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Fundo Público,
marcado por uma crise estrutural,
se fortalece uma perspectiva he-
gemônica burguesa devastadora,
Política Social
racismo, rentismo, entre outros
“ismos” tenebrosos.
À luz da crítica da economia polí-
tica, as análises tecidas ao longo
20 Anos do GOPSS / UERJ dos 13 textos contribuem: na
Editora CRV - Proibida a comercialização
Editora CRV
Curitiba – Brasil
2023
Copyright © da Editora CRV Ltda.
Editor-chefe: Railson Moura
Diagramação e Capa: Designers da Editora CRV
Revisão: Os Autores
F979
Bibliografia
ISBN Digital 978-65-251-5393-3
ISBN Físico 978-65-251-5394-0
DOI 10.24824/978652515394.0
2023
Foi feito o depósito legal conf. Lei nº 10.994 de 14/12/2004
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Este livro passou por avaliação e aprovação às cegas de dois ou mais pareceristas ad hoc.
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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ............................................................................................ 9
PREFÁCIO ..................................................................................................... 13
Ivanete Boschetti
até aqui, e hoje lançar esta coletânea que expressa parte desse grande esforço
coletivo. Neste ano de 2023, já estamos acompanhando os termos da proposta
de Arcabouço Fiscal do terceiro governo de Lula, bem como da proposta da
reforma tributária e seus impactos possíveis para o financiamento das polí-
ticas sociais. O trabalho continua com sete subgrupos articulados em torno
das várias funções e grupos de natureza de despesa do orçamento público
federal, tendo em vista compreender as prioridades e caracterizar a dinâmica
político-econômica do novo governo de frente ampla e coalizão de classes
que sucedeu o neofascismo no poder. Uma investigação que busca extrair da
realidade seu movimento, com rigor científico e compromisso histórico-po-
lítico, pois que no próprio objeto se manifesta o movimento dos sujeitos, os
projetos societários em presença. De forma que se o centro de nossos debates
e busca de dados primários envolve o orçamento público, há inúmeros temas
conexos e categorias que são chamadas à cena para que possamos analisar os
As/os Organizadoras/es
Rio de Janeiro, junho de 2023.
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PREFÁCIO
Mas foi Manoel de Barros que alumiou meu entendimento de que esse prefácio
deveria caminhar por outras trilhas. Não me prenderei a nenhuma apresen-
tação formal, como seria de praxe em um prefácio acadêmico. Preferi seguir
o caminho do encantamento que sua história me provoca desde a gestação.
As primeiras atrações nasceram de trocas por vezes furtivas, ocorridas em
encontros e espaços nada convencionais para o universo acadêmico. Algumas
dessas vezes foram em mesas de bar em Brasília, entre Beirute e Capitu, e as
muitas boas conversas revelavam as afinidades e convergências na política,
na teoria, na música e nas pesquisas, com muito mais força que as poucas e
insignificantes divergências. Os primeiros encantamentos foram acompanhar
o nascer da ideia, do tema, da vontade, do nome, da certeza que o caminho
da pesquisa, da formação e do ensino não poderiam prescindir da articulação
intrínseca, dizia eu, ou da determinação estrutural, dizia Elaine, entre segu-
ridade social e economia política. Antes mesmo de o GOPSS ter registro de
nascimento, a economia, o trabalho e a seguridade social surgiam, assim, como
a primeira confluência de pesquisas e interesses acadêmicos que me encantou,
e abriu, até então incalculáveis e inesperados, caminhos de encontros, trocas
e descobertas investigativas. O encantamento estava no ar, nas letras, nas
ideias, nas palavras, nas proposições, revelando-me a importância que viria
a ter o GOPSS em minha vida profissional e pessoal.
Inúmeros são os grupos de pesquisa cadastrados do CNPq, mas se redu-
zem significativamente quando o filtro é política social, e se afunilam ainda
mais quando o tema é fundo público/orçamento público. Pois desde sua
gênese, o GOPSS está entre os pouquíssimos grupos, e mais do que isso, ouso
dizer, é o primeiro grupo da Área de Serviço Social que traz em sua concepção
molecular, e concretiza em sua designação, a síntese teórico-metodológica que
14
lhe dá direção, força, coerência e consistência desde então. Basta uma breve
incursão nas vastas produções de seus pesquisadores/as, docentes e discentes,
para constatar a incorporação de outras políticas sociais, além daquelas que
constitucionalmente compõem a seguridade social, que não declinaram de seus
propósitos iniciais, e perseveraram com êxito na demonstração das determina-
ções incontornáveis da economia política na conformação das políticas sociais
no capitalismo. Manter-se fiel ao difícil desbravamento do fundo público e
do orçamento público, por mais de 20 anos, num país pródigo em ajustes
fiscais, mudanças de legislação e de estrutura orçamentária, que dificultam
enormemente o acesso a dados, é uma proeza de enorme importância. Fazer
isso com a bússola segura do método marxiano é uma realização heroica no
triste cenário de decadência ideológica que paira sobre o mundo acadêmico,
onde a maioria sequer o reconhece como método científico. A luta que o
GESST/UnB e o GOPSS/UERJ, juntamente com outros grupos de pesquisa da
Ivanete Boschetti
UFRJ
Rio de Janeiro, julho de 2023
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FUNDO PÚBLICO, ORÇAMENTO E
POLÍTICA SOCIAL: 20 anos de pesquisa
Elaine Rossetti Behring1
DOI: 10.24824/978652515394.0.17-36
Nada é mais gratificante para uma professora que completa trinta e cinco
anos de dedicação à universidade pública, em atividades de ensino, extensão
e, destacadamente, pesquisa, do que celebrar os vinte anos deste coletivo de
pesquisadores – o Grupo de Estudos e Pesquisas do Orçamento Público e da
Seguridade Social (GOPSS/UERJ) –, que hoje é uma referência sobre esses
temas no Brasil, mas com interlocução em alguns países latino-americanos,
africanos e europeus. Este capítulo busca reconstruir essa experiência num
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1. O começo de tudo
1 Coordenadora do GOPSS/UERJ.
18
2 Publicada em 2003 pela Cortez Editora, sob o título Brasil em Contrarreforma – desestruturação do Estado
e perda de direitos.
3 Assistente social e hoje mestranda do PPGSS/UERJ.
4 Assistente Social da Petrobras.
5 Assistente Social do INTO e ex-membro da direção do CFESS.
6 Assistente Social da Petrobras.
7 Assistente Social do INCA.
FUNDO PÚBLICO, ORÇAMENTO E POLÍTICA SOCIAL – 20 ANOS DO GOPSS / UERJ 19
participação da UnB, da UERJ e da UFRN, e que durou até 2019. Era mais um
passo importante na consolidação do GOPSS/UERJ. Ele possuía um escopo
mais amplo que o primeiro, pois permitiu a circulação de estudantes de gradua-
ção, mestrado e doutorado, além de pesquisadores(as) em missões de estudo
e pós-doutorado. Realizamos vinte e duas missões de estudos de graduação,
mestrado e doutorado, o que significa que esses estudantes circularam entre as
três unidades de formação, grupos de pesquisa participantes e programas de
pós-graduação, e cursos de graduação. Esse percurso corroborou para a reali-
zação das pesquisas de tese, dissertação e TCCs e para muitos resultados não
tangíveis na vida dos(as) estudantes e pesquisadores(as), pois temos notícias
da continuidade de estudos enquanto egressos(as), aprovação em concursos,
publicações. Tivemos seminários nacionais nas três universidades com grande
impacto local, já que junto aos seminários foram realizados minicursos pelos
docentes com ampla participação. Houve financiamento para a apresenta-
ção de trabalhos de pesquisadores(as) docentes em eventos nacionais, o que
assegurou nossa participação nos ENPESS de 2016 e 2018, e no CBAS em
2016, algumas vezes com mais de uma mesa coordenada, dentre outros; e
internacionais (Venezuela e Canadá). No caso da UERJ, dois docentes (uma do
GOPSS) realizaram pós-doutorado pelo Procad, o que fortaleceu a produção
acadêmica e o nosso PPGSS/UERJ. Além disso, o CEOI e o GOPSS contaram
com recursos de custeio que foram solidariamente alocados na UERJ, no con-
texto da grande crise que se abateu sobre a universidade entre 2015 e 2017, e
que foram utilizados para manutenção de equipamentos e compra de material
para uso corrente. O grande intercâmbio inter-regional de pesquisadores(as)
das três universidades públicas envolvidas no Procad/CAPES, nos permitiu
elaborar balanços do difícil momento histórico que o Brasil vivia, além de
22
MODALIDADE
Iniciação
Monografia
Científica – Pós- Licença
de Mestrado Doutorado Docentes Total
PIBIC/CNPq Doutorado Capacitação
graduação
e UERJ
23 16 19 31 12 4 7 112
sido descartadas pelos neoliberais, como afirmam muitas das análises de cariz
neokeynesiano. Neste caso, admite-se um aporte maior do fundo público para
políticas públicas e sociais, em tensão com o projeto de austeridade, mas sem
colocar em questão se o capitalismo maduro e decadente comporta tal orien-
tação. Essas são tendências que vimos observando em nossas investigações.
Num caminho distinto dessas abordagens, no GOPSS/UERJ vimos sus-
tentando que a perspectiva da totalidade permite ver a crise do capital como um
elemento interno a sua lógica, relacionado à dinâmica da produção e apropria-
ção do valor, diga-se, da acumulação do capital; bem como à contradição entre
as classes sociais, muitas vezes expressa por seus segmentos, na correlação
de forças política, no solo da história. Assim, a crise em curso não começou
em 2008/2009 com a falência do Lehman Brothers nos EUA e seu efeito
contágio, momento que foi na verdade uma espécie de ápice da onda longa
com tonalidade de estagnação aberta desde o início dos anos 70 (MANDEL,
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O 1% mais rico do mundo ficou com quase 2/3 de toda riqueza gerada
desde 2020 – cerca de US$ 42 trilhões -, seis vezes mais dinheiro que
90% da população global (7 bilhões de pessoas) conseguiu no mesmo
período. E na última década, esse mesmo 1% ficou com cerca de metade
de toda riqueza criada. Pela primeira vez em 30 anos, a riqueza extrema
e a pobreza extrema cresceram simultaneamente (OXFAM, 2023).8
REFERÊNCIAS
ANTUNES, Ricardo. O Capitalismo Pandêmico. São Paulo: Boitempo
Editorial, 2018.
BENSAID, Daniel. Préface de Daniel Bensaid. In: MARX, Karl. Les Cri-
ses Du Capitalisme. Texte inédit. Preface: Daniel Bensaid. Paris: Éditions
Demopolis, 2009.
CHESNAIS, François. Les Dettes Illégitimes: quand lês banques font main
basse sur lês politiques publiques. Paris: Ed. Raisons D´Agir, 2011.
MARX, Karl. O Capital. Livro II. São Paulo: Abril Cultural, 1885/1982.
MARX, Karl. O Capital. Livro III, Tomos 1 e 2. São Paulo: Abril Cultural,
1895/1982.
RUBIN, Isaak Illich. A Teoria Marxista do Valor. São Paulo: Editora Polis,
1928/1987.
Introdução
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10 Tive a oportunidade de apresentar em agosto de 2022 o texto de Fontes (2010) no Ciclo de Debates do
Centro de Estudos Octavio Ianni na UERJ quando pude contar com a interlocução de diversos colegas
professores e pesquisadores a quem agradeço as provocações e contribuições.
11 “No entanto, Marx era da opinião de que a ‘queda do homem’ fundada no disciplinamento estatal e no – em
parte violento – novo modo de produção, característico do regime de expropriação primitivo, se encerraria
assim que o capitalismo se reproduzisse por conta própria” (DORRE, 2022, p. 79).
12 A isso agradeço o convite para participar da Roda de Conversa sobre O Capital em 2022, grupo de estudos
coordenado pela Professora Marilda Iamamoto, grupo que conta com diversos importantes pesquisadores
do Serviço Social de todo Brasil com debates extremamente qualificados, generosos e de boas polêmicas.
FUNDO PÚBLICO, ORÇAMENTO E POLÍTICA SOCIAL – 20 ANOS DO GOPSS / UERJ 39
p. 827). Contra essa “lenda teológica” de origem, Marx queria demonstrar que
a “pré-história do capital e do modo de produção capitalista” se origina de uma
acumulação primitiva sanguinária constituída pela “conquista, pela escraviza-
ção, pela rapina e pelo assassinato, em suma pela violência” (MARX, 2009,
p. 828). Marx cita ainda como parte do processo da acumulação primitiva do
capital, “o roubo dos bens da Igreja, a alienação fraudulenta dos domínios
do Estado, a ladroeira das terras comuns e a transformação da propriedade
privada e do clã em propriedade privada moderna, levada a cabo com terro-
rismo implacável” (MARX, 2009, p. 847).
Nesse marco, as expropriações são processos fundamentais para Marx.
A fim de sustentar nossa argumentação, iremos citar as definições de expro-
priação conforme elaboradas por Marx nos capítulos 24 e 25 de O Capital:
13 Direitos consuetudinários são aqueles que se baseiam nos costumes, nas práticas, nos hábitos de uma
sociedade conforme o Dicionário Oxford.
14 Podemos pensar, na sociedade capitalista moderna, outros meios de produção expropriados dos trabalha-
dores como o maquinário fabril ou o aprisionamento do conhecimento necessário à produção, por exemplo,
de medicamentos, por meio de patentes. Todos eles continuam envolvendo, no entanto, a terra, mesmo em
espaços urbanizados. O filme “Fome de Poder” (The founder), dirigido por Hancock em 2016, curiosamente
mostra como a acumulação de riqueza dos fundadores do Mc´Donalds se originou menos da venda de san-
duíches de gosto e origem duvidosa e muito mais da renda da terra onde ficavam as lanchonetes nos EUA.
FUNDO PÚBLICO, ORÇAMENTO E POLÍTICA SOCIAL – 20 ANOS DO GOPSS / UERJ 41
uma nova onda de expropriação das terras comuns. [...] A regressão dos
estatutos regulatórios destinados a proteger o trabalho e o ambiente da
degradação tem envolvido a perda de direitos. A devolução de direitos
comuns de propriedade obtidos graças a anos de dura luta de classes (o
direito à aposentadoria paga pelo Estado, ao bem-estar social, a um sistema
nacional de cuidados médicos) ao domínio provado tem sido uma das
mais flagrantes políticas de espoliação implantadas em nome da ortodoxia
neoliberal (HARVEY, 2004, p. 123) [grifo nosso].
