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DECISÕES SOBRE HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA NO STJ

ENTRE 2022 E 2023

O resultado para pesquisa de “homologação sentença estrangeira” (HSE) no


buscador de jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça retornou 31 (trinta e um)
resultados julgados entre os anos de 2022 e 2023.

Com relação, especificamente, ao tema da aula sobre o Requisitos1 para a HSE


pelo STJ (citação, apostilamento no caso de ação envolvendo patrimônio, etc. – exceto
ordem pública que será tratada em aula própria), foram transcritas as ementas abaixo,
seguidas ou antecedidas de breve comentário sobre o caso analisado.

01) Neste primeiro resultado, a questão gira em torno do requisito da citação. No agravo
interno interposto contra decisão em procedimento de homologação de sentença
estrangeira, o agravante alega que "nunca teve ciência do processo de Regulação das
Responsabilidades Parentais proposta no Tribunal de Família e Menores do Funchal, em
Portugal, sob o nº 310/12.4TMFUN, com trânsito em julgado em 05 de dezembro de 2019"
(e-STJ fl. 144), e que "não residia mais em Portugal e sequer foi citado à época dos fatos,
pois residia em Luxemburgo, retornando para o Brasil no ano de 2008".

Ainda assim, o agravante utiliza o argumento de ofensa à ordem pública. O STJ, ao


negar provimento ao agravo interno, considerou que a decisão da Corte Especial apenas
reconheceu estarem presentes os requisitos formais do pedido formulado pelo ora
agravado, sem adentrar ao mérito da causa na origem. (AgInt na HDE n. 6.759/EX, relator
Ministro Antonio Carlos Ferreira, Corte Especial, julgado em 9/5/2023, DJe de 15/5/2023.)

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Art. 963. Constituem requisitos indispensáveis à homologação da decisão:
I - ser proferida por autoridade competente;
II - ser precedida de citação regular, ainda que verificada a revelia;
III - ser eficaz no país em que foi proferida;
IV - não ofender a coisa julgada brasileira;
V - estar acompanhada de tradução oficial, salvo disposição que a dispense prevista em tratado;
VI - não conter manifesta ofensa à ordem pública.
Parágrafo único. Para a concessão do exequatur às cartas rogatórias, observar-se-ão os pressupostos previstos
no caput deste artigo e no art. 962, § 2º.
Art. 964. Não será homologada a decisão estrangeira na hipótese de competência exclusiva da autoridade
judiciária brasileira.
Parágrafo único. O dispositivo também se aplica à concessão do exequatur à carta rogatória.
Art. 965. O cumprimento de decisão estrangeira far-se-á perante o juízo federal competente, a requerimento da
parte, conforme as normas estabelecidas para o cumprimento de decisão nacional.
Parágrafo único. O pedido de execução deverá ser instruído com cópia autenticada da decisão homologatória ou
do exequatur, conforme o caso.
02) Caso de ofensa à ordem pública, objeto que será analisado na próxima aula. (HDE n.
7.227/EX, relator Ministro Francisco Falcão, Corte Especial, julgado em 3/5/2023, DJe de
8/5/2023.)

03) Trata-se de Agravo Interno, interposto contra decisão que homologou a sentença
arbitral estrangeira, por meio do qual o agravante alegou, em sede de preliminar, a
irregularidade da representação processual da parte agravada (originalmente a
Requerente), bem como, no mérito, argumentou não ter havido citação regular no processo
judicial de assesment of costs.

As teses foram rejeitadas, sendo o argumento da citação irregular combatido com a


consideração de que “a jurisprudência do STJ permite a efetivação da citação da parte
residente ou domiciliada no Brasil, nos moldes da convenção de arbitragem ou da lei
processual do país onde se realizou a arbitragem, admitindo-se, inclusive, a citação postal
com prova inequívoca de recebimento, desde que assegurado à parte brasileira tempo hábil
para o exercício do direito de defesa”. Assim restou ementado o Acórdão em questão:

INTERNACIONAL E PROCESSUAL CIVIL. ARBITRAGEM. COMPRA E


VENDA INTERNACIONAL. INADIMPLEMENTO. SENTENÇA ARBITRAL.
REPRESENTAÇÃO PROCESSUAL. DOCUMENTAÇÃO REGULAR.
CITAÇÃO. DESNECESSIDADE DE ROGATÓRIA NO PROCESSO
ARBITRAL.
1. A alegada irregularidade de representação processual deve ser
rejeitada, porque a parte requerente apresentou procuração acompanhada
da respectiva tradução juramentada (fls. 1.328-1.333 e 1.354-1359, e-STJ).
Além disso, foram carreados documentos que atestam que foi criada, em
Dubai, a filial Sucden Middle East da empresa Sucres et Denrees e que o
Senhor Paul-Antoine Brianchon, que outorgou a procuração, é seu
representante legal (fls. 1.234-1.242, e-STJ).
2. Além disso, a jurisprudência do STJ permite a efetivação da citação da
parte residente ou domiciliada no Brasil, nos moldes da convenção de
arbitragem ou da lei processual do país onde se realizou a arbitragem,
admitindo-se, inclusive, a citação postal com prova inequívoca de
recebimento, desde que assegurado à parte brasileira tempo hábil para o
exercício do direito de defesa.
3. Agravo Interno não provido.
(AgInt na HDE n. 4.174/EX, relator Ministro Herman Benjamin, Corte
Especial, julgado em 7/3/2023, DJe de 4/4/2023.)

04) Já na Homologação de Decisão Estrangeira nº 2.891, tratou-se de hipótese inserida


no rol de competência concorrente da Justiça brasileira (art. 21 do CPC/2015) em que a
citação do requerido foi verificada pela sua efetiva atuação no processo alienígena, incluindo
a apresentação de contestação. Além deste requisito, foi certificado o trânsito em julgado da
decisão na origem, sendo, in casu, dispensada a chancela da autoridade consular brasileira
ou a apostila, considerando que “os documentos que integram a inicial foram enviados
diretamente pela autoridade central brasileira, nos termos do Decreto n. 11.348, de 1º de
janeiro de 2023”.
Relativamente à exigência da tradução, o STJ fez constar que a sentença
homologada é de origem portuguesa, e, dessa forma, desnecessária a sua tradução. Assim
foi lançado o Acórdão:

HOMOLOGAÇÃO DE DECISÃO ESTRANGEIRA CONTESTADA.  JUÍZO


MERAMENTE DELIBATÓRIO. CHANCELA. TRÂMITE PELA
AUTORIDADE CENTRAL BRASILEIRA. DESNECESSIDADE.
TRADUÇÃO OFICIAL. PORTUGAL. IDIOMA OFICIAL. TRANSFERÊNCIA
DA EXECUÇÃO DA PENA. PRESCRIÇÃO. PROGRESSÃO REGIMENTE.
PENA ALTERNATIVA. NÃO CONHECIMENTO.
I - A apresentação de questionamentos acerca do mérito da decisão
alienígena é de competência do Juízo estrangeiro. Assim, eventual
deferimento do pedido de homologação, portanto, limita-se a dar eficácia à
sentença estrangeira, nos exatos termos em que proferida, não sendo
possível aditá-la para inserir provimento que dela não conste.
II - A chancela da autoridade consular brasileira ou a apostila é dispensada
no caso, posto que os documentos que integram a inicial foram enviados
diretamente pela autoridade central brasileira.
III - A tradução oficial é desnecessária se a decisão estrangeira tem origem
em estado cujo idioma oficial é o português.
IV - As questões referentes ao reconhecimento da prescrição e à
progressão do regime ou substituição da pena encerra matérias de mérito
que devem ser suscitadas no momento processual oportuno, não devendo
esta Corte delas conhecer.
V - Homologação deferida.
(HDE n. 2.891/EX, relator Ministro Francisco Falcão, Corte Especial,
julgado em 15/3/2023, DJe de 22/3/2023.)

