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EMOÇÕES

2020-2021
Bibliografia
PP das aulas teóricas
Kandel Principles of Neuroscience
Schirmer Emotion
Ward The student´s guide to Cognitive Neuroscience
Bear Neuroscience Exploring the Brain
Artigos citados nas PP

O esquema apresentado no fim do capítulo das Bases Cerebrais das Emoções é da autoria da
nossa colega Mariana Tomé, a quem agradeço a autorização para o colocar neste
trabalho.
O resumo foi comparado, no geral, com a sebenta das nossas colegas Andreia Adão e
Giovanna Esteves, para ver se não faltava nada. A maior diferença é na aula 10, que
penso que não consta este ano do programa. As partes retiradas desta sebenta estão
devidamente assinaladas.

Paula T P M Tavares
tavarespaula@edu.ulisboa.pt
Emoções: Conceito e Perspetivas Históricas 5

René Descartes 5

Charles Darwin 5

William James 6

Teoria Central de Cannon-Bard 6

O que é uma emoção? 7

Abordagem categorial 11

Abordagem dimensional 16

Abordagem Avaliativa 20

Bases Cerebrais das Emoções 23

Lobo límbico 23

Circuito de Papez 24

Anatomia do Sistema Límbico 25

A amígdala 27

Síndrome de Klüver-Bucy 27

Estrutura da amígdala 29

A amígdala e o condicionamento clássico de medo 30

Joseph Ledoux e a amígdala 32

A amígdala e as emoções positivas 33

Doença de Urbach-Wiethe 34

Patologia da amígdala 35

A amígdala e os circuitos cerebrais associados 36

Córtex Orbitofrontal 37

Córtex Pré-Frontal Ventromedial (Extinção) 39

Córtex Cingulado Anterior (dorsal) 43

Ínsula 44

Esquema Estruturas das Emoções da Mariana Tomé 49

Expressão e Reconhecimento de Emoções 53

Sistemas neuronais envolvidos expressões faciais 54

2
Sistemas neuronais envolvidos expressões vocais 54

Convergência multimodal face, voz e tato 55

Tipos de estímulos auditivos emocionais 56

Reconhecimento vocal emocional 57

Autenticidade do som e reconhecimento vocal emocional 59

Categoriais emocionais e velocidade reconhecimento vocal emocional 61

Perturbações psiquiátricas e reconhecimento vocal emocional 63

A importância da modalidade sensorial 68

Fatores afetam reconhecimento facial de emoções 70

Interações Emoção-Cognição 76

Atenção e Emoção 77

Emoções e Memória 80

Memória Dependente do Humor 84

Memória Congruente com o Humor 85

Aprendizagem Congruente com o Humor 86

Memória e Emoções: Evidência cerebral 86

Linguagem como manifestação de emoções 89

Diferenças culturais no processamento emocional 97

Emoções e cultura 97

Dados neurobiológicos 99

Elicitação emocional 100

Identidade social 102

Resposta emocional 103

Diferenças entre homens e mulheres no processamento emocional 108

Elicitação emocional 108

Resposta emocional 110

Resposta corporal 111

Reconhecimento emocional 112

Emoções ao longo do ciclo vital 115

3
Infância 115

Adolescência 116

Adultos idosos 119

Emoções: Implicações Clínicas 128

Eixo HPA (hipotálamo – pituitária – adrenais) 128

O papel da amígdala nas Perturbações de Ansiedade 130

Perturbação de stresse pós-traumático 131

O papel da amígdala na PSPT 133

O Papel do CPF medial na PSTP 134

O papel do Hipocampo na PSTP 135

Patologia da amígdala 136

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Emoções: Conceito e Perspetivas Históricas

René Descartes (XVII)


Reconheceu que o corpo e o cérebro são importantes para as emoções. Propôs
que a experiência das emoções depende de uma estrutura cerebral, a glândula
pineal, o ponto de contacto entre o corpo e a alma. As emoções são tipicamente
provocadas por eventos externos e são passivamente experienciadas pela alma,
mas em certas circunstâncias a alma pode moderar ou criar emoções. As emoções
são positivas, porque predispõem a alma a lutar pelas coisas que a natureza diz
serem úteis. Devemos evitar apenas o mau uso delas, ou os seus excessos.
Muitas respostas emocionais são automáticas e podem ocorrer na ausência de
pensamento deliberativo. Introduziu o conceito de regulação emocional,
formulando a existência de respostas emocionais bottom-up e top-down.
Descartes dividiu as emoções em emoções primárias e emoções secundárias,
que são variantes de uma emoção primária ou combinações de emoções
primárias e secundárias. Também tentou atribuir a estes estados emocionais
funcionalidade.
Mas, cometeu o erro de pensar que a mente é imaterial, que se apercebe e age
através do corpo, que é um mero autómato.

Charles Darwin (XIX)


Realizou pela primeira vez um paralelo entre as emoções humanas e as
emoções dos outros animais. Certos princípios governam as emoções e a sua
expressão, e eles são comuns entre as espécies: 1) Os animais realizam certos
movimentos voluntários porque são úteis num dado contexto. Com o tempo, estas
ações tornam-se habituais e ficam associadas a uma emoção. Quando o animal
sente a emoção, tende a mover-se de acordo com o hábito adquirido. A expressão
habitual é transmitida entre gerações de pais para filhos; 2) Há expressões
emocionais que aparecem simplesmente porque são a antítese de outras
expressões emocionais raiva vs afetuoso (não se acredita nisto hoje); 3) Algumas
expressões emocionais resultam de alterações do sistema nervoso em
determinados estados mentais, não tendo sido adquiridas por vontade e depois
tornadas habituais em associação com uma emoção. Ex. tremer.

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As emoções são úteis: servem de comunicação entre membros da mesma
espécie, sinalizando motivações, vontades, etc.
Tal como Descartes considera que as emoções estão ligadas as alterações
corporais (ex. alteração ritmo cardíaco) e comportamentais.

William James (XIX-XX)


As tentativas modernas de compreender as emoções iniciaram-se em 1890,
com William James, o fundador da psicologia norte-americana. As situações
emocionais elicitam representações cerebrais dos eventos externos, que por sua
vez promovem alterações corporais específicas para cada emoção. De acordo com
William James, cada emoção (medo, júbilo, raiva) resulta de perceção das
mudanças corporais induzidas por situações específicas, ou assinatura corporal
(1884). Uma emoção surge quando a expressão corporal daquela resposta
emocional penetra a consciência. A teoria da retroalimentação periférica
de James derivou do conhecimento do encéfalo na época, que estabelecia que o
córtex tinha áreas devotadas ao movimento e às sensações. Pouco se sabia acerca
de áreas específicas do encéfalo responsáveis por emoção e sentimento.
As emoções são diferentes porque o objeto que as elicitam são diferentes, mas
a emoção subjacente não é, no sentido em que os mesmos princípios se aplicam
a todas as emoções.

Teoria Central de Cannon-Bard (XX)


Na década de 1920, Cannon demonstrou que a transecção do encéfalo acima
do hipotálamo (por meio de um corte que separa o córtex e o tálamo, do
hipotálamo e de outras áreas mais abaixo, no encéfalo) produzia um animal que

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ainda era capaz de expressar raiva. No entanto, uma transecção abaixo do
hipotálamo eliminava a expressão de raiva. Isso implicava claramente o
hipotálamo nas reações emocionais.
Cannon e seu aluno Phillip Bard propuseram uma teoria bastante influente da
emoção, centrada no hipotálamo e no tálamo. De acordo com essa teoria, a
informação sensorial processada no tálamo seria enviada para o hipotálamo e o
córtex cerebral. As projeções para o hipotálamo produziriam respostas
emocionais (via conexões com o tronco encefálico e a medula espinal), enquanto
as projeções para o córtex cerebral produziriam os sentimentos conscientes. O
hipotálamo seria o responsável pela avaliação do significado emocional dos
estímulos externos e as reações emocionais dependeriam de sua estimativa.

Cannon discordava que as alterações corporais, propostas pela teoria de


James-Lange, fossem necessárias para existência das emoções. Afirmou que as
emoções existiam mesmo sem manifestações corporais.

O que é uma emoção?


Apesar de uma vasta quantidade de trabalho teórico e empírico, não existe
ainda uma resposta inequívoca. A palavra é usada de inúmeras formas.

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Emoção = estado mental consciente ou inconsciente, elicitado por evento(s)
avaliado(s) como relevante para as nossas necessidades e que motiva(m)
comportamentos no sentido de se concretizar essas necessidades.

Os afetos são considerados estados de sensação mais básicos do que as


emoções. Alguns teóricos concebem-nos simplesmente como uma sensação de
prazer ou desprazer (valência). Outros teóricos consideram que os afetos são mais
complexos, mas que mesmo assim falham várias componentes das emoções: as
suas características subjetivas, as cognições a elas associadas, as respostas
fisiológicas ou comportamentais.
O humor não tem um objeto específico que o gere. Pode derivar de causas
internas (hormonais) ou externas (a acumulação dos eventos da vida do
indivíduo). Longa duração.
……………………………………………..Sebenta…………………………………………………
De seguida descrevem-se as características dos processos emocionais ou
afetivos. Diferentes emoções são caracterizadas diferencialmente nestes
processos.

1. RELAÇÃO COM A MOTIVAÇÃO


Só existem reações emocionais quando está em jogo uma necessidade humana,

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ou seja, não há reações emocionais perante situações em relação às quais o
indivíduo é indiferente. A intensidade da emoção relaciona-se com a intensidade
da motivação subjacente. Os diferentes tipos de emoções distinguem-se, entre
outras coisas, pelo tipo de motivação subjacente.

2. COMPROMISSO
A resposta emocional tende a surgir em situações em que a pessoa esteja
pessoalmente envolvida ou comprometida. Ex. a situação envolve o Eu, algo ou
alguém de quem a pessoa gosta.

3. APPRAISAL
As emoções resultam da análise cognitiva que as pessoas fazem das situações,
em termos do seu significado e, sobretudo, das suas implicações, para si e para os
seus compromissos. Algo que é importante para a pessoa corre o risco de se
perder (medo), foi perdido (tristeza), está a ser prejudicado (raiva).

4. SENSAÇÃO SUBJETIVA
Cada emoção tem uma sensação subjetiva que lhe é característica, e permite às
pessoas identificar o estado emocional em que se encontram. A observação das
situações e dos comportamentos da pessoa permite à comunidade linguística
identificar a emoção que a pessoa está a experienciar e dar-lhe um nome. A pessoa
aprende então a usar esse nome para designar esse estado subjetivo.

5. ALTERAÇÕES PSICOFISIOLÓGICAS
Em muitos casos, as emoções são acompanhadas de alterações fisiológicas em
zonas periféricas do corpo (fora do sistema nervoso central), por ação do sistema
nervoso autónomo (cuja ação é independente da vontade).

6. TENDÊNCIAS COMPORTAMENTAIS
As emoções tendem a induzir certos tipos de comportamento, classificados em
dois grandes tipos:
1) Comportamentos funcionais - permitem alterar a situação no
ambiente exterior, lidando de forma direta com a situação que gerou a emoção
(ex: fugir quando se sente medo, atacar quando se sente raiva).

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2) Comportamentos expressivos - Não têm uma ação direta sobre o
ambiente, mas visam apenas informar outros indivíduos acerca do estado
emocional da pessoa.

7. CARÁTER ADAPTATIVO
É possível apontar vantagens das emoções em termos de adaptação,
sobrevivência e sucesso reprodutivo, tornando plausível que tenham sido
construídas pelos mecanismos da evolução.

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Abordagens teóricas

Os julgamentos dão origem às emoções


vs
As emoções dão origem aos pensamentos

As emoções são resultado da evolução


vs
As emoções são socialmente construídas

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Abordagem categorial

Paul Ekman (XX)


A abordagem categorial é descendente direta da abordagem de Darwin, que
considera que as emoções são categorias básicas, naturais e universais. O foco é
na expressão emocional facial (ou postural). As emoções básicas têm sinais
universais distintos entre si que são inatos. Num estudo de 1969 em 6 culturas
distintas, observou que todas conseguiam distinguir acima do acaso as expressões
faciais de alegria, medo, nojo, raiva, surpresa e tristeza. Também verificou que as
expressões faciais produzidas pelas pessoas das culturas pré-literárias eram
corretamente reconhecidas por pessoas das culturas literárias.
As emoções básicas estão associadas a perfis fisiológicos específicos, que
preparam o corpo para a ação através de modulações específicas do SNA por cada
emoção.
Estipula a existência de um mecanismo de avaliação automático, que
permitiria que certas impressões sensoriais, devido ao seu significado evolutivo,
ativassem automaticamente representações emocionais e respetivos
comportamentos, sem a contribuição dos processos cognitivos superiores. Ex,
resposta a estímulos subliminares de medo.
Cada emoção básica está associada a um antecedente universal, evento que
consistentemente ativa a emoção, independentemente do contexto cultural ou
familiar da pessoa.
As emoções básicas não têm de estar necessariamente presentes, ou
totalmente diferenciadas, ao nascimento. Podem emergir, através de processos
desenvolvimentais, quando necessárias para motivar comportamentos de auto-
proteção.
Partilhadas entre humanos e primatas.

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Caracterizadas por início súbito, duração curta e ocorrência
automática.
As emoções são programas sensório-motores discretos e cada um destes
programas consiste num circuito cerebral coerente que elícita e integra cognições
e respostas somáticas num sistema neural unitário (e.g., Ekman, 1992; LeDoux,
1996; Ohman & Wiens, 2004).

Suporte para teoria categórica das emoções


 Estudos que demonstram a capacidade dos seres humanos em
identificar consistentemente as emoções em rostos, sons, movimentos
corpo, toque, alguns destes estudos foram feitos em várias culturas
distintas.
 Estudos de neuroimagem:

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Qual é a estrutura básica da experiência emocional e como é representada no
cérebro humano?
A teoria das emoções básicas discretas, propõe um conjunto limitado de
emoções básicas, como felicidade e medo, que são caracterizadas por perfis
fisiológicos e neuronais únicos. Embora muitos estudos, usando diversos
métodos, tenham localizado as estruturas cerebrais envolvidas no processamento
das emoções básicas, evidências dos estudos individuais e de meta-análises de
neuroimagem foram inconclusivos sobre se as emoções básicas estão associadas
com consistência a ativações cerebrais regionais particulares. Neste estudo
revisitaram esta questão, usando estimativa de probabilidade de ativação (ALE),

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que permite a comparação estatística voxelwise, espacialmente sensível, dos
resultados de vários estudos.
A meta-análise ALE produziu resultados consistentes com a teoria da
emoção básica. Cada uma das emoções examinadas (medo, raiva, nojo, tristeza
e felicidade) foi caracterizada por correlatos neuronais consistentes entre os
estudos, tendo-se encontrado correlações entre as ativações cerebrais regionais.
Além disso, os padrões de ativação associados a cada emoção foram discretos (e
discrimináveis das outras emoções em contrastes de pares) e com resultados
concordantes com as correspondências estrutura-função identificadas usando
outras abordagens, fornecendo evidências convergentes de que as emoções
básicas discretas têm correlatos neuronais consistentes e
discrimináveis.
Complementando estudos anteriores que demonstraram correlatos neuronais
para as dimensões afetivas de excitação e valência, os resultados atuais da meta-
análise indicam que os elementos-chave da teoria da emoção básica são refletidos
em correlatos neuronais característicos para cada emoção.

Neste estudo investigaram a hipótese de o reconhecimento das emoções ser


mediado por regiões do cérebro anatomicamente separadas, dependendo de o
estímulo representar ou não uma ação.
Estudaram o paciente B, com lesões cerebrais bilaterais extensas.
Tarefa: Reconhecer e nomear as emoções expressas em estímulos visuais e
verbais. Exemplo de estímulos emocionais estáticos: fotos de expressões faciais,
nome das emoções básicas. Exemplos de estímulos emocionais dinâmicos:
expressões faciais dinâmicas, histórias descrevendo emoções.
Resultados: B só conseguiu identificar a felicidade nos estímulos emocionais
estáticos. B conseguiu identificar todas as emoções primárias, com exceção do
nojo, nos estímulos emocionais dinâmicos.

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Conclusões: Estes resultados são consistentes com a ideia de que a
informação sobre as ações é processada nos córtices occipitoparietal e
frontal dorsal, que estavam intactos no cérebro de B. Essa informação é
subsequentemente transmitida aos córtices somatosensoriais que medeiam
o reconhecimento do seu conteúdo emocional. As lesões na insula de B
podem explicar a sua incapacidade de reconhecer o nojo. Outras estruturas
danificadas no cérebro de B, como lesões bilaterais na parte anterior e
inferior dos lobos temporais, e córtice medial frontal, parecem ser
críticas para que a informação sobre os estímulos emocionais estáticos
possa ser transmitida às áreas capazes de processar o seu conteúdo
emocional: bilateral amígdala, córtex medial orbitofrontal, e ínsula.

Limitações da abordagem categorial:

• As pressupostas ‘categorias emocionais’ podem ser produzidas


artificialmente através das escolhas metodológicas dos investigadores (Russell,
1994). Ex. são os investigadores que escolhem os estímulos e as palavras
classificatórias.

• Falta de consenso quando ao nº e tipos de categorias ou emoções básicas.


