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INTENSIVO I

Fernando Gajardoni
Direito Processual Civil
Aula 8

ROTEIRO DE AULA

Temas: Intervenção de Terceiros II

3. Denunciação à lide (125/129 CPC)

3.6. Casuística
a) SEMPRE FACULTATIVA (art. 125, § 1º, CPC) (1.072 CPC e revogação do art. 456 CC).
A denunciação à lide é sempre facultativa, ou seja, a parte pode ajuizar ação autônoma de regresso. Isso consta
expressamente no art. 125, §1º, CPC.

CPC, art. 125, §1º: “O direito regressivo será exercido por ação autônoma quando a denunciação da lide for indeferida,
deixar de ser promovida ou não for permitida.”

Obs.1: Na vigência do CPC de 1916, o art. 456 do CC determinava a necessidade de denunciação à lide nas hipóteses de
evicção. Entretanto, o art. 1.072 do CPC revogou este dispositivo.

Não há obrigatoriedade de denunciação à lide em nenhuma hipótese do sistema brasileiro.

b) Denunciações sucessivas (uma única vez no CPC – 125, § 2º, CPC).


O CPC autoriza, no máximo, duas denunciações (a primitiva e uma denunciação sucessiva).

CPC, art. 125, §2º: “Admite-se uma única denunciação sucessiva, promovida pelo denunciado, contra seu antecessor
imediato na cadeia dominial ou quem seja responsável por indenizá-lo, não podendo o denunciado sucessivo promover
nova denunciação, hipótese em que eventual direito de regresso será exercido por ação autônoma.”

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A lógica da vedação às denunciações sucessivas é evitar que o autor seja prejudicado com sucessivas denunciações que
tornariam o processo muito longo.

Exemplo: “C” comprou um carro de “V1”, mas o chassi do veículo apresentava adulteração. Como “C” não conseguia
regularizar a documentação do carro, ele ajuizou ação em face de “V1”. Na ação de “C” contra “V1”, “V1” alega que
comprou o carro de “V2” e, portanto, ele aproveita o processo e denuncia à lide “V2”. Entretanto, “V2” comprou o carro
de “V3” e este será litisconsorte de “V2” na denunciação à lide (denunciação à lide 2). Até esse momento, os
procedimentos de denunciação à lide são regulares.
Ocorre que “V3” comprou o carro de “V4” e, neste momento, o carro também já apresentava o problema. Entretanto,
neste último caso, não é possível realizar uma terceira denunciação à lide.
✓ No exemplo dado, seria possível ocorrer até a denunciação 2, ou seja, haveria uma denunciação primitiva e uma
denunciação sucessiva. Apesar de não ser possível haver denunciações sucessivas, é possível que a parte
prejudicada ingresse com ação autônoma de indenização (“V3” em face de “V4”).

c) Denunciação per saltum (revogação do art. 456 do CC) (impossibilidade - 125, I, CPC).
O CPC não admite a denunciação per saltum, que é aquela em que o denunciante já denuncia à lide diretamente o
responsável por todo o evento danoso.

Para entender a denunciação per saltum, imagine que, no exemplo anterior, “C” ajuíze ação contra “V1”. “V1”, por sua
vez, denuncia “V2” à lide. Neste caso, seria possível que “V2”, ao invés de denunciar “V3” (alienante imediato), denuncie
“V6” que é o responsável de fato?
Não, pois o art. 125, I, CPC, somente possibilita a denunciação do alienante imediato.

CPC, art. 125, I:


“Art. 125. É admissível a denunciação da lide, promovida por qualquer das partes:
I - ao alienante imediato, no processo relativo à coisa cujo domínio foi transferido ao denunciante, a fim de que possa
exercer os direitos que da evicção lhe resultam”

CPC, art. 125, §2º: “Admite-se uma única denunciação sucessiva, promovida pelo denunciado, contra seu antecessor
imediato na cadeia dominial ou quem seja responsável por indenizá-lo, não podendo o denunciado sucessivo promover
nova denunciação, hipótese em que eventual direito de regresso será exercido por ação autônoma.”

d) Denunciação à lide no CDC (arts. 13 e 88 do CDC) (STJ: não cabimento amplo - REsp n. 1.165.279/SP, AgInt no
AREsp 2.199.836/SP)

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O CDC, nos artigos 131 e 882, veda a denunciação à lide apenas nos casos de fato do produto ou fato do serviço (acidente
de consumo). Isso ocorre para evitar que a vítima seja prejudicada por uma discussão interminável.

No âmbito do Direito do Consumidor, há dois modelos de responsabilidade civil: responsabilidade por fato do produto ou
do serviço (acidente de consumo); responsabilidade por vício do produto ou do serviço (vícios de quantidade/qualidade).

✓ Obs.: O fato do produto e do serviço têm previsão entre os arts. 12 e 17 do CDC. O CDC, entretanto, nada cita
sobre o vício do produto ou do serviço e a possibilidade de denunciação à lide.

Em suma: em uma interpretação literal do CDC, não caberia denunciação à lide no fato do produto ou do serviço, mas
caberia no vício do produto ou do serviço.
Entretanto, o entendimento atual do STJ acerca do tema é de que não cabe denunciação à lide também nos casos de vício
do produto ou do serviço. Assim sendo, o STJ tem uma interpretação extensiva de que o art. 13 do CDC e o art. 88 do CDC
vedam a denunciação em qualquer tipo de relação de consumo. Esse entendimento pode ser verificado no julgamento
do REsp 1.165.279.
✓ Ver AgInt no AREsp 2.199.836/SP)

e) Denunciação à lide e ação regressiva contra servidor público (37, § 6º, CF) (TEMA 940 – TEORIA DA DUPLA GARANTIA)
O artigo 37, §6º, CF, estabelece que o Estado responde pelas más condutas dos seus servidores nos casos de dolo ou
culpa, cabendo ação regressiva contra o servidor.

