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AFA 2024

REDAÇÃO

AULA 05
Conclusão

Prof.ª Celina Gil

www.estrategiamilitares.com.br
Prof.ª Celina Gil

Sumário
Apresentação 3

1 - Repertório de redação 4

2 – Conclusão 12
2.1 – Conectivos de conclusão 14
2.2 – Análise de redação 16
2.3 – Exercícios: Conclusão 17

3 - Propostas 26

Considerações Finais 37

Siga minhas redes sociais!

Professora Celina Gil @professoracelinagil @professoracelinagil

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Apresentação
Olá!

Na aula de hoje, veremos:

- Prática e estudo de desenvolvimento da conclusão;

- Exercícios de identificação de temática; desenvolvimento de

conclusão; e

- Prática de redação.

Nossas aulas de redação serão sempre compostas de 3 partes:

1 - Análise social
Apontamentos acerca de assuntos ligados ao contemporâneo.
Esses apontamentos têm o objetivo de fortalecer seu repertório e auxiliar na
elaboração de argumentos.

2 - Estudo de uma parte da dissertação


Estudo aprofundado de uma das partes que compõe o texto dissertativo.
Vamos passar por introdução, desenvolvimento, conclusão e coesão/coerência.

3- Produção textual
Análise de redações/trechos de redações e/ou exemplo de produção textual.
Propostas de redação inéditas para serem executadas pelo aluno.

Vamos lá?

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1 - Repertório de redação
Para nosso repertório de hoje, separamos alguns assuntos que tem a ver com arte, cultura
e tecnologia. Esses são temas frequentes em sua prova e saber um pouco mais sobre eles pode
ajudar você a encontrar repertório para suas redações.
Tópicos

Indústria Tecnologia Arte e


Cultural hoje Sociedade

1.1 - Indústria Cultural


vamos pensar nas ideias de indústria cultural e cultura de massa. Esses são conceitos importantes para
tratar de temas como consumismo, cultura e arte no contemporâneo.
O termo Indústria Cultural foi popularizado
enquanto conceito pela Escola de Frankfurt,
principalmente pelos sociólogos Theodor Adorno
(1903 – 1969) e Max Horkheimer (1895 – 1973). A
Indústria Cultural seria uma das responsáveis pela
formação do pensamento das sociedades mediadas
pelo consumo e pela massificação.
A Indústria Cultural é como uma fábrica, que
produz bens culturais padronizados e
homogeneizados. Esses produtos alienam quem os
consomem, pois não incentivam a reflexão ou o
questionamento das estruturas. São apenas
entretenimento, com o objetivo de domesticar as pessoas.
Nos habituamos sempre aos mesmo produtos, o que faz com que propostas mais inovadoras
causem estranhamento e, por isso mesmo, nem sempre sejam capazes de atrair muito público. Por
gerarem menos lucro, essas produções são vistas como inúteis, ou seja, colocamos na possibilidade de
monetarização o valor da arte.
Outro perigo dessa estrutura é a criação de falsas necessidades: os meios de comunicação e
difusão de cultura incentivam o consumo de modo que a felicidade parece que só pode ser atingida
através dele.
Outro conceito importante para esse assunto é a ideia de cultura de massa. Chama-se de cultura
de massa os produtos da indústria cultural, ou seja, as expressões da cultura produzidas com o intuito de
serem vendidas e gerar lucro. Seu objetivo é atingir o grande público. Uma de suas principais
características é ser capaz de absorver aquilo que se opõe a ela: sabe aquele programa que passa na
televisão e fala mal de televisão? É isso!
As principais influências da cultura de massa na literatura partem do cinema e da televisão. Hoje
em dia, é possível ouvir falar também em cultura pop. São expressões, portanto, intimamente ligadas à
ideia de consumo.
Nem tudo é maligno na Indústria Cultural e na produção de arte e cultura no sistema capitalista.
Para outro pensador da Escola de Frankfurt, Walter Benjamin (1892-1940), a maior difusão da arte através
dos meios de comunicação pode ser uma via de democratização da arte, pois a cultura alcança um