“Jaak Panksepp (1992, 2004), for example, proposed a set of neural criteria.
Among other things, he postulated basic emotions to be characterized by inborn
and emotion-specific neuronal systems that can activate relevant sensory and
behavioral processes that proved adaptive in a species’ evolutionary past. Unlike
Ekman (2005), Panksepp (2005a) does not consider emotional expressions as
important and recognizes only 7 rather than 15 or more basic emotions.”

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Paul Ekman: felicidade, tristeza, repugnância, medo, surpresa e raiva; mais
tarde acrescentou outras, como o orgulho, vergonha, embaraço e
entusiasmo;
Izard: alegria, raiva, desprezo, repugnância, aflição (distress), medo, culpa,
interesse, vergonha, surpresa;
Arnold: raiva, aversão, coragem, desânimo, desejo, desespero, medo, ódio,

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esperança, amor, tristeza;
Panksepp: seeking, rage, fear, panic, play, lust, care.
……………………………………………..Sebenta…………………………………………………

• Falta de suporte para a existência de respostas fisiológicas e


comportamentais específicas para cada emoção, ou seja, em diferentes contextos
a mesma emoção pode gerar comportamentos fisiológicos diferentes ou até
mesmo opostos.

Abordagem dimensional
As emoções são experiências que variam em uma ou mais dimensões
contínuas.
 Arousal ou ativação (elevado vs. baixa) - grau de excitação ou
ativação que uma pessoa pode sentir em relação a um estímulo,
variando entre calmo e relaxado até excitado e alerta.
 Valência (positiva vs. negativa) - grau de prazer que um estímulo
pode gerar, variando de algo que é desagradável e faz a pessoa sentir-
se triste ou infeliz a algo que é agradável e fá-la sentir-se feliz.

Um dos exemplos deste tipo de abordagem é a modelo do circumplexo de


James Russell:

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Core affect As duas dimensões propostas por Russell descrevem uma
experiência afetiva básica ligada ao estado neurofisiológico atual. Alterações no
core affects ocorrem ao longo de toda a vida do individuo em função de eventos
internos (ex. ritmo circadiano) e externos (ex. imagens assustadoras). Quando as
alterações no core affect se tornam aparentes, as atribuições da sua causa a um
evento externo ou interno, as respostas autonómicas, e outros aspetos do episódio
emocional são mapeados no conhecimento já existente sobre as emoções
prototípicas, o que permite ao individuo experienciar a emoção.

Muitos candidatos para as 3ª e 4ªdimensões:


• Dominância - grau de controle que o sujeito sente sobre um estímulo,
variando entre sentir-se sem poder para lidar com a situação até sentir-se em
controle.

Suporte da perspetiva dimensional


• Estudos comportamentais com estímulos emocionais variados como
rostos, imagens, palavras, utilizando este tipo de classificação produziram
resultados congruentes com a teoria de Russell.
• Estudos de neuroimagem:

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Várias teorias conceptualizam a emoção ao longo de 2 dimensões, ''valência ''
e '' excitação ''. A excitação varia ao longo de um eixo de intensidade aumentando
do neutro até máximo de excitação. A valência pode ser descrita como: 1)
Contínua bipolar, entre o triste e o feliz, como defende o modelo circumplexo; 2)
Dimensões positivas e negativas independentes; 3) Como um valor hedônico
(distância do neutro). Neste estudo, usou-se o fMRI para caracterizar a atividade
neuronal correlacionada com a excitação e com a valência durante apresentação
de palavras afetivas. Os resultados sugerem uma dissociação dupla em que
sub-regiões diferentes do córtex orbitofrontal processam afeto
positivo e negativo, enquanto a amígdala processa preferencialmente a
excitação. Os dados suportam a validade fisiológica das descrições de
valência como dimensões positivas e negativas independentes, ou
como um valor hedônico, mas não sustentam a validade de descrições
de valência ao longo de um continuo bipolar.

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Usando fMRI e estudos comportamentais, descobriu-se que processos
cognitivos e neuronais distintos contribuem para a representação do
arousal e da valence dos estímulos. 1ª fase: Leitura e codificação de
palavras neutras, negativas excitantes e negativas não excitantes. 2ª fase: Dizer o
grau de confiança com que cada palavra se encontrava na lista de palavras
“estudadas” na 1ªfase. A informação excitante (arousal) dependeu de uma
rede amigdalar-hipocampal, enquanto que a informação não excitante
(valence) dependeu de uma rede envolvendo o córtex pré-frontal - rede
hipocampal implicada em processos de codificação controlados. Um estudo
comportamental subsequente, com um paradigma de atenção dividida, no qual
os participantes tiveram de realizar uma tarefa competidora enquanto

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codificavam as palavras (1ª fase), confirmou que a memorização da valência
esteve dependente do controlo cognitivo, visto que a tarefa competidora,
que também requereu controlo cognitivo, reduziu a recordação de palavras
negativas não excitantes (2ª fase). A memorização da excitação não esteve
dependente do controlo cognitivo, ocorreu automaticamente, mesmo
quando os recursos de codificação foram desviados para a tarefa competidora. A
ativação da amígdala e do hipocampo esquerdos correlacionaram-se com a
subsequente recordação de estímulos negativos excitantes.

Limitações da Abordagem Dimensional

• Principal evidência baseada em dados de auto-relato, da avaliação explicita


dos estímulos pelos participantes.
• Desacordo quanto ao número e natureza das dimensões propostas.
• Parece retirar às emoções as suas diferenças qualitativas essenciais.
• Os estudos de neuroimagem não são conclusivos. While there are a number
of studies that find correlations between brain activity and subjective dimensions
of valence and arousal, the locus of these correlations differs between studies.

Abordagem Avaliativa

Modelo componente - processo da avaliação proposto por Klaus Scherer.


• As emoções resultam de um conjunto de operações mentais que preparam o
corpo para a ação.
• Quatro principais operações ou avaliações:

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Relevância: 1) Os eventos que são muito familiares ou esperados não
requerem uma resposta emocional tão extensiva como os eventos novos ou
inesperados; 2) Avaliação do prazer intrínseco do evento, prazer dita
aproximação, desprazer dita afastamento; 3) Avaliação da relação entre o evento
e os objetivos do individuo. Eventos próximos dos objetivos do individuo são
considerados mais relevantes.
Implicações do evento: A ocorrência deste evento pode provocar que
consequências no futuro? Inclui inferências sobre a urgência da ação e sobre o
alcançar dos objetivos.
Potencial de coping: Se o evento pode ser controlado de alguma forma, se
tem recursos para o controlar, ou se podem ajustar-se a viver com as
consequências potenciais do evento.
Significância normativa do evento: O indivíduo relaciona o evento a
normas e expectativas pessoais e da sociedade.

Estas avaliações são feitas pela ordem em que foram descritas. O individuo vai
fazendo as avaliações de forma continua passando automaticamente de uma para
a outra, e a emoção vai emergindo incrementalmente até atingir o seu máximo,
após a última avaliação. A emoção não é uma entidade discreta, como proposto

21
pela teoria categórica, mas uma experiência gradual que pode ser representada
num espaço multidimensional.
Os eventos emocionais são processados a diferentes níveis: sensório-motor,
esquemático e concetual. Sensório-motor: automático, tipicamente incons-
ciente, programas emocionais geneticamente programados; Esquemático:
automático, tipicamente inconsciente, programas aprendidos, que classificam
eventos com base na familiaridade; Concetual: consciente, requer análise
sofisticada e consciente dos eventos.

Ao contrário de outras abordagens, explica o vasto espectro de experiências


emocionais, incluindo experiências não-prototípicas para as quais não existe um
rótulo específico.
Única abordagem que explicitamente especifica por que razão 2 indivíduos
confrontados com o mesmo evento podem sentir diferentemente, ou por que
razão 2 eventos aparentemente distintos podem causar a mesma emoção.
Considera a importância de fatores contextuais (e.g., ver um prato de comida
apetitosa quando se está com fome vs. saciado).

Limitações
• Abordagem implica elevada exigência computacional. Por ex. um dos estudos
avaliou 28 palavras com respeito a 144 características emocionais.
• Emoções podem ser experienciadas sem avaliação de um evento emocional
(Izard, 1993; Parkinson, 2007). Ex. alteração da posição do corpo pode alterar as
emoções sentidas. A avaliação dos eventos não é necessária para se sentir uma
emoção, e podem resultar dos pensamentos subsequentes com que o individuo
explica o que sentiu.
• Avaliações podem não ser suficientes para a experiência de uma emoção ou
para a mudança de um estado emocional. Por ex., se estivermos de bom humor
um evento que habitualmente nos provoca raiva pode não provocar.
• Não é intuitivo como diferentes avaliações evoluíram para suportar
diferentes emoções (perspetiva evolutiva). 1) Podem ter evoluído
independentemente, com as primeiras formas de avaliação a aparecer antes das
últimas, que dependem da inserção num grupo normativo; 2) Podem ter evoluído
numa forma dependente e específica para cada emoção .

22
Bases Cerebrais das Emoções
Nota: grande parte do capítulo foi retirada da tradução brasileira do Kandel.

Lobo límbico
No século XIX, Paul Broca chamou à atenção para as porções dos lobos frontal,
parietal e temporal que cercam os ventrículos onde circula o líquido cerebrospinal
no encéfalo, formando uma região contínua na borda do córtex cerebral distinta
do córtex circundante. Ele designou essa região como lobo límbico (Umbus, do
latim "borda").

23
Circuito de Papez
Em 1937, James Papez ampliou a teoria de Cannon-Bard. A informação
sensorial do tálamo seria enviada para o hipotálamo e para o córtex sensorial. A
partir do hipotálamo, conexões descendentes para o tronco encefálico e a medula
espinal originariam as respostas emocionais. Também do hipotálamo seguiria
informação para o tálamo anterior e depois para o córtex cingulado. Ao córtex
cingulado convergem sinais do hipotálamo (via tálamo anterior) e do córtex
sensorial. Essa convergência seria responsável pela experiência consciente da
emoção. O córtex sensorial envia informação para o córtex cingulado e para o
hipocampo, este último via córtex entorhinal. O hipocampo estabelece conexões
com os corpos mamilares do hipotálamo, completando a alça.

– As estruturas límbicas, incluindo o córtex, estão envolvidas na emoção.


– Sistema emocional na parede medial do cérebro.
– Liga o córtex ao hipotálamo

Evidência para o Circuito de Papez:


– Lobotomia Temporal Bilateral

24
Anatomia do Sistema Límbico
A partir dos modelos de Cannon-Bard e Papez e das descobertas de Klüver e
Bucy, Paul MacLean sugeriu, em 1950, que a emoção seria produto do "encéfalo
visceral". O encéfalo visceral incluía as várias áreas corticais que há muito
vinham sendo chamadas de lobo límbico, na parede medial dos hemisférios. Por
essa razão, MacLean renomeou o encéfalo visceral de sistema límbico. O sistema
límbico inclui as várias áreas corticais que constituíam o lobo límbico de Broca
(especialmente as áreas mediais dos lobos temporal e frontal) e as regiões
subcorticais conectadas com essas áreas corticais, como a amígdala e o
hipotálamo.
MacLean pretendeu que a sua teoria fosse uma elaboração das ideias de Papez.
No entanto, para MacLean o hipocampo é que era a sede das emoções. O
hipocampo seria a parte do encéfalo onde o mundo externo (representado nas
regiões sensoriais do córtex) se encontra com o mundo interno (representado
pelo hipotálamo e pelo córtex medial), permitindo que o mundo interno
conferisse peso emocional ao mundo externo, originando, assim, as emoções
conscientes. Para MacLean, o hipocampo estava envolvido tanto na expressão de
respostas emocionais do organismo quanto na experiência consciente das
emoções. Estudos subsequentes levantaram problemas para a teoria do sistema
límbico de MacLean. Em 1957, foi descoberto que uma lesão no hipocampo
levava a deficiências na conversão da memória de curta para a de longa
duração, uma função distintamente cognitiva. Além disso, animais com lesões
hipocampais são capazes de expressar emoções, e humanos com lesões
hipocampais expressam e sentem emoções normalmente. Em geral, lesões em

25
áreas do sistema límbico não têm os efeitos esperados sobre o comportamento
emocional.

Na figura seguinte, o lobo límbico consiste em tecido cortical primitivo (em


azul) que circunda a parte superior do tronco encefálico, assim como estruturas
corticais mais profundas (hipocampo e amígdala). As setas indicam o sentido
predominante da atividade neural em cada trato, embora esses tratos sejam
bidirecionais.

Embora lesões na maioria das áreas límbicas não apresentem os efeitos


preditos pela teoria do sistema límbico sobre o comportamento emocional, uma
área límbica mostrou consistentemente estar envolvida na emoção. Essa área é
a amígdala.

26
A amígdala

• A amígdala é, no presente,
reconhecida como um coordenador
principal, ligando o processamento
cortical ao hipotálamo e a outras
estruturas cerebrais subcorticais
importantes para o comportamento
emocional.

Síndrome de Klüver-Bucy

Primeira evidência significativa da relação entre a amígdala, as estruturas


temporais a ela relacionadas e o processamento emocional (Heinrich Klüver e
Paul Bucy, 1939). Klüver e Bucy removeram bilateralmente os lobos temporais de
macacos e observaram uma variedade de distúrbios psicológicos, incluindo

27
alterações nos hábitos de alimentação (os macacos colocavam na boca objetos
não comestíveis) e no comportamento sexual (tentavam fazer sexo com parceiros
inapropriados, como membros de outras espécies). Além disso, esses animais
apresentavam uma espantosa falta de cuidado com objetos antes temidos (p. ex.,
humanos e serpentes).

Weiskrantz procurou entender qual era a região do lobo temporal responsável


pela síndrome de Klüver-Bucy. Para tal, utilizou o condicionamento operante, no
qual um animal aprende a executar respostas, perante um estímulo
condicionado, para evitar um choque aversivo. Macacos normais aprenderam as
respostas instrumentais (i. e., pressionar uma alavanca) para evitar o choque,
mas macacos com lesões da amígdala não o fizeram. Weiskrantz concluiu que
uma função-chave da amígdala era conectar estímulos externos com suas
consequências aversivas (punição) ou recompensadoras. Também

28
observou alterações comportamentais nos macacos similares às já descritas para
a síndrome de Klüver-Bucy.
Estudos subsequentes, demonstraram que a amígdala é essencial para o
condicionamento clássico de medo, a aprendizagem da ligação entre um
estímulo neutro e um estímulo incondicionado que provoca medo.

Estrutura da amígdala

A amígdala consiste em aproximadamente 12 núcleos, mas os núcleos


lateral e central são especialmente importantes para o medo condicionado.
Uma lesão em qualquer desses núcleos, mas não em outras regiões, impede o
aparecimento do medo condicionado. O núcleo lateral é o núcleo de
entrada, que recebe sinais aferentes do estímulo condicionado (p. ex., um tom)
originários do tálamo. O núcleo central é a núcleo de saída, projeta para as
áreas do tronco encefálico envolvidas no controle dos comportamentos
defensivos e das respostas neurovegetativas e humorais associadas. Os núcleos
lateral e central estão conectados por meio de diversos circuitos intra-
amigdalianos, incluindo conexões nos núcleos basal e basolateral.
Os sinais sensoriais vindos dos núcleos de estações talâmicas são
retransmitidos simultaneamente para áreas sensoriais do córtex e para o núcleo
lateral da amígdala. A
amígdala é assim capaz de
responder a um sinal de perigo
antes que o córtex possa
processar a informação
referente ao estímulo. Uma
vez que o processamento
cortical é necessário para a
experiência consciente do
medo, o estado emocional
desencadeado pelos sinais
talâmicos é provavelmente
iniciado antes que se sinta
conscientemente o medo.

29
A amígdala e o condicionamento clássico de medo

Acredita-se que o núcleo lateral da amígdala seja um local onde é


armazenada a memória do condicionamento clássico do medo. Sinais de
CS e US convergem no núcleo lateral, quando CS e US são pareados, a efetividade
do CS é aumentada. O núcleo lateral parece ter divisões funcionais: parte dorsal
da divisão dorsal inicia a aprendizagem quando CS e US são pareados, parte
ventral da divisão dorsal medeia a memória de longo prazo da associação CS-US.
O núcleo central também faz parte dos circuitos de formação e armazenamento
da memória do condicionamento clássico do medo.

30
A carga emocional de um estímulo é avaliada pela amígdala para
determinar se há perigo presente. Se a amígdala deteta perigo, ela orquestra
a expressão de respostas comportamentais e fisiológicas por meio de
conexões com o hipotálamo e com o tronco encefálico. Por exemplo, o
comportamento de congelamento é mediado por conexões do núcleo central para
a região da matéria cinzenta periaquedutal ventral. Além disso, a amígdala
apresenta uma variedade de conexões que também lhe permitem influenciar
outras funções cognitivas. Por exemplo, através de suas amplas projeções para
áreas corticais, ela pode modular a atenção, a perceção, a memória e a tomada
de decisão. Suas conexões com núcleos modulatórios dopaminérgicos,
noradrenérgicos, serotonérgicos e colinérgicos que se projetam para áreas
corticais também influenciam o processamento cognitivo.

A amígdala desempenha um papel central na aprendizagem


emocional e na geração de respostas apropriadas a pistas ambientais.

