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Oxigenoterapia

Profa. Enf. Esp. Monaliza Costa


Introdução

Os distúrbios do sistema respiratório são comuns, sendo encontrados em todos


os serviços de assistência à saúde;

Para avaliar o sistema respiratório o enfermeiro deve estar habilitado a diferenciar


os achados normais dos anormais que se apresentam no histórico do paciente;

Além disso, é essencial uma compreensão da função respiratória e do significado


dos resultados dos exames diagnósticos anormais.
Sistema Cardiovascular

A função do sistema cardiovascular é levar oxigênio, nutrientes e outras


substâncias para os tecidos e remover a escória produzida pelo metabolismo
celular através do bombeamento cardíaco, do sistema circulatório vascular e da
integração com outros sistemas.
Sistema Respiratório

A troca dos gases respiratórios acontece entre o ar ambiente e o sangue


(Hematose). Existem três etapas no processo de oxigenação:

➢ Ventilação;

➢ Perfusão;

➢ Difusão
Ventilação

É o processo de movimento dos gases para


dentro e para fora dos pulmões. Requer:

- coordenação muscular;
- propriedades elásticas do

pulmão; - propriedades elásticas

do tórax;

- inervação intacta (nervo frênico - 4° vértebra


cervical).

Perfusão

Relaciona-se com a capacidade do sistema

cardiovascular de bombear sangue oxigenado

para os tecidos e retornar desoxigenado para

os pulmões.
Difusão

É o movimento das moléculas de uma

área de alta concentração para outra,

de baixa concentração. A difusão dos

gases respiratórios acontece ao nível

da membrana alvéolo-capilar.
Alterações no funcionamento respiratório
❖ Doenças e condições que afetam a ventilação ou o transporte de O2 alteram o
funcionamento respiratório;
❖ 3 alterações primárias:
Hiperventilação
Hipoventilação
Hipóxia
❖ Objetivo da ventilação: produzir tensão de dióxido de carbono arterial normal e
manter tensão de oxigênio arterial normal:
PaCO2 entre 35 e 45 mmHg
PaO2 entre 95 e 100 mmHg
HIPERVENTILAÇÃO
❖ Ventilação acima do necessário para eliminar o CO2 produzido pelo
metabolismo celular. O aumento da ventilação é para reduzir a quantidade de
CO2.
❖ Principais indutores:
✓ Ansiedade aguda = causa perda de consciência por expiração excessiva
de CO2;
✓ Infecções, febre = elevação da temperatura, aumenta a taxa metabólica,
ocorre aumento da produção de CO2, levam ao aumento da profundidade
da respiração;
✓ Químicos = salicilato, anfetaminas, cetoacidose, aumentam a ventilação
pois elevam produção de CO2.
HIPOVENTILAÇÃO
❖ Quando a ventilação alveolar é inadequada para atender à demanda corporal
de O2 ou para eliminar o CO2. Conforme a ventilação alveolar diminui, o corpo
retém CO2;
❖ Principais indutores:
✓ Atelectasia = “colapso dos alvéolos”, impede troca normal entre O2 e CO2,
os alvéolos colabam e ventilam menos o pulmão;
✓ Oferta excessiva de O2 na DPOC: os pacientes se adaptam a níveis mais
altos de CO2 e possuem quimiorreceptores sensíveis a CO2 não
funcionantes. Nesses pacientes o estímulo para respirar é ter um nível
reduzido de O2 arterial. A administração de O2 acima de 24-28% faz com
que a PaO2 caia, oblitera o estímulo para respirar = hipoventilação.
HIPOVENTILAÇÃO
❖ Sinais e sintomas clínicos
✓ Mudanças do estado mental
✓ Arritmias com potencial para parada cardíaca
✓ Convulsões
✓ Inconsciência
✓ Morte
❖ Tratamento
✓ Melhorar oxigenação dos tecidos
✓ Restaurar função ventilatória
✓ Corrigir causa
Hipoxemia é a deficiência de concentração de oxigênio no
sangue arterial.


