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AUGUSTO DE FRANCO

RESISTA À TENTAÇÃO DE
PERTENCER A UM GRUPO

Sobre as dificuldades de se atirar na correnteza quando é tão mais


fácil construir diques e ficar boiando na tranqüilidade da represa

Publiquei este texto na Escola-de-Redes no dia 11/04/2011. Até


hoje (26/09/2011) ele recebeu 62 comentários que vão
publicados no final. Vale a pena ler o comentários para ter uma
idéia dos fluxos de conversações na E=R. É a parte mais rica.

As reflexões expostas a seguir são sobre redes sociais


voluntariamente articuladas. Mais precisamente sobre a interação
entre pessoas em prol de objetivos comuns fora de organizações
hierárquicas ou do que chamo de grupos proprietários. Venho

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ruminando-as há algum tempo. A primeira versão dessas idéias
publiquei-a, ainda no início de 2009, no texto Cada um no seu
quadrado http://goo.gl/Sqcfp

Na mesma época expressei mais ou menos assim uma convicção que


estava se formando:

"- Não faça patotas, não construa igrejinhas".

O mundo girou, a luzitana rodou, e tal convicção somente


amadureceu. Então vou publicá-la antes que apodreça (sim,
conhecimento guardado costuma estragar).

Em geral as pessoas estão acostumadas a interagir em espaços


proprietários (fechados), não em redes (abertas). Não estão abertas
à interação com o que chamei de outro-imprevisível. Por isso fazem
escolas, erigem igrejas, urdem corporações e partidos e servem à
instituições hierárquicas (sejam sociais, estatais ou empresariais). E,
às vezes, seu quadradinho é um espaço proprietário virtual, um blog
ou uma página no Facebook.

Mesmo quando se aventuram a fazer redes, as pessoas, em geral,


organizam grupos proprietários, estabelecem contextos que separam
quem está dentro de quem está fora, criam sulcos que acabam
disciplinando a interação por meio de regras (muitas vezes tácitas,
mas não por isso menos efetivas), de um glossário próprio (pelo qual
ressignificam os termos que usam recorrentemente gerando algum
tipo de jargão) não importando para nada se esta "wikipedia" (ou
"contextopedia") privada está ou não publicada em um site aberto ou
fechado; enfim, fazem tudo para promover o seu grupo – às vezes
chamado de comunidade – à condição de instância mais estratégica
do que as demais (os outros ambientes em que interagem, inclusive
as midias sociais onde se registram). Este é um dos motivos pelos
quais sua interação nesses outros ambientes é, em geral, tão pouco
intensa ou tão pouco freqüente. Pudera! Seu tempo está tomado pelo
seu próprio grupo (seja uma organização da sociedade formal ou
informal, seja um órgão estatal, seja uma empresa).

E o mais interessante é que, muitas vezes, essas pessoas estão


convencidas intelectualmente de que devem se organizar em rede.

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Não raro denominam de redes suas organizações hierárquicas ou
seus grupos proprietários. Não estão – em sua maioria – mentindo ou
fazendo propaganda enganosa. Elas acreditam mesmo que suas
organizações sejam redes, desde que seus membros estejam
convencidos (ou “tenham consciência”) de que agora entramos na era
das redes (por algum motivo elas acham que consciência é algo
capaz de determinar comportamentos coletivos).

Chega a ser fascinante observar como essas pessoas não conseguem


viver fora do seu quadrado. E como racionalizam tal aprisionamento
lançando mão das mais variadas teorias sociológicas sobre grupos (a
sociologia vem aqui, não raro, como um socorro contra a política,
como uma proteção contra a experiência direta de uma política não-
autocrática). Ah! é difícil, como é difícil se atirar na correnteza
http://goo.gl/CJxs1 quando é tão mais fácil construir diques e ficar
boiando na tranqüilidade da represa!

Pois bem. Tudo isso - que já foi dito e repisado, por mim e por
outros, nos últimos dois anos - me leva agora a refletir sobre o
seguinte: se quiserem realmente tecer redes as pessoas não devem
se agregar a outras pessoas em grupos proprietários, comunidades

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exclusivas, inner circles, bunkers para se proteger do mundo exterior
ou outras formas de organização constituídas na base do “cada um
no seu quadrado”. Sim, pode parecer surpreendentemente
contraditório, à primeira vista, dizer o que vou dizer agora:

- Se você quer fazer redes, resista a tentação de pertencer a um


grupo.

Se você se deixa capturar por um grupo ou se põe a capturar outras


pessoas para um grupo (que seja considerado - ou funcione como, dá
no mesmo - o seu grupo), então você terá imensas dificuldades de
interagir em rede de modo mais distribuído do que centralizado. Se
você quer, porque acha que precisa, porque sente, às vezes
desesperadamente, a vontade de se juntar a outras pessoas para
executar algum projeto coletivo, compartilhar com elas suas idéias,
seus sonhos (e também suas ansiedades), somar esforços, apoiar e
receber apoio praticando a ajuda-mútua dentro de um campo de
cumplicidade, enfim, constituir um grupo e coesioná-lo a partir de
uma visão comum, de um “falar a mesma língua”, de uma sintonia
fina de sentimentos e emoções, então se prepare para fazer o mais
difícil: matar essa vontade!

Simplesmente mate essa vontade. Se preciso, vá para o deserto e


passe um tempo lá. Se você já está conectado a outras pessoas, por
que diabos quer também forçar uma clusterização que selecionará a
priori algumas conexões como mais fortes do que outras, alguns
caminhos como mais válidos do que outros, alguns planos feitos intra
muros (quer dizer, dentro daquele clusterzinho que foi urdido antes
da interação) como mais estratégicos do que outros?

Não há qualquer problema em se reunir com muitos grupos para


propósitos diversos, públicos ou privados, interagir em vários
aglomerados, atuar coletivamente em várias instâncias. O problema
só surge quando você faz tudo isso não a partir de você mesmo, mas
sempre a partir de um grupo que encara os demais ambientes
coletivos como campo de atuação (e uma atuação inevitavelmente
tática, mesmo quando você proteste o contrário) desse grupo.

Trabalhar em rede distribuída é diferente de trabalhar num grupo


proprietário, numa organização nuclear que compartilha uma visão

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comum e exige essa visão comum para continuar interagindo. Na
verdade, o problema está na construção de mundos baseados na
participação.

Portanto, se você quer experimentar redes (mais distribuídas do que


centralizadas), nada de grupo participativo, nada de chegar a algum
formato com base em participação. Redes não são ambientes de
participação http://goo.gl/ZQm8w e sim de interação. Não temos que
decidir o que todos farão em bloco. Vamos interagir e ver o que
acontece. O formato final de qualquer ação coletiva será sempre uma
combinação fractal, emergente, de certo modo inédita e imprevisível,
das contribuições de cada um.

Em outras palavras, se você quer fazer redes não pode esquecer


jamais uma coisa: você é uma pessoa. Paulo Brabo (2007), em um
texto que não me canso de citar http://goo.gl/ytbZg, escreveu assim:

“A primeira coisa a fazer, se você ainda não fez, é desiludir-se por


completo de todas as iniciativas comunitárias ou governamentais, por
mais bem intencionadas que sejam, e raramente são. Esqueça, meu
caro discípulo, o coletivo. A salvação não virá de ongs ou ogs, Gogues
ou Magogues, poderes ou potestades. A salvação não virá de igrejas,
assembléias, organizações de bairro, sindicatos, asilos, orfanatos ou
campanhas de assistência. As ongs têm a tremenda virtude de não
serem governamentais, mas contam com a imperdoável falha de
serem organizações. Repita comigo: as instituições não existem. Só
existem pessoas”.

É claro que é necessário entender o contexto confessional (ou


teologal) em que Brabo escreveu sua bela homilia herética e fixar-se
nas suas mensagens centrais: desiluda-se por completo das
iniciativas comunitárias, esqueça o coletivo, reconheça a imperdoável
falha das organizações (aquela que deriva do fato de serem
organizações) e convença-se de que as instituições não existem: só
existem pessoas.