05) No caso do AgInt na HDE n. 5.141/EX, o STJ negou provimento ao recurso, ao


argumentar que a forma de citação (por e-mail dos advogados devidamente constituídos
pela parte Agravante, in casu), avençada pelas partes, foi considerada válida pelo juízo
alienígena sentenciante, o que, por si, indicava a sua regularidade, assim como estavam
presentes todos os demais requisitos exigidos para a homologação de decisão estrangeira,
razão pela qual manteve a decisão agravada.
A discussão sobre a forma de citação, no entanto, é interessante para o estudo em
tela, de forma que vale a transcrição de trechos do relatório e voto para melhor
compreensão da motivação da decisão da Corte Superior. Confira-se:
AGRAVO INTERNO NA HOMOLOGAÇÃO DE DECISÃO ESTRANGEIRA.
ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA. INADIMPLEMENTO CONTRATUAL E
DESCUMPRIMENTO DE ACORDO. CONDENAÇÃO. RÉU RESIDENTE
NO BRASIL, MAS DEVIDAMENTE REPRESENTADO POR ADVOGADOS
NO ESTRANGEIRO. AUSÊNCIA DE NULIDADE NA CITAÇÃO
REALIZADA NA PESSOAS DE SEUS PATRONOS, EM CONFORMIDADE
COM AS LEIS LOCAIS E O ACORDO FIRMADO PELAS PARTES.
REQUISITOS LEGAIS E REGIMENTAIS PREENCHIDOS. PEDIDO
HOMOLOGATÓRIO DEFERIDO. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO.
1. A jurisprudência mansa e pacífica desta Corte é no sentido de que a
citação de brasileiro residente no Brasil deve ocorrer por carta rogatória.
Entretanto, essa exigência é pertinente quando há necessidade de
formalização de ato indispensável para o chamamento do réu ao processo
no estrangeiro. Não é o caso, todavia, quando o réu já se encontra
regularmente representado por advogado no processo e os atos de
comunicação seguem a lei do país, como na hipótese vertente, em que
essa disposição consta do acordo firmado entre Requerente e Requerido.
2. O fiel cumprimento das leis locais - as quais, a propósito, assumem um
caráter secundário no sistema do common law, em que o direito é forjado,
primordialmente, a partir dos precedentes judiciais - foi certificada em
documento válido, subscrito por advogados legalmente habilitados perante
a Corte do Estado de Nova Iorque, que dão conta da efetivação da citação
da parte, "de acordo com as leis de Nova York, em 19 de novembro de
2019."
3. O acordo avençado pelas partes deixa clara a forma em que deveria ser
realizada a citação em eventual ação judicial - por e-mail endereçado a
seus advogados -, oportunamente analisado pelo Juízo estrangeiro
competente, que proferiu a sentença homologanda. Mero erro material,
aferível de plano, não tem o condão de desqualificar os termos pactuados
no acordo.
4. Agravo interno desprovido.
(AgInt na HDE n. 5.141/EX, relatora Ministra Laurita Vaz, Corte Especial,
julgado em 7/3/2023, DJe de 15/3/2023.)

Trechos do relatório e voto:

“Trata-se agravo interno (fls. 486-500), assim recebidos os anteriores


embargos de declaração (fls. 465-470), interposto contra decisão de minha
lavra (fls. 461-463), que deferiu o pedido homologatório.
A decisão em tela foi prolatada pela Suprema Corte do Estado de Nova
Iorque, Estados Unidos da América, trazida à homologação por
GEORLAND CORPORATION em face de DORIAN GUIDO TADINI, a qual
condenou o Requerido ao pagamento de US$ 215.580,00 (duzentos e
quinze mil, quinhentos e oitenta dólares), acrescidos de correção
monetária, devidos por inadimplemento contratual na compra de valiosa
joia de diamantes.
O Requerido apresentou contestação às fls. 273-287, com juntada de
documentos, alegando nulidade da citação, uma vez que, na época dos
fatos, já residia no Brasil, e não foi remetida carta rogatória. Argumentou,
ainda, que fora citado por meio de seus advogados que não mais o
representavam. Por fim, sustentou que não se sabe se a legislação
alienígena permite que as partes transijam acerca da comunicação dos
atos processuais.
A Requerente, em réplica às fls. 314-331, asseverou que, à época do
envio da citação, os advogados do Requerido possuíam plenos poderes
para representá-lo e, por conseguinte, para receber a citação, conforme
expressamente previsto no acordo firmado pelas partes. Aponta má-fé do
Requerente ao apresentar e-mail encaminhado para comunicação da
sentença, como se referisse à citação da respectiva ação. Reitera, pois, o
pedido homologatório, na medida em que "(i) a citação estrangeira pode
ser realizada nos termos acordados entre as partes e admitidos pela
legislação alienígena; (ii) o Acordo prevê a possibilidade de citação via e-
mail; e (iii) a lei de Nova Iorque admite que as partes transijam sobre a
forma de citação".
O Requerido, em tréplica às fls. 334-370, reiterou a alegação de nulidade
por ausência de citação válida e requereu ainda a condenação da
Requerente nos ônus de sucumbência, além de multa por litigância de má-
fé.
A Requerente, por meio da petição de fls. 374-446, insurgiu-se contra a
tréplica do Requerido.
O Requerido, por meio da petição de fls. 374-446, reiterou os argumentos
anteriores. O Ministério Público Federal, por meio do parecer de fls. 447-
449, pugnou pela homologação da decisão estrangeira.
Assim, afirma que "o Sr. Tadini nunca concordou em ser CITADO por e-
mail enviado a terceiro interposto, mas tão-somente ser NOTIFICADO" (fl.
489). Ademais, sustenta que "A lei de Nova Iorque não permite a
modalidade de citação única e exclusivamente pelo advogado da parte.
Em todas as formas de citação, os documentos devem ser enviados ao
endereço do réu, o que não foi feito" (fl. 493). Por fim, sustentam que, "à
época dos fatos, o SR. TADINI já era residente e domiciliado em seu atual
endereço. Ou seja, no Brasil. Fato este ratificado em diversas ocasiões,
incluindo as primeiras linhas do Acordo que dispõe sobre a qualificação
das partes [...]" (fl. 494). Por isso, apontam ainda nulidade decorrente da
ausência de expedição de carta rogatória para citação, com a
inobservância da Convenção de Haia.
Pede, pois, o provimento do agravo interno para se julgar improcedente o
pedido de homologação.
O Requerente, ora Agravado, apresentou contrarrazões às fls. 509-530,
afirmando, em sumário próprio, que "(i) O Acordo prevê que a citação das
partes seria realizada por e-mail direcionado aos seus advogados; (ii) A
Lei de Nova York autoriza a citação via e-mail e direcionada a terceiros, e
(iii) A Convenção de Haia não se aplica aos réus já representados e cuja
citação seja realizada nos limites da lei estrangeira ao qual está
submetido."
Pede, portanto, o desprovimento do agravo interno.
É o relatório.
[...].
O Requerido foi citado por e-mail endereçado a seus advogados,
conforme previsto na cláusula 16 do acordo (fl. 101), em consonância
com as leis locais, consideradas pelo Juízo alienígena. Contudo,
permaneceu inerte.
Em 29/04/2020, a Suprema Corte do Estado de Nova Iorque, Estados
Unidos da América, proferiu sentença, a qual condenou o Requerido ao
pagamento de US$ 215.580,00 (duzentos e quinze mil, quinhentos e
oitenta dólares), acrescidos de correção monetária, em decorrência do
inadimplemento contratual.
Sobreveio o trânsito em julgado da sentença estrangeira (fl. 224).
Proferi a decisão de fls. 461-463, deferindo o pedido homologatório, o que
ensejou o presente agravo interno pelo Requerido. Cumpre, de início,
analisar a questão acerca da aventada nulidade da citação, porque,
conforme assevera o Agravante, na época dos fatos, já residia no Brasil, e
não foi remetida carta rogatória para citação, razão pela qual considera
malferida a Convenção de Haia.
A jurisprudência mansa e pacífica desta Corte é, sem dúvida, no sentido
de que a citação de brasileiro residente no Brasil deve ocorrer por carta
rogatória. Entretanto, essa exigência é pertinente quando há necessidade
de formalização de ato indispensável para o chamamento do réu ao
processo no estrangeiro. Não é o caso, todavia, quando o réu já se
encontra regularmente representado por advogado no processo e os atos
de comunicação seguem a lei do país, como na hipótese vertente, em que
essa disposição consta do acordo firmado entre Requerente e Requerido,
oportunamente analisado pelo Juízo estrangeiro.
[...].
Não procede, portanto, a alegação de nulidade da citação, uma vez que,
sem nenhuma sombra de dúvidas, o ato de comunicação da ação ao réu
foi efetivado, nas pessoas dos advogados constituídos pelo Requerido,
nos termos da legislação alienígena e do acordo firmado pelas partes,
conforme comprovam os documentos de fls. 193-209.
O fiel cumprimento das leis locais – as quais, a propósito, assumem um
caráter secundário no sistema do common law, em que o direito é forjado,
primordialmente, a partir dos precedentes judiciais – foi certificada em
documento válido, subscrito por advogados legalmente habilitados perante
a Corte do Estado de Nova Iorque, que dão conta de que "O Comprovante
de Citação comprova que a Citação e Petição Inicial foram devidamente
entregues a Tadini, de acordo com as leis de Nova York, em 19 de
novembro de 2019" (fl. 223).”