15 “[...] a ideia de que o capitalismo tem de dispor perpetuamente de algo ‘fora de si mesmo’ para estabilizar-
-se merece exame [...] de uma dialética interna do capitalismo forçando-o buscar soluções externas a si.
Considere-se, por exemplo, o argumento de Marx quanto à criação de um exército industrial de reserva”
(HARVEY, 2004, p. 118).
16 Ainda que achemos que há contraditoriedades nas elaborações das duas autoras, Behring afirma que “A
ofensiva burguesa para a retomada das taxas de lucro na crise atual do capital tem recolocado o debate
das expropriações. Assim, se o movimento de expropriação foi originário do modo de produção capitalista, é
também elemento constitutivo permanente, ainda que suas formas e escalas sejam outras para além daquela
clássica separação entre os trabalhadores e os meios de produção. Há um empolgante debate sobre o
tema em Harvey (2004), Fontes (2010), Boschetti (2016) e na coletânea de textos organizada por Boschetti
(2018), onde temos uma contribuição relacionada a dinâmica do fundo público com as expropriações no
tempo presente” (BEHRING, 2021).
FUNDO PÚBLICO, ORÇAMENTO E POLÍTICA SOCIAL – 20 ANOS DO GOPSS / UERJ 47
Considerações finais
REFERÊNCIAS
BEHRING, Elaine Rossetti. Fundo público, valor, política social. São Paulo:
Cortez, 2021.
Introdução
18 Parte significativa deste artigo consiste nas considerações finais da tese de doutorado defendida em 2021
no Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da UFRJ, intitulada “Política social no capitalismo
dependente brasileiro”.
54
19 Nos termos de Ianni (2004, p. 263), “na história da formação do capitalismo no Brasil, o Estado se torna o
lugar privilegiado do capital”.
56
20 Segundo o levantamento de Netto (2014, p. 148): “[...] o endividamento externo do Brasil cresceu vertigino-
samente: a dívida externa, que era de 3,7 bilhões de dólares em 1968, ascendeu a 12,5 bilhões de dólares
em 1973 – em outros números: se, em 1968, a dívida externa correspondia a 7% das reservas do país,
em 1973 já chegava a 51%. Por outro lado, o crescimento da dívida pública interna foi notável: saltou (em
milhões de cruzeiros) de 5.881 em 1969 para 38.394 em 1973 – noutros números: em 1969, ela correspondia
a 3,6% do PIB; em 1973, a 7,9%”.
FUNDO PÚBLICO, ORÇAMENTO E POLÍTICA SOCIAL – 20 ANOS DO GOPSS / UERJ 57
21 Segundo Leon Trotsky: “[...] o desenvolvimento desigual, que é a lei mais geral do processo histórico, não se
revela, em parte alguma, com a evidência e a complexidade com que marca o destino dos países atrasados.
Confrontados pelo chicote das necessidades materiais, os países atrasados se veem obrigados a avançar por
saltos. Desta lei universal do desenvolvimento desigual da cultura se deriva outra que, na falta de um nome mais
adequado, qualificaremos de lei do desenvolvimento combinado, aludindo à aproximação das distintas etapas
do caminho e a confusão de distintas fases, à fusão de formas arcaicas e modernas (TROTSKY, 1982, p. 15).
60
22 Assim como Boschetti (2016), adotamos o uso da expressão Estado social no intuito de evitar mistificações
e atribuir ao Estado capitalista suas determinações objetivas, de modo que sua natureza essencialmente
capitalista não seja encoberta pela incorporação de feições sociais ligadas ao termo “bem-estar social”.
Nessa perspectiva, “o que se denomina aqui de Estado social capitalista, portanto, é o Estado que, no
capitalismo tardio (MANDEL, 1982), assume importante papel na regulação das relações econômicas e
sociais, tendo por base a constituição de um sistema de proteção social de natureza capitalista, assentado
em políticas sociais destinadas a assegurar trabalho, educação, saúde, previdência, habitação, transporte
e assistência social (BOSCHETTI, 2016, p. 28)”.
FUNDO PÚBLICO, ORÇAMENTO E POLÍTICA SOCIAL – 20 ANOS DO GOPSS / UERJ 61
desta onda longa, nos marcos de uma crise estrutural que impunha aos
Estados latino-americanos os ajustes estruturais contrarreformistas.
Desse modo, o Estado social se consolida no Brasil numa quadra histórica
em que o advento do neoliberalismo impunha formas de dominação política
que Demier (2017) qualificou como “democracias blindadas”23. Tendo se
iniciado no país durante a redemocratização, após um “longo bonapartismo”,
este regime político se encarregou de remover os “inconvenientes expedientes
reformistas [...] o mais rápido possível para que a formatação política brasi-
leira entrasse em sintonia com os novos padrões da acumulação capitalista à
escala mundial” (DEMIER, 2017, p. 60). Assim sendo, o sistema de proteção
social instituído pela Constituição Federal de 1988 é erguido sobre as bases
materiais de sua própria ruína. Daí a natureza ontologicamente débil do Estado
social brasileiro que, por este conjunto de especificidades que o distinguem
dos modelos desenvolvidos no continente europeu, podemos sugerir, como
23 Nos termos do autor: “Distintamente das democracias welfareanas, nas quais os movimentos sociais organizados
conseguiam penetrar de forma mediada (por meio de representações políticas socialdemocráticas e congêneres)
nas instâncias institucionais do regime e pressionar pela implementação de suas reivindicações reformistas,
as democracias blindadas têm seus núcleos políticos decisórios (ministérios, secretarias, parlamentos, etc.)
praticamente impermeáveis às demandas populares” (DEMIER, 2017, p. 39-40) [grifos do autor].
FUNDO PÚBLICO, ORÇAMENTO E POLÍTICA SOCIAL – 20 ANOS DO GOPSS / UERJ 63
Considerações finais
REFERÊNCIAS
ANFIP – Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do
Brasil. Análise da Seguridade Social 2019. Brasília: ANFIP, 2020.
Introdução
não dar risadas ao lembrarmos que, antes de Tebet, um dissoluto João Dória,
um inexpressivo Rodrigo Maia e um parvenus Sérgio Moro foram pela grande
imprensa alçados à condição de grandes “quadros” da burguesia liberal. O
seu partido de confiança, orgânico e seguro, o Partido da Social Democracia
Brasileira (PSDB), acabou por decretar seu fim quando, então liderado por
Aécio Neves, iniciou ele mesmo o movimento que poria termo à normalidade
do regime de 1988.
A sua sanha golpista contribuiu em muito para levedar o bolsonarismo,
que o penetraria, desfiguraria e, finalmente, dele faria troça com os resultados
eleitorais do primeiro turno de 2018; de lá pra cá, os tucanos tradicionais, tanto
os intelectuais quanto os caipiras, não passaram de caricaturas coadjuvantes
na cena política, a ponto de um deles, já não mais trazendo consigo sua base
social e seus votos de outrora, ter se convertido rapidamente em lulista, com-
pondo a chapa vencedora em 2022, cujo objetivo parece ter sido o de salvar
o regime democrático-burguês da própria burguesia.
25 Durante décadas, as tais instituições democráticas foram sendo blindadas em relação às demandas
populares por direitos. Reivindicações por reformas sociais praticamente não conseguiam adentrá-las. A
democracia se tornava, assim, um espaço de debate apenas entre os que não duvidavam da infalibilidade
da austeridade fiscal, fazendo da política um apanágio dos cidadãos da pólis neoliberal. Só eles, por mais
numericamente reduzidos que fossem, tinham voz, e só eles poderiam ser representados. Sua política
não seria política, e sim técnica, e sua opção de exclusão não seria senão gestão. A política era sempre
o Outro. E de tanto se afirmar como antipolítica, de tanto se autoemular como sendo aquilo que não é, a
política neoliberal produziu sua suposta negação, isto é, a sua afirmação “radical”, uma versão extremista da
ideologia da antipolítica que, justamente em nome dos mesmos interesses do capital, pretende defendê-los
não mais por meio da democracia blindada e sua “política”, mas contra ela, que, por mais neoliberal que
seja, ainda possui a mediação do sufrágio universal. De tanto serem estimulados pela política do sistema
capitalista, os fascistas decidiram que era hora da política de salvar os capitalistas do “sistema” e sua
“corrupta política”. Assim, chegamos ao dia 8 de janeiro de 2023, quando os golpistas “antipolíticos” de
ontem tiveram de, depois de terem seus palácios invadidos, finalmente chamar de golpistas os baluarte
da antipolítica de hoje. Depois de anos sendo alimentados do lado de fora com ideias e dinheiro vindos
de dentro, os filhos rebeldes resolveram adentrar os palácios pra lá fazerem seu almoço de domingo. A
porta estava entreaberta, e se a primeira placa dizia “favor não mexer”, a seguinte a complementava com
o singelo pedido: “não deixe sujeira no local”. Porém, sabe como são essas crianças da antipolítica de
hoje, não prestam atenção em nada, e às vezes exageram; mas onde estavam mesmo seus pais que
nesse tempo todo nunca lhes ensinaram os limites?
FUNDO PÚBLICO, ORÇAMENTO E POLÍTICA SOCIAL – 20 ANOS DO GOPSS / UERJ 77
Tal qual ocorrera com Nádia depois da morte de Sasha n’A Noiva de
Tchekhov, para a fração burguesa antes dirigente, delineia-se, depois da bar-
bárie bolsonarista, a possibilidade de “uma vida nova, ampla, vasta, e essa
vida, ainda obscura, repleta de mistérios” já começa, mesmo que timidamente,
a seduzi-la (TCHEKHOV, 1991, p. 77) – em especial depois das investidas
golpistas dos bolsonaristas em Brasília. Depois de ter, como um livre Passa-
rinho, mandado às favas seus escrúpulos e seu superego, e ter se refestelado
com Bolsonaro, a Casa Grande, ou ao menos uma parte mais ilustrada desta,
parece agora sonhar em viver sem ele, assim como toda noiva, depois de con-
vertida em esposa e de uns anos de regozijo da carne e especulação – muita
especulação –, sonha em viver sem o seu marido, um bíblico fardo difícil de
carregar. Ocorre, contudo, que nessa vida nova, nessa nova conciliação, ela
pouco se dispõe a ceder, o que pode vir a contribuir, claro, para que o novo
pacto venha a fracassar, sobretudo quando se tem cada vez mais almas mortas
REFERÊNCIAS
ARCARY, V. Um reformismo quase sem reformas: uma crítica marxista do
governo Lula em defesa da revolução brasileira. São Paulo: Sundermann, 2011.
BIANCHI, A.; BRAGA, R. Brazil: The Lula Government and Financial Glo-
balization. Social Forces, v. 83, n. 4, p. 1745-1762, 2005.
DEMIER, F. Nem toda a esquerda está morta, camarada: uma nota crítica
ao artigo de Vladimir Safatle. In: DEMIER, F. Crônicas dos dias desleais:
ultraneoliberalismo, neofascismo e pandemia no Brasil: Rio de Janeiro: Mauad
X, 2020. p. 43-45.
ROSA, G. Grande Sertão: veredas. 20. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
WILDE, O. O retrato de Dorian Gray. São Paulo: Círculo do livro, s.d. p. 91.
DILEMAS DO FINANCIAMENTO DA
POLÍTICA DE SAÚDE NA AMÉRICA
LATINA: reflexões sobre as experiências
do Brasil, Colômbia e Venezuela26
Tainá Souza Caitete27
DOI: 10.24824/978652515394.0.81-100
Introdução
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26 Este trabalho é fruto dos resultados da tese de doutorado “Tendências da política de saúde na América
latina: Brasil, Colômbia e Venezuela”, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), defendida em 2021 sob a orientação da professora Dra.
Elaine Rossetti Behring.
27 Assistente Social. Professora adjunta do departamento de Política Social da faculdade de Serviço Social
da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisas do
Orçamento Público da Seguridade Social (GOPSS).
82
28 Em 2016, foi aprovada a PEC 31/2016 que além de prorrogar a DRU até dezembro 2023, também ampliou
a fatia de recursos a serem retirados para 30%. Foi aprovado em 2016 pelo então presidente Temer, mas
já havia sido enviado ao Congresso Nacional pelo governo Dilma Rousseff. E ainda teve o agravante de
criar um mecanismo semelhante para estados e municípios, sendo que neste caso, não permite que sejam
utilizadas em receitas destinadas à educação e saúde.
FUNDO PÚBLICO, ORÇAMENTO E POLÍTICA SOCIAL – 20 ANOS DO GOPSS / UERJ 85
29 Rodríguez (2015, p. 79), vai dizer que com base no modelo de pluralismo estruturado, que foi referência
para contrarreforma do sistema de saúde colombiano Ley 100/1993, a estruturação dos serviços deviam
observar quatro funções cruciais: modulação (regras de jogo claras e justas, de responsabilidade estatal
de dar a direção estratégica), financiamento (enquanto responsabilidade da seguridade social, com vistas
a universalidade e com subsídio a oferta e não à demanda), articulação (de responsabilidade das empresas
articuladoras, que seriam as seguradoras e que, portanto, receberiam os pagamentos e gerenciaria os ser-
viços), prestação (a prestação de serviços, podendo ser ofertada pela multiplicidade de atores existentes).
FUNDO PÚBLICO, ORÇAMENTO E POLÍTICA SOCIAL – 20 ANOS DO GOPSS / UERJ 87
30 Báron (apud RODRÍGUEZ, 2015) também sinaliza que outras fontes foram designadas ao FOSYGA, como:
Fundo de Acidentes de Tráfego (FONSAT), aportes das Caixas de Compensação Familiar (5% das receitas
totais) e recursos de empresas petroleiras dos campos de Cudiana e Cupiaga.
88
31 Embora não faça parte do período estudado por essa Tese, a autora informa que em 2015, o gasto na
compra de seguros de HCM representou em torno de 20% do gasto público em saúde.
FUNDO PÚBLICO, ORÇAMENTO E POLÍTICA SOCIAL – 20 ANOS DO GOPSS / UERJ 91
32 Com a aprovação da EC 95/2016, também conhecida como Emenda Constitucional do teto de gastos, alterou
a Constituição de 1988, instituindo um novo regime fiscal e que congelou investimentos em saúde e demais
áreas sociais por 20 anos, ou seja, até 2036, com a justificativa de sanear as contas governamentais, mas
que na realidade tem resultado no desfinanciamento das diversas políticas, e consequentemente na piora
das condições de vida da população.
