RECORRENTE : LB ADVOGADO : JONAS SOARES DE ANDRADE E OUTRO(S) RECORRIDO : G P DA S REPR. POR : M J P DA S - CURADOR ADVOGADO : MARIA PAULA VILLELA VIEIRA DE CASTRO FERREIRA E OUTRO(S)
DECISÃO
Cuida-se de recurso especial interposto por L. B., com fundamento no artigo
105, inciso III, alínea “a”, da Constituição Federal, contra acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Norte, em sede apelação cível, nos autos da ação de divórcio. O aresto impugnado consubstancia-se na seguinte ementa:
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE DIVÓRCIO.
CASAMENTO REALIZADO NO EXTERIOR SEM A DEVIDA AVERBAÇÃO EM CARTÓRIO BRASILEIRO. POSSIBILIDADE. I – Reputa-se válido no Brasil o casamento realizado no estrangeiro, independentemente de aqui ter sido registrado, na medida em que o enlace matrimonial consumou-se como ato jurídico existente e perfeito, somente carecendo da devida averbação no Registro Civil próprio para repercutir e gerar efeitos perante terceiros. II – Sentença reformada. III – Recurso conhecido e provido. (fl. 213, e-STJ).
Nas razões do apelo extremo (fls. 221-226, e-STJ), aponta o insurgente a
existência de violação ao artigo 32, parágrafo 1º, da Lei n° 6.015/73. Sustenta, em síntese, que “[...] se o casamento das partes não foi transladado no Ofício de Notas competente em nosso País, o mesmo não poderá ter validade jurídica e jamais poderá ser alvo de desconstituição, pois sem o registro devido não pode falar em dissolução da sociedade conjugal”. (fl. 224, e-STJ). Contrarrazões às fls. 231-242, e-STJ. Admitido o processamento do recurso na origem (fls. 244-245, e-STJ), ascenderam os autos a esta Corte. Com vista dos autos, o Ministério Público Federal, por intermédio do Subprocurador-Geral da República, opinou pelo não provimento do recurso. É o relatório. Decido. O presente recurso não merece prosperar. 1. A controvérsia instaurada no âmbito do presente apelo extremo cinge-se à validade, para o direito brasileiro, de casamento realizado no exterior - sem o devido traslado do assento no Cartório do 1º Ofício do domicílio do registrado ou do Distrito Federal -, e, por conseguinte, à possibilidade jurídica do pedido de dissolução deste casamento (divórcio). Acerca o tema, a Corte local assim se pronunciou:
Documento: 30154699 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 06/08/2013 Página 1 de 2
Superior Tribunal de Justiça
No caso sob exame, observa-se que a pretensão da apelante quanto ao
reconhecimento no Brasil do casamento celebrado na Itália, é expressamente permitida, na medida em que o mesmo consumou-se como ato jurídico existente e perfeito, somente carecendo da devida averbação no Registro Civil próprio, para repercutir e gerar efeitos perante terceiros. Nesse sentido, considera-se existente e válido o casamento realizado no estrangeiro, uma vez que a mera transcrição no Registro Civil do casamento realizado no exterior, não tem função constitutiva do direito, mas, tão-somente, possui função de torna-lo público entre nós e, assim, dotá-lo de eficácia perante terceiros. Até porque, o ato jurídico do casamento, realizado perante o direito estrangeiro e regendo-se perfeitamente pelas leis do país, está consumado de forma perfeita, produzindo efeito no Brasil, independentemente de aqui ter sido registrado. (fl. 216, e-STJ).
O entendimento acima transcrito não destoa da jurisprudência deste Tribunal
Superior, orientada no sentido de que “o casamento realizado no exterior produz efeitos no Brasil, ainda que não tenha sido aqui registrado.” (cf. REsp 440443/RS, Rel. Ministro Ari Pargendler, Terceira Turma, DJ 26/05/2003). Confira-se, outrossim:
CIVIL. CASAMENTO REALIZADO NO ESTRANGEIRO. MATRIMÔNIO
SUBSEQÜENTE NO PAÍS, SEM PRÉVIO DIVÓRCIO. ANULAÇÃO. O casamento realizado no estrangeiro é válido no país, tenha ou não sido aqui registrado, e por isso impede novo matrimônio, salvo se desfeito o anterior. Recurso especial não conhecido. (REsp 280197/RJ, Rel. Ministro Ari Pargendler, Terceira Turma, DJ 05/08/2002).
Interessante salientar, ainda, o seguinte excerto do voto do Ministro Relator:
Artigo 32, § 1º, da Lei n° 6.015, de 1973 Não houve violação a essa norma legal. Como está disposto na obra de Jacob Dolinger, "não foi intenção do legislador obrigar o registro; sua necessidade só ocorre para efeitos de provar o casamento celebrado no exterior, mas o reconhecimento de sua validade no Brasil se dá independentemente do registro local" (Direito Civil Internacional, volume I: a família no direito internacional privado - Rio de Janeiro: Renovar, 1997, pág. 49).
Desse modo, impõe-se a manutenção do acórdão recorrido, rejeitando-se a
pretensão recursal deduzida neste apelo extremo. 2. Do exposto, com fulcro no artigo 557, caput, do Código de Processo Civil, nego seguimento ao recurso especial. Publique-se. Intimem-se. Brasília (DF), 1º de agosto de 2013.
MINISTRO MARCO BUZZI
Relator
Documento: 30154699 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 06/08/2013 Página 2 de 2