Questão: Mediante tal responsabilidade, o poder público poderia denunciar o servidor à lide, valendo-se do disposto no
art. 125, II do CPC?

Em Repercussão Geral - Tema 940, o STF decidiu que, por conta do modelo constitucional vigente, não é possível haver a
denunciação à lide do servidor público, pois a responsabilidade do Estado é objetiva e a responsabilidade do servidor é
subjetiva, e essa discussão prejudica o autor (vítima do dano). A ação regressiva do Estado em face do servidor somente
pode ser feita autonomamente.

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CDC, art. 13: “O comerciante é igualmente responsável, nos termos do artigo anterior, quando:
I - o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser identificados;
II - o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor ou importador;
III - não conservar adequadamente os produtos perecíveis.
Parágrafo único. Aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado poderá exercer o direito de regresso contra os demais
responsáveis, segundo sua participação na causação do evento danoso.”
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CDC, art. 88: “Na hipótese do art. 13, parágrafo único deste código, a ação de regresso poderá ser ajuizada em processo
autônomo, facultada a possibilidade de prosseguir-se nos mesmos autos, vedada a denunciação da lide.”

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O fundamento para a decisão do STF foi a dupla garantia a que o servidor está sujeito. Assim, o servidor deve ter
tranquilidade para atuar e não pode ser processado diretamente. Desse modo, primeiro o Estado deve ser processado e
condenado (1ª garantia) e, depois, o Estado decide se houve dolo ou má-fé do servidor (2ª garantia) e ingressa (ou não)
com ação regressiva.

f) Mau deferimento-indeferimento: inexistência nulidade (125, § 1º, CPC) (REsp 1.713.096/SP) (EXCEÇÃO: o caso do
TEMA 940/STF)

A denunciação à lide é inspirada na economia processual, pois, conforme visto anteriormente, no mesmo processo, há a
resolução da questão principal e do direito regressivo.
✓ Ocorre que, em alguns casos, o juiz indefere mal ou ele defere uma denunciação à lide incabível. Nestes casos, de
acordo com a maioria da doutrina, o mau indeferimento ou o deferimento incabível não geram a nulidade do
processo.
✓ O STJ estabeleceu que o mau deferimento ou indeferimento da denunciação da lide não geram a nulidade do
processo.
Exemplo 1: imagine que “A” ingressa com uma ação contra “B” (acidente de trânsito). Este denunciou à lide a
seguradora, o juiz indeferiu e “B” não agravou de instrumento, ou seja, não recorreu. O processo segue e, no final,
ele é condenado a pagar indenização para a vítima. “B” apela e alega a nulidade da sentença, porque não haveria
sido garantido a ele o direito de denunciar à lide, pois o indeferimento foi indevido. Esse fundamento não é aceito
pelo STJ.
Exemplo: imagine que “A” ingressa com uma ação contra “B” (acidente de trânsito). Este denunciou à lide outro
motorista que teria sido o causador do evento danoso, mesmo não sendo cabível a denunciação. Se o juiz deferir
o pedido e o processo chegar ao tribunal, não haverá anulação do processo. Neste caso, o processo prosseguirá
normalmente, pois houve contraditório, ampla defesa etc.

O professor destaca que, na opinião dele, esse entendimento do STJ não se aplica no caso do Tema 940. Isso porque o
servidor público possui a dupla garantia, já citada anteriormente. Entretanto, esse é só o entendimento do professor: não
há julgados sobre o tema.

g) Condenação/execução direta do denunciado pelo autor da ação principal, nos limites da apólice (art. 128, parágrafo
único, CPC3) (súmula 537 do STJ4)

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CPC, art. 128, §único: “Procedente o pedido da ação principal, pode o autor, se for o caso, requerer o cumprimento da
sentença também contra o denunciado, nos limites da condenação deste na ação regressiva.”
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Súmula 537, STJ: “Em ação de reparação de danos, a seguradora denunciada, se aceitar a denunciação ou contestar o
pedido do autor, pode ser condenada, direta e solidariamente junto com o segurado, ao pagamento da indenização devida
à vítima, nos limites contratados na apólice.”

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Quando há ações que envolvem direito de regresso em seguro, é necessário entender, primeiramente, o que é o contrato
de seguro:

CC, 757: “Pelo contrato de seguro, o segurador se obriga, mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo
do segurado, relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados.
Parágrafo único. Somente pode ser parte, no contrato de seguro, como segurador, entidade para tal fim legalmente
autorizada.”

Observação: Pelo fato de a seguradora ser parte na ação (litisconsorte passivo ulterior), o art. 128, §único do CPC
incorpora o teor da súmula 537 do STJ para dizer que o juiz, ao condenar, pode condenar não apenas o segurado
(denunciante), mas também a seguradora (denunciada). Consequentemente, ao condenar o segurado e a seguradora, há
formação de título executivo contra a seguradora também e, portanto, o credor pode executar ambos (conjunta ou
separadamente).