Hipóxia é a oxigenação inadequada do tecido no nível
celular, o que pode ocorrer mesmo na presença de
quantidade normal no sangue arterial
HIPOXIA
Principais indutores
✓ Nível de hemoglobina reduzido e capacidade reduzida do sangue de
transportar O2
✓ Concentração diminuída de O2 inspirado (altas altitudes)
✓ Incapacidade dos tecidos de extrair O2 do sangue (cianeto) ✓ Difusão
reduzida de O2 proveniente dos alvéolos para o sangue (pneumonia)
✓ Perfusão tecidual deficiente com sangue oxigenado (choque)
✓ Ventilação comprometida (trauma torácico, fratura de costelas)
HIPOXIA
Sinais e sintomas clínicos:
✓ Apreensão
✓ Inquietação
✓ Incapacidade de se concentrar
✓ Perda de consciência
✓ Mudanças de comportamento
✓ Agitação
✓ Fadiga
✓ Alterações de SSVV: aumento da frequência de pulso e da frequência e
profundidade da respiração
Alterações no funcionamento respiratório
Na avaliação clínica:
✓ Identificar tipos de problemas respiratórios e cardíacos
Dor, dispneia, fadiga, horário, duração
✓ Sinais e sintomas
Mudou padrão?, tem tosse?, catarro? Cor?
✓ Início e duração
✓ Gravidade
Graduar dispnéia, dor
Alterações no funcionamento respiratório
✓ Fatores predisponentes
Resfriado? Influenzae? Medicamentos? Tabagismo? Exercícios?
Alergias?
✓ Efeitos dos sintomas no paciente
Afetam atividades diárias? Apetite? Sono? Como?
✓ Exame físico
✓ Análise de exames laboratoriais e diagnósticos

Oxigenoterapia
Consiste na administração de oxigênio numa concentração de pressão superior à

encontrada na atmosfera ambiental para corrigir e atenuar deficiência de oxigênio

ou hipóxia.
Sinais e sintomas de hipóxia:

➢ FC aumentada;

➢ Inquietação; ➢ Palidez;

➢ Ansiedade; ➢ Cianose;

➢ Desorientação; ➢ Dispnéia / taquipnéia

➢ Rebaixamento do nível de ➢ Respiração laboriosa (retração


intercostal, batimento de asa
consciência; do nariz)

➢ Tontura;
Possíveis causas de hipóxia:
➢ Diminuição do nível de Hb/ Redução na capacidade de transporte de
O2 pelo sangue;

➢ Concentração diminuída de O2 inspirado;

➢ Difusão diminuída/ Hematose diminuída;

➢ Redução do fluxo sanguíneo;

➢ Ventilação comprometida
Danos cerebrais decorrentes da falta de oxigenação
Oxigenoterapia – Objetivos:

Reverter a hipoxemia e auxiliar no alcance de três

metas: ➢ Oxigenação tissular melhorada;

➢ Trabalho diminuído da respiração em casos de dispnéia;

➢ Trabalho diminuído do coração nos pacientes

cardiopatas.

Oxigenoterapia – Indicações:

Segundo a “American Association for Respiratory Care” (AARC), as indicações


básicas de oxigenoterapia são:
➢ PaO2 < 60 mmHg ou Sat O2 < 90 % (em ar ambiente).;
➢ Sat O2 < 88% durante a deambulação, exercício ou sono em portadores de
doenças cardiorrespiratórias;
➢ IAM;
➢ Intoxicação por gases (monóxido de carbono);
➢ Envenenamento por cianeto.
Oxigenoterapia – Princípios gerais:

➢ O oxigênio é prescrito em relação ao fluxo ou à concentração, dependendo


das necessidades do paciente e da capacidade do dispositivo de
administração;

➢ O fluxo de oxigênio é expresso em litros/minuto. A concentração é expressa


como um percentual ou como uma fração de oxigênio inspirado (FiO2);

➢ Usar a concentração mínima ou o menor fluxo possível para alcançar um nível


de oxigênio sanguíneo adequado.
Oxigenoterapia – Alerta:

Alguns pacientes com doença pulmonar crônica ficam dependentes de um estado


de hipercapnia (↑PaCO2) e hipóxia de estimulação para respirar, e o oxigênio
suplementar pode fazer com que parem de respirar.
Métodos de administração de oxigênio:

O estado de oxigenação do
paciente determina qual
aparelho de administração de
oxigênio é o mais apropriado.
Sistemas de baixo fluxo:
Fornecem oxigênio suplementar diretamente às vias aéreas com fluxos de até 6
l/min ou menos. Como o fluxo inspiratório de um indivíduo adulto é superior a
este valor, o oxigênio fornecido por este dispositivo de baixo fluxo será diluído
com o ar, resultando numa FiO2 baixa e variável (cânula nasal, cateter nasal).
Sistemas de alto fluxo:
Os sistemas de alto fluxo fornecem uma determinada concentração de oxigênio
em fluxos iguais ou superiores ao fluxo inspiratório máximo do paciente, assim
asseguram uma FiO2 conhecida (máscara de venturi).

