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Debate sobre os recursos didáticos para o ensino de Geometria e seu abandono histórico

José Helder da Silva


Marilon Augusto de Sales Júnior

RESUMO

Este trabalho realizado na Uniasselvi - Polo Cuité/PB, como requisito de nota parcial
da disciplina Prática Interdisciplinar: Fatos Históricos sobre Geometria e Trigonometria
(MAD 113), Turma/Módulo FLX 1282, do curso de Licenciatura em Matemática, teve como
finalidade debater brevemente sobre os recursos didáticos aplicados no ensino dos conceitos
de representações geométricas e o histórico abandono do ensino dessa área do saber. Os
recursos didáticos oferecidos pela escola e aos professores são ferramentas poderosas no
processo de aprendizagem do discente, caracterizando o ensino uma aprendizagem
qualitativa, visto que estamos cercados de formas e elementos que nos remetem a entes
geométricos. O instrumento utilizado pelo professor pode facilitar a compreensão do aluno
em determinado tema a ser estudado. Os recursos didáticos são ferramentas que podem ser
demonstradas através de imagens, vídeos, sons, instrumentos, softwares de computador, etc.
A utilização do recurso didático facilita o desenvolvimento da cognição do indivíduo,
tornando as ideias mais nítidas, estimulando o estudante a melhor assimilação e visualização
dos temas abordados. Porque “o trabalho com noções geométricas contribui para a
aprendizagem de números e medidas, pois estimula a criança a observar, perceber
semelhanças e diferenças, identificar irregularidades e vice-versa.” (PCN’s, 2001).

Palavras-chave: Ensino da Geometria, Recursos Didáticos, Abandono Histórico


1. INTRODUÇÃO

As aulas de geometria nas escolas públicas brasileiras sempre deixam déficits


significativos com relação à aprendizagem dos estudantes. Essa área do conhecimento sempre
esteve relegada a segunda categoria e corresponde a um grande problema que se perpetua ao
longo dos anos no ensino básico brasileiro.

Ao nascer, a criança passa a ter suas primeiras interações com o espaço. Tudo ainda é
desconhecido, em nada há significado. E como afirma Rogenski e Pedroso (2007): “sabe-se
que a geometria é considerada a ciência do espaço, pois trabalha formas e medições e [...] essa
ciência favorece a percepção espacial e a visualização, sendo conhecimento relevante para as
diferentes áreas, permitindo que o aluno desenvolva sua percepção, sua linguagem e
raciocínio geométrico de forma a construir conceitos.”

Vários estudos apontam que houve abandono do ensino de geometria no Brasil e


Pavanelo (1993) aponta dois motivos: 1) a insegurança dos professores de Matemática em
trabalhar a geometria e principalmente, 2) o modo como se procedeu a educação no Brasil;
indicando ainda que o desenvolvimento da matemática não foi motivo para que a geometria
cedesse espaço para outras áreas. A geometria nesse aspecto não foi levada em consideração
no que tange a ênfase da área geométrica nas nossas vidas, já que se pode considerá-la como
parte da matemática mais intuitiva, concreta atrelada à realidade do mundo em que vivemos,
os recursos não foram considerados nesse momento.

Nas escolas públicas brasileiras, o ensino de geometria pode ser explorado com o
objetivo de desenvolver nos indivíduos a sua capacidade de perceber o espaço que o rodeia. E
os recursos que o professor dispõe são inúmeros e estes têm caráter prático da realidade da
criança e do adolescente e isso não pode ser abandonado pelo professor em qualquer etapa da
educação básica, visto que a geometria é conhecimento de grande importância e mérito, com
grandes aplicações em situações do dia-a-dia, pois “a Geometria é um campo fértil para se
trabalhar com situações-problema e é um tema pelo qual os alunos costumam se interessar
naturalmente.” (PCN’s, 2001). Assim, o papel da escola é estimular e sistematizar esse
conhecimento.

