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EXCELENTÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUÍZA DE DIREITO DA COMARCA

DE SÃO LUIZ DO PARAITINGA – SP

COMISSÃO PROVISÓRIA DO
PARTIDO SOCIAL DEMOCRÁTICO – PSD DE LAGOINHA – SP, órgão
partidário municipal, inscrito no CNPJ sob o número 15.712.085/0001-08, com
sede à Avenida Albertino José Ferreira, 350 – Centro – Lagoinha – SP, por seu
advogado in fine assinado, devidamente constituído e qualificado no instrumento
de procuração em anexo, com endereço profissional na Rua Carmela Zanetti
Rodrigues, 341 – Village das Flores – Caçapava – SP, na forma do art. 39, I, do
CPC, vem perante Vossa Excelência, com fulcro nas disposições do Artigo 5º,
LXIX, da Constituição Federal e do Artigo 1º da Lei nº 12.016/2009, impetrar o
presente

MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO


com pedido de Liminar
em face de ato praticado pelo Presidente da Primeira Sessão Ordinária da
Décima Sétima Legislatura da Câmara Municipal de Lagoinha, Sr. Amarildo
Pereira Marcos, portador do RG 21.331.100-8 e inscrito no CPF 100.980.858-
32, com endereço residencial à Rua Benedita Oliveira Santos, 40 – Centro –
Lagoinha – SP e sede da Câmara Municipal com endereço à Rua Benedito
Ferreira, 75 – Centro – Lagoinha – SP, pelos fatos e fundamentos a seguir
expostos:

1. Dos Fatos

Os vereadores de Lagoinha, eleitos para a legislatura de 2021 a 2024, se


reuniram em 01 de janeiro de 2021, em sessão ordinária realizada
imediatamente após a Sessão Solene de Posse dos mesmos, no Plenário José
Felisbino, sede do Poder Legislativo Municipal, sob a presidência do Impetrado
senhor Amarildo Pereira Marcos, vereador mais votado nas eleições municipais
de 15 de novembro, a fim de realizar a eleição da Mesa Diretora para o biênio
2021-2022, conforme prevê a Lei Orgânica do Município e o Regimento Interno
da Câmara Municipal de Lagoinha.

Nos termos da Ata da Primeira Sessão Ordinária da Décima Sétima


Legislatura da Câmara Municipal de Lagoinha (ANEXO II), a sessão foi
devidamente instalada com o quórum regimental e o processo de eleição para
composição da mesa foi iniciado, sendo eleito para a Presidência da Mesa, com
05 (cinco) votos, o senhor vereador Luís Antônio dos Santos do Partido Liberal
(PL), na sequência foi procedida a votação para escolha do cargo de vice-
presidente, tendo como candidatos o senhor vereador Jeferson Juvêncio
Ferreira de Souza, também do Partido Liberal (PL) e o senhor vereador Fábio
Pereira Marcondes, do PSDB. Neste momento, o senhor vereador Jorge Luiz
Ribeiro do impetrante Partido Social Democrático (PSD), questiona a
candidatura do vereador Jeferson à vice-presidência sendo do mesmo partido
do presidente que acabara de se eleger, solicitando, para tanto, manifestação
imediata da procuradoria jurídica da Casa de Leis acerca da matéria, tendo a
senhora Procuradora Dra. Juliana Fortes Lobo Gastaldi se pronunciado nos
exatos termos extraídos da ata:

“...que conforme o artigo 34 da Lei Orgânica e artigo 10 do


Regimento Interno, de que na constituição da Mesa
assegurar-se-á, tanto quanto possível, a representação
proporcional dos partidos políticos com assento na Câmara
Municipal, esta questão já foi levantada na eleição da mesa
passada, na minha opinião é o que consta no regimento, a
qual entendo que deve haver uma representação mais
harmoniosa, então o correto seria de que os partidos fossem
representados tanto quanto possível”.

Após manifestação da Procuradora, foi procedida a votação e vereador Jorge


Luiz Ribeiro, do impetrante PSD, solicitou que constasse seu voto em ata e
consignou:

“meu voto vai para o Fábio, nada contra o Jeferson, mas vai
para o Fábio porque ele é do partido que ainda não compõe
a mesa, e nós vamos ter que respeitar a composição da
Mesa seguindo os artigos 34 da Lei Orgânica e artigo 10 do
Regimento Interno, e que colocar em votação desta maneira,
vou usar a ata para realizar uma representação, inclusive irei
representar o Presidente que está fazendo uma
interpretação errônea do Regimento, uma vez que neste
momento o Jeferson não pode compor a mesa”.

