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Doutrinação Umbandista – ARQUÉTIPOS DE UMBANDA

Roupagem fluídica
Roupagem fluídica é uma forma de camuflagem que os espíritos usam
para se mostrarem com diferentes aparências, usam de outras imagens
(aparências) que não são as suas, se utilizando da manipulação de fluídos
para isso. É muito comum isto ocorrer na espiritualidade, tanto por guias espirituais, como
por outros tantos espíritos, independente de sua elevação espiritual. Muitos opositores,
obsessores ou os zombeteiros utilizam deste artifício para enganar os encarnados e
desencarnados, geralmente esses tipos de espíritos sempre estão vestindo algum tipo de
roupagem, nunca se mostram como eram em vida.

Na Umbanda a roupagem é utilizada entre os Guias espirituais, porém, não do jeito que
muitos andam dizendo. Nenhum doutor de etnia passada branca vem vestido de Preto Velho
ou índio, muito menos de Ibeijada/Criança, isto não é necessário na Umbanda, até porque, a
designação dos Guias que regem a Umbanda não é a mesma que a designação de Guias que
regem outras doutrinas como o espiritismo.

É importante saber que na espiritualidade não existe o melhor, mas sim aqueles que seguem
funções diferenciadas em prol de um só objetivo, que é a elevação dos espíritos, portanto,
não tem cabimento o dito uso da roupagem fluídica como disfarce dos doutores ou brancos
em cultos afro-brasileiros, dizer isso é atestar a falta de conhecimento sobre a espiritualidade
e sobre a Umbanda. Os Guias que regem mais os estudos que adentram a doutrina Espírita
estão focados num esclarecimento geral, para assim atingirem o mundo sem que as pessoas
se afastem de suas religiões, mas sim, passem a ter um conhecimento devido sobre a
espiritualidade num todo.

A Umbanda é uma religião, os Guias que também colaboram com esta orientação geral por
serem espíritos, vêm na Umbanda focados na filosofia religiosa da mesma e não focados em
esclarecimentos sobre evangelhos, desvendamentos históricos que coligam a espiritualidade,
etc. Os Guias na Umbanda vêm focando a elevação de nosso espírito em nossa passagem
pelo plano físico, assim tentam equilibrar nossa moralidade que atinge diretamente nossas
almas, os Guias que trabalham na Umbanda não vêm a nós para falarem de suas vidas
passadas ou dos pontos históricos que souberam e viveram, eles vêm a nós para nos ajudar,
nos orientar perante o dinamismo do culto que eles mesmos doutrinaram, por isso a
roupagem fluídica na Umbanda ocorre de uma forma totalmente diferente do que pregam
pelos livros ou palestras que dizem respeito a este tema na Umbanda.

Os guias espirituais que trabalham na Umbanda são velhos de espiritualidade, ou seja, a


maioria deles desencarnou há muito tempo, principalmente os Exus, Caboclos de Pena e
Pretos Velhos, portanto, muitos deles podem ter tido passagens importantes na história do
país e do mundo, se não tiveram pessoalmente passagens históricas importantes, ao menos
presenciaram as mesmas, alguns mesmos como os Exus, nos quais são muito do que
chamamos de ``velhos de aruanda’’, podem ter tido envolvimentos em marcos
importantíssimos da história do mundo, por isso a maioria dos Guias de Umbanda se disfarça
em suas aparências perante o uso da roupagem fluídica. Mas como funciona isso na
Umbanda?

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O funcionamento da roupagem na Umbanda varia conforme a linhagem
dos Guias, por exemplo: Os Caboclos de Pena, Boiadeiros, Pretos Velhos,
Ibeijadas, Baianos e Marinheiros, na maioria das vezes não mostram as
suas aparências físicas da última encarnação, porém, se mostram dentro
do que foram na última vida, ou seja, um Caboclo de Pena não se mostra
em sua última aparência física, mas se mostra como o índio que foi na última vida, tentando
mesclar na roupagem a origem indígena que obteve na última encarnação com alguns
preceitos que traz da espiritualidade, assim ocorre com os outros guias citados. A maioria dos
guias de Umbanda faz isso justamente para não ocorrer especulações entre adeptos e
consulentes nos cultos umbandistas, pois, se muitos souberem muito sobre a última
encarnação de algum guia espiritual, iriam desvirtuar o objetivo da Umbanda para tentarem
obter respostas históricas, isto acabaria com o foco da Umbanda para com o seu objetivo
espiritual. Também ocorre esta camuflagem com a utilização da roupagem fluídica, para os
guias espirituais não correrem o risco de seus familiares o encontrarem, ou pessoas de suas
árvores genealógicas, isto seria um tormento para as pessoas e para os próprios guias, sem
dizer que ficaria nítida a mudança de objetivo do qual preza a doutrina umbandista.