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número maior de pessoas. Outra vantagem é que incentiva trabalhos não comerciais, já que incentiva o
acesso às ferramentas de produção cultural. No nosso contexto contemporâneo, que lida com a internet,
podemos pensar essa tensão entre alienação e tomada dos meios de produção cultural de maneira mais
ampla. Podemos pensar desde as novas profissões da internet – como youtubers – até a facilidade de
criação e disseminação de notícias falsas no contemporâneo (ambos temas importantes para a realidade
brasileira).

FILMES
O Show de Truman (1998) Dir.: Birdman (2014) Dir.: Alejandro Yesterday (2019) Dir.: Danny
Peter Weir G. Iñárritu Boyle

Acompanhamos a história de Um ator de meia idade, que Um músico em busca do sucesso


um homem que teve toda a sua ficou muito famoso por conta de
sofre um acidente e, depois
vida televisionada num reality uma sequência de filmes de disso ocorre algo inusitado:
show. Coisas estranhas super-herói em que atuou ninguém mais no mundo se
começam a acontecer e Truman quando jovem, tenta se lembra que os Beatles existiram.
passa a questionar sua estabelecer como um artista Ele, então, passa a fazer muito
realidade. sério numa produção teatral. sucesso “compondo” músicas
dos Beatles.
Cantando na chuva (1952) Dir.: Rebobine, por favor (2008) Dir.: Era do rádio (1987) Dir.: Woody
Gene Kelly Michel Gondry Allen

Em 1927, um grupo de atores e Dois funcionários de uma O filme mostra uma série de
uma produtora cinematográfica locadora acidentalmente pequenas histórias acerca da
enfrentam a difícil transição do apagam todos as fitas-cassetes era de ouro do rádio, na
cinema mudo para o falado. O do lugar. Para não sofrerem a primeira metade do século XX.
filme lida com questões de represália do chefe, eles Destaque para a passagem da
mercado e arte dentro da regravam todos os filmes de suposta invasão alienígena
indústria cinematográfica. maneira amadora e transmitida pelo rádio.
improvisada.

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1.2 - Tecnologia
Essencialmente, o que norteia a discussão acerca dessa relação é a tentativa de tentar
responder à pergunta: a tecnologia traz mais benefícios ou mais malefícios para o homem.
Ao longo do tempo, vivemos sob a ideia de que o progresso cientifico e tecnológico sempre
levaria à evolução, ou seja, seríamos melhores na medida em que tivéssemos uma sociedade mais
tecnológica. De fato, a tecnologia foi capaz de melhorar nossa vida e facilitar nossas ações
cotidianas. Desde ações pequenas – como a possibilidade não precisar lavar a roupa à mão, pois
há uma máquina – até maiores – como as viagens de avião ou a invenção de máquinas que
auxiliam em tratamentos médicos.
A tecnologia, porém, não foi capaz de solucionar alguns problemas essenciais aos seres
humanos: a igualdade não foi alcançada, não fomos capazes de eliminar a pobreza e ainda
passamos por momentos de guerra e conflito intenso. Muitas vezes, inclusive, a tecnologia parece
estar no centro de diversos desses problemas. Muita tecnologia, por exemplo, surge de pesquisas
voltadas para a guerra, e as grandes corporações parecem muitas vezes incentivar a desigualdade
social e lucrar com ela. Cabe sempre pensar como a tecnologia se insere na lógica de mercado,
não eliminando as desigualdades, mas aprofundando-as.
O questionamento que fica é:

A tecnologia piorou o homem?


