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RESISTA À TENTAÇÃO DE
PERTENCER A UM GRUPO
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ruminando-as há algum tempo. A primeira versão dessas idéias
publiquei-a, ainda no início de 2009, no texto Cada um no seu
quadrado http://goo.gl/Sqcfp
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Não raro denominam de redes suas organizações hierárquicas ou
seus grupos proprietários. Não estão – em sua maioria – mentindo ou
fazendo propaganda enganosa. Elas acreditam mesmo que suas
organizações sejam redes, desde que seus membros estejam
convencidos (ou “tenham consciência”) de que agora entramos na era
das redes (por algum motivo elas acham que consciência é algo
capaz de determinar comportamentos coletivos).
Pois bem. Tudo isso - que já foi dito e repisado, por mim e por
outros, nos últimos dois anos - me leva agora a refletir sobre o
seguinte: se quiserem realmente tecer redes as pessoas não devem
se agregar a outras pessoas em grupos proprietários, comunidades
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exclusivas, inner circles, bunkers para se proteger do mundo exterior
ou outras formas de organização constituídas na base do “cada um
no seu quadrado”. Sim, pode parecer surpreendentemente
contraditório, à primeira vista, dizer o que vou dizer agora:
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comum e exige essa visão comum para continuar interagindo. Na
verdade, o problema está na construção de mundos baseados na
participação.
Fale como uma pessoa. Seja uma pessoa. Não aja como se fosse um
grupo, um projeto, uma organização (nem mesmo tuite como se
fosse uma coletividade abstrata). Uma pessoa jurídica é uma pessoa
imaginária (ou seja, uma não-pessoa). A vida gastou 3,9 bilhões de
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anos e as coletividades humanas formadas pela convivência gastaram
uns 300 mil anos para constituírem essa tão surpreendente quanto
improvável realidade que somos (o humano, a pessoa: o encontro
fortuito do simbionte natural em evolução com o simbionte social em
prefiguração) e na hora em que vamos nos apresentar a alguém,
sobretudo a alguma coletividade, temos vergonha de dizer que somos
“apenas” uma pessoa e preferimos declarar que estamos
representando alguma dessas organizações vagabundas que, em
média, não conseguem sobreviver mais do que poucos anos e que,
além de tudo, são não-humanas, quando não desumanas.
Se você não tem liberdade para interagir nos seus próprios termos,
como uma pessoa, se você diz: “vou consultar primeiro meu chefe ou
meus companheiros” antes de decidir sobre isso ou aquilo, então sua
porção-borg http://goo.gl/B7erl cresce e sua porção-social diminui.
Em outras palavras, sua porção-rebanho cresce e sua porção-pessoa
diminui. Em outras palavras, ainda: você perde um pouco daquela
qualidade da alma que chamamos de humanidade.
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combinar antes o script. É inútil – e freqüentemente
contraproducente – mobilizar energia para direcionar um grupo.
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adesão, em sua maioria, são algum tipo de escola de pensamento, ou
de igreja, ou de corporação, ou de partido, ou de alguma coisa que
exija que você adote e professe uma visão coletivamente construída
para pertencer ao grupo e poder falar em seu nome. Mas se você
quer fazer redes, nada de criar coesões que separem os de dentro
dos de fora.
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Comentários
1 - Comentário de Ceila Santos em 11 abril 2011 às 9:57
OK, concordo com sua linha de pensamento. Fiquei com uma dúvida:
a partir do ingresso em uma rede pré-estabelecida como é a Escola de
Redes, o Fecebook, o twitter, etc, não estou já aceitando uma
conceituação e um código de postura já previamente estabelecido? A
própria web já não é um processo hierarquizado de interação? Achei
que o texto confundiu mais a minha cabeça do que esclareceu...
Abraço
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4 - Comentário de Ceila Santos em 11 abril 2011 às 10:16
Excelente!
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inevitável sentir um certo arrepio, típico de quem está prestes a se
lançar num esporte radical, quando, por melhor que sejam os
equipamentos, você percebe que está por sua conta e risco. Há um
longo caminho a percorrer...
