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02/12/2015 Acordão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdãos STA Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo


Processo: 01018/15
Data do Acordão: 12­11­2015
Tribunal: 1 SECÇÃO
Relator: COSTA REIS
Descritores: CONCURSO
ADJUDICAÇÃO DE OBRAS PÚBLICAS
IMPUGNAÇÃO
ACTO DE ADJUDICAÇÃO
CONTRA­INTERESSADO
Sumário: I ­ Na categoria de contra interessado decorrente do disposto
do art.º 57.º do CPTA cabem duas espécies de pessoas; em
primeiro lugar, aquelas que são directamente prejudicados
pela anulação ou declaração de nulidade do acto impugnado
e, depois, aquelas cujo prejuízo não resulta directamente
dessa anulação ou declaração de nulidade mas que, ainda
assim, têm interesse legítimo na manutenção do acto visto
que, se assim não for, verão a sua esfera jurídica ser
negativamente afectada.
II ­ O que evidencia que o conceito de contra interessado
está indissociavelmente associado ao prejuízo que poderá
advir da procedência da acção impugnatória para todos
aqueles que, de algum modo, estiveram envolvidos na
relação material controvertida.
III ­ Deste modo, e sendo que a anulação o acto de
adjudicação só acarretará prejuízo para a entidade que o
praticou e para o adjudicatário, todos os outros oponentes ao
concurso – do segundo ao último classificado – irão
beneficiar do acto anulatório na medida em que, por força
dessa anulação, será refeito o processo administrativo e
praticado um novo acto classificatório que, colocando um
deles na primeira posição, o fará beneficiário do contrato.
IV ­ Daí que só o adjudicatário seja contra interessado uma
vez que só ele tem um interesse convergente com o
interesse da entidade demandada.
Nº Convencional: JSTA000P19706
Nº do Documento: SA12015111201018
Data de Entrada: 13­10­2015
Recorrente: A..., LDA
Recorrido 1: MUNICÍPIO DE MOGADOURO E C..., LDA
Votação: UNANIMIDADE
Aditamento:

Texto Integral

Texto Integral: ACORDAM NA SECÇÃO DE CONTENCIOSO


ADMINISTRATIVO DO STA:

A……………, L.da, intentou, no TAF de Mirandela, contra o

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02/12/2015 Acordão do Supremo Tribunal Administrativo

Município do Mogadouro, acção administrativa especial de


contencioso pré­contratual pedindo a anulação da
decisão do Réu, de 25/03/14, que adjudicou a empreitada de
obra pública denominada “Loteamento Industrial de
Mogadouro – III Fase” à sociedade B…………., Lda.
Por sentença de 31/10/2014, a acção foi julgada
procedente e anulados não só o acto de adjudicação como
o contrato celebrado na sequência do mesmo.

C………., L.da, ­ uma das oponentes ao referido concurso ­


invocando o disposto no art.ºs 154.º e 155.º do CPTA,
interpôs recurso de revisão dessa sentença alegando não
ter sido citada para intervir como Contra Interessada.
Recurso a que o TAF não concedeu provimento.
A referida sociedade recorreu dessa decisão para o TCA
Norte e este, por Acórdão de 5/06/2015, concedeu
provimento ao recurso e declarou o processado nulo a
partir da petição inicial.
É deste Acórdão que vem o presente recurso, interposto
pela Autora – A…………… L.da ­ a coberto do disposto no
art.º 150.º do CPTA.
Nele foram formuladas as seguintes conclusões:
1. O Acórdão recorrido deve ser revogado.
2. À luz do disposto no n.º 1 do art.º 150° do CPTA, afigura­
se­nos, sem margem de subjectividade, que a questão
controvertida nos presentes autos se reveste de uma
importância fundamental, quer pela sua relevância jurídica,
quer pela sua relevância social.
3. Devendo, desde logo, por esse facto, admitir­se o
presente recurso de revista.
4. A questão central sub judice versa sobre a definição de
contra ­ interessados na acção administrativa especial de
impugnação de actos administrativos.
5. Sendo que, e como terá oportunidade de vislumbrar­se
infra, estamos perante o facto evidente de que existe uma
errada interpretação do art.° 57° do CPTA no Acórdão
proferido pelo Tribunal Central Administrativo Norte (TCAN),
o recurso de revista revela­se, “in casu”, absolutamente
fundamental para uma melhor aplicação do direito.
6. A decisão recorrida determina a revogação da decisão
proferida em 1.ª Instância pelo TAF de Mirandela, deferindo o
pedido de revisão formulado a fls., declarando a nulidade do
processado a partir da petição inicial.
7. Esta decisão vem na sequência da interposição do recurso
jurisdicional do acórdão proferido em 16.02.2015 pelo TAF
de Mirandela, o qual indeferiu a reclamação para a

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conferência interposta pela recorrente do despacho de fls. de


20.01.2015, o qual havia indeferido o recurso de revisão
interposto da sentença de 31.10.2014
8. Estamos perante decisões totalmente opostas, que põem
em causa a apreciação de uma questão de grande
relevância jurídica e ainda de maior relevância social que
não pode deixar de ser apreciada por este Supremo Tribunal,
pois só assim se aplicará o direito e se fará a devida justiça!
9. De acordo com o art.° 57° do CPTA são contra­
interessados aqueles “…a quem o provimento do processo
impugnatório possa directamente prejudicar ou que tenham
legítimo interesse na manutenção do acto impugnado...”.
10. Efectivamente, o que está aqui em causa é a definição
de contra­interessados na causa.
11. Há um lapso na definição de contra­interessados, tanto
na 1.ª como na 2.ª instância.
12. Estamos claramente perante uma situação jurídica
relevante, pelo que, apenas com a intervenção do STA serão
definidas as coordenadas para decisões futuras.
13. O TCA Norte tem razão ao afirmar que o TAF de
Mirandela errou na definição de contra­interessados.
14. Mas também este tribunal superior erra na sua definição
de contra interessados.
15. O TAF de Mirandela errou na definição de contra­
interessados por excesso de zelo, pois deveria apenas ter
citado o verdadeiro contra­interessado, que era aquele que
estava classificado em primeiro lugar.
16. Escreve o Prof. VIEIRA DE ANDRADE, in “Justiça
Administrativa”, 2012, 12.ª Edição, pág. 253, que “Ao lado
das partes principais ­ ao lado do autor (ad adjuvandum),
bem como ao lado do réu (ad opponendum) ­ podem surgir,
como partes acessórias, os assistentes, ou seja, as pessoas
interessadas em que o litígio seja resolvido a favor de uma
das partes, havendo ainda a considerar no processo
administrativo a posição especial do Ministério Público. Em
primeiro lugar, são de destacar os contra­interessados,
designação que cabe aos que tenham interesse directo e
pessoal em que não se dê provimento à acção (não é
necessária a titularidade de uma posição jurídica própria),
em regra, os particulares nos processos dirigidos contra a
Administração (...)“
17. O Ilustre Professor de Coimbra estabelece ainda uma
pertinente distinção: entre contra­interessados e co­
interessados.
18. Segundo o Autor, estes últimos são “(...) os terceiros que
tenham interesse em que não se dê provimento ao pedido do
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autor (...)“, ob. cit., pág. 254.


