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MATTELART, Armand; MATTELART, Michéle.

História das Teorias da


Comunicação. 8. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2005.

Desde a década de 1910, a comunicação nos Estados Unidos encontra-se ligada ao projeto de
construção de uma ciência social sobre bases empíricas. A Escola de Chicago é sua sede. Seu
enfoque microssociológico dos modos de comunicação na organização da comunidade
harmoniza-se com uma reflexão sobre o papel da ferramenta científica na resolução dos grandes
desequilíbrios sociais. A supremacia dessa escola durará até as vésperas da Segunda Guerra
Mundial. Os anos 40 vêem intalar-se outra corrente: a Mass Communication Research, cujo
esquema de análise funcional desloca a pesquisa para medidas quantitativas, mais aptas a
responder à exigência proveniente dos administradores da mídia (MATTELART;
MATTELART, 2005, p. 29).

Entre os membros da Escola de Chicago, uma figura se destaca, a de Robert Ezra Park (1864-
1944). Autor de uma tese de doutorado, preparada em Heidelberg, sobre “a massa e o público”
(1903), repórter experimentando em grandes investigações jornalísticas, militante da causa
negra, Park entra para universidade apenas em 1913. Transforma sua prática de jornalista e
concebe como forma superior de reportagem as pesquisas sociológicas que irá realizar nos
bairros da periferia. Seguiu os ensinamentos de Georg Simmel, que se interroga sobre a cidade
como “estado de espírito”, e vê o fundamento psicológico da “personalidade urbana” na
“intensificação do estímulo nervoso”, na “mobilidade” e na “locomoção” [Simmel, 1903]. É um
dos introdutores dos pensamentos de Gabriel Tarde nos EUA (MATTELART; MATTELART,
2005, p. 30).

A cidade como “laboratório social”, com seus signos de desorganização, de marginalidade, de


aculturação, de assimilação; a cidade como lugar da “mobilidade”: tal é o terreno de observação
privilegiado pela Escola de Chicago. Entre 1915 e 1935, as contribuições mais importantes de
seus pesquisadores são consagradas à questão da imigração e da integração dos imigrantes na
sociedade americana. É a partir dessas comunidades étnicas que Park se interroga sobre a
função assimiladora dos jornais e, em particular, das inúmeras publicações em língua
estrangeira sobre a natureza da informação, o profissionalismo do jornalismo e a diferença entre
ele e a “propaganda social” ou a publicidade municipal (MATTELART; MATTELART, 2005,
p. 30-31).

Em 1921, Park e seu colega E.W. Burgess identificam sua problemática pela denominação
“ecologia humana”, referência ao conceito inventado em 1859 por Ernest Haeckel. Esse biólogo
alemão define a ecologia como a ciência das relações do organismo com o ambiente,
compreendendo, em sentido amplo todas as condições de existência. Com fartas citações de
contribuições de botânicos e zoólogos, referindo-se a Spencer, Park e Burgess apresentam seu
programa como uma tentariva de implicação sistemática do esquema teórico da ecologia vegetal
e animal ao estudo das comunidades. (MATTELART; MATTELART, 2005, p. 31)

Três elementos definem uma comunidade: uma população organizada em um território, em


maior ou menor medida nele enraizado, cujos membros vivem numa relação de
interdependência mútua de caráter simbiótico. Nessa “economia biológica” – termo que Park
utiliza por vezes como sinônimo de ecologia humana –, é a “luta pelo espaço” que rege as
relações interindividuais. Essa competição é um princípio de organização. Nas sociedades
humanas, competição e divisão do trabalho resultam em formas não-planificadas de cooperação
competitiva, que constituem as relações simbióticas, ou o nível “biótico” da organização
humana (MATTELART; MATTELART, 2005, p. 31-32).

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