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dibujan los contornos provenientes de lo social, la figura del individuo
remite a la indivisibilidad, a la irreductibilidad Es lo que queda cuando
se despoja al ser de todos sus oropeles sociales. Bajo las sucesivas
capas que designan al sujeto, al hombre y la persona, encontramos el
núcleo duro, entero, la mónada cuya identidad nada, salvo la muerte -
y quizá ni eso-, puede quebrar. Unidad distinta en una serie jerárquica
formada por géneros y especies, elemento indivisible, cuerpo
organizado que vive su propia existencia, que no podría dividirse sin
desaparecer, ser humano en cuanto identida biológica, entidad
diferente de todas las otras, si no unidad de la qu se componen las
sociedades: el individuo sigue siendo irreductiblement la piedra
angular con la que se organiza el mundo."
Dicho esto creo que no existe un individuo como tal , como una bola
irreductible un cuerpo con ideas coma tal, sino un cuerpo que se va
individualizando y desindividualizando de acuerdo a los principios que
resume Vega Redondo para la conformación de una red.
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3. Ante un gran cambio la red podrá quedar mas cerrada "en su
cuadrado", o totalmente desintegrada.
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hierárquico, centralizado, burocrático, anacrônico, onde não há espaço
para relações verdadeiras, nem interesse institucional de mudar o
status quo.
Raulino, o bom da história é que não precisamos para nada ver o que
fazer com esta patota aqui. Não é uma patota, como você já deve ter
percebido. Abração também.
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Boyle, concordo. As diferenças entre o que você disse e o texto são
mais terminológicas do que conceituais. Um ser humano concreto é
sempre uma unidade biológico-cultural, não um exemplar da espécie
(biológica), nem somente uma particular configuração (cultural).
Chamo de pessoa a esta unidade, que não é algo dado e sim em
construção. Tornamo-nos pessoas à medida que interagimos com
outros seres humanos. Daí que pessoa já é rede e o indivíduo, como
tal, é uma abstração (não é um ser humano concreto, se for um
exemplar da espécie é uma condição do humanizável, não uma
consumação do humano).
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1. Somos seres sociais. Clusterização é fenômeno de rede. Parece-me
que regras para clusterização, sobram! Esse "deve/não deve" ser
assim me incomoda demais.
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Não delineei regras propriamente para a Escola-de-Redes e sim para
iniciar esta plataforma que utilizamos, que exige isso porque, como
sabemos, é uma plataforma p-based e não i-based (mais baseada em
participação do que em interação). Então "o criador" (hehe, é assim
que chama ou chamava o Ning) obriga você a optar: aceita a adesão
de qualquer um ou tem que pedir para entrar? (Conquanto depois, o
próprio Ning Team nos aconselhou a modificar o que era totalmente
aberto, para evitar os programas invasores); aceita comentários (em
que lugar? - e aí vem uma lista imensa)?; qualquer membro de um
grupo pode enviar comentários para os outros membros do grupo?
etc. etc. A lista de opções de administração é realmente extensa.
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ainda é comum) e a titulação. Minha resposta é geográfica: - de Volta
Redonda e não tenho titulação porque não pertenço à nobreza.
Acredito que a necessidade do pertencimento vem da construção de
nossa identidade. Como somos identificados pelo outro e assim nos
estruturamos, precisamos de um grupo. Realmente o grupo é
necessário, mas a interação não precisa do grupo. Pra mim a
interação surge quando algo ou alguém desperta meu interesse, se vai
acontecer alguma coisa ou não, não importa. Valeu porque de algum
modo cresci. E seu entendi corretamente o Augusto, vou enlaçando e
esparramando minha rede na maior parte do meu tempo. Se não
entendi nem um cadiqui, por favor, providenciem tradução simultânea
Pois é, que bom que o post gerou bons comentários. O que pretendi
dizer é simples e poderia talvez ser resumido naquela sentença inicial
(de 2009): não faça patotas, não construa igrejinhas, articule redes.
Não chame suas organizações hierárquicas ou seus grupos
proprietários de redes (no sentido em que a palavra vem sendo
entendida aqui, como redes mais distribuídas do que centralizadas).
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possível, sim, interagir sem pertencer, se conectar sem professar, se
associar sem obedecer e sem mandar, atuar junto sem se deixar
arrebanhar. Desde, é claro, que se aceite a lógica da abundância.