✓ Atenção: Se é possível o litisconsórcio passivo entre segurado e seguradora, é possível que, em caso de seguro, o
cumprimento de sentença seja feito diretamente contra a seguradora, nos limites da apólice.
Exemplo: o causador do dano deve à vítima 250 mil. O seguro do carro cobre 100 mil. Neste caso, a vítima pode
executar o valor total, observando os limites da apólice.

h) Extinção sem mérito da denunciação em caso de vitória do denunciante, sem prejuízo da sucumbência (art. 129,
parágrafo único, CPC).
A denunciação à lide é opcional/facultativa.

CPC, art. 129, §único: “Se o denunciante for vencedor, a ação de denunciação não terá o seu pedido examinado, sem
prejuízo da condenação do denunciante ao pagamento das verbas de sucumbência em favor do denunciado.”

A denunciação à lide será extinta todas as vezes em que o denunciante ganhar a ação, pois, neste caso, há perda do
objeto, já que o denunciante não terá que indenizar ninguém e, portanto, não precisará se utilizar do direito ao regresso.
Exemplo: “A” ingressa com ação contra “B” por ocasião da ocorrência de acidente de trânsito. “B” denuncia à lide a
seguradora (“C”). “B” ganha a ação porque fica provado que “A” foi o culpado do acidente. Neste caso, “B” terá que pagar
sucumbência na denunciação, pois a seguradora teve que contratar um advogado para participar do processo.

Como a denunciação é facultativa, o denunciante paga a sucumbência da denunciação, já que o denunciante poderia ter
esperado o julgamento do feito para, caso perdesse a ação, entrar com ação autônoma.

j) Denunciação de quem já é parte no processo: possibilidade (STJ, REsp 1670232, Rel. Min. Nancy Andrighi)
O STJ entendeu, no julgamento do REsp 1670232, que quem é parte no processo pode ser denunciado.

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O professor explica que, às vezes, o indivíduo pode processar em litisconsórcio tanto o devedor principal quanto o devedor
regressivo.
A partir da interpretação da súmula 529 do STJ, a vítima de um evento coberto por seguro pode ajuizar a ação contra o
causador do dano ou contra o causador do dano e a seguradora. Neste último caso, o causador do dano é citado e pode
denunciar à lide a seguradora.
Exemplo: “A” ingressa com a ação contra o causador do dano (“B”) e contra a seguradora (“C”). Neste caso, “B” pode
denunciar “C” à lide, mesmo que a seguradora seja parte no processo.
✓ Esse procedimento é possível segundo o STJ, de modo a garantir que o segurado seja ressarcido nos limites da
apólice de seguro.

Súmula 529, STJ: “No seguro de responsabilidade civil facultativo, não cabe o ajuizamento de ação pelo terceiro
prejudicado direta e exclusivamente em face da seguradora do apontado causador do dano.”

4. Chamamento ao processo (130/132 CPC)

4.1. Conceito e hipóteses de cabimento (130 CPC)


O chamamento ao processo é uma espécie de intervenção de terceiros, exclusiva do demandado/réu, por meio da qual é
possível ampliar a legitimidade passiva da demanda, chamando ao processo os obrigados e coobrigados, a fim de obter,
em caso de pagamento, pela quota-parte, título executivo contra cada um deles.

Hipóteses de cabimento (130 CPC5)


Há três hipóteses de cabimento do chamamento ao processo:
a) fiador – afiançado (818, CC6): ocorre no caso de fiador que chama o afiançado para integrar o processo.
Exemplo: “A” aluga um imóvel para “B” a partir de uma fiança prestada por “C”. “B” não paga o aluguel e “A” (locador)
ingressa com uma ação contra o fiador (“C”). “C” chama o afiançado (“B”) ao processo (litisconsórcio passivo ulterior)

Juiz

Locador Fiador + afiançado

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CPC, art. 130: “É admissível o chamamento ao processo, requerido pelo réu:
I - do afiançado, na ação em que o fiador for réu;
II - dos demais fiadores, na ação proposta contra um ou alguns deles;
III - dos demais devedores solidários, quando o credor exigir de um ou de alguns o pagamento da dívida comum.”
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CC, art. 818: “Pelo contrato de fiança, uma pessoa garante satisfazer ao credor uma obrigação assumida pelo devedor,
caso este não a cumpra.”

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b) fiador – cofiadores (829, CC7): fiador chama os demais fiadores.
Exemplo: “A” (locatário) ingressa com uma ação contra “C”, que é fiador de “B”. Entretanto, na relação, há mais dois
fiadores, que são chamados ao processo pelo fiador demandado.

Juiz

Credor Fiador + demais fiadores

c) devedores solidários (275, CC): é a hipótese mais tradicional, em que um devedor solidário é demandado e os demais
devedores são chamados ao processo pelo réu. (litisconsórcio passivo ulterior)

Juiz

Credor Devedor solidário 1 + devedor solidário 2 + devedor solidário 3 + devedor solidário 4

ATENÇÃO: a hipótese do art. 1.698 do CC8 (alimentos avoengos) não é hipótese de chamamento ao processo, pois não
há direito de regresso de quem paga a dívida contra os demais. Além disso, o professor explica que o entendimento
pacífico é de que o art. 1.698 do CC pode ser utilizado, inclusive, para o autor.
✓ Obs.: Neste caso, não existe a formação de título executivo dos demais coobrigados (avós paternos, maternos
etc.).