Fale como uma pessoa. Seja uma pessoa. Não aja como se fosse um
grupo, um projeto, uma organização (nem mesmo tuite como se
fosse uma coletividade abstrata). Uma pessoa jurídica é uma pessoa
imaginária (ou seja, uma não-pessoa). A vida gastou 3,9 bilhões de

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anos e as coletividades humanas formadas pela convivência gastaram
uns 300 mil anos para constituírem essa tão surpreendente quanto
improvável realidade que somos (o humano, a pessoa: o encontro
fortuito do simbionte natural em evolução com o simbionte social em
prefiguração) e na hora em que vamos nos apresentar a alguém,
sobretudo a alguma coletividade, temos vergonha de dizer que somos
“apenas” uma pessoa e preferimos declarar que estamos
representando alguma dessas organizações vagabundas que, em
média, não conseguem sobreviver mais do que poucos anos e que,
além de tudo, são não-humanas, quando não desumanas.

Mas... atenção! Pessoa não é o mesmo que a abstração chamada


indivíduo. Redes sociais não são redes de indivíduos e sim de
pessoas. O conjunto dos pensionistas do previdência social não
constitui uma rede social, assim como não constitui uma rede social a
população de um país. O social, como sempre dizemos, não é a
coleção dos indivíduos e sim as configurações móveis geradas a partir
do que ocorre entre eles (que, então, deixam de ser indivíduos para
passar a ser pessoas). Quando interagimos, tornamo-nos pessoas.
Assim, pessoa já é rede http://goo.gl/pE0oM.

Se você não tem liberdade para interagir nos seus próprios termos,
como uma pessoa, se você diz: “vou consultar primeiro meu chefe ou
meus companheiros” antes de decidir sobre isso ou aquilo, então sua
porção-borg http://goo.gl/B7erl cresce e sua porção-social diminui.
Em outras palavras, sua porção-rebanho cresce e sua porção-pessoa
diminui. Em outras palavras, ainda: você perde um pouco daquela
qualidade da alma que chamamos de humanidade.

Se você se define como participante de qualquer grupo, quer dizer,


restringe suas possibilidades de interagir para se enquadrar nos
termos já estabelecidos por outrem (ou, até, por você mesmo, porém
antes da interação), então você terá muitas dificuldades de entender,
experimentar e atuar em rede (distribuída).

Toda realização em rede distribuída é um projeto que vai se


construindo à medida que avança, que vai se formando ao sabor de
fluzz http://goo.gl/NA5xt, que vai gerando ordem a partir – e no
ritmo – da interação. Em tal contexto é desnecessário, a rigor,

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combinar antes o script. É inútil – e freqüentemente
contraproducente – mobilizar energia para direcionar um grupo.

Se você quer fazer redes, nada de formar uma comunidade que vá


além do seu propósito específico e declarado (como se fosse um
comunidade de destino). Não existe „a‟ comunidade: existem
múltiplas, diversas, comunidades. Se você acha que existe aquela
comunidade que é „a‟ comunidade (porque é “a sua”, a escolhida, a
predestinável), é sinal de que você se deixou aprisionar por um grupo
(às vezes uma prisão que você mesmo engendrou). E aí não vão
tardar a surgir aquelas manifestações horríveis de pertencimento
exclusivo, de fidelidade... Mesmo que você aceite o direto de uma
pessoa de abandonar uma comunidade, isso não basta. É necessário
aceitar o direito de uma pessoa de pertencer a várias comunidades ao
mesmo tempo! Ou seja, é necessário desconstituir a cultura (ou
quebrar a linha de transmissão de comportamento) do “cada um no
seu quadrado”.

Você já notou que este direito não é reconhecido nas organizações


hierárquicas, mesmo nas privadas, como os partidos e as empresas?
Nas empresas esse direito só existe para os donos ou acionistas.
Quando lhe pagam um salário, é como se dissessem: “comprei você e
agora você é meu; nada de transar fora do meu quadrado”.

Se você quer fazer redes, nada de alinhar visões. Na maioria das


organizações burocráticas, sejam sociais, empresariais ou
governamentais, o tempo das pessoas é gasto em reuniões para
alinhamento (ou seja, agrupamentos forçados para discutir como
realizar melhor as diretivas estabelecidas por cima ou por fora da sua
interação). Mal saem de uma reunião os “colaboradores” (um
eufemismo empresarial para empregados, quer dizer, subordinados)
já entram em outra reunião. E assim passam o dia: entre o
computador, o banheiro, o café e as indefectíveis reuniões. Revela-se
óbvio o motivo de tais reuniões: são ambientes de direcionamento
voltados à reprodução de comportamentos, são campos de
adestramento, são artifícios para proteger as pessoas da experiência
de empreender http://goo.gl/6LWLa, de criar, de inovar.

Se você quer fazer redes, nada de virar escola http://goo.gl/RTKir,


nem mesmo escola de pensamento. As comunidades ditas de livre

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adesão, em sua maioria, são algum tipo de escola de pensamento, ou
de igreja, ou de corporação, ou de partido, ou de alguma coisa que
exija que você adote e professe uma visão coletivamente construída
para pertencer ao grupo e poder falar em seu nome. Mas se você
quer fazer redes, nada de criar coesões que separem os de dentro
dos de fora.

Estar em rede é sempre uma aposta: a aposta de que da nossa


interação desorganizada vai surgir algo interessante, não antes, no
ensaio (“a vida é beta”, como diz o Silvio Meira), mas sobretudo ali,
na hora exata em que ocorre, bottom up.

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Comentários
1 - Comentário de Ceila Santos em 11 abril 2011 às 9:57

Hummmmmmmmmmmm identifiquei que estou presa... mas ao


mesmo tempo achei que escrevia mais para as práticas empresariais,
para indivíduos que estabelecem quem entra e quem tá fora, certo?
Eu me identifico e ajo nas redes sociais como a mãe. Sinto que faço
parte da blogosfera materna e seu texto me mostrou que estou presa
a este pertencimento. Antes disso me sentia mais perdida pq
perambulava por outras redes como de jornalistas, blogueiros e
produtores culturais, mas não conhecia a rede de mães que era a
razão de eu estar na rede. Agora que conheço sinto que pertenço... e
pertencer dá um alivio danado. Talvez o alivio seja retrogrado...talvez!
Mas fiquei com uma pulguinha atrás da orelha: a escola das redes é
um grupo? Estamos aprisionados pela obsessão ao conhecimento das
redes sociais, ou não?

2 - Comentário de Tarás Antônio Dilay em 11 abril 2011 às


10:04

OK, concordo com sua linha de pensamento. Fiquei com uma dúvida:
a partir do ingresso em uma rede pré-estabelecida como é a Escola de
Redes, o Fecebook, o twitter, etc, não estou já aceitando uma
conceituação e um código de postura já previamente estabelecido? A
própria web já não é um processo hierarquizado de interação? Achei
que o texto confundiu mais a minha cabeça do que esclareceu...
Abraço

3 - Comentário de Augusto de Franco em 11 abril 2011 às


10:06

A E=R não é um grupo, no sentido de grupo proprietário, Celia. São


milhares de grupos. Como uma rede voluntariamente articulada, a
Escola-de-Redes tem um propósito. Mas não é necessário professar
algum ponto de vista particular sobre como realizar tal propósito para
se conectar à ela.

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4 - Comentário de Ceila Santos em 11 abril 2011 às 10:16

Então, a questão não está no pertencimento, mas no funcionamento


do grupo. Ou seja, mesmo que eu pense diferente de vc, posso
continuar pertencendo a Escola de redes. Deveria então resistir à
tentação de estabelecer pontos de vistas comuns, "consensos" ou
regras que determinam quem entra e quem está fora?
fiquei confusa com seu feedback.
P.S.: Meu nome é Ceila. E não célia. Tks

5 - Comentário de MARIA OTÁVIA LIMA EÇA D'ALMEIDA em


11 abril 2011 às 10:20

Que presentaço de aniver, grata!

6 - Comentário de Gabriel Artur Marra e Rosa em 11 abril


2011 às 10:23

Excelente!