06) Caso de ofensa à soberania nacional e à ordem pública, objeto da próxima aula.
(AgInt na HDE n. 6.217/EX, relatora Ministra Maria Thereza de Assis Moura, Corte Especial,
julgado em 13/12/2022, DJe de 16/12/2022.)
07) Trata-se de recurso especial interposto contra acórdão que, na origem, apreciava
recurso de apelação versando sobre a negativa de nomeação de inventariante. No caso,
perante o STJ, as partes juntaram cópia de sentença estrangeira, mas não homologada no
Brasil, o que foi combatido pelo relator ao argumento de que, sem a devida homologação, o
referido documento estrangeiro carece de valor jurídico e, portanto, não produz qualquer
efeito sobre a pretensão ali deduzida. (AgInt no REsp n. 1.176.092/DF, relatora Ministra
Maria Isabel Gallotti, Quarta Turma, julgado em 12/12/2022, DJe de 16/12/2022.)

08) Trata-se de hipótese de homologação de três decisões estrangeiras, relativas à


guarda de filho menor de idade, proferidas pela Justiça norte-americana, especificamente do
Estado de Illinois, e, observados, in casu, o preenchimento dos requisitos formais, o STJ,
considerando que não se admite a análise do mérito da decisão estrangeira no processo de
homologação, especialmente quando não se vislumbra nenhuma ofensa à dignidade da
pessoa humana (como alegado pela parte requerida), houve por bem julgar procedente, em
acórdão assim sintetizado:

HOMOLOGAÇÃO DE DECISÃO ESTRANGEIRA. PETIÇÃO INICIAL


CONTESTADA. AUSÊNCIA DE ATENDIMENTO AOS PRESSUPOSTOS
PROCESSUAIS E OFENSA À DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA.
INOCORRÊNCIA. REQUISITOS FORMAIS ATENDIDOS NA INSTRUÇÃO
DO FEITO. INCOMPETÊNCIA PARA JULGAMENTO DA AÇÃO
PROPOSTA NOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA DECLARADA PELA
PRÓPRIA JUSTIÇA DAQUELE PAÍS. AUTORIZAÇÃO PARA RETORNO
AO BRASIL DA MÃE E DOS FILHOS MENORES. PEDIDO DE
HOMOLOGAÇÃO JULGADO PROCEDENTE.
1. O ordenamento jurídico pátrio adota o sistema de delibação na análise
do pedido de homologação de sentença estrangeira, razão pela qual a
aferição se restringe à presença dos requisitos formais, não cabendo a
esta Corte deliberar sobre a matéria de mérito deduzida na sentença
alienígena. Precedentes.
2. Os requisitos formais legalmente exigidos, consistentes na ausência da
chancela consular e do apostilamento dos documentos estrangeiros, foram
atendidos na instrução do feito, inclusive em atenção à manifestação
apresentada pelo Ministério Público Federal.
3. Ausência de ofensa à dignidade da pessoa humana, pois a própria
Justiça dos Estados Unidos da América afirmou sua incompetência para
julgar a ação lá proposta por cidadão norte-americano, entendendo que o
domicílio habitual do filho brasileiro do autor é no Brasil.
Em consequência, a autoridade judiciária estrangeira autorizou o retorno
da ex-companheira e do menor ao Brasil.
4. Pedido de homologação julgado procedente.
(HDE n. 3.171/EX, relator Ministro Jorge Mussi, Corte Especial, julgado em
5/10/2022, DJe de 7/11/2022.)

09) Esse caso trata de um agravo interno manejado por uma cidadã estrangeira em face
de decisão do Min. Presidente do STJ que deferiu, em parte, o pedido de tutela de urgência
formulado no procedimento de homologação de sentença estrangeira para determinar: I) o
arresto de imóveis pertencentes a Maracajaú Empreendimentos Imobiliários LTDA; II) a
citação da ora recorrente por via postal e a citação por edital de York Georges Creupelant.

Portanto, não trata, exatamente, de HSE, porquanto o seu desiderato ainda não foi
apreciado pela Corte Superior, não havendo certeza sobre as considerações quanto ao
preenchimento dos requisitos necessários ao deferimento da homologação.