4.2. Legitimidade, momento e procedimento (131 CPC)


A legitimidade para o chamamento é só do demandado (réu) e deve ser feita na contestação.
Se o réu não fizer o chamamento ao processo na contestação, haverá a preclusão. Entretanto, não há perda do direito de
reembolso, ou seja, nada impede que haja ação regressiva posteriormente.
Obs.: se é feito o chamamento ao processo, forma-se um título executivo contra os coobrigados. Se o chamamento não
é feito, é necessário que o devedor que pagou a dívida ingresse com ação de conhecimento contra os demais.

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CC, art. 829: “A fiança conjuntamente prestada a um só débito por mais de uma pessoa importa o compromisso de
solidariedade entre elas, se declaradamente não se reservarem o benefício de divisão.
Parágrafo único. Estipulado este benefício, cada fiador responde unicamente pela parte que, em proporção, lhe couber
no pagamento.”
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CC, art. 1698: “Se o parente, que deve alimentos em primeiro lugar, não estiver em condições de suportar totalmente o
encargo, serão chamados a concorrer os de grau imediato; sendo várias as pessoas obrigadas a prestar alimentos, todas
devem concorrer na proporção dos respectivos recursos, e, intentada ação contra uma delas, poderão as demais ser
chamadas a integrar a lide.”

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Procedimento: o autor entra com a ação, o réu é citado e, no prazo da contestação, chama ao processo os demais
coobrigados. O juiz cita os coobrigados e estes se tornarão litisconsortes passivos ulteriores do réu.

CPC, art. 131: “A citação daqueles que devam figurar em litisconsórcio passivo será requerida pelo réu na contestação e
deve ser promovida no prazo de 30 (trinta) dias, sob pena de ficar sem efeito o chamamento.
Parágrafo único. Se o chamado residir em outra comarca, seção ou subseção judiciárias, ou em lugar incerto, o prazo será
de 2 (dois) meses.”

4.3. Formação de título executivo contra e entre todos (132 CPC)

CPC, art. 132: “A sentença de procedência valerá como título executivo em favor do réu que satisfizer a dívida, a fim de
que possa exigi-la, por inteiro, do devedor principal, ou, de cada um dos codevedores, a sua quota, na proporção que lhes
tocar.”

Há formação de título executivo em relação a qualquer um dos réus (chamante ou chamados), desde que tenha efetuado
o pagamento. Assim, o pagamento não é exclusivamente imposto ao chamante, ou seja, qualquer coobrigado que cumprir
a obrigação ficará com título executivo contra os demais.
Exemplo: Se “A” entrou com uma ação contra “B” e este chamou ao processo o “C”, o “D” e o “E”, caso a ação seja
procedente, o juiz condenará o “B”, o “C”, o “D” e o “E” a pagarem a dívida a “A”.
✓ Quem pagar a dívida ficará com título executivo contra os demais.

4.4. Diferença com a denunciação à lide (inserção/réu/mesma RJ)


Há 3 diferenças:
a) A denunciação à lide é feita por ação (há duas relações jurídicas). O chamamento ao processo é feito por inserção dos
coobrigados na ação existente (há apenas uma ação).
b) Enquanto o chamamento ao processo só pode ser feito pelo réu; a denunciação à lide pode ser feita pelo autor e pelo
réu.
c) No chamamento ao processo, há uma mesma relação jurídica dos chamados com o autor da ação. A denunciação à lide
engloba duas relações jurídicas, ou seja, a relação existente entre denunciante e denunciado é estranha ao adversário da
ação.

4.5. Nos casos de saúde (Tema 793/STF) (REsp 1.805.886/SP)


Toda a jurisprudência do STJ é no sentido da existência de solidariedade entre todos os entes federados na temática da
saúde. Assim sendo, no momento de ingresso com a demanda, é o autor que escolhe contra quem ele quer demandar
nos temas que envolvem o direito à saúde.

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Exemplo: “A” entra com um processo contra o município e este chama o estado e a União para serem responsáveis
solidários. Entretanto, o STF e o STJ não admitem o chamamento ao processo nesses casos, pois ampliar o polo passivo é
prejudicial para a saúde do requerente.

5. Incidente de desconsideração personalidade jurídica (arts. 133 a 137 do CPC)


5.1. Conceito e objetivo: suporte ritual aos arts. 50 CC e 28 CDC (133 e 134, § 4º, CPC), inclusive na forma
inversa/expansiva
Até o CPC de 2015, o direito material previa a desconsideração, mas não havia disposição normativa processual sobre o
modo como realizá-la. O CPC/2015 deu suporte processual aos arts. 50 do CC e 28 do CDC. Veja os dispositivos abaixo.

CPC, art. 133 e 134, §4º:


“Art. 133. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica será instaurado a pedido da parte ou do Ministério
Público, quando lhe couber intervir no processo.
§ 1o O pedido de desconsideração da personalidade jurídica observará os pressupostos previstos em lei.
§ 2o Aplica-se o disposto neste Capítulo à hipótese de desconsideração inversa da personalidade jurídica.
Art. 134. O incidente de desconsideração é cabível em todas as fases do processo de conhecimento, no cumprimento de
sentença e na execução fundada em título executivo extrajudicial.
§ 4o O requerimento deve demonstrar o preenchimento dos pressupostos legais específicos para desconsideração da
personalidade jurídica.”