➢ Cânula nasal: Método empregado quando o paciente requer uma


concentração baixa de O2.

Observações:
➢ Limitar o fluxo máximo de O2 a 6l/min para minimizar o ressecamento da
mucosa nasal;

➢ Usar sempre umidificador;

➢ Usar a “Regra dos Quatro” para estimar a concentração: para cada l/min de
O2, a concentração aumenta em 4% (ex: 1 l/min fornece 24%, 2 l/min
fornecem 28%).

➢ Cateter nasal: Método empregado quando o paciente requer uma


concentração baixa de O2.
➢ Cateter nasal:

Vantagens Desvantagens
➢ Dispositivo simples; ➢ Nem sempre é bem
➢ Dispositivo de baixo tolerado pelo paciente; ➢
custo; Respiração bucal reduz a
➢ Fácil aplicação FIO2;
➢ Irritabilidade tecidual da
nasofaringe;
➢ Necessidade de
revezamento das narinas
a cada 8h;
➢ Facilidade de
deslocamento do cateter.
Máscara simples:

Método empregado quando o paciente requer uma concentração moderada de


O2.

Capacidade de oxigênio: 40 a 60% quando operado com 6 a 10


l/min
Máscara simples – vantagens:

➢ Método econômico e que utiliza dispositivos simples; ➢ Facilidade de aplicação


Máscara simples – desvantagens:

➢ A concentração real liberada de O2 varia com o padrão respiratório; ➢ É


necessário um fluxo mínimo de 5 l/min de O2 para evitar que o paciente
reinale o dióxido de carbono expirado contido no reservatório; ➢ Dificulta a
expectoração;
➢ Inadequado para o paciente com DPOC por causa do potencial para
oxigenação excessiva;
➢ Cobre a boca e o nariz, pode produzir claustrofobia;
➢ Difícil aplicação em pacientes com sondas naso ou orotraqueal ou pacientes
com lesões e traumas de face
Máscara de venturi:

Método empregado quando o paciente requer uma concentração moderada ou


alta de O2. Consigo garantir uma FiO2 conhecida.

Capacidade de oxigênio:
24 a 50% quando operado com 3 a 8 l/min
A cor do dispositivo reflete a
concentração de oxigênio
empregada: 24%: azul; 28%: branco;

31%: alaranjado; 35%: amarelo; 40%:


vermelho; 60%: verde.
Máscara com reservatório:

Método empregado quando o paciente requer uma concentração alta de O2.

Capacidade de oxigênio:
Até 95% quando operado com 10 a 15
l/min
Válvula bidirecional com reinalação (poupa
fluxo):

➢ Concentração de O2 : 35 – 60 % (com fluxo de O2: 06 a 10

l/min); ➢ Permite reinalação de CO2 na bolsa reservatório;

➢ Bolsa tem de estar cheia em 2/3

_
_
_
_
_ Reservatório
Máscara com
reservatório
(reinalação parcial)

Fluxômetro
Válvula unidirecional sem reinalação:

➢ Concentração de O2: 80 a 95 % (com fluxo de 10 a 15

l/min); ➢ Indicada no paciente grave ou na IRA;

➢ Bolsa reservatório sempre inflada


Máscara com reservatório
_
(não reinalação)
_
_
Válvula
Exalatoria fechada
Fluxômetro
_
Válvula
_
unidireccional

Reservatorio
Inaloterapia

Método terapêutico que transforma uma solução (água ou soluções


salinas) em névoa quando submetida a uma determinada pressão.

Objetivo: hidratar o muco estagnado, reduzindo sua viscosidade e


aderência.