Com isso também, a roupagem acaba servindo para a aparência de guias espirituais que
pertencem uma mesma falange, por exemplo: A falange do Caboclo Pena Branca, onde
teremos diversos Caboclos que se apresentarão com o mesmo nome, trazendo o arquétipo e
a aparência do dono desta falange (Caboclo Pena Branca), frisando que dentro de todo um
arquétipo que tais Caboclos trouxerem do chefe da falange pertencente, os mesmos trarão
consigo seus preceitos espirituais e outros pontos específicos que cabem aos seus
individualismos. A roupagem na Umbanda funciona desta maneira, também com algumas
diversidades dependendo das linhas e do individualismo de cada guia espiritual, os Baianos,
por exemplo, muitos utilizam da roupagem para o fator das falanges, ou seja, se vestem com
a aparência do dono da falange da qual pertencem, porém, muitos Baianos(as) não se
utilizam de roupagens, usam da última aparência física que obtiveram.

O uso da roupagem fluídica é total se tratando dos Exus e Pomba Giras, os mesmos por se
envolverem por de trás de tantos mistérios e enigmas espirituais, se utilizam de uma
roupagem totalmente diferente do que foram em vida, eles se baseiam em seus enigmas
espirituais num todo (várias encarnações, preceitos espirituais, campos de atuações, etc.)
para se mostrarem, ou seja, para obterem suas aparências, assim temos um exemplo
clássico do famoso Exu Caveira, que se esconde atrás da imagem de uma Caveira,
justamente vestindo uma roupagem que demonstra seus enigmas e talvez que dê algum tipo
de pista sobre suas últimas ou mais importante reencarnação.

Os Exus também usam da roupagem fluídica para outros aspectos mais ligados a
espiritualidade, sem o foco necessário religioso, nos quais se disfarçam para adentrarem
submundos e fazerem a vigilância em benefício de nossa proteção e da proteção dos espíritos
em busca da evolução, também é muito comum diante certa ironia dos Exus, se mostrarem
para videntes ou pessoas que por acaso os vejam, de uma forma mais medonha, justamente
para ironizar o medo que muitos carregam de Exu, através de distorções de conceitos do que
realmente são, como a insistência de muitos em compará-los ou chamá-los de ``demônios’’ .

Os Exus usam este disfarce de aparência usufruindo da roupagem fluídica, justamente para
não ocorrer especulações de diversas pessoas sobre quem foram eles, eles (Exus) sabem que

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se revelarem suas aparências e quem foram nas últimas reencarnações,
causarão um grande tumulto, onde obviamente desvirtuará todo o
objetivo espiritual da Umbanda.

Existe o uso desta roupagem para as crianças, ou seja, os Ibeijadas?

Olha, existe sim, mas não como falam por aí, onde um adulto se disfarça
de criança para trazer a essência da mesma a nós, isto chega a ser cômico, sem dizer
totalmente contraditório, já que para trazer a essência de uma criança, somente sendo
criança. A roupagem dos Ibeijadas é utilizada no fator das falanges da qual citei e no fator de
esconderem a verdadeira fisionomia para não correrem o risco de especulações num geral.

