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Pontos principais:

1. **Contexto Histórico e Cultural:**


- A "escola francesa de análise do discurso" (AD) surge na França nos anos 60, in uenciada
pelo contexto intelectual da época, que unia re exões sobre texto e história.
- O estruturalismo, linguística, marxismo e psicanálise desempenharam papéis importantes na
formação dessa abordagem interdisciplinar.

2. **Origens na Prática Escolar:**


- A prática de "explicação de texto" era comum na França antes de 1960, da escola à
universidade.
- A AD pode ser vista como uma extensão dessa prática escolar.

3. **Expansão do Campo de Atuação:**


- A AD inicialmente se concentrou em textos politicamente marcados, especialmente discursos
de esquerda.
- Houve uma necessidade de de nir com precisão o campo da AD e sua especi cidade.

4. **Relação com a Linguística:**


- A AD baseia-se em conceitos e métodos da linguística, mas essa base não é su ciente para
marcar sua especi cidade.

5. **Dimensões a Serem Consideradas na Análise do Discurso:**


- A AD considera outras dimensões além da linguística, como o contexto institucional, embates
históricos e sociais, e o espaço próprio que cada discurso cria no interdiscurso.

6. **Competência Socioideológica:**
- A AD enfatiza a importância de uma competência ideológica ou geral, além da competência
linguística, para entender a prática discursiva.

7. **Conceitos Nucleares:**
- Dois conceitos fundamentais na AD são a ideologia e o discurso.
- A in uência de teóricos como Althusser e Foucault é evidente, com destaque para os termos
"formação ideológica" e "formação discursiva."

Explicação:

A "escola francesa de análise do discurso" (AD) tem suas raízes em uma tradição intelectual
europeia, especialmente na França, que uniu a re exão sobre texto e história. Isso ocorreu nos
anos 60, em um contexto intelectual marcado pelo estruturalismo, que permitiu uma articulação
entre linguística, marxismo e psicanálise. A AD nasceu como uma abordagem interdisciplinar,
sendo adotada não apenas por linguistas, mas também por historiadores e psicólogos.

Essa escola de análise do discurso se originou, em parte, da prática escolar francesa de


"explicação de texto", que era comum em todos os níveis de ensino. A AD surgiu como uma
maneira de estender e aprofundar essa prática.

A AD expandiu seu campo de atuação para diferentes áreas do conhecimento, e a polissemia do


termo "discurso" levou a uma busca por critérios mais precisos para de nir seu escopo. Ela não
se limita apenas à análise linguística, mas considera também o contexto institucional, embates
históricos e sociais, e o espaço que cada discurso cria no contexto do interdiscurso.

Um dos aspectos distintivos da AD é a ênfase na competência socioideológica, que vai além da


competência linguística. Isso signi ca que a análise do discurso não se limita à linguística
imanente, mas busca compreender como a ideologia se manifesta por meio da linguagem.

Dois conceitos centrais na AD são a ideologia e o discurso, sendo in uenciados por teóricos
como Althusser e Foucault. A partir desses conceitos, a AD desenvolve sua abordagem
especí ca, analisando não apenas as estruturas linguísticas, mas também as dimensões sociais e
ideológicas presentes nos discursos.
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O conceito de ideologia

1. **Origens do Termo "Ideologia":**


- O termo "ideologia" foi criado por Destutt de Tracy em 1810 na obra "Elements de ideologie".
- Inicialmente, a ideologia era vista como uma atividade cientí ca que analisava a faculdade de
pensar e tratava as ideias como fenômenos naturais que expressavam a relação do corpo
humano com o ambiente.
- Era considerada uma "ciência positiva do espírito" que se opunha à metafísica, teologia e
psicologia devido à sua precisão e rigor cientí co.

2. **Mudança de Sentido Pejorativo:**


- O termo "ideologia" adquiriu um sentido pejorativo pela primeira vez com Napoleão, que
quali cou os ideólogos franceses como "abstratos, nebulosos, idealistas e perigosos (para o
poder) devido à falta de conhecimento dos problemas concretos."
- A ideologia passou a ser vista como uma doutrina irrealista, sectária e sem fundamentos
objetivos, considerada perigosa para a ordem estabelecida.

Explicação:

O conceito de "ideologia" tem uma origem complexa e multifacetada. Inicialmente, foi introduzido
por Destutt de Tracy como uma atividade cientí ca que buscava analisar a faculdade de pensar e
tratava as ideias como fenômenos naturais relacionados à interação do corpo humano com o
ambiente. Nessa concepção inicial, a ideologia era considerada uma "ciência positiva do espírito"
que se destacava pela precisão e rigor cientí co, diferenciando-se da metafísica, teologia e
psicologia.