Sempre achei que a constituição de um grupo deveria seguir certo


apriorismo de objetivos, interesses, etc. Agora percebo que esses
interesses comuns existem, mas também estão presentes os
interesses e desejos das pessoas que constituem esse grupo, essa
rede. Talvez, seja a interação destes últimos o fator de inovação e de
reconfiguração dos primeiros estabelecidos e partilhados. Nesse
sentido, creio eu, o pertencimento varia de acordo com a necessidade
e as possibilidades de cada pessoa, que se mesclam às demais
conformando uma interação reativa e inovadora.

7 - Comentário de Daisy Grisolia em 11 abril 2011 às 10:33

A Escola de Redes é uma rede de pessoas que se interessam por um


determinado tema, o que não diz nada sobre o modo que elas
entendem este tema. As pessoas se conectam, mais ou menos,
interagem em graus variáveis ao longo do tempo, se agrupam e
desagrupam, articulam-se para outros projetos ou não. Facebook,
twitter e o próprio NING são ferramentas que permitem e em algumas
situações facilitam que estas interações aconteçam. Lendo o texto é

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inevitável sentir um certo arrepio, típico de quem está prestes a se
lançar num esporte radical, quando, por melhor que sejam os
equipamentos, você percebe que está por sua conta e risco. Há um
longo caminho a percorrer...

8 - Comentário de Carlos Boyle em 11 abril 2011 às 10:48

Para posicionarme con respecto al "sujeto", "persona" e "individuo"


voy a citar este texto de Michel Onfray:

"Del sujeto podemos decir, desgraciadamente, que ha sido exacerbado


en esta época y en estos lugares. Define al ser por la relación y la
exterioridad, negándole una identidad propia que se le atribuye
solamente por y en la sumisión, la subsunción a un principio
trascendente, superándolo: la ley, el derecho, la necesidad o cualquier
otra cosa que incita a hacer la economía de sí en provecho de uma
entidad estructurado por su participación, su docilidad. El sujeto es
siempre de algo o de alguien. De modo tal que siempre encontramos
um sujeto menos sujeto que otro, en la medida en que, apoyado sobre
el principio en cuestión, uno se siente incesantemente autorizado para
someter a otro: el juez, el político, el docente, el prelado, el moralista,
el ideólogo, todos aman tanto a los sujetos sometidos que temen o
detestan al individuo, insumiso. El sujeto se define en relación con la
institución que lo permite, de ahí la distinción entre los buenos y los
malos sujetos, los brillantes y los mediocres, es decir: aquellos que
consienten el principio de la sumisión y los otros. Con su preocupación
por la conciencia que se rebela y no acepta, Antelme recuerda que un
sujeto no se define por su conciencia libre sino por su entendimiento
sometido, fabricado para consentir la obediencia.La persona tampoco
me agrada. Aquí también la etimología, etrusca en este caso, recuerda
que la palabra proviene de la máscara utilizada en la escena. Que el
ser sea con relación a lo que se somete o por su modo de presentarse,
no me convence, ni en uno ni en otro caso. La metáfora barroca del
teatro, la vida como sueño o novela, la necesidad de la astucia o de la
hipocresía, del juego social que presupone la persona del teatro,
implican también el recurso al artificio: el ser para el otro no es el ser
en su resplandor, ni en su miseria. El campo de concentración olvidó
al hombre, celebró al sujeto, tornó improbable a l persona y puso de
manifiesto al individuo. Las tres figuras de la sumisión funcionaron en
la juridicidad, el humanismo y el personalismo. Quedan por formular
las condiciones de posibilidad de un individualismo que no sea
egoísmo Lejos de la red, de la estructura, de las formas exteriores que

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dibujan los contornos provenientes de lo social, la figura del individuo
remite a la indivisibilidad, a la irreductibilidad Es lo que queda cuando
se despoja al ser de todos sus oropeles sociales. Bajo las sucesivas
capas que designan al sujeto, al hombre y la persona, encontramos el
núcleo duro, entero, la mónada cuya identidad nada, salvo la muerte -
y quizá ni eso-, puede quebrar. Unidad distinta en una serie jerárquica
formada por géneros y especies, elemento indivisible, cuerpo
organizado que vive su propia existencia, que no podría dividirse sin
desaparecer, ser humano en cuanto identida biológica, entidad
diferente de todas las otras, si no unidad de la qu se componen las
sociedades: el individuo sigue siendo irreductiblement la piedra
angular con la que se organiza el mundo."

9 - Comentário de Raulino Oliveira em 11 abril 2011 às 10:52

Antes de irmos para o deserto seria interessante:


- ver o que fazer com esta patota aqui.
- seria o caso de nos espalharmos todos no FaceBook e no Twitter?
- Vamos declarar morte ao Ning!?
Abração Augusto

10 - Comentário de Carlos Boyle em 11 abril 2011 às 11:00

Dicho esto creo que no existe un individuo como tal , como una bola
irreductible un cuerpo con ideas coma tal, sino un cuerpo que se va
individualizando y desindividualizando de acuerdo a los principios que
resume Vega Redondo para la conformación de una red.

1. Búsqueda: los individuos están en una búsqueda permanente de


otros individuos a fin de poder procesar los Fluzz de la manera
mas conveniente. Para eso tienen que interactuar y a partir de la
interacción saldrá, se conformará una forma de organización que
estará determinada por los Fluzz.

2. Volatilidad. Esa búsqueda se desarrolla dentro de un medio que a


veces permanece estable, proveyendo Fluzz constantes y
parejos, en donde la organización de la red ( búsqueda) se
estabiliza. Si el entorno es volatil tanto que varía en una gran
magnitud, como en muchos pequeños cambios, la organización
se adptará a esa volatilidad.

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3. Ante un gran cambio la red podrá quedar mas cerrada "en su
cuadrado", o totalmente desintegrada.

Esto significa que no hay UNA red distribuida, si es distribuida es


justamente una gran red dispersamente vinculada que PULSA al ritmo
de la volatilidad del medio y de la posibilidad de lo Fluzz, a veces la
encontrarás totalmente cerrada sobre si misma, otras totalmente
desvinculada.

En realidad esto pasa porque es un fractal como vos decís. Es decir un


patron de interlinkeo aprendido (tal vez por la historia, tal vez por la
resiliencia) que reconfigura la red en función de sus disponibilidades y
de sus necesidades.

Pero el arbol fractal, siempre está.

Me gusta como van madurando estas ideas.

11 - Comentário de Carlos Boyle em 11 abril 2011 às 11:06

Esto de Onfray tal vez sea la clave:

Quedan por formular las condiciones de posibilidad de un


individualismo que no sea egoísmo.

12 - Comentário de jandira feijo em 11 abril 2011 às 11:11

Augusto, teus textos sempre causam tsunamis e provocam em mim


sentimentos contraditórios! E isto é maravilhoso. Ainda bem que não
deixas o conhecimento mofar e estimulas novos horizontes.

Concordo com o conselho para que resistamos à tentação de pertencer


a um grupo, na verdade é assim que tento me construir diariamente
e, bem ou mal, que tenho conseguido sobreviver com relativa
coerência entre este jeito de olhar o mundo e me relacionar com as
pessoas.

Entretanto, o que me angustia é como localizar onde estão os outros


que assim também pensam e agem dentro de uma instituição tão
arcaica quanto a área estatal (tão visceralmente embricada com as
organizações partidárias). Atuo num ambiente adversarial,

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hierárquico, centralizado, burocrático, anacrônico, onde não há espaço
para relações verdadeiras, nem interesse institucional de mudar o
status quo.

Para cada aparente avanço, um alto preço. Não existe interação,


portanto, não existe rede dentro destes espaços estatais.

Aqui é mais do que cada um no seu quadrado; é cada um no seu


curral, ou na sua jaula, e esta não é uma crítica à gestão de A ou de
B, mas sim à estrutura secular. Mas, como onde existe vida existe
relação e interação, posso presumir que nos dutos destas instituições
governamentais deva existir algum oxigênio. Ou estou equivocada?

Afirmas que "é necessário desconstituir a cultura (ou quebrar a linha


de transmissão de comportamento) do “cada um no seu quadrado”.
Ok, tenho certeza disso, mas como? Espero que o fluxo da vida gere o
maremoto?