Eu estava prestes a fazer um artigo somente para os Ibeijadas/Crianças que incorporam na


Umbanda, mas vou aproveitar o tema da roupagem fluídica e emendar um assunto no outro.
Existe um fator espiritual importante a respeito desses Guias que muitos não param para
pensar, como sabemos tudo na espiritualidade ocorre diante escolhas que as fazemos
utilizando de nosso livre arbítrio. Existe uma incógnita a respeito do conhecimento espiritual
que traz um Ibeijada, sabendo que uma criança para absorver conhecimentos necessita do
tempo, ou seja, de se tornar adulto, por isso, existe um fator interessante, onde, por
exemplo, um desencarnado e capacitado a ser guia espiritual, no qual carrega a essência de
um índio, médico, ou qualquer outra especificação ou origem desencarnando adulto, decide
por orientação espiritual, reencarnar na condição do desencarne ainda criança, para que
então na Terra possa cumprir com algo que ensinará a família desta criança ou pessoas em
torno dela e trazer a essência da pureza de uma criança como última reencarnação, assim
tendo a lembrança do que foi na penúltima vida ou nas últimas vidas, mas trabalhando
espiritualmente na utilização de sua última essência e aparência como criança, assim fazendo
por onde trazer a nós esta pureza do ser criança e a sabedoria absorvida do que fazia em
outras vidas, então este ser espiritual que conhecemos como Ibeijadas, vem a nós como foi
na última vida (criança), mas trazendo numa espécie de memória espiritual, todo um
arquivamento cheio de sabedoria e conhecimentos diversos.

Bem, voltando ao assunto principal, percebe-se o porquê do uso da roupagem fluídica na


Umbanda. Simplesmente a mesma serve para preservar o próprio objetivo espiritual da
Umbanda, e não servindo como disfarces de doutores, europeus, entre outros nas diversas
linhas de um culto afro-brasileiro, isto iria desmerecer as próprias tradições, pois dizer que
doutores ricos, brancos e europeus se disfarçam para trabalharem na Umbanda e orientar o
povo que preza as tradições afro-brasileiras, é de certa forma discriminar a sabedoria da
outras etnias, principalmente discriminar os negros, índios, mestiços e outros, insinuando por
entrelinhas que os mesmos são inferiores aos vulgos médicos e europeus, fazendo por onde
levar um conceito errôneo do ser humano para espiritualidade, na qual sabemos que espíritos
não tem cor e nem sexo, porém, se mostram perante os aprendizados que obtiveram nas
últimas vidas e principalmente na última encarnação, onde refletirão a nós toda a sabedoria
que absorveram nesta última passagem em vida física. Agora dizer que somente os conceitos
de um doutor médico ou europeu podem valer como orientações mesmo que por entrelinhas,
é o mesmo que desmerecer a própria religião, na qual abrange todas as devidas orientações,
indiferentes de suas origens terrenas. O maior cuidado que o ser humano tem que ter
principalmente perante a Umbanda, é em não colocar princípios ou conceitos particulares que
farão por onde desvirtuar os princípios desta religião já formalizada pelo plano espiritual.

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Umbanda! Como dizia o Caboclo das Sete Encruzilhadas: “A Umbanda é a


manifestação do espírito para a caridade”.

Espíritos que em sua existência terrena viveram em diversas regiões do globo, pertenceram a
diversas raças e culturas.

Assim surgiu a Umbanda Sagrada Brasileira — uma religião que abre espaço para todos os
espíritos que se apresentavam dessa forma, praticarem a caridade, o que não era permitido
antigamente, pois espíritos identificados como indígenas, africanos, orientais etc, eram
classificados erroneamente como inferiores, incapazes de beneficiar o próximo. Seriam
apenas espíritos em uma fase evolutiva inferior, sendo necessária suas incorporações
somente para buscarem esclarecimento e auxílio para evoluírem e um dia tornarem-se
espíritos “brancos”.

Porém, todos sabemos que o espírito em sua forma mais pura e sublime não possui cor,
sexo, ou quaisquer características terrenas. Entretanto, não é à toa quando espíritos se
apresentam com determinadas características, quase sempre estão relacionadas com suas
existências terrenas mais recentes.

Na Umbanda vemos nossos espíritos trabalhadores que conhecemos como nossos caboclos,
pretos velhos, crianças, exús, boiadeiros, dentre outras denominações. Mas porque eles se
apresentam dessa maneira, se espírito não tem sexo, raça, cor? Porque essa classificação de
“pretos velhos”, “caboclos”?