19. Pegando na definição de contra­interessados acima
transcrita, concluímos que apenas um dos concorrentes
estaria na posição de contra­interessado, pois só a ele o
provimento da acção poderia prejudicar (porque seria tolhida,
como foi efectivamente, a adjudicação da obra).
20. Com efeito, só ele tinha interesse na manutenção do acto
impugnado, pois só assim realizaria a obra.
21. Apenas este concorrente tem um interesse idêntico ao do
réu. Todos os outros concorrentes têm um interesse idêntico
ao da Autora, ou seja, a anulação do concurso, pelo que não
são contra­interessados.
22. Mas sim co­interessados.
23. Não há assim preterição de qualquer formalismo legal.
24. A definição de contra­interessados é relevante para a
identificação dos sujeitos processuais.
25. O contra­interessado é um litisconsorte necessário
passivo. Há uma identidade de interesses entre o Réu e o
contra­interessado. O contra­interessado não deduz nenhum
pedido, defende a posição do réu, pois os seus interesses
são iguais.
26. Portanto, numa situação de concurso público para
adjudicação de uma empreitada de obras públicas, apenas o
adjudicatário tem um interesse coincidente com o da
entidade administrativa adjudicante.
27. Apenas este é, no rigor dos rigores, à luz do disposto no
artigo 57º do CPTA, contra­interessado.
28. Assim, a recorrente C……………… não é contra­
interessada no processo.
29. A recorrida não tem legitimidade para intervir no
processo nessa qualidade, podendo fazê­lo, todavia, como
interveniente processual recorrendo à figura do assistente.
30. O sumário do Acórdão recorrido diz o seguinte: “3. No
procedimento pré­contratual em que apenas o candidato que
apresentou a proposta graduada em primeiro lugar poderá
tornar­se titular da relação jurídica contratual, os que ficaram
com as respectivas propostas graduadas após a do
impugnante ­ que não está em posição que lhe permita vir a
celebrar o contrato e daí a legitimidade activa ­ não ficam
pior se o acto for anulado pois em qualquer caso, sendo o
acto anulado ou não, nunca veriam a sua proposta ocupar
aquela posição. 4. Os candidatos que apresentaram
propostas classificadas abaixo da proposta do impugnante
não têm um interesse contraposto ao do impugnante nem
têm interesse na manutenção do acto impugnado, pelo que
não são contra­interessados para efeitos do disposto no
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artigo 57° do CPTA.


31. Repare­se que o próprio acórdão segue o entendimento
por nós defendido.
32. Efectivamente os concorrentes classificados abaixo do
impugnante não ficam prejudicados pela anulação do acto
impugnado, nem têm interesse na manutenção do acto
impugnado.
33. Mas na mesma situação estão os concorrentes
classificados acima do impugnante, excepto o candidato cuja
proposta foi graduada em primeiro lugar.
34. É aqui que o Tribunal erra no seu julgamento.
35. A verdade é que tanto o 2° como o 23° classificados não
ficam prejudicados pela anulação do acto impugnado, nem
têm interesse na manutenção do acto impugnado.
36. No douto Acórdão também se diz que sendo o acto
anulado na totalidade, abre­se nova possibilidade de os
classificados nos lugares cimeiros verem a sua proposta
ocupar o primeiro lugar.
37. Assim, na verdade estes candidatos são co­interessados!
38. Defende ainda o douto Acórdão que o que está em causa
no presente concurso é a ocupação do lugar primeiro.
39. Também aqui o Tribunal erra.
40. O que se discute no processo não é a classificação das
propostas, mas sim a legalidade do concurso, uma vez que o
mesmo previa critérios ilegais.
41. Ora, sendo anulado este concurso, nenhum dos
concorrentes ocuparia o primeiro lugar.
42. A argumentação defendida pelo TCA Norte no seu
acórdão não é uma argumentação sólida.
43. Este Tribunal cita um acórdão do TCA Norte, de
15.12.2005, no processo 01332/04.4BEPRT para defender
que apenas os concorrentes classificados acima do
impugnante são considerados contra­interessados. O que
está em causa neste acórdão é um concurso de ingresso
para a admissão de um estágio da carreira técnica superior
com vista ao provimento como técnico superior de 2ª classe.
44. Este acórdão vem na sequência de um recurso de um
despacho de absolvição da instância por ilegitimidade
passiva.
45. Como sustenta este acórdão: “. . . Ora, os classificados
depois da recorrente, que o foi em 3° lugar para uma vaga de
um lugar, e que não recorreram desse acto, aceitando
portanto a classificação directamente apenas podem
beneficiar do provimento do recurso, sendo que qualquer
interesse indirecto, como o é o alegado pela entidade
recorrida, não só não é aqui juridicamente tutelável, como,
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caso ocorra, pode sempre ser sindicado.”­ sublinhado nosso.


46. O próprio acórdão admite que os classificados depois da
recorrente, se não recorreram do acto administrativo foi
porque aceitaram a sua classificação.
47. Ou seja, todos os concorrentes que não ficaram
classificados em 1º lugar poderiam ter recorrido do acto de
adjudicação. Não o fazendo, estão a aceitar a sua “derrota”.
48. Daqui também retiramos que todos os concorrentes
classificados além do 1° lugar, têm o mesmo interesse da
recorrida, pelo que não são contra­interessados.
49. Este mesmo acórdão refere “… de qualquer forma, e
mesmo que entendesse que a legitimidade passiva era de
todos os candidatos, nunca deveria a M.mª Juiz a quo
absolver a aqui recorrente da instância sem expressamente
a convidar a indicar o nome de todos os concorrentes... “, ou
seja, admite que o tribunal poderia entender que todos os
concorrentes tinham legitimidade passiva. Foi o que sucedeu
no caso em apreço, o TAF de Mirandela entendeu que todos
os concorrentes eram contra­interessados, tendo­os citado
na forma prevista pela lei.
50. Analisado o acórdão que sustenta a fundamentação da
decisão do TCAN, concluímos que a mesma radica numa
argumentação muito frágil.
51. Cada caso é um caso, e a classificação de candidatos no
âmbito da contratação de pessoal no sector público é
totalmente distinto da contratação para a realização de
empreitadas de obras públicas.
52. Num contrato de adjudicação de empreitada de obras
públicas apenas o concorrente classificado em primeiro lugar
tem hipótese de celebrar este contrato.
53. Todos os outros concorrentes são apenas isso, alguém
que concorreu a um concurso público e não ocupou o
primeiro lugar.
54. Nenhum deles tem qualquer hipótese de realizar a obra.
55. Estando, portanto, todos no mesmo patamar.
56. O interesse do contra­interessado é um interesse idêntico
ao do réu, logo, apenas o vencedor pode ser contra­
interessado.
57. Neste sentido vide o Acórdão do TCA Sul, de 23­05­
2013, no processo 9901/13 que ora transcrevemos:
“I ­ Os contra­interessados são, com base na relação
material trazida a juízo ou com base no p.a., os titulares de
um direito ou interesse legítimo contraposto ao interesse
prosseguido pelo autor, isto em termos directos e imediatos a
partir da eventual decisão final.
II ­ Os contra­interessados estão em situação de
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litisconsórcio necessário (passivo) com os réus ou