13 - Comentário de Augusto de Franco em 11 abril 2011 às


11:12

Tarás e Ceila, talvez para entender o que pretendia dizer (ou


aumentar ainda mais a confusão, o que não é ruim em princípio) seja
preciso ler o textos linkados. Penso que se não entendermos a
diferença entre interação e participação, o restante fica meio sem
sentido. Então vou tornar a linkar aqui um texto que trata
especificamente desta distinção:

REDES SÃO AMBIENTES DE INTERAÇÃO, NÃO DE PARTICIPAÇÃO


http://www.slideshare.net/augustodefranco/redes-so-ambientes-de-interao-no-de-
participao

Raulino, o bom da história é que não precisamos para nada ver o que
fazer com esta patota aqui. Não é uma patota, como você já deve ter
percebido. Abração também.

Daisy, gostei imensamente de sua imagem: "Lendo o texto é


inevitável sentir um certo arrepio, típico de quem está prestes a se
lançar num esporte radical, quando, por melhor que sejam os
equipamentos, você percebe que está por sua conta e risco".

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Boyle, concordo. As diferenças entre o que você disse e o texto são
mais terminológicas do que conceituais. Um ser humano concreto é
sempre uma unidade biológico-cultural, não um exemplar da espécie
(biológica), nem somente uma particular configuração (cultural).
Chamo de pessoa a esta unidade, que não é algo dado e sim em
construção. Tornamo-nos pessoas à medida que interagimos com
outros seres humanos. Daí que pessoa já é rede e o indivíduo, como
tal, é uma abstração (não é um ser humano concreto, se for um
exemplar da espécie é uma condição do humanizável, não uma
consumação do humano).

14 - Comentário de jose de assis silva em 11 abril 2011 às


11:41

Achei super bacana o texto de Augusto Franco. Acredito que é um


bom material para se trabalhar numa sala de aula onde adolescentes
se gabam por terem e fazerem parte de uma comunidade de 2000
amigos. Disputam entre si quem tem mais amigos e se esquecem que
na verdade, estão solitários e meio sem rumo, atirando para qualquer
lado.

15 - Comentário de jaime fractal em 11 abril 2011 às 11:53

'Se você quer fazer redes, resista a tentação de pertencer a um


grupo'. Se vc entrar numa rede seja o mais aberto possível, não seja
preconceituoso e não se ache o mais preparado de todos, entre para
aprender e criar com os membros as condições e o conteúdo da rede.
Nas redes não estamos numa competição, estamos numa
pessoalização e em uma customização que satisfaz a maioria.

16 - Comentário de Cida em 11 abril 2011 às 12:30

É de grande alívio o que escreveu. E entusiasmante!

17 - Comentário de Clara Pelaez Alvarez em 11 abril 2011 às


13:38

Interessante o texto! Só fico me perguntando o seguinte:

15
1. Somos seres sociais. Clusterização é fenômeno de rede. Parece-me
que regras para clusterização, sobram! Esse "deve/não deve" ser
assim me incomoda demais.

2. A ER é uma "comunidade" (ou esse termo não se aplica aqui?) de


estudo de redes, cujas regras foram delineadas por você, Augusto.
Qual a diferença desta comunidade para outras? Pra mim não ficou
claro!

18 - Comentário de jaime fractal em 11 abril 2011 às 14:50

Concordo plenamente com:

"Toda realização em rede distribuída é um projeto que vai se


construindo à medida que avança, que vai se formando ao sabor de
fluzz, que vai gerando ordem a partir – e no ritmo – da interação. Em
tal contexto é desnecessário, a rigor, combinar antes o script. É inútil
– e frequentemente contraproducente – mobilizar energia para
direcionar um grupo".

Estruturar e direcionar não adianta mesmo, mas treinar como interagir


e conhecer as ferramentas das redes é fundamental, como um
arqueiro zen precisa estar aberto e preparado para o que acontecer.

19 - Comentário de Augusto de Franco em 11 abril 2011 às


14:52

Acho que dentro da E=R, Clara, se formam comunidades. Aliás, era


este o propósito desde o início: a escola-não-escola que é esta rede
deveria almejar a formação de múltiplas comunidades a partir de
agendas compartilhadas, lembra? Isso de fato tem ocorrido, aqui e ali.

O diabo é que as pessoas usam a palavra comunidade com vários


sentidos. Há aquela grande comunidade (de que falava Althusius, que
acabou se confundindo até com o conceito de nação), há a pequena
comunidade vicinal de convivência de Dewey e, mais recentemente,
qualquer grupo de aprendizagem, de prática ou de projeto é chamado
também de comunidade (mesmo quando, claramente, é um grupo
proprietário).

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Não delineei regras propriamente para a Escola-de-Redes e sim para
iniciar esta plataforma que utilizamos, que exige isso porque, como
sabemos, é uma plataforma p-based e não i-based (mais baseada em
participação do que em interação). Então "o criador" (hehe, é assim
que chama ou chamava o Ning) obriga você a optar: aceita a adesão
de qualquer um ou tem que pedir para entrar? (Conquanto depois, o
próprio Ning Team nos aconselhou a modificar o que era totalmente
aberto, para evitar os programas invasores); aceita comentários (em
que lugar? - e aí vem uma lista imensa)?; qualquer membro de um
grupo pode enviar comentários para os outros membros do grupo?
etc. etc. A lista de opções de administração é realmente extensa.

É claro que numa plataforma p-based, que logo atingiu milhares de


membros, não se pode - e não se deve - submeter tais decisões e
outras (como as regras básicas de convivência sem as quais não
sobreviveríamos, como, por exemplo, a proibição de fazer propaganda
política ou de produtos e serviços comerciais) a nenhum tipo de
consulta capaz de gerar artificialmente escassez. Se isso ocorresse
teríamos que discutir antes, quais as condições, quem seria o colégio
apto a se manifestar e cairíamos em um sem-número de armadilhas
semelhantes. Parece que não haverá solução para isso enquanto não
tivermos plataformas baseadas em interação. A participação, qualquer
participação, obriga as pessoas a se conformarem em ambientes com
regras já estabelecidas ex ante à interação (e disso não escapa este
Ning da E=R).

Mas o que o texto queria explicitar é que se não falamos em nosso


próprio nome, seja onde for, nos nossos próprios termos e sim em
nome de um coletivo mais estratégico, quer dizer, como
"representantes" do nosso quadrado (constituído ex ante à interação),
então temos dificuldades imensas de interagir com o outro-
imprevisível.

20 - Comentário de Guaraciara de Lavor Lopes em 11 abril


2011 às 19:09

Primeiramente, adoro os textos do Augusto porque eles sacodem, mas


confesso que precisei imprimir o texto para entender melhor. Pois é,
sem o papel não consigo ser minimamente inteligente. Se eu entendi,
a questão é o rabo balançar o cachorro. A instituição é o rabo e o
cachorro perde a identidade se ficar cotó. É a velha historia, quando a
gente se apresenta logo perguntam de onde, de qual família (sim, isto

17
ainda é comum) e a titulação. Minha resposta é geográfica: - de Volta
Redonda e não tenho titulação porque não pertenço à nobreza.
Acredito que a necessidade do pertencimento vem da construção de
nossa identidade. Como somos identificados pelo outro e assim nos
estruturamos, precisamos de um grupo. Realmente o grupo é
necessário, mas a interação não precisa do grupo. Pra mim a
interação surge quando algo ou alguém desperta meu interesse, se vai
acontecer alguma coisa ou não, não importa. Valeu porque de algum
modo cresci. E seu entendi corretamente o Augusto, vou enlaçando e
esparramando minha rede na maior parte do meu tempo. Se não
entendi nem um cadiqui, por favor, providenciem tradução simultânea

21 - Comentário de Augusto de Franco em 11 abril 2011 às


20:45

Pois é, que bom que o post gerou bons comentários. O que pretendi
dizer é simples e poderia talvez ser resumido naquela sentença inicial
(de 2009): não faça patotas, não construa igrejinhas, articule redes.
Não chame suas organizações hierárquicas ou seus grupos
proprietários de redes (no sentido em que a palavra vem sendo
entendida aqui, como redes mais distribuídas do que centralizadas).