92
setor público, de modo que essa participação cada vez maior do setor privado
na saúde, contribui para um aumento da inequidade. Isto porque exclui setores
que não tem acesso pela falta de recursos financeiros, restringindo-se àqueles
que tem condições de realizar pagamentos via seguros privados, e pagamento
direto, apontando para a regressividade do financiamento do sistema. Croce
(2002, p. 34) revela outras distorções ao sistema de saúde que ocorrem.
[...] muchos de los cotizantes del Seguro Social – procurando mejor calidad
de atención – tienen dobre afiliación y no usan los servicios de los hospi-
tales del IVSS, lo que ha convertido al sistema contributivo, paradojicá-
mente, en un sistema regressivo: se paga, pero no se usa, las contibuiciones
no son compensadas mediante la prestación de servicios.
REFERÊNCIAS
BEHRING, Elaine. Brasil em contra-reforma: desestruturação do Estado e
perda de direitos. São Paulo: Cortez, 2003. (Capitulo 1, 2).
Introdução
Editora CRV - Proibida a comercialização
lucro entre dois possuidores do capital sob diferentes títulos” (1983, p. 273).
O segundo fator importante é que o desenvolvimento do capital portador
de juros e do sistema de crédito fazem parte das demandas postas à acumu-
lação de capital em determinado momento histórico, sendo, como afirmam
Soto e Mello, ao mesmo tempo produto e pressuposto da produção capitalista.
Se o capital possui uma fome insaciável por mais-valia; se ele busca a maior
mobilidade possível tendo como campo de atuação o mercado mundial; se
ele precisa se manter em constante movimento, procurando diminuir ao
mínimo o tempo em que se encontra imobilizado em alguma de suas formas
e acelerar ao máximo o seu tempo de rotação; se ele busca subordinar e
explorar infinitamente os recursos naturais e a força de trabalho, na maior
escala possível, ele precisa, necessariamente, desenvolver a forma capital
portador de juros e o sistema de crédito (SOTO; MELLO, 2021, p. 73).
33 Segundo Marx a taxa geral de lucro é determinada “1) pela mais-valia que o capital global produz, 2) pela
relação entre essa mais-valia e o valor do capital global, e 3) pela concorrência, mas apenas na medida em que
esta é movimento por meio do qual os capitais investidos em esferas particulares de produção procuram extrair
dividendos iguais dessa mais-valia, proporcionalmente a suas grandezas relativas” (MARX, 1983, p. 275).
104
34 Para Hilferding “Os títulos de dívida pública não precisam de forma alguma representar nenhum capital
existente. O dinheiro emprestado pelos credores do Estado pode ter virado fumaça há muito tempo. Esses
títulos nada mais são do que o preço pago por uma participação nos impostos anuais que representam
o rendimento de um capital inteiramente diferente do que foi gasto na época de uma forma improdutiva”
(HILFERDING, 1985, p. 114).
FUNDO PÚBLICO, ORÇAMENTO E POLÍTICA SOCIAL – 20 ANOS DO GOPSS / UERJ 105
35 Behring (2021), revisitando a literatura sobre o tema também apresenta conceitos como dívida “ilegítima”,
“ilegal”, “odiosa” e “insustentável”. Todas as adjetivações apontadas pelo campo da teoria crítica destacam
a perversidade de um sistema financeiro usurário que alimenta as oligarquias financeiras (não só nacionais)
às custas do mundo do trabalho.
FUNDO PÚBLICO, ORÇAMENTO E POLÍTICA SOCIAL – 20 ANOS DO GOPSS / UERJ 107
36 Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior, criado em 1999, mas que terá grande aporte
de recursos no primeiro governo Lula em diante.
FUNDO PÚBLICO, ORÇAMENTO E POLÍTICA SOCIAL – 20 ANOS DO GOPSS / UERJ 109
37 Como afirmamos em outro texto: “Se olharmos as peças orçamentárias, veremos que a Seguridade Social
é superavitária, ou seja, sobram recursos. O que acontece na prática é que a DRU retira recursos para o
Orçamento Fiscal, que se destina majoritariamente a financiar o superávit primário. Além disso, o discurso
de que a previdência apresenta déficit usa como dados apenas a arrecadação sobre folha de salários
(empregado e empregador) comparando-a aos benefícios a serem disponibilizados. No entanto, conforme
prevê a Constituição, a Previdência poderá utilizar os demais recursos da Seguridade, e isto faz com que
ela jamais apresente déficit” (SOUZA, 2018, p. 107).
110
2016 R$ 2.800.549.307
2017 R$ 868.088.346
2018 R$ 821.616.230
2019 R$ 809.558.764
2020 R$ 642.138.726
2021 R$ 469.399.240
2022 R$ 799.031.375
Total R$ 8.356.222.992
Fonte: SIGA BRASIL. Acesso em: 17 jan. 2023. Elaboração própria.
38 Os programas referidos são: Combate ao abuso e à exploração sexual de crianças e adolescentes; Enfrenta-
mento da violência sexual contra crianças e adolescentes; Promoção dos direitos de crianças e adolescentes;
Promoção, proteção e defesa dos direitos humanos de crianças e adolescentes; Sistema de garantia dos
direitos da criança e do adolescente. Alguns deles (como acontece nas outras políticas) foram descontinuados
para a criação de outros.
112
foi de 202 milhões de reais entre 2016 e 2022, enquanto os bancos receberam
mais de dez vezes esse valor.
Tais dados, portanto, nos mostram que a luta por direitos sociais, por mais
orçamento para políticas públicas e pela redução da dívida pública, embora
centrais, ainda não atacam outros pontos como o processo de financeirização
da vida que vivemos em nossos dias, grande fonte de expropriação de fundo
público. As instituições bancário-financeiras e suas relações com Estado ten-
cionam para que as reivindicações anteriores sejam sempre atravancadas ou
reduzidas, em nome da institucionalidade e da governabilidade. Vivemos numa
realidade onde existir exige pagar juros, e cada vez mais altos.
Considerações finais
REFERÊNCIAS
BEHRING, Elaine Rossetti. Fundo Público, Valor e Política Social. São
Paulo: Cortez, 2021.
LAVINAS, Lena; GENTIL, Denise. Brasil anos 2000: a política social sob
regência da financeirização. Novos estudos CEBRAP, São Paulo, v. 37, n. 2,
p. 191-211, maio/ago. 2018.
Introdução
Este texto41 busca atualizar com dados mais recentes a questão tributária
no Brasil no contexto da disputa do fundo público. O tema da reforma tribu-
tária tem sido recorrente na agenda pública do país. Nas últimas três décadas,
diversos projetos com emendas à Constituição Federal de 1988 vêm sendo
Editora CRV - Proibida a comercialização
41 Este texto foi produzido a convite da Profa. Dra. Elaine Behring para coletânea comemorativa de 20 anos do
Grupo de Estudos e Pesquisas do Orçamento Público e da Seguridade Social (GOPSS-UERJ). Expresso
meus agradecimentos à professora Elaine Behring, uma importante interlocutora no intenso e produtivo
debate político e acadêmico, nos últimos anos, no campo do fundo público e das políticas sociais.
42 Optou-se pelo ano de 2021, o último com a arrecadação tributária de todos os entes da federação de forma
desagregada e disponível na base de dados da Secretaria da Receita Federal do Brasil, em fevereiro de 2023.
118
43 Cabe destacar que estamos nesta passagem resgatando conceitos que trabalhamos em (SALVADOR, 2010a).
44 Esse é o caso do chamado imposto único, em que a mesma alíquota do tributo prevalece independentemente
do nível de riqueza ou de renda do contribuinte e o sistema tributário atua assim para manter o status quo
FUNDO PÚBLICO, ORÇAMENTO E POLÍTICA SOCIAL – 20 ANOS DO GOPSS / UERJ 119
45 Apenas para citar algumas, destacam-se a importante coletânea organizada por Fagnani (2018) no âmbito da
campanha liderada pelas Associação Nacional dos Auditores-Fiscais da Receita Federal do Brasil (ANFIP) e
pela Federação Nacional do Fisco Estadual e Distrital (FENAFISCO); a tese de doutorado de Rezende (2021);
o livro de Pires (2022) e diversos textos para discussão do IPEA, como por exemplo, Gobetti e Orair (2016a).
FUNDO PÚBLICO, ORÇAMENTO E POLÍTICA SOCIAL – 20 ANOS DO GOPSS / UERJ 121
48 Esse é o caso, por exemplo, Afonso e Meirelles (2006) e Siqueira e Ramos (2004). Além dos estudos dos
órgão oficiais como a Secretaria do Tesouro Nacional (STN, 2022) e a Secretaria especial da Receita Federal
do Brasil (RFB, 2022a).
49 Santos, Ribeiro e Gobetti (2008, p. 15), apesar de considerarem o recolhimento do FGTS na carga tributária,
ressalvam que “o FGTS é de propriedade dos trabalhadores, as contribuições para esse fundo não são formal-
mente receitas do governo e, portanto, não podem ser usadas para financiar gastos públicos correntes. O único
motivo pelo qual essas contribuições são contabilizadas como ‘carga tributária’ pelo IBGE – e pela metodologia
da Organização das Nações Unidas (ONU) – é o fato de o governo obrigar o setor privado a pagá-las”.
FUNDO PÚBLICO, ORÇAMENTO E POLÍTICA SOCIAL – 20 ANOS DO GOPSS / UERJ 123
continua...
50 O ano de 1996 é a referência, pois até 1995 a tabela do IR era corrigida periodicamente. Assim, foi durante
o governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC) que a tabela do IR deixou de ser corrigida periodicamente
pela inflação, sendo reajustada somente em 2002, no contexto das contrarreformas neoliberais e de políticas
de ajuste fiscal permanente. No período de 2005 a 2015 (anos dos governos liderados pelo Partido dos
Trabalhadores), a tabela foi corrigida periodicamente, mas sem a reposição integral da inflação passada.
Após o golpe de 2016, que derrubou a presidente Dilma Roussef, a tabela deixou de ser corrigida.
124
continuação
% Participação
Base de incidência econômica R$ milhões Em % do PIB
sobre Total
Contrib. p/ Custeio das Pensões Militares 8.459,51 0,30% 0,10%
Contribuição Voluntária Montepio Civil 0,11 0,00% 0,00%
Capital 322.526,84 11,54% 3,62%
IRPJ 210.058,03 7,52% 2,36%
CSLL 112.468,81 4,02% 1,26%
Outros 113.563,68 4,06% 1,28%
Patrimônio 142.732,71 5,11% 1,60%
Propriedade Imobiliária (urbana e rural) 58.065,72 2,08% 0,65%
ITR 2.166,93 0,08% 0,02%
IPTU 55.898,79 2,00% 0,63%
Propriedade de Veículos Automotores 51.761,55 1,85% 0,58%
continuação
% Participação
Base de incidência econômica R$ milhões Em % do PIB
sobre Total
Adicional à Contribuição Previdenciária 298,84 0,01% 0,00%
Contrib. para o INSS – Patronal 297.059,63 10,63% 3,34%
Outras contribuições sobre folha de pagamento 66.710,40 2,39% 0,75%
Outros tributos 114.293,70 4,09% 1,28%
Contribuições previdenciárias União, estados e municípios 65.107,94 2,33% 0,73%
IOF + resíduo da CPMF 49.023,81 1,75% 0,55%
Outros 161,95 0,01% 0,00%
Total da arrecadação 2.794.574,40 100,00% 31,40%
Fonte: RFB – Dados Abertos e IBGE – SCNT. Elaboração própria.
51 Conforme Farias et al. (2006), a tributação do lucro das empresas teve uma redução da alíquota do
Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ) de 25% para 15% e da redução do adicional sobre os
lucros. Antes dessa mudança, a alíquota nominal era de 12% do lucro real que excedesse R$ 180 mil
até R$ 780 mil; de 18% para parcela do lucro real acima de R$ 780 mil; e de 10% sobre parcela do lucro
real, presumido ou arbitrado, que excedesse R$ 240 mil ao ano ou R$ 20 mil/mês (Lei nº 9.249/95, art.
3º, e Lei n° 8.981/95). A legislação acabou com a progressividade e reduziu a tributação dos lucros da
empresa para uma alíquota única de 15%.
52 Lei n° 9.294/95, art. 9º.
53 Observe que somente Brasil e Estônia na lista de países da OCDE não tributam lucros e dividendos (INTROÍNI
et al., 2018).
126
54 Um detalhamento sobre a questão tributária sobre o patrimônio no Brasil pode ser vista no capitulo 5 da
coletânea organizada por Fagnani (2018).
128
55 Na realidade ITR tem sua origem na República de 1891 e, ao longo de sua história, “foi competência dos
Estados e depois dos municípios, sendo atribuídas finalidades extrafiscais desde o Estatuto da Terra de
1964 e a competência de sua instituição e arrecadação pela União, a partir da CF/88, teve por finalidade
permitir sua atuação como instrumento de reforma agrária no nível nacional” (LEÃO; FRIAS, 2016, p. 103).
130
56 Um tributo cumulativo é aquele que incide em todas as etapas intermediárias dos processos produtivos
ou de comercialização de determinado bem, isto é, incide sobre o próprio tributo anteriormente pago, da
origem até o consumidor final, ou seja, um tributo sobre o valor adicionado. Este sistema difere-se do tributo
sobre o valor adicionado, que é não cumulativo, pois é um tributo que, na etapa subsequente dos processos
produtivos ou de comercialização, não incide sobre o mesmo tributo recolhido na etapa anterior.
57 Dados extraídos do Sistema Siga Brasil.
132
58 Um comparativo entre as duas PECs pode ser visto em Neto et al. (2019). Cabe destacar que a PEC 45 de
2019, tem como “mentor intelectual” Bernard Appy, atual secretário extraordinário para Reforma Tributária do
Ministério da Fazenda. A PEC 45 foi iniciativa do Centro de Cidadania Fiscal (CCiF) que tem com parceiros
institucionais Itaú, Natura, Coca-Cola Huawei, Souza Cruz, Votorantim, Braskem, Vale e Ambev, conforme pode
ser conferido em https://ccif.com.br/parceiros/. Ainda que o Centro se intitule “uma think tank independente”.
59 Como foi o caso da famigerada PEC 233/2008 que desmontava por completo a estrutura de financiamento
das políticas sociais engendrada na CF de 1988, ao extinguir as contribuições sociais exclusivas de finan-
ciamento das políticas sociais, em particular da Seguridade Social.