31
A amígdala também é importante para o medo nos humanos
Pacientes com lesões na amígdala não:
 Desenvolvem medo condicionado quando são expostos a um CS
neutro pareado com um US (choque elétrico ou barulho alto).
 Não reconhecem expressões faciais de medo.
 Não geram respostas autônomas de medo a expressões faciais de
medo.
Em humanos normais, a atividade da amígdala aumenta durante o
pareamento CS-US. Essa atividade é especialmente forte quando os estímulos são
apresentados de forma subliminar. Em indivíduos normais, expressões faciais de
medo, conscientes ou subliminares, ativam a amígdala. Isto revela a importância
da amígdala na avaliação subconsciente do significado de um estímulo.
As capacidades de aprendizagem da amígdala humana enquadram-se na
categoria das memórias implícitas. Em situações de perigo, no entanto, o
hipocampo e outros componentes do sistema do lobo temporal medial envolvidos
no armazenamento de memória explícitas (a evocação consciente de pessoas,
lugares e coisas) permitem que estímulos associados ao perigo sejam evocados
conscientemente. Pacientes com lesão da amígdala não demonstram respostas
fisiológicas a um CS (indicando não ter havido aprendizagem implícita), mas têm
boa memória da experiência de condicionamento (indicando ter havido
aprendizagem explícita), ao passo que pacientes com lesão hipocampal
respondem normalmente ao CS, mas não têm memória consciente da experiência
de condicionamento.
A função da amígdala encontra-se alterada em diversos transtornos
psiquiátricos em humanos, sobretudo transtornos de medo e ansiedade. Além
disso, a amígdala desempenha um papel importante no processamento de
estímulos relacionados com drogas capazes de desencadear dependência.

Joseph Ledoux e a amígdala


Nota: Esta referência a Josehp Ledoux foi inserida porque, apesar de não estar
nas PPT do curso, saiu em exame, e os nossos colegas recordam-se de a Prof.
referir o seu trabalho nas aulas. https://www.cns.nyu.edu/ledoux/research.htm

32
Utilizarei como referência o artigo LeDoux (2003), The Emotional Brain, Fear, and
the Amygdala.
A amígdala era parte da teoria do sistema límbico de MacLean. No entanto,
só em 1956, com o trabalho de Weiskrantz na síndrome de Klüver-Bucy, é que
ela ganhou particular relevância. Nos anos que se seguiram, inúmeros
estudos debruçaram-se sobre o papel da amígdala no medo. No entanto, não
chegaram a conclusões consistentes, em parte devido à complexidade
das tarefas comportamentais usadas. Então, no fim da década de 1970, começo
da década de 1980, Ledoux e os colegas começaram a utilizar uma tarefa
comportamental muito simples, o medo Pavovliano condicionado em ratos,
para estudar as redes neuronais do medo. Os seus trabalhos e os de outros
grupos permitiram descobrir que a amígdala está envolvida na aquisição e
expressão do medo condicionado.

A amígdala e as emoções positivas


A amígdala está envolvida em emoções positivas em animais e em humanos:
 Em macacos e ratos, a amígdala é necessária para associar estímulos
neutros a recompensas.
 Evidências crescentes de estudos por imagem funcional em humanos
também têm demonstrado que a amígdala está envolvida na emoção positiva e na
recompensa, por exemplo, é ativada quando os indivíduos observam fotografias
de estímulos associados a alimento, sexo e dinheiro, ou quando as pessoas
tomam decisões com base no valor de recompensa dos estímulos.

A fMRI foi usada em sujeitos humanos normais para investigar o papel da


amígdala na aquisição e extinção do medo condicionado. Comparou-se a ativação

33
de um estímulo visual associado a choque eléctrico (CS +) com a ativação de um
estímulo visual neutro (CS-). A ativação da amígdala/córtex peri-amigdalóide
foi observada durante a aquisição e extinção do medo condicionado.

A extensão da ativação durante a aquisição foi significativamente


correlacionada com os índices autonômicos de condicionamento em sujeitos
individuais. O perfil da resposta da amígdala foi graduado temporalmente,
embora essa dinâmica fosse estatisticamente confiável apenas durante a extinção.
Estes resultados fornecem evidências adicionais para a conservação da função da
amígdala entre as espécies e implicam uma contribuição amigdalar para os
processos de aquisição e extinção durante tarefas de aprendizagem emocional
associativa.

Doença de Urbach-Wiethe
• Calcificação bilateral da amígdala:
– Os pacientes deixam de experimentar medo ou ira
– Estão incapazes de reconhecer essas expressões
– Diminuição da resposta emocional
– Ausência de resposta para estímulos inesperados
– Ausência de resposta galvânica para imagens emocionais

34
Em Bear nas referências.

Patologia da amígdala
• Pacientes com lesão amigdalar:
– Resposta emocional condicionada alterada
– Fracasso no reconhecimento do medo

• Psicopatia – disfunção amigdalar?


– Baixa reactividade amigdalar a estímulos emocionais

35
– Dificuldade em aprender com base na punição

• Ansiedade – hiper-reactividade amigdalar?


– Sistema de ameaça sobreactivado?

A amígdala e os circuitos cerebrais associados

……………………………….… adaptação da sebenta…………………………………

36
● Via curta (tálamo - amígdala): a informação sensorial é enviada
diretamente do tálamo para a amígdala, ocorrendo uma resposta inconsciente
emocional rápida.
● Via longa (tálamo - áreas corticais/córtex sensorial - amígdala)
A via longa permite ter consciência da emoção, analisar a situação atual e
compará-la a situações similares no passado. Se já iniciámos a resposta fisiológica
(ex.: coração já começou a bater mais rápido), essa resposta pode, ou não
(dependendo do contexto - ex.: ouvir um tiro em Portugal/EUA), ser atenuada.

Input inibitório: quando aquilo que percecionamos como ameaça, afinal não
o é, e o córtex pré-frontal ventromedial envia informação para a amígdala para
esta atenuar a “resposta” do medo.
………………………………………….… sebenta………………………………………………

Córtex Orbitofrontal

Região do CPF na base dos lobos frontais anteriores.


• Recebe input do tálamo dorsomedial, tegmentum ventral e amígdala.
• Output para o cingulado, o hipocampo, o lobo temporal, a amígdala e o
hipotálamo.

• Envolvido no uso da emoção na tomada de decisão.

37
– Descodificação e reconhecimento de reforços primários (e.g., paladar e
toque);
– Controlo e correção de comportamento relacionado com recompensa/
punição.

Córtex Orbitofrontal – Patologia


• Ausência de modulação emocional na tomada de decisão – (sem aversão ao
risco/punição)
• Dificuldades no julgamento social (comportamento anti-social)
• Dificuldades no controlo emocional (raiva)

O caso de Phineas Gage: De um indivíduo responsável, respeitável, religioso e


socialmente adaptado, PG tornou-se irreverente, profano, descontrolado e
impulsivo. Where was Phineas Gage’s brain lesion? This question was answered
by an MRI reconstruction of Gage’s skull, which found damage restricted to the
frontal lobes, particularly the left orbitofrontal/ventromedial region and the left
anterior region (Damasio et al., 1994).

O córtex orbitofrontal está envolvido na aprendizagem do valor


motivacional e emocional dos estímulos. O OBF trabalha em conjunção
com a amígdala para aprender e representar as relações entre os novos estímulos
(reforços secundários) e os reforços primários como comida e sexo. O OBF pode
detetar alterações no significado recompensatório dos estímulos aprendidos e
promover alterações comportamentais adequadas.
Registos unitários de neurônios em macacos mostraram que a atividade no
córtex orbitofrontal reflete o valor das recompensas antecipadas. Quando fatores
contextuais alteram o valor que o macaco atribui ao alimento (ex. já não tem
fome), a taxa de disparos neuronais no córtex orbitofrontal diminui.

A hipótese dos marcadores somáticos de Damásio


Nesta teoria, os marcadores somáticos formam a ligação entre a memória
fatual (o que aconteceu no evento) e a memória emocional (o que se sentiu no
evento) dos eventos passados. De acordo com Damásio et al. os marcadores
somáticos são armazenados no OBFC.

38
Quando a pessoa é confrontada com situações que requerem uma decisão, os
marcadores somáticos associados a situações similares à atual são ativados,
gerando uma emoção, que irá influenciar a tomada de decisão do indivíduo.
Permitem tomadas de decisão em situações de incerteza.

Córtex Pré-Frontal Ventromedial (Extinção)

• O CPF ventromedial desempenha um papel central na regulação


emocional.
• Permite a aprendizagem de uma interpretação positiva de um estímulo
previamente negativo.
• Atenua a resposta da amígdala.
• Comportamento: ausência de resposta a uma pista de medo prévia.

Do artigo Rauh et al. (2006) Neurocircuitry Models of Posttraumatic Stress Disorder


and Extinction Human Neuroimaging Research:

Uma regulação (top-down) deficiente do ventromedial prefrontal córtex


(vmPFC) na amígdala provoca hiper-responsividade da amígdala a estímulos
ameaçadores, défices na extinção do medo e na capacidade de suprimir a atenção
a estímulos traumáticos, como acontece na PTSD (posttraumatic stress
disorder).
Maior atividade do vmPFC prevê melhor aprendizagem de que um estímulo
condicionado já não está associado à ocorrência do evento negativo (extinção) =
quanto maior a atividade do vmPFC maior é o sucesso da aprendizagem “de uma
interpretação positiva do estímulo neutro”.

O vmPFC e VLPFC interagem com estruturas subcorticais como a amígdala no


sentido de modular as respostas emocionais.
As funções executivas do lobo frontal estão organizadas em duas grandes
áreas: 1) Controlo e avaliação de estímulos emocionais (orbitofrontal e
ventromedial PFC); 2) Controlo e avaliação de estímulos não emocionais (lateral
PFC).

INFORMAÇÃO EXTRA - COMEÇO

39
Nota: O Kandel, tal como muitos autores, assumiu que o OBF pertence ao
vmPFC, pelo que muita da informação lá descrita aplica-se também ao OBF.
De acordo com Dixon et al. (2017) Emotion and prefrontal cortex: An integrative review:
“the term “ventromedial prefrontal cortex” is no longer useful and should be
discarded in favor of more precise anatomical labels. The distinct
cytoarchitecture, connectivity patterns, and functions of the sgACC, pgACC,
medial OFC, and RMPFC suggests that these regions should not be subsumed
under a single label.”

Para quem tiver curiosidade, deixo aqui mais alguma informação do artigo de
Dixon et al. (2017) sobre as diferenças funcionais entre lateral OBF (lOFC) e o
medial OBF (mOFC), este último pertencente à área cerebral conhecida por
ventromedial prefrontal córtex (vmPFC).

40
41
INFORMAÇÃO EXTRA - FIM

42
Córtex Cingulado Anterior (dorsal)

O ACC divide-se na subdivisão dorsal cognitiva e na subdivisão ventral afetiva:

A subdivisão ventral afetiva do ACC é ativada por tarefas emocionais,


estando envolvida no processamento emocional em controlos saudáveis e na
ativação de sintomas em várias desordens psiquiátricas como ansiedade, fobia e
OCD. Bush et al. (2000) Cognitive and emotional influences in ACC.

A subdivisão dorsal cognitiva do ACC recebe informação somatosen-


sorial relacionada com a dor. A tristeza também ativa as mesmas áreas da dor,
como por ex., aquando da separação social ou do corte de relações importantes
(situações de stress social). Esta área também é ativada no contexto do medo
condicionado ou quando se expõem os participantes a estímulos de medo. Esta
área está também associada a situações de conflito cognitivo, como o Stroop-task,
nos quais os participantes têm de suprimir uma resposta automática para realizar
uma resposta controlada.

Patologia do Cingulado Anterior implicada em perturbações emocionais


como:
– Depressão: diminuição do volume e alterações nos padrões de atividade.

43
Resultado idêntico no paper da PP.

A depressão provoca hipoativação (menor do que nos controlos) do dorsal


ACC, por sua vez, maior atividade na ventral ACC tem estado associada a melhor
resposta à medicamentação.
Method: The authors recorded 28-channel EEG data for 18 unmedicated
patients with major depression and 18 matched comparison subjects. Clinical
outcome was assessed after nortriptyline treatment.
Results: The patients with better responses showed hyperactivity (higher
theta activity) in the rostral anterior cingulate (Brodmann’s area 24/32).

– Esquizofrenia

Ínsula

Em humanos, o córtex insular, em especial o anterior, está envolvido na


representação visceral e na experiência emocional. É ativado durante a evocação
de emoções e durante a sensação consciente de dor e temperatura.

44
O córtex insular recebe informação homeostática (sinais de temperatura e dor,
alterações no pH sanguíneo, nas concentrações de dióxido de carbono e oxigênio
no sangue) através de vias que se originam nas fibras nervosas periféricas. Isto é
uma evidência do envolvimento dos sinais aferentes somatossensoriais no
processamento das emoções. Nos pacientes com comprometimento autônomo
puro, uma doença na qual a informação aferente visceral está gravemente
comprometida, estudos de imagiologia revelam um embotamento dos processos
emocionais e atenuação da atividade das áreas somatossensoriais que contribuem
para as emoções.
A insula anterior é ativada durante a perceção de expressões faciais de nojo, e
estudos de pacientes mostram o envolvimento da insula no
reconhecimento de expressões vocais e faciais de nojo e na
experiência do nojo.
A atividade da insula anterior reflete a intensidade subjetiva das experiências
emocionais do próprio e dos outros.
A atividade da insula anterior também foi associada ao processamento,
representação e aprendizagem de informação sobre o risco e a incerteza.

• Papel na produção de um contexto emocionalmente relevante para a


experiência sensorial, tal como nojo e desconforto.
– Aviso sobre estímulos potencialmente nocivos.
• Importante papel na experiência da dor.
– Codifica aspectos afectivos da dor.
• Recebe input do núcleo central da amígdala.

45
Descreve um modelo no qual a insula suporta diferentes níveis de
representação de estados emocionais atuais e futuros, que permite aprendizagem
tentativa-erro e análise da incerteza.
Três tipos de modality-specific feeling states:
a) Predicted state: como é que a pessoa prevê sentir-se no futuro.
b) Actual state: como é que a pessoa se sente no momento presente.
c) Prediction error: diferença entre a previsão e o que aconteceu.
Em relação à incerteza também propõem a existência de três tipos de estados:
predictive uncertainty, actual uncertainty e uncertainty prediction errors. Por
ex., permite-me saber quão incerta eu estou sobre a dor que me vai causar um
estímulo doloroso.

Neste modelo unificador a ínsula integra informação sensorial externa e sinais


fisiológicos internos com computações sobre a incerteza. Esta computação dá
origem a um sentimento subjetivo que estimula comportamentos motivacionais
e sociais, e regula a homeostase corporal. O sentimento subjetivo é modulado pela
avaliação contextual e pelas preferências individuais, como aversão ao risco. Tais
mecanismos podem facilitar a aprendizagem afetiva e regulação da homeostase
corporal, e também podem orientar a tomada de decisão em ambientes
complexos e incertos.

46
fMRI: Expressões de nojo à ativação da ínsula direita
– Percepção de faces de nojo desencadeia activação preferencial da ínsula.

47
Finalmente, as bases neuronais para o componente hedônico ou aspecto
prazeroso dos estados de sentimentos estão sendo elucidadas em estudos animais
por Kent Berridge e seus colaboradores. Esses estudos consistentemente
implicam o nucleus accumbens e outros núcleos da base, especialmente o
estriado ventral e o pálido ventral.

48
Esquema Estruturas das Emoções da Mariana Tomé

49
50
51
52
Expressão e Reconhecimento de Emoções

Do artigo do Shirmer e Adolphs (2017) Emotion Perception from Face, Voice, and
Touch: Comparisons and Convergence:

Historicamente, a investigação na perceção emocional tem se focado nas


expressões faciais, e as descobertas nesta modalidade tem dominado o que se
pensa sobre as outras modalidades.
As expressões faciais dos seres humanos dependem de 17 pares de músculos
faciais, que partilhamos com os grandes macacos. Quantificação dos movimentos
faciais dos músculos e a sua composição relativa nas várias expressões
emocionais faciais é fornecida pela Facial Action Encoding System (FACS). As
pessoas são habitualmente capazes de reconhecer acima do acaso a felicidade, a
tristeza, o medo, a raiva e o nojo.
As vozes são uma importante modalidade para a comunicação emocional. As
características do som podem ser quantificadas em termos de altura, frequência
e qualidade da voz, que combinados relacionam-se com o afeto percebido na voz.
A altura e a frequência do som correlacionam-se positivamente com a arousal.
Os participantes conseguem identificar as emoções dos sons quando há poucas
categorias à escolha, mas à medida que o nº de categoriais aumenta o acordo
entre participantes diminui consideravelmente.
53
Menos emoções podem ser reconhecidas na voz do que na face.

Sistemas neuronais envolvidos expressões faciais


Fusiform Face Area (FFA) no córtex temporal inferior, está ligada à amígdala.
Um estudo com multivoxel pattern analysis (MPA) identificou áreas no córtex
visual primário, FFA, medial PFC, e o STS que estão envolvidas na discriminação
das diferentes expressões faciais.
Reconhecimento de expressões faciais de medo fica comprometida com lesões
na amígdala e de nojo com lesões na insula.