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NA HOMOLOGAÇÃO DE


DECISÃO ESTRANGEIRA. ENUNCIADO ADMINISTRATIVO N. 3/STJ.
AÇÃO INDENIZATÓRIA. CONCESSÃO DE TUTELA DE URGÊNCIA.
ARRESTO. PROBABILIDADE DO DIREITO: TÍTULO JUDICIAL
ESTRANGEIRO TRANSITADO EM JULGADO. APRESENTAÇÃO DE
TRADUÇÃO OFICIAL. RISCO RESULTADO ÚTIL DO PROCESSO:
INDÍCIO DE ESVAZIAMENTO DE PATRIMÔNIO PESSOAL POR MEIO
DE PESSOAS JURÍDICAS. AGRAVO INTERNO NÃO PROVIDO.
1. No caso dos autos, a requerente visa à homologação de sentença
estrangeira proferida pelo Poder Judiciário da Bélgica que condenou o
requerido ao pagamento de indenização pelas irregularidades financeiras
que esse cometeu contra a sociedade entre 2004 a 2010 na qualidade de
administrador societário.
2. Não se examina, nesse momento, se o título judicial estrangeiro deve ou
não ser homologado. Examina-se a manutenção da decisão proferida pelo
Min. Presidente do STJ que determinou a citação da ora recorrente e o
arresto de imóveis pertencentes a sociedade da qual a ela é sócia por
indícios de envolvimento no esvaziamento de patrimônio do requerido.
3. Considerando que não se analisa a existência do direito subjetivo, mas
sim se o título alienígena possui requisitos legais necessários para sua
homologação, a probabilidade do direito está presente a partir do inteiro
teor da sentença condenatória transitada em julgado e de sua tradução
oficial.
4. Quanto ao perigo ao resultado útil do processo, há indícios no sentido
de que a parte requerida procura evitar o pagamento de suas obrigações
se fazendo insolvente através do esvaziamento de patrimônio pessoal por
meio de pessoas jurídicas.
5. Agravo interno não provido.
(AgInt na HDE n. 1.733/EX, relator Ministro Mauro Campbell Marques,
Corte Especial, julgado em 25/10/2022, DJe de 4/11/2022.)
10) Neste caso de agravo interno interporto contra decisão que homologou sentença
estrangeira de origem estadunidense, a Corte Superior não lançou fundamentação a
respeito da origem da controvérsia, mas se limitou a argumentar que haveria “circunstâncias
específicas e excepcionais que tornam inaplicável o precedente da Corte Especial na HDE
1.396/EX, segundo o qual a superveniência de decisão proferida no Brasil sobre tema que
também fora examinado na sentença é causa de improcedência da ação”. Veja-se o
acórdão desta decisão:

CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE DIVÓRCIO, GUARDA E


ALIMENTOS. AGRAVO INTERNO INTERPOSTO CONTRA DECISÃO
QUE JULGOU PROCEDENTE A AÇÃO DE HOMOLOGAÇÃO DE
DECISÃO ESTRANGEIRA PROFERIDA NOS ESTADOS UNIDOS DA
AMÉRICA. POSTERIOR AJUIZAMENTO DA MESMA AÇÃO, PELO
CÔNJUGE VARÃO, NO BRASIL. ALIMENTOS FIXADOS EM VALOR NO
BRASIL EM RELAÇÃO À SENTENÇA ESTRANGEIRA. PREVALÊNCIA
DA SENTENÇA ESTRANGEIRA, NA HIPÓTESE. FORTES INDÍCIOS DE
MÁ-FÉ DO CÔNJUGE VARÃO NO AJUIZAMENTO DA AÇÃO NO
BRASIL. AUSÊNCIA DE IMPEDIMENTO À HOMOLOGAÇÃO. ATENÇÃO
AO PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DO MENOR. AUSÊNCIA DE
IMPUGNAÇÃO ADEQUADA DA DECISÃO UNIPESSOAL.
1. Agravo interno interposto contra a decisão que julgou procedente a
presente ação de homologação de decisão estrangeira, cujo propósito
é obter a homologação de decisão proferida pelo Poder Judiciário dos
Estados Unidos que decretou o divórcio, fixou a guarda e os alimentos
devidos à prole.
2. Embora, como regra, a superveniência de decisão proferida pelo Poder
Judiciário do Brasil sobre tema que também fora examinado na sentença
estrangeira seja causa de improcedência do pedido, esse entendimento
não pode ser inflexível, sobretudo quando há má-fé da parte que ajuizou
posteriormente a mesma ação no Brasil, pouco tempo após o trânsito em
julgado da primeira, sem indicar o endereço da parte adversa, sem
informar ao juízo a pré-existência da decisão estrangeira e sem apresentar
motivo plausível para não ter requerido a homologação da decisão
estrangeira no Brasil.
3. Recurso que não infirma e nem tampouco impugna adequadamente os
fundamentos da decisão agravada.
4. Agravo interno não provido.
(AgInt na HDE n. 4.959/EX, relatora Ministra Nancy Andrighi, Corte
Especial, julgado em 5/10/2022, DJe de 10/10/2022.)

11) Já no caso do pedido de homologação de sentença estrangeira n. 3.105, embora a


Corte tenha deferido o pedido de homologação ao argumento do preenchimento dos
requisitos formais autorizadores, a tese alegada pelo agravado era a de que se tratava de
ofensa à ordem pública, motivo pelo qual não transcreveremos o acórdão. (AgInt na HDE n.
3.105/EX, relatora Ministra Maria Isabel Gallotti, Corte Especial, julgado em 27/9/2022, DJe
de 3/10/2022.)

12) De semelhante modo, no caso do pedido de homologação de sentença estrangeira


n. 2.662, versando sobre adoção, não obstante a Corte tenha deferido o pedido de
homologação ao argumento do preenchimento dos requisitos formais autorizadores, a tese
alegada pelo agravado era a de que se tratava de ofensa à ordem pública, motivo pelo qual
não transcreveremos o acórdão. (HDE n. 2.662/EX, relator Ministro João Otávio de Noronha,
Corte Especial, julgado em 21/9/2022, DJe de 28/9/2022.)

13) Neste caso, a discussão centrou-se sobre o requisito da citação, entendida, ao final,
como válida, ensejando a homologação em virtude do preenchimento dos demais requisitos
formais. Confira-se:

PROCESSUAL CIVIL. ALIMENTOS. DECISÃO MONOCRÁTICA QUE


HOMOLOGOU DECISÃO ESTRANGEIRA. AUSÊNCIA DE
IRREGULARIDADES. CITAÇÃO VÁLIDA. REPRESENTAÇÃO
PROCESSUAL REGULAR. AGRAVO INTERNO NÃO PROVIDO.
1. Sendo regular a citação, ainda que por meio de edital, está preenchido
regularmente um dos principais requisitos para homologação da sentença
estrangeira.
2. Nos termos do art. 6º do Decreto 56.826/1965, o Ministério Público
Federal, enquanto Instituição Intermediária, atua dentro dos limites dos
poderes conferidos pelo demandante e tomará, em nome deste, quaisquer
medidas apropriadas para assegurar a prestação dos alimentos. Ela
poderá, igualmente, transigir e, quando necessário, iniciar e prosseguir
uma ação alimentar, fazendo executar qualquer sentença, decisão ou outro
ato judiciário.
3. Cumpre destacar o posicionamento uniforme da jurisprudência do STJ
no sentido de que, em juízo de delibação, cumpre examinar se estão ou
não preenchidos os requisitos previstos nos arts. 216-A a 216-N do
Regimento Interno deste Tribunal, incluídos pela Emenda Regimental
18/2014, sem adentrar o mérito do provimento a ser homologado.
4. Agravo Interno não provido.
(AgInt nos EDcl na HDE n. 3.528/EX, relator Ministro Herman Benjamin,
Corte Especial, julgado em 23/8/2022, DJe de 5/9/2022.)

14) Neste caso, quanto aos requisitos formais para homologação de sentença
estrangeira – especificamente a arbitral – o STJ analisou a possibilidade de substituição da
chancela consular brasileira. Assim restou ementado o acórdão em questão:
SENTENÇA ARBITRAL ESTRANGEIRA CONTESTADA. COMPETÊNCIA
DO STJ. JUÍZO DELIBAÇÃO. CHANCELA CONSULAR. APOSTILA.
HOMOLOGAÇÃO DEFERIDA.
I - O Superior Tribunal de Justiça tem competência para emitir juízo
meramente delibatório acerca da homologação de sentença estrangeira.
Assim, eventual deferimento do pedido de homologação, portanto, limita-se
a dar eficácia à sentença estrangeira, nos exatos termos em que proferida,
não sendo possível aditá-la para inserir provimento que dela não conste.
II - A competência do Juízo arbitral pode ser aferida pela sentença arbitral
proferida nos limites da própria convenção que permitiu sua instauração.
III - A Convenção sobre Eliminação da Exigência de Legalização de
Documentos Públicos Estrangeiros, promulgada por intermédio do Decreto
n. 8.660/2016, prevê a substituição da chancela consular brasileira pela
apostila emitida pela autoridade competente do Estado no qual o
documento é originado.
IV - Homologação deferida.
(HDE n. 5.431/EX, relator Ministro Francisco Falcão, Corte Especial,
julgado em 3/8/2022, DJe de 18/8/2022.)