FUNDO PÚBLICO, ORÇAMENTO E POLÍTICA SOCIAL – 20 ANOS DO GOPSS / UERJ 133
PEC 110: são substituídos nove tributos, IPI, IOF, PIS, Pasep, Cofins,
CIDE-Combustíveis, Salário-Educação, ICMS, ISS;
PEC 45: são substituídos cinco tributos, IPI, PIS, Cofins, ICMS, ISS.
Pela PEC 45/2019, seria criado um único IBS ou Imposto sobre Valor
Agregado (IVA), para governos federal, estaduais e municipais, enquanto, de
acordo com PEC 110/2019, a proposta seria de um IVA dual, sendo um para a
União e outro para entes subnacionais. A “cereja do bolo” em ambas as pro-
postas é a criação de cashback para devolução de imposto para as famílias de
baixa renda, a ser definido por Lei Complementar, após aprovação das PECs.
O chamado imposto seletivo na PEC 110/2019 seria arrecadatório e
cobrado sobre operações com petróleo e seus derivados, combustíveis e
lubrificantes de qualquer origem, gás natural, cigarros e outros produtos do
fumo, energia elétrica, serviços de telecomunicações, bebidas alcoólicas e
não alcoólicas, e veículos automotores novos, terrestres, aquáticos e aéreos.
Enquanto na PEC 45/2019, este imposto teria uma característica extrafiscal e
seria cobrado sobre determinados bens, serviços ou direitos, com o objetivo
de desestimular o consumo, cabendo à lei ou medida provisória instituidora
definir os bens, serviços ou direitos tributados (NETO et al., 2019).
As modificações apontadas nas respectivas propostas, além de não resol-
verem a elevada carga tributária indireta no Brasil, caso sejam aprovadas,
sepultam a cambaleante diversidade das fontes de financiamento da seguridade
134
REFERÊNCIAS
AFONSO, J. R.; ARDEO, V.; BIASOTO, G. Críticas à (única) nota sobre
impactos da PEC 45 24/09/2020. Rio de Janeiro: Blog do IBRE/FGV, 2020.
Disponível em: https://blogdoibre.fgv.br/posts/criticas-unica-nota-sobre-im-
pactos-da-pec-45. Acesso em: 2 fev. 2023.
Introdução
Marx lhe conferir o papel principal nos acontecimentos que forjaram o modo
de produção capitalista (MARX, 2013, p. 786).
Isto posto, se o mundo contemporâneo é, segundo Ellen Wood, “um
mundo de capitalismo mais ou menos universal (WOOD, 2014, p. 99)”, a
dinâmica mundial que gerou esta realidade não é apenas homogeneizadora.
Na realidade, a unidade existente é assegurada através da constituição de
formas particulares de reprodução do capital e as formações imperialistas e
dependentes são exemplos emblemáticos da distância possível entre facetas
deste mesmo processo de expansão e acumulação que universalizou o capi-
talismo no mundo. Nas palavras de Jaime Osorio:
[…] o Japão, por exemplo, país que tinha uma dívida equivalente a mais
de duas vezes o seu PIB em 2011 (209,20%), gastou menos de 1% com
o pagamento de juros. O Brasil, que estava em 12º lugar no ranking dos
países mais endividados, foi o segundo país que mais gastou com os juros
da dívida em relação ao PIB […]. Segundo dados da Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em 2017 a dívida
pública bruta brasileira estava em 74%, e as despesas com juros, 6,1%
do PIB (ODCE, 2018). Estes dados mostram que, embora seja possível
observar uma tendência nos países capitalistas como um todo de buscar
transferir os prejuízos do setor privado para os Estados e, mais do que isso,
de usar o recurso à dívida para realizar este objetivo, existem contornos
FUNDO PÚBLICO, ORÇAMENTO E POLÍTICA SOCIAL – 20 ANOS DO GOPSS / UERJ 145
O Estado subsoberano dependente, como vimos, exerce seu papel sobre esta
imbricação subordinada particular da dominação da burguesia local com as bur-
guesias imperialistas. Nesse sentido, esse Estado reflete e fortalece a dependência
como projeto dominante e é produto e produtor das relações de dependência vigen-
tes. A centralidade do Estado no capitalismo dependente é, aliás agigantado pelas
debilidades da própria burguesia local, que requer do Estado um protagonismo
central no desenvolvimento capitalista em nossas sociedades (IANNI, 2004).
Isto posto, é preciso compreender que nossa subordinação no sistema
capitalista mundial nos dá tarefas concretas na divisão internacional do traba-
lho. A reestruturação dos monopólios imperialistas, apoiados por seus Estados
nacionais, viabilizou uma nova fase da internacionalização do capital, baseada
na mundialização do processo de produção e na nova capacidade de atribuir
[...] a característica essencial está dada pelo fato de que são negadas ao
trabalhador as condições necessárias para repor o desgaste de sua força de
trabalho: nos dois primeiros casos [a intensificação do trabalho e o pro-
longamento da jornada de trabalho do trabalhador], porque lhe é obrigado
um dispêndio de força de trabalho superior ao que deveria proporcionar
normalmente, provocando assim seu esgotamento prematuro; no último
[redução da capacidade de consumo do trabalhador], porque lhe é retirada
inclusive a possibilidade de consumo do estritamente indispensável para
conservar sua força de trabalho em estado normal. Em termos capitalistas,
esses mecanismos (que ademais podem se apresentar, e normalmente se
apresentam, de forma combinada) significam que o trabalho é remunerado
abaixo de seu valor e correspondem, portanto, a uma superexploração [da
força] do trabalho (MARINI, 2005, p. 156).
Considerações finais
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Silvio. O que é racismo estrutural? Belo Horizonte: Letra-
mento/Justificando, 2018.
Introdução
gráfica extensa, o que lhe garante solo fértil na maioria das regiões. É em
Angola, mais exatamente na província de Cabinda, que se encontra parte da
maior floresta tropical do continente africano, a floresta do Mayombe, que
integra a Reserva Florestal de Kakongo, cuja notável biodiversidade abriga
espécies de grande interesse econômico (CANGA, 2011).
De maneira geral, o país apresenta ecossistemas ricos em recursos natu-
rais e oferece vias alternativas para a promoção de desenvolvimento susten-
tável, inclusive com possibilidades de ecoturismo.
Com uma superfície de 1.246.700 km2, Angola faz fronteiras com a
República Democrática do Congo, Congo Brazaville, Namíbia e Zâmbia
(CANGA, 2007) e tem, ainda, uma extensa costa banhada pelo Oceano Atlân-
tico. A Figura – 1 apresenta a distribuição administrativa e geográfica do país,
composto por dezoito províncias, com uma população estimada em 31.127.674
habitantes, segundo dados do INE (2020).
62 PhD em Ciências Sociais, Professora Associada na Faculdade de Serviço Social (FSS) da Universidade de
Luanda (UniLuanda), Presidente da Assembleia e do Conselho Científico da FSS. Foi Presidente do Conselho
Geral da UniLuanda e Conselheira no Consulado Geral da República de Angola, no Rio de Janeiro, onde
desempenhou as funções de Chefe do Setor de Apoio aos Estudantes Angolanos no Brasil. Pós-Doutoranda
no Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
sob a supervisão da Professora Dra. Elaine Rossetti Behring, líder do Grupo de Estudos e Pesquisas do
Orçamento Público e da Seguridade Social (GOPSS/UERJ/CNPq).
164
objetivos preconizados.
Para que esse escopo não se perca por mais tempo, um novo plano diretor
precisa e deve contemplar a locação de recursos à altura dos desafios reais da
sociedade angolana. Desde os recursos humanos qualificados e conscientes, com
base na formação de homens e mulheres, buscando proporcionar uma gama
de possibilidades de conhecimento tanto através da escolarização, quanto pela
valorização, recuperação e disseminação dos saberes locais. E, ao mesmo tempo,
é desejável um realinhamento das diretrizes nacionais, levando em conta a valo-
rização de setores que sustentam uma vindoura economia de conhecimento,
“incluindo a alta tecnologia, educação e treinamento, pesquisa e desenvolvimento,
bem como o setor financeiro e de investimentos” (GIDDENS, 2012, p. 648).
Nessa linha, torna-se importante considerar os tecnólogos existentes,
investindo em sua continuada formação, para que melhor possam contribuir
para a reorganização e execução do plano diretor, de modo a contemplar as
necessidades emergenciais, bem como propiciar bases para a estabilidade social.
No âmbito do conhecimento científico, o fomento à investigação em
todas as áreas de aprendizagem é urgente, para se estruturar a capacidade de
transformação de matéria-prima. Nesta vertente, é necessário que haja arti-
culação entre Estado, universidade, indústria e sociedade, evitando, assim, a
importação de quase 90% dos bens de consumo demandados pelo mercado
interno. Isso vale até mesmo para o combustível, já que Angola ainda não
tem uma refinaria que garanta a cobertura nacional, beneficiando apenas de
uma pequena parte do petróleo que extrai.
Tal circunstância mantém o país dependente de outras nações, já que
exporta matéria-prima a preços baixos e, em contrapartida, adquire, super
faturados, bens de necessidades básicas que foram transformados por seus
166
63 Política de reforma governamental e reorganização do sistema econômico iniciada por Mikhail Gorbatchov,
em 1985, na União Soviética.
FUNDO PÚBLICO, ORÇAMENTO E POLÍTICA SOCIAL – 20 ANOS DO GOPSS / UERJ 169
64 São uma compensação financeira que as empresas exploradoras revertem à administração local de onde
exploram os recursos naturais.
174
65 A conversão dos valores da moeda Kwanzas (AKZ) para dólares americanos (USD) seguiu a cotação de
21 ago. 2021.
FUNDO PÚBLICO, ORÇAMENTO E POLÍTICA SOCIAL – 20 ANOS DO GOPSS / UERJ 175
Distribuição da população
Luanda 27,10%
Huíla 9,70%
Benguela 8,60%
Huambo 7,90%
Cuanza Sul 7,30%
Uige 5,70%
Bié 5,60%
Cunene 3,80%
Malanje 3,80%
Lunda Norte 3,30%
Moxico 2,90%
Cabinda 2,80%
Zaire 2,30%
Cuando Cubango 2,10%
Lunda Sul 2,10%
Editora CRV - Proibida a comercialização
Fonte: Adapt. Inquérito de Indicadores Múltiplos e de Saúde (IIMS) 2015-2016 (INE, 2020, passim).
O elevado índice de pobreza nas zonas rurais, como afirma o INE 2020
(p. 15), tem levado, nos últimos anos, a uma frenética escalada do êxodo rural de
adultos, jovens, adolescentes e inclusive crianças em busca de melhores condi-
ções de vida nos grandes centros urbanos, sendo Luanda o epicentro desse afluxo
populacional, e também uma das províncias com os maiores índices de pobreza.
Estatísticas atualizadas indicam que 68,1% da população de Angola
se encontra na cidade, e por ano, 4,04% fazem a migração urbana. Como
resultado, cerca de 30% da população angolana se encontra na capital. Isso
ocorre principalmente porque os fatores colocados para a distribuição nacional
da renda são limitantes ao desenvolvimento de outras províncias, inclusive
aquelas que geram receitas da exploração de seus recursos naturais. Como
consequência, não há diversificação das atividades produtivas, fato que, aliado
à distribuição desigual da renda, tem restringido as opções de trabalho, e,
portanto, de sobrevivência nessas localidades, impelindo suas populações
aos deslocamentos e criando grandes faixas de ocupação desordenada nas
periferias das cidades de destino.
Para sanar esse grave descompasso, mesmo que não preenchendo os
requisitos estabelecidos, dever-se-ia fazer ao menos a aplicação efetiva dos
royalties para favorecer a elaboração de projetos sociais, tais como melhora-
mento do sistema educacional, saúde, saneamento básico, água potável, luz
elétrica, estradas, transporte público de qualidade, como contrapartida aos
176
Uma condição decisiva para que o ciclo do capital ocorra como produ-
ção e reprodução é a de que existe metamorfose permanente da forma
capital-mercadoria em capital-dinheiro mediada pela reprodução e pela
circulação como processos mercadorias, dinheiro, capital variável, capi-
tal fixo, capital circulante —, no tempo e no espaço, na produção e na
circulação. Esse todo processo pouco tem a ver com necessidades reais
e move-se com demanda por pagamento (solvente), pela necessidade
inadiável da metamorfose em dinheiro (BEHRING, 2021, p. 47-50).
Editora CRV - Proibida a comercialização
Vamos priorizar o sector social, com uma séria aposta nos recur-
sos humanos. Esta é a única via, se pretendemos realmente tirar o
país do lugar em que se encontra no que respeita a vários indicado-
res de desenvolvimento humano e de desenvolvimento econômico.
A adopção de práticas correctas, sejam no exercício público, seja no
âmbito da sociedade, vai exigir das famílias, das escolas, das igrejas
e das demais organizações da sociedade civil, o reforço de valores
morais, da coesão social e do patriotismo. Para além da erradicação
da fome e do combate à pobreza através de um programa integrado,
vamos lutar pelo empoderamento e apoio às famílias desfavorecidas
, tendo em vista a ascensão social de um bom número de famílias ango-
lanas, tanto no meio urbano e rural [...] O nosso objectivo será, para
os próximos cinco anos, reduzir consideravelmente as actuais taxas de
mortalidade e de mortalidade infantil, com o concurso das unidades
sanitárias públicas e privadas, bem como com a reactivação do programa
de educação para saúde.
Com 95% dos 15mil postos de trabalho preenchidos por mão de obra local.
A sede da empresa em Luanda, ainda comandada por Brasileiros, passou a
responder diretamente ao governo angolano. Ela podia tomar decisões sobre
projectos sem necessitar do aval das decisões dos dirigentes baseados em
Salvador. O quarto e último é a importação de modelos de projectos habi-
tacionais como minha casa minha vida (ALENCASTRO, 2020, p. 9-10).
Função-sector social
Subfunção
continua...
186
continuação
Autorizado 526,7 531,5 560,4 639,2
Proteção Social
Pago 526,7 531,5 560,4 639,2
Habitação Autorizado 369,7 344,5 309,7 684,6
e Serviçoes
Comunitarios Pago 369,7 344,5 309,7 684,6
Subfunção
ções infraestruturais das escolas existentes, o que faz com que ainda haja em
muitas localidades lotação de salas de aulas, com35 alunos acima dos estabe-
lecidos por turma. Ainda observam-se situações em que as turmas possuem o
dobro de alunos, tendo como consequência a baixa qualidade no processo de
ensino-aprendizagem. O número elevado de crianças e jovens fora do sistema
de ensino, violando o direito a uma educação de qualidade para crianças e
jovens, são também um grave problema.