Sistemas neuronais envolvidos expressões vocais


O sistema auditivo tem duas vias, com origem diferente no corpo geniculado
medial do tálamo. Uma das vias, a lemniscal, está tonotopicamente organizada e
envia a informação para o córtex auditivo primário (BA 41). A segunda via, não-
lemniscal, está fracamente organizada em termos tonotópicos, foca-se nos
componentes lentos do som, e envia a informação para o córtex auditivo
secundário (BA 42).

Sons vocais vs Sons não vocais ativam bilateralmente o córtex auditivo


secundário e o córtex superior temporal adjacente. Como estas áreas são
recrutadas por todo o tipo de sons complexos, não são específicas para os sons
vocais.

54
As vocalizações emocionais produzem maior ativação nas áreas envolvidas no
processamento do som, em especial no hemisfério direito. Lesões na amígdala
perturbam o reconhecimento de emoções vocais.
Utilizando MVPA, as várias expressões vocais podem ser diferenciadas com
base no padrão de ativação que promovem nas áreas temporais envolvidas no
processamento da voz, no mPFC e no córtex temporal superior posterior. A
perceção de nojo fica dificultada com lesões na insula, e o medo com lesões na
amígdala.

Convergência multimodal face, voz e tato


As apresentações multimodais (face e voz) produzem julgamentos mais
rápidos e exatos, e conduzem a maior ativação cerebral no tálamo, STS, FFA,
insula e amígdala e áreas de associação como lateral PFC, medial PFC e posterior
cingulate. O pSTS é também uma zona de convergência polimodal onde se dá a
convergência de expressões emocionais provenientes do córtex visual e auditivo.
Investigação com ERPs mostra que a estimulação multimodal produz
diferenças entre as condições emocionais e neutras, que se observam tão cedo
quanto 100 ms após o estímulo. Isto mostra que a integração entre modalidades
não é um processo que ocorre após cada uma das modalidades individuas ter sido
analisada. Ao invés, é suportada por neurónios multimodais ativados nas fases
iniciais de processamento, incluindo o colículo superior e o tálamo, e aumenta ao
longo das vias corticais.

Convergência multimodal de sinais emocionais no cérebro. A cor bege indica


a mistura de modalidades que começa durante os primeiros estádios de perceção
no tronco cerebral (Colículo Superior, SC) e tálamo, e progride no cérebro, onde
os estímulos (por exemplo, faces, voz) são integradas e mapeadas em modelos de
emoção (ou seja, gestalt emocional). Em estádios de processamento tardio, os
indivíduos representam o significado emocional amodal. Representações de nível
superior podem realimentar e modular representações de nível inferior.
Regiões como a FFA, a amígdala, o middle STS e a insula posterior podem
suportar grandes representações percetuais. Nestas áreas, as várias
características do estímulo podem ser agrupadas e mapeadas num modelo
previamente armazenado, o emotional gestalt. Num estado mais avançado do

55
processamento, regiões como o PFC, o posterior cingulate e o pSTS podem
suportar representações concetuais que envolvam códigos abstratos não
específicos de modalidade.

Fim da introdução retirada do artigo do Shirmer e Adolphs (2017) Emotion


Perception from Face, Voice, and Touch: Comparisons and Convergence:

Resto do capítulo segue ordem da PP da aula T respetiva.

Tipos de estímulos auditivos emocionais

Vocalizações emocionais não-verbais


Parte de comportamentos inatos que comunicam estados emocionais (e.g.,
gargalhadas, gritos). Equivalente filogenético mais directo das vocalizações
animais. Equivalente auditivo das expressões faciais (Belin et al., 2004). Estas
vocalizações surgem antes da linguagem (ex.: choro e riso em bebés aparecem
antes da comunicação verbal) e ocorrem também em animais.

56
Prosódia emocional
Expressão vocal da emoção no discurso. Contudo, algumas emoções são
raramente expressas, de forma natural, através da prosódia: e.g., moans, groans
or bursts of laughter (Scherer, 1981).

Reconhecimento vocal emocional

Com que precisão reconhecemos emoções expressas vocalmente?


As emoções (básicas) parecem ser reconhecidas de forma precisa (diria exata
) em diferentes culturas, independentemente da sua modalidade sensorial
(relação com teorias evolutivas).

Suporte para a universalidade do reconhecimento das emoções básicas:


– face (Ekman, 1992; Izard, 1994; Russell, 1994);
– prosódia (Bryant & Clark Barrett, 2008; Scherer, Banse, & Wallbott, 2001;
van Bezooijen, Otto, & Heenan, 1983);
– vocalizações não-verbais (Sauter, Eisner, Ekman, & Scott, 2010).

Event-Related Potential (ERP) Correlates of Facial and Vocal Emotion


Processing.

57
• No hemisfério esquerdo o N170 associado a faces é mais negativo para as
faces emocionais do que para as faces neutras.
• No hemisfério direito o P200 é mais positivo para sons vocais emocionais do
que para sons neutros.

A precisão no reconhecimento de expressões vocais emocionais é, em geral,


menor do que no reconhecimento de expressões faciais.
Faces 75-80% (Ekman, 1994) vs. Voz 55-65% (Scherer, 2003)

As diferenças específicas da modalidade sensorial podem estar relacionadas


com funções biológicas e pressões evolutivas (e.g., Banse & Scherer, 1996). Por
comparação com a face, a voz permite uma comunicação de estados emocionais
abrangendo maiores distâncias e um maior nº de pessoas (Liebenthal et al.,
2016).

Algumas emoções básicas podem ser identificadas através de estímulos vocais


com uma precisão bem acima do acaso, por taxa de acerto: a raiva, a tristeza e o
medo (~60% em média – Scherer, 1981). A alegria parece ser reconhecida quase
com precisão total quando transmitida pela face (precisão 96% nas culturas
Ocidentais – Russell, 1994), mas é difícil de reconhecer inequivocamente esta
emoção quando transmitida pela voz (Johnstone & Scherer, 2000).

58
As expressões vocais de nojo (prosódia) são reconhecidas com precisão pouco
acima do acaso (Adolphs et al., 2002; Scherer, 2003).

Autenticidade do som e reconhecimento vocal emocional

Mas a precisão com que reconhecemos emoções expressas


vocalmente varia em função da autenticidade do som?

Os estudos da comunicação não-verbal da emoção utilizam estímulos


teatralizados. Sauter et al. levantaram preocupações sobre se o uso deste tipo de
estímulos poderia aumentar a exatidão do reconhecimento (vs. expressões
espontâneas, que realmente ouvimos no dia-a-dia).

59
Em Sauter el al. não se observou uma diferença significativa entre o acerto no
reconhecimento de emoções espontâneas ou teatralizadas, quer na modalidade
visual, auditiva ou audiovisual para o conjunto de estímulos GEMEP (Geneva
Multimodal Expression Corpus).
A modalidade teve um efeito significativo em termos de precisão: o
reconhecimento era melhor quando o estímulo era bimodal do que unimodal,
mas não houve diferenças entre estímulos unimodais.
Não houve um efeito significativo de autenticidade: a precisão de
reconhecimento não diferiu entre os estímulos teatralizados e os estímulos
espontâneos, em nenhuma modalidade.
No entanto, para um segundo
conjunto de estímulos (retirados
da internet), houve diferenças,
com os teatralizados a serem mais
bem reconhecidos que os
espontâneos, mas todos acima do
acaso.

Esta tabela foi obtida para os estímulos GEMEP.

60
As expressões teatralizadas de raiva e de medo foram reconhecidas com
mais precisão do que suas contrapartes espontâneas, enquanto as expressões
espontâneas de tristeza foram reconhecidas melhor do que as teatralizadas, e
nenhuma diferença foi encontrada para expressões de alegria.

Categoriais emocionais e velocidade reconhecimento


vocal emocional
Mas será que determinadas categorias emocionais são
reconhecidas mais rapidamente do que outras?
Em comparação com os sons não vocais, os sons vocais produzem um pico
positivo por volta dos 200 ms, o P200, com fontes nas áreas temporais envolvidas
no processamento da voz. A amplitude do P200 aumenta com a intensidade
emocional da voz.

A avaliação do significado emocional de expressões vocais é um processo


cognitivo temporalmente dinâmico (Pihan, 2006). Integra diferentes aspetos
dimensionais da entoação vocal numa impressão que é continuamente
atualizada.
O curso temporal do reconhecimento vocal emocional é semelhante para todas
as emoções básicas? (Pell & Kotz, 2011)

A rapidez com que os ouvintes reconhecem as emoções da voz de um locutor e


o curso de tempo para o reconhecimento varia de acordo com tipo de emoção?
SIM
O paradigma de ativação auditiva foi adaptado para estimar quantas

61
informações são necessárias para que os ouvintes classifiquem cinco emoções
básicas (raiva, nojo, medo, tristeza, felicidade) e o neutro através de enunciados
produzidos por falantes de inglês. Os participantes julgaram o significado
emocional dos estímulos apresentados no fim de cada intervalo, em formato de
apresentação sucessiva e bloqueada. Os resultados mostraram que a raiva, a
tristeza, o medo, e as expressões neutras são reconhecidas mais
rapidamente do que felicidade e, particularmente, do que a repulsa.
No entanto, à medida que a fala se desenvolve, o reconhecimento da felicidade
melhora significativamente no final da declaração (e o medo é reconhecido com
mais exatidão do que outras emoções). Esses dados revelam diferenças no tempo
para o reconhecimento consciente das emoções básicas das expressões vocais,
que devem ser levadas em consideração nos estudos de processamento emocional
da fala.

62
Perturbações psiquiátricas e reconhecimento vocal
emocional
A capacidade de reconhecimento de emoções vocais é afetada em
perturbações psiquiátricas?

O objetivo deste estudo foi investigar o impacto do transtorno depressivo


maior (MDD) no julgamento das emoções expressas nos níveis verbal (conteúdo
semântico) e não verbal (prosódia) e perceber se os julgamentos verbais se
correlacionam com autoavaliações de sintomas relacionados à depressão,
conforme avaliado pelo Inventário de Depressão de Beck (BDI).
Apresentaram palavras positivas, neutras e negativas, ditas de forma alegre,
neutra ou zangada, a MDDs e controlos. Os participantes avaliaram a valência do
conteúdo semântico e da prosódia em uma escala de 9 pontos. Pacientes com
MDD, comparativamente aos controlos, atribuíram valores de valência
menores a palavras positivas e a prosódia feliz. No julgamento de palavras,
essa diferença correlacionou-se significativamente com os escores do BDI.

63
Pacientes com MDD são caracterizados por deficiências de processamento
emocional positivo em vez de negativo.

64
Perceção da prosódia emocional
A prosódia emocional representa a expressão não-verbal vocal da emoção e a
sua perceção é um processo com vários estádios. De acordo com o modelo de três
estádios proposto por Schirmer e Kotz (2006), o primeiro estádio, por volta dos
100 ms, está relacionado com o processamento sensorial do estímulo acústico
(bilateral córtex auditivo secundário, N100). A deteção de pistas acústicas
emocionalmente salientes dá-se por volta dos 200 ms (circunvolução temporal
superior e sulco temporal anterior, P200). Por fim, a avaliação cognitiva do
significado emocional da informação vocal ocorre após os 300 ms (IFG and OBF).

No presente estudo pretendem esclarecer se a esquizofrenia afeta todos os 3


estádios de processamento da prosódia (o último é avaliado através dos dados
comportamentais).

Estímulos: 1) sentenças com conteúdo semântico neutro, ditas numa voz feliz,
zangada ou neutra SCC; 2) sentenças sem conteúdo semântico, ditas numa voz
feliz, zangada ou neutra PPS.
Resultados: Observaram-se diferenças entre os esquizofrénicos e os controlos
na amplitude do N100 e do P200. Em termos comportamentais os
esquizofrénicos cometeram mais erros no reconhecimento das emoções
expressas nos estímulos afetivos.
Esquizofrenia por comparação com controlos: N100 mais negativo SSC, P200
mais positivo para SSC emocional e PPS feliz.
Correlações entre o delírio e a amplitude do P200 para felicidade.

65
Conclusões: Anomalias nos 3 níveis de processamento prosódico em
esquizofrenia.

Estímulos: 1) Palavras individuais inteligíveis (só prosódia) PPC; 2) Palavras


individuais neutras SCC. Ditas com as emoções de raiva, felicidade e neutro.
Resultados: Verificaram diferenças no P50 (reduzido na esquizofrenia para
felicidade PPC), no N100 (reduzido na esquizofrenia para neutro e o emocional
SCC), e no P200 (aumento na felicidade para SCC).
Conclusões: Interações entre processos sensoriais anormais e
processos associativos na esquizofrenia estão na origem da disfunção
prosódica emocional que se observa nesta patologia.

66
Estudos ERP revelaram a existência de um pico positivo cerca de 300 ms após
a apresentação do estímulo, o P300, que é sensível à saliência emocional
dos estímulos (os 0 ms são contados a partir do instante de tempo em que o
estímulo começa a ser apresentado, isto é válido para todos os restantes picos de
ERP de que temos falado). O P300 é um indicador neurofisiológico de alocação
de recursos atencionais durante o processamento do estímulo.
O P300 é composto por componentes dissociáveis. O componente fronto-
central P3a é produzido por estímulos novos e raros irrelevantes para a tarefa e
reflete a orientação da atenção para o estímulo. O componente centro-
parietal P3b é produzido por estímulos infrequentes relevantes para a tarefa e
reflete a alocação de recursos atencionais top-down para atualização do modelo
mental do ambiente na memória.

Modified oddball task: Estímulos neutros frequentes misturados com


estímulos emocionais infrequentes (raiva, felicidade). Estímulos SCC com
conteúdo semântico, estímulos POC só prosódia.

Resultados: A amplitude do P3b foi reduzida na esquizofrenia para a


felicidade, o que sugere que os recursos atencionais top-down foram menos
acionados pela felicidade do que pela raiva, o que reflete alterações na
avaliação da saliência emocional da voz.

67
A importância da modalidade sensorial
Este tópico já foi desenvolvido mais atrás, na introdução deste capítulo, no
artigo do Shirmer e Adolphs (2017) Emotion Perception from Face, Voice, and Touch:
Comparisons and Convergence:

A meta-análise comparou as estruturas e mecanismos cerebrais envolvidos no


reconhecimento facial e vocal de emoções. Os estudos investigaram estímulos
emocionais/neutros, face/voz, explicito/implícito.
O processamento das emoções envolveu duas grandes redes
neuronais: Voz: córtex temporal superior bilateral (compreendendo processos
auditivos precoces e tardios) e IFG & Broca’s Area (representações articulatórias);
Face: córtex temporal medial incluindo a amígdala, o córtex entorhinal e a
circunvolução parahipocampal, entre outros.
O processamento orientado por objetivos (implícito/explicito) foi associado a
atividade no córtex pré-frontal dorsomedial para vozes, mas não rostos (área que
se pensa estar envolvida no processamento explicito de vozes: planeamento,
iniciação e monitorização dos movimentos).
Os processos orientados para os estímulos emocionais moldaram a atividade
do cérebro social de forma mais poderosa do que os processos orientados por
objetivos, em ambos os domínios visual e auditivo.
As faces ativaram mecanismos subcorticais emocionais e mnemônicos, as
vozes ativaram mecanismos corticais associados à perceção e avaliação do
estímulo (por exemplo, via subvocalização – dai as ativações frontais). Essas
diferenças podem ser devido às propriedades do estímulo sensorial.

68
A vermelho – específico de faces (Amígdala, parahippocampal gyrus)
A verde – específico de sons (superior temporal gyrus)
A roxo – processamento tardio comum, convergência modalidades (Dorso-
medial prefrontal córtex, inferior frontal gyrus) Ambos relacionados com
simulação mental dos estímulos, mais intensos para as vozes do que para a face.

Dificuldades no reconhecimento emocional após lesão cerebral dependem da


modalidade sensorial do estímulo e da localização da lesão. Mas, há evidência
para recursos neuronais partilhados durante o processamento emocional em
ambas as modalidades. Características percetivas numa modalidade sensorial
podem ser mais salientes do que numa outra modalidade sensorial.

69
Processamento emocional da face, voz e do tato. Cada modalidade tem
uma entrada distinta e envolve sistemas neuroanatómicos
parcialmente sobrepostos com diferentes especializações do
processamento (por exemplo, emoções específicas versus afeto). Além disso, o
processamento de sinais através das diferentes modalidades converge, primeiro
em representações multi e, posteriormente, em representações amodais que
permitem julgamentos holísticos da emoção.

Fatores afetam reconhecimento facial de emoções

Quão eficazmente reconhecemos emoções transmitidas através da


face?

Mulheres e homens julgaram quais das sete expressões faciais (raiva, nojo,
medo, felicidade, neutralidade, tristeza e surpresa) correspondia à expressão
facial expressa em fotos. Também avaliaram a intensidade da expressão.
Nota: no gráfico a diferença de género diz respeito às fotos (se é de mulher ou
de homem), não à dos participantes!!!

No geral, as expressões foram reconhecidas com mais exatidão nos


estímulos de rostos femininos do que masculinos. Em particular, tanto a

70
raiva como a tristeza foram reconhecidas mais frequentemente em rostos
femininos do que masculinos.

As análises revelaram que as expressões felizes foram reconhecidas com


mais exatidão e rapidez do que as outras expressões e raramente foram
confundidas com estas.

As expressões de medo foram reconhecidas mais lentamente e com


menos exatidão do que as outras expressões, talvez porque tenham sido
frequentemente confundidas com as expressões de surpresa.

