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30 de Janeiro de 2024

Coculpabilidade ou culpabilidade
pela vulnerabilidade
A vulnerabilidade social do agente deve levar a uma
responsabilização da sociedade?
Publicado por Italo Gomes há 4 anos

CESUPI – CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DE ILHÉUS

Professora orientadora: Taiana Levinne Carneiro Cordeiro

Orientando: Ítalo Gomes Nascimento

RESUMO:

O presente escrito busca, mediante a aplicação do mé-


todo de pesquisa bibliográfica, compreender, explicitar e
verificar, se há deveras, um liame que responsabiliza a So-
ciedade, tornando-a, portanto, corresponsável em relação a
ilícitos penais cometidos por agentes socialmente vulnerá-
veis devido à convergência existente entre o Princípio im-
plícito da coculpabilidade ou culpabilidade pela vulnerabi-
lidade, a vulnerabilidade social do agente e a sociedade,
buscando possibilitar uma compreensão da discussão que
abarca a Teoria da Coculpabilidade e a sua aplicação no
contexto do jus puniendi (direito de punir do estado).

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Palavras-chave: 1) Sociedade; 2)crie uma
Coculpabilidade; 3) Culpa-
conta. LOGIN
ou
SE

bilidade; 4) Vulnerabilidade; 5) Jus puniendi.
INTRODUÇÃO:

O homem em seu estado natural nasceu bom, todavia, a


sociedade o corrompeu, pois o homem se tornou o lobo do
próprio homem. Diante de opiniões e entendimentos ine-
rentes à questão deste maniqueísmo de culpabilidade, au-
menta-se a ressalva de que este não é um tema novo, po-
rém, atual. A desigualdade social tem se desenvolvido com
o crescimento da sociedade, ricos e pobres sempre tiveram
lados desiguais, desfavorecendo ou favorecendo as existen-
tes classes sociais.

A incapacidade do estado em prover as condições neces-


sárias para que haja o bem estar social e a igualdade de to-
dos perante a lei, é um dos principais fatores que geram as
desigualdades sociais, essas que refletem diretamente na
aplicação do jus puniendi (direito punitivo do Estado) em
face do agente socialmente vulnerável, Zanotello em sua
tese de doutorado, cita Batista explicitando:

[...] que se trata de considerar a concreta experiência


social do acusado, as oportunidades que lhe foram
ofertadas e a assistência que lhe foi ministrada,
quando se for realizar o juízo de reprovabilidade
acerca da conduta. A reprovação que vai recair sobre
o criminoso se relaciona com as oportunidades e
perspectivas que o corpo social apresenta ao indiví-
duo. (BATISTA Apud ZANOTELLO, 2013, p. 60).

Ademais, falha o Estado, bem como a Sociedade, por não


disporem de medidas eficazes para a aferição da culpabili-
dade, bem como, de Políticas Públicas que possibilitem a re-
cuperação do indivíduo apenado e, também, dos que sofre-

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conta.
ou

ram sanções Penais e são postos em liberdade, contri-
buindo, assim, para a manutenção de uma sociedade defa-
sada economicamente e socialmente.

O ato de não aplicar efetivamente as Políticas Públicas


que diminuam as desigualdades sociais e possibilitem a
igualdade de todos, consequentemente, contribui de forma
ampla para a manutenção da taxa de criminalidade. Daí a
importância da aplicação do Princípio da Coculpabilidade
como medida mitigadora da sentença penal.

ANÁLISE E COMENTÁRIO DO CONTEÚDO:

Baratta ensina que: “O crime, antes de ser uma constru-


ção da dogmática jurídica, é um fato social.” (BARATTA
Apud ZANOTELLO, 2013ª, p. 60). Ademais, aos operadores
do direito e todos aqueles que fazem parte do mundo jurí-
dico a clássica imagem da deusa TÊMIS com os olhos ven-
dados e com uma balança nivelada na mão não é novidade.
Ali se tem uma representação a qual a venda nos olhos traz
a ideia de tratamento isonômico para todos. Entretanto,
este tratamento não passa de uma verdadeira utopia, haja
vista, que, em nossa sociedade, desde o princípio, nunca se
teve uma sociedade onde todos tivessem direitos e oportu-
nidades iguais em sua vida social, não se passou, evidente-
mente, nem perto desta conjuntura social que ensejou e,
enseja, da criação de várias políticas públicas e teorias soci-
ais capazes de acabar ou no mínimo minimizar efetiva-
mente essas desigualdades sociais existentes, ainda, em
pleno século XXI.