requeridos.”
58. Ainda seguindo a mesma orientação veja­se o Acórdão
do TCA Norte, de 25­01­2013, no processo
02424/07.3BEPRT­A:
“I ­ A figura jurídica do contra­interessado justifica­se pelas
implicações lesivas que pode ter a invalidação ou a anulação
de um acto administrativo em terceiros, e pela certeza e
segurança visadas pela ordem jurídica;
II ­ Tal figura jurídica está pensada para actuar do lado da
entidade autora do acto, do lado do demandado e não do
lado do autor, do lado do impugnante;
III ­ Não fará sentido, portanto, mesmo invocando o princípio
da tutela jurisdicional efectiva, defender a figura do contra­
interessado plenipotenciário, que tanto pode esgrimir do lado
do réu como do lado do autor, pois não é essa figura jurídica
que consagra a lei;
IV. ­ Se o interessado pretende defender a posição do autor,
por ser também esse o seu interesse, então devê­lo­á fazer
não enquanto contra­interessado, mas intervindo ao lado do
autor da acção, e requerendo ao tribunal, para tanto, a sua
intervenção principal;” ­ sublinhado nosso.
59. Assim, com todo o devido respeito, deve considerar­se a
matéria controvertida nos presentes autos como matéria de
especial relevância jurídica e social.
60. Acresce que, entendemos que a admissão do recurso é
claramente necessária para uma melhor aplicação do direito.
61. Eis o motivo porque entendemos que não faz sentido a
decisão recorrida e carece de uma reapreciação superior.
62. Para finalizar, importa referir que a recorrente ficou
classificada em 4° lugar. A recorrente apenas sustenta o seu
recurso na falta de citação, nada dizendo quanto a uma
eventual impossibilidade de exercer o seu direito.
63. Questionámo­nos o que iria dizer a recorrente caso se
tivesse constituído como contra­interessada no processo.
Diria que o acto era legal? Sendo legal estaria então
conformada com sua classificação em 4° lugar. Qual é o
interesse em estar em 4º lugar? Não vai fazer a obra, pelo
que não tem interesse nenhum na manutenção do acto
impugnado.
64. Todos os concorrentes, à excepção do adjudicatário,
ganham com a procedência da acção movida pela recorrida,
pois todos têm interesse na anulação do acto impugnado.
65. Em rigor, como bem consignou o TAF de Mirandela a
recorrente nada aduz quanto a uma eventual
impossibilidade de exercer o seu direito, apenas
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sustentando que não foi citada.


66. A recorrente nada diz quanto ao exercício do seu direito
em contradizer, por não ter qualquer interesse em agir.
67. Aspecto que o TAF de Mirandela ­ ao contrário do que
ora sucedeu com o TCAN ­ pôs muito claramente em
evidência.
68. Dai extraindo todas as consequências juridicamente
relevantes.
69. O TCAN não analisa a questão concreta subjacente aos
autos.
70. Nesse sentido, nunca a decisão “sub judice” poderia ter
sido proferida
71. O Tribunal “a quo” fez uma avaliação errónea da
definição de contra­interessados.
72. Devendo a mesma, desde logo por isso, ser totalmente
revogada, com todas as legais consequências.
73. Entende a decisão recorrida que a citação feita através
de publicação na plataforma electrónica “Vortalgov” não
corresponde a um dos meios de publicidade previstos na lei
para a hipótese de haver mais de 20 contra­interessados no
processo de contencioso pré­contratual.
74. Dispõe o art.° 82°, nº1 do CPTA que “quando os contra­
interessados sejam em número superior a 20, o tribunal pode
promover a respectiva citação mediante a publicação de
anúncio...
75. Nos termos do n.º 2 deste normativo legal “quando esteja
em causa a impugnação de um acto que tenha sido
publicado, a publicação do anúncio mencionado no número
anterior faz­se pelo meio e no local utilizados para dar
publicidade ao acto impugnado.”
76. Ora, a decisão de adjudicação – que é o acto impugnado
­ foi publicada na plataforma electrónica “Vortalgov”, portanto
entendemos que este é o local e o meio adequado para
publicação deste anúncio.
77. E mais, a plataforma electrónica “Vortalgov” não é
apenas destinada à fase administrativa do concurso. Todas
as publicações que existam relativas a um concurso a que a
entidade tenha concorrido são notificadas a esta entidade
por e mail, mesmo após a fase de adjudicação!
78. Questionamo­nos se, numa altura em que os “boletins da
autarquia, éditos e jornais de circulação nacionais” foram
claramente ultrapassados pela informação electrónica, não
será este o meio mais seguro para dar conhecimento aos
possíveis contra­interessados numa acção em que estes
sejam em número superior a 20?
79. Assim, apesar de entendermos que o TAF de Mirandela
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errou ao citar todos os concorrentes, devendo apenas citar a


empresa adjudicatária da obra, o seu entendimento foi mais
correcto e mais cauteloso do que o do TCAN, tendo citado os
concorrentes do modo exigido pela lei.
80. Por tudo o acima exposto, a decisão recorrida tem de ser
revogada.

C……………, L.da contra alegou para concluir como se


segue:
A. O presente Recurso de Revista vem Interposto pela
A……………, Lda. do Acórdão proferido em 05.06.2015, pelo
TCA Norte, nos termos do qual foi (i) revogada a Sentença
proferida pelo TAF de Mirandela, (ii) deferido o Recurso de
Revisão, e, bem assim, (iii) determinada a nulidade de todo o
processado a partir da Petição Inicial.
B. Face aos termos que a Recorrente empresta ao seu
Recurso de Revista, levanta­se uma Questão
Prévia/Excepção relativa pressupostos de admissibilidade do
Recurso de Revista que, por proceder, determina que o
Recurso sub judíce seja liminarmente rejeitado em sede de
Apreciação Preliminar Sumária, a efectuar ao abrigo do
disposto no artigo 150, n.º 5, do CPTA.
C. Em matéria de Questão Prévia/Excepção, começou por se
demonstrar, em primeiro lugar, que a Recorrente não
demonstra ­ e não se pode dizer, com propriedade, que
alegue de forma processualmente admissível ­ que se
encontram verificados os pressupostos de que o artigo 150.º,
nº 1, do CPTA, faz depender a admissão do excepcional
Recurso de Revista, o que constitui fundamento para
imediato indeferimento liminar do Recurso de Revista, em
sede de apreciação preliminar sumária.
D. Em segundo lugar, porquanto ainda que essa alegação
seja feita ­ o que não se concede ­, a verdade é que, in casu,
a Recorrente não demonstra em que medida as questões
submetidas ao crivo deste Supremo Tribunal Administrativo
sejam dotadas de relevância jurídica de importância
fundamental, nem em que medida as questões submetidas a
apreciação sejam dotadas de relevância social fundamental.
E. Ainda em matéria de Questão Prévia/Excepção,
demonstrou­se também que a revisão do Acórdão proferido
pelo Tribunal a quo não é necessária para uma melhor
aplicação do direito, uma vez que os critérios que a
Jurisprudência tem erigido para construir e edificar esse
conceito indeterminado de “melhor aplicação do direito” não
se verificam no caso vertente,
F. Em suma, e como se demonstrou, a Recorrente interpôs o