Para esta questão podemos encontrar algumas respostas:

Realmente aquele caboclo, em sua última existência foi um índio ou mestiço brasileiro, ou
aquele preto velho realmente foi um negro escravizado, arrancado da África pelo homem
branco e trazido para terras brasileiras.

Mas a resposta que mais encontramos através do estudo, ou às vezes até mesmo ao
indagarmos uma entidade incorporada em um congá, é de que essa apresentação é uma
“roupagem fluídica” que se faz necessária, para o trabalho dos espíritos trabalhadores na
Umbanda.

Nossos guias que trabalham na Umbanda possuem como foco principal o trabalho em prol da
caridade, auxílio, benevolência a todos os necessitados e também a si mesmos, em busca da
infinita evolução, para que um dia estejam, assim como nós, ao lado do Mestre.

Para executarem este trabalho assumem as roupagens pré-definidas da Umbanda com a


finalidade de entrarem em um espécie de anonimato.

Para entendermos melhor podemos utilizar a explicação abaixo:

“Imagine que você foi em uma vida anterior um tirano ditador muito poderoso, que utilizava
de seus poderes de governante em benefício de si próprio e exercia a tirania e abuso de
poder prejudicando muitas pessoas. Porém em uma outra chance, Deus concedeu-lhe o poder

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de reparar seus erros quitando seus débitos através da religião Umbanda.
Na Umbanda pouco importa seu título de encarnado, o que foi e quem foi
anteriormente, pois o principal dever é executar a caridade. Dessa forma,
você irá “perder” sua identidade, entrando no anonimato espiritual, pois
trabalhará em uma falange de preto velho, usando o nome dessa falange
e assim, nem o nome terreno da última existência será utilizado, tudo relacionado a vida
anterior pouco importará. A única coisa que se importará será em fazer o bem, a caridade,
diminuindo ou extinguindo as aflições dos necessitados. Referências, lembranças e revelações
da sua última existência serão citadas somente como referência ou exemplo para que possa
orientar e exemplificar da melhor maneira aqueles que passam pelas provações terrenas.

A partir do momento que foi aceito com humildade os erros e irão trabalhar assiduamente
para repará-los, não importa mais referências terrenas da vida errante anterior que tiverem.
Da mesma forma ocorre conosco quando reencarnamos e não possuímos mais lembranças de
nossas vidas anteriores.”

“A forma que nossos guias apresentam-se na religião de Umbanda, é de que essa roupagem
serve como uma espécie de referência para a maioria dos que procuram a Umbanda. Em
muitos casos, talvez na maioria deles, os que procuram a religião, a procuram como a “última
cartada”, a última esperança na resolução dos problemas e melhorias. E aí Umbanda surge
justamente como “a corda que tira as pessoas do fundo do poço”. Geralmente estas pessoas
estão descrentes de sua própria vida, desanimadas, a beira do desespero, a fim de desistir de
tudo.

Imagine uma pessoa desanimada de sua vida, desesperada com inúmeros problemas que vai
em busca de um auxílio em um templo de Umbanda, e de repente, eis que vem diretamente
do além um imponente e sábio cacique celeste dedicado especialmente em atender seus
problemas e atenuar suas aflições?

Assim é o que acontece com toda essa simbologia através das roupagens fluídicas.

Nisso podemos também citar os apetrechos utilizados na Umbanda que servem para
evidenciar o tipo de espírito, Orixá, falange a qual pertence e também deixam ainda mais
perceptível essa referência para o consulente, pois evidenciam algo fantástico que acontece
em uma Gira de Umbanda e que os olhos da carne não enxergam, mas que é extremamente
importante para o consulente ter uma pequenina ideia do que ocorre, pois assim,
automaticamente adquire um grande foco, uma grande crença, no que está ocorrendo, no
que está sendo trabalhado. Algo sobrenatural, fantástico, fora do comum, que dá um
”empurrão” na autoestima, na força de vontade, e o principal: aumenta a fé daquele irmão
desesperado que procura a ajuda da espiritualidade na Umbanda, e faz com que o mesmo
passe a lidar com as situações de outra maneira, a fim de vencê-las.”