Como era de se esperar, reconhecer a expressão pretendida foi o mais


fácil quando os rostos exibiam a expressão mais intensamente, com exceção
da emoção de felicidade, talvez por esta ter sido reconhecida a ceiling levels.

Esta figura indica para cada expressão emocional, as expressões emocionais


que os voluntários identificaram quando a observaram. Por ex., a expressão de
felicidade é raramente confundida como sendo outra expressão. Mas o medo já é
confundido com surpresa, a tristeza é confundida com neutro.

71
Velocidade de identificação das emoções, a mais rápida é a felicidade, a mais
lenta é o medo.

Paciente SM
Dano bilateral da amígdala
• reduz o reconhecimento de estímulos indutores de medo
• reduz o reconhecimento do medo nos outros
• reduz a capacidade de expressar medo

NÃO afeta a capacidade de reconhecer rostos ou de saber o que é medo.

Pacientes DR e DE

72
O défice seletivo de SM no reconhecimento do medo deveu-se ao
fato de esta emoção depender muito da informação da região dos
olhos. SM durante a observação livre de faces fixou-se muito pouco na região dos
olhos. O défice de SM no reconhecimento do medo deixou de existir quando se
pediu a SM para olhar explicitamente para os olhos.
A amígdala é mais do que um simples detetor do olho → também guia a
atenção para estímulos relevantes (biological relevance detector).

A amígdala participa no processamento de informações proveniente da região


dos olhos. Essa especialização funcional pode ser responsável pelo papel da
amígdala no processamento de emoções relacionadas com os comportamentos de
retirada, medo, ameaça ou perigo. Os distúrbios como o autismo, que também
apresenta problemas de fixação para as características das faces, podem
beneficiar da visualização instruída tal como se viu em SM.

Os participantes avaliaram a valência afetiva e a intensidade de fotos de


jogadores de ténis. Três conjuntos de estímulos em avaliação:
1) Rosto + Corpo 2) Corpo 3) Rosto
Emoções em estudo: vitória, frustração

73
Em emoções muito intensas (vitória, frustração) as emoções foram
discriminadas com sucesso em corpos isolados, mas não em rostos
isolados. Mais, os participantes identificaram incorretamente as
emoções nos rostos, quando estes foram colocados em corpos com a
outra emoção, a isto chamou-se positividade ou negatividade ilusória. O
afeto percebido dos rostos muda sistematicamente em função da emoção
expressa pelo corpo em que foram inseridos.

Como se observa no gráfico C, os rostos sozinhos de vitória e perda do jogo,


são considerados como tendo a mesma valência (negativa). O mesmo não
acontece com os corpos isolados, e com os corpos completos.
Como se observa no gráfico D, os rostos foram importantes para a
discriminação de intensidade emocional: a situação de ganhar o jogo foi mais
intensa emocionalmente para os corpos completos e para os rostos isolados.

74
Nesta experiência a mesma face foi inserida em dois corpos diferentes, um com
postura vencedora e outro com postura perdedora. Os voluntários tiveram de
decidir qual das faces era mais positiva. Conforme previsto, a postura corporal
alterou a perceção de afeto facial. As faces perdedoras pareceram mais positivas
em corpos ganhadores, e as faces ganhadoras pareceram mais negativas em
corpos perdedores.

75
Interações Emoção-Cognição

As emoções determinam:
– Quais os objetos no ambiente que se tornam alvo da atenção.
– A qualidade das representações na memória a curto- e a longo-prazo.
– O curso e a eficiência dos processos de ordem-superior que dependem da
atenção e memória (e.g., linguagem e tomada de decisão).

………………………………………….… sebenta………………………………………………
A atenção ajuda a filtrar informação relevante vs. Irrelevante (ex.: deteto mais
rapidamente estímulos emocionais do que neutros; o neutro pode nem ser
percecionado; estímulos emocionais, em comparação com neutros capturam e
mantêm recursos atencionais mais eficazmente).
………………………………………….… sebenta………………………………………………

Mesmo estados de humor pouco intensos produzem mudanças nos processos


cognitivos. Os processos emocionais e cognitivos não são independentes. Estados
de humor positivos e negativos produzem mudanças qualitativas (não
quantitativas) no processamento da informação.

76
Atenção e Emoção

A capacidade de um estímulo capturar a atenção depende da sua significância


emocional. Estímulos emocionais capturam e mantêm a atenção mais
eficazmente do que estímulos neutros.
A captação de recursos atencionais por um objeto depende de fatores top-
down (e.g., existir um objetivo) e bottom-up (e.g., saliência do estímulo).
Ambos os sistemas são regulados pelas redes corticais:
– Dorsal posterior parietal cortex.
– Dorsal, inferior, and ventral frontal cortex.
– Temporo-parietal cortex.

Evidência Comportamental
• O conteúdo emocional é detetado mais rapidamente e pode obscurecer a
perceção de conteúdo não-emocional.

1) Memória autobiográfica

Foi pedido aos participantes para se relembrarem e classificarem memórias


autobiográficas de oito eventos emocionais (feliz, calmo, apaixonado, surpresa
positiva, surpresa negativa, raiva, tristeza e medo). Detalhes de cada memória
foram classificados como centrais ou periféricos para o evento.

77
O afeto positivo conduziu a maior recordação de detalhes
periféricos.
Dentro do afeto negativo, a raiva foi a emoção que mais comprometeu a
recordação de detalhes periféricos, por comparação com o medo.
Reviver a experiência durante a recordação (foi perguntado aos participantes
para avaliar quanto é que reviveram o evento durante a tarefa de recordação) foi
negativamente correlacionada com a recordação de detalhes periféricos para
quase todas as emoções com exceção do medo e da surpresa positiva,
independentemente de semelhanças em afeto e intensidade.
A excitação emocional e o afeto negativo aumentaram a recordação
dos aspetos centrais dos eventos.

A atenção para os detalhes periféricos dos acontecimentos foi maior nos


acontecimentos associados a emoções positivas.

2) Pesquisa Visual
Os participantes são mais lentos a detetar uma imagem emocionalmente
neutra no meio de imagens emocionais. Por contraste, são mais rápidos a detetar
uma imagem emocional no meio de imagens emocionalmente neutras.
………………………………………….… sebenta………………………………………………
Se aparecerem diversas faces com expressões neutras e uma face emocional, a
nossa atenção ir-se-á focar na que apresenta o conteúdo emocional.
Quando há diversas faces emocionais e uma face neutra, continuamos a focar-
nos nas emocionais e demoramos mais tempo a perceber a neutra.
Isto ocorre porque o processamento é bottom-up e automático o
direcionamento para o processamento da face emocional independentemente

78
da frequência do estímulo.
………………………………………….… sebenta………………………………………………

3) Piscar atencional (Attentional Blink)


O participante tem de identificar
dois alvos visuais, T1 e T2, por
entre vários estímulos em rápida
sucessão. Quando o segundo
estímulo T2 aparece entre 200 ms a
500 ms depois do primeiro T1,
ocorre o fenómeno de piscar
atencional, a capacidade de
identificação do 2º estímulo
diminui consideravelmente.
Se o primeiro, de dois estímulos, for emocional, o piscar atencional aumenta,
ou seja, a exatidão no reconhecimento do 2º estímulo baixa ainda mais. Por
contraste, se o segundo, de dois estímulos, for emocional, o piscar atencional é
atenuado.

4) Dot probe

Os participantes devem fixar uma cruz que aparece no centro do écran. De vez
em quando, uma bola irá aparecer do lado esquerdo ou direito da cruz. Os
participantes devem indicar de que lado apareceu esta bola. Entre a cruz e a bola
aparecem pares de imagens emocionais ou uma imagem emocional e outra

79
neutra. Observa-se uma redução no tempo de deteção da bola se no instante
precedente uma imagem emocional aparecer nessa zona do écran, e um
aumento do tempo de deteção da bola se no instante precedente uma imagem
emocional aparecer na zona oposta do écran.

No Emotional Stroop Task os participantes têm de nomear o nome da cor


em que palavras emocionais ou neutras estão impressas. O aumento do tempo
de nomeação da cor é indicativo da utilização de recursos atencionais no
processamento do significado da palavra. Tem sido usado em diferentes
psicopatologias, com os pacientes a prestarem mais atenção às palavras
relevantes para a sua desordem particular.

Evidência cerebral
Lesões amigdalares eliminam o benefício atencional da informação emocional.

Emoções e Memória

Processos e Tipos de Memória


A memória é um processo multi-fásico.

Vários tipos de memória.


– Implícita/procedimental
– Explícita/declarativa
………………………………….… adaptado sebenta…………………………………

80
Memória e Emoção

• Codificação: O mesmo que ocorre na atenção: codifico e recordo melhor


informações com conteúdos emocionais (ex.: Se eu tiver de memorizar uma lista
de palavras vou codificar melhor as emocionais do que as neutras).
• Consolidação: A indução afetiva durante o período de consolidação torna
as memórias mais duráveis, ou seja, a indução de estados emocionais congruentes
com o estado emocional da informação a memorizar, melhora a memorização
dessa informação.
• Recuperação: A informação emocional, ao invés da familiaridade, parece
facilitar a recordação.
………………………………………….… sebenta………………………………………………

Evidência Cerebral
• A atividade na amígdala e na região hippocampal parece suportar a
codificação, consolidação e recuperação de memórias emocionais.
• A atividade da amígdala parece ser importante para a memória implícita e a
do hipocampo para a memória explícita.

A amígdala e o hipocampo cooperam durante a formação e consolidação


de memórias emocionais explicitas (declarativas e conscientes). Os estímulos
emocionais codificados pela amígdala interagem com os processos de
memorização do hipocampo de duas formas: 1) vias neuronais bidirecionais
ligam a amígdala ao hipocampo, providenciando canais de comunicação rápida
que melhoram a memória de eventos emocionais; 2) a amígdala controla a
libertação periférica de hormonas de estresse, como a noradrenalina e o cortisol,
que atuam também sobre o hipocampo, melhorando a consolidação da memória.

81
As memórias emocionais são indeléveis?

As memórias Flashbulb (FBMs) foram originalmente identificadas como um


subconjunto distinto da memória autobiográfica (ex. memória de eventos
significativos como o 11 de Setembro) devido à sua extraordinária precisão e
longevidade. Foi postulado que um mecanismo especial seria necessário para dar
conta das suas propriedades.
Argumento do “Mecanismo Especial”
– Acontecimentos surpreendentes e com consequências são registados quase
como uma fotografia.
– Valor de sobrevivência conduziria a mecanismo cerebral dedicado a recordar
acontecimentos biologicamente cruciais, mas inesperados, com elevada precisão.

Os estudos subsequentes refutaram a necessidade de postular a existência de


um processo de memorização especial, mostraram que as FBMs costumam
incluir erros e são tão propensas ao esquecimento como as outras memórias.

Memória para o 11/9 (Talarico & Reuben, 2007)


– Compararam a memória dos participantes para a primeira vez que ouviram

82
falar acerca dos ataques terroristas do 11 de Setembro com a sua memória para
um acontecimento do quotidiano.
– Quanto mais intensas as suas emoções, maior a sua confiança na precisão
das memórias.
– Contudo, a perceção não estava relacionada com a precisão real.
– De facto, a memória para estes acontecimentos declina a uma velocidade
semelhante à de outro tipo de informação.

Três anos após os ataques terroristas, os participantes foram convidados a


recuperar memórias de 11 de Setembro, bem como memórias pessoais de
controlo, as suas férias de verão de 2001. Na época dos ataques, alguns os
participantes estavam em Downtown Manhattan, perto do World Trade Center,
outros estavam em Midtown, a alguns quilômetros de distância. Os participantes
no Downtown exibiram ativação seletiva da amígdala enquanto relembravam
eventos do 11 de setembro por comparação com as memórias pessoais de controlo
do verão. Este não foi o caso dos participantes de Midtown, para os quais não
houve uma diferença significativa na ativação da amígdala nas duas condições
experimentais.

Os participantes no Downtown tinham uma memória mais rica e vivida dos


acontecimentos, dado que os presenciaram, do que os participantes em Midtown,
que ouviram os acontecimentos contados por outros.
A distância dos participantes ao WTC correlacionou-se negativamente com o

83
nº médio de recordações para as memórias do 11 de setembro relativas às
memórias do verão.

Conclusões:
– A memória para acontecimentos emocionais NÃO é indelével.
– As recordações vívidas e confiantes podem ser completamente erradas.
– As imprecisões parecem ser a norma.

Memória Dependente do Humor

Pressuposto: As pessoas recordam melhor informação se a aprendem e a


recordam no mesmo estado emocional. Maior probabilidade de recordação de
informação quando estão presentes “pistas” de memória semelhantes (neste caso,
um estado emocional).
O estado emocional da pessoa pode servir como parte do contexto que se torna
associado aos acontecimentos em curso, de tal forma que a memória para esses
acontecimentos é favorecida quando se reinstala o contexto emocional presente
na codificação.

São descritas cinco experiências investigando o efeito do humor na


aprendizagem e recordação. Os participantes que aprenderam e relembraram o
material em diferentes estados de humor tiveram decréscimos na recordação
superiores aos participantes que o fizeram no mesmo estado de humor.

84
Teoria de Bower: Melhor desempenho quando os sujeitos aprendem e
recordam as palavras no mesmo estado de humor.

Memória Congruente com o Humor

Pressuposto: As pessoas recordam melhor informação, se esta é congruente


com o seu estado de humor atual.

Quando as emoções são muito fortes, os conceitos, as palavras, os temas e as


regras de inferências associadas a essas emoções são facilmente relembradas
(primed). Podemos, portanto, esperar que nessas condições o sujeito use
processamento top-down no processamento dos estímulos externos. Ou seja, o
seu estado emocional irá trazer à superfície certas categorias percetivas, certos
temas, certas maneiras de interpretar o mundo, que são congruentes com seu
estado emocional, atuando como filtros interpretativos da realidade e vieses nos
julgamentos. (Bower, 1983).

Um exemplo de investigação:

85
– Participantes leram uma história acerca de dois rapazes que estavam a jogar
ténis: o André está contente, enquanto que o Jack está triste (nada lhe está a
correr bem).
– Q: Recorde a história. Quem acha que é a personagem central?
– Leitores num estado de humor alegre: recordaram mais afirmações acerca
da personagem alegre e julgaram que a história era acerca dele (e vice-versa).

Aprendizagem Congruente com o Humor

O material congruente com o humor


torna-se mais saliente.
• A retenção é favorecida quando os
sujeitos constroem elaborações
associativas em torno dos itens-alvo.

Memória e Emoções: Evidência cerebral

Métodos: Participantes observaram imagens neutras e negativas e avaliaram


a sua intensidade emocional.
– Registou-se a ativação da amígdala durante a avaliação de cada imagem.
– 3 semanas depois: teste de reconhecimento da surpresa.

Resultados: Imagens avaliadas como mais intensas em termos emocionais


promoveram uma maior ativação da amígdala.
O grau de ativação da amígdala esquerda durante a codificação foi preditivo da
subsequente recordação das cenas mais intensas em termos emocionais.
A ativação da amígdala parece estar associada a uma melhor
memória para experiências emocionais.

86
A amígdala medeia aspetos da aprendizagem emocional e facilita as operações
da memória em outras regiões, incluindo o hipocampo e córtex pré-frontal. As
interações emoção-memória ocorrem em vários estádios do processamento de
informações, desde a codificação inicial à consolidação de traços de memória
para a sua recuperação a longo prazo.

87
As memórias implícitas do condicionamento clássico emocional são
armazenadas na amígdala.
Projeções neuronais diretas e indiretas da amígdala para vários
sistemas de memória no cérebro: dorsal PFC (memória de trabalho), ventral
PFC (memória semântica), sistema de memória do MTL - lobo temporal medial
(memória declarativa), estriatum (memória de procedimento), neocórtex
sensorial (priming), cerebelo (condicionamento clássico).
O sistema de memória MTL também é responsável pela memorização do
Complex Conditioning, ou condicionamento operante.
A amígdala também conduz à libertação de hormonas de estresse através do
eixo hipotálamo-pituitária-glândula adrenal (HPA), que atuam em locais
de consolidação da memória e na amígdala, melhorando a memorização por
longos períodos.

Mecanismo especial?
– As emoções podem não tornar as memórias PERFEITAS, podendo
inclusivamente introduzir erros e viés.
– Mas um vasto conjunto de estudos sugere que as emoções ajudam na

88
recordação de ALGUNS tipos de informação (e.g., central vs periférica).
• Estudos imagiológicos da amígdala.
• Estudos de condicionamento aversivo em animais (condicionamento de
medo espontaneamente recordado).

Linguagem como manifestação de emoções

A linguagem é expressa “emocionalmente”.


– As emoções influenciam significativamente a situação comunicativa.
• Comunicação não-verbal (e.g., expressões faciais, postura corporal,
proximidade física);
• Características prosódicas e suprasegmentais da linguagem;
• Aspetos linguísticos (lexicais e sintáticos).

A linguagem “reflete” as emoções.


– As linguagens possuem termos linguísticos emocionais.
– As pessoas envolvem-se em conversações relacionadas com emoções.

• A linguagem constitui um meio para fazer sentido das emoções, podendo ser
usada como ponto de partida para a exploração das mesmas.