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presente Recurso de Revista na convicção de que era mais


um normal grau de jurisdição, pois não demonstra a
verificação/preenchimento dos pressupostos muito
específicos e restritos de admissibilidade do Recurso de
Revista, Ignorando, por completo, que se trata de um recurso
excepcional, só admissível quando esteja em causa a
apreciação de uma questão que, pela sua relevância jurídica
ou social, assuma importância fundamental ou quando a
admissão do recurso seja claramente necessária para uma
melhor aplicação do direito, tal como se prescreve no artigo
150º, nº 1, do CPTA.
G. Caso assim não se entenda, e se considere que a
Recorrente tentou invocar e demonstrar estar em causa “a
apreciação de uma questão que, pela sua relevância jurídica
ou social, se revista de importância fundamental” ­ o que não
se vê como possa suceder, mas se admite por cautela
processual e de patrocínio ­, a verdade é que esse
desiderato não foi alcançado, porquanto, in casu, não se vê
como as questões em escrutínio sejam dotadas de
relevância jurídica e/ou social de importância fundamental.
H. A questão em apreço não é dotada de especial ou
elevada complexidade, não exigindo difíceis operações
exegéticas, nem o enquadramento normativo é intrincado,
complexo ou confuso, da mesma forma que não há
necessidade de compatibilizar diversos regimes legais,
princípios e/ou institutos jurídicos, assim como a análise da
questão não suscita dúvidas ao nível da Jurisprudência e/ou
da Doutrina, com o que não se tem por verificado o
pressuposto da “relevância jurídica de importância
fundamental’.
I. Quanto à “relevância social fundamental”, também não
estamos perante um caso que apresente contornos
indiciadores de que a utilidade da decisão extravasa os
limites do caso concreto e das partes envolvidas no litígio,
não havendo qualquer interesse comunitário significativo na
resolução da questão.
J. O que se expôs supra quanto à inabilidade/ineptidão das
Alegações de Recurso de Revista para demonstrar que as
questões em escrutínio são dotadas de relevância jurídica
e/ou social de importância fundamental, vale, também, para
a total ausência de demonstração de que o Recurso de
Revisão do Acórdão proferido pelo TCA seja claramente
necessário “para uma melhor aplicação do direito”.
K. De facto, não existe ­ nem vem invocado ­ qualquer erro
clamoroso/grosseiro do Acórdão proferido pelo TCA Norte,
que imponha (ou, pelo menos, permita) a admissibilidade do
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presente Recurso de Revista e, também por esse motivo, o


Recurso de Revista interposto pela Recorrente não passa no
crivo da Apreciação Preliminar Sumária prevista no artigo
150º nº 5, do CPTA, devendo ser liminarmente rejeitado.
L. Quanto à improcedência do Recurso de Revista interposto
pela A…………, Lda., em função do seu mérito, demonstrou­
se, autonomamente, a total falência das alegações da
Recorrente.
M. Quanto à alegação da errada interpretação do conceito de
contra­interessado, demonstrou­se que nenhuma censura se
pode assacar ao Acórdão proferido pelo TCA Norte, Já que o
entendimento aí adoptado quanto ao número de Contra­
Interessados ­ 5 (cinco) ­ na presente Acção, retirado a partir
do número de Concorrentes que obtiveram melhor
classificação ordenadora do que a Recorrente, está de
acordo com a Jurisprudência que se tem vindo a pronunciar
nesta matéria, resultando, ainda, de uma interpretação
correcta da letra da lei ­ artigo 57º do CPTA.
N. Como demonstrado supra o TCA Norte interpretou e
aplicou o artigo 57.º, do CPTA, no exacto sentido do conceito
legal, que é o de satisfazer os objectivos da tutela
jurisdicional efectiva e do contraditório, que são os
fundamentos da construção da figura do Contra­Interessado
e que esta visa realizar.
O. Importa recordar que foi a própria Recorrente que Indicou
aos autos que os Contra­ Interessados eram todos os
Concorrentes ao Concurso Público ­ o que já vimos não ser
conforme à lei ­, pelo que n pode agora, vir defender que
existe um lapso quando a indicação dos Contra­Interessados
partiu de si.
P. Importa sublinhar que a Recorrente nunca se insurgiu
contra a identificação de Contra­Interessados feita pela 1ª
instância, e sempre anuiu com a mesma, pois que
processualmente sempre lhe foi vantajosa, até ao Acórdão
proferido pelo TCA Norte.
Q. Assim, a Recorrente inverte totalmente o seu
entendimento, adoptando agora uma posição processual
diametralmente oposta, em atitude de litigância de má­fé,
defendendo agora que, contrariamente ao que sempre
defendeu, existe, apenas, 1 (um) Contra­Interessado.
R. De facto, se na presente Acção o que esta se
apresentasse a querer discutir, apenas, fosse a legalidade do
Concurso, e não a classificação das Propostas, então isso
significaria que a aqui Recorrente, Autora em 1.ª instância,
não deteria qualquer interesse em agir, e, por isso, careceria
de legitimidade activa, na medida em que nenhuma
http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931/44a075e8a3768b4080257eff0054ecb3?OpenDocument&ExpandSection=1#_Section1 11/24
02/12/2015 Acordão do Supremo Tribunal Administrativo

vantagem retiraria da anulação do Acto Administrativo


impugnado.
S. Na sua Petição inicial, a ora Recorrente apenas se
pronuncia sobre aquelas Propostas que obtiveram
classificação superior à sua, ou seja, a Recorrente
reconheceu, em sede de Petição Inicial, que as Propostas
dos Concorrentes classificados entre o 2.º e o 5 lugar ­ a
Recorrente era a 6.ª­ eram aquelas que cumpria afastar, para
que a sua pretensão adjudicatória fosse procedente. E ta não
constitui, mais, do que o reconhecimento de duas
circunstâncias basilares à presente Acção, e, para o que
interessa, ao presente Recurso de Revista.
T. Não obstante o exposto quanto à posição processual
desde sempre assumida pela Recorrente, em sentido
diametralmente oposto aquela à que agora se arroga,
demonstrou­se que, juridicamente, a mesma não encontra
qualquer apoio, consistindo, apenas, numa construção feita
em desespero.
U. Como vem sendo decidido de há muito tempo a esta
parte, e de forma reiterada, pelos Tribunais Superiores desta
Jurisdição, nas Acções de Contencioso Pré­ Contratual,
devem ser indicados como Contra­interessados todos ­ mas
apenas ­ os Candidatos/Concorrentes que estejam
classificados em posição anterior à do Autor/Impugnante, os
quais, por poderem ver a sua posição alterada com a
procedência da Acção, se devem considerar directamente
prejudicados por aquela procedência; noutra perspectiva,
não são Contra­Interessados os Candidatos/Concorrentes
que ficaram classificados em lugar abaixo do
Autor/Impugnante, pois que o provimento eventual da Acção
não os prejudica.
V. Não há, por isso, e na presente acção, Contra­
Interessados superiores a 20 (vinte), número que, em teoria,
legitimaria o recurso à citação por ‘Publicação de Anúncio”
prevista no artigo 82.º do CPTA, e, por isso, falha um dos
pressupostos de que o CPTA faz depender a admissibilidade
do recurso à citação por “Publicação de Anúncio”, pois que
existem, apenas 5 (cinco) Contra­Interessados, onde se
inclui a ora Recorrente.
W. Como aludido supra, entende agora a Recorrente que só
o Concorrente Adjudicatário é Contra­Interessado,
construindo toda a sua ­ nova ­ tese sem qualquer conexão
com a Petição Inicial subjacente aos presentes autos.
X. Defende a Recorrente que a sua Proposta foi também mal
avaliada, mas, na seu caso, esse erro na avaliação, a ser
corrigido, determinaria uma melhor classificação e ordenação
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02/12/2015 Acordão do Supremo Tribunal Administrativo