Sei que é difícil. Queremos nos proteger do outro, do concorrente,


daquele que julgamos como adversário ou inimigo porque divide ou
disputa (ou pode vir a dividir ou disputar) conosco alguma posição.
Passei anos e anos amargando e chafurdando mesmo em ambientes
deletérios, alguns dos quais compostos por pessoas que hoje ocupam
as mais destacadas posições no topo das hierarquias mais altas da
República... Lembro bem que dizia, fazendo piada de humor um tanto
sinistro, que o mais difícil era aguentar a vontade de ir ao banheiro
por horas a fio (sim, as reuniões demoravam uma eternidade), pois
que do contrário corria-se o risco de alguém (não um inimigo, mas um
companheiro) sentar no seu lugar... Era isso: todos eram
potencialmente inimigos, todos disputavam. É claro que num ambiente
assim (e a maioria dos ambientes hierárquicos são assim, mesmo
quando queiramos vestir o manto da humildade, da compaixão, do
amor ao próximo, como fazem os cardeais no seu colégio) alguém só
sobrevive entrando em uma patota. Mais ou menos como ocorre nas
prisões.

Revoltei-me contra isso muito antes de entender a possibilidade de


organização em rede distribuída. Quando descobri as redes, vi que era

18
possível, sim, interagir sem pertencer, se conectar sem professar, se
associar sem obedecer e sem mandar, atuar junto sem se deixar
arrebanhar. Desde, é claro, que se aceite a lógica da abundância.

Mas o fato é que, mesmo se não tivemos oportunidade de vivenciar


essas manifestações de desumanidade em seu paroxismo,
continuamos procurando proteção de um grupo para chamar de nosso
(o que, no fundo, é uma proteção contra o mundo exterior). Não é
nossa natureza gregária ou social, como se diz, que nos leva a isso e
sim exatamente o contrário: são tendências anti-sociais (geradas por
programas verticalizadores que rodam na rede social) que nos
compelem a nos proteger do outro-imprevisível.

Parodiando nosso amigo José Pacheco (no que diz em relação à escola
tradicional), hoje posso declarar que estou nisso (articulação e
animação de redes) por vingança.

22 - Comentário de Guilherme de Barros em 11 abril 2011 às


21:00

Hmmmm... fica sempre minha dúvida se é possível construir algum


sistema (rede) sem os padrões presentes em todos, TODOS os
sistemas (redes) do universo conhecidos por nós:
Centralidade - todo sistema tem um centro visível ou não, tangível ou
intangível;

Familiaridade - todos os sistemas se agrupam por afinidade formando


sistemas menores (ao infinito) e maiores (ao infinito tb);

Individuação - toda parte de qualquer sistema quer ser única e um


universo ou sistema por si só.

Pretender que um conjunto de pessoas possa exisitir sem constituir


'tecido' (igrejinha, patotinha, etc) é o mesmo que querer que haja um
fígado sem células ou células (úteis) que não façam parte de um
tecido qualquer. Tudo se encadeia no universo para servir e ser útil
em um sistema sempre mais complexo que a parte.

Agora, se as células de um fígado formam um câncer, esse problema


não é do fígado como idéia original, e sim das células que não sabem
trabalhar de maneira harmoniosa.

19
23 - Comentário de Augusto de Franco em 12 abril 2011 às
6:00

Não é fácil mesmo aceitar o fluxo, Guilherme. São seis mil anos de
inseminação de uma metafísica como esta que você expõe abaixo.
Tenho para mim - seguindo as especulações do matemático Ralph
Abraham - que isso começou em uma calma tarde sábado, em algum
momento da pré-história sumeriana.

E tão influente foi essa metafísica que até hoje, seis mil anos depois,
ainda continuamos ignorando as descobertas científicas ou mentindo
em nome da ciência.

Vamos ver.

Centralidade. Não há qualquer evidência de que todo sistema tenha


um centro. Em termos topológicos, nenhum sistema distribuído tem
centro. Qual é o centro da vida (a capa biosférica que envolve o
planeta Terra)? Qual é o chefe do cérebro? Quem é o comandante de
um bando de pássaros que voam em formação delta (seguindo sua
metafísica diríamos que é aquele que está no vértice, conquanto a
ciência já tenha desmascarado isso: não existe aquele, eles se
revezam e a formação visa apenas diminuir a resistência do ar ao
deslocando do bando)? Existe mesmo uma rainha nas colmeias e nos
formigueiros (ou isso foi apenas uma projeção dos nossos padrões
societários: veja as descobertas de Deborah Gordon)?

Familiaridade. Tudo que interage tende a clusterizar, mas isso nada


tem a ver com afinidade (tal como usamos este conceito em nossa
sociedade). Não ocorre por efeito de alguma imanência, como supõem
os esquemas míticos de interpretação do mundo. A própria origem da
palavra 'familiaridade' é reveladora da tentativa de transposição não-
hermenêutica de padrões da sociedade hierárquica para outras esferas
da realidade.

Individuação. Não é bem que toda parte de qualquer sistema queira


ser única. Na maioria dos casos elas não podem "querer" nada (posto
que não têm vontade, suas características intrínsecas não podem
explicar o comportamento dos emaranhados onde existem como tais).
Nossas observações - da cibernética à matemática do caos e dos
sistemas complexos - revelam outros padrões que remetem a
conceitos como holon e fractal.

20
Um conjunto de pessoas em interação constitui, sim, sempre, um
tecido. Mas isso não é a mesma coisa que patota, igreja, grupo
proprietário. Os exemplos que você cita refutam suas premissas. O
fígado, como parte de um organismo, tem um padrão de rede. Toda a
vida - organismos, partes de organismos e ecossistemas - se organiza
em rede (como disse nossa querida bióloga Lynn Margulis, "a vida não
se apossa do globo pelo combate e sim pela formação de redes" e vale
a pena ler aqui na E-R o post A vida como rede fractal de seres
interdependentes). Tudo que é sustentável tem o padrão de rede.
Por último, a hipótese do câncer como resultado de uma ignorância
das células hepáticas que, como você aventa, "não sabem trabalhar
de maneira harmoniosa". Que coisa, heim Guilherme? Este é
exatamente o mesmo schema mítico da queda dos anjos. Tudo estava
planejado pelo grande arquiteto para ser justo e perfeito... mas aí
houve a queda. Alguns seres da hierarquia se corromperam e o mal foi
introduzido no mundo. Veja que é o mesmo padrão de pensamento
que urdiu a idéia do pecado original. Sobre isso tuitei outro dia que o
problema não é a queda dos anjos e sim os anjos.

Ao entender fluzz - que foi a maneira que encontrei para falar do


fluxo, quer dizer, da ordem que surge continuamente a partir da
interação - entendemos que não existe uma ordem preexistente, que
o universo se cria a medida que se desenvolve.

Para quem teve sua consciência colonizada por idéias feita para
escravos (sim, é disso que se trata), é realmente muito duro descobrir

21
que estar interligado a tudo é estar realmente só, como um viajante
dos multiversos...

24 - Comentário de CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA PRAES


em 12 abril 2011 às 6:59

Fascinante! Grupos funcionam como padrão e padrão tende a nos


aprisionar no passado, redes abertas possibilitam achar o desvio
padrão, o diferente, ai tudo começa a ficar bonito e projeta futuro.
Seres humanos possuem um dos mecanismos cerebrais como
reptiliano e por muitas vezes somos acometidos pelo efeito neurônio
espelho ou efeito manada, isto é, se 10% de um grupo caminha para
uma direção ou tem uma opinião os outros 90% seguem o mesmo
sem questionar, como vimos no artigo, isto aprisiona, redes ao
contrário os vetores são tantos que exercemos nosso livre arbítrio e
não caímos na cilada do efeito manada.

25 - Comentário de Angela Regina Pilon Vivarelli em 12 abril


2011 às 9:49

Isso! Vamos sair...

22
26 - Comentário de jaime fractal em 12 abril 2011 às 10:00

Já saí do quadrado e agora estou vendo redondo! É isso?