15) Caso em que também foram analisados e verificados os requisitos formais para
homologação de sentença estrangeira proveniente do Peru.

DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO. PROCESSUAL CIVIL. SENTENÇA


ARBITRAL ESTRANGEIRA CONTESTADA. SENTENÇA ORIUNDA DE
CORTE ARBITRAL DA REPÚBLICA DO PERU. ARTS. 15 E 17 DA LEI DE
INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO. ARTS. 960 E
SEGUINTES DO CPC/2015. ARTS. 216-C, 216-D E 216-F DO RISTJ.
ARTS. 37 A 39 DA LEI N. 9.307/1996. REQUISITOS ATENDIDOS.
PEDIDO DE HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA
DEFERIDO.
1. A homologação de decisões estrangeiras pelo Poder Judiciário possui
previsão na Constituição Federal de 1988 e, desde 2004, está outorgada
ao Superior Tribunal de Justiça, que a realiza com atenção aos ditames
dos arts. 15 e 17 do Decreto-Lei n. 4.657/1942 (LINDB), do Código de
Processo Civil de 2015 (art. 960 e seguintes) e 216-A e seguintes do
RISTJ.
2. Os requisitos legais e regimentais para o deferimento do pedido são: (i)
instrução da petição inicial com o original ou cópia autenticada da decisão
homologanda e de outros documentos indispensáveis, devidamente
traduzidos por tradutor oficial ou juramentado no Brasil, e chancelados por
autoridade consular brasileira; (ii) haver sido a sentença proferida por
autoridade competente; (iii) terem as partes sido regularmente citadas ou
haver-se legalmente verificado a revelia; (iv) ter a sentença transitado em
julgado; e (v) inexistir ofensa à soberania, à dignidade da pessoa humana
e/ou à ordem pública.
3. Incidência das previsões dos arts. 37 a 39 da Lei n. 9.307/1996 - Lei de
Arbitragem Brasileira, inexistindo impugnação à invalidade do título ou à
regularidade da citação.
4. Contestação que se volta contra a existência de vícios formais,
superados durante a instrução processual, e contra aspectos de mérito da
sentença, que escapam à estreita via do juízo de delibação sufragado pelo
sistema brasileiro. Precedentes do STJ.
5. Existência de interesse e utilidade na homologação, visto que a eventual
ausência momentânea de inadimplemento da obrigação não retira a
utilidade de se conferir validade à sentença, uma vez que não houve
exaurimento das obrigações.
6. Requisitos atendidos, impondo-se o deferimento da homologação da
sentença estrangeira arbitral.
(HDE n. 3.876/EX, relator Ministro Og Fernandes, Corte Especial, julgado
em 1/8/2022, DJe de 18/8/2022.)

16) Neste caso, de idêntica forma, foram analisados e entendidos como preenchidos os
requisitos do art. 963 do CPC, de modo a autorizar a homologação da decisão estrangeira.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO. PROCESSUAL CIVIL. SENTENÇA
ESTRANGEIRA NÃO CONTESTADA. AÇÃO INDENIZATÓRIA JULGADA
PROCEDENTE POR SENTENÇA ARBITRAL ORIUNDA DOS ESTADOS
UNIDOS DA AMÉRICA. ARTS. 15 E 17 DA LEI DE INTRODUÇÃO ÀS
NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO. ARTS. 960 E SEGUINTES DO
CPC/2015. ARTS. 216-C, 216-D E 216-F DO RISTJ. REQUISITOS
ATENDIDOS. PEDIDO DE HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA
ESTRANGEIRA DEFERIDO.
1. A homologação de decisões estrangeiras pelo Poder Judiciário possui
previsão na Constituição Federal de 1988 e, desde 2004, está outorgada
ao Superior Tribunal de Justiça, que a realiza com atenção aos ditames
dos arts. 15 e 17 do Decreto-Lei n.º 4.657/1942 (LINDB), do Código de
Processo Civil de 2015 (art. 960 e seguintes) e do art. 216-A e seguintes
do RISTJ.
2. Nos termos dos arts. 15 e 17 da Lei de Introdução às Normas do Direito
Brasileiro, 963 do CPC/2015, e 216-C, 216-D e 216-F do Regimento
Interno do Superior Tribunal de Justiça, são requisitos da homologação os
seguintes: (i) instrução da petição inicial com o original ou cópia
autenticada da decisão homologanda e de outros documentos
indispensáveis, devidamente traduzidos por tradutor oficial ou juramentado
no Brasil e chancelados pela autoridade consular brasileira; (ii) haver sido
a sentença proferida por autoridade competente; (iii) terem as partes sido
regularmente citadas ou haver-se legalmente verificado a revelia; (iv) ter a
sentença transitado em julgado; (v) não ofender a soberania, a dignidade
da pessoa humana e/ou ordem pública.
3. Ausência de objeção do requerido e da curadoria especial constituída
pela DPU.
4. Requisitos legais atendidos quanto à prova da citação do requerido no
processo estrangeiro, ao trânsito em julgado e à autenticação por
autoridade consular brasileira e com tradução oficial e/ou juramentada,
com parecer favorável do MPF.
5. Pedido de homologação de sentença estrangeira deferido sem fixação
de honorários, diante da ausência de efetiva resistência ao pedido.
(HDE n. 1.936/EX, relator Ministro Og Fernandes, Corte Especial, julgado
em 1/8/2022, DJe de 18/8/2022.)

17) Neste caso, ao determinar a homologação de sentença arbitral proferida por tribunal
chinês, o STJ entendeu que os requisitos legais se encontravam plenamente atendidos,
especialmente quanto à prova da citação do requerido no processo estrangeiro, ao trânsito
em julgado e ao fato de estar a decisão devidamente autenticada por autoridade consular
brasileira e com tradução oficial e/ou juramentada.

DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO. PROCESSUAL CIVIL. SENTENÇA