O papel das emoções na linguagem tem-se focado primariamente no


processamento de palavras e na ativação de categorias e conceitos a elas
associados. Um paradigma muito usado nestes estudos tem sido o affective
priming paradigm, desenvolvido por Fazio e colegas (1986). Neste paradigma
são apresentados dois estímulos em sucessão. O primeiro estímulo emocional, o
prime, é percebido passivamente pelos participantes. No segundo estímulo
emocional, o target, os participantes realizam uma decisão emocional (ex. o alvo
é bom ou mau?).

89
Os participantes respondem mais rapidamente ao target, se prime
e target têm a mesma valência emocional (congruência afetiva).
Estudos posteriores mostraram que para além de palavras, poder-se-iam utilizar
como primes também imagens , expressões não verbais ou música, e ainda, que
a tarefa sobre o target não tinha de ser emocional para se observar o fenómeno
de facilitação por congruência afetiva (ex. decidir se o target é ou não uma
palavra).

A medição de ERPs permitiu investigar os possíveis mecanismos


que medeiam o efeito da emoção sobre a linguagem. Os investigadores
mostram que o affective priming modula o componente N400, um componente
negativo que pica cerca de 400 ms após a apresentação de uma palavra.
Observou-se que targets emocionalmente congruentes com o prime elicitavam
um N400 mais pequeno que targets emocionalmente incongruentes com o
prime. Estudos de fMRI mostraram que o affective priming envolve a ativação
de estruturas devotadas ao processamento da linguagem no hemisfério esquerdo.
Foi proposto que os primes emocionais ativam representações semânticas, que
partilhadas com o target, facilitam o seu processamento.
Alguns estudos sugerem que o affective priming atua num ponto mais
adiantado do processamento. O readiness potential reflete preparação motora,
emerge como uma deflexão negativa antes de uma resposta motora. Apesar dos
affective primes não requerem uma resposta motora explicita, eles dão origem a
um readiness potential que mostra que os primes não são passivamente
percebidos, pelo contrário despoletam uma preparação da resposta. Se a resposta

90
preparada é idêntica à do target, a resposta fica facilitada.

Linguagem e categorização

A congruência emocional entre o prime e o target facilitam a


resposta ao target.

Exemplo do affective priming paradigm:

Sequência de estímulos, o prime pode ser emocionalmente positivo ou


negativo, a ele segue-se um alvo a classificar pelo sujeito como emocionalmente
positivo ou negativo.
O prime positivo diminui o tempo de decisão de emoção positiva para os alvos
positivos, e aumenta o tempo de decisão de emoção negativa para os alvos
negativos. O oposto acontece com o prime negativo.

Associações de palavras

O estado de humor promove a associação de palavras a uma palavra


alvo, emocionalmente congruentes com o estado de humor.

Em tarefas de associação de palavras, os sujeitos tendem a fazer associações


agradáveis ou desagradáveis, dependendo das suas emoções atuais (Bower,
1981).

91
Interpretação de estímulos ambíguos

Pessoas com ansiedade tendem a interpretar estímulos ambíguos


como ameaçadores.

Estímulos foram palavras homófonas, cada uma com um significado


ameaçador ou neutro dependendo da forma como são soletrados.
Os participantes ouviram as palavras, individualmente, seguidas por 5 s de
intervalo, no fim do intervalo ouvia-se um tom, tendo a pessoa que escrever a
palavra que ouviu (como são soletradas de forma diferente, a pessoa podia
tendencialmente escolher a negativa ou a positiva).
O que se observou é que os pacientes ansiosos tenderam a interpretar a
informação ambígua de uma forma mais ameaçadora.

Não identifiquei estudo seguinte:


Palavras homófonas (Mathews, Richards, & Eysenck, 1987)
– Pacientes ansiosos identificam a palavra relacionada com a ansiedade, em
pares de palavras homófonas, de forma mais rápida.
• O conceito relacionado com a ansiedade encontra-se cronicamente ativado e
mais disponível para as pessoas que se sentem frequentemente ansiosas.

92
Decisão lexical

O estado de humor facilita a decisão lexical “é ou não uma palavra”


para palavras emocionalmente congruentes.

Estudos de Eich e colaboradores:


– Procedimento de elicitação emocional (músicas)
– Realização de uma tarefa de decisão lexical: o estímulo apresentado é ou não
uma palavra?
O estado de humor positivo diminui tempo de reação ao reconhecimento de
palavras positivas.
O estado de humor negativo diminui tempo de reação ao reconhecimento de
palavras negativas.

93
Nomeação

O estado de humor facilita a nomeação de palavras


emocionalmente congruentes.

Compreensão de frases

Os estados afetivos influenciam o processamento de significado


durante a compreensão de linguagem.

Os efeitos de estados de humor transitórios na organização e uso da memória


semântica foram investigados usando ERPs. Os participantes leram pares de
sentenças terminando com (1) a palavra mais esperada, (2) uma palavra
inesperada da mesma categoria semântica, ou (3) uma palavra inesperada de uma
categoria semântica diferente. Metade dos pares de sentenças foram lidos com

94
humor neutro e a outra metade com humor positivo.
O pico N400 é um pico negativo por volta dos 400 ms, que é muito sensível a
relações semânticas, não só num contexto local como em memória semântica de
longo prazo.
No estado de humor neutro:
Amplitude N400: itens esperados <
itens inesperados da mesma categoria semântica <
itens inesperados diferentes categorias semânticas
No estado de humor positivo:
Amplitude N400: itens esperados <
itens inesperados mesma categoria semântica = itens
inesperados diferentes categorias semânticas
As respostas dos homens, ao contrário do que aconteceu com as das mulheres,
não foi afetada pelo estado de humor.
O humor positivo pareceu facilitar especificamente o processamento de itens
inesperados e distantemente relacionados. Os resultados sugerem que
estados de humor transitórios estão associados a mudanças
dinâmicas em como a memória semântica é usada online.

95
De acordo com as embodied theories, os símbolos utilizados para a
linguagem têm significado porque tem por base a perceção, a ação e a
emoção. Por contraste, nas abstract symbol theories o significado advém de
combinações sintáticas de símbolos amodais. Mas se a linguagem tiver por base
estados corporais internos, então seria de prever que a emoção afete a linguagem.
O objetivo deste estudo foi testar símbolo abstrato vs. Embodied perspetivas
da linguagem investigando se o humor afeta o processamento semântico. Com
esse objetivo, induziram-se diferentes estados emocionais (feliz vs. triste) pela
apresentação de vídeo clipes de filmes. Os clipes foram apresentados antes e
durante a apresentação de blocos de frases. As frases tinham uma palavra central
em falta, cuja probabilidade de ocorrência naquele contexto poderia ser alta ou
baixa.
O N400 foi fortemente reduzido no humor triste em comparação com a
condição de humor feliz. A interação entre o humor e o processamento
semântico observada no N400 suporta as embodied theories de
significado e desafiam as teorias simbólicas abstratas que assumem que o
processamento do significado da palavra reflete um processo modular.

Ansiedade, depressão e viés cognitivo

– Viés atencional
• Atenção seletiva a estímulos relacionados com ameaça

– Viés interpretativo
• Tendência a interpretar estímulos ambíguos como ameaçadores

– Viés de memória explícita


• Tendência a evocar memórias negativas, não positivas

– Viés de memória implícita


• Tendência a exibir desempenho superior para estímulos negativos ou
ameaçadores em testes que não envolvem recordação consciente

96
Diferenças culturais no processamento
emocional

Emoções e cultura
- De que forma a cultura molda a experiência e expressão emocionais, bem
como os significados que atribuímos às emoções?
- As emoções são universais? Ou, pelo contrário, são “construções” culturais?
- Quais as diferenças e semelhanças na expressão de certas emoções
prototípicas, entre diferentes culturas?
- Qual a natureza da relação entre cultura e emoção?

O que é a Cultura?
A cultura pode ser definida como uma prática específica de um grupo e que
emerge da interação entre esse grupo e o seu ambiente.

Perspetivas Teóricas
As teorias atuais admitem que as emoções têm componentes universais,
partilhados por todos, e componentes específicos, determinados pela cultura em
que a pessoa está inserida.
Os teóricos mais orientados para a abordagem das emoções básicas aceitam
que os indivíduos adquirem normas culturais sobre as circunstâncias e a forma
como as emoções são expressas nas situações sociais. Colocam ênfase na
regulação cultural da expressão da emoção.

97
Os teóricos mais orientados para a abordagem construtivista das emoções
aceitam a existência de um sistema neuronal de avaliação dos estímulos
emocionais partilhado pelos mamíferos, e responsável pela produção do afeto
central. Este afeto central produz avaliações simples de prazer, dor, recompensa
e ameaça, que são interpretados pelos sistemas cognitivos de ordem elevada,
como a linguagem e o conhecimento concetual. Estes sistemas, que dependem da
aprendizagem cultural, atribuem ao afeto central uma emoção específica.

Fatores ambientais e culturais relevantes para as emoções

1. Seleção do parceiro As normas sociais influenciam o que é considerado


um bom parceiro, condicionando os genes transmitidos aos filhos.
2. Estresse parental O estresse parental, devido a eventos traumáticos ou às
preocupações quotidianas, pode provocar modificações epigenéticas do DNA que
é transmitido aos filhos. O estado fisiológico da mãe durante a gravidez afeta o
sistema emocional emergente.
3. Dieta materna durante a gravidez Varia muito entre culturas, contendo
substâncias que são benéficas e/ou nocivas. Por ex., o consumo de colina está
associado a menor impulsividade e controlo da frustração por parte dos filhos.

98
4. Cuidado parental Nas sociedades caçadoras recolectoras as mães passam
90% do tempo em contato com os seus filhos, por contraste com as sociedades
desenvolvidas. Em roedores os cuidados maternais influenciam o
desenvolvimento da estrutura e função cerebral.
5. Tamanho familiar Na China, a política do filho único, tem produzido
individuos menos sociáveis e mais centrados em si próprios.
6. Prevenção de doenças como o SARS. Quando a ameaça de patógenos é
elevada a tendência para ligação ao in-group e de afastamento do out-group é
maior.

Dados neurobiológicos

O formato do cérebro varia com a etnia. Ex. Os chineses têm cérebros mais
redondos que os caucasianos.
O volume do cérebro varia com a etnia. Ex. Os hispânicos têm cérebros maiores
do que os caucasianos.
Existem diferenças, entre etnias, no tamanho de estruturas cerebrais
envolvidas no processamento de emoções: OBF, insula, cíngulo, estriatum,
hipocampo e amígdala.
Existem alterações funcionais, entre etnias, quanto às estruturas cerebrais que
são recrutadas e à forma como se ligam e comunicam entre si, durante a
realização de tarefas percetivas, atencionais, linguísticas, memória e emoção.

Como é que as culturas avaliam os antecedentes da emoção?


As emoções são desencadeadas por objetos ou eventos relevantes para a
satisfação de uma necessidade presente ou futura. Os significados destes objetos

99
ou eventos, os antecedentes emocionais, salvo raras exceções são
aprendidos.
A appraisal theory descreve as dimensões psicológicas dos antecedentes
emocionais: ex. novidade, atingir objetivo e causalidade.
Novidade
A novidade tipicamente aumenta a intensidade da resposta emocional.
Antecedentes conhecidos podem já ter as necessidades a eles associadas
satisfeitas ou os indivíduos podem estar simplesmente habituados à sua
presença. Um dos antecedentes emocionais suscetíveis de ser modelados pela
novidade é o grupo de pertença, que tipicamente gera emoções negativas nas
primeiras interações inter-grupais. Ex. estudo do Olsson et al. que se segue.
Atingir objetivo
Extensão em que o antecedente emocional vai contribuir positiva ou
negativamente para o alcance dos objetivos pessoais. Em comparação com as
interações inter-grupais, as interações do indivíduo com o seu grupo têm maior
probabilidade de satisfazer os seus objetivos de encontrar um parceiro romântico,
relacionar-se com um grupo de amigos, sustentar a família, etc. Ex. estudo do
Young e Hugenber que se segue.
Causalidade
Extensão em que os acontecimentos positivos ou negativos são atribuídos às
características do Self ou às características do meio ambiente ou contexto social
em que ocorreram. Por exemplo, um estudo que comparou os alemães com os
Tongans, verificou que os Tongans têm a tendência, em eventos negativos, de se
culparem mais a eles próprios ou a fatores circunstanciais, do que aos outros
elementos do grupo, ao contrário do que acontece com os alemães.

Termina introdução com base no capítulo sobre cultura do livro Emotions do


Schirmer. Contínuo, seguindo ordem da aula PP, naturalmente com algumas
sobreposições identificáveis ao que já foi dito em cima.

Elicitação emocional

Novidade

100
• As culturas diferem na sua exposição a certos objetos e eventos (e.g., neve).
• Quando confrontadas com tais eventos, os grupos culturais poderão diferir
na sua avaliação de novidade.
• Os estímulos percecionados como mais inovadores podem mais facilmente
desencadear uma emoção do que objetos percecionados como familiares.
• Exemplo – faces de outras raças.

Avaliaram como é que os mecanismos de medo condicionado funcionam


quando se tenta associar membros do mesmo grupo social ou de outro grupo
social a um evento de medo, e se esses efeitos podem ser moderados por atitudes,
crenças ou contato com membros do outro grupo social.

Experiência 1 Foram apresentadas imagens usadas para gerar medo (uma


cobra e uma aranha) e imagens de estímulos neutros (um pássaro e uma

101
borboleta). Durante o condicionamento, as imagens de uma das categorias foram
associadas a um choque elétrico.
Experiência 2 Foram apresentadas imagens de rostos de brancos e negros
com uma expressão neutra. Durante o condicionamento, as imagens de uma das
categorias foram associadas a um choque elétrico.
Fase de extinção: Sem choques elétricos.

Fear-relevant conditioning: Associar a um estímulo já negativo (aranha)


outro estímulo negativo (choque). Como se vê após extinção a resposta SCR
nunca desaparece completamente.
Como se observa, após extinção persistiu o condicionamento às fotos
das pessoas pertencentes ao outro grupo. Quanto mais companheiros
românticos do outro grupo tivessem os participantes, menor o
condicionamento após extinção.

Outliers emocionais
• A experiência de alegria nos Esquimós Utku Eskimo está associada à caça de
lemingues (pequenos roedores) ou ao acto de apedrejar lagópodes, um tipo de
ave.
• Os Kubos experienciam prazer ao tomarem conhecimento de acontecimentos
negativos vicenciados por amigos e familiares.
• Os membros da tribo Fore na Nova Guiné praticam canibalismo como forma
de lidar com a morte de uma pessoa significativa.
• Algumas tribos indígenas, tais como os Kaluli na Nova Guiné, expressam
raiva muito dramática e abertamente a outros membros do seu grupo, que
simultaneamente temem e admiram a expressão. Em contraste, os Esquimós
Utku parecem não ser capazes de expressar raiva. Também tendem a isolar-se de
pessoas que expressam frustração abertamente.

Identidade social

Maior exatidão no reconhecimento de emoções de pessoas do in-


group por comparação com pessoas do out-group.

102
Evidências recentes revelaram que as expressões faciais de emoção são
reconhecidas com mais exatidão quando produzidas e observadas pelo mesmo
grupo cultural. A mera categorização social, usando o paradigma do grupo
mínimo, pode criar uma vantagem de reconhecimento das emoções produzidas
por elementos do mesmo
grupo, mesmo quando as
culturas, da pessoa que
expressa a emoção e da
pessoa que a reconhece,
são idênticas. Este efeito é
mediado pela motivação
adicional para analisar os
rostos do grupo de
pertença (com base nos
dados comportamentais
que observam este efeito
aos 500 ms de exposição mas não aos 250 ms).
Resultados: na exposição dos 500 ms, vantagem no reconhecimento de
emoções no in-group. Em exposições curtas, 250 ms, este efeito não é observado.
A inversão das faces interrompe significativamente mais os processos
holísticos/configuracionais associados à análise das faces do in-group do que do
out-group. Pelo que, em faces invertidas não se observou a vantagem do in-group
no reconhecimento das expressões faciais.

Resposta emocional

Linguagem
Muitas palavras emocionais têm correspondência entre diferentes
línguas. Por outro lado, há palavras com conteúdo emocional que não têm
correspondência unívoca com palavras de outras línguas. Há duas explicações
103
possíveis para isto suceder: 1) Quando uma língua não tem nome para uma
emoção significa que os falantes dessa língua não a sentem; 2) Os seres humanos
sentem as mesmas emoções, mas variam na forma como refletem sobre elas.
As sociedades humanas diferem na forma como fazem sentido das
suas experiências emocionais. Nas sociedades descendentes da sociedade
europeia há uma ênfase nas deduções lógicas, pelo que as contradições são pouco
toleradas. Nas sociedades de descendência chinesa, o raciocínio baseia-se na ideia
de que as coisas estão sempre em alteração, são caracterizadas por forças e
fraquezas, por bem e mal, e estão ligadas ao todo, pelo que as contradições não
são só toleradas, como são esperadas. Consequentemente, os europeus ou estão
bem ou estão mal, os chineses estão bem e mal ao mesmo tempo.

Linguagem
A linguagem determina uma grande parte da experiência afetiva subjetiva.
• As culturas diferem no modo como verbalizam emoções.
– Os habitantes to Taiti não têm uma palavra para expressar tristeza.
– Os Alemães parecem ter uma palavra única (“Schadenfreude”) para
representar a experiência de alegria resultante de se tomar conhecimento de
acontecimentos negativos experienciados por outros.

