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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

Psicologia da Educação II

Docente: Profa. Dra. Sandra Valeria Limonta Rosa

Discente: Renato Barrete Marcelino de Lima

Contribuições da Psicologia Genética para ensino aprendizagem dos


conteúdos de Artes Visuais

A Psicologia Genética, desenvolvida por Jean Piaget, diz respeito ao


desenvolvimento cognitivo do ser humano a partir da teoria construtivista. Ela
prevê quatro fases, ou períodos, do desenvolvimento mental dos sujeitos. O
primeiro período, sensório-moto, vai do nascimento até por volta dos dois anos
de idade; o segundo período chama-se pré-operacional e começa aos dois anos
e se estende até os seis/sete anos; a fase do operacional concreto sucede a fase
anterior até os onze/doze anos; enquanto a fase seguinte, das operações
formais, perdura da pré-adolescência até a vida adulta. Essas divisões de idades
nem sempre correspondem a realidade, podendo ser alteradas de um sujeito
para outro, considerando que cada indivíduo aprende no seu próprio tempo
algumas fases podem ter duração maior ou menor.

O ensino aprendizagem de Artes Visuais na contemporaneidade acompanha


uma série de modificações que estão relacionadas com as discussões sobre a
história do ensino dessa disciplina, na medida em que o campo de conhecimento
da Arte se estabeleceu atendendo demandas das transformações históricas e
sociais da civilização. Essas mudanças são visíveis nas propostas
metodológicas, nos conteúdos trabalhados em sala de aula, na formação e
atuação de professores, dentre outros.

Atualmente o campo da Artes Visuais, especificamente dos arte educadores, se


debruça fortemente sobre a questão dos conteúdos. De um lado reafirma-se a
capacidade de alguns em criar representações através de técnicas artísticas
diversas, como o desenho, a pintura e a escultura, pois os mesmos possuem um
dom inato que é da pessoa, considerando impossível o desenvolvimento de tais
habilidades de criação para aqueles que não nasceram com esse dom. A maioria
dos arte educadores que reafirmam esse pensamento, defendem uma ideia de
Arte como aquilo que é tradicional, das técnicas artísticas primordiais do ser
humano, como as citadas antes, além da fotografia, o cinema, a música, a dança
e o teatro (esses três últimos entram na categoria do tradicional, porém não são
objetos de estudo do campo das Artes Visuais especificamente).

Outros arte educadores vislumbram as diversas possibilidades para o ensino


dessa disciplina, uma vez que a matéria prima das aulas de Artes Visuais são as
visualidades, ou seja, tudo o que é visível. Das técnicas tradicionais às
contemporâneas, das possibilidades de criação e recriação de diferentes mídias
à construção social do olhar, das pedagogias e artefatos culturais que os
estudantes estão em contato cotidianamente, tudo pode ser considerado
potencial para o ensino aprendizagem em Artes Visuais. A partir do campo de
estudos da Cultura Visual, lugar onde me posiciono enquanto arte educador, o
foco não está em aprender a desenhar ou pintar, mas em questionar e relacionar
as diversas produções imagéticas do ser humano ao seu próprio contexto. O
conhecimento de técnicas pode existir, de acordo com o interesse dos
estudantes, porém o foco é a deslocalização do olhar e o reposicionamento do
sujeito, que através das Artes Visuais vai se conhecer enquanto sujeito histórico
e social.

Nesse sentido, é importante já nos primeiros anos de escolarização o contato


com materiais artísticos diversos – lápis de cor, giz de cera, canetinhas, tinta
guache, papeis diversos, massa de modelar e argila, materiais descartados e
orgânicos, etc. – para a criança desenvolver e possibilitar o uso da linguagem
artística, criando símbolos e representações do seu próprio imaginário.

Nos primeiros anos de escolarização, falamos aqui da fase pré-operacional, a


criança começa a organizar seus pensamentos, então tão importante quanto
conseguir manipular esses materiais, é o entendimento do porque escolhem
representar uma casa ou uma escola, um amigo ou um familiar, um brinquedo
ou um objeto, e daí por diante. Assim, o professor enquanto mediador de
conhecimentos, deve propor o diálogo constante sobre as produções infantis,
captando pistas do porque a atenção dela se volta para determinados
acontecimentos, e contextualizar suas explicações a partir de experiências
específicas de cada criança.

No período operacional concreto, enquanto a criança começa a descentrar


progressivamente de si mesmo e tomar ciência do coletivo e recorrer a objetos
e acontecimentos concretos, é momento propício para ampliação do seu
repertório artístico e cultural. Conhecer espaços expositivos variados como
museus, galerias, centros culturais, teatros, cinemas, dentre outros; apresentar
diferentes artistas e diferentes técnicas de criação artística; possibilitar o uso de
ferramentas contemporâneas para a criação artística (computador, tablet,
smartphone, etc.); explorar o próprio ambiente da escola enquanto espaço
possível de disseminação de arte e cultura; são alguns dos caminhos para se
trabalhar conteúdos de Artes Visuais nos anos inicias do ensino fundamental.
Experienciar tanto possibilidades de criação, quanto possibilidades de inserção
dessas criações como objetos reais que possuem significados atrelados a
realidade.

O período das operações formais aparece na pré-adolescência e se estende até


a idade adulta. É o momento em que se revelam um estado de contestação,
questionamento, sentimento de pertencimento e reconhecimento com seus
pares, distanciamento da ideia de ser criança e aproximação com a realidade do
que vem a seguir, a vida adulta. O adolescente pode tanto melhorar a sua
desenvoltura com determinadas técnicas artísticas, quanto busca dialogar sobre
como algumas produções artísticas do passado até a contemporaneidade se
relacionam com um contexto social e histórico mais amplo. A mediação do
conhecimento deve partir do pressuposto de que muitas das situações
vivenciadas pelos estudantes nessa fase, estão refletidas em produções
artísticas, afinal a maioria dos artistas já foram ou são jovens, que estão
descobrindo o mundo e produzindo arte a partir de suas próprias inquietações.

Muitos arte educadores, e me encaixo nessa caixinha, defendem que a arte deve
servir para aproximar o indivíduo daquilo que temos de mais humano. E é
verdade, por meio da arte temos contato com aquilo que existe de mais
expressivo na história dos homens, a experiência humana em si. O
desenvolvimento do ser, as alegrias e dificuldades, o belo e o feio, as cores e as
formas, tudo se encontra da experiência humana nas representações artísticas.
Assim a arte pode tanto ser meio, para se entender enquanto pessoa num mundo
coletivo, quanto fim, para descobri-la enquanto caminho para criar novos
significados nas suas experiências. E é entendendo a teoria construtivista do
desenvolvimento humano, que professores de Artes Visuais podem mediar um
ensino aprendizagem significativo e próprio de cada fase desse
desenvolvimento.
Referências

MOREIRA, Marco Antonio. A teoria do desenvolvimento cognitivo de Piaget. In:


Teorias da aprendizagem. São Paulo: EPU, 1990. (p. 95-108).

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