Pode ser associada à terapia medicamentosa (mucolíticos, antibióticos,


broncodilatadores), fluidificando as secreções, diminuindo os processos
inflamatórios e reduzindo o broncoespasmo.
Cuidados na administração de O2:

➢ Não administrá-lo sem o fluxômetro;


➢ Colocar umidificador com água destilada ou esterilizada até
o nível indicado;
➢ Colocar aviso de "Não Fumar" na porta do quarto do
paciente; ➢ Controlar a quantidade de litros por minutos;
➢ Observar se a máscara ou cateter estão bem adaptados e
em bom funcionamento;
➢ Dar apoio psicológico ao paciente;
➢ Trocar diariamente a cânula, os umidificadores, o tubo e
outros equipamentos expostos à umidade;
Cuidados na administração de O2:

➢ Avaliar o funcionamento do aparelho constantemente


observando o volume de água do umidificador e a quantidade de
litros por minuto;
➢ Observar e palpar o epigástrio para constatar o aparecimento
de distensão;
➢ Fazer revezamento das narinas a cada 8 horas (cateter);
➢ Avaliar com frequência as condições do paciente, sinais
de hipóxia e anotar e dar assistência adequada;
Cuidados na administração de O2:

➢ Manter vias aéreas desobstruídas;


➢ Manter os torpedos de O2 na vertical, longe de aparelhos
elétricos e de fontes de calor;
➢ Controlar sinais vitais.
Manobras de higiene brônquica não invasivas

Técnicas que visam auxiliar a mobilização e a eliminação de


secreções, melhorando as trocas gasosas e evitando as
complicações de um quadro de pneumopatia previamente
instalado.
Manobras de higiene brônquica não
invasivas Indicações:
➢ Sinais clínicos de acúmulo de secreção (ruídos
adventícios, alterações gasométricas ou de radiografia
torácica, tosse ineficaz, taquipnéia, padrão respiratório
exaustivo);
➢ anormalidades na relação ventilação/perfusão; ➢
emprego preventivo em pacientes acamados no período de
pós-operatório ou ainda nos portadores de doenças
neuromusculares.
Drenagem postural

Mobilização das secreções no trato respiratório com o auxílio


da ação da gravidade, direcionando-as para as vias aéreas
centrais onde poderão ser removidas por meio da tosse.

➢ posicionamento invertido (encaminhar a secreção para


uma porção mais superior da árvore brônquica); ➢
hidratação (fluidificar a secreção muito viscosa); ➢
monitoração dos sinais vitais (saturação de oxigênio).
Percussão pulmonar

Qualquer manobra realizada com as mãos sobre a superfície


externa do tórax do paciente proporcionando vibrações
mecânicas, as quais serão transmitidas aos pulmões,
gerando mobilização de secreções pulmonares.

➢ Tapotagem;
➢ Percussão cubital;
➢ Vibração.
Tosse dirigida

Manobra intencional, descrita em três fases:


➢ fase preparatória: inspiração ampla e longa;
➢ fechamento da glote e contração da musculatura
respiratória (aumento da pressão intratorácica);
➢ fase expulsiva: o ar é expulso em alta velocidade
acompanhada pela abertura da glote e queda da pressão
intratorácica.
Aspiração de vias aéreas superiores

Procedimento invasivo, realizado por profissional habilitado, visando a remoção


de secreção pulmonar acumulada em vias aéreas.

➢ Aspiração nasofaríngea;

➢ Aspiração orofaríngea
Aspiração
nasofaríngea
Contra-indicação:

➢ Passagens nasais ocluídas;

➢ Sangramento nasal;

➢ Lesão aguda de cabeça, face ou pescoço;

➢ Distúrbios hemorrágicos;

➢ Vias aéreas irritáveis;

➢ Infecção de vias aéreas superiores.


Aspiração
nasofaríngea
Complicações:

➢ Lesão das Vias Aéreas;

➢ Atelectasia;

➢ Arritmias - alteração na FC;

➢ Regurgitamento após refeições


Referências
Potter, PA; Perry, AG. Fundamentos de Enfermagem. Conceitos,
Processo e Prática. Traduzido por Cruz, ICF; Lisboa, MTL; Machado,
WCA. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 7a. ed., 2009.

Taylor C; Lillis, C; Lemone, P. Fundamentos de Enfermagem. A arte e a


ciência do cuidado de enfermagem. Artmed, 5a. Ed., 2007.

Guyton, AC.; Hall, JE. Tratado de Fisiologia Médica. Rio de Janeiro:


Guanabara Koogan, 10a. ed., 2002.

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