da sua Proposta, o que, com o afastamento das demais, lhe


permitiria alcançar o tão almejado lugar adjudicatório. Bem
se vê que, nesse caso, os Concorrentes melhor classificados
face à Recorrente têm um interesse em contradizer a Acção,
na medida em que, chamados a juízo, lhes cumpre
demonstrar que as suas Propostas foram bem avaliadas, ou,
até, que, podendo haver uma Proposta mal avaliada, a sua
surge em ordenação imediatamente seguinte, e, por isso, daí
lhe advém o direito à adjudicação,
Y. Na verdade, não existe, já, hoje em dia, uma concepção
objectivista de Contra­Interessado, pois que, ao dia de hoje,
os Contra­Interessados são vistos como todos os sujeitos da
relação jurídica material multilateral, que têm direito à tutela
jurisdicional efectiva dos seus direitos subjectivos e, nessa
medida, a participar, como partes principais, no contraditório
processual, pelo que, também por esta via, falece a tese da
Recorrente.
Z. A Recorrente Insurge­se ainda quanto ao entendimento
veiculado pelo TCA Norte segundo o qual foi indevido o
recurso à Plataforma Vortalgov como meio de citação dos
Contra­interessados ao abrigo do disposto no artigo 82.º, nº
2, do CPTA.
AA. Ora demonstrou­se que a questão em apreço fica
necessariamente prejudicada pela improcedência do
entendimento quanto à extensão do número de Contra
Interessados, na medida em que, sendo estes inferiores a 20
(vinte), nunca seria admitida a citação via publicação de
anúncio nos termos do disposto no artigo 82.º, n.º 1, do
CPTA.
BB. Em qualquer caso, demonstrou­se que a teoria da
Recorrente não tem mínimo cabimento, pois que (i) a
espécie de acção em apreço não comporta a citação através
da “Publicação de Anúncio”, (ii) que a citação mediante
“Publicação de Anúncio” fosse admitida, a verdade é que,
então, e nessa circunstância, não se verificam os
pressupostos de que o artigo 82.º, n.º 1, do CPTA, faz
depender a possibilidade de recurso a essa forma/meio de
citação, (iii) a forma de citação prevista no artigo 82º, n.º 1,
do CPTA (“Publicação de Anúncio”) não tem o sentido e
alcance que lhe foi dado pelo douto Tribunal a quo, ou seja,
não pode a ser cumprida por via de colocação da petição
inicial e citação de interessados em plataforma electrónica de
contratação.
CC. A Recorrente insurge­se contra este entendimento, mas
nunca refere, alega, ou sequer demonstra a
verificação/preenchimento dos critérios de que depende a
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Admissão Preliminar Sumária do, excepcional, Recurso de


Revista.
DD. Ainda assim, demonstrou­se supra que o acto de citação
foi “completamente omitido”, pois que a publicação de
anúncio na Plataforma Vortalgov não constitui meio de
citação válido, omissão, essa, cominada com a nulidade e
subsequente anulação de todo o processado, nos termos da
aplicação conjugada do disposto nos artigos 187.º, alínea a),
188.º, n.º 1, alínea a), e 191.º, nº 1, todos do CPC,
aplicáveis, ex vi, do artigo 25º, do CPTA, razão pela qual o
Acórdão proferido pelo Tribunal Central Administrativo Norte
não merece qualquer censura.

O Município do Mogadouro também contra alegou


formulando as seguintes conclusões:
1) O Recurso de Revista em apreço surge interposto pelo
A…………., Lda. do Acórdão proferido em 5 de Junho de
2015 pelo TCA Norte, nos termos do qual foi revogada a
Sentença proferida pelo TAF de Mirandela, deferido o
Recurso de Revisão e determinada a nulidade de todo o
processado a partir da Petição Inicial.
2) Ficou demonstrado, nas presentes Contra­Alegações de
Recurso de Revista, que a Recorrente não demonstrou que
se encontram verificados os pressupostos de que o CPTA ­
artigo 150.°, n.° 1 ­faz depender a admissão do excepcional
Recurso de Revista, e, por isso, impõe­se o seu imediato
indeferimento liminar em sede de apreciação preliminar
sumária.
3) Ficou igualmente demonstrado que as questões
submetidas a apreciação deste Supremo Tribunal
Administrativo não são dotadas de relevância jurídica de
importância fundamental, nem de relevância social
fundamental.
4) Igualmente se demonstrou que a revisão do Acórdão
proferido pelo Tribunal Central Administrativo Norte não é
necessária para uma melhor aplicação do direito.
5) Ficou patentemente demonstrado que as questões em
apreço não são dotadas de especial ou elevada
complexidade, pois que não exigem difíceis operações
exegéticas.
6) Também se demonstrou que não estamos perante um
caso que apresente contornos indiciadores de que a utilidade
da decisão extravasa os limites do caso concreto e das
partes envolvidas no litígio, não havendo qualquer interesse
comunitário significativo na resolução da questão.
7) Igualmente ficou demonstrado inexistir qualquer erro

http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931/44a075e8a3768b4080257eff0054ecb3?OpenDocument&ExpandSection=1#_Section1 14/24
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clamoroso/grosseiro no Acórdão proferido pelo TCA Norte,


que imponha a admissão do Recurso de Revista interposto.
8) Em suma, demonstrou­se, de forma cabal, que o Recurso
de Revista interposto pela Recorrente não passa no crivo da
Apreciação Preliminar Sumária prevista no artigo 150°, n.º 5,
do CPTA, devendo por essa razão ser liminarmente
rejeitado.
9) Sem conceder, igualmente ficou demonstrado que, em
função do seu mérito, o Recurso de Revista interposto pela
Recorrente não é, de todo, procedente.
10) Isto porque, quanto ao conceito de Contra­Interessado,
ficou demonstrado que o entendimento adoptado pelo TTCA
Norte quanto ao número de Contra­Interessados na presente
Acção está de acordo com a Jurisprudência que se tem
vindo a pronunciar nesta matéria.
11) De facto, como tem sido reiterada e sucessivamente
decidido, nas Acções de Contencioso Pré­Contratual devem
ser indicados como Contra­Interessados apenas
Concorrentes que estejam classificados em posição anterior
à do Autor/Impugnante, com o que, na presente Acção, não
há Contra­Interessados superiores a 20, número que, em
teoria, legitimaria o recurso à citação por «Publicação de
Anúncio».
12) Mais ficou demonstrado que a espécie de acção em
apreço não comporta a citação através da «Publicação de
Anúncio»; ainda que a citação mediante «Publicação de
Anúncio» fosse admitida, a verdade é que, então, não se
verificam os pressupostos de que o artigo 82°, n.º 1, do
CPTA, faz depender a possibilidade de recurso a essa
forma/meio de citação; e não pode a citação edital ser
cumprida por via de colocação da petição inicial e citação de
interessados em plataforma electrónica de contratação.
13) Em suma, o Acórdão proferido pelo TCA Norte não
merece qualquer censura, sendo, por isso, de manter, na
íntegra.