No que tange o setor da saúde, os grandes males que atingem a sociedade
ainda são evidentes e vividos no cotidiano, apesar da construção de alguns
hospitais de grande porte em alguns pontos do país. Os grandes desafios são
a falta de especialistas, equipamento tecnológico e pessoal capacitado para
o manuseio, assim como a quase inexistência de assistência medicamentosa.
A ausência de um hospital universitário em um país que se apresenta
como detentor de ao menos seis Faculdades de Medicina de instituições públi-
cas é o grande indicativo da lacuna em uma das áreas mais importantes da
saúde – a pesquisa científica.
A razão médico por número de habitantes também está fora das exi-
gências de OMS. Em Janeiro de 2022, Angola contava com 6.019 médicos,
quando necessitava, pelos habitantes que possuía, de cerca de 30mil médicos
para responder às exigências da OMS (ANGOLA, OAVPR, 2022). Neste
sentido, a razão estabelece 1médico para cada 5 mil habitantes.
Para os angolanos, a malária é a primeira causa da morte. Segundo dados
epidemiológicos apresentados no Relatório de 2019 e na errata de 2020 do
Ministério da Saúde – cenário que mudou nos anos subsequentes – a malária
tem representado mais de 90% de novos casos e de óbitos, em relação às
doenças mais frequentes como a tuberculose e muito recentemente, a covid-19.
188
Considerações finais
REFERÊNCIAS
ALENCASTRO, M. A Odebrecht e a formação do Estado angolano (1984-
2015). Novos estud. CEBRAP, São Paulo, v. 39, n. 1, p. 125-141, jan./abr. 2020.
BEHRING, E. Fundo Público, Valor e Política Social. São Paulo, SP, 2021.
Introdução
tem para materializar sua atuação junto a sociedade, ele “[...] garante con-
cretude à ação planejada do Estado e espelha as prioridades das políti-
cas públicas que serão priorizadas pelo governo” (SALVADOR, 2012a).
Embora o orçamento público tenha uma dimensão técnica, ele é um ins-
trumento de cunho político, já que expressa “[...] a correlação de forças
sociais e os interesses envolvidos na apropriação dos recursos públicos,
bem como a definição de quem vai arcar com o ônus do financiamento
dos gastos orçamentários” (SALVADOR, 2012b). Assim, as definições
do orçamento público se dão no contexto da disputa entre os interesses
antagônicos das classes sociais.
Os poderes Executivo e Legislativo estão diretamente envolvidos no
processo de planejamento e execução orçamentária, sendo que o primeiro
realiza sua elaboração a partir dos programas de governos presente no
Plano Plurianual (PPA), enquanto o segundo tem o dever de avaliar o
orçamento, podendo aprová-lo, rejeitá-lo ou modificá-lo (CARNEIRO et
al., 2019). Todo esse processo é permeado pelas influências das classes
e frações de classe presentes no Estado (ATHAYDE; MASCARENHAS;
SALVADOR, 2015).
Neste contexto, o orçamento público é atravessado por diferentes
interesses e disputado também por diferentes setores, sendo o esporte um
deles. O setor esportivo tem ocupado lugar marginal frente a outros seto-
res, como demonstrado nos estudos sobre o orçamento público do esporte
71 Professor de Educação Física no Instituto Federal de Goiás (IFG); Pesquisador do Grupo de Pesquisa e
Formação Sociocrítica em Educação Física, Esporte e Lazer (AVANTE-UnB).
72 Professor da Faculdade de Educação Física da Universidade de Brasília (FEF/UnB); Pesquisador do Grupo
de Pesquisa e Formação Sociocrítica em Educação Física, Esporte e Lazer (AVANTE-UnB).
194
73 Importante destacar a influência que os estudos desenvolvidos pelo Grupo de Estudos e Pesquisas do
Orçamento Público e Seguridade Social da Universidade do estado do Rio de Janeiro (GOPSS/UERJ)
exerceu sobre boa parte destas produções, particularmente, sobre aquelas construídas no âmbito do Grupo
de Pesquisa e Formação Sociocrítica em Educação Física, Esporte e Lazer (AVANTE-UnB).
FUNDO PÚBLICO, ORÇAMENTO E POLÍTICA SOCIAL – 20 ANOS DO GOPSS / UERJ 195
Delineamento da pesquisa
74 O processo de impeachment da presidenta Dilma, denunciado pelo Partido dos Trabalhadores e movimentos
sociais como um golpe, fez com que ela fosse afastada do cargo em 12 de maio de 2016, processo que foi
finalizado em 31 de agosto de 2016 com a confirmação da cassação de seu mandato.
75 Ferramenta de monitoramento e visualização gráfica dos recursos públicos do esporte na esfera federal
produzida e atualizada pelo Grupo de Pesquisa e Formação Sociocrítica em Educação Física, Esporte e
Lazer da Universidade de Brasília (Avante-UnB). Ver: www.transparencianoesporte.unb.br.
196
76 Para a apuração da totalidade dos valores efetivamente pagos é necessário fazer a soma dos valores
pagos mais os valores de restos a pagar pagos, estes últimos, recursos liquidados em anos anteriores
que são pagos posteriormente. Os dados sobre restos a pagar pagos começaram a ser publicizados
somente a partir de 2012.
FUNDO PÚBLICO, ORÇAMENTO E POLÍTICA SOCIAL – 20 ANOS DO GOPSS / UERJ 197
R$ 1.400,00
R$ 1.200,00
R$ 1.000,00
R$ 600,00
R$ 400,00
R$ 200,00
R$ -
Lula 1 Lula 2 Dilma 1 Dilma 2 Temer Bolsonaro
et al., 2019). É importante situar que toda contribuição social tem uma desti-
nação específica, constituindo um tipo de recursos vinculado. Assim, podemos
afirmar que o esporte conta com recursos vinculados no orçamento público
federal. Todos recursos desta subfonte foram recebidos pelo ME/SEE ao longo
do período (SENADO FEDERAL, 2023a).
Foi estabelecido na Lei n° 9.615/1998 (Lei Pelé) que os recursos prove-
nientes de contribuições sobre concursos prognósticos e loterias direcionados
ao esporte deveriam ser alocados no órgão gestor do esporte, neste caso, ME/
SEE. Durante o governo Lula foi aprovada a Lei n° 11.345/2006 (Timemania),
estabelecendo que parte destes recursos passassem a ser destinados aos clubes
de futebol. No governo Dilma foi criada a Lei n° 13.155/2015 que institui a
Loteria Exclusiva Instantânea (LOTEX), também voltada aos clubes de fute-
bol, com parte da arrecadação direcionada ao ME. De acordo com Matias e
Mascarenhas (2017), estas duas últimas loterias tinham como foco fornecer
Editora CRV - Proibida a comercialização
Tendo por base a origem dos recursos orçamentários para o esporte, pas-
samos a analisar a magnitude destes recursos, do planejado ao executado. Para
isso, teremos por base a Tabela 2, nela é possível visualizar longitudinalmente
o volume de recursos para esporte no orçamento federal.
MASCARENHAS, 2019).
É importante situar que as políticas neoliberais que se aprofundaram no
Brasil, mais fortemente a partir dos anos 90, vêm impactando diretamente as
disputas pelo orçamento público, expressão disso é o ajuste fiscal permanente e
as contrarreformas que atacam os direitos dos trabalhadores (BEHRING, 2018).
Com efeito, foram constantes as políticas de austeridade fiscal, em seu ápice,
resultando na aprovação da Emenda Constitucional n° 95, que que limitou
por 20 anos os gastos correntes do governo (SALVADOR, 2020). Todas estas
questões e determinantes da política macroeconômica impactaram diretamente
a Liquidação dos recursos para o esporte. Por isso a diferença em relação ao que
foi planejado expresso pela Dotação Inicial, tendência que não é exclusividade
do esporte, mas que apanha o conjunto das políticas sociais. Estudos como os
de Mascarenhas (2016) e Carneiro (2018) já haviam analisado o impacto das
políticas de austeridade fiscal sobre o orçamento do esporte.
Fica claro pela Tabela 1 e 2 que, ao longo do tempo, houve bastante varia-
ção na execução orçamentário do Liquidado com esporte. Em 2007, foi o ano
que o esporte teve mais recurso orçamentário Liquidado, R$ 4,43 bilhões. Já
em 2020, foram R$ 131,63 milhões, valor mais de 33 vezes inferior que o de
2007. Esta oscilação tem relação com a distribuição dos recursos do orçamento
público entre os diferentes setores, quando o esporte é secundarizado frente a
outras necessidades (CARNEIRO, 2018; GUIMARÃES, 2017; ATHAYDE;
MASCARENHAS; SALVADOR, 2015). Foi somente quando prioridades
que emergiram na agenda esportiva, como no caso dos megaeventos, que a
alocação de recursos orçamentários no esporte ganhou maior volume (MAS-
CARENHAS et al., 2012; GUIMARÃES, 2017; CARNEIRO, 2018).
204
R$ 800,00
R$ 700,00
R$ 600,00
R$ 500,00
R$ 400,00
R$ 300,00
R$ 200,00
R$ 100,00
R$ -
Lula 1 Lula 2 Dilma 1 Dilma 2 Temer Bolsonaro
Grandes eventos EELIS Gestão Infraestrutura EAR
Conforme pode ser identificado na Tabela 4, a categoria que teve mais recur-
sos foi a de Megaeventos, o que representou 38,96% de todo orçamento do esporte.
Ela se refere ao gasto de preparação, organização e infraestrutura para que o país
sediasse os Jogos Rio 2007 (R$ 2,83 bilhões), Jogos Mundiais Militares Rio
2011 (R$ 1,52 bilhão), Copa do Mundo 2014 (R$ 282,87 mil) e Jogos Rio 2016
(R$ 2,77 bilhões). O orçamento foi apenas uma das fontes de financiamento dos
Megaeventos. O Transparência no Esporte (2023) demonstra que houve recursos
extraorçamentários e de gastos tributários também direcionados aos Megaventos.
Os Jogos Rio 2007 foi o Megaevento que mais consumiu recursos do
orçamento para sua realização. Foram gastos ao longo de 2004 a 2007: R$
1,98 bilhão para infraestrutura, R$ 845,58 milhões com sua organização e R$
3,41 milhões com sua captação. Em 2007, com a realização dos Jogos Rio
2007, que consumiu R$ 2,28 milhões, esse tipo de gasto atinge seu ápice. O
gasto foi tão elevado que fez com que este ano marcasse também o pico de
gastos orçamentários com esporte no período analisado.
Dificuldades no processo na sua organização, inicialmente assumida
pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB), fizeram com que o governo federal
precisasse financiá-lo, haja vista o risco de sua não realização (CARNEIRO,
2018). Os Jogos Rio 2016 foi segundo Megaevento que mais gerou gastos, a
ver: de 2007 a 2008 e de 2010 a 2016 foram R$ 1,72 bilhão com sua infraes-
trutura; R$ 640,14 milhões com sua preparação e organização; R$ 284,91
milhões com a Autoridade Pública Olímpica; R$ 101,19 milhões com sua
FUNDO PÚBLICO, ORÇAMENTO E POLÍTICA SOCIAL – 20 ANOS DO GOPSS / UERJ 207
As maiores médias anuais de gasto com EELIS foram nos governos Lula 1 e
2, já as menores foram nos governos Temer e Bolsonaro. O governo Lula 1 foi o
único que priorizou as políticas voltadas ao esporte como direito (EELIS), tendo
sido neste governo criados programas sociais esportivos inovadores, a exemplo
do Programa Esporte e Lazer da Cidade (PELC) e Programa Segundo Tempo
(PST). Todavia, a partir de 2007, a tônica da política esportiva foi a organiza-
ção dos Megaeventos e o EAR (ATHAYDE, 2011; MASCARENHAS, 2016;
GUIMARÃES, 2017; CARNEIRO, 2018), o que se evidencia pela pauta da III
Conferência Nacional do Esporte e pelo Plano Decenal de Esporte e Lazer, quando
a política esportiva passa a se orientar pela meta colocar o Brasil no ranking das
potências olímpicas em termos de conquistas de medalhas (FLAUSINO, 2013).
O terceiro maior gasto foi com Infraestrutura, R$ 3,09 bilhões, o que
representou 15,59% do orçamento do esporte. Todavia se somarmos os R$ 5,06
bilhões gastos com Infraestrutura para os Megaeventos, totalizam-se 42,86%
Considerações finais
Desporto e Lazer. Além disso, outras funções também têm possuem relevo,
como Defesa Nacional, Educação e Cultura, alocando recursos na subfunções
da função Desporto e Lazer.
Ao longo dos 20 anos analisados houve dificuldade de execução dos
recursos planejados para o esporte, fruto de processo de contingenciamento,
voltados a constantes processos de ajuste fiscal, haja vista o contexto de
contrangimento aos gastos públicos e políticas sociais impostos pela agenda
neoliberal. Cabe ainda registrar que o orçamento para o esporte oscilou bas-
tante no período, além de ter tido uma participação marginal no OFSS. A
prioridade do gasto orçamentário com esporte foi com Megaventos e com
Infraestrutura. Assim, pode-se se dizer a vivência esportiva no âmbito do
EELIS e EAR não esteve no primeiro plano do orçamento do esporte, a não
ser em momento pontuais.
O governo Lula 1 priorizou inicialmente o acesso ao esporte como direi-
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, B. S.; Marchi Júnior, W. O financiamento dos programas federais
de esporte e lazer no Brasil (2004 a 2008). Movimento, Porto Alegre, v. 16,
n. 4, p. 73-92, out./dez. 2010.
Introdução
78 Educador social, assistente social e professor associado da Escola de Serviço Social da Universidade Federal
Fluminense. Membro do Programa de Pós Graduação em Serviço Social e Desenvolvimento Regional e
Coordenador do Núcleo de Extensão e Pesquisa em Direitos Humanos, Infância, Juventude e Serviço Social.