O que se pretende neste trabalho é realizar uma discussão breve e compacta sobre os
recursos didáticos que são utilizados nas aulas de geometria para o ensino básico, com um
olhar sobre o abandono histórico desse saber no ensino básico. Jamais com a pretensão de
esgotar as discussões sobre o tema.

Esta pesquisa tem como objetivo analisar a utilização dos recursos didáticos para o
ensino da geometria em nossas escolas bem como o abandono histórico do ensino dessa área
do saber, mesmo com enorme quantidade de materiais didáticos referentes ao mundo das
formas e do espaço, além dos produtos desenvolvidos na área da informática voltados à
geometria.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Os recursos didáticos comportam uma diversidade de elementos usados como suporte


experimental na organização do processo de ensino e aprendizagem. Seu objetivo é servir
de interface mediadora para facilitar a relação entre professor e aluno.

A geometria como área do conhecimento do conhecimento de caráter prático e intuitivo


requer um processo de ensino que aporte recursos didáticos concretos, visto que estes são
inúmeros, porém, grande parte deles não é bem utilizada ou são mesmo ignorados pelos
professores.

Pavanelo (1993, p.7) indica que:

... opta-se, num primeiro momento, por acentuar nos livros as noções de
figura geométrica e de intersecção de figuras como conjuntos de pontos do plano,
adotando-se, para sua representação, a linguagem da teoria dos conjuntos. Procura-
se trabalhá-la segundo uma abordagem ‘intuitiva’ que se concretiza, nos livros
didáticos, pela utilização de teoremas como postulados, mediante os quais se pode
resolver alguns problemas. Não existe qualquer preocupação com a construção de
uma sistematização a partir das noções primitivas e empiricamente elaboradas.

Os recursos disponíveis para o ensino de geometria são vastos e se caracterizam como


essenciais para o desenvolvimento cognitivo dessa área do conhecimento. Recursos como
materiais concretos e os de alta tecnologia (jogos de computador e softwares aplicativos de
geometria) são ferramentas auxiliares poderosas para elaborar aulas de geometria. No entanto
boa parte dos professores de matemática não aproveita em suas aulas e muitos apresentam os
conteúdos do livro didático de maneira superficial sem nenhuma conexão com o mundo
exterior dos alunos. A meu ver todas essas situações ocorrem pelo fato de ocorrerem pouca
fiscalização do sistema educacional, em particular no setor público da educação. Destaca-se,
também, o fato da desmotivação dos profissionais da matemática que demonstram pouco
interesse com área da geometria, já que não se pode ensinar o que não se conhece bem.

A verdade é que o professor de matemática sempre trabalhou os conceitos de geometria


numa perspectiva tradicional, sob um aspecto teórico, sem buscar a perspectiva prática da
realidade dos alunos, ou seja, não havia a gestão desse conhecimento no ambiente
educacional. A construção do conhecimento geométrico é realizada paralelamente ao dia-a-
dia dos estudantes.

Nas escolas brasileiras, o ensino de Geometria pode ser explorado com o objetivo de
desenvolver nos estudantes a capacidade de perceber o espaço que o rodeia. Os recursos que o
professor dispõe são incontáveis e estes têm caráter prático da realidade do indivíduo e esse é
um ponto que não pode ser descartado, sobretudo, nas séries iniciais (da educação básica),
visto que a geometria é conhecimento de grandes aplicações no dia-a-dia.

No entanto, Neto e Silveira (2015) percebem que os estudantes demonstram


dificuldades em realizar cálculos para encontrar medidas e dimensões, ângulos, áreas e
volumes de figuras geométricas. Os mesmos autores pensam que, possivelmente, um dos
aspectos que contribui para esta percepção seja a ausência do conhecimento científico em suas
vivências práticas.

De modo geral, Neto e Silveira (2015) apontam que os materiais didáticos utilizados nas
aulas de geometria têm sido basicamente pincel ou giz e apagador, que promovem a
reprodução de imagem na lousa que promovem a reprodução de imagem na lousa que não
representam objetos da realidade cotidiana dos discentes, que muitas vezes traduzem leituras
distorcidas daquilo que se pretende ensinar. Isso contribui para a não relação da geometria
com a realidade vivenciada por cada um, pois reconhecem os objetos geométricos apenas no
plano teórico da matemática e não conseguem identificá-los em seus fazeres diários.