O procedimento estudado no item 5 desta aula é utilizado para todas as formas de desconsideração da personalidade
jurídica: direta, inversa e expansiva.
O suporte processual da desconsideração é utilizado para todos os casos de desconsideração direta, inversa e expansiva.
Questão: Qual é a diferença entre a desconsideração direta, inversa e expansiva?
• A desconsideração direta é a mais tradicional. Neste caso, quem deve é a pessoa jurídica e é necessário
desconsiderá-la para alcançar os bens do sócio.
Exemplo: “A” ajuíza uma ação contra uma empresa, mas todos os bens da empresa foram transferidos aos sócios.
Neste caso, é possível haver desconsideração direta da personalidade jurídica.
• A desconsideração inversa é aquela que afasta a personalidade natural do sócio (devedor), para alcançar o
patrimônio da pessoa jurídica, pois os bens do sócio estão no nome da empresa.
Exemplo: “A” ajuíza uma ação contra uma pessoa física, mas todos os bens foram transferidos para a empresa.
Neste caso, é possível haver desconsideração inversa da personalidade jurídica.
• A desconsideração expansiva ocorre quando a dívida é da pessoa física ou da pessoa jurídica, mas é necessário
alcançar o patrimônio de “laranjas”.
Exemplo: “A” ajuíza uma ação contra uma pessoa física, mas todos os bens foram transferidos para a sogra do
devedor. Neste caso, é possível haver desconsideração expansiva da personalidade jurídica.

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5.2. Dois modelos:
a) ação (134, § 2º, CPC9) (litisconsórcio passivo eventual) (contestação bifronte do desconsiderando) (recurso: apelação)
A desconsideração é pedida na inicial, ajuizada contra pessoa física e pessoa jurídica, ou contra a pessoa e o “laranja”.
Neste caso, a petição inicial possui dois objetivos: cobrar a dívida e mostrar que existe corresponsabilidade.
Ambas (pessoa física e pessoa jurídica) serão citadas como litisconsortes passivos eventuais e se defenderão de todos os
pedidos formulados (obrigação/débito e desconsideração: contestação bifronte).
✓ Contestação bifronte é aquela que ataca a ausência dos requisitos da desconsideração da personalidade jurídica
e nega a existência do débito.
Neste caso, a obrigação e a desconsideração serão decididas em sentença e, portanto, caberá apelação.

b) incidente (c/suspensão do processo – 134, § 3º, CPC10)


Neste caso, a parte entra com a ação em face do devedor e, em determinada fase do processo, faz-se o pedido de
desconsideração da personalidade jurídica. O pedido de desconsideração acarreta a suspensão da ação até o julgamento
do incidente, que verificará se houve violação do art. 50 do CC ou do art. 28 do CDC.
✓ Recurso: agravo de instrumento.

5.3. Momento e cabimento do incidente (art. 134 e 1.062 CPC)

CPC, art. 134: “O incidente de desconsideração é cabível em todas as fases do processo de conhecimento, no
cumprimento de sentença e na execução fundada em título executivo extrajudicial.
§ 1º A instauração do incidente será imediatamente comunicada ao distribuidor para as anotações devidas.
§ 2º Dispensa-se a instauração do incidente se a desconsideração da personalidade jurídica for requerida na petição inicial,
hipótese em que será citado o sócio ou a pessoa jurídica.
§ 3º A instauração do incidente suspenderá o processo, salvo na hipótese do § 2º.
§ 4º O requerimento deve demonstrar o preenchimento dos pressupostos legais específicos para desconsideração da
personalidade jurídica.”

O incidente de desconsideração da personalidade jurídica cabe em qualquer momento do processo e em qualquer grau
de jurisdição.
O incidente de desconsideração da personalidade jurídica é cabível em qualquer processo (procedimento especial,
procedimento comum, cumprimento de sentença, processo de execução, juizados especiais).

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CPC, art. 134, §2º: “Dispensa-se a instauração do incidente se a desconsideração da personalidade jurídica for requerida
na petição inicial, hipótese em que será citado o sócio ou a pessoa jurídica.”
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CPC, art. 134, §3º: “A instauração do incidente suspenderá o processo, salvo na hipótese do § 2o.”

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CPC, art. 1.062: “O incidente de desconsideração da personalidade jurídica aplica-se ao processo de competência dos
juizados especiais”

✓ Obs.: Não cabe intervenção de terceiros nos juizados, exceto o IDPJ.

5.4. Legitimação (art. 133 CPC) (NÃO PODE DE OFÍCIO)


As partes do processo e o MP (quando for fiscal da ordem jurídica) podem requerer a desconsideração da personalidade
jurídica.

CPC, art. 133: “O incidente de desconsideração da personalidade jurídica será instaurado a pedido da parte ou do
Ministério Público, quando lhe couber intervir no processo.
§ 1º O pedido de desconsideração da personalidade jurídica observará os pressupostos previstos em lei.
§ 2º Aplica-se o disposto neste Capítulo à hipótese de desconsideração inversa da personalidade jurídica.”

Cuidado: Não é possível ao juiz fazer a desconsideração de ofício, mas apenas por provocação.

5.5. Procedimento incidental (134, §§ 1º, 3º e 4º): a) requerimento c/ 50 CC ou 28 CDC; b) suspensão; c) citação; d)
defesa (15 dias); e) instrução; f) decisão (sucumbência? - REsp 1.845.536); g) agravo de instrumento (136 e parágrafo e
1.015, IV, CPC)
CPC, art. 134: “O incidente de desconsideração é cabível em todas as fases do processo de conhecimento, no
cumprimento de sentença e na execução fundada em título executivo extrajudicial.
§ 1º A instauração do incidente será imediatamente comunicada ao distribuidor para as anotações devidas.
(...)
§ 3º A instauração do incidente suspenderá o processo, salvo na hipótese do § 2º.
§ 4º O requerimento deve demonstrar o preenchimento dos pressupostos legais específicos para desconsideração da
personalidade jurídica.”