ARBITRAL ESTRANGEIRA CONTESTADA ORIUNDA DE CORTE
ARBITRAL DA REPÚBLICA POPULAR DA CHINA. ARTS. 15 E 17 DA LEI
DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO. ARTS. 960 E
SEGUINTES DO CPC/2015. ARTS. 216-C, 216-D E 216-F DO RISTJ.
REQUISITOS ATENDIDOS. PEDIDO DE HOMOLOGAÇÃO DE
SENTENÇA ESTRANGEIRA DEFERIDO.
1. A homologação de decisões estrangeiras pelo Poder Judiciário possui
previsão na Constituição Federal de 1988 e, desde 2004, está outorgada
ao Superior Tribunal de Justiça, que a realiza com atenção aos ditames
dos arts. 15 e 17 do Decreto-Lei n. 4.657/1942 (LINDB), do Código de
Processo Civil de 2015 (art. 960 e seguintes) e 216-A e seguintes do
RISTJ.
2. Os requisitos legais e regimentais para o deferimento do pedido são: (i)
instrução da petição inicial com o original ou cópia autenticada da decisão
homologanda e de outros documentos indispensáveis, devidamente
traduzidos por tradutor oficial ou juramentado no Brasil, e chancelados por
autoridade consular brasileira; (ii) haver sido a sentença proferida por
autoridade competente; (iii) terem as partes sido regularmente citadas ou
haver-se legalmente verificado a revelia; (iv) ter a sentença transitado em
julgado; e (v) inexistir ofensa à soberania, à dignidade da pessoa humana
e/ou à ordem pública.
3. Contestação que defende a ocorrência de inépcia e prescrição no feito
que originou a decisão homologanda, aspectos relativos ao mérito do título
que se pretende homologar e que escapam à estreita via do juízo de
delibação, sufragado pelo sistema brasileiro.
Precedentes do STJ.
4. Valor atribuído à causa irrisório, devendo ser fixado em R$ 100.000,00
(cem mil reais) para corresponder às características do procedimento
homologatório, que não se confunde com a eventual execução da decisão
e não possui índole condenatória.
5. Requisitos legais atendidos quanto à prova da citação do requerido no
processo estrangeiro, ao trânsito em julgado e ao fato de estar a decisão
devidamente autenticada por autoridade consular brasileira e com tradução
oficial e/ou juramentada.
6. Pedido de homologação de sentença estrangeira deferido.
(HDE n. 4.189/EX, relator Ministro Og Fernandes, Corte Especial, julgado
em 3/8/2022, DJe de 17/8/2022.)

18) Já neste caso cuja ementa se transcreve a seguir, trata-se de de agravo interno
interposto contra decisão que indeferiu a homologação de duas sentenças estrangeiras
proferidas pela Justiça de Ontário, Canadá, versando sobre a guarda, regulamentação de
visitas e pensão alimentícia.

A decisão monocrática, mantida pelo colegiado, havia negado a homologação da


guarda da filha dos ex-cônjuges, em razão de haver decisão proferida pela jurisdição
brasileira sobre o mesmo assunto, em sentido contrário ao decisum que se pretendia
homologar. Confira-se:

AGRAVO INTERNO. HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA.


CANADÁ. GUARDA DE CRIANÇA CONCEDIDA AO PAI. AÇÃO JUDICIAL
POSTERIOR, COM TRÂNSITO EM JULGADO, NA JURISDIÇÃO
BRASILEIRA. DISPOSITIVOS EM CONFLITO. SENTENÇA
ESTRANGEIRA NÃO HOMOLOGADA. MULTA. NÃO APLICAÇÃO.
AGRAVO INTERNO A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
1. Pedido de homologação de sentença proferida na jurisdição de Ontário,
Canadá, concedendo ao pai a guarda da filha dos ex-cônjuges, ambos
brasileiros.
2. Sentença posterior proferida na Justiça Federal brasileira, com trânsito
em julgado, no sentido da improcedência do pedido de busca e apreensão
da menor, sob fundamento de que, além de ter sido comprovada violência
contra a mãe e a criança, "estudo psicológico produzido nos autos revela a
plena adaptação da menor transferida ilicitamente para o Brasil ao novo
meio em que inserida, sendo presumida a ocorrência de prejuízos de
ordem emocional caso determinado seu retorno ao País de origem, até
porque privada estará do convívio contínuo, há mais de dez anos, com
parentes e amigos".
3. Tal realidade fragiliza a eficácia e a definitividade que porventura se
pudesse extrair da sentença homologanda, sobretudo diante da
jurisprudência consolidada nesta Corte, no sentido de que a mera
pendência de ação judicial no Brasil não impede a homologação da
sentença estrangeira; mas a existência de decisão judicial proferida no
Brasil contrária ao conteúdo da sentença estrangeira impede a sua
homologação (HDE 1.396/EX, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Corte
Especial, j. 23/09/2019, DJe 26/09/2019).
4. Inaplicabilidade da multa do § 4º do art. 1.021 do CPC, pois referido
dispositivo legal não incide automaticamente, sobretudo quando exercitado
o regular direito de recorrer e não verificadas as hipóteses de manifesta
inadmissibilidade do agravo interno e de litigância temerária.
5. Agravo interno a que se nega provimento.
(AgInt na SEC n. 6.362/EX, relator Ministro Jorge Mussi, Corte Especial,
julgado em 1/6/2022, DJe de 3/6/2022.)

19) Caso em que foi analisado o requisito da citação, para possibilitar a homologação da
decisão portuguesa pela justiça brasileira.

AGRAVO INTERNO. SENTENÇA ESTRANGEIRA. PORTUGAL. AÇÃO


DE REVISÃO DE ALIMENTOS. AUSÊNCIA DE CITAÇÃO POR CARTA
ROGATÓRIA DE PARTE DOMICILIADA NO BRASIL. CIÊNCIA DO
PROCESSO E COMPARECIMENTO DA PARTE DEMANDADA.
OCORRÊNCIA. AGRAVO PROVIDO, PARA DEFERIR O PEDIDO DE
HOMOLOGAÇÃO.
1. O ordenamento jurídico pátrio adota o sistema de delibação na análise
do pedido de homologação de sentença estrangeira, razão pela qual a
aferição se restringe à presença dos requisitos formais, não cabendo a
esta Corte se debruçar sobre a matéria de mérito deduzida na sentença
alienígena.
2. Na esteira dos precedentes desta Corte Especial, a homologação de
sentença estrangeira contra pessoa residente no Brasil depende da
demonstração da citação realizada por meio de carta rogatória, salvo
quando, embora não tenha ocorrido a citação por rogatória, reste
demonstrado que a parte residente no Brasil teve inequívoca ciência da
propositura do feito e manifestou-se no processo estrangeiro, como na
hipótese.
3. Agravo interno provido, para deferir o pedido de homologação da
sentença estrangeira.
(AgInt na SEC n. 8.812/EX, relator Ministro Jorge Mussi, Corte Especial,
julgado em 1/6/2022, DJe de 3/6/2022.)

20) Caso em que a homologação de sentença estrangeira aparece em citação ao longo


do documento. Na verdade, tratou-se de discussão acerca da admissibilidade de expedição
de ofícios e possibilidade de partilha de ações de titularidade do recorrido (que havia sofrido
um acidente automobilístico e lhe fora nomeada uma curadora) em instituição financeira
sediada no exterior, apenas. (REsp n. 1.912.255/SP, relatora Ministra Nancy Andrighi,
Terceira Turma, julgado em 24/5/2022, DJe de 30/5/2022.)