Nesse aspecto, no ensino brasileiro:

Prevalecia o estudo de técnicas operatórias em Aritmética, e o ensino de Geometria


praticamente não existia – limitava-se ao estudo da geometria métrica, cálculo de
áreas e volumes. (PAVANELLO apud NACARATTO e SANTOS, 2014, p. 11)
Outra questão importante refere-se à didática utilizada nessas aulas, muitas vezes
centrada num ensino reducionista, em que predomina o ensino das figuras planas –
principalmente a nomeação dessas figuras que eram explicitadas pelos alunos e se tornavam
jargões geométricos na sala de aula (PAVANELLO, 2004 apud NACARATO e SANTOS)

3. MATERIAIS E MÉTODOS

Este trabalho foi elaborado por meio da pesquisa histórico-bibliográfica, através da


consulta e análise, em especial, de artigos científicos que abordam o ensino da Geometria, seu
abandono e a utilização de recursos didáticos no ensino básico.

Foram analisadas algumas bibliografias que tratam do abandono da geometria no Brasil,


bem como suas causas, do despreparo e da desmotivação presentes nos professores, da ênfase
dos recursos didáticos disponíveis para desenvolvimento deste saber geométrico desde as
séries iniciais, considerando o aspecto cognitivo, das habilidades e competências dos
indivíduos.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Durante a elaboração deste trabalho, pode-se perceber, a partir das análises, que apesar
da quantidade expressiva de materiais didáticos disponíveis para serem utilizados nas aulas,
dos elementos existentes na natureza e no cotidiano das pessoas que nos remetem à
geometria, e das propostas curriculares que caracterizam a Geometria como ciência
primordial ao desenvolvimento do ser humano, esta área do saber vem sendo tratada como
complementar na educação básica ao longo dos anos no país.

Estamos imersos num mundo de formas. Para onde quer que se direcione o olhar, as
ideias geométricas estão presentes no mundo tridimensional, seja na natureza, nas artes, na
arquitetura ou em outras áreas do conhecimento. Daí a constituição da geometria como um
dos conteúdos estruturantes para o ensino básico. (ROGENSKI e PEDROSO, 2007).
Enxerga-se, a partir desta afirmação que os recursos visuais possibilitam ao professor
dinamizar as aulas ao ministrar os conteúdos da Geometria, desde que o professor tenha
preparo e motivação.

Além disso, têm-se as mídias digitais que oferecem ao docente a oportunidade de


enriquecer o processo de ensino-aprendizagem dos conceitos geométricos (ponto, reta, plano,
área, volume, ângulos, polígonos, circunferências, etc.). Por exemplo, o Geogebra, um recurso
digital excelente e ferramenta poderosa para as aulas, auxiliando os alunos a compreender e
construir os conceitos e/ou fenômenos. Outro recurso didático interessante, nesse sentido, é o
tangram, um jogo, um jogo chinês formado por sete peças. Por meio das quais é possível
compor e decompor figuras, além de proporcionar ao estudante o brincar com as formas
geométricas.

Antes, com o sistema tradicional, prevalecia o ensino da geometria e das outras áreas
com o uso de giz ou pincel, quadro-branco e aulas expositivas e não se contextualizava com o
mundo dos alunos, os elementos da natureza.

Dessa forma, a compreensão dos conhecimentos geométricos se torna mais significativa


para o aluno na medida em que este consegue aplicá-lo no entendimento e na leitura do
mundo que o cerca, através da relação entre Ciência, Tecnologia, sociedade e Meio Ambiente.
Então, o professor não pode se queixar da escassez de recursos didáticos disponíveis para suas
aulas de Geometria, porque existe uma quantidade considerável de materiais e recursos
avançados de tecnologia que possibilitam o desenvolvimento eficaz do ensino da Geometria.