27 - Comentário de Cida em 12 abril 2011 às 10:06

Angela Regina Pilon Vivarelli

Vc é uma é uma excelente intérprete. Traduziu objetivamente. Grata.

28 - Comentário de Augusto de Franco em 12 abril 2011 às


11:02

É isso, Angela, mas não basta ver redondo: tem que sair rolando feito
uma bola!

29 - Comentário de jaime fractal em 12 abril 2011 às 11:07

É sair redondo e não descer redondo que nem a cerveja! Ou descer


rolando que nem uma bola!

30 - Comentário de Angela Regina Pilon Vivarelli em 13 abril


2011 às 8:31

“O Teorema de Von Foerster sobre a Conexão e a Organização:


Aplicações Semânticas", de Benny Shanon e Henri Atlan:

"Quanto mais (rigidamente) conectados forem os elementos de um


sistema, menos influência terão sobre o sistema como um todo.
(...)
Quanto mais (rigidas) forem as conexões, maior grau de "alienação"
do todo apresentará cada elemento do sistema."

31 - Comentário de jaime fractal em 13 abril 2011 às 8:53

Angela, se rigidez significar formalidade e seguimento de padrões já


definidos acho que é perfeito esse teorema sobre ligação/conexão.

23
Rigidez leva a alienação e a menos influência e movimentação no
grupo.

32 - Comentário de Guaraciara de Lavor Lopes em 13 abril


2011 às 11:09

Angela, além de interprete você me ajudou a dar palavras a percepção


de minhas vivências ao me apresentar o teorema. Tenha uma
excelente tarde

33 - Comentário de Angela Regina Pilon Vivarelli em 13 abril


2011 às 16:19

Pensando...

"Em 1976, no que foi chamada a "conjectura de von Foerster", este


ciberneticista sugeria um tipo de relações aparentemente paradoxal
entre o comportamento global de um sistema de elementos
interconectados e o comportamento individual de cada um destes
elementos. Quanto mais "trivial" – ou seja, predeterminado e
previsível, por "unívoco" (ou seja, atuante sempre da mesma
maneira) no estado do sistema – fosse o comportamento individual,
mais fraca seria sua influência no comportamento global. De forma
metafórica, os indivíduos "trivializados" se sentem, então, "excluídos"
pelo comportamento global do grupo, uma vez que não há
reconhecimento de sua especificidade pelo sistema; ao contrário,
quanto menos "trivial", ou seja, predeterminado, for o comportamento
do indivíduo, tanto maior a influência que ele exerce sobre o grupo e
menos se sente "excluído"

Ler mais em: http://goo.gl/a5Z5N

34 - Comentário de Sérgio Luis Langer em 13 abril 2011 às


18:55

As conexões formuladas e produzidas devem acima de tudo, inferir-se


como complementares e m sua integridade. Integridade, esta, nutrida
e fomentada pela responsabilização ética e conectiva de uma

24
preocupação maior... a coletividade parceira de uma consciência do
amadurecimento social.

Todos temos capacidade para dissociarmos pensamentos, atos,


questionamentos e observações sobre a vivência compartilhada dos
anseios da humanidade; porém, os grupismos e amiguismos nunca
serão diferenciais para com a conquista benemérita do conhecimento.
A aplicação das idéias capacitadas a promoverem uma análise
comportamental torna reflexiva a expressividade das nossas
preocupações solidárias.

Sempre estivemos embasados no desenvolvimento evolutivo de


relações. Um universo interrelacionado com as dinâmicas de
transformação, tradução e transcrição de condutas segundo princípios
particulares de formação ... intencionais e regidos pela nossa vontade,
interesse e comprometimento para com a valorização da vida (coletiva
e prioritária de nossos semelhantes), em todas as suas instâncias,
tendo nela uma unidade de significado e propósito pelo qual existimos.

35 - Comentário de Carlos Nepomuceno em 14 abril 2011 às


4:54

Augusto, gosto de quem me desequilibra e você faz isso.

Rompe e provoca. Bom.

Entendo a idéia das igrejas e gosto de chamar esse movimento de


"conhecimento líquido", ou fluxo, como você escreveu mais adiante
nos comentários. Porém, não acho que a questão está no grupo se
formar em sim, mas nas paredes que criamos em torno deles.

Lembro de participar de grupos de poesia que quando chegavam a um


ponto de não mais querer criticar os poetas "isso é bom dentro do seu
projeto poético" era hora de sair, pois perdia-se o que foi-se buscar: a
opinião sincera.

Assim, a tendência por grupos e por estarmos com pessoas que nos
dão significado não acredito que vamos perder, porém, concordo
contigo que se fechar nisso é algo que deve ser evitado, pois acaba
nos levando a um ponto de saturação.

Grupos sim, mutantes e sem fronteiras, líquidos...

25
Que dizes?

abraços,

Nepô.

36 - Comentário de jaime fractal em 14 abril 2011 às 9:59

O que me motiva entrar em um grupo não é somente o assunto ou


tema que foi estabelecido mas tb a possibilidade de conhecer os
membros e fazer contatos. Cada membro é uma possibilidade e
embora muitos possam ser bem parecidos a diferenciação se faz no
contato e nas relações sociais que são feitas.

37 - Comentário de Ceila Santos em 14 abril 2011 às 10:58

Nossa, Augusto, acabei de ler o link indicado (obrigada!!!!) e agora


realmente pirei...Vou ter insônia com a minha consciência por um bom
período ou por vidas...Exagero?

Não sei. Mas o fato é que não consegui me agarrar em nada e deu
pânico de cair na roda porque ela começou a fazer sentido. Entendi
que o pertencimento ao grupo no sentido de defender a posse do que
ele representa nos coloca numa posição de luta. ou seja, eu quando
assumo o lugar de mãe histórico (ou seja, acredito na luta e vivo na
prática para atingir seu ápice comigo mesma), cujas características
são estabelecidas por um ideal assumo uma atitude de defesa com o
restante da humanidade. Não há interação verdadeira, mas defesa do
lugar que represento. Quando tomo consciência disso posso até
acreditar no idealismo de mãe, mas posso interagir de forma aberta
sem a obrigação de seguir aquele modelo. UAU! É fantástico,
extremamente inseguro, mas de uma fraternidade tamanha...

Acho que tô despertando pra esse netweaving, mas como tenho


cabeça de papel (sou jornalista) e uso muita ferramenta da turma do
software não consigo desligar toda essa questão cultural da prática de
produzir conteúdo. Ainda produzo e penso no conteúdo muito como a
academia (universidade) em busca dos "donos de conhecimento"
(biografia/referências) e isso é se fechar em gueto?

26
Qual sua visão sobre o interagir na hora de produzir conteúdo em
ferramentas como blog que funciona ainda no regime da escassez?

38 - Comentário de Augusto de Franco em 14 abril 2011 às


14:24

Carlos Nepomuceno, a fronteira é apenas o resultado da interação


entre o que está "dentro" e o que está "fora". Se você muda a
estrutura que separa, muda o que foi separado. Assim, o que é
contido por uma membrana é diferente do que é contido por uma
parede (opaca). A chave não é o tipo de parede que criamos e sim o
modo como nos organizamos: a parede é conseqüência.

Ceila, ainda é assim mesmo. Mas cada vez mais o conhecimento é


relação social, sem dono, e fica distribuído na rede.

39 - Comentário de Guaraciara de Lavor Lopes em 14 abril


2011 às 14:53

Lembrei demais do Augusto, agora a pouco. Viagem Sabará/Carmo de


Minas, duração sete horas. Passando por Olimpio Noronha e sem ver
sinalização pergunto a um senhorzinho sentado na calçada: - Como
faço para chegar a Carmo de Minas. Resposta imediata: - Quando
acabar a rua, tem um trevo. Corta o trevo e segue o “fruxo”. Tem erro
não dona.

Seguindo o fluxo, cheguei sem erro.

40 - Comentário de jaime fractal em 15 abril 2011 às 15:23

Guaraciara, dessa vez vc teve sorte com o famoso 'sinhozinho


mineiro', num é sempre assim naum!