Ou o homem é mau e a tecnologia evidencia isso?
Um elemento importante ligado à tecnologia é a ideia de alienação. Vilém Flusser, filósofo,
ao escrever sobre fotografia no livro A filosofia da caixa preta, conclui que somos alienados dos
processos de produção que envolvem tecnologia, ou seja, nós não sabemos como as coisas
acontecem, só que acontecem.
Um exemplo disso são nossos conflitos quanto ao uso de nossos dados na internet. Nós
não sabemos de que modo nossos dados serão usados na internet, porque não conhecemos os
processos tecnológicos. Ao não conhecer os processos, não fazemos uso da total capacidade da
tecnologia. Além disso, corremos o risco de tratá-la como algo mágico, ou seja, de tratarmos os
processos tecnológicos como tabu religioso e, por isso mesmo, imutáveis e inquestionáveis.
Veja algumas situações em que a relação com a tecnologia poderia ser um caminho para
sua redação:

Novos modos de relacionamento


A influência da tecnologia no trabalho
pessoal

Inclusão de tecnologia na educação As diferenças geracionais do uso da tecnologia

Diferença de comportamento na vida real e na


A onipresença da internet
digital

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FILMES

Matrix (1999) - Dir.: Lana e Lilly Blade Runner (1982) - Dir.: Ex_Machina: Instinto Artificial
Wachowski Ridley Scott (2014) - Dir.: Alex Garland

Neo é um hacker que descobre a No ano de 2019, uma grande Programador vence concurso
verdade sobre a realidade ao corporação cria clones humanos para passar uma semana na casa
conhecer um grupo rebelde. Eles para trabalhar em colônias fora do CEO da companhia que
mostram a Neo que o mundo e a da Terra. Um ex-policial é trabalha. Lá, descobre que fará
relação dos homens com as chamado para caçar um grupo parte de um experimento
máquinas não é exatamente o de clones que fugiu e se interagindo com o primeiro robô
que ele pensava. escondeu em Los Angeles. de inteligência artificial.

LIVROS

1984 – George Orwell Admirável mundo novo – Eu, Robô – Isaac Asimov
Em uma sociedade sempre em Aldous Huxley
Coletânea de contos que, no
guerra, completamente vigilada O livro conta a história de entanto, se relacionam entre si.
por câmeras e telas, a Bernard Marx, um homem que O livro discorre sobre a evolução
personagem Winston Smith, um vive em uma sociedade que se dos robôs e a transformação de
homem que trabalha alterando organiza em torno da seu papel na sociedade ao longo
notícias de jornal, pensa supervalorização do do tempo. O último conto – e
secretamente em modos de pensamento científico. Já não há último estágio da evolução dos
burlar a tirania do Estado do mais estruturas familiares: as robôs – mostra a Terra sendo
Grande Irmão, entidade que pessoas são geradas em administrada por 4 máquinas
observa a todos por telas. laboratórios e adestradas para que ditam desde os modos de
exercer seu papel na sociedade, produção até os de consumo.
que se organiza em castas.

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1.3 - Arte e Sociedade


A relação entre arte e sociedade deve ser observada sempre a partir de algumas ideias que temos
sobre arte. Qual o papel atribuímos às obras de arte que norteariam essa relação?

A arte pode ser provocativa. Pode, por exemplo, criticar


movimentos da sociedade contemporânea a ela ou produzir críticas
contra uma pessoa ou governo em especial. A imagem ao lado, por
exemplo, mostra um homem cercado de tecnologia. Ele está com
as mãos amarradas e o corpo atado por fios, segurando um celular.
No rosto, ele tem um aparelho de assistir à realidade virtual. Isso
pode ser lido como uma crítica à sociedade que vivemos, que
deposita expectativas demais na tecnologia e acaba ficando presa
a ela, sem ser capaz de olhar para o real.

Uma obra que busque despertar o senso crítico tem como


objetivo ampliar os horizontes de pensamento, fazendo com que,
muitas vezes, nos questionemos acerca do mundo como ele é. Por
isso, diversos governos autoritários ao longo da história
promoveram censura às artes. Ao longo da história, obras de arte
foram censuradas por diversas razões, mas principalmente dois
conteúdos provocavam maior número de proibições: questões
morais ou críticas diretas ao governo/governante da época.