A votação se consumou, tendo o vereador Fábio Pereira Marcondes do


PSDB recebido 04 (quatro) votos e o vereador Jeferson Juvêncio Ferreira de
Souza do Partido Liberal (PL) obtido 05 (cinco) votos e se elegendo para a vice-
presidência da mesa.
A sessão teve continuidade, com a votação a para o cargo de 1º Secretário,
sendo eleita com 06 (seis) votos a senhora vereadora Wanderléia Aparecida de
Oliveira Ribeiro, também do Partido Liberal (PL) e por fim para o cargo de 2º
Secretário, candidatou-se apenas o vereador Cristiano Alves Lino do
Democratas (DEM), partido aliado do PL, restando aclamado para o cargo. A
sessão foi então encerrada, nos termos da ata.

Constata-se que a composição da Mesa Diretora da Câmara de Vereadores


de Lagoinha para o biênio 2021-2022 afronta os dispositivos legais, mesmo com
a manifestação do senhor vereador Jorge Luiz Ribeiro evidenciando a
necessidade de observação da Lei Orgânica do Município e do Regimento
Interno na votação presidida pelo Impetrado e, ainda, o Parecer Jurídico
requerido e imediatamente exarado pela Procuradora Dra. Juliana Fortes Lobo
Gastaldi, no mesmo sentido de que fosse buscada uma composição harmoniosa,
assegurando a representatividade dos partidos com assento na Câmara.

Excelência, há, sem dúvida, violação de direito líquido e certo pelo flagrante
descumprimento do artigo 34 da Lei Orgânica do Município de Lagoinha e do
Artigo 10 do Regimento Interno da Câmara de Vereadores de Lagoinha, além da
afronta à Proporcionalidade Partidária, prevista na Constituição Federal no Art.
58, § 1º.

A exigência de proporcionalidade na composição da Mesa do Parlamento


deflui de imperativo democrático de repartição de poderes e fidelidade à
representatividade outorgada pelas urnas.

O impetrante Partido Social Democrático – PSD e os demais partidos


políticos com assentos na Câmara Municipal tiveram violado o direito do
exercício de sua representatividade, restando flagrante a disparidade entre a
composição da Casa e a Composição da Mesa Diretora, conforme se demonstra
nas representações a seguir:

Composição da Câmara de Vereadores de Lagoinha

Legislatura 2021-2024

Total de assentos: 09 (nove)


Composição da Mesa Diretora da Câmara de Lagoinha

Biênio 2021-2022

*Observação: PL e Democratas são aliados e compuseram coligação.

É evidente o desequilíbrio da representatividade se comparada a composição


da Câmara com a composição da Mesa Diretora, todos os vereadores do Partido
Liberal (mesmo partido do Chefe do Executivo) ocupam cargo na Mesa Diretora,
enquanto o PSDB, a título de exemplo, com o mesmo número de assentos, não
ocupa nenhuma vaga na Mesa.

2. Do Direito

O Partido Social Democrático – PSD de Lagoinha é entidade legitimada para


a representação coletiva dos seus membros ou associados, com amparo no
artigo 5º, Inciso LXX da Constituição Federal:

“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de


qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade,
nos termos seguintes:

LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado


por:
a) partido político com representação no Congresso
Nacional;”

Outrossim, o artigo 21 da Lei do Mandado de Segurança (Lei


12.016/2009) aduz que:

“Art. 21. O mandado de segurança coletivo pode ser


impetrado por partido político com representação no
Congresso Nacional, na defesa de seus interesses legítimos
relativos a seus integrantes ou à finalidade partidária, ou por
organização sindical, entidade de classe ou associação
legalmente constituída e em funcionamento há, pelo menos,
1 (um) ano, em defesa de direitos líquidos e certos da
totalidade, ou de parte, dos seus membros ou associados,
na forma dos seus estatutos e desde que pertinentes às
suas finalidades, dispensada, para tanto, autorização
especial.