Parodiando nosso amigo José Pacheco (no que diz em relação à escola
tradicional), hoje posso declarar que estou nisso (articulação e
animação de redes) por vingança.
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23 - Comentário de Augusto de Franco em 12 abril 2011 às
6:00
Não é fácil mesmo aceitar o fluxo, Guilherme. São seis mil anos de
inseminação de uma metafísica como esta que você expõe abaixo.
Tenho para mim - seguindo as especulações do matemático Ralph
Abraham - que isso começou em uma calma tarde sábado, em algum
momento da pré-história sumeriana.
E tão influente foi essa metafísica que até hoje, seis mil anos depois,
ainda continuamos ignorando as descobertas científicas ou mentindo
em nome da ciência.
Vamos ver.
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Um conjunto de pessoas em interação constitui, sim, sempre, um
tecido. Mas isso não é a mesma coisa que patota, igreja, grupo
proprietário. Os exemplos que você cita refutam suas premissas. O
fígado, como parte de um organismo, tem um padrão de rede. Toda a
vida - organismos, partes de organismos e ecossistemas - se organiza
em rede (como disse nossa querida bióloga Lynn Margulis, "a vida não
se apossa do globo pelo combate e sim pela formação de redes" e vale
a pena ler aqui na E-R o post A vida como rede fractal de seres
interdependentes). Tudo que é sustentável tem o padrão de rede.
Por último, a hipótese do câncer como resultado de uma ignorância
das células hepáticas que, como você aventa, "não sabem trabalhar
de maneira harmoniosa". Que coisa, heim Guilherme? Este é
exatamente o mesmo schema mítico da queda dos anjos. Tudo estava
planejado pelo grande arquiteto para ser justo e perfeito... mas aí
houve a queda. Alguns seres da hierarquia se corromperam e o mal foi
introduzido no mundo. Veja que é o mesmo padrão de pensamento
que urdiu a idéia do pecado original. Sobre isso tuitei outro dia que o
problema não é a queda dos anjos e sim os anjos.
Para quem teve sua consciência colonizada por idéias feita para
escravos (sim, é disso que se trata), é realmente muito duro descobrir
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que estar interligado a tudo é estar realmente só, como um viajante
dos multiversos...
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26 - Comentário de jaime fractal em 12 abril 2011 às 10:00
É isso, Angela, mas não basta ver redondo: tem que sair rolando feito
uma bola!
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Rigidez leva a alienação e a menos influência e movimentação no
grupo.
Pensando...
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preocupação maior... a coletividade parceira de uma consciência do
amadurecimento social.
Assim, a tendência por grupos e por estarmos com pessoas que nos
dão significado não acredito que vamos perder, porém, concordo
contigo que se fechar nisso é algo que deve ser evitado, pois acaba
nos levando a um ponto de saturação.
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Que dizes?
abraços,
Nepô.
Não sei. Mas o fato é que não consegui me agarrar em nada e deu
pânico de cair na roda porque ela começou a fazer sentido. Entendi
que o pertencimento ao grupo no sentido de defender a posse do que
ele representa nos coloca numa posição de luta. ou seja, eu quando
assumo o lugar de mãe histórico (ou seja, acredito na luta e vivo na
prática para atingir seu ápice comigo mesma), cujas características
são estabelecidas por um ideal assumo uma atitude de defesa com o
restante da humanidade. Não há interação verdadeira, mas defesa do
lugar que represento. Quando tomo consciência disso posso até
acreditar no idealismo de mãe, mas posso interagir de forma aberta
sem a obrigação de seguir aquele modelo. UAU! É fantástico,
extremamente inseguro, mas de uma fraternidade tamanha...
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Qual sua visão sobre o interagir na hora de produzir conteúdo em
ferramentas como blog que funciona ainda no regime da escassez?
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de contribuir, de edificar e sempre considerando e respeitando o
outro.
Maria Rita, na vida real às vezes falo muito, proponho idéias e acabo
virando o centro, o que eu não gosto nem um pouco porque isso traz
muita responsabilidade. O Augusto, mesmo que não deseje acaba
virando o centro porque é o gestor aqui da escola de rede e tb teórico
e divulgador de conhecimento das teorias e práticas das redes sociais.