O Sr. Procurador­Geral Adjunto emitiu parecer no


sentido do provimento do recurso do qual se retira o
essencial da sua fundamentação:
“No caso em apreço, a acção foi proposta pela concorrente
classificada na 6.ª posição e visava a anulação do acto de
adjudicação do contrato, com fundamento na ilegalidade de
critérios de adjudicação e, subsidiariamente, em erro na sua
aplicação. A acção procedeu, com base na ilegalidade de
critérios de adjudicação, ficando prejudicada a análise do
erro na sua aplicação. Qual, então, o interesse da

http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931/44a075e8a3768b4080257eff0054ecb3?OpenDocument&ExpandSection=1#_Section1 15/24
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concorrente classificada na 4.ª posição na manutenção do


ato, em contraposição com o interesse da A. na sua
anulação?
Cremos que nenhum está evidenciado, nem resultava do
procedimento administrativo ou de qualquer documento aí
contido. Pelo contrário, o seu interesse seria também o da
anulação do acto para que, eventualmente, ainda pudesse
alimentar expectativas na futura adjudicação a seu favor.
Porém, esse seu interesse na eliminação do acto, paralelo
ao da A., não é o que está pressuposto no conceito de contra
interessado e só podia ser prosseguido ou com a propositura
de uma acção autónoma ou através da intervenção de
terceiro (cfr. o art. 311° do CPC), não através da citação
como contra interessada para intervir como parte passiva na
defesa da manutenção do acto impugnado cfr. os acs.
citados pela recorrentes, do TCAS, de 23­05­2013, proc.
09901/13, e do TCAN, de 25­01­2013, proc. 02424/07.
Deverá, aliás, observar­se que o conteúdo do acto se traduz
apenas na adjudicação da empreitada, muito embora se
baseie no relatório final do júri do procedimento. É, por isso
irrelevante para o caso, a posição em que o júri tenha
classificado os demais concorrentes.
Se, por hipótese, o provimento da acção e a subsequente
execução de sentença tornasse possível a alteração relativa
das posições anteriormente consideradas pelo júri, sendo
essa alteração que se visaria defender como contra
interessada na manutenção do ato, então só o concorrente
da cauda da tabela não seria potencialmente desfavorecido
com o provimento, pois, em tese, todos os outros poderiam,
em execução de sentença, obter classificação inferior.

Em face do exposto, a legitimidade passiva ficou assegurada
com a citação da entidade autora do acto e da adjudicatária,
não havendo, no caso, outros contra interessados a
considerar, designadamente os concorrentes classificados
em posições acima da impugnante do ato de adjudicação.
Consequentemente, o presente recurso merece provimento,
a nosso ver, ficando prejudicada a questão da nulidade da
citação operada por meio de anúncio, nos termos do art.
820/1 do CPTA, na plataforma electrónica, pois, ainda que
procedente, não teria efeitos úteis para as partes que,
efectivamente, intervieram e deviam intervir no processo, e
mantendo­se a decisão da 1.ª instância, que indeferiu o
recurso de revisão.”

A……………, L.da e C……………, L.da pronunciaram­se

http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931/44a075e8a3768b4080257eff0054ecb3?OpenDocument&ExpandSection=1#_Section1 16/24
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sobre este Parecer.

FUNDAMENTAÇÃO

I MATÉRIA DE FACTO

A decisão recorrida julgou provados os seguintes factos:


1. Em 29.04.2014, entrou a petição inicial no Tribunal
Administrativo e Fiscal de Mirandela.
2. Com data de 30.04.2014, foi expedida citação para o réu
Município de Mogadouro e para a indicada contra­
interessada B……………, L.da;
3. Em 23.06.2014, foi proferido despacho para que a autora
indicasse todos os contra­interessados na presente acção.
4. Em 08.07.2014, a autora deu cumprimento ao despacho
referido no ponto anterior.
5. Em 11.07.2014, foi determinada a publicação de anúncio
para citação dos contra­interessados. 6. O anúncio foi
remetido à autora para publicação, em 15.07.2014.
7. Em 28.07.2014, a autora requereu a publicação do
anúncio na plataforma “Vortalgov”.
8. Em 29.07.2014, foi proferido despacho a determinar a
publicação na plataforma “Vortalgov.”
9. Em 07.08.2014, foi publicado anúncio na plataforma
“Vortalgov”, constando, entre outros, a aqui recorrente.
10. Em 08.09.2014, foi junto ao presente processo
comprovativo da publicação do anúncio na plataforma
“Vortalgov”.
11. Na sequência do anúncio, não houve constituição de
contra­interessados.
12. No âmbito do Concurso Público em apreço, foi a seguinte
a ordem das classificações: em 1.º lugar, ficou classificada a
proposta apresentada por B…………., L.da; em 2.º lugar,
ficou classificada a proposta apresentada por D…………..,
L.da; em 3.º lugar, ficou classificada a proposta apresentada
por E…………, Lda.; a ora recorrente, C………………., L.da,
ficou classificada em 4º lugar; em 5.º lugar, ficou classificada
a proposta apresentada pelo Consórcio constituído pelas
empresas F……………, Lda., G…………, Lda. e
H……………, L.da; em 6.º lugar, ficou classificada a proposta
apresentada por A……………., Lda., a autora.
13. Para além destes seis concorrentes, apresentaram
propostas outros 17 (dezassete) concorrentes, a saber:
I…………, S.A.; J……….., S.A.; K…………., Lda.;
L………….., S.A.; M…………….., Lda., N……………, Lda. e
http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931/44a075e8a3768b4080257eff0054ecb3?OpenDocument&ExpandSection=1#_Section1 17/24
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O………., Lda.; P………….., S.A.; Q……………., S.A.;


R……………, S.A.; S……………, S.A. e T…………, Lda.;
U………….., S.A. e V……………, Lda.; X…………., S.A.;
Z……………., Lda.; AA………….., S.A.; AB……………, Lda.;
AC…………., Lda. e AD…………., S.A.; AE………………,
S.A.
14. Foram indicados como contra­interessados pela autora e
constavam da publicação do anúncio na plataforma
“Vortalgov” todos os 23 concorrentes.