O procedimento é constituído pelas seguintes etapas:


a) requerimento fundamentado com a indicação dos requisitos do art. 50 do CC ou do art. 28 do CDC.
✓ A petição intermediária deve conter a narrativa de que estão presentes os requisitos do art. 50 do CC ou do art.
28 do CDC (a depender da relação existente).

b) Suspensão da ação
Em virtude da admissão do incidente de desconsideração, ele suspenderá a ação para verificar se haverá a
responsabilização do sócio, da sociedade ou de terceiro (que passará a ser corresponsável).

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c) Citação do desconsiderando (sócio, sociedade ou laranja) – No CPC revogado, havia a desconsideração sem haver a
citação do desconsiderando e, portanto, sem defesa.

d) Apresentação de defesa do sócio, sociedade ou laranja para que responda o incidente no prazo de 15 dias.

e) Instrução – Pode acontecer de ser necessária instrução (produção de provas).

f) decisão (sucumbência? - REsp 1.845.536)


A natureza jurídica do pronunciamento judicial que julga o incidente de desconsideração da personalidade jurídica é
decisão interlocutória, pois não põe fim ao processo.
✓ Em tal decisão, o juiz pode decidir pela não desconsideração ou pela desconsideração.

Questão: A decisão do juiz que julga o incidente de desconsideração da personalidade jurídica possui sucumbência?
O STJ, no julgamento do REsp 1.845.536, entendeu que não cabe condenação em honorários no incidente de
desconsideração da personalidade jurídica. Entretanto, segundo o professor, esse entendimento não é justo, pois a parte
precisou contratar advogado para se defender e assumiu custos indevidos.

g) agravo de instrumento (136 e parágrafo e 1.015, IV, CPC)


O recurso cabível é o agravo de instrumento.

CPC, art. 136: “Concluída a instrução, se necessária, o incidente será resolvido por decisão interlocutória.
Parágrafo único. Se a decisão for proferida pelo relator, cabe agravo interno.”

CPC, art. 1015, IV: “Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre: (...)
IV - incidente de desconsideração da personalidade jurídica;”

5.6. Embargos de terceiro quando não instaurado o incidente (art. 674, § 2º CPC)

CPC, art. 674, §2º: “Considera-se terceiro, para ajuizamento dos embargos:
I - o cônjuge ou companheiro, quando defende a posse de bens próprios ou de sua meação, ressalvado o disposto no art.
843;
II - o adquirente de bens cuja constrição decorreu de decisão que declara a ineficácia da alienação realizada em fraude à
execução;
III - quem sofre constrição judicial de seus bens por força de desconsideração da personalidade jurídica, de cujo
incidente não fez parte;
IV - o credor com garantia real para obstar expropriação judicial do objeto de direito real de garantia, caso não tenha sido
intimado, nos termos legais dos atos expropriatórios respectivos.”

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Nos termos do art. 674, §2º, CPC, caso, eventualmente, o terceiro (sócio ou sociedade) tenha o patrimônio atingido em
virtude de desconsideração que não considerou os preceitos/procedimentos do art. 133, CPC, poderá ingressar com
embargos de terceiro.
✓ Se, eventualmente, o terceiro participou do processo por meio do incidente de desconsideração da personalidade
jurídica, ele não poderá apresentar embargos de terceiro, pois, neste caso, ele deixará de ser terceiro e passará a
ser parte do processo.

5.7. Responsabilidade tributária (arts. 134 e 135 CTN) e IDPJ (STJ, Resp. Resp. 1.173.201/SC, AREsp n. 1.700.670/GO;
REsp 1.963.597/DF)
Existem hipóteses previstas nos arts. 134 e 135 do CTN em que há a previsão de uma automaticidade da responsabilização
do sócio e/ou da pessoa jurídica pelo tributo (responsabilidade tributária).
✓ O STJ decidiu que, nas hipóteses dos arts. 134 e 135 do CTN, não é necessária a instauração do IDPJ para permitir
a inserção do responsável tributário no polo passivo da demanda.
Argumentos:
1º) Os arts. 134 e 135 do CTN não se referem à desconsideração da personalidade jurídica.
2º) A responsabilidade tributária deriva automaticamente da lei. Assim, nas hipóteses dos arts. 134 e 135 do CTN,
a responsabilização é automática e, portanto, não se aplica o IDPJ.
✓ Como há disposição legal especial, não há a aplicação do incidente de desconsideração da PJ, pois prevalece o
interesse público.

TEMA: JUIZ no processo civil

1. Do juiz
1.1. Deveres/poderes (139, CPC) (COOPERAÇÃO – art. 6º, CPC11)

Dever-poder
O juiz tem deveres e, para cumprimento desses deveres, a lei lhe outorga alguns poderes.

O professor destaca que é impossível falar sobre esse tema sem fazer remissão ao art. 6º do CPC.
✓ Em relação ao princípio da cooperação (art. 6º, CPC), o professor destaca que o juiz tem a função de colaborar
com as partes a fim de se alcançar uma decisão de mérito justa e efetiva.
✓ O juiz dirige o processo, mas com um diálogo franco com as partes (presidencialismo cooperativo).