No entanto, ao longo do tempo, o termo "ideologia" sofreu uma mudança signi cativa em seu
signi cado. A virada pejorativa ocorreu com Napoleão, que rotulou os ideólogos franceses como
abstratos, nebulosos, idealistas e perigosos, principalmente devido à sua aparente falta de
compreensão dos problemas concretos da sociedade. A partir desse momento, a ideologia
passou a ser vista de maneira negativa, sendo associada a doutrinas irrealistas, sectárias e
desprovidas de fundamentos objetivos, que poderiam ameaçar a ordem estabelecida.

Essa mudança de sentido pejorativo é fundamental para entender como o conceito de ideologia
evoluiu ao longo da história e como passou a ser usado em contextos políticos e sociais para
denotar sistemas de crenças e valores que servem aos interesses de determinados grupos no
poder. A compreensão da ideologia desempenha um papel crucial em teorias críticas, como a de
Louis Althusser, que exploram as maneiras pelas quais as ideologias são usadas para manter
estruturas de poder e controle social.

Marx

1. **Origem do Termo "Ideologia":**


- O termo "ideologia" foi usado por Marx e Engels de forma negativa, similar à crítica de
Napoleão aos lósofos alemães.
- Marx e Engels condenaram a "maneira de ver abstrata e ideológica" dos lósofos alemães,
que não estabeleciam conexões entre a loso a e a realidade social e material.

2. **Separação Entre Produção de Ideias e Condições Sociais:**


- Marx e Engels identi caram "ideologia" com a separação entre a produção das ideias e as
condições sociais e históricas em que são produzidas.
- Eles basearam suas formulações em dados empiricamente veri cáveis, concentrando-se em
"indivíduos reais, sua ação e suas condições materiais de existência".

3. **Ideologia como Instrumento de Dominação de Classe:**


- Marx e Engels consideraram a ideologia como um instrumento de dominação de classe, em
que as ideias da classe dominante são impostas como ideias de todos.
- As ideias da classe dominante são as ideias dominantes em cada época, re etindo sua força
material e espiritual na sociedade.
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4. **Inversão da Realidade na Ideologia:**
- A ideologia inverte a realidade, colocando os homens e suas relações de cabeça para baixo.
- Essa inversão ocorre quando se parte das ideias para se entender a realidade, em vez de
partir da realidade para compreender as ideias.

5. **Base Real da Ideologia:**


- A ideologia sempre possui uma base real, mas essa base é apresentada de forma invertida e
ilusória.
- A aparência social é o modo como o processo social aparece para a consciência direta das
pessoas.

6. **Organização da Ideologia como Sistema Lógico:**


- A ideologia é organizada como um sistema lógico e coerente de ideias, valores e normas que
prescrevem como as pessoas devem pensar, sentir, valorizar e agir.
- Ela atua como explicação teórica e prática, mas não pode explicitar todas as diferenças e
contradições sociais, usando lacunas e silêncios para preservar sua coerência.

7. **Especi cidade da Ideologia de Classe Dominante:**


- Quando Marx fala de ideologia, ele se refere especi camente à ideologia da classe dominante,
que mascara e justi ca seu poder e exploração na sociedade capitalista.

Explicação:

Marx e Engels utilizaram o termo "ideologia" de forma crítica e negativa, associando-o à


separação entre a produção de ideias e as condições sociais e materiais em que essas ideias são
geradas. Eles identi caram a ideologia como um instrumento de dominação de classe, no qual as
ideias da classe dominante são impostas como as ideias de toda a sociedade.

A ideologia, de acordo com Marx, inverte a realidade, levando as pessoas a partir das ideias para
entender a realidade, em vez de partir da realidade para compreender as ideias. Isso cria uma
ilusão de que as ideias representam a realidade de forma precisa, quando, na verdade, são
distorcidas para servir aos interesses da classe dominante.

A base da ideologia é sempre uma base real, mas essa base é apresentada de forma invertida e
ilusória. A aparência social é como o processo social aparece na consciência direta das pessoas,
mas essa aparência pode ser manipulada e distorcida pela ideologia.

A ideologia é organizada como um sistema lógico e coerente de ideias, valores e normas que
prescrevem como as pessoas devem pensar, sentir, valorizar e agir. Ela atua como uma
explicação teórica e prática, mas utiliza lacunas e silêncios para preservar sua coerência.

É importante notar que, para Marx, a ideologia se refere especi camente à ideologia da classe
dominante, que é usada para justi car seu poder e exploração na sociedade capitalista. Portanto,
a crítica à ideologia está intimamente relacionada à crítica ao sistema capitalista e à exposição da
ideologia burguesa.

Althusser

1. **Função dos Mecanismos Ideológicos:** Althusser argumenta que a classe dominante usa
mecanismos para perpetuar e reproduzir as condições de exploração material, ideológica e
política. O Estado desempenha um papel central nesse processo, usando seus Aparelhos
Repressores (ARE) e Aparelhos Ideológicos (AIE).