Essas formas são aderidas com a linha que aquele espírito mais se identifica, seja por sua
jornada espiritual, afinidade e tantos outros fatores misteriosos que fogem de nosso
entendimento.

Em resumo, podemos concluir de que nossos guias, ao assumirem a missão de trabalharem


na Umbanda, assumem as roupagens fluídicas que servem de referência ao médium e aos
consulentes, símbolo de humildade representada pelo linguajar simples dos pretos velhos,

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sabedoria e pujança exteriorizada através dos caboclos, pureza e alegria
através das crianças, entendimento das necessidades terrenas através de
nossos guardiões e guardiãs etc.

Possuindo este entendimento, certamente agora podemos elucidar que


“Nem todo Preto Velho foi negro, e nem todo Caboclo foi índio”. Desde
seu surgimento, a Umbanda trabalha com entidades espirituais que são — segundo a crença
similar espírita — almas desencarnadas. Essas almas propiciam ensinamentos e tratamentos
espirituais aos frequentadores, e com elas os seus médiuns trabalham. São intermediários,
que trazem lições do outro lado da vida.

Essa religião, tipicamente brasileira — e não afro-brasileira como pensam muitos — trabalha
com "arquétipos".

Arquétipo é a forma de mascarada ou roupagem que a entidade espiritual usa para se


manifestar, seja pela clarividência de seu “perispírito” ou pela forma com que se apresenta na
incorporação* dos seus médiuns ou cavalos**.

Um exemplo de arquétipo na Umbanda é o caboclo, como aquele que seria o fundador


espiritual da própria religião, o Caboclo das Sete Encruzilhadas, guia do médium Zélio de
Moraes.

Os “caboclos” são figuras que representam o arquétipo do índio. Isso não significa que todo
caboclo foi um índio na terra, em vidas passadas. Além desses, existem os caboclos
sertanejos, chamados de boiadeiros, os pretos-velhos e as crianças.

Assim nasceu a Umbanda: com arquétipos. Hoje em dia há outras entidades que usam
roupagens culturais diversas para se apresentar. Elas podem ser agrupadas assim: guias
espirituais (mentores, chefes de falange, ou entidades para trabalhos específicos), protetores
ou auxiliares (guias para trabalhos diversos) ou guardiões (soldados espirituais, seguranças
astrais, exus catiços***, pombo -giras).

Os Orixás de Umbanda no seu início não existiam, só surgiram mais tarde, através do
sincretismo com a cultura afro-brasileira do candomblé.

Ainda bem que a Umbanda tem um conceito diferente de Orixá, e só existe nela por causa da
cultura afro. Mas Orixá na Umbanda é espírito e não vento (força elementar da natureza).

Pai Rivas Neto — ‘A Proto-síntese Cósmica’

Alguns seguimentos de Umbanda cultuam os chamados Orixás, que se manifestariam em


algumas casas, esses “Orixás” que se manifestam nos terreiros, choupanas, choças, roças,
cabanas ou centros são entidades espirituais que usam do arquétipo de Orixá, devido a
herança cultural afro-ameríndia. Não são ancestrais divinizados, aqueles deuses africanos,
como são encontrados no culto Yorùbá da Nigéria ou no Brasil dentro do Candomblé. Para
eles existem rituais, fundamentos e rezas que a Umbanda não possui.

Algo há se discutir ...

Por isso, há de se considerar que, alguém que trabalhe com Orixá na Umbanda sem
fundamento de candomblé, não trabalha com o Òrìsà, deus ou deusa do panteão africano, e

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sim com um espírito que usa o arquétipo do Òrìsà da cultura tradicional
Yorùbá para se manifestar.

*Incorporação não significa que um espírito “entra” no corpo do médium.


A incorporação, em estudos avançados de Umbanda, ficou assegurada
como sendo a influência de uma alma desencarnada sobre as funções
motoras e intelectuais do médium. Não é uma possessão, é uma influência sobre os “pontos
energéticos” ou chacras do médium, donde seriam, para o espírito, portas de entrada que
através da entrega desse médium ligar-se-iam e tomariam suas funções. Assim, o espírito
fala e age através do seu cavalo. No Kardecismo esse fenômeno é semelhante ao que
chamam de psicofonia.