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CPC, art. 6º: “Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão
de mérito justa e efetiva”

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O art. 139, CPC12 traz vários poderes-deveres ao juiz (o juiz apenas tem poderes para cumprir deveres). São eles:
I) igualdade de tratamento (7º CPC)
II) razoável duração do processo (art. 4º CPC) (art. 5º, LXXVIII, CF)
III) preservação da probidade processual (5º, 77 a 81, 772, I, 774, CPC) – O juiz deve tutelar a boa-fé processual do art. 5º
do CPC.
IV) dever de efetivação (MEDIDAS ATÍPICAS – STJ, RHC 97.876) (STF ADI 5941)
V) incentivar a autocomposição (art. 3º, 334 e 695 CPC) – O professor explica que o juiz deve ser um constante tutelador
das normas fundamentais do art. 3º do CPC.
VI) flexibilização procedimental legal genérica MITIGADA (437 CPC) – Será trabalhado no decorrer do curso.
VII) poder de polícia (78 e 360 CPC) – O juiz é presidente do processo e deve, portanto, dirigi-lo adequadamente.
VIII) interrogatório judicial (diferente de depoimento pessoal – art. 385 CPC).
IX) interesse jurisdicional no conhecimento do mérito (338/339 e 932 CPC)
X) Representação para coletivização de demandas (art. 7º da LACP) – O juiz, ao tomar conhecimento de várias demandas
repetidas, deverá provocar os órgãos competentes para que haja a propositura de ação coletiva.
✓ Obs.: Todos os dispositivos citados devem ser lidos com calma pelos alunos.

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CPC, art. 139: “O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe:
I - assegurar às partes igualdade de tratamento;
II - velar pela duração razoável do processo;
III - prevenir ou reprimir qualquer ato contrário à dignidade da justiça e indeferir postulações meramente protelatórias;
IV - determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para assegurar o
cumprimento de ordem judicial, inclusive nas ações que tenham por objeto prestação pecuniária;
V - promover, a qualquer tempo, a autocomposição, preferencialmente com auxílio de conciliadores e mediadores
judiciais;
VI - dilatar os prazos processuais e alterar a ordem de produção dos meios de prova, adequando-os às necessidades do
conflito de modo a conferir maior efetividade à tutela do direito;
VII - exercer o poder de polícia, requisitando, quando necessário, força policial, além da segurança interna dos fóruns e
tribunais;
VIII - determinar, a qualquer tempo, o comparecimento pessoal das partes, para inquiri-las sobre os fatos da causa,
hipótese em que não incidirá a pena de confesso;
IX - determinar o suprimento de pressupostos processuais e o saneamento de outros vícios processuais;
X - quando se deparar com diversas demandas individuais repetitivas, oficiar o Ministério Público, a Defensoria Pública e,
na medida do possível, outros legitimados a que se referem o art. 5º da Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985 , e o art. 82
da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 , para, se for o caso, promover a propositura da ação coletiva respectiva.
Parágrafo único. A dilação de prazos prevista no inciso VI somente pode ser determinada antes de encerrado o prazo
regular.”

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➢ Os incisos destacados são os que mais merecem destaque:
IX) interesse jurisdicional no conhecimento do mérito (exemplos: 338/339 e 932, § único, CPC)

“Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe:
(...)
IX - determinar o suprimento de pressupostos processuais e o saneamento de outros vícios processuais”

O princípio da primazia do julgamento do mérito traz a ideia de que o juiz possui, entre os seus deveres, a função de tentar
solucionar as demandas por meio de uma decisão de mérito (sempre que possível). Trata-se do princípio do interesse
jurisdicional no conhecimento do mérito.

✓ A negativa da prestação jurisdicional, com a extinção do processo sem o julgamento do mérito, gera frustração.
Com o fito de evitar essa frustração, o CPC traz instrumentos que impõem ao juiz o dever de cooperar, mostrando às
partes os vícios existentes e dando-lhes oportunidade para a correção.

Exemplo 1:
Arts. 338 e 339 do CPC13: estabelecem que o réu, verificando que não é parte legítima no processo, deverá indicar para
o autor quem é a parte legítima. Após isso, poderá haver a correção da parte passiva do processo.

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CPC, artigos 338 e 339:
“Art. 338. Alegando o réu, na contestação, ser parte ilegítima ou não ser o responsável pelo prejuízo invocado, o juiz
facultará ao autor, em 15 (quinze) dias, a alteração da petição inicial para substituição do réu.
Parágrafo único. Realizada a substituição, o autor reembolsará as despesas e pagará os honorários ao procurador do réu
excluído, que serão fixados entre três e cinco por cento do valor da causa ou, sendo este irrisório, nos termos do art. 85,
§ 8o.
Art. 339. Quando alegar sua ilegitimidade, incumbe ao réu indicar o sujeito passivo da relação jurídica discutida sempre
que tiver conhecimento, sob pena de arcar com as despesas processuais e de indenizar o autor pelos prejuízos decorrentes
da falta de indicação.
§ 1o O autor, ao aceitar a indicação, procederá, no prazo de 15 (quinze) dias, à alteração da petição inicial para a
substituição do réu, observando-se, ainda, o parágrafo único do art. 338.
§ 2o No prazo de 15 (quinze) dias, o autor pode optar por alterar a petição inicial para incluir, como litisconsorte passivo,
o sujeito indicado pelo réu.”