Resposta corporal
Um estudo comparando americanos com coreanos, no que diz respeito às áreas
cerebrais ativadas pelo prazer imediato, revelou diferenças nos padrões de
atividade cerebral na amígdala, estriatum, vmPFC, associadas ao fato dos
americanos estarem mais orientados para a obtenção de prazer imediato.
Em termos de ativação do sistema nervoso periférico, não parece haver
diferenças culturais.

Resposta comportamental
• As normas de expressão e outros aspetos culturais modulam o modo como
as emoções são expressas.
• Contudo, parece haver mais semelhanças do que diferenças entre culturas
na resposta emocional, especialmente na resposta a situações extremas.

104
Os estudos indicam que o reconhecimento de expressões emocionais é
facilitado para as expressões do mesmo grupo cultural. Há estudos que também
apontam para a existência de diferenças culturais na expressão das emoções,
como por exemplo, o sorriso Duchene.

Reconhecimento emocional
O reconhecimento de prosódia emocional parece ser semelhante em diferentes
culturas.

A questão da universalidade versus especificidade cultural na expressão


emocional tem sido um tema de debate no último meio século, mas nenhuma
resposta convincente emergiu. Propôs-se o uso do modelo modificado das lentes
Brunswikianas para pesquisa nesta área.
A análise não permitiu tirar conclusões definitivas sobre as diferenças
interculturais na expressão das emoções (embora pareça haver mais semelhanças
do que diferenças), mas há evidências convincentes da similaridade
intercultural no reconhecimento, descodificação de emoções.
Vários estudos sugerem a vantagem do in-group devido à existência de
"dialetos" de expressão emocional, que vão para além dos padrões gerais de
codificação ou descodificação.
Os resultados podem ser explicados pela universalidade dos mecanismos
neuronais subjacentes às emoções, moderados pela regulação cultural durante a
expressão e perceção de emoções.

Modelo de Brunswikian

Propõe que a comunicação de informações sobre o estado emocional de um


indivíduo compreende dois processos distintos de expressão e de
percepção/inferência.

105
De acordo com o modelo, a expressão da emoção consiste na externalização de
sinais físicos no rosto, na voz e no corpo,
de tal forma que se torna percetível para
outro: encoding process. Diferentes
tipos de emoção são caracterizados por
padrões únicos de corpo, pistas faciais
ou vocais: expressed cues.
As pistas emocionais expressas pela
pessoa têm de ser corretamente
percebidas pelo observador, sob a forma
de pistas emocionais percecionadas: cue
percepts, utilizadas pelo observador
para inferir as emoções que a pessoa
estava a expressar.

Examinou-se o reconhecimento de vocalizações emocionais não verbais, como


gritos e risos, em dois grupos culturais diferentes, do ocidente e de aldeias
namibianas isoladas.
• Vocalizações que comunicam as chamadas "emoções básicas”(raiva, nojo,
medo, alegria, tristeza e surpresa) foram reconhecidos bidirecionalmente.
• Em contraste, um conjunto de emoções adicionais foi apenas reconhecido
dentro, mas não além, das fronteiras culturais.
• As emoções negativas têm vocalizações que podem ser reconhecidas entre
culturas, enquanto que a maioria das emoções positivas são comunicadas com
sinais específicos da cultura.

Sumário
Não existe consenso quanto ao grau em que as emoções diferem entre culturas.
Contudo, aceita-se que as emoções incluem aspetos culturalmente universais e
culturalmente específicos.

106
As diferenças emergem devido a fatores como dieta, stresse, estilos parentais
ou ameaça patogénica.
A cultura afeta as diferentes avaliações que produzem uma emoção (e.g.,
novidade), o modo como as pessoas respondem e como regulam as suas
respostas.
As semelhanças não devem ser sobre-estimadas. As diferenças não devem ser
sub-estimadas.

107
Diferenças entre homens e mulheres no
processamento emocional

No contexto do processamento emocional, diferenças entre homens e


mulheres foram reportadas a vários níveis, mas não de forma consistente:
– Avaliação / elicitação;
– Resposta emocional;
– Regulação emocional.

Elicitação emocional
Embora os homens e as mulheres possam experienciar as mesmas emoções,
eles diferem nos eventos e objetos que provocam essas emoções. Os mesmos
eventos são avaliados diferencialmente pelos dois géneros:
1. Risco Os homens têm menos tendência para qualificar algo como arriscado,
e quando o fazem, tem maior prazer em enfrentar o risco.
2. Sexo Os homens apreciam mais o sexo antes do casamento e o sexo casual.
3. Infidelidade Os homens preocupam-se com a infidelidade sexual e as
mulheres com a infidelidade romântica dos companheiros.
4. Interesses Os homens estão mais interessados em coisas, como
funcionam, e as mulheres estão mais interessadas em pessoas. Ex. estudo Guerra
et al. que se segue.

O estudo examinou a hipótese do apoio social emocional (amor) ativar o


sistema de recompensa apetitiva e inibir as reações de defesa. Usando o
paradigma startle probe, os participantes observaram fotos a preto e branco de
pessoas amadas (parceiro romântico, pai, mãe e melhor amigo), rostos neutros
(desconhecidos) e desagradáveis (mutilados), enquanto ouviam um estouro
sonoro (startle).

108
Ver rostos amados induziu uma inibição acentuada da eye-blink startle
response, acompanhada por alterações na atividade zigomática, frequência
cardíaca, condutância da pele e descrições subjetivas, indicativas de uma resposta
emocional positiva intensa.
Os efeitos foram semelhantes para homens e mulheres, mas a inibição da eye-
blink startle response, a resposta zigomática e os sentimentos positivos foram
maiores nas mulheres.

Observar rostos amados inibe reações defensivas, como o eye-blink startle


reflex (reflexo cócleo-palpebral).

109
Resposta emocional

Um estereótipo popular é a de que as mulheres sentem emoções mais


frequentemente e mais intensamente do que os homens. A realidade é mais
complicada do que isto. Os géneros estão diferencialmente predispostos
emocionalmente para certos eventos, objetos e ações. As respostas emocionais de
ambos os géneros variam com a emoção em causa.
As emoções negativas como medo, tristeza e nojo parecem ser mais
relevantes para as mulheres do que para os homens.
A raiva é comparável entre géneros. Ao contrário do que acontece com as
emoções negativas, os homens parecem dar maior relevância às emoções
positivas. No IAPS dão respostas de prazer e intensidade emocional maiores às
imagens positivas do que as mulheres.

Neste estudo foram examinados os efeitos da apresentação de emotive masked


images na condução automóvel em simulador.
Na janela do simulador foram apresentadas imagens que podiam ser neutras
ou negativas. As mulheres conduziram com menor velocidade do que os homens,
sobretudo no contexto de imagens negativas (vs. neutras). Esta diferença esteve
ausente nos homens.

110
Resposta corporal

As emoções que são percecionadas diferentemente por homens e


mulheres também são acompanhadas por diferentes respostas
corporais (e.g., condutância da pele) e cerebrais.

Emoções e afeto negativo As mulheres apresentam maior ativação, que os


homens, na amígdala, hipotálamo e cerebelo (Schirmer), apresentam maiores
alterações no ritmo cardíaco, aumento da condutância da pele e uma maior
startle response para emoções negativas como o medo, a tristeza e o nojo
(resposta corporal varia com a emoção considerada).
Emoções e afeto positivo Os estímulos eróticos e competitivos tendem a
produzir alterações autonómicas e cerebrais maiores no homem do que na
mulher, com maior ativação da amígdala e das áreas visuais (Schirmer), redução
da startle response para estímulos eróticos, aumento do ritmo cardíaco para
estímulos competitivos.
Por outro lado, estímulos importantes para as mulheres como a ligação
emocional aos outros provoca aceleração do ritmo cardíaco e diminuem a startle
response, e promovem maior ativação cerebral do sistema dopaminérgico.

Amygdala

111
As mulheres respondem mais fortemente aos estímulos emocionais negativos.
As mulheres, por comparação com os homens, exibem maior ativação aos
estímulos emocionais negativos no hemisfério esquerdo na amígdala e no
hipocampo, no hipotálamo, na circunvolução medial frontal, na circunvolução do
cíngulo anterior, entre outras.
Os homens, por comparação com as mulheres, exibem maior ativação aos
estímulos emocionais positivos no hemisfério esquerdo na amígdala e
hipocampo, na circunvolução inferior frontal bilateral e na circunvolução
fusiforme direita, entre outras.

Produção de expressões faciais


As mulheres tendem a ser mais expressivas do que os homens,
independentemente da emoção. Isto é revelado por estudos da atividade
muscular facial de homens e mulheres enquanto observam as imagens IAPS.

Reconhecimento emocional
• Reconhecimento de pistas emocionais vocais mais rápido e preciso.
• Maior facilidade na discriminação de pistas vocais emocionais e neutras
mesmo quando a atenção não está focada na voz.
• Processamento facilitado de palavras que correspondem em valência à
prosódia emocional do falante.

O estudo investigou se o reconhecimento de expressões emocionais vocais


difere em função do género dos ouvintes e dos falantes. Parte dos participantes
ouviu palavras e pseudo-palavras, enquanto a outra parte ouviu sentenças e a
sons. Os participantes tiveram de identificar a emoção expressa em cada
estímulo.

112
No geral, as mulheres foram mais exatas do que os homens a
identificar as emoções vocais, no entanto, para emoções específicas, essas
diferenças foram de pequena magnitude.

O género do falante afetou a forma como as pessoas julgaram as emoções. O


grupo que ouviu as palavras e pseudo-palavras teve maiores taxas de identificação
para emoções faladas por homens, enquanto que o grupo que ouviu sentenças e
sons teve maiores taxas de identificação para emoções faladas por mulheres. O
padrão de resultados mostra que os julgamentos emocionais não são
sistematicamente influenciados pelo género do falante.

No gráfico seguinte, encontra-se a exatidão do desempenho na identificação


das emoções expressas em sons afetivos, separadamente para os ouvintes
homens e mulheres (análise separada dos sons reconhecidos por homens e dos
sons reconhecidos por mulheres).

No geral as mulheres identificaram melhor as emoções expressas


que os homens.

No gráfico seguinte, encontra-se a exatidão na identificação de emoções


expressas em sons emocionais dependendo do género que os produziu (análise
separada dos sons produzidos por homens e dos sons produzidos por mulheres).

113
Os participantes tiveram maior facilidade na identificação das
emoções de raiva, nojo, medo e tristeza expressas por mulheres por
comparação com os homens. Por sua vez, a surpresa foi mais bem
identificada nas expressões masculinas do que nas femeninas.

Relação com o papel das mulheres na prestação de cuidados e


presumivelmente maior tendência afiliativa? Relação com o facto de a qualidade
emocional das expressões vocais ser mais relevante para as mulheres do que para
os homens?

114
Emoções ao longo do ciclo vital

Infância

• Sorriso
– ~ Aos 4 meses o sorriso acontece de forma intencional.

• Durante os primeiros 6 meses, os bebés começam a sorrir e a categorizar


diferentes expressões emocionais nos outros.
– Menor resposta de startle em resposta a faces alegres emparelhadas com
som de alta intensidade, por comparação com faces de raiva e neutras. Neste
estudo de Balaban (1995), crianças de 5 meses de idade foram expostas a faces
alegres, neutras e zangadas emparelhadas com um som suficientemente alto
para gerar o eye-blink startle reflex.

• Durante o primeiro ano, os bebés aprendem a integrar emoções através de


diferentes canais de comunicação, o que é fundamental para o desenvolvimento
da teoria da mente.

Bebés de 7 meses observaram expressões faciais (felizes ou zangadas) e, após


um atraso de 400 ms, ouviram uma palavra falada com uma prosódia que era
emocionalmente congruente ou incongruente com a expressão do rosto
apresentado. Os dados do ERP revelaram que a amplitude do componente
negativo Nc (entre os 400 e os 600 ms) e um subsequente componente positivo
Pc (entre os 600 e os 1000 ms) variaram em função da congruência emocional
entre o primeiro e o segundo estímulo. Uma prosódia emocionalmente
incongruente elicitou um componente negativo maior Nc, e uma prosódia
emocional congruente elicitou um componente positivo maior Pc. Isto

115
vem demonstrar que os bebés de 7 meses comparam o conteúdo afetivo
entre modalidades.

Durante o primeiro ano de vida as crianças desenvolvem a capacidade de


representar emoções e estados mentais dos outros. Começam a compreender que
a mãe é uma pessoa com sentimentos e pensamentos próprios. Nos anos
seguintes, essa capacidade de ler a mente desenvolve-se dando origem à Teoria
da Mente. Vários autores dividem a ToM em componentes afetivos e cognitivos,
tendo-se desenvolvido esforços para compreender qual é que entra em operação
em primeiro lugar.

Adolescência

Os mecanismos emocionais que estimulam os adolescentes a ficar mais


independentes prendem-se com alterações nas suas preferências de vinculação e
de comportamento. Nos adolescentes ocorre uma diminuição da vinculação
parental e um aumento da vinculação aos pares; as motivações exploratórias
também aumentam, e com isso um maior interesse e valor à novidade.

Os adolescentes apresentam um aumento da ativação das regiões fronto-


estriatais do cérebro a estímulos sociais positivos e negativos, o que sugere que a
adolescência é um período de hipersensibilidade aos estímulos sociais.

116
Num estudo que examinou a influência dos pares na perceção de risco, os
jovens adolescentes foram mais influenciados pelas opiniões dos seus
pares do que pelas opiniões dos adultos, enquanto que as crianças e os adultos
foram mais influenciados pelas opiniões de outros adultos.

As recompensas tornam-se mais atrativas e os riscos são avaliados


como menos perigosos, especialmente quando entre pares.

De forma a estabelecerem-se como indivíduos independentes, os adolescentes


têm de sair da sombra dos pais e enfrentar o mundo por sua conta. Os
adolescentes têm de testar os seus pontos fortes, encontrar os seus pontos fracos,
desenvolver novas competências na obtenção de recursos e posicionarem-se no
seu grupo social. De forma a facilitar estes processos, os adolescentes alteram a
sua forma de avaliar a novidade e o risco. Os estímulos novos que prometem
recompensas tornam-se muito salientes e promovem comportamentos de
aproximação. Por outro lado, os riscos em certas circunstâncias são
desconsiderados.

117
Um fator que se acredita influenciar a propensão dos adolescentes para
assumir riscos é uma maior sensibilidade a estímulos apetitivos, combinada com
incapacidade de exercer suficiente controle cognitivo. Os participantes: crianças,
adolescentes e adultos realizaram uma tarefa "go nogo" com rostos felizes e
neutros. O controle de impulso para os estímulos neutros mostrou uma melhoria
linear com a idade. Os adolescentes mostraram uma redução não linear no
controlo dos impulsos para estímulos apetitivos. Esta diminuição do
desempenho em adolescentes foi acompanhada por uma maior atividade no
estriado ventral. O recrutamento cortical pré-frontal correlacionou-se com a
exatidão das respostas. As análises de conectividade identificaram um circuito
frontostriatal ventral incluindo a circunvolução frontal inferior e o estriado dorsal
durante os ensaios nogo versus go.

Observa-se que os adolescentes têm um maior número de falsos


alarmes: dizem go quando não deveriam ter respondido nogo, para
rostos felizes. Em termos cerebrais isso está associado a maior coativação
estriatal ventral-dorsal.

118
Estes resultados implicam uma representação exagerada do estriado ventral
nas respostas a estímulos apetitivos por parte dos adolescentes.

Appetitive stimulus: a positive reinforcer (see positive reinforcement) or


an unconditioned stimulus that an organism will approach, the effectiveness of
which can be modified by deprivation. For example, hunger can increase the
effectiveness of food as an appetitive stimulus.

Adultos idosos

O envelhecimento traz um conjunto de desafios:


– Círculo social menor (devido à morte de familiares, amigos e o esposo).
– Perda de outros significativos (a aposentação conduz à diminuição da
importância da pessoa na família e na sociedade).
– Restrições financeiras (devido à aposentação).
– Diminuição da capacidade física (declínio físico e mental com a idade,
aumento da dependência de terceiros, menor participação na vida ativa).

Apesar disso, os adultos idosos parecem manter um viés positivo. O seu


estado emocional é comparável ou melhor do que o dos jovens adultos.

119
Estudo longitudinal, com aquisição de dados a cada 5 anos, entre 1993 e 2005.
Os idosos descreveram mais experiências emocionais positivas (sinal
de bem estar-emocional). O envelhecimento esteve associado a maior
estabilidade emocional, no sentido em que tinham menor probabilidade do
que os jovens, de sofrer alterações emocionais em pontos consecutivos da
experiência. Os idosos também apresentaram maior complexidade
emocional (como evidenciado por maior coocorrência de emoções positivas e
negativas).
Estes resultados mantiveram-se após ter em consideração as outras variáveis
que pudessem estar relacionadas com a experiência emocional (personalidade,
fluência verbal, saúde física e variáveis demográficas).
A experiência emocional prevê a mortalidade; controlando por idade, género e
etnia, indivíduos que experimentaram mais emoções positivas do que negativas
na vida quotidiana tinham maior probabilidade de estarem vivos 13 anos depois.