21) Neste caso, embora também tenha sido analisada a tese de citação irregular – a qual
foi rejeitada –, o STJ, entendendo estar ausente requisito formal consubstanciado na
chancela consular ou apostilamento da decisão estrangeira, houve por bem negar a
homologação da decisão alienígena pretendida. Veja-se a síntese do julgamento:
PROCESSUAL CIVIL. SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA.
DECISÃO PROFERIDA PELA JUSTIÇA DE PORTUGAL. DIVÓRCIO POR
MÚTUO CONSENTIMENTO. ALEGAÇÃO DE NULIDADE DE CITAÇÃO
POR EDITAL. REJEIÇÃO. AUSÊNCIA DA CHANCELA CONSULAR OU
DA APOSTILA DA SENTENÇA ESTRANGEIRA. HOMOLOGAÇÃO
INDEFERIDA.
1. Inicialmente, rejeita-se o argumento contido na contestação da
Defensoria Pública da União de nulidade da citação por edital. Adoto no
ponto, o parecer do MPF, segundo o qual: "Preliminarmente, há de se
afastar a alegação de nulidade da citação por edital, porquanto 'é válida a
citação editalícia quando não se tenha ciência do local em que o requerido
poderá ser atualmente encontrado, sobretudo, em se tratando de
dissolução do vínculo conjugal, quando transcorrido lapso temporal
razoável a partir do qual se permita inferir a veracidade da afirmação do
requerente' (SEC 14.038/EX, Rel. Ministra NANCYANDRIGHI, CORTE
ESPECIAL, julgado em 07/03/2018, DJe 23/03/2018), como no caso".
2. Apesar de devidamente intimada, a parte requerente não juntou aos
autos a chancela consular ou a apostila da sentença estrangeira cuja
homologação se requer, requisito indispensável para a chancela pelo STJ.
3. Não se desconhece que "a Convenção sobre Eliminação da Exigência
de Legalização de Documentos Públicos Estrangeiros, promulgada por
intermédio do Decreto n. 8.660/2016, prevê a substituição da chancela
consular brasileira pela apostila emitida pela autoridade competente do
Estado no qual o documento é originado" (HDE n. 598/EX, relator Ministro
Francisco Falcão, Corte Especial, julgado em 7/4/2021, DJe de 16/4/2021).
4. Entretanto, no presente caso, a parte requerente não juntou a chancela
consular e nem mesmo a apostila da sentença estrangeira - mesmo tendo
sido intimada especificamente para tal desiderato -, o que impede sua
homologação por falta de requisito formal.
5. Condeno a parte autora ao pagamento das custas processuais e dos
honorários advocatícios, estes arbitrados no valor de R$ 5.000,00 (cinco
mil reais), com fundamento no art. 85, §§ 2º e 8º, do CPC/2015. Dita
condenação ficará suspensa, diante do benefício da gratuidade judiciária,
esclarecendo que a obrigação ficará extinta se, no prazo de 5 (cinco) anos,
contado do trânsito em julgado, não houver alteração superveniente da
condição financeira da parte, ora sucumbente.
6. Registre-se que o CPC/2015 é aplicável ao caso, porquanto a sentença
está sendo prolatada sob a vigência do novo estatuto normativo, e,
conforme recente precedente da Corte Especial do STJ:
"O marco temporal para a aplicação das regras fixadas pelo CPC/2015 em
relação aos honorários advocatícios é a data da prolação da sentença.
Precedentes." (SEC n. 14.385/EX, relatora Ministra Nancy Andrighi, Corte
Especial, julgado em 15/8/2018, DJe de 21/8/2018).
7. Pedido de homologação de sentença estrangeira indeferido.
(HDE n. 5.091/EX, relator Ministro Og Fernandes, Corte Especial, julgado
em 4/5/2022, DJe de 25/5/2022.)
22) Caso em que foram analisados os requisitos formais e homologada a sentença de
divórcio promanada pela Justiça alemã. Confira-se a ementa:

PEDIDO DE HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA.


DIVÓRCIO. DECISÃO PROLATADA PELA JUSTIÇA DA ALEMANHA.
REQUISITOS PREENCHIDOS. DEFERIMENTO.
1. Cuida-se de pedido formulado por E.A.P. visando à homologação de
decisão estrangeira proferida no Juízo da Vara da Família de Bigen Am
Rheim, Alemanha, que, em 17 de novembro de 2010, dissolveu o
casamento dela, cidadã brasileira, e de M.A.P., cidadão holandês.
2. O feito foi ajuizado em 2013 e tramitou com percalços, tendo sido
anulada a citação feita originalmente, diante da constatação de que não foi
individualizada a pessoa que, naquela ocasião, recusou o recebimento da
Carta Rogatória. A requerente, por dificuldades burocráticas e financeiras
(que culminaram com o superveniente pedido de concessão da AJG,
deferido com efeitos prospectivos), regularizou depois de alguns anos
todas as pendências, tendo sido efetivada validamente a citação da parte
contrária em 28.10.2020, sem que fosse apresentada contestação.
3. O STJ exerce juízo meramente delibatório nas hipóteses de
Homologação de Sentença Estrangeira. Vale dizer, cabe ao STJ, apenas,
verificar se a pretensão trouxe os documentos exigidos e atende aos
requisitos previstos nos arts. 3º e 5º da Res. STJ 9/2005 e nos arts. 216-
C1 e 216-D do RISTJ, bem como se não fere o disposto no art. 216-F do
RISTJ e no art. 6º da citada Resolução.
4. No caso dos autos, conforme manifestação do Ministério Público
Federal e da Defensoria Pública da União, os requisitos legalmente
estabelecidos encontram-se observados, ou seja, foram apresentadas a
sentença que decretou o divórcio das partes, assim como a sua
representação judicial por advogados, a data do trânsito em julgado, a
autenticação pelo Consulado brasileiro e a tradução juramentada. A
produção dos efeitos da sentença que decretou o divórcio não ofende a
soberania nacional nem a ordem pública, tampouco a dignidade da pessoa
humana.
5. Pedido de Homologação de Sentença Estrangeira deferido.
(SEC n. 10.206/EX, relator Ministro Herman Benjamin, Corte Especial,
julgado em 16/3/2022, DJe de 18/5/2022.)

Trecho do voto:

No caso dos autos, os requisitos legalmente estabelecidos encontram-se


observados, tendo sido apresentada a sentença que decretou o divórcio
das partes, assim como a sua representação judicial por advogados, a
data do trânsito em julgado, a autenticação pelo Consulado brasileiro e a
tradução juramentada (fls. 42-49, e-STJ).
A dissolução do vínculo matrimonial é instituto também previsto no
ordenamento jurídico pátrio em vigor, não constituindo a intenção de obter
a homologação do ato judicial alienígena para produção de efeitos no
Brasil, portanto, ofensa à soberania nacional ou à ordem pública,
tampouco à dignidade da pessoa humana.
Tendo em vista, por seu turno, o conteúdo do Parecer do MPF e a
expressa manifestação de aquiescência da DPU – que, depois de acolhida
a argumentação inicial de invalidade da citação nestes autos,
expressamente registrou nada ter a opor ao pedido deduzido – deve ser
acolhido o pleito deduzido nos autos.
Diante do exposto, defere-se o Pedido de Homologação de Decisão
Estrangeira, nos termos acima expostos

23) Caso em que os requisitos para a homologação da decisão estrangeira foram


analisados pela Corte Cidadã, mas a tese defensiva era de ofensa à ordem pública, razão
pela qual analisaremos na próxima aula. (HDE n. 586/EX, relator Ministro Raul Araújo, Corte
Especial, julgado em 2/2/2022, DJe de 16/5/2022.)

24) Neste caso, tratava-se de agravo interno que foi desprovido e mantida a decisão que
homologou a sentença estrangeira italiana. Na oportunidade, o relator reiterou que estavam
preenchidos “todos os requisitos formais necessários à homologação da sentença
estrangeira, enfatizando que consta a procuração ad judicia (e-STJ, fls. 3/5), a sentença que
reconheceu a obrigação de prestar alimentos devidamente traduzida (e-STJ, fls. 20/28),
sendo eficaz no país em que foi proferida (fls. 25/26 e-STJ).”. Confira-se a ementa deste
julgado:

AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NA


HOMOLOGAÇÃO DE DECISÃO ESTRANGEIRA. PROCESSUAL CIVIL.
ALIMENTOS. SENTENÇA PROFERIDA PELA JUSTIÇA DA ITÁLIA
(TRIBUNAL ORDINÁRIO DE ROMA), QUE RECONHECEU A
OBRIGAÇÃO DE PRESTAR ALIMENTOS. ARTS. 15 E 17 DA LEI DE
INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO, 960 E
SEGUINTES DO CPC/2015 E ARTS. 216-C, 216- D E 216-F DO RISTJ.
REQUISITOS ATENDIDOS. DECISÃO NA JUSTIÇA BRASILEIRA
ACERCA DE ALIMENTOS, AINDA QUE POSTERIOR AO TRÂNSITO EM
JULGADO DA DECISÃO ESTRANGEIRA, NÃO IMPEDE A SUA
HOMOLOGAÇÃO. DECISÃO AGRAVADA MANTIDA. AGRAVO INTERNO
A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
(AgInt nos EDcl na HDE n. 5.278/EX, relator Ministro Paulo de Tarso
Sanseverino, Corte Especial, julgado em 10/5/2022, DJe de 13/5/2022.)