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Exemplo 2:
O art. 932, § único do CPC14 é dispositivo dirigido aos tribunais superiores. Ele estabelece que qualquer vício do recurso
não pode levar à extinção do processo sem que o Relator tenha concedido o prazo de 5 dias para que seja sanado o vício
ou complementada a documentação exigível.

IV- dever de efetivação (MEDIDAS ATÍPICAS – STJ, RHC 97.876) (STF ADI 5941):
O STF confirmou a constitucionalidade do inciso IV do art. 139 do CPC.
O inciso IV do art. 139 é um dos dispositivos mais polêmicos do novo CPC, porque, com base nele, doutrina e
jurisprudência têm construído a questão das medidas atípicas (não previstas em lei) a serem adotadas pelo juiz.

O novo CPC, no artigo 139, inciso IV, determina que:


“Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe:
(...)
IV - determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para assegurar o
cumprimento de ordem judicial, inclusive nas ações que tenham por objeto prestação pecuniária.”

✓ A grande mudança no CPC/2015 é incluir, ao final do Inciso IV, art. 139, a abrangência de medidas atípicas para
as obrigações de pagar quantia.
✓ Assim, com base no artigo 139, inciso IV, CPC, é possível determinar medidas indutivas, coercitivas, mandamentais
e sub-rogatórias também para as obrigações de pagar quantia. Exemplos: suspensão da CNH, apreensão de
passaporte, bloqueio de cartão de crédito.

Medidas atípicas – CONDIÇÕES


O STJ estabeleceu ao menos cinco condições para a utilização das medidas atípicas:
1) Esgotamento das medidas típicas - Segundo o professor, essa condição estabelece uma subsidiariedade das medidas
atípicas.

Exemplo: É possível a suspensão da CNH do devedor desde que, exemplificativamente, tenha havido tentativa de penhora
on-line, de dinheiro, de veículo, de imóveis, o devedor tenha sido intimado a pagar sob pena de multa e nada tenha
funcionado.

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CPC, art. 932, § único: “ Antes de considerar inadmissível o recurso, o relator concederá o prazo de 5 (cinco) dias ao
recorrente para que seja sanado vício ou complementada a documentação exigível.”

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A lógica de esgotar as medidas típicas é a incidência do princípio da menor onerosidade (art. 805 do CPC15).
✓ Havendo mais de um meio para realizar a execução (sendo todos igualmente eficazes para obter o pagamento),
deve-se escolher sempre o meio menos gravoso para o devedor.

Obs.: O professor destaca que essa primeira condição deve ser adotada como regra geral. Na opinião dele, o juiz pode
adotar a medida atípica em primeiro lugar se ele conseguir verificar, no caso concreto, que ela é menos gravosa do que a
medida típica.
Exemplo: Imagine um caso em que uma família será despejada (medida típica). Neste caso, poderia ser utilizada uma
medida atípica menos gravosa como, por exemplo, interromper o fornecimento de energia elétrica daquela família.

2) Contraditório prévio com o prejudicado – É necessário que o devedor seja ouvido antes de o juiz decretar a medida
atípica. Isso é importante para que o devedor possa apresentar alguma justificativa para o não cumprimento da obrigação
ou para apontar que, naquele caso concreto, a medida atípica é desproporcional/inconstitucional.
Exemplo: apreensão de CNH de um motorista profissional. Neste caso, a apreensão trará ainda mais prejuízos no caso
concreto.

3) Razoabilidade/proporcionalidade
a) eficácia da medida aplicada para compelir o cumprimento da obrigação ou revelação de bens
✓ Só faz sentido aplicar a medida atípica se ela for eficaz para o cumprimento da obrigação (exemplo: não adianta
suspender a CNH de quem não tem carro e não dirige com habitualidade).
✓ Obs.: As medidas atípicas são utilizadas contra aquele que tem como pagar a dívida e não paga. Ela não pode ser
utilizada contra aquele que não possui meios de satisfazer a dívida, pois, do contrário, a medida atípica vira sanção
e esta não é a função do processo civil.

b) temporariedade
A temporalidade se refere ao fato de que a medida atípica deve ter prazo para terminar. Medida atípica não é sanção,
mas medida para coerção.

4) Fundamentação
Todas as decisões judiciais devem ser fundamentadas. Entretanto, neste caso, é necessária uma fundamentação especial,
pois, nestas situações, o juiz está invadindo a esfera dos direitos fundamentais.
✓ A fundamentação serve, inclusive, para apontar o preenchimento das condições anteriores.

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CPC, art. 805: “Quando por vários meios o exequente puder promover a execução, o juiz mandará que se faça pelo
modo menos gravoso para o executado.
Parágrafo único. Ao executado que alegar ser a medida executiva mais gravosa incumbe indicar outros meios mais eficazes
e menos onerosos, sob pena de manutenção dos atos executivos já determinados.”

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5) Limite nas garantias constitucionais (Passaporte – STF, RHC 173.332)
A princípio, a adoção de medidas atípicas (salvo casos esdrúxulos) não é inconstitucional. Entretanto, no caso concreto, é
possível verificar a inconstitucionalidade.
Exemplo de medida inconstitucional: pagar a dívida sob pena de receber 10 chibatadas.

Já há um precedente do STF (Passaporte – STF, RHC 173.332) afirmando que é possível apreender passaporte, pois não
existe, em tese, o direito de ir e vir para outro país. O mesmo raciocínio se aplica à suspensão da CNH.

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