II. O DIREITO.

1. Resulta do antecedente relato que A…………….., L.da,


intentou, no TAF de Mirandela, contra o Município do
Mogadouro, acção administrativa especial de contencioso
pré­contratual pedindo a anulação da decisão do Réu que
adjudicou a empreitada de obra pública denominada
“Loteamento Industrial de Mogadouro – III Fase” à sociedade
B……………, Lda.
Na petição inicial a Autora indicou como contra interessado
apenas a adjudicatária, a qual foi citada por carta registada
com aviso de recepção.
Todavia, o Tribunal notificou a Autora para que indicasse
todos os outros contra interessados tendo ela, então,
indicado todos os concorrentes ao referido concurso; quer os
que haviam ficado classificados em lugares acima dela como
os classificados em lugar inferior.
E tendo em conta o seu número, superior a 20, o Tribunal
ordenou a sua citação através de publicação de anúncio na
plataforma electrónica de compras públicas, não tendo sido
apresentada contestação por nenhum dos indicados contra ­
interessados.
Concluída a instrução, foi proferida sentença que julgou a
acção procedente, o que determinou não só a anulação do
acto de adjudicação como do contrato celebrado na
sequência do mesmo.

2. C……………….., L.da, ­ que havia sido classificada em 4.º


lugar ­ invocando o disposto no art.ºs 154.º e 155.º do CPTA,
interpôs recurso de revisão dessa decisão alegando não
ter sido citada como contra interessada ou ser nula a citação
que lhe fizeram uma vez que esta não podia ser feita através
da publicação de anúncio na plataforma electrónica de
compras públicas, o que se traduzia em violação do disposto
nos art.ºs. 187.º/a), 188.º/1/a) e 191.º/1, todos do CPC.
Recurso a que TCA Norte – revogando a decisão do TAF ­
http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931/44a075e8a3768b4080257eff0054ecb3?OpenDocument&ExpandSection=1#_Section1 18/24
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concedeu provimento declarando nulo todo o processado


posterior à petição inicial.
Decisão que foi justificada do seguinte modo:
“Estando em causa, como está no procedimento pré­
contratual em apreço, a possibilidade de apenas o candidato
que apresentou a proposta graduada em primeiro lugar se
tornar titular da relação jurídica contratual, os que ficaram
com as respectivas propostas graduadas após a do
impugnante ­ que não está em posição que lhe permita vir a
celebrar o contrato e daí a legitimidade activa ­ não ficam
pior se o acto for anulado pois em qualquer caso, sendo o
acto anulado ou não, nunca veriam a sua proposta ocupar
aquela posição.
Pelo contrário, sendo o acto anulado na totalidade, abre­se
nova possibilidade de verem as suas propostas ocupar o
lugar cimeiro.
O impugnante não tem, de resto, qualquer legítimo interesse
em atacar os fundamentos do acto final do procedimento na
parte favorável às propostas classificadas em posição
inferior.
A decisão judicial a emitir no processo impugnatório poderá
produzir o seu efeito útil normal (artigo 33°, n.º 2, do CPC)
sem a intervenção dos concorrentes classificados em
posição inferior ao impugnante, num concurso, como o
presente, em que está em causa exclusivamente ocupar o
lugar primeiro, pois a discussão centrar­se­á, em exclusivo,
no mérito relativo das propostas posicionadas acima da
proposta do impugnante.
Os concorrentes colocados em posição inferior ao
impugnante no procedimento em análise têm, assim, um
interesse idêntico ou paralelo ao do impugnante e não
oposto.
Pelo que carecem de legitimidade passiva, não se
verificando em relação a eles uma situação de litisconsórcio
necessário passivo.
….
Tendo a proposta da autora ficado graduada em 6° lugar no
concurso em apreço, apenas os candidatos que
apresentaram as cinco propostas melhor posicionadas, têm
legitimidade para intervirem como contra­interessados.
Pelo que, sendo 5 os contra­interessados, estava vedada a
citação por anúncio ou edital que, pela sua própria natureza,
oferece muito menores garantias de chegar ao destinatário
do que a citação pessoal.
O que determinaria, só por si, a nulidade da citação face ao
disposto no artigo 188°, n.°1, alínea c), do CPC, aplicável por
http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931/44a075e8a3768b4080257eff0054ecb3?OpenDocument&ExpandSection=1#_Section1 19/24
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força do disposto no artigo 25° do CPTA.


Finalmente, e neste terceiro argumento volta a recorrente a
ter razão, a publicidade a que alude o artigo 82.° do CPTA,
destinada a formalizar (como opção) a citação dos contra
interessados quando estes são em número superior a 20,
deve realizar­se, consoante os casos, por publicação em
Diário da República, no Boletim da Autarquia, por éditos ou
em jornais de circulação nacional (neste sentido, M. de
Almeida e C. A. Fernandes Cadilha, in Comentário ao CPTA,
2005, Almedina, página 415).
O que aqui não sucedeu, tendo a citação sido feita através
da plataforma electrónica, disponível, para o procedimento
administrativo do concurso, a Vortalgov.
A publicação nesta plataforma, destinada apenas à fase
administrativa do concurso, não corresponde a um dos meios
de publicidade previstos na lei para a hipótese ­ que aqui
também não se verifica ­ de haver mais de 20 contra
interessados no processo de contencioso pré­contratual.
O que também se traduz numa nulidade da citação, por
inobservância das formalidades prescritas na lei ­ artigo
191.°, n.°1, do CPC.
E tem como consequência a anulação de todo o processado
posterior à petição ­ artigos 187.°, alínea a), do CPC.”

É desta decisão que vem a presente revista, a qual foi


admitida por ter sido entendido as questões nele suscitadas
eram juridicamente relevantes uma vez que estava em
“equação a própria noção de contra interessado para
situações como a dos autos de acção de contencioso pré­
contratual com impugnação de adjudicação: contra
interessado é apenas o adjudicatário (é a resposta defendida
pelo recorrente), são todos, e apenas, os classificados antes
do autor (foi o julgado no acórdão recorrido e é defendido
pelos contra alegantes), ou são todos os concorrentes (foi o
sustentado no TAF)?”. Sendo que a resposta a estas
interrogações era “determinante para o resultado do recurso
de revisão, pois ele assenta na falta de citação de quem
deveria ter sido citado.”

Vejamos pois.

3. Nos termos do art.º 57.º do CPTA: “Para além da entidade


autora do acto impugnado, são obrigatoriamente
demandados os contra­interessados a quem o provimento do
processo impugnatório possa directamente prejudicar ou que
tenham legítimo interesse na manutenção do acto
impugnado e que possam ser identificados em função da
http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931/44a075e8a3768b4080257eff0054ecb3?OpenDocument&ExpandSection=1#_Section1 20/24
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relação material em causa ou dos documentos contidos no


processo administrativo.”
Na categoria de contra interessado cabem, pois, duas
espécies de pessoas; em primeiro lugar, aquelas que são
directamente prejudicados pela anulação ou declaração de
nulidade do acto impugnado e, depois, aquelas cujo prejuízo
não resulta directamente dessa anulação ou declaração de
nulidade mas que, ainda assim, têm interesse legítimo na
manutenção do acto visto que, se assim não for, verão a sua
esfera jurídica ser negativamente afectada. O que evidencia
que o conceito de contra interessado está indissociavelmente
associado ao prejuízo que poderá advir da procedência da
acção impugnatória para todos aqueles que, de algum modo,
estiveram envolvidos na relação material controvertida. A
noção de contra interessado terá, pois, de ser construída
não a partir do eventual interesse que alguém pudesse
ter em ser parte na acção mas a partir do prejuízo que
ele terá se não for chamado a juízo, o qual estará sempre
relacionado com a manutenção ou anulação do acto
impugnado.