**Cavalo é outro termo para médium. Isso porque acredita-se que o fenômeno da
incorporação acontece a partir das costas e, principalmente, pela nuca. A alma desencarnada
liga-se através de pontos energéticos por detrás do médium. É como se o espírito montasse
sobre ele, tomando suas rédeas, seu controle psicomotor.

Os espíritos, ou entidades que trabalham na Umbanda são organizados por falanges ou


linhas. E cada linha esta sob o comando de um Orixá. Em geral temos as seguintes linhas,
que podem variar de casa em casa:

- Caboclos: espíritos dos índios ancestrais;

- Pretos Velhos: espíritos muito sábios de antigos escravos brasileiros;

- Erês: espíritos de crianças divinas;

- Baianos: espíritos bem brasileiros vindos da Bahia;

- Boiadeiros: espíritos intrépidos de boiadeiros desencarnados;

- Marinheiros: espíritos de marinheiros desencarnados;

- Exus: espíritos menos evoluídos que em vida foram criminosos ou pecadores notórios e que
agora auxiliam os encarnados;

- Pombas giras: espíritos femininos equivalentes aos Exus que representam mulheres da
noite e também bruxas e feiticeiras.

Conforme a Psicologia Analítica as religiões, assim como os mitos e contos de fadas, trazem
para a consciência imagens arquetípicas que estão presentes no inconsciente coletivo. Como
a Umbanda é uma religião tipicamente brasileira, ela traz elementos importantes sobre a
nossa cultura e sobre a consciência coletiva dos brasileiros que devem ser analisados com
respeito. Para Carl Jung, o nosso inconsciente tende a trazer elementos compensatórios para
a nossa consciência. Por exemplo, muitas vezes quando estamos tendo uma atitude
consciente que precisa ser mudada e que já não nos traz benefícios, podemos ter sonhos que
indiquem o caminho da mudança.

Com as religiões, os mitos e os contos, também podemos aprender novos caminhos e formas
de enxergar a vida e compensar atitudes que já não são mais positivas. Na Umbanda se
analisarmos as linhas das entidades veremos que cada uma delas traz um elemento

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Doutrinação Umbandista – ARQUÉTIPOS DE UMBANDA
desprezado pela atitude consciente habitual do brasileiro. E como
desprezamos e não tratamos com respeito o inconsciente tende a
compensar essa atitude transformando-os em divindades e os colocando
em um patamar de quase deuses.

Os caboclos representam nossos índios, tão perseguidos e devastados


pela nossa cultura ocidental pelo advento da tecnologia. O índio, ou caboclo nos traz a
sabedoria da terra, sendo os responsáveis pelo conhecimento das matas e das ervas.
Estamos no auge do devastamento da natureza e ela clama por um novo olhar. E por meio
dos caboclos da Umbanda podemos compreender a nossa falta com a natureza e o quanto a
sabedoria nela contida nos faz falta.

Os pretos velhos já representam duas imagens arquetípicas: a do negro escravo e a do


velho. Trazemos ainda em nosso inconsciente uma culpa internalizada pela escravidão e pela
forma que ainda tratamos os negros em nosso país. Nossa sociedade ainda é bastante
preconceituosa e essas divindades negras, que na Umbanda são altamente reverenciadas e
respeitadas, nos mostram o valor do sofrimento e da humildade que o negro carrega em si. O
velho também é uma figura bastante desvalorizada em nossa cultura, pois somos uma
sociedade que teme a velhice e a morte, esquecendo que a idade pode nos trazer a sabedoria
e que esse é um ciclo pelo qual inevitavelmente vamos passar. A questão é aceitar
conscientemente e se abrir ao aprendizado ou não.

Os Erês são as nossas crianças. Pode não ser tão obvio que não valorizamos a infância, mas
sim, cada vez mais nossas crianças estão deixando de viver a infância e se ocupando com
atividades impostas pelos pais para que elas possam se tornar grandes profissionais. Além
disso, as crianças estão cada vez mais se tornando sexualizadas, perdendo o caráter de
ingenuidade e inocência. A criança hoje quase não brinca mais, pois tem muitas atividades e
tecnologia a sua disposição. Esse panorama da criança traz um déficit enorme para nossa
consciência, pois ela representa o futuro, a renovação e a espontaneidade. E cada vez mais
nos tornamos massificados, perdendo nossa espontaneidade e capacidade de aceitar o novo e
a renovação.

