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Anatomia
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MICROCIRURGIA RECONSTRUTIVA
CAPÍTULO 4
Classificação dos
Transplantes Cutâneos
inúmeros retalhos livres foram descritos e popularizados, min é suficiente para sua nutrição adequada. Esta enorme
podendo-se até mesmo falar em uma subespecialidade conhe- possibilidade de variação do fluxo é atribuída às anastomo-
cida como microcirurgia reparadora. ses arteriovenosas, controladas pela estimulação noradrenér-
gica das fibras nervosas simpáticas. Esta propriedade é de
fundamental importância para a manutenção da homeostase
ANATOMIA VASCULAR do corpo humano, explicando ainda a viabilidade dos retalhos
logo após sua transferência.
A irrigação sanguínea do corpo humano pode ser dividi-
da basicamente em macro e microcirculaçao. A macrocircu- Baseado na distribuição do sistema circulatório e de fun-
lação é formada por vasos segmentares ou de distribuição damental importância para o entendimento dos retalhos foi
que se originam diretamente da aorta ou dos grandes troncos desenvolvido o conceito de angiossomas. Análogo a um der-
vasculares. Esses vasos irão alcançar o sistema cutâneo atra- mátomo sensitivo, um angiossoma é um bloco complexo de
vés de três vias fundamentais. As artérias musculocutâneas vários tecidos (pele, fáscia, músculo e osso) supridos por va-
que correm perpendicularmente através dos ventres muscu- sos de mesma origem. A artéria de origem supre a pele e as
lares subjacentes para dentro da circulação cutânea, são mais estruturas subjacentes dentro de um dado bloco tridimensio-
prevalentes no suprimento sanguíneo da pele cobrindo os nal de tecido. Toda a superfície de pele do corpo, dessa for-
amplos e planos músculos do tronco. ma, é perfundida por múltiplas unidades de angiossomas.
As artérias septocutâneas ou septomiocutâneas, originá- A interligação entre os angiossomas adjacentes é feita
rias de vasos segmentares ou musculocutâneos, passam dire- pelos vasos capilares. Em princípio, um retalho randômico
tamente dentro dos septos fasciais intermusculares para cutâneo pode sustentar a área suprida por um angiossoma.
suprirem a pele sobrejacente. Essa orientação é mais comum No entanto, um retalho de padrão axial pode carregar consi-
entre os músculos mais longos e delgados das extremidades. go um angiossoma adicional de tecido que é perfundido atra-
vés da interligação feita pelos capilares, Como exemplo o
As artérias cutâneas diretas, ramos de artérias segmen- retalho TRAM que incorpora extensões cutâneas laterais às
tares, situam-se no plano da fáscia superficial e emitem ra- perfurantes vindas através dos músculos retos abdominais (zo-
mos para o plexo dérmico. Estes sistemas dão origem a nas 3 e 4). (Fig. 4.2)
plexos vasculares intensamente interligados que são o fascial,
o subdérmico e o dérmico. (Fig. 4.1)
Fig. 4.2
Retalho TRAM demarca-
do demonstrando a pro-
jeção dos músculos retos
abdominais, áreas irriga-
das diretamente pelos
ramos perfurantes mio-
cutâneos e extensões la-
terais irrigadas através de
anastomoses do plexo
subdérmico.
Fig. 4.1 Desenho representando uma artéria e seus ramos
musculares que irrigam a pele através de ramos perfurantes
diretos e indiretos, que formam os plexos fascial, CLASSIFICAÇÃO DOS ENXERTOS
subdérmico e dérmico.
Os enxertos podem ser classificados quanto à sua espes-
sura, composição, origem e dimensões.
Além de artérias e veias, a circulação cutânea é formada
por arteríolas, capilares, vênulas e shunts arteriovenosos que QUANTO À ESPESSURA (TABELA 4.1)
constituem a microcirculação. O controle do fluxo sanguíneo
neste sistema é dado pelo sistema nervoso simpático, ao pas- • Enxertos de pele total: enxertos constituídos pela epi-
so que a regulação da microcirculação muscular é predomi- derme e por toda a espessura da derme.
nantemente miogênica. • Enxertos de pele parcial: constituídos de epiderme e
Caracteristicamente, o fluxo sanguíneo cutâneo é muitas parte da derme, e são subdivididos em delgados (espes-
vezes superior às suas necessidades metabólicas. O fluxo sura de 0,125 a 0,275 mm), intermediários (espessura
sanguíneo normal da pele é de aproximadamente 100 mL/ de 0,276 a 0,40 mm) e espessos (espessura de 0,41 mm
100 mg/min, e sabe-se que um fluxo de 1 a 2 mL/100 mg/ a 0,75 mm) (Figs. 4.3 e 4.4).
Tabela 4.1
Características dos Enxertos Cutâneos
Intermediário/ • Coberturas de áreas cruentas • Apresenta discromia com menor • Área doadora com freqüência
espesso resultantes da secção de bridas freqüência apresenta hiperpigmentação
e sinéquias • Menor retração secundária • Área doadora com maior
• Zonas articulares ou dorso das mãos susceptibilidade às infecções
Pele total • Reparações de face • Praticamente não sofre retração • Áreas doadoras limitadas, pois
• Reconstruções de orelha secundária ou discromia exigem fechamento primário
• Sindactilias • Grande resistência aos traumatismos • Integração difícil
• Reconstrução de pálpebras • Retração primária de 40%
QUANTO À ORIGEM
• Auto-enxertos: quando as áreas doadoras e receptoras
pertencem ao mesmo indivíduo.
• Homoenxertos: quando as áreas doadora e receptora
pertencem a indivíduos da mesma espécie. São muito
utilizados em grandes queimados como curativos bio-
lógicos na preparação da área receptora até que se dis-
QUANTO À DIMENSÃO
• Enxertos em lâmina: são enxertos amplos, que permi-
tem o revestimento de toda ou quase toda a área cruen-
ta; são muito utilizados atualmente (Figs. 4.7 e 4.8).
QUANTO À CONSTITUIÇÃO
• Simples: são constituídos apenas por pele e subcutâneo.
• Compostos: além de pele e tela subcutânea levam con-
sigo outros tecidos como fáscia (fasciocutâneos), mús-
culo (miocutâneos), osso (osteocutâneos) e cartilagem
(condrocutâneos) (Fig. 4.17).
QUANTO À IRRIGAÇÃO
Fig. 4.25
Retalho inguino-crural
baseado na artéria cir-
cunflexa ilíaca superficial
dissecado para transfe-
rência microcirúrgica.
Fig. 4.28
Retalho de músculo gas-
trocnêmio utilizado para
reconstrução de terço
proximal da perna.
Fig. 4.32
Detalhe de dissecção do
músculo grande dorsal.
Fig. 4.29
Retalho de músculo vasto QUANTO À LOCALIZAÇÃO DA ÁREA
lateral utilizado para pre-
enchimento de cavidade DOADORA EM RELAÇÃO À RECEPTORA
resultante de infecção de
prótese de quadril. • Retalhos de vizinhança: localizam-se nas adjacências
da área receptora, com características cutâneas de
QUANTO À INERVAÇÃO