2. **Diferença entre ARE e AIE:** Althusser distingue entre os ARE, que funcionam
predominantemente pela repressão (incluindo a força física), e os AIE, que funcionam
predominantemente pela ideologia. Os AIE, no entanto, também podem usar a repressão de
maneira atenuada ou simbólica.
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3. **Hegemonia Ideológica:** Althusser destaca que a ideologia dominante opera principalmente
por meio dos AIE, exercendo sua hegemonia ideológica. Isso é crucial para criar as condições
necessárias para a reprodução das relações de exploração.

4. **Conceito de Ideologia em Geral:** Althusser aborda o conceito de ideologia em geral,


diferenciando-o das ideologias particulares que representam posições de classe especí cas
(como religiosas, morais, jurídicas, políticas).

5. **Três Hipóteses sobre a Ideologia em Geral:**


- a) A ideologia representa a relação imaginária dos indivíduos com suas reais condições de
existência.
- Althusser enfatiza o caráter imaginário e produtivo da ideologia, destacando que os seres
humanos criam formas simbólicas de representação de suas relações com a realidade, e isso
envolve um distanciamento simbólico da realidade.
- b) A ideologia tem uma existência nos aparelhos ideológicos materiais e suas práticas.
- Althusser argumenta que a existência da ideologia é material, pois ela só é possível nos
aparelhos ideológicos materiais que prescrevem práticas reguladas por rituais materiais.
- c) A ideologia interpela indivíduos como sujeitos.
- Althusser destaca que a ideologia tem a função de constituir indivíduos concretos como
sujeitos. Isso envolve a interação entre o sujeito e os mecanismos ideológicos, incluindo o
reconhecimento e a inserção nas práticas reguladas pelos aparelhos ideológicos.

No geral, Althusser argumenta que a ideologia desempenha um papel fundamental na


manutenção da dominação de classe, atuando por meio dos AIE para moldar a forma como os
indivíduos percebem e se relacionam com a realidade, contribuindo assim para a reprodução das
relações de exploração.

Ricouer

Paul Ricoeur aborda o conceito de ideologia de forma ampla, destacando três instâncias
fundamentais:

**1. Função Geral da Ideologia:** Ricoeur argumenta que a ideologia desempenha um papel
fundamental como mediadora na integração social e coesão de um grupo. Ele descreve cinco
características dessa função:
a) Perpetua um ato fundador inicial, distanciando-se da memória social e perpetuando a
energia inicial.
b) É dinâmica e motivadora, impulsionando a prática social, motivando-a e servindo como
justi cação e comprometimento.
c) Simpli ca e esquematiza a realidade, fornecendo uma visão geral do grupo, da história e do
mundo.
d) Opera nos bastidores da consciência, sendo mais operatória do que temática, in uenciando
a forma como pensamos.
e) Pode ser intolerante e resistente a mudanças, tendendo a preservar as bases estabelecidas.

**2. Função de Dominação:** Nessa instância, Ricoeur relaciona o conceito de ideologia aos
aspectos hierárquicos da organização social, especialmente no que diz respeito à justi cação da
autoridade. Ele enfatiza que a ideologia atua como um sistema que legitima a dominação e, ao
fazer isso, pode distorcer e dissimular a realidade social.

**3. Função de Deformação:** Ricoeur aborda a ideologia em sua função de deformação,


destacando que essa função está ligada à inversão da realidade social. Ele menciona a religião
como um exemplo desse tipo de ideologia, que distorce a compreensão da realidade ao fazer
com que as pessoas confundam a imagem com o real, o re exo com o original.

Ricoeur argumenta que essas três funções da ideologia podem coexistir e se entrelaçar em
diferentes contextos. Ele enfatiza que, inicialmente, a ideologia não carrega necessariamente um
sentido negativo, mas seu caráter negativo surge quando a ideologia é usada para justi car a
dominação e distorcer a realidade. No entanto, ele também observa que a ideologia pode ser
uma visão legítima de mundo para um grupo social em uma determinada circunstância histórica.
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Além disso, Ricoeur destaca que a linguagem desempenha um papel crucial na expressão e na
transmissão da ideologia, uma vez que é por meio da linguagem que as representações
simbólicas da realidade são construídas e comunicadas. Ele reconhece que a linguagem pode
ser usada para manipular a construção da referência e criar sentidos novos, atenuar outros ou
eliminar indesejáveis.

Portanto, a visão de Ricoeur sobre a ideologia é mais ampla do que a interpretação estritamente
marxista, considerando a ideologia não apenas como uma "falsa consciência", mas também
como uma construção simbólica que desempenha papéis complexos na integração social,
justi cação da autoridade e distorção da realidade.
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