O baiano é tipicamente brasileiro e representa um povo bastante estereotipado e


desprezado. Ele é visto como preguiçoso e que não se dispõe ao trabalho. Nossa sociedade
ocidental visa o trabalho e o dar resultados de forma frenética e com isso o baiano pode nos
mostrar aspectos como o descanso e a calma que são necessários. Somos uma sociedade
impaciente, esquizofrênica e que não tem tempo para nada! Precisamos o baiano que pede
calma, tranquilidade e paciência.

Marinheiros e boiadeiros não chegam a ser figuras desprezadas de forma tão intensa
quanto os anteriores, mas não são também valorizados. São figuras bastante heróicas e que
precisam enfrentar os perigos da natureza.

Os boiadeiros, representam o cangaceiro, o homem do sertão, que vive em extrema


dificuldade em um clima desértico. Mais uma figura do Nordeste do país vista com pouco
valor.

O marinheiro, homem do mar já vive perto da água (ao contrário do boiadeiro) e de lá tira o
seu sustento e alimento.

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Do mar retiramos nosso sustento psíquico, uma vez que lá se encontra
uma riqueza incalculável. mas também o mar representa a morte, pois
também é um grande cemitério. E o marinheiro representa aquele que
consegue navegar as águas do inconsciente sem ser tragado. O
marinheiro é o herói que vive o constante perigo de ser tragado pelos
processos regressivos do inconsciente, mas que o enfrenta e sai com o sustento.

Mas nenhuma figura foi tão incompreendida e perseguida como Exu e Pomba Gira. Exu é
um Orixá do Candomblé. É uma figura brincalhona, trapaceira, que representa a sexualidade
masculina e é o mensageiro dos Orixás. Na Umbanda ele foi tomado como entidade que dá
conselhos e proteção, sendo considerada a entidade mais próxima ao homem. O Exu antes
mesmo do advento da Umbanda já havia sido considerado pelo catolicismo como demônio.

Devido a essa influência Católica na colonização e formação político-social do Brasil, Exu


passa ser desvalorizado na consciência coletiva brasileira e a Umbanda então resgata essa
figura trazendo-a para muito próximo do homem, pois para a Umbanda cada um de nós tem
um Exu pessoal que cuida de nossa defesa física e psíquica.

Sem esse arquétipo fica impossível a comunicação com os “deuses”, ou seja, com o
inconsciente e também se torna impossível a fertilidade, uma vez que no Candomblé, Exu
representa a fecundação do óvulo.

A pomba gira é tida como o equivalente feminino de Exu e está associada a figuras
femininas desprezadas pela sociedade como a bruxa, a prostituta e a feiticeira. No entanto,
esse feminino desprezado precisa ser novamente reintegrado a consciência, pois com o
advento do Patriarcado, a figura feminina se tornou unilateral.

O catolicismo nos apresenta Maria, uma figura benevolente, virgem, mãe e destituída dos
aspectos sombrios, como a sexualidade feminina e a intuição profunda.

A pomba gira traz de volta a sexualidade, a sensualidade da mulher e o conhecimento mais


profundo do bem e do mal – uma vez que o mal entrou por meio da mulher, essa se tornou
uma grande conhecedora desse aspecto. Então, ela é necessária, pois esse aspecto do
feminino é o que encanta, seduz e traz prazer.

Portanto, vemos na Umbanda aspectos desprezados da consciência coletiva brasileira que


precisam novamente de um olhar e de conscientização. Não são aspectos literais, mas
imagens do nosso inconsciente que se manifestam trazendo partes nossas esquecidas e não
assimiladas ainda. Por essa razão ainda se manifestam de forma religiosa e ritualística. Assim
que a consciência coletiva assimilar esses aspectos, novas formas se manifestarão e
poderemos entrar em contato com novas formas de nós mesmos.

Roupagem fluídica na Umbanda - Por Pai Carlos D'Ogum (Carlos Pavão)

Postado por Cantinho de Francisco de Assis

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