Não há mais como justificar o abandono histórico do ensino dessa área, já que esta tem
caráter prático desde que surgiu na antiguidade por problemas de agrimensura ou demarcação
de terras ou também na construção de grandes monumentos da humanidade (pirâmides de
Gizé, Taj Mahal, Arco do Triunfo, entre muitas outras). Como a origem da Geometria está
associada a um ramo prático da matemática em relação à determinação de distâncias que não
eram possíveis ser medidas diretamente, aos recursos visuais presentes na natureza e nas
vivências de cada aluno, não dá para deixar o ensino da geometria renegado a segundo plano,
visto que há uma vasta quantidade de materiais didáticos, em especial, os recursos de
informática que auxiliam o docente em suas aulas. Não cabe mais, o ensino da geometria
superficial e reducionista com características teóricas, embora que muitos professores ainda
ensinem a geometria apenas teoricamente, partindo dos conteúdos prontos dos livros
didáticos, cuja finalidade é mais o cálculo algébrico em que se faz uma exposição vaga dos
conceitos intuitivos.

Para iniciar uma reestruturação do ensino dos conteúdos geométricos nas escolas, é
imprescindível que os atores da educação trabalhem coletivamente a fim de estabelecerem
normas e diretrizes, baseadas nos documentos oficiais, concretizando o ensino da geometria
em todos os níveis de ensino, com ênfase nas séries iniciais do ensino básico, pois de acordo
com Del Grande, Passos e Nacarato (p. 1149), a natureza das atividades matemáticas
relacionadas com a geometria na escola básica permite a aquisição de experiências de
percepção visual dando aos professores oportunidade de observar e detectar, desde cedo,
como o pensamento geométrico das crianças vai sendo construído (...) essa percepção inicial
das habilidades de percepção visual será fundamental para o planejamento de tarefas de
geometria a serem propostas pelo professor.
5. REFERÊNCIAS BIBLIGRÁFICAS

PAVANELLO, Regina Maria. O abandono do ensino da geometria no Brasil: causas e


consequências. Revista Zetetike-Ano I - nº 1. Campinas: UNICAMP, 1993.

ROGENSKI, Maria Lucia Cordeiro; PEDROSO, Sandra Mara Dias. O Ensino da Geometria
na Educação Básica: Realidade e Possibilidades. [s.l.]; [s.n.], 2007.

MOURA, Cássia Ferreira et. al. A Geometria no Ensino Fundamental. Brasil:


CODEA/SEDUC, 2006.

NETO, Paulo Roberto Souza; SILVEIRA, Mara Rosâni Abre da. Materiais Didáticos para o
ensino e aprendizagem da geometria. v. 4, n. 6, p. 1-2. BOEM: Joinvile, jan./jul-2016.

SANTOS, Cleane Aparecida dos; NACARATO, Adair Mendes. A Aprendizagem em


Geometria na educação básica- A fotografia e a escrita na sala de aula -1. ed. Belo
Horizonte: Autêntica Editora, 2014.

BRASIL. Secretaria de educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais:


matemática/Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental. -3. ed.- Brasil: A
Secretaria, 2001.

ANDRADE, José Antônio Araújo; NACARATO, Adair Mendes. TENDÊNCIAS


DIDÁTICO-PEDAGÓGICA PARA O ENSINO DE GEOMETRIA. Educação
Matemática/ n. 19. São Paulo: 2003.

SITES CONSULTADOS:

www.periodicoscientificos.ufmt.br> Acesso em 23 jan. 2020.

www.revistas.udesc.br> acesso em 05 mar. 2020.

www.ticsnamatematica.com/2016/08/apontamentossobre-o-ensino> Acesso em 23 jan. 2020.

https://pt.slideshare.net/FelipeSilva73/pnaic-2014-matemtica-caderno-5-2-primeiros-
elementos-da-geometria Acesso em 31 mar. 2020.

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