E-mail: rodrigolima@id.uff.br
216
Jesuítas junto aos curumins, pela Santa Casa de Misericórdia e pela a Roda
dos Expostos. No que tange a ação estatal destaca-se o surgimento do Primeiro
Código Penal de República, dos Códigos de Menores (de 1927 e 1979), do
Juizado de Menores, do Serviço de Assistência ao Menor, da Legião Brasileira
de Assistência, da Fundação Nacional de Bem Estar do Menor até alcançar,
mais recentemente, os lampejos de uma cidadania idealizada com a elaboração
da Lei 8.069/1990, Estatuto da Criança e do Adolescente79 e nas legislações
da saúde, da assistência social e da educação (PILOTTI; RIZZINI, 1995; DEL
PRIORE, 2009; FREITAS, 2016).
O nódulo de resistência e rebeldia na ação da Pastoral do Menor, da
Associação dos Ex Alunos da Funabem (ASSEAF), do Movimento Nacio-
nal de Meninos e Meninas de Rua (MNMMR) e das forças progressistas
remanescentes no Fórum Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente
(FNDCA), contribuiu para formalizar um modelo de atendimento (e de enten-
dimento do público em questão) e, não obstante, a forjar no imaginário social
e na formação política de conselheiros(as) tutelares e demais profissionais do
Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente (SGDCA)80 a
necessidade imperiosa de superação de um quadro desigual, de negação da
infância e da cidadania. Sendo assim, o ECA tão ameaçado por segmentos
conservadores, mesmo depois de três décadas, como lei e, ao mesmo tempo,
79 Para além dessa lei é possível enumerar outros ordenamentos jurídicos recentes e fundamentais na proteção
social em geral, como o Estatuto do Idoso, atual Estatuto da Pessoa Idosa (Lei nº 10.741/2003); o Estatuto
da Juventude (Lei nº 12.852/2013) e no Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015).
80 Instituído pelo Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, por meio da Resolução nº 113,
o SGDCA é constituído pela articulação de diversos sujeitos políticos, tanto de instâncias públicas gover-
namentais, como da sociedade civil e que atuam em rede para garantir os direitos humanos de crianças e
adolescentes no Brasil.
218
194 da CF, estabelece uma noção de proteção social inédita e ao mesmo tempo,
inacabada, que regulamenta um conjunto integrado de ações do governo e da
sociedade no que tange os direitos à saúde, à previdência social e à assistên-
cia social. Já Doutrina de Proteção Integral, prevista no ECA, tem no artigo
227 da CF a previsão de direitos fundamentais e de um sistema híbrido de
execução das políticas sociais, algo que reforça a dualidade do atendimento
na esfera pública e privada.
81 O Artigo 195 da CF postula que a seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e
indireta e mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios e das contribuições sociais dos empregadores, das empresas ou entidades a elas equiparadas,
na forma da lei. Cabe ressaltar que nem todos os programas voltados para crianças e adolescentes são
financiados com recursos do Orçamento da Seguridade Social (BOSCHETTI; TEIXEIRA; DIAS, 2006).
FUNDO PÚBLICO, ORÇAMENTO E POLÍTICA SOCIAL – 20 ANOS DO GOPSS / UERJ 221
82 Considera-se que toda política social é pública, mas nem toda política pública é política social. Em “Dis-
cussões conceituais sobre política social como política pública e direito de cidadania”, Pereira (2008, p. 94)
reforça a distinção entre “política pública e política estatal”. Há uma discussão bastante didática em Nogueira
Neto (2005, p. 14) onde as políticas públicas são classificadas de quatro maneiras: “como políticas sociais
(educação, saúde, assistência social etc.), políticas institucionais (segurança pública, defesa do Estado,
relações exteriores etc.), políticas infraestruturantes (transportes, turismo, indústria, comércio etc.) e políticas
econômicas (tributária, cambial, bancária)”.
222
83 A crítica de Mauriel (2000) constata que, além de ferir dispositivos constitucionais, se estimulou a participação
social com doações, trabalho voluntário reeditando práticas assistencialistas.
84 Art. 260 foi ampliado de maneira significativa e subdividido em letras do alfabeto para comportar o conjunto
de mudanças: 260 a, b, c, d, e, f, g, h, i, j, k, l.
224
85 De acordo com Benhken et al. (2012b) crianças e adolescentes no Rio de Janeiro representam, aproxima-
damente, 25% de toda a população. Outras informações pertinentes sobre o cálculo da proporcionalidade, o
uso de indicadores gerais, o quantitativo da população infanto-juvenil e o número de matrículas na educação
são encontradas no documento “De olho no orçamento Criança” (VELASCO et al., 2005, p. 16). Esse cálculo
visa medir os benefícios de ações governamentais não diretamente voltadas para crianças e adolescentes,
visto que atingem uma população maior do que a infanto-juvenil, como, por exemplo, quando se verifica o
número de leitos em hospitais.
226
e, a partir daí, conselheiros (as) entrevistados (as) puderam emitir a sua opinião
e o resultado do levantamento está assinalado em negrito na tabela abaixo.
compulsório, como uma das saídas adotadas, terminou por implantar a coerção
sobre o discurso da proteção e a construção das Casas Vivas, para atendimento
do público em questão, preencheu uma lacuna na rede assistencial. E embora seja
uma questão de responsabilidade de todas as políticas públicas, em especial da
saúde e da assistência, verificou-se uma única ação orçamentária no combate à
dependência ao crack que, diante da complexidade e emergência, apresentou um
valor orçamentário estimado em pouco mais de R$ 5 milhões para 2012, mas o
recurso não foi todo utilizado. As principais deliberações do Seminário apontaram
para: 1) Implementar a Política de Atendimento à Criança e ao Adolescente em
Situação de Rua – Deliberação nº 763/2009 AS/CMDCA (Assistência Social/
Conselho Municipal da Criança e do Adolescente); 2) Fortalecer e capacitar a
rede de garantia de direitos, através dos Centros de Referencia da Assistência
Social e de Referencia Especializado da Assistência Social (CRAS, CREAS) para
aumentar a inclusão de crianças e adolescentes nos Sistema Único de Assistência
Social e Sistema Único de Saúde; Adequar as ações municipais de atendimento
e intervenção junto a crianças e adolescentes usuárias ao Plano Nacional “Crack
é possível vencer” (BEHNKEN et al., 2012b, p. 14-15).
Na Educação (cultura e esporte) a “Escola do Amanhã” empatou com
“Obras e equipamentos para as unidades de educação infantil”, ambas com
86 Assinaram a carta, Marcelo Freixo (PSOL), Rodrigo Maia (PFL), Otávio Leite (PSDB) e Cyro Garcia (PSTU),
o único que não assinou foi Eduardo Paes (na época no PMDB), então candidato eleito.
87 Um estudo muito importante nessa área, publicado pela editora da UERJ, é de autoria de Zélia Caldeira (2021),
“Mães do crack: a produção de uma anormalidade”. No Serviço Social a dissertação de Ana Paula Cardoso
Silva (2017), “A política de drogas na ‘Cidade Maravilhosa’: pedras no meio do caminho” do Programa de
Pós-Graduação em Serviço Social e Desenvolvimento Regional da UFF, é uma importante referência. Cabe um
registro de outra dissertação, que aborda uma especificidade: “Orçamento Criança Adolescente e a Política de
Assistência Social no município de Teresina-PI: encontros e desencontros”, de autoria de Luciana Evangelista
Franco (2017), no Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas da Universidade Federal do Piauí.
228
88 A preocupação com os leitos hospitalares se mostrou ainda mais acertada diante da epidemia pelo vírus
Zika e da microcefalia no Brasil, em 2016, e dos esforços políticos e sanitários para seu enfrentamento.
FUNDO PÚBLICO, ORÇAMENTO E POLÍTICA SOCIAL – 20 ANOS DO GOPSS / UERJ 229
89 No âmbito municipal, as receitas correntes se desdobram em: 1) receitas tributárias (impostos mais taxas);
2) receitas patrimoniais; 3) contribuições; 4) serviços; 5) transferências correntes (parcela do ICMS18
arrecadado pelo estado e cota parte do IPVA); e 6) outras receitas correntes (como a dívida ativa, ou seja,
multas etc.) (cf. LIMA, 2015, p. 192).
230
Considerações Finais
REFERÊNCIAS
AGUILAR FILHO, S. Educação, autoritarismo e eugenia: exploração do
trabalho e violência à infância desamparada no Brasil (1930-1945). Tese (Dou-
torado) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, 2011.
DEL PRIORE, M. (org.). História das crianças no Brasil. São Paulo: Editora
contexto, 2009.
Introdução
91 Isso significa que ao quebrar uma reprodução da força de trabalho que era pautada por economias de sub-
sistência e coletivizada, ela se torna cada vez mais dependente do mercado e da compra de mercadorias.
92 As palavras de expulsão, limpeza, extermínio e demais formas de violência extraeconômica são recorrentes na
pluma de Marx (1981) ao falar da acumulação originária. Apropriação e cercamento das terras comunais; expulsão
dos camponeses e produtores rurais para a transformação das suas lavouras em pastagens; apropriação de
terras que estavam nas mãos da Igreja e usurpação direta de propriedades do Estado; sistema de dívida pública;
colonização e escravização, são alguns dos mecanismos expropriatórios reconhecidos por este intelectual, que
foram utilizados nos primórdios do capitalismo para separar o trabalhador dos seus meios de subsistência e
torna-los capital. Esta expropriação primária, fundamente e originária, nos termos de Fontes (apud BOSCHETTI,
2018), é condição e pressuposto para criar, de um lado, o trabalhador assalariado, e de outro, o capitalista.
FUNDO PÚBLICO, ORÇAMENTO E POLÍTICA SOCIAL – 20 ANOS DO GOPSS / UERJ 241
93 Mota (apud BOSCHETTI, 2018) afirma que essas novas expropriações alargam os termos e as condições
de superexploração da força de trabalho, não apenas pelo apelo a métodos de exploração redobrados, mas
também porque se expropria o acesso à proteção social pública num quadro de desemprego e generalização
do emprego desprotegido.
94 As análises de Boschetti e Behring (ambos artigos reunidos na coletânea organizada por Boschetti, 2018)
confluem e dão visibilidade a aspectos diferenciados da expropriação que se opera no âmbito dos direitos
sociais: seja destacando a restrição da participação do Estado nos custos de reprodução da força de tra-
balho; seja a funcionalidade da política de assistência social para garantir melhores condições de retração
dos direitos do trabalho e da previdência (e portanto, da superexploração da força de trabalho); seja pela
dinâmica de alocação do fundo público num ambiente de contrarreformas e crise estrutural do capital.
95 Para essa caracterização e periodização, utilizaremos os aportes de Seoane, Taddei, Algranati (2013), Katz
(2016), Svampa (2019).
242
96 Tal como aponta Coggiola (2009), apesar de ter impacto na redução da pobreza absoluta, trata-se de uma
medida financiada, fundamentalmente, com a transferência de renda dos assalariados para os setores mais
pobres, na medida em que não há qualquer taxação do capital nem medidas que revertem a concentração
de renda. Na mesma direção, as análises presentes em Behring (2018) e Salvador (2018) nos permitem
afirmar que as contrarreformas tributárias que expandem a tributação indireta (sobre o consumo) implicam
em mais uma punção sobre os salários dos trabalhadores, questionando o suposto potencial redistributivo
dessas políticas sociais.
97 Moreira (2017) fundamenta a partir de dados oficiais que durante os governos do PT é possível observar
uma reconcentração de terra e um abandono da perspectiva da reforma agrária.
98 As opções para lidar com o déficit habitacional – pautadas na lógica de financeirização (e endividamento)
próprio do modelo primário exportador privilegiado – provocarão esse encarecimento, marcando um boom
imobiliário no período de 2009-2015. Este será um dos pontos de disputa e de conflito entre o governo e o
MTST, em torno do Programa Minha Casa, Minha Vida, que vem para responder a uma demanda do setor
da construção civil pós crise de 2008, buscando “conciliar” com a histórica necessidade de habitação popular.
Cf. Braga (2017), Tatagiba e Galvão (2019).
99 Segundo Antunes e Braga (2014, p. 44), sob os governos do PT, aproximadamente 94% dos empregos
criados no mercado formal de trabalho, remuneravam até 1,5 salários mínimos; ao tempo que crescem os
acidentes de trabalho, a terceirização, a precarização e a rotatividades dos empregos, apontando o caráter
e a qualidade do emprego que se expande. Cf. também Braga (2017).
100 Dados analisados por Castelo (2013, p. 126) mostram que ao longo dos oito anos do mandado do governo
Lula, os lucros de nove bancos bateram recordes (contabilizando 174 mil milhões), enquanto que nos anos
FUNDO PÚBLICO, ORÇAMENTO E POLÍTICA SOCIAL – 20 ANOS DO GOPSS / UERJ 243
os hidrocarbonetos) e a nacionalização desse bem natural em 2006, receberão uma primeira contestação
nas tentativas de desestabilização em 2008, finalmente efetivadas como golpe em 2019.
104 Uma classe burguesa que está “saturada” significaria que “não só não se difunde, mas se desagrega; não só
não assimila novos elementos, mas desassimila uma parte de si mesma (ou, pelo menos, as desassimilações
são muitíssimo mais numerosas do que as assimilações)” (GRAMSCI, 2000b, p. 271).
105 Lembremos que para Gramsci a “supremacia” de uma classe que pretende a construção de uma ordem
duradoura requer que ela seja não apenas “dominante” (que possua o controle do aparelho de Estado e
suas funções ditatoriais), mas também “dirigente”, “hegemônica”, no sentido de ser capaz de exercer uma
direção intelectual e moral dos outros grupos e classes sociais, expandindo suas fronteiras de classe pela
sua capacidade de estabelecer “soluções de compromisso” com esses outros segmentos. Nas palavras de
Gramsci, “[...] a vida estatal é concebida como uma contínua formação e superação de equilíbrios instáveis
(no âmbito da lei) entre os interesses do grupo fundamental e os interesses dos grupos subordinados,
FUNDO PÚBLICO, ORÇAMENTO E POLÍTICA SOCIAL – 20 ANOS DO GOPSS / UERJ 245
não deste sobre outras forças para fortalecer o movimento [...]”106. Será que
podemos falar de uma “hegemonia limitada” às margens das próprias classes
dominantes, que expressa a retração dos componentes do “consenso ativo e
organizado” em relação às classes subalternas?107 Lembremos que nos casos
de transformismo a oposição à participação popular na vida do Estado e as
“reformas” feitas com base na “ditadura” sobre as classes subalternas supõe
uma espécie de hegemonia limitada ao próprio bloco dominante (Cf. BRAGA
apud DIAS, 1996).