Parágrafo único. Os direitos protegidos pelo mandado de


segurança coletivo podem ser:

I - coletivos, assim entendidos, para efeito desta Lei, os


transindividuais, de natureza indivisível, de que seja titular
grupo ou categoria de pessoas ligadas entre si ou com a
parte contrária por uma relação jurídica básica;

II - individuais homogêneos, assim entendidos, para efeito


desta Lei, os decorrentes de origem comum e da atividade
ou situação específica da totalidade ou de parte dos
associados ou membros do impetrante.”

O Direito violado ora reivindicado está previsto na Lei Orgânica de Lagoinha,


conforme dispõe:

“Artigo 34º. - Na constituição da Mesa assegurar-se-á, tanto


quanto possível, a representação proporcional dos partidos
políticos com assento na Câmara Municipal”.

Houve também evidente afronta ao Regimento Interno da Câmara Municipal


de Lagoinha, especificamente no artigo que traz a quase exata literalidade do
dispositivo anteriormente trazido:

“Art. 10. Na composição da Mesa, assegurar-se-á, tanto


quanto possível, a representação proporcional dos partidos
com assento na Câmara”.

Ambos dispositivos legais foram evocados pelo vereador deste partido


impetrante e pela procuradora jurídica no exato momento em que o direito estava
prestes a ser violado, revelando o indiscutível desrespeito do Presidente daquela
Sessão ao ordenamento jurídico vigente, orientando-se exclusivamente pelo
desejo do controle político da Casa de Leis e pela intenção de enfraquecer a
representatividade democrática e descumprir a regra da proporcionalidade.

A regra da Proporcionalidade foi inserida na Constituição Federal em artigo


58, § 1º:

“Art. 58. O Congresso Nacional e suas Casas terão


comissões permanentes e temporárias, constituídas na
forma e com as atribuições previstas no respectivo
regimento ou no ato de que resultar sua criação.

§ 1º Na constituição das Mesas e de cada Comissão, é


assegurada, tanto quanto possível, a representação
proporcional dos partidos ou dos blocos parlamentares que
participam da respectiva Casa.”

A mesma disciplina é aplicável, por derivação e simetria, aos órgãos dos


Poderes Legislativos das demais esferas, nos termos dos artigos 25 e 29 da
Constituição da República.

Parcela de nossa doutrina e de nossa jurisprudência acredita que o uso


da expressão “tanto quanto possível” busca superar meros desajustes
matemáticos ou obstáculos fracionários, tratando-se de princípio inafastável e
insuperável.

“A proporcionalidade, expressamente prevista no inciso IV


do art. 29 da Constituição Federal tem cunho matemático,
aritmético” (TJ/PR – 1ª Câm. Cível – Ac. 25914 – P.
0155733-1 – Ap. Cível – Rel. Roseane Arão de Cristo
Pereira – j. 25.08.2005). No mesmo sentido: “A expressão
tanto quanto possível somente pode referir-se à
possibilidade matemática, não a questões outras, ligadas a
interesses políticos ou a conjugação das vontades dos
vereadores”. (TJ/SP – Ac. 212632-1 - Ap. Cível – j.
17.8.1994 – JTJ 165/20).

Nesse sentido, o mestre Mayr Godoy manifesta que:

“sem a participação efetiva possível de todos os partidos ou


blocos há inconstitucionalidade na composição da Mesa. A
Mesa é a importante Comissão Diretora que, por sua
complexa característica e por sua destacada competência,
também se aplica o princípio constitucional da participação
proporcional dos partidos ou dos blocos”. (GODOY, Mayr. A
Câmara Municipal e seu Regimento Interno, LEUD, 4ª ed.,
1995, p. 77/78.)
O presente Mandado impetrado visa resguardar princípio constitucional
violado com a eleição. Tal situação já foi objeto de discussão no Supremo
Tribunal Federal, referente à composição da Câmara dos Deputados. Confira-se
o voto do Ministro Marco Aurélio, a respeito do tema:

