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Turma: ONL023Z6-ZOBL02T1
INTRODUÇÃO
O caso em questão envolve uma disputa legal entre a União e a Petrobras, refletindo o conflito cons-
tante entre o bem público e os interesses privados.
PARTE 1
A decisão em comento trata do julgamento do STJ sobre o Conflito nº 139.519 – RJ, onde se estabeleceu
que a União Federal deveria ser excluída da arbitragem coletiva instituída contra a Petrobras por seus
acionistas minoritários.
Em uma avaliação preliminar, o presidente da CAM decidiu que não havia motivo para cancelar o pro-
cesso antes que a Câmara de Arbitragem se formasse. Então, a União entrou com uma ação na Justiça
Federal, pedindo uma declaração de que a cláusula arbitral do Estatuto Social da Petrobras não se apli-
caria a ela, pedindo ainda uma providência cautelar para impedir que o processo de arbitragem fosse
adiante.
Diante do pedido, a Justiça Federal aceitou a tutela cautelar provisória, fazendo com que os acionistas
minoritários requeressem ao STJ a definição de quem deveria decidir sobre a obrigação da União de
cumprir com a cláusula compromissória.
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Já no STJ, após todo o curso do processo, a maioria dos ministros seguiram o voto do ministro Felipe
Salomão, entendendo que a cláusula compromissória prevista no artigo 58 do estatuto social da com-
panhia é inexistente em relação à sua acionista controladora, a União. Dessa forma, a eventual respon-
sabilidade civil por abuso e omissão no exercício do poder de controle deverá ser julgada pela Justiça
Federal.
A fundamentação do acórdão chamou a atenção porque o próprio Tribunal havia reconhecido por dé-
cadas que era papel dos árbitros decidir sobre a própria jurisdição, ou seja, os tribunais não deveriam
examinar o assunto antecipadamente decidindo a existência, validade e efeito da convenção de arbitra-
gem.
Passados os esclarecimentos sobre todo o processo, observa-se que a convenção de arbitragem pre-
sente no contrato era institucional, em que o processo era conduzido pelo próprio centro de arbitragem
da Petrobrás, chamado Centro de Arbitragem e Mediação das Relações de Trabalho (CAMRT). Talvez
uma outra forma de arbitragem trouxesse mais imparcialidade, como, por exemplo, a negociação direta
entre as partes com o fito de chegarem a um acordo para a solução do conflito, em vez de recorrer a
um outro tribunal.
E pela repercussão do caso, talvez essa fosse a decisão mais vantajosa, principalmente para os acionis-
tas, haja vista o processo arbitral ser mais discreto, previsível e rápido do que um processo judicial,
especialmente em questões sensíveis como a do caso em tela, por seguir regras e cronograma pré-
estabelecidos. Por outro lado, o processo de arbitragem, por ser feito em privado, poderia levar à uma
falta de transparência e gerar especulações sobre o resultado.
Independentemente de a escolha ter sido ou não a melhor maneira de arbitrar o caso, a discussão po-
deria ter sido conduzida na esfera arbitral, pela existência de cláusula arbitral (34ª), e evitado a judicia-
lização se a cláusula possuísse uma redação mais clara sobre as formas de discussão do procedimento
evitando que ele fosse extinto antes do início.
De toda forma, é certo que a consequência da decisão foi um profundo descompasso entre o acórdão
e a jurisprudência já consolidada do STJ, sendo difícil avaliar, nesse momento, se a decisão é isolada e
específica para o caso Petrobras ou se é uma verdadeira guinada no posicionamento da Segunda Seção.
De fato, resulta uma preocupação imediata em torno da extrema insegurança jurídica aos jurisdiciona-
dos quanto à eficácia de outras cláusulas compromissórias arbitrais.
Com essa decisão, entende-se que apenas as discussões referentes à validade e à eficácia da cláusula
compromissória se sujeitariam ao primeiro juízo em sede arbitral. Portanto, as impugnações relaciona-
das à existência da cláusula compromissória passariam a ser de competência do Poder Judiciário.
Parece ter sido mitigado o chamado “princípio da competência-competência”, previsto no artigo 8º,
parágrafo primeiro, da Lei de Arbitragem, que confere aos árbitros a primazia para decidir sobre a pró-
pria jurisdição.
Legislativamente, o argumento principal apresentado pelo ministro Felipe Salomão, que afirma que é
necessária uma autorização legislativa específica para que a União, enquanto acionista controladora, se
submeta à arbitragem, sugere a criação de um sistema de jurisdição concorrente para a resolução de
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conflitos envolvendo sociedades de economia mista. A Lei de Arbitragem, segundo o acórdão, não serve
como autorização suficiente.
Como essa “autorização específica” ainda não existe, cria-se um problema grave de competência nas
ações de litisconsórcio passivo necessário. Por exemplo, nos casos de anulação de deliberações assem-
bleares, os acionistas minoritários estarão obrigados a submeter a disputa à CAM, porém não consegui-
rão acionar a União.
Tudo isso pode chancelar uma prática de se requerer ao Poder Judiciário que impeça o prosseguimento
de um procedimento arbitral ou dele exclua determinada parte antes que o tribunal arbitral possa ava-
liar a pertinência do pedido, e mesmo que a adesão à convenção de arbitragem seja inequívoca. É o
risco de se mudar as regras do jogo após os próprios participantes terem as definido.
PARTE 2
Em minha carreira jurídica nunca me deparei com um conflito igual ao 139.519 – RJ, ficando difícil esta-
belecer um paralelo com um dos aspectos analisados no caso. Sendo certo que o julgamento do conflito
de competências da Petrobrás não se vincula automaticamente a nenhum caso específico.
De toda forma, pesquisando casos semelhantes me deparei com o conflito de competência Nº 185.702
- DF (2022/0023291-6). Decisão monocrática do Ministro Marco Aurélio Bellizze, publicada em
17/03/2022, reconhecendo o processamento de Conflito de Competência entre dois Tribunais Arbitrais
dentro de uma mesma Câmara de Arbitragem.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em ambos os casos se verifica a necessária e importante reflexão da comunidade arbitral no sentido da
revisão dos regulamentos das instituições arbitrais, com a previsão de competência de órgão interno
(Conselho Deliberativo ou Presidência) ou comitê constituído para decisão acerca destes conflitos, pro-
porcionando rápida solução da questão, evitando-se a propositura de conflito de competência perante
o Superior Tribunal de Justiça.
*Referências bibliográficas
STJ; Conflito de Competência nº 151.130/SP. Segunda Seção; Relator para o acórdão: Ministro Luis Fe-
lipe Salomão;
STJ; AgInt no AREsp 976.218/SP. Terceira Turma; Relator: Ministro Moura Ribeiro;
STJ; REsp nº 1.727.979/MG. Terceira Turma; Relator: Ministro Marco Aurélio Bellizze;
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STJ; REsp nº 904.813/PR. Terceira Turma; Relatora: Ministra Nancy Andrighi;
STJ; REsp nº 1.550.260/RS. Terceira Turma. Relator: Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva;
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