Se este padrão de desenvolvimento em curso na América Latina não cria
crescimento sustentável nem empregos estáveis, não promove bem-estar social
de longo prazo (pois o máximo “tolerável” é expandir relativos processos de
distribuição monetária em períodos delimitados) e supõe um “efeito colateral”
de esgotamento de bens naturais essenciais para a vida humana, pode estar
expressando uma certa tendência à desuniversalização da dominação burguesa.
Note-se que não estamos sugerindo o enfraquecimento ou subestimando o
domínio das classes dominantes.
O Brasil dá mostras de que “[...] vivemos uma dominação de classes
caracterizada pelo máximo investimento no consenso por parte do grande
capital” (MATTOS, 2017, p. 19), que busca ampliar seus aparelhos de hege-
monia para cimentar a subalternidade. Nessa direção, não poderíamos deixar
de mencionar o significado do governo Bolsonaro (2018-2022) para a mobi-
lização à direita das insatisfações e frustrações que perpassam o cotidiano de
equilíbrios em que os interesses do grupo dominante prevalecem, mas até um determinado ponto, ou seja,
não até o estreito interesse econômico-corporativo” (GRAMSCI, 2000b, p. 42).
106 Gramsci (2002, p. 330) [grifos nossos].
107 Trabalhamos a metáfora da “hegemonia limitada” em relação à experiência Argentina na nossa tese de
doutorado (Cf. MARRO, 2009).
246
108 Cf. Braga (2017, p. 171). Na mesma direção, Fontes (2008) analisa a conversão mercantil-filantrópica de
parte da militância social.
FUNDO PÚBLICO, ORÇAMENTO E POLÍTICA SOCIAL – 20 ANOS DO GOPSS / UERJ 247
e restringir o seu poder no seio do Estado – cada vez mais blindado, como na
análise de Demier (2017a).
No contexto da ofensiva neoextrativista, o consenso ativo e organizado
dos subalternos parece uma “quimera”, pois ele opera apenas no interior do
bloco dominante. Talvez suas margens tenham sido amplificadas a um máximo
possível “tolerável”, nas experiências dos dissimiles governos que propuseram
“deslocamentos” e rupturas em relação à programática neoliberal, ao custo de um
transformismo que “decapitou” organizações importantes das classes subalternas.
Na medida em que os governos do PT do período 2003-2016 aderiram à
plataforma neoliberal sem provocar rupturas com o núcleo duro da sua política
econômica, apesar das suas contradições, também foram responsáveis pelo
apaziguamento dos conflitos e a construção de consensos em torno do regime,
apostando na conciliação de classe (e na pacificação das tensões entre capital
e trabalho) para conter potenciais convulsões sociais109. Mesmo havendo reco-
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109 Cf. trabalhos reunidos no livro organizado por Mattos (2017), sobretudo os artigos do próprio Mattos (idem),
Demier (2017b), Maciel (2017), Coelho (2017). Sobre o transformismo petista, cf. Coutinho (2010), Oliveira
(2007 e 2010), Paulani (2010), Braga (2017), Demier (2017a), Cislaghi (2020a), Mattos (2020).
110 Não poderíamos subestimar a importância de um conjunto de políticas e programas criados nestes gover-
nos, que expressaram reivindicações históricas de diversos movimentos sociais. Apenas para citar alguns
exemplos: a Secretaria Nacional de Políticas para as mulheres; a Política Nacional de Saúde Integral da
População Negra; a Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo, das Águas e da Flo-
resta; a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial; a Política Nacional de Saúde Integral da
população LGBT; dentre tantas outras. Não é por casualidade que todas elas tenham sido deliberadamente
desestruturadas no governo Bolsonaro, provocando retrocessos incalculáveis.
111 Conferir Demier (2017a); Mattos (2020b).
248
O que se pode contrapor, por parte de uma classe inovadora, a este com-
plexo formidável de trincheiras e fortificações da classe dominante? O
espirito de cisão, isto é, a conquista progressiva da consciência da própria
personalidade histórica, espirito de cisão que deve tender a se ampliar
da classe protagonista às classes ainda potenciais: tudo isso requer um
complexo trabalho ideológico [...] (GRAMSCI, 2000a, p. 79).
113 Entre 2011 e 2013, os trabalhadores das usinas hidroelétricas de Belo Monte, Jirau e Santo Antônio realizam
8 greves, sendo em 2012 o auge das paralisações nas obras de Belo Monte, (coincidentemente?) mesmo
ano em que a cidade de Altamira registra um recorde no número de estupros, conforme dados analisados por
Barroso (2018). Ainda que a violência patriarcal seja um fenômeno complexo e multicausal, é inevitável não
estabelecer algumas relações: ao mesmo tempo em que se acirram conflitos entre os trabalhadores, aumenta
a violência sexual contra as mulheres, pudendo funcionar como um eficiente mecanismo que desvia tensões
de classe e interdita uma potencial unificação das classes subalternas em torno de pautas universais como
a luta contra a superexploração da força de trabalho, a violência sexista, a depredação social e ambiental
derivada da construção da UHE de Belo Monte. Veremos que essas pautas estiveram presentes nas inciativas
de diversos movimentos sociais, entre os que se destacam o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB)
e o Movimento Xingu Vivo para Sempre (MXVPS), Colocar por extenso ainda que, provavelmente com menos
permeabilidade e grandes dificuldades para romper o cerco da fragmentação dos trabalhadores precários
mobilizados pelas grandes obras.
252
A modo de conclusão
“Oh, maldición de malinche, Enfermedad del presente ¿Cuándo dejarás
mi tierra..? ¿Cuándo harás libre a mi gente?”
La Maldición de la Malinche, Amparo Uchoa
114 Segundo dados da Hutukara Associação Yanomami (2022), a maior reserva indígena do Brasil passa pelo
pior momento de invasões em 30 anos, considerando que 56% dos 27.000 habitantes da Terra Indígena
Yanomami estão sendo afetados pelo garimpo ilegal. Nos últimos 3 anos, o garimpo ilegal na reserva
praticamente triplicou, passando de 1200 hectares para 3272 hectares. Escravidão por dívida, aliciamento,
violência sexual contra mulheres e crianças, assassinatos, malária e desnutrição infantil são algumas das
suas principais consequências.
115 Segundo dados do II Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da covid-19,
no ano de 2022, 33,1 milhões de pessoas não tem o que comer – contra 19,1 milhões no fim de 2020 –,
representando 14 milhões de novos brasileiros/as em situação de fome. A destruição acelerada orquestrada
pelo governo Bolsonaro das políticas de proteção e de combate à pobreza mantém mais da metade da
população brasileira (58,7%) em insegurança alimentar, redundando num quadro onde apenas 4 de 10
famílias tem acesso pleno à alimentação.
254
116 Cf. Zibechi (2010), Mota (2012), Seoane, Taddei e Algranati (2013), Svampa (2019).
FUNDO PÚBLICO, ORÇAMENTO E POLÍTICA SOCIAL – 20 ANOS DO GOPSS / UERJ 255
REFERÊNCIAS
ANTUNES, Ricardo; BRAGA, Ruy. Os dias que abalaram o Brasil: as rebe-
liões de junho, julho de 2013. Revista de Políticas Públicas, São Luiz,
número especial, p. 41-47, 2014.
DIAS, Edmundo Fernandes et al. O outro Gramsci. São Paulo: Xamã, 1996.
[…] Los pueblos que no se conocen han de darse prisa para conocerse,
como quienes van a pelear juntos. […] Se ponen en pie los pueblos, y se
saludan. “¿Cómo somos?” se preguntan; y unos a otros se van diciendo
cómo son. […] ¡Porque ya suena el himno unánime; la generación actual
lleva a cuestas, por el camino abonado por los padres sublimes, la América
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Introdução
117 Neste texto recupera-se e se faz uma síntese de diversas reflexões, individuais e coletivas, realizadas no
contexto da aproximação e participação dentro do Grupo de Estudos e Pesquisas do Orçamento Público e da
Seguridade Social (GOPSS) e do Centro de Estudos Octavio Ianni (CEOI), sob a coordenação da professora
Dra. Elaine Behring, a partir do segundo semestre de 2021. Assim como da participação em diversos eventos
internacionais, em debates sobre conjuntura na Nossa América, lutas sociais, processos emancipatórios,
entre 2015 e 2022. Também da possibilidade de ministrar cursos de fundamentos do Serviço Social em
várias universidades entre 2016 e 2022. Parte dos elementos aqui desenvolvidos foram apresentados no
XXVII Encontro Nacional de Pesquisadores em Serviço Social (ENPESS), na mesa temática coordenada
pela professora Dra. Juliana Fiuza, “Ultraneoliberalismo, neofascismo e dependência” e no XXIII Seminário
da Associação Latino-Americana de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ALAEITS, por sua sigla em
espanhol), em trabalho realizado junto com Nora Guevara Peña, no painel coordenado pelo professor Dr
Alejandro Casas, “Coyuntura latino-americana, luchas sociales y desafios para el Trabajo Social”.
118 Professor adjunto do Departamento de Fundamentos Teórico-Práticos do Serviço Social, da Faculdade de
Serviço Social, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Integrante do GOPSS e do CEOI.
262
Assim, tenta, até os dias de hoje, por vários meios, realizar plenamente seu
suposto “Destino Manifesto”, na intenção de submeter os povos da Nossa
América às suas necessidades e interesses particulares.
Mas, Nossa América, não expressa apenas processos de expropriação,
exploração, opressão e dominação, por isso também é fundamental reco-
nhecer, apreender e pensar nas diversas resistências, por mais de 500 anos,
dos povos originários da Abya Yala e dos povos africanos racializados como
negros, escravizados.
Assim como das lutas pela independência, a partir do final do século
XVIII, e durante o século XIX, na busca pela emancipação política, inspirada,
em parte, pela revolução burguesa francesa; do povo haitiano até o povo
cubano, passando pelos processos liderados por Simón Bolívar na Grande
Colômbia e San Martín no sul do continente, mas presente ainda nas diversas
lutas pela segunda e definitiva independência120, e especialmente nas lutas do
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povo porto-riquenho.
E, é claro, das diversas insurreições populares e lutas revolucionárias
durante o século XX, lideradas por camponeses e trabalhadores urbanos,
entre outros setores subalternizados, combinando diversas formas de luta, de
acordo com as particularidades de cada formação social.
Portanto, a referência à Nossa América não é apenas uma expressão
territorial, mas é, também e, sobretudo, uma expressão política, que, reco-
nhecendo a nossa diversidade, permite uma síntese da nossa história comum
e da necessidade concreta da unidade das lutas dos nossos povos.
Além disso, a Nossa América é uma região geoestratégica para o mundo,
no século XXI, por suas fontes hídricas, de hidrocarbonetos, minérios, pela
floresta amazônica, entre outros; motivo pelo qual, cada vez mais, estará no
centro das disputas inter-capitalistas, inter-imperialistas, o que tem repercus-
sões, também, para pensarmos as lutas sociais e de classes na região toda e
em cada país.
120 Esta aposta de uma segunda ou verdadeira independência, foi retomada em diversos momentos e proces-
sos na região. A expressão verdadeira independência ficou conhecida amplamente a partir do discurso de
Ernesto “Che” Guevara na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) em 1964; mas já
Fidel Castro fez essa referência na “Segunda declaração da Havana” em 1962; foi José Martí, quem fez,
primeiramente, referência à segunda independência, ainda no final do século XIX.
121 Aqui se retomam elementos de análise estudados em Boron (2007), Castelo (2013), Katz (2015, 2010),
Machado-Gouvea (2022), Mota (2012), Sierra-Tapiro (2019, 2017).
264
nem todo capitalismo tem porque ser assim, neoliberal, portanto que seria
possível relações mais solidárias e humanas nessa sociedade; e/ou, por outro
lado, se pretende enfrentar o imperialismo estadunidense, mas assumindo a
dominação e expropriação de outros países da região (embora não se coloque
explicitamente assim, senão, de forma mistificada, como relações de coope-
ração e intercâmbio).
Um elemento chave e complexo de todo esse processo, é que durante
a primeira década do século XXI, tanto os governos ditos “progressistas”,
como os mais alinhados aos interesses imperialistas na região (não só dos
EUA), confluíram no extrativismo e na reprimarização da economia, o que
independente da sua posição política, aprofundou as bases da dependência
econômica e fragilizou a produção própria.
Diante da crise econômica que começou nos EUA em 2007-2008 (que
por sua vez é parte da crise estrutural do capital), que foi posteriormente
sentida na Europa (com maior força na Espanha, Grécia, Portugal e Itália) e
que começou a se expressar na Nossa América, no início da segunda década
deste século; os chamados governos “progressistas” também entraram em crise
política, em grande parte devido às suas próprias limitações e contradições
políticas, sociais e econômicas.
O que tornou possível uma nova ofensiva dos setores mais reacionários
e abertamente neoliberais, das classes dominantes, que de forma permanente
(e com o apoio do imperialismo estadunidense), têm boicotado e desestabi-
lizado, vários dos governos denominados progressistas, contando com um
importante papel dos meios de comunicação de massa, assim como do poder
judiciário, com a perseguição de dirigentes políticos e sociais (incluindo pre-
sidentes, ex-presidentes e vice-presidentes), e, também, com uma mobilização
266
122 Para uma aproximação ao processo recente na Colômbia ver De Zubiria e Libreros (2021), Estrada-Alvarez
(2021 e 2022), Guevara-Peña e Sierra Tapiro (2022), Sierra-Tapiro (2022, 2021a).
268
123 Por exemplo, na articulação do Fórum de Madrid, que se apresenta como defesa da liberdade, da democracia
e do Estado de Direito, em confronto com o que denominam o avanço da “extrema esquerda”, especialmente
na Europa e na Nossa América.
FUNDO PÚBLICO, ORÇAMENTO E POLÍTICA SOCIAL – 20 ANOS DO GOPSS / UERJ 269
124 O imperialismo entendido como parte do desenvolvimento capitalista, iniciado entre final do século XIX e início
do século XX, portanto, como um processo fundamentalmente econômico. O imperialismo se caracterizou
pela conformação do capital monopolista, o surgimento do capital financeiro (como unidade entre o capital
industrial e bancário), entre outros aspectos. Além da dominação econômica, o imperialismo também implica
na dominação política e militar, de forma diferente da dominação própria dos impérios colonialistas. Sobre
o imperialismo ver Lenin (2008), Braz e Netto (2006), Katz (2011).
270
fervia, com processos de lutas pela libertação nacional, luta anticolonial, luta
pelo socialismo e diversos processos emancipatórios em todo o mundo.