Esse pensamento principiou da teoria da Coculpabili-


dade, que vai além e busca a responsabilização do Estado
por não ter sido capaz de erradicar tal condição de desi-
Evite interrupções durantesocial.
gualdade sua pesquisa. Faça login ouda
O princípio crieCoculpabilidade
uma
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conta. 
sumo, leva ao banco dos réus, o próprio Estado juntamente
com o infrator socialmente vulnerável e, que tem no des-
caso do poder público, uma condição que contribuiu para
que ele praticasse o ato delituoso. Em tal hipótese, caso se
comprove que o comportamento do infrator teve ligação
com o déficit social em que ele está inserido, o Estado é jun-
tamente responsabilizado e a sua pena será atenuada. Já há
julgados criminais que confirmaram e efetivaram o uso
prático dessa teoria, invocando às circunstancias atenuan-
tes inominadas prevista no Artigo 66 do CP. Data Vênia, há
correntes que discordam totalmente desta teoria, mas, não
há a menor dúvida, que o meio que o indivíduo está inse-
rido corrobora e muito em sua vida em sociedade. Não tem
como negar que existem milhões de brasileiros que não ti-
veram nem a chance de buscarem o seu sustento com uma
vida digna, uma vez que a sociedade os exclui em diversos
campos.

Não há como tratar como iguais, no crime de roubo, por


exemplo, um agente teve boas condições sociais, com um
que a vida foi desamparada pela sociedade, família e Es-
tado. Seja por não conseguir emprego, por ser semianalfa-
beto ou completamente analfabeto, ou qualquer outra falta
de oportunidade. E que encontrando-se no estado de mise-
rabilidade acaba por cometer um ilícito penal, objetivando
sustentar a sua família, por exemplo, sanando assim um
dos desejos mais básicos do ser humano, que é o alimento.
Há portanto uma clara desigualdade social e há também di-
ferenças que são cruciais para a aplicação de atenuantes na
conduta destes agentes, isso diante do mesmo tipo penal.

Ao discorrermos acerca da necessidade da aplicação do


Princípio implícito da Coculpabilidade na análise da Cocul-
pabilidade e, também, em sua aplicação (do Princípio retro-
Evite interrupções
citado)durante
como suaparâmetro
pesquisa. Façaminorante
login ou crie uma
da sentença penal por
conta.
ou

parte do Estado Juiz, em face do agente socialmente vulne-
rável. Buscamos verificar qual é a correlação existente en-
tre a falta de implementação de Políticas Públicas eficazes,
as desigualdades sociais e o crescimento da criminalidade,
abordando acerca da aplicação do Princípio da Coculpabili-
dade como fator minorante da pena e discorrendo sobre o
possível impacto ocasionado pela omissão do Estado e da
Sociedade em promoverem a reintegração plena de ex-de-
tentos ao meio social.

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

O crime é um fato social, em virtude dele a sociedade


deve ter a consciência de equiparar a sua culpa por não
promover ao agente contribuinte suas ressalvas constituci-
onais e anseios sociais. Em razão do mesmo, aplica-se a
questão da responsabilidade social e da coculpabilidade, o
agente que comete o dolo não está puramente sozinho em
suas decisões, todos os acontecimentos em vida formam ali-
cerceares morais corrompidos pelas necessidades básicas
do agora, uma sobrevivência diante uma sociedade doente
e desigual. Por conta de tais fatos, o Estado tem sim, a res-
ponsabilidade de promover políticas públicas que ponde-
rem em razão da realidade do agente ao cometer um fato
delituoso.

REFERÊNCIAS:

DA SILVA VAZ, Lílian Cristina. O PRINCÍPIO DA COCULPABI-


LIDADE DO ESTADO NO ORDENAMENTO JURÍDICO PENAL
BRASILEIRO. Repositório de Trabalhos de Conclusão de
Curso e Monografias, 2019.

FRATESCHI, Yara Adario. Filosofia da natureza e filosofia


moral em Hobbes. Cadernos de História e Filosofia da Ci-
Evite interrupções durante sua pesquisa. Faça login ou crie uma
ência, 2005. ou

conta.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do contrato social ou princípios
do direito político. Editora Companhia das Letras, 2011.

ZANOTELLO, Marina. O princípio da coculpabilidade no


estado democrático de direito. Tese de Doutorado. Uni-
versidade de São Paulo.

Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/artigos/coculpabilidade-ou-culpabilidade-pela-


vulnerabilidade/753018265

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