Se um determinado membro acaba virando o centro porque os
membros do grupo voluntariamente desejam não vejo mal algum e de
forma alguma impede que os membros se tornem pessoas e
desenvolvam os seus egos. Uma estrutura hierárquica em que os
membros são obrigados a obedecer involuntariamente isso sim
sempre foi um grande problema. Abraço!
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45 - Comentário de Augusto de Franco em 18 abril 2011 às
15:14
Penso que é mais ou menos como disse o Jaime, Maria Rita. Ninguém
centraliza a rede porque expõe suas idéias. A centralização é um
condicionamento de fluxos, quando se obriga esses fluxos a passar por
determinados caminhos (porque outros caminhos foram suprimidos ou
obstruídos). Leia o texto O poder nas redes sociais para entender esse
ponto de vista. No texto indicado os conceitos de 'poder' e 'hierarquia'
são apresentados do ponto de vista da topologia das redes.
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fundamentais. Então surgem os Paulo Brabo da vida para nos ajudar a
acordar, sair do sonambulismo social e viver como pessoas e não
somente indivíduos. Eis um grande exercício, parar de tentar
pertencer a qualquer coisa que seja, para descondicionar e poder
perceber que você pertence à única coisa real em relação a você, que
pertencemos todos à uma raça, uma espécie, a qual por vários
motivos mais sublimes chamamos de humanidade. Já pertencemos.
Agora é só compartilhar, sem medo de ficar sem, de perder, sem
medo de não ser ou de não valer o que pensa que precisa valer para
ser. Já somos o que pensamos que precisamos ser. Desiludamo-nos
de nós. Fique bem.
Existe um ego e existe um self que é muito mais que um ponto de luz
chamado ego.
Gentem!!!!
Contracensos da vida!!
att, Clarice
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50 - Comentário de Augusto de Franco em 22 junho 2011 às
17:53
Não precisa se registrar nesta plataforma para ler qualquer texto aqui.
Também não é necessário qualquer registro para baixar mais de 800
textos.
Mas usamos uma plataforma Ning que exige o registro para fazer
comentários. Ning ainda é uma plataforma p-based (baseada em
participação) (e não i-based, baseada em interação) e não podemos
desativar suas funcionalidades, vamos dizer assim, orientadas para a
participação, que exigem algum grau de pertencimento.
Abraços.
Muito bom artigo... de fato é mesmo difícil nos livrarmos dos dogmas
que nos prendem à estruturas hierárquicas... acredito que a solução
para isso é poder se sentir livre em um ambiente em que todos se
sintam naturalmente motivados a fazer alguma coisa, não para
alguém, mas fazer pelo simples prazer de fazer... "- Se você quer
fazer redes, resista a tentação de pertencer a um grupo." - me lembra
o verso 36 do Tao Te King (Lao Tzu): "para comprimir algo, é preciso
deixar que se expanda bem; para enfraquecer, deves deixar que se
fortaleça bem".
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Mas é o desafio... vamos lá!
E só mais uma coisa: "se você diz: 'vou consultar primeiro meu chefe
ou meus companheiros' antes de decidir sobre isso ou aquilo, então
sua porção-borg cresce e sua porção-social diminui". Acho que você se
referiu ao consultar no sentido de "pedir permissão", não no sentido
de se aconselhar, neh?
Abraço!
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54 - Comentário de Augusto de Franco em 23 junho 2011 às
6:46
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55 - Comentário de ROBERTA GARCIA RIBEIRO em 23 junho
2011 às 13:22
Abraços,
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clareza para assegurar-se uma comunicação sensível, complementar e
pertencente à coletividade.
Um abraço.
Tudo isso faz muito sentido. Compartilho. Só não sei ainda como lidar
no dia a dia, no trabalho, onde tudo está voltado para ser grupos pré
definidos, formatados, com pessoas que "passam o dia: entre o
computador, o banheiro, o café e as indefectíveis reuniões".
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mídias sociais para que determinada marca faça suas ações,
convertendo em resultado. Simples como fogo...
http://goo.gl/d7SpG
FIM?
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