120
Uma das consequências do envelhecimento é a diminuição do tempo de vida e
a consciência da finitude das expectativas e das oportunidades, que pareciam
ilimitadas nos jovens. Muitos objetivos pessoais que não foram atingidos tornam-
se pouco prováveis de alguma vez serem atingidos. A elaboração de novos
objetivos é pouco sustentável visto que não haverá tempo e condições para os
realizar. Tudo isto faz com que a pessoa de idade altere as suas preocupações
sobre o futuro para o aqui e o agora.

Teoria da Selectividade Sócio-Emocional: defende que o


envelhecimento produz uma mudança de perspetiva do futuro para o “aqui e
agora”. Esta mudança promove alterações nos estímulos emocionais,
relacionadas com a idade.

A teoria da seletividade sócio-emocional afirma que pessoas de diferentes


idades priorizam diferentes tipos de objetivos. À medida que as pessoas
envelhecem e percebem o tempo como finito, atribuem maior importância às
metas que são emocionalmente significativas. Como os objetivos das pessoas
influenciam a cognição, este estudo testou quais as mensagens veiculadas por
anúncios são preferidas e mais bem lembradas por adultos mais velhos.
Verificaram que os adultos mais velhos relembraram melhor os
objetivos emocionalmente significativos, enquanto que os adultos mais
jovens não demonstraram esse viés. Quando se manipulou a perspetiva temporal
(time-expanded condition) houve redução das diferenças de resposta entre as
idades.

121
Na versão time-extended a percentagem de participantes a preferir os anúncios
“aqui e agora” entre os idosos, diminui consideravelmente.

O envelhecimento altera o viés negativo: em alternativa, observa-se um


viés de positividade (Carstensen, 2006).
– Os eventos negativos perdem o seu impacto, dado que as consequências a
longo-prazo se tornam menos relevantes.
– Os eventos positivos ganham significância uma vez que maximizam estados
positivos atuais.

O efeito de positividade
O processamento de informação por adultos novos e de meia-idade mostra um
viés negativo. Os estímulos negativos, em particular os ameaçadores, capturam e
mantém melhor a atenção do que os estímulos neutros ou positivos.
Adicionalmente, eles são mais bem memorizados e relembrados. Isto pode ser

122
explicado tendo em conta o valor para a sobrevivência da informação negativa. A
Teoria da Selectividade Sócio-Emocional defende que a idade altera o viés
negativo. Como os estados presentes assumem uma maior importância que os
estados futuros, os idosos preferem maximizar os estados positivos presentes,
procurando explicitamente prestar mais atenção à informação positiva do que à
informação negativa.

Este estudo usou a técnica de eye-tracking para investigar o papel do controlo


cognitivo na atenção visual seletiva de idosos. Os participantes observaram pares
de faces e imagens neutras e emocionais em condições de atenção total e atenção
dividida. Os adultos mais velhos alocaram menos tempo nos estímulos
emocionalmente negativos na condição atenção total, em favor da teoria
que pressupõem que a procura de afeto positivo é controlada pela
cognição. Na tarefa de atenção dividida, os recursos atencionais limitados dos
idosos, fizeram-nos prestar mais atenção às imagens negativas.

Como se observa, apesar de a primeira fixação ser nos estímulos negativos, os


idosos selecionam depois fixar-se nos estímulos positivos.

Mudanças relacionadas com a idade, na morfologia e função corporal,


produzem mudanças no processamento emocional (menor consciência
interoceptiva; menor ‘arousal’ fisiológico).

123
A idade provoca uma atrofia generalizada da matéria branca e cinzenta. A
atrofia é mais proeminente nos córtices frontal e temporal, mas também se
observa em estruturas subcorticais como a amígdala. Danos estruturais nas
amígdalas de adultos jovens e de meia idade, similares aos que acontecem nos
idosos, promovem alterações nas respostas emocionais similares às dos idosos.
Isto sugere que as alterações emocionais nos idosos podem-se dever a atrofia
cerebral. As respostas do sistema nervoso periférico às emoções também se
tornam mais atenuadas, assim como a capacidade para as detetar.

Só cerca de 10% dos neurónios é que morrem na fase adulta. A grande perda
ocorre ao nível das ligações sinápticas entre neurónios. Com o passar dos anos
cerca de 25% desta rede desaparece. Os adultos também perdem dopamina à taxa
de 5 a 8% por década. Por volta dos 80 anos, perderam cerca de 40% da sua
função dopaminérgica. A mielina também se deteriora e o número de fibras
nervosas que consegue transportar informação no SNC diminui. Problemas
químicos, como o aumento da condutância ao Ca2+ também se torna comum em
cérebros mais velhos. O cérebro como um todo encolhe com a redução do fluxo
sanguíneo, diminuindo a quantidade de oxigénio e nutrientes disponíveis para o
cérebro.

124
O presente estudo explorou em que medida o reconhecimento de expressões
vocais de emoções "básicas" (raiva, nojo, medo, felicidade, surpresa agradável,
tristeza) difere no género (masculino / feminino) e na idade (jovem / meia-
idade). Os participantes identificaram a emoção expressa em frases individuais.
Os resultados indicam que as taxas de reconhecimento das emoções diferem
entre as emoções testadas e que esses padrões variam significativamente em
função da idade, mas não do género.

Os jovens identificaram com mais sucesso, do que as pessoas de


meia idade, as emoções expressas por frases vocalizadas, com exceção
da de surpresa.

Examinaram as diferenças relacionadas com a idade no reconhecimento de


emoções vocais.

125
Tarefa de categorização de emoções com vocalizações não verbais de prazer,
alívio, conquista, felicidade, tristeza, nojo, raiva, medo, surpresa e neutralidade.
Os sons foram produzidos por crianças, adolescentes, adultos e idosos.
A exatidão no reconhecimento da emoção vocal melhorou da infância
ao início da idade adulta e diminuiu em adultos mais velhos. Os padrões de
melhoria e declínio diferiram por categoria de emoção: desenvolvimento mais
rápido para o prazer, o alívio, a tristeza e a surpresa e declínio retardado para o
medo e a surpresa.
As emoções vocais produzidas por idosos foram mais difíceis de reconhecer
quando comparados com as das outras faixas etárias. Só as crianças é que tiveram
uma maior preferência/facilidade no reconhecimento das emoções vocais
produzidas por pessoas da sua faixa etária (outras crianças).

126
As emoções adaptam-se aos desafios de vida atuais.

• Na infância, as emoções interagem com os sistemas de processamento social e


de objetos que facilitam a vinculação aos cuidadores e o interesse pelo mundo.

• Na adolescência, os sistemas de vinculação mudam dos pais para os pares, as


recompensas tornam-se mais atrativas e as ameaças são percecionadas como
menos arriscadas.

• Na idade adulta (adultos idosos), os recursos cognitivos sofrem um declínio e o


horizonte temporal fica mais curto. Contudo, as emoções negativas não são mais
valorizadas do que as positivas. A teoria da seletividade sócio-emocional explica
estas mudanças.

127
Emoções: Implicações Clínicas
O stress é uma perturbação à homeostasia ou bem estar do organismo provocado
por uma alteração física ou psicológica. Ao nível fisiológico, o stress é
caracterizado pela ativação do eixo HPA (hipotálamo-pituitária-adrenais) que
resulta no aumento do cortisol em circulação. A resposta aguda ao stress é
benéfica ao homem, em situações de perigo, porque prepara o organismo para
uma resposta rápida: aumento do ritmo cardíaco, aumento da pressão sanguínea,
aumento da respiração, mobilização dos recursos de glucose, o sangue converge
para os órgãos vitais, para os músculos e para as partes primitivas do cérebro,
enquanto que diminui nos lobos frontais.

A resposta de stresse (fight-or-flight)

Durante condições de stress o Sistema Nervoso Simpático prepara o organismo


para a resposta de “fight-or-flight”.

Há uma mudança da energia de processos da digestão para os músculos.

Eixo HPA (hipotálamo – pituitária – adrenais)


– O Eixo HPA é responsável por um grupo de respostas ao stresse envolvendo o
hipotálamo, a hipófise e as glândulas adrenais.
– 1. O hipotálamo segrega CRH ; 2. O CRH estimula a hipófise para libertar
ACTH; 3. O ACTH estimula o córtice adrenal a produzir cortisol.

128
A glândula pituitária ou hipófise
= mesma estrutura cerebral.

A libertação de CRH pelos


neurónios do hipotálamo é
regulada por duas estruturas: a
amígdala e o hipocampo.
Ativação inapropriada da
amígdala, como acontece nas
desordens de ansiedade, conduz
a uma ativação continua do eixo
HPA. A ativação do hipocampo,
ao contrário da amígdala, inibe o
eixo HPA, diminuindo a
libertação de CRH. O hipocampo
possui muitos recetores de
cortisol, participando na regulação do eixo HPA ao inibir a libertação de CRH. A
exposição contínua do hipocampo ao cortisol pode provocar degenerescência dos
seus neurónios, e conduzir a um ciclo vicioso dado que uma resposta de stress
mais pronunciada irá provocar ainda mais danos no hipocampo (Bear nas
referências).

Extinção do medo
Aprendizagem da extinção ocorre quando um Estímulo Condicionado que,
previamente, predizia um Estímulo Incondicionado deixa de o fazer e, ao longo
do tempo, a resposta condicionada (e.g., freezing, aumento da resposta de
condutância da pele) diminui.

129
O papel da amígdala nas Perturbações de Ansiedade

A perturbação de ansiedade designa “um conjunto de alterações psíquicas e


físicas que se manifestam quando uma pessoa se encontra num estado de alerta
injustificado ou desproporcionado, tendo em conta a sua intensidade e duração”.
Os clínicos reconhecem várias perturbações da ansiedade, incluindo transtorno
de ansiedade generalizada (TAG), caracterizado pela ansiedade excessiva e
preocupação exagerada com os eventos da vida quotidiana; transtorno de
pânico, caracterizada pela antecipação e pela presença frequente de ataques de
pânico; fobias, caracterizadas pelo medo excessivo e persistente para com um
objeto, evento ou situação em particular; perturbação de stresse pós-
traumático, caracterizado pela revivência de um evento traumático de forma
persistente, essas memórias podem ser evocadas por sons, imagens ou odores
ligados às circunstâncias em que ocorreu o trauma.

130
Resultado:
• Diminuição da sensibilidade
a pistas associativas;
• Mobilização ineficaz de
recursos atencionais em direção
às características mais
relevantes do ambiente; défice
na aprendizagem de associa-
ções estímulo-resultado.

Interpretação de condições de
incerteza como ameaçadoras;
aumento da atenção para
pistas de ameaça

Perturbação de stresse pós-traumático

O transtorno do stress pós-traumático é desencadeado por trauma e


caracteriza-se pela presença de memórias intrusivas, hipervigilância e
dificuldades de concentração e memória. As disfunções apontam para uma
inabilidade das áreas cerebrais de controlo cognitivo para regularem as áreas
cerebrais envolvidas no processamento de estímulos emocionais.

Atualmente, é considerada uma “Perturbação relacionada com trauma e


stressores”. Esta nova categoria diz respeito a perturbações que surgem em
resultado da exposição a um acontecimento traumático ou stressante e que
preenchem os critérios de 4 clusters de sintomas: intrusão, evitamento,
alterações negativas na cognição e humor, alterações no arousal e reactividade.

Estressor: A pessoa foi exposta a: morte, ameaça de morte, dano sério atual
ou ameaça de dano sério, violência sexual ou ameaça de violência sexual.
Sintomas intrusivos: O acontecimento traumático é persistentemente
reexperienciado (memórias intrusivas, pesadelos traumáticos, reacções

131
dissociativas, mal-estar intenso ou prolongado após exposição a pistas
traumáticas, reactividade fisiológica marcada após exposição a estímulos
relacionados com o trauma).
Evitamento: Evitamento esforçado e persistente de estímulos relacionados
com o trauma após o evento.
Alterações negativas nas cognições e humor: Estas começaram ou
pioraram após o acontecimento traumático.
Alterações no arousal e reactividade: Estas começaram ou pioraram
após o acontecimento traumático.
Tempo: > 1 mês, impacto clínico

A resposta de medo do paciente com PTSD é semelhante à resposta de medo


condicionado demonstrada em experiências laboratoriais com ratos.

A extinção é a diminuição da resposta condicionada ao estímulo condicionado,


e ocorre quando o estímulo condicionado é apresentado repetidamente na
ausência do estímulo não condicionado aversivo. A extinção não apaga a
associação inicial CS-US, mas pensa-se que forma uma nova memória. Após
treino de extinção, a memória de extinção compete com a memória de
condicionamento para o controlo da expressão da resposta condicionada.

Informação do córtex medial prefrontal para a amígdala modula a


extinção, de tal maneira que, ratos com lesões nesta área demoram o dobro do
tempo a aprender que o estímulo condicionado já não está associado com o

132
estímulo incondicionado. O vmPFC tem assim um papel na memorização da nova
memória, e aparentemente também tem na expressão da extinção: a sua atividade
está relacionada inversamente com a expressão da resposta condicionada.
Estudos recentes mostram que seres humanos com elevados níveis de
ansiedade tem baixa atividade no vmPFC. O modelo atual de PTSD hipotisa
hiper-responsividade da amígdala a estímulos ameaçadores, com
uma regulação top-down inadequada por parte do vmPFC.

Diminuição da ativação do vmPFC em PTSD, inversamente correlacionada


com atividade bilateralmente na amígdala.

O papel da amígdala na PSPT=PTSD

Hiperactivação da amígdala em resposta a:


– Imagens relacionadas com o trauma;
– Sons ou cheiros relacionados com o trauma;
– Fotografias ou palavras relacionadas com o trauma;
– Condicionamento de medo;

133
– Expressões faciais de medo; ...

• Também observada em:


– Descanso;
– Tarefas de atenção e memória neutras.

• Resposta a tratamento cognitivo-comportamental associado a:


– Redução da activação da amígdala

O Papel do CPF medial na PSTP=PTSD incluindo córtex cingulado


anterior rostral, circunvolução frontal medial, córtex subcaloso.

Hipoactivação do CPF medial durante:


– Apresentação de estímulos relacionados com o trauma;
– Estímulos negativos, não traumáticos
– Imagética relacionada com o trauma
– Extinção
– Evocação de memórias emocionais
– Em descanso

Aumento da ativação do CPF medial após tratamento está positivamente


associado a melhoria sintomática.

134
O papel do Hipocampo na PSTP

O funcionamento do hipocampo é necessário para aceder à memória episódica,


permitindo a comparação entre a experiência atual e as experiências do passado.
Quando está a funcionar adequadamente o hipocampo é capaz de codificar
memórias que combinam informação espacial, informação contextual e outros
detalhes sobre os estímulos relacionados com ameaça. Por outro lado, quando o
hipocampo não funciona adequadamente a codificação parcial da informação
pode resultar numa memória fracionada, incorreta e pouco detalhada. No PTSD
a informação proveniente do hipocampo é inadequada, ocorrendo uma
preferência sobre a essência dos acontecimentos. Consistentemente com isto, o
hipocampo dos pacientes com PTSD tem um volume reduzido. Pensa-se que este
se deve às perturbações hormonais que ocorrem na PTSD devido ao
funcionamento continuo do eixo HPA (como já vimos atrás). Perturbações no
eixo HPA e na função das catecolaminas promovem alterações noutros sistemas
de neurotransmissores, incluindo a serotonina, que precipitam modificações em
grande escala da função e estrutura cerebral (Brown e Morey, 2012).

135
Patologia da amígdala

– Resposta emocional condicionada alterada


– Fracasso no reconhecimento do medo

Uma função crítica da amígdala humana é aumentar a perceção de estímulos


com significado emocional. Anderson et al. mostraram palavras em rápida
sucessão no paradigma attentional-blink. Os controlos saudáveis mostraram
uma maior capacidade de identificar palavras com conteúdo negativo
comparativamente às neutras. Em contraste, pacientes com lesões bilaterais
na amígdala não mostraram esta perceção melhorada para a deteção de
estímulos negativos. Análise aos pacientes mostrou que esta função é
especificamente desempenhada pela amígdala esquerda.

Psicopatia
– Baixa reatividade amigdalar a estímulos emocionais
– Dificuldade em aprender com base na punição

Regiões do cérebro implicadas na moralidade e, quando disfuncionais, na


psicopatia: circunvolução temporal superior (STC), a amígdala e o vmPFC.
Durante a aprendizagem por reforço a amígdala associa as representações do
estímulo condicionado (as ações), que se encontram no córtex temporal, às

136
consequências
emocionais do evento.
De particular
importância é a
associação entre as ações
que provocam danos no
outro, com as emoções
de medo e tristeza da
vítima. As conexões
entre a amígdala e o
córtex temporal são
recíprocas, permitindo
que a amígdala
influencie a atenção.
Observa-se uma
redução da atenção,
tipicamente
estimulada por
estímulos
emocionais, na
psicopatia.
A amígdala também
envia informação para o vmPFC, informação quanto ao estado emocional
esperado do outro (futuro), sendo da competência do vmPFC representar esse
resultado esperado. Outros sistemas utilizam a informação do vmPFC para
selecionar as respostas apropriadas.

Ansiedade – hiper-reactividade amigdalar?


– Sistema de ameaça sobreactivado?

137
Pacientes com PTSD exibem uma ativação exagerada da amígdala quando
masked-fearful faces são comparadas com masked-happy faces.

138

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