41 - Comentário de Nei Grando em 17 abril 2011 às 15:24

Quando estamos nos grupos, nas redes, o melhor que temos a


compartilhar é nós mesmos, inteiros com nossos reais pensamentos,
reflexões, sentimentos, paixões, buscas, mas sempre com o propósito

27
de contribuir, de edificar e sempre considerando e respeitando o
outro.

42 - Comentário de Nei Grando em 17 abril 2011 às 15:27

Augusto, parabéns pelo artigo! Seus pensamentos me chamaram a


refletir, muito obrigado! @neigrando

43 - Comentário de Maria Rita Marques de Oliveira em 18


abril 2011 às 0:18

Não falo aqui com conhecimento de causa, falo de certa forma


encorajada pelo dito aqui que a escola de um pensamento não seria
desejada. Li o texto e vários comentários em meio a "turbulências" e
"calmarias" não me sinto confortável concordando ou discordando
dessa linha de pensamento. Em que medida o autor dessas idéias não
é ele próprio um centro? Pode não estar interessado em ser o centro
e, muito menos sinta-se conectado a um outro. Me parece que ao
"tornar-se pessoa" paradoxalmente, se corre o risco de virar centro.
Talvez não seja nada disso, eu precise apenas rever o meu conceito de
centro/hierarquia.

44 - Comentário de jaime fractal em 18 abril 2011 às 12:54

Maria Rita, na vida real às vezes falo muito, proponho idéias e acabo
virando o centro, o que eu não gosto nem um pouco porque isso traz
muita responsabilidade. O Augusto, mesmo que não deseje acaba
virando o centro porque é o gestor aqui da escola de rede e tb teórico
e divulgador de conhecimento das teorias e práticas das redes sociais.
Se um determinado membro acaba virando o centro porque os
membros do grupo voluntariamente desejam não vejo mal algum e de
forma alguma impede que os membros se tornem pessoas e
desenvolvam os seus egos. Uma estrutura hierárquica em que os
membros são obrigados a obedecer involuntariamente isso sim
sempre foi um grande problema. Abraço!

28
45 - Comentário de Augusto de Franco em 18 abril 2011 às
15:14

Penso que é mais ou menos como disse o Jaime, Maria Rita. Ninguém
centraliza a rede porque expõe suas idéias. A centralização é um
condicionamento de fluxos, quando se obriga esses fluxos a passar por
determinados caminhos (porque outros caminhos foram suprimidos ou
obstruídos). Leia o texto O poder nas redes sociais para entender esse
ponto de vista. No texto indicado os conceitos de 'poder' e 'hierarquia'
são apresentados do ponto de vista da topologia das redes.

46 - Comentário de Angela Regina Pilon Vivarelli em 19 abril


2011 às 8:05

Penso que a centralização nas redes é como um caleidoscópio... Não é


mesmo bonito isso? Veja no Youtube: http://goo.gl/15a3C

47 - Comentário de Douglas Rocha Liberato em 24 abril 2011


às 13:06

Nós temos um ego, temos um comportamento egóico e somos


cobrados por uma sociedade coletiva e inconscientemente egóica.
Assim, "vale" o que a comunidade ou a sociedade diz e quer e não
aquilo que cada um gostaria. Assim é, não que devesse ser. Quando
cada pessoa estrutura seu ego, lá pelo seu terceiro ou quarto ano de
vida, de modo simples, podemos dizer que ela vai descobrindo
comportamentos, crenças e maneiras de se relacionar que a fazem se
sentir aceita diante dos outros. Aceita e aprovada. Ou quase. Tudo vai
caminhando, até que um dia surgem as "redes" sociais. Então, como
bem escreveu o Augusto, formaliza-se as relações, quem tem mais
amigos no Orkut ou Facebook, é tido como mais querido, é legal,
gente boa, e desperta a inveja de outros, enquanto sustenta um
orgulho, que contrapõe a sua baixa auto-estima. Então, as pessoas
passam a acreditar que precisam pertencer a algo, uma comunidade,
um grupo, um clube, e quando vemos, elas fizeram esses mesmos
lugares pertencerem a elas. Ou pensam que pertencem, isso as faz
sentir-se distintas do "resto" da humanidade, dá sentido à vida e valor
a ela como membro da sociedade. Grandes e perigosas ilusões do ego,
as quais por termos crescidos e sido condicionadas a elas, não as
percebemos, tomamo-las como verdadeiras, necessárias e

29
fundamentais. Então surgem os Paulo Brabo da vida para nos ajudar a
acordar, sair do sonambulismo social e viver como pessoas e não
somente indivíduos. Eis um grande exercício, parar de tentar
pertencer a qualquer coisa que seja, para descondicionar e poder
perceber que você pertence à única coisa real em relação a você, que
pertencemos todos à uma raça, uma espécie, a qual por vários
motivos mais sublimes chamamos de humanidade. Já pertencemos.
Agora é só compartilhar, sem medo de ficar sem, de perder, sem
medo de não ser ou de não valer o que pensa que precisa valer para
ser. Já somos o que pensamos que precisamos ser. Desiludamo-nos
de nós. Fique bem.

48 - Comentário de Daisy Grisolia em 22 junho 2011 às


16:22

Existe um ego e existe um self que é muito mais que um ponto de luz
chamado ego.

49 - Comentário de CLARICE COPSTEIN em 22 junho 2011 às


16:32

Gentem!!!!

Após a leitura de todo texto sugerindo e justificando inteligentemente


a mudança de paradigmas o que mais me chocou foi o seguinte:
tentem entrar como se não fossem pertencentes à escola de redes;
mudem de navegador, não façam login; e o que surge como se fizesse
ainda parte do texto...

Comentar | “Você precisa ser um membro de Escola de Redes


para adicionar comentários!” | Entrar em Escola de Redes

Contracensos da vida!!

Adorei o texto e já vinha me questionando sobre esse mundinho


fechado de pertencimento que estamos envolvidos...

att, Clarice

30
50 - Comentário de Augusto de Franco em 22 junho 2011 às
17:53

Não precisa se registrar nesta plataforma para ler qualquer texto aqui.
Também não é necessário qualquer registro para baixar mais de 800
textos.

Mas usamos uma plataforma Ning que exige o registro para fazer
comentários. Ning ainda é uma plataforma p-based (baseada em
participação) (e não i-based, baseada em interação) e não podemos
desativar suas funcionalidades, vamos dizer assim, orientadas para a
participação, que exigem algum grau de pertencimento.

A despeito disso, qualquer pessoa pode se registrar (não gasta nem 5


minutos) e, depois, cancelar o seu registro. E pode escrever o que
quiser. E pode entrar de novo. E pode sair novamente. E pode
escrever de novo. Essa foi a maneira que encontramos de contornar
as fronteiras. Ademais, os comentários aqui são abertos, não-
mediados.

O contrasenso que você aponta, Clarice, não é da vida, nem do


pessoal da Escola-de-Redes e sim do caráter da plataforma (que não
fomos nós que desenhamos e não temos outra melhor para colocar no
lugar). Estamos tentando estimular a criação de plataformas i-based,
que não farão tais exigências. Veja uma discussão sobre isso no Grupo
PENSANDO UMA PLATAFORMA DE NETWEAVING http://goo.gl/PCpOI

Abraços.

51 - Comentário de UBIRAJARA THEODORO SCHIER em 22


junho 2011 às 21:17

Muito bom artigo... de fato é mesmo difícil nos livrarmos dos dogmas
que nos prendem à estruturas hierárquicas... acredito que a solução
para isso é poder se sentir livre em um ambiente em que todos se
sintam naturalmente motivados a fazer alguma coisa, não para
alguém, mas fazer pelo simples prazer de fazer... "- Se você quer
fazer redes, resista a tentação de pertencer a um grupo." - me lembra
o verso 36 do Tao Te King (Lao Tzu): "para comprimir algo, é preciso
deixar que se expanda bem; para enfraquecer, deves deixar que se
fortaleça bem".

31
Mas é o desafio... vamos lá!

52 - Comentário de Paulo Marins Gomes em 23 junho 2011


às 0:29

Augusto, só não lhe chamo de "caro Augusto" porque seria


redundância e puxassaquismo hehehehe.