É, assim, evidente que o disposto no transcrito preceito se


destina a assegurar o cumprimento do princípio do
contraditório, conferindo legitimidade passiva a todos
aqueles que possam ser prejudicados pela anulação do
acto. E daí que, por força do que nele se estatui, tenham de
ser chamados à acção em situação de litisconsórcio
necessário passivo não só a entidade que praticou o acto,
a entidade demandada, mas também todos aqueles que são
prejudicados pelo provimento do processo impugnatório,
quer esse prejuízo resulte directamente da anulação do acto
quer o mesmo advenha da afectação do interesse legítimo
em que o mesmo seja mantido na ordem jurídica.
Chamamento que é obrigatório por só ele assegurar que
todos aqueles que têm interesse legítimo em contradizer a
pretensão judiciária deduzida o possam fazer (Vd. art.º 10.º do
CPTA, C. Fernandes Cadilha, in Dicionário de Contencioso Administrativo, pg.
202/204, Mário Esteves de Oliveira e Rodrigo Esteves de Oliveira, in CPTA, em
anotação ao art.º 57.º e M. Teixeira de Sousa, in CJA n.º 13, pg. 33.)
E, porque assim, será em função da análise da concreta
relação material controvertida e do prejuízo que poderá
advir do desfecho do seu processo impugnatório que se
poderão identificar os contra interessados, só eles podendo
beneficiar das garantias de defesa concedida por lei.

4. No caso, a questão se discute é, tão só, a de saber se o


concorrente classificado em 4.º num concurso destinado a
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uma adjudicação de uma empreitada pode ser considerado


contra interessado na acção anulatória deduzida pelo
concorrente classificado em 6.º lugar contra a entidade que
abriu tal concurso e onde foi indicado como contra
interessado apenas a sociedade vencedora do concurso e,
portanto, a entidade a quem aquela obra pública foi
adjudicada.

O Acórdão recorrido entendeu que, nessa situação,


contra­interessado era não só a adjudicatária do referido
concurso mas também todos aqueles que tivessem sido
classificados em melhor posição que o impugnante.
E justificando esse entendimento começou por afirmar ­ e
nisso tem razão ­ que, à excepção da concorrente
classificada em 1.º lugar, a adjudicatária, todos os restantes
concorrentes tinham interesse na anulação acto de
adjudicação uma vez que, “sendo o acto anulado na
totalidade, abre­se nova possibilidade de verem as suas
propostas ocupar o lugar cimeiro” e, por essa razão, serem
os beneficiários da celebração do desejado contrato.
Só que, erradamente, restringiu os efeitos deste
entendimento aos concorrentes que foram classificados em
melhor posição do que a obtida pela Autora da acção,
argumentando que os que ficaram posicionados em lugar
inferior não podiam ser beneficiados com o deferimento da
pretensão anulatória na medida em que “a discussão centrar­
se­á, em exclusivo, no mérito relativo das propostas
posicionadas acima da proposta do impugnante.”
Ora, este raciocínio não pode ser sufragado.
E não pode porque, se bem virmos, a anulação do acto
impugnado só acarretará prejuízo para a entidade que
praticou o acto e o adjudicatário e isto porque, atenta essa
anulação, aquela terá de refazer o processo administrativo e
praticar novo acto não inquinado pela ilegalidade que
determinou a anulação do anterior e este ver­se­á afastado
da posição de vantagem em que se encontrava colocado.
Todos os outros oponentes ao concurso – do segundo
ao último classificado – irão beneficiar do acto
anulatório na medida em que, por força dessa anulação,
será refeito o processo administrativo e praticado um novo
acto classificatório que, colocando um deles na primeira
posição, o fará beneficiário do contrato. Daí que o interesse
do impugnante na anulação do acto seja convergente
com o interesse de todos os outros concorrentes não
posicionados no 1.º lugar.

É, pois, seguro que, à excepção da adjudicatária, nenhum


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É, pois, seguro que, à excepção da adjudicatária, nenhum


dos outros concorrentes será, directa ou indirectamente,
prejudicado pela procedência da acção impugnatória uma
vez que a anulação do acto adjudicatório e a prática de um
novo acto abrirá a todos – quer os que ficaram classificados
à frente da Autora da acção quer os que foram colocados em
lugares inferiores ­ a possibilidade de serem os
vencedores do concurso. Dito de forma diferente, e
circunscrevendo­nos ao caso dos autos, a factualidade
inserida no probatório evidencia a existência de dois tipos de
interesses contrapostos:
­ por um lado, a que se verifica entre o Réu e o adjudicatário
na medida em que só eles têm interesse na manutenção do
acto, só eles beneficiam directamente da improcedência do
processo impugnatório
­ por outro, a de todos os outros concorrentes uma vez que a
anulação daquele acto poderá beneficiar um deles. Daí que,
como bem refere o Recorrente, nestes casos, “O contra­
interessado não deduz nenhum pedido, defende a posição
do réu, pois os seus interesses são iguais.” (Conclusão 25.ª)

Nesta conformidade, a pergunta que se deve fazer para


verificar se a Autora do processo de revisão goza da
qualidade de contra­interessado é a seguinte: que interesse
teria ela em, aliando­se à adjudicatária, pugnar pela
manutenção do acto? Que prejuízo lhe adviria da anulação
deste? E a resposta a estas interrogações só pode ser
negativa e isto porque a Autora da revisão só beneficiará
com a anulação do acto impugnado uma vez que só ela lhe
poderá permitir alimentar expectativas de que a empreitada
poderá ser adjudicada a seu favor.
Se assim é, só o adjudicatário da obra pública em causa
pode ser qualificado como contra interessado.

Em suma: estando a qualidade de contra interessado


associada ao prejuízo que advirá da procedência da acção
impugnatória para todos aqueles que, de alguma forma,
tiveram conexão com a relação material controvertida e
sendo certo que a C……………, L.da só iria beneficiar com
a anulação do acto impugnado é forçoso concluir que a
mesma não goza da qualidade de contra interessada.
E não gozando desta qualidade não tem legitimidade passiva
pelo que não deveria ter sido chamada ao processo e, muito
menos, citada.
E se não deveria ter sido citada não podem as
ilegalidades eventualmente associadas a essa citação

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servir de fundamento a este recurso de revisão.

Termos em que os Juízes que compõem este Tribunal


acordam em conceder provimento do recurso e,
revogando a decisão recorrida, julgar improcedente o
pedido de revisão.
Custas pela Recorrente do recurso de revisão –
C……………, L.da.

Lisboa, 12 de Novembro de 2015. – Alberto Acácio de Sá


Costa Reis (relator) – António Bento São Pedro – José
Augusto Araújo Veloso.

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