“Em exame preliminar, exsurge em questão princípio cuja


importância autorizou o tratamento constitucional – o da
representação proporcional dos partidos ou dos blocos
parlamentares na constituição da Mesa da Câmara dos
Deputados (§1º do artigo 58 da Carta Política da República).
O escopo da previsão constitucional é, sem dúvida alguma,
preservar a salutar participação das minorias, evitando que
forças políticas de maior estrutura venham a alijá-las. Daí
Josaphat Marinho haver consignado, no parecer
reproduzido na inicial desta impetração, que o partido
político, obedecido o critério da proporcionalidade, é titular
de direito líquido e certo à representação, quer considerada
a Mesa, quer cada uma das comissões que funcionam no
âmbito da respectiva Casa, podendo pleitear até mesmo a
nulidade da composição do Órgão, inclusive por meio de
mandado de segurança... Ao conferir a Carta da República
uma garantia, ela própria há de atribuir ao respectivo titular
os meios necessários a torná-la eficaz. Seria assentar que a
Carta estaria a proporcionar com uma das mãos a
participação dos partidos políticos, considerada a
representatividade, na constituição das Mesas e das
Comissões das Casas do Parlamento, e a retirar com a outra
o que assegurado, caso pudesse ser evocada, com valor
absoluto, a tese de que a controvérsia diz respeito a
questões interna corporis” (STF – Pleno – MS 22.183-6 –
trecho do voto do Ministro Marco Aurélio. Ementário STF,
1.895-02).”

3. Da Concessão de Liminar

Os requisitos da medida liminar, consistentes do fummus boni juris e no


periculum in mora, encontram-se perfeitamente delineados neste mandamus.
Em hipóteses tais, diante da presença desses requisitos, a jurisprudência é
unânime acerca da viabilidade de sua concessão. Nesse sentido:

“A análise de sua presença [periculum in mora] deve ser feita


apenas para a concessão ou não da liminar, que nada mais
é do que um provimento cautelar do possível direito do
impetrante” (TRF/3, AMS305247, j.25/3/2010, Rel. Des.
Marcio Morais).
“Para a concessão de liminar em mandado de segurança a
lei exige, cumulativamente, a presença dos requisitos de
fundamento relevante (fumus boni iuris) e do periculum in
mora.” (TRF/3, AI 229277, j. 25/10/2006, Rel. Des. Lazarano
Neto).

“O deferimento de medida liminar está condicionado à


presença simultânea de dois requisitos: a) a verossimilhança
do direito alegado e b) a existência de risco associado à
demora no julgamento da demanda.” (STJ, AgRg no MS
9944, j.27/10/2004)

Com efeito, a manutenção da Mesa Diretora da Câmara de Vereadores de


Lagoinha na Composição definida em eleição realizada em 01 de janeiro de 2021
viola direito líquido e certo já demonstrado neste mandamus e representa grave
ameaça à legitimidade e normalidade dos atos legislativos realizados pela
Câmara de Vereadores de Lagoinha, razão pela qual se pleiteia a concessão de
medida liminar para SUSPENDER a eleição da Mesa Diretora realizada na
Primeira Sessão Ordinária da Décima Sétima Legislatura da Câmara Municipal
de Lagoinha – SP em 01 de janeiro de 2021, assumindo a Presidência, até
derradeira decisão, o vereador mais idoso, nos termos do artigo 13 do Regimento
Interno:

“Art. 13. Vago o cargo de Presidente, este será substituído


pelo Vice Presidente, nos demais cargos da Mesa, far-se-á
eleição durante o Expediente da primeira sessão ordinária
imediata, ou, antes dela, em sessão extraordinária
especialmente convocada, para este fim por iniciativa do
novo Presidente.

Parágrafo único. Se todos os cargos estiverem vagos a


eleição para completar o mandato se processará na primeira
sessão ordinária subsequente à vacância, sob a presidência
do Vereador mais idoso dentre os presentes.”

4. Dos Pedidos

Diante do exposto, requer-se:

I – Liminarmente, seja determinada a Suspensão da Eleição da Mesa Diretora


da Câmara de Vereadores para o biênio 2021-2022;

II – A notificação da autoridade coatora do conteúdo da petição inicial,


enviando-lhe a segunda via apresentada com as cópias dos documentos, a fim
de que, no prazo de 10 (dez) dias, preste as informações;
III – A intimação do representante do Ministério Público, para opinar, dentro
do prazo legal estabelecido;

IV - A concessão da segurança, em definitivo, para ANULAÇÃO da Primeira


Sessão Ordinária da Décima Sétima Legislatura da Câmara Municipal de
Lagoinha e que seja determinada ao impetrado Sr. Amarildo Pereira Marcos a
convocação de nova Sessão para Composição da Mesa Diretora para o biênio
2021-2022, em estrita observância das normas regimentais, da Lei Orgânica
Municipal e da Constituição Federal;

Dá à esta causa o valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais)

Nestes termos,

Pede Deferimento

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