25) Decisão que não analisou o mérito do recurso de agravo interno interposto contra
decisão sobre homologação de decisão estrangeira, já que aquele fora protocolizado fora do
prazo estipulado pelo Código de Processo Civil e, portanto, intempestivo (AgInt na HDE n.
3.685/EX, relator Ministro Humberto Martins, Corte Especial, julgado em 26/4/2022, DJe de
2/5/2022.).

26) Caso de alegação de ofensa à ordem pública, que será objeto de aula própria (AgInt
na HDE n. 3.233/EX, relator Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, Corte Especial, julgado
em 12/4/2022, DJe de 20/4/2022.).

27) Não é objeto da aula, pois apenas menciona uma HSE como “precedente”. (EDcl no
AgInt na Rcl n. 39.863/MG, relator Ministro Francisco Falcão, Corte Especial, julgado em
22/3/2022, DJe de 25/3/2022.)

28) Pedido de análise sobre o mérito da decisão estrangeira homologada, supostamente por
ofensa à dignidade humana, por meio de Agravo Interno, o qual fora desprovido, por
ausência de impugnação dos fundamentos da decisão recorrida.

PROCESSUAL CIVIL. HOMOLOGAÇÃO DE DECISÃO ESTRANGEIRA


AGRAVO INTERNO. AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO À
FUNDAMENTAÇÃO. SÚMULA N. 182 DO STJ. REVISÃO DO MÉRITO
DA SENTENÇA ESTRANGEIRA. IMPOSSIBILIDADE. ATO FORMAL.
VERIFICAÇÃO DOS PRESSUPOSTOS LEGAIS.
1 É entendimento assente desta Corte que não se conhece de agravo
interno no qual não se impugna os fundamentos da decisão recorrida.
Incidência do enunciado n. 182 da Súmula do STJ.
2. Para a homologação da sentença estrangeira, compete ao Superior
Tribunal de Justiça tão somente verificar o atendimento dos requisitos e
pressupostos em lei exigidos, de forma que, desborda de sua competência
eventual exercício de juízo de revisão daquele decisum. Assim, é que a
homologação de decisão estrangeira constitui-se em ato meramente
formal, por meio do qual o STJ exerce tão somente um juízo de delibação.
3. Agravo Interno desprovido.
(AgInt na HDE n. 3.990/EX, relator Ministro João Otávio de Noronha, Corte
Especial, julgado em 22/3/2022, DJe de 24/3/2022.)

29) Pretensão semelhante, pela análise sobre o mérito da decisão estrangeira


homologada (o que foi preliminarmente afastado) e que o STJ entendeu por bem homologar
depois de verificado o preenchimento dos requisitos formais, que foram assim elencados no
voto: a) a sentença foi proferida por autoridade competente; b) houve citação regular, ainda
que verificada a revelia; c) é eficaz no país em que foi proferida; d) não contém ofensa à
soberania nacional, à ordem pública, à dignidade da pessoa humana nem aos bons
costumes (arts. 963 do CPC, 17 da LINDB e 216-C a 216-F do RISTJ); e e) está
acompanhada de tradução oficial e apostilada. O Acórdão foi assim lançado:

HOMOLOGAÇÃO DE DECISÃO ESTRANGEIRA. TRIBUNAL DISTRITAL


DOS ESTADOS UNIDOS PARA O DISTRITO DE COLORADO. AÇÃO DE
COBRANÇA. INADIMPLEMENTO CONTRATUAL. REQUISITOS
PREENCHIDOS. PEDIDO HOMOLOGATÓRIO DEFERIDO.
1. A atuação jurisdicional do Superior Tribunal de Justiça para
homologação de sentença estrangeira está circunscrita à aferição de
requisitos meramente formais, bem como à inexistência de ofensa à
soberania nacional, à dignidade da pessoa humana ou à ordem pública,
em consonância com o disposto nos arts. 963 e 964 do CPC e 216-C, 216-
D e 216-F do RISTJ. Por isso, não cabe examinar questões relativas ao
mérito da demanda, já examinadas e decididas no juízo estrangeiro.
2. Preenchidos os requisitos previstos nos arts. 216-A a 216-N do
Regimento Interno do STJ, impõe-se a homologação da sentença
estrangeira.
3. O encerramento das atividades de sociedade empresária do tipo Eireli
(Empresa Individual de Responsabilidade Limitada) que, antes de sua
extinção, foi devidamente intimada de ação em seu desfavor em trâmite no
exterior, pressupõe que o proprietário responda pelo pedido de
homologação de sentença estrangeira.
4. Pedido de homologação deferido. Agravo interno prejudicado.
(HDE n. 4.071/EX, relator Ministro João Otávio de Noronha, Corte
Especial, julgado em 16/3/2022, DJe de 22/3/2022.)

30) No caso a seguir, foi requerida a homologação de sentença estrangeira proveniente


de Portugal, por meio da qual se sentenciou que o então requerente não era o pai biológico
do menor. Iniciado o procedimento para a homologação no Brasil, todavia, a DPU, que
assistia a genitora e o infante, argumentou ofensa à dignidade humana, à soberania
nacional e à ordem pública.

O STJ, todavia, afastou esse argumento e homologou a sentença portuguesa,


ponderando que “não há impeditivo para a referida homologação, uma vez que se trata de
sentença proferida por autoridade competente, proveniente de ação na qual se observou a
citação regular; ter eficácia no país em que foi proferida; e, não conter ofensa à soberania
nacional, à ordem pública, à dignidade da pessoa humana nem aos bons costumes, além do
preenchimento dos requisitos de natureza formal.”. Assim foi sintetizado o Acórdão.

PROCESSUAL CIVIL. SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA.


NEGATIVA DE PATERNIDADE. DECISÃO PROFERIDA PELA JUSTIÇA
DE PORTUGAL. REQUERIDO DOMICILIADO NO BRASIL.
HOMOLOGAÇÃO.
1. É devida a homologação da sentença estrangeira dispondo sobre
reconhecimento de não paternidade e retificação de registro de nascimento
quando atendidos os requisitos previstos nos arts. 963 e 964 do CPC de
2015, 216-C e 216-D do RISTJ, bem como constatada a ausência de
ofensa à soberania nacional, à dignidade da pessoa humana e à ordem
pública (CPC/2015, art. 963, VI; LINDB, art. 17;
RISTJ, art. 216-F).
2. Sentença estrangeira homologada.
(HDE n. 2.782/EX, relator Ministro João Otávio de Noronha, Corte
Especial, julgado em 16/2/2022, DJe de 7/3/2022.)

31) No mérito deste caso, a parte requerida alegou em sua defesa, que o pedido devia
ser rejeitado por ofensa à ordem pública. Por se tratar de tema próprio da aula subsequente,
deixo de analisar na presente oportunidade (SEC n. 10.639/EX, relator Ministro Raul Araújo,
Corte Especial, julgado em 2/2/2022, DJe de 4/3/2022.).

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