Tenho algumas dúvidas expressáveis (outras ainda estou remoendo):

Sobre o que você disse: "É inútil – e frequentemente


contraproducente – mobilizar energia para direcionar um grupo."
concordo perfeitamente, mas isso não se aplica também às RDLs?
Quanto à questão: "por algum motivo elas acham que consciência é
algo capaz de determinar comportamentos coletivos" entendo que
esse é um conceito fundamental na sua teoria das redes. Mas ainda
não consegui entender como pode a consciência não ter relação com o
comportamento. Afinal, o objetivo desse texto "Resista à tentação de
pertencer a um grupo" não é uma tentativa de conscientização?"

E só mais uma coisa: "se você diz: 'vou consultar primeiro meu chefe
ou meus companheiros' antes de decidir sobre isso ou aquilo, então
sua porção-borg cresce e sua porção-social diminui". Acho que você se
referiu ao consultar no sentido de "pedir permissão", não no sentido
de se aconselhar, neh?

Abraço!

53 - Comentário de Flavio Gut em 23 junho 2011 às 3:38

Eu gostei, está me fazendo pensar. Destaco especialmente esse final:

Estar em rede é sempre uma aposta: a aposta de que da nossa


interação desorganizada vai surgir algo interessante, não antes, no
ensaio (“a vida é beta”, como diz o Silvio Meira), mas sobretudo ali,
na hora exata em que ocorre, bottom up.

32
54 - Comentário de Augusto de Franco em 23 junho 2011 às
6:46

Caro Paulo, hehe.

1) Sim, penso que isso também acontece com as chamadas Redes de


Desenvolvimento local. Esta é uma das razões pelas quais estamos
propondo uma modificação radical nas metodologias de indução do
desenvolvimento local. Leia este texto e você entenderá as razões:
DESENVOLVIMENTO LOCAL http://goo.gl/Xwlsv

2) O conceito de "conscientização" foi um daqueles equívocos do


pensamento do século 20, se é possível falar assim. Estava baseado
na idéia de que a transferência de um certo conteúdo de um emissor
para um receptor pudesse transfundir consciência. E que tal
consciência tomada a partir da apreensão de um conteúdo poderia
levar a mudança de comportamento. Foi assim que, como escrevi em
Fluzz, "líderes, condutores, reformadores, sempre apelaram para
nossa consciência, acreditando que a mudança se daria quando
alcançássemos determinada visão..."

No entanto, a descoberta da fenomenologia da interação revelou que o


comportamento coletivo não depende de "termos consciência
(individual) do que está se passando. Ao viver a vida da rede, apenas
vivemos a convivência: não precisamos mais tentar capturá-la e
introjetá-la, circunscrevê-la ou mandalizá-la para conferir-lhe a
condição de totalidade, erigindo um grande poder interior de
confirmação para nos completar da falta dos outros e nos orientar nos
relacionamentos com eles. Tal necessidade havia enquanto podia
haver a ilusão da existência do indivíduo separado de outros
indivíduos; ou quando um (ainda) não era muitos. Toda consciência é
consciência da separação, inclusive a consciência da unidade, da
totalidade, ou da unidade na totalidade, é uma resposta à separação.
No abismo em que estamos despencando ao entrar em fluzz, não há
propriamente isso que chamávamos de consciência".

3) Sim, a a frase que você cita se refere a submissão da pessoa a


algum coletivo proprietário que passa a sobredeterminar suas
escolhas. A pessoa deixa de ser uma pessoa e passa a ser um
representante da organização.

33
55 - Comentário de ROBERTA GARCIA RIBEIRO em 23 junho
2011 às 13:22

Demais o texto, augusto!

Para ser um indivíduo precisamos de pertencimento, mas para ser


pessoa nada é preciso, só a realização daquilo que é.

Abraços,

56 - Comentário de Maria Otávia d'Almeida em 23 junho


2011 às 15:04

Uma rosa é uma rosa, ela simplesmente é! Um fenômeno que


independe do observador, segundo Kierkegaard e Perls. Quizá um dia
consigamos isso com pessoas...

57 - Comentário de Sérgio Luis Langer em 24 junho 2011 às


1:18

Vivemos, segundo uma concepção de desenvolvimento volúvel e um


tanto, mecanicamente, pragmática, reconhecida como a Sociedade do
Acesso. O economista Jeremy Rifkin (o qual tenho em suas idéias e
pensamentos, uma identificação e referência), é muito preciso quando
define a velocidade da transformação ecossocioeconômica à qual
deparamo-nos.

A interação de comportamentos e a integridade ética de uma conduta


devem ser o instrumento que rege a partilha do significado e
importância de nossa presença nas tomadas de decisões sobre o meio
no qual estamos inseridos, onde o nosso próximo é uma extensão da
própria existência e alma... "as necessidades de um, devem ser
compartilhadas por todos".

Essa sensação de preocupação, causando o enfrentamento dinâmico


para com a realidade é motivadora da responsabilização e
compreensão pela qual observa-se que o conjunto de oportunidades,
possibilidades, respeito e consideração para com a inclusão ...
dimensiona a solidez do grupo; a definição de seus propósitos, e, a

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clareza para assegurar-se uma comunicação sensível, complementar e
pertencente à coletividade.

A individualidade é restritiva dos direitos existenciais e harmônicos da


qualificação por um desenvolvimento almejado. Assim sendo, uma
consciência compromissada, tange o limiar de uma estratégia
sincrônica de potencialidades que afloram segundo a valorização desta
postura, como unidade a ser formada na essência de uma conquista
chamada conhecimento (o qual somente, poucos têm capacidade para
adquiri-lo, por méritos estendidos quanto à dedicação pessoal,
considerada para com os valores da vida)... cuja coragem, é
determinada à obrigação para transformarmos angústias e medos
(entre a exclusão e a indiferença) em um novo momento a ser,
suavemente, trilhado como sendo: a reavaliação de paradigmas
educacionais provenientes da visão humana voltada à um crescimento
agressivo de imposição manifestada pela arrogância do individualismo.

Para isso faz-se necessário considerar que a plenitude do crescimento,


pautado em um processo de desenvolvimento justo, há de ser
permeável para com a identidade interpretativa das adversidades da
vida; uma vez que, o compartilhamento de experiências agrega
valores fadados à responsabilidade de nossos atos para com nossos
semelhantes e o futuro das gerações que ansiamos preparar.

Um abraço.

58 - Comentário de Stefano Carnevalli em 26 junho 2011 às


23:03

Tudo isso faz muito sentido. Compartilho. Só não sei ainda como lidar
no dia a dia, no trabalho, onde tudo está voltado para ser grupos pré
definidos, formatados, com pessoas que "passam o dia: entre o
computador, o banheiro, o café e as indefectíveis reuniões".

59 - Comentário de Vanildo Silva Oliveira em 27 junho 2011


às 17:12

Concordo plenamente com o comentário do Stefano. Os objetivos


profissionais nem sempre proporcionam esta abertura de pensamento.
O fato é que existe a necessidade de se criar grupos nas chamadas

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mídias sociais para que determinada marca faça suas ações,
convertendo em resultado. Simples como fogo...

60 - Comentário de Ana Valéria Haddad em 3 julho 2011 às


8:52

A nossa necessidade de pertencer advém da dificuldade brutal que


temos de vivenciar o espaço vazio que existe entre "mim" e o outro, e
que insistimos em preencher, buscando a participação em grupos, que
nos dá a sensação ilusória de estar construindo pontes para preencher
este vazio. Pois é justamente a manutenção deste vazio que nos
mantém na integralidade, e nos possibilita contribuir, integrar-nos.

61 - Comentário de Maria Otávia d'Almeida em 3 julho 2011


às 10:44

E é um vazio pouco visitado, pois "as igrejas", "os grupos" estão aí


para impedir...

62 - Comentário de Caleb Salomão Pereira em 22 agosto


2011

A superação do conceito de "indivíduo" para uma introjeção dos


valores contidos na idéia de "pessoa" (como rede!) parecem ecoar
certos conceitos de Emanuel Lèvinas... É muito bom ler um texto tão
provocativo!

O texto continua aberto a comentários no link abaixo:

http://goo.gl/d7SpG
FIM?

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