deve ser usado
somente para fins pacíficos, tendo em conta o interesse dos outros Estados, não pertencendo (nem podendo pertencer) a
qualquer outro Estado.
Estas liberdades não são desprovidas de limites, sendo imperiosos os limites da necessidade de uso para fins pacíficos, (Art.
87º/2) bem como o uso no interesse dos outros Estados (Art. 88º).

Res nullius: “Nenhum Estado pode legitimamente pretender submeter qualquer parte do alto mar à sua soberania” (Art.
89º).

Res communis omnium: O exercício da soberania do alto mar não é regulamentado em favor de uma entidade supra-
estadual.

As liberdades em Alto Mar apresentam algumas limitações:

Transporte de escravos

Pirataria

Tráfico de estupefacientes

Transmissões não autorizadas

Nestes casos, faculta-se aos Estados o poder de interferirem na liberdade dos outros Estados, podendo tomar a iniciativa da
repressão dessas práticas;

Corte Vertical

Plataforma continental
Compreende o leito e o subsolo das águas submarinas que se estendem além do mar territorial, em toda a extensão do
prolongamento natural do território terrestre do Estado costeiro (artigo 76º/1).
Os limites horizontais da plataforma vão até ao bordo exterior da margem continental (perspetiva geográfica) ou até
uma distância de 200 milhas das linhas de base (perspetiva jurídica), nos casos em que o bordo exterior da margem não
atinja essa distância.
O Estado costeiro exerce direitos de soberania exclusivos sobre a plataforma continental para efeitos de exploração e
aproveitamento dos seus recursos naturais.

A exclusividade significa que, se o Estado decidir não explorar tais recursos, nenhum outro Estado o pode fazer (artigo
77º/1, 77º/2).
A margem continental compreende o prolongamento submerso da massa terrestre do Estado costeiro e é constituída pelo
leito e subsolo da plataforma continental, pelo talude e pela elevação continentais. Não compreende nem os grandes fundos
oceânicos, com as suas cristas oceânicas, nem o seu subsolo (Art.76º/3).

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Os recursos naturais vivos pertencentes à plataforma continental têm a sua exploração regulada pelo artigo 77º/4.
No que respeita aos limites laterais, esta limitação deve ser feita por acordo, a fim de se chegar a uma solução equitativa
(artigo 83º/1)

Há dois limites que não podem ser ultrapassados:

1. O limite exterior da plataforma continental não deve exceder 350 milhas marítimas das linhas de base a partir das quais
se mede a largura do mar territorial (Art. 76º/6)

2. Uma distância que não exceda 100 milhas marítimas de isóbata de 2500m, que é uma linha que une profundidades de
2500 (Art. 76º/5)

Área (ou Zona)

Solo e subsolo subjacentes ao mar alto e que são o prolongamento da plataforma continental.
É uma zona internacional, não sujeita a soberania estadual (artigo 137º/1), de tal modo que a Área e os seus recursos
sãopatrimónio da Humanidade (artigo 136º).

Para gerir os recursos da Área, em nome da Humanidade, foi criada uma entidade internacional para o efeito: a Autoridade
dos Fundos Marinhos.
O artigo 149º regula as situações em que são encontrados objetos de caráter arqueológico e histórico na Área.

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