A resposta por parte dos Estados capitalistas em particular e do imperia-
lismo no geral, foi o reforço e a intensificação da estratégia contra-insurgente.
Alguns processos que evidenciam que o mundo fervia foram:
Revolução chinesa (1949), que se assumiu como socialista (aliada da
URSS), em um país de tamanho continental, o que implicou num alerta para
os EUA e na sua intervenção em outras guerras de libertação na Ásia.
Guerra de Libertação da Coreia (1950 a 1953), conhecida no Ocidente
como a “Guerra da Coreia”. Que terminou com a cisão permanente, até os
dias de hoje, entre a República Democrática da Coreia (Coreia do Norte, que
se assumiu como socialista, aliada da URSS e da China) e a Coreia do Sul
(aliada dos EUA).
A guerra imperialista da Indochina (1955 a 1975), conhecida no Ocidente
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interior (que incluía táticas civilistas e armadas), na luta pelos direitos civis do
povo negro, o que terá repercussões, na luta antirracista, em todo o ocidente.
Na Europa ocidental, explode o Maio de 68 ou o Maio Francês, com
um protagonismo da juventude, estudantil e trabalhadora, mas que não foi
restrito à França, nem ocorreu apenas em 68, tendo repercussões em todo o
mundo, inclusive, na Nossa América.
Nesse movimento se colocaram em xeque os valores e relações sociais
da sociabilidade burguesa no seu conjunto (além das relações de exploração
da força de trabalho, se expressaram também contestações sobre as relações
de opressão sobre as mulheres e começam a se expressar as dissidências de
gênero e sexualidades, assim como também são denunciadas as relações de
exploração destrutoras da natureza, entre outras), sendo, possivelmente, a
primeira expressão cultural e política da crise estrutural do capital125.
Essas expressões de lutas não foram somente parte de uma disputa
125 Já na segunda metade da década de 1960 e na primeira metade da década de 1970, começa a expressar-se
a crise estrutural do capital, que aparece como uma crise do “Estado de bem-estar social” e do fordismo-
-taylorismo, mas que é o início de uma crise econômica (dos limites da reprodução ampliada do capital),
política (do Estado burguês), social (da barbárie produzida pelo capital) e ambiental (dos limites da relação
destrutora da natureza), o que coloca, em geral, as bases para o questionamento da sociabilidade burguesa
e a necessidade de uma nova sociabilidade, superando as diversas formas de exploração, opressão e
dominação. Sobre a crise estrutural do capital, ver Mandel (1990), Mészáros (2009), Antunes (2007), Harvey
(1992). Uma síntese introdutória encontra-se em Sierra-Tapiro (2017).
126 Sobre a vigência do projeto da Unidade Popular para a Nossa América, ver Sierra-Tapiro (2021b).
FUNDO PÚBLICO, ORÇAMENTO E POLÍTICA SOCIAL – 20 ANOS DO GOPSS / UERJ 273
127 Sobre o Estado contra-insurgente e o seu processo de institucionalização, ver Marini (1978), Murga e
Hernández (1980).
274
128 Sobre o neoliberalismo e suas repercussões, ver Anderson (2003), Harvey (1992), Antunes (2018, 2007),
Estrada (2004), Behring (2008).
FUNDO PÚBLICO, ORÇAMENTO E POLÍTICA SOCIAL – 20 ANOS DO GOPSS / UERJ 275
REFERÊNCIAS
ANDERSON, P. “Neoliberalismo: un balance provisorio”. In: LA TRAMA
DEL NEOLIBERALISMO. Buenos Aires: CLACSO. 2003.
cavirtual.clacso.org.ar/Panama/cela/20120717032041/crisis.pdf
KATZ, C. Bajo el imperio del capital. Buenos Aires: Ediciones Luxemburg, 2011.
MANDEL, E. A crise do capital. São Paulo: Ed. Ensaio e Ed. Unicamp, 1990.
A
Acumulação capitalista 29, 56, 58, 61, 62, 82, 136, 149, 216, 233, 240,
241, 253
Agricultura 55, 150, 169, 172, 173
B
Bolsonarismo 72, 75, 76, 115, 234
Bolsonaro 8, 11, 22, 31, 35, 58, 69, 70, 72, 73, 74, 78, 96, 113, 114, 143,
193, 194, 195, 198, 199, 200, 202, 204, 207, 208, 209, 210, 213, 246, 247,
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C
Capitalismo 7, 8, 10, 11, 14, 19, 20, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 32, 33,
34, 35, 36, 37, 38, 39, 41, 42, 43, 45, 46, 48, 49, 50, 51, 53, 54, 55, 56, 59,
60, 61, 62, 64, 65, 66, 67, 70, 77, 81, 82, 84, 93, 97, 99, 101, 104, 105, 108,
115, 120, 126, 132, 135, 136, 141, 142, 143, 144, 146, 147, 151, 154, 155,
158, 159, 160, 180, 182, 216, 220, 233, 236, 237, 240, 241, 244, 247, 256,
257, 261, 262, 265, 268, 270, 272, 274, 275, 276, 277, 278
Cidadania 62, 70, 71, 83, 111, 112, 132, 194, 207, 209, 217, 218, 220, 221,
224, 227, 233, 234, 236
Colonialismo 57, 141, 142, 143, 152, 153, 166
Corrupção 58, 87, 183, 184, 188, 192
Crise estrutural do capital 31, 53, 57, 62, 65, 241, 265, 267, 268, 271, 272,
274, 275, 279
Crítica da economia política 9, 19, 22, 23, 25, 51, 97, 116, 139
D
Democracia 29, 31, 33, 35, 36, 56, 58, 66, 73, 74, 75, 76, 77, 79, 80, 153,
165, 169, 233, 239, 257, 264, 268, 274, 279, 290
Democratização 15, 20, 79, 169, 178, 180, 218, 221, 224, 232, 264, 268
Descentralização 62, 90, 178, 215, 220, 221
Desemprego 24, 53, 57, 86, 154, 166, 183, 185, 241
282
Desigualdades 11, 47, 119, 130, 140, 152, 155, 156, 157, 165, 166, 172, 186,
187, 188, 189, 216, 220
Dilma 58, 84, 123, 143, 194, 195, 196, 198, 199, 200, 202, 203, 204, 208,
209, 210, 212, 213, 247
Dinheiro 25, 27, 30, 76, 84, 88, 102, 104, 108, 110, 118, 177, 182, 183
Ditadura 35, 56, 61, 66, 67, 79, 218, 245, 257, 273, 274
E
Enfrentamento 61, 64, 111, 132, 153, 188, 226, 227, 228, 264, 265, 267,
268, 270, 276
Estado social 7, 28, 29, 30, 46, 53, 54, 60, 61, 62, 64, 65, 187
Extrativismo 11, 172, 173, 242, 253, 254, 255, 265
I
Imperialismo 28, 34, 37, 43, 51, 54, 55, 56, 115, 132, 145, 147, 257, 264,
265, 267, 269, 270, 271, 272, 274, 278
Imposto 85, 88, 95, 96, 118, 119, 120, 122, 123, 124, 125, 126, 127, 128,
129, 130, 133, 134, 135, 137, 138, 154, 197, 216, 223, 224
Imposto de renda 85, 88, 95, 96, 120, 122, 123, 125, 126, 127, 134, 138,
197, 223, 224
Indígenas 26, 31, 32, 152, 249, 250, 251, 253, 254
Institucionalização 155, 157, 217, 218, 250, 273, 274, 276
L
Liberalismo 27, 29, 74, 216, 256, 277
Liberdade 14, 73, 74, 81, 94, 207, 219, 233, 268
Lucro 29, 30, 46, 47, 58, 59, 61, 84, 93, 94, 101, 102, 103, 105, 107, 118,
123, 125, 147, 158, 200, 224
Lula 8, 10, 11, 20, 58, 69, 70, 71, 74, 75, 76, 77, 79, 81, 82, 83, 84, 92, 96,
108, 117, 132, 133, 143, 177, 193, 194, 195, 196, 198, 199, 200, 202, 203,
204, 207, 208, 210, 211, 212, 242, 254, 255
FUNDO PÚBLICO, ORÇAMENTO E POLÍTICA SOCIAL – 20 ANOS DO GOPSS / UERJ 283
M
Mercantilização 58, 81, 82, 91, 97, 178, 190, 220, 250, 253, 255
Mundialização 30, 33, 36, 57, 65, 66, 105, 115, 139, 146, 158, 160
N
Neofascismo 10, 22, 31, 32, 35, 64, 69, 71, 72, 75, 79, 96, 114, 252, 258,
261, 279
Neoliberalismo 27, 30, 31, 34, 62, 70, 75, 76, 92, 115, 135, 159, 211, 221,
247, 249, 252, 256, 257, 258, 264, 265, 266, 267, 268, 273, 274, 275, 276, 277
O
Orçamento público 8, 9, 10, 11, 13, 14, 17, 18, 19, 20, 24, 26, 38, 63, 81, 82,
88, 94, 95, 101, 110, 115, 117, 144, 145, 150, 163, 171, 193, 194, 195, 198,
Editora CRV - Proibida a comercialização
199, 200, 203, 210, 215, 219, 221, 222, 224, 225, 232, 233, 234, 235, 236,
237, 261, 289, 290, 291, 292
P
Pagamento 57, 84, 86, 87, 88, 91, 92, 94, 95, 96, 109, 112, 114, 120, 121,
125, 131, 132, 134, 143, 144, 145, 177, 182, 209, 220, 222, 243
Pandemia 25, 53, 79, 96, 172, 210, 213, 230, 241, 252, 253, 258, 259, 267
Patrimônio 31, 117, 118, 119, 120, 121, 122, 124, 127, 128, 132, 133, 137, 166
Pobreza 25, 64, 86, 130, 164, 165, 166, 172, 175, 178, 184, 185, 188, 191,
216, 221, 241, 242, 243, 253, 254, 255
Políticas sociais 7, 10, 14, 18, 19, 22, 23, 29, 30, 44, 49, 50, 53, 58, 59, 60,
61, 62, 63, 65, 73, 82, 84, 91, 99, 101, 102, 107, 108, 109, 110, 112, 115, 116,
117, 132, 134, 136, 155, 156, 159, 191, 203, 204, 210, 213, 215, 218, 219,
220, 221, 224, 226, 232, 235, 236, 237, 242, 243, 247, 254, 255, 270, 275, 279
Privatização 43, 44, 47, 50, 58, 62, 65, 81, 82, 91, 92, 94, 95, 96, 97, 109,
178, 182
R
Racismo 42, 54, 142, 150, 153, 154, 155, 157, 159, 160, 235, 255
Redemocratização 9, 19, 62, 83, 211, 256
Regressividade 88, 91, 92, 95, 117, 118, 119, 120, 121, 126, 130, 131, 132,
134, 222
Remuneração 63, 89, 102, 110, 111, 112, 114, 120, 122, 127, 144, 156, 200
Roubo 39, 41, 42, 240
284
S
Salários 9, 31, 44, 49, 107, 109, 110, 121, 122, 123, 126, 154, 157, 209,
231, 242
Saneamento 88, 110, 175, 178, 185
Seguridade social 4, 9, 13, 14, 17, 18, 19, 36, 38, 62, 63, 66, 80, 81, 83, 84,
86, 87, 88, 95, 96, 97, 98, 107, 109, 114, 117, 123, 131, 132, 134, 140, 145,
155, 163, 194, 195, 215, 219, 220, 222, 225, 229, 237, 239, 243, 256, 261,
270, 289, 290, 291, 292
Serviço social 4, 13, 17, 20, 34, 35, 36, 37, 38, 43, 49, 53, 66, 67, 79, 81,
92, 97, 99, 140, 159, 163, 190, 211, 215, 227, 233, 234, 236, 237, 261, 262,
278, 289, 290, 291, 292
Socialismo 29, 34, 50, 66, 74, 258, 264, 269, 270, 271, 272, 274
Superexploração da força de trabalho 46, 54, 56, 58, 59, 60, 61, 64, 130, 135,
U
Ultraneoliberalismo 48, 79, 96, 108, 115, 235, 261, 279
V
Violência 22, 26, 30, 31, 39, 40, 41, 42, 43, 45, 49, 61, 96, 111, 142, 152,
166, 216, 219, 231, 232, 233, 235, 240, 241, 251, 253, 256
SOBRE AS(OS) AUTORAS(OS)
Felipe Demier
Doutor em História pela UFF e professor adjunto do Departamento de Polí-
tica Social (DPS) da Faculdade de Serviço Social (FSS) e do Programa de
Pós-Graduação de Serviço Social da UERJ. Membro do GOPSS/UERJ e do
CEOI/UERJ, é autor de “Depois do Golpe: a dialética da democracia blindada
no Brasil” (Mauad X. 2017), entre outros trabalhos. E-mail: felipedemier@
yahoo.com.br
286
Giselle Souza
Assistente Social. Mestre e doutora em Serviço Social pela Universidade do
Estado do Rio de Janeiro - UERJ. Professora da Universidade Federal do
Evilasio Salvador
Economista formado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC),
mestre e doutor em Política Social pela Universidade de Brasília (UnB) e
pós-doutor em Serviço Social pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(UERJ). Professor na Universidade de Brasília (UnB) na graduação em Ser-
viço Social e no Programa de Pós-graduação em Política Social. Bolsista
Produtividade do CNPq. Líder do núcleo de estudos e pesquisas sobre Fundo
Público, Orçamento, Hegemonia e Política Social (FOHPS). E-mail: evila-
siosalvador@gmail.com
Fernando Mascarenhas
Professor da Universidade de Brasília (UnB), onde atua no âmbito da gradua-
ção e pós-graduação em atividades de ensino, pesquisa e extensão vinculadas
às linhas: Políticas de Esporte e Lazer; Teoria Social do Esporte; Economia do
Esporte. Integra o Avante – Grupo de Pesquisa e Formação Sociocrítica em
Educação Física, Esporte Lazer da UnB. Possui Pós-Doutorado em Política
Social pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Mestrado e
Doutorado em Educação Física pela Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp). E-mail: fernando.masca@outlook.com
SOBRE O LIVRO
Tiragem: Não comercializada
Formato: 16 x 23 cm
Mancha: 12,3 x 19,3 cm ISBN 978-65-251-5394-0
Tipologia: Times New Roman 10,5 | 11,5 | 13 | 16 | 18
Arial 8 | 8,5
Papel: Pólen 80 g (miolo)
Royal | Supremo 250 g (capa)
9 786525 153940