Algumas obras que tratamos como clássicas sofreram


oposição em sua época. A Capela Sistina de Michelangelo, por
Fonte: Unsplash. Disponível em
exemplo, foi considerada imoral por muitos por apresentar pessoas <https://unsplash.com/photos/uydt8hNz3h
peladas na parede que representava o Juízo Final. Um pupilo de E> Acesso em 04/05/20.
Michelangelo chegou a pintar panos sobre as personagens do
afresco para cobrir seus órgãos genitais. No século XIX, Gustave Courbet teve sua obra “A origem do
mundo”, que representava um órgão sexual feminino proibida de ser exposta e só foi parar nas paredes
dos museus em 1995. Hoje em dia, obras de conteúdo “potencialmente ofensivas” são retiradas das redes
sociais o tempo todo.

FIQUE

ATENTO!

A discussão sobre a censura às artes na sociedade é fundamental e você pode acabar


encontrando-a, por exemplo, em uma proposta de redação.

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A arte também já serviu de propaganda e instrumento político de legitimação de governos ao


longo da história. A sustentação de um governo depende não só de suas ações como também de apoio
popular. Esse apoio pode ser construído através da arte e da cultura, usando das bens culturais como
propaganda do governo. Essa mistura entre arte e política foi muito profícua na primeira metade do século
XX, principalmente durante o período das Primeira e Segunda Guerras Mundiais.

Veja dois exemplos abaixo:

Arte Nazista Arte Soviética


Baseada em suas Após a Revolução
interpretações de mundo Russa, em 1917, havia
centradas na eugenia e na uma necessidade de
superioridade da raça ariana, a garantir que a população
arte nazista vendia um mundo apoiasse uma mudança
idílico e clássico. Representava tão brusca de governo. A
a Alemanha como uma nação cultura e as artes
forte. serviram pra por um lado
Diferente da arte de vanguarda do reforçar os ideias da
período, a arte nazista fugia das abstrações e revolução e por outro
representavam o mundo de maneira mais criar um novo movo de fazer arte, com
naturalista. referenciais diferentes dos anteriores.

A escola de arte Bauhaus foi perseguida Havia o incentivo à formação de grupos


pelo regime por se opor ao ideal de arte do como o Proletkult (em português Cultura
regime. Era parte do que eles chamavam de Proletária), com o objetivo de incentivar uma
arte degenerada. literatura de cunho social acessível ao povo.

Intercâmbio entre culturas


Quando se pensa em contato entre culturas diferentes, há algumas questões envolvidas,
principalmente a ideia de Apropriação cultural. Apropriação Cultural acontece quando uma pessoa de
uma cultura hegemônica adota aspectos de uma cultura que não é a sua, usando esses elementos sem a
devida referência. Ela também se caracteriza pelo uso de elementos que eram originalmente fonte de
opressão de um grupo por um outro dominante. Isso pode ocorrer principalmente em contextos de
colonização. Muitas vezes, os grupos colonizadores se apropriam de elementos sem compreender seu
verdadeiro significado cultural. Dentre os elementos mais comuns a terem seus usos questionado,
encontramos acessórios e trajes, símbolos, culinária e expressões artísticas. 1

1
A partir do texto disponível em < https://www.megacurioso.com.br/polemica/98787-20-fatos-para-
voce-entender-o-que-e-apropriacao-cultural.htm > Acesso em 22 dez. 2020.

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PANTERA NEGRA

O filme “Pantera Negra” faz uma discussão importante sobre o assunto, abordando principalmente
uma questão muito contemporânea: a devolução ou não de objetos de museus para seus países de
origem.

Fonte: Instagram Um filme me disse

Muitos dos grandes museus do mundo têm parte de seu acervo fruto de saques. O espólio das
colonizações são entendidas hoje como parte da violência colonialista e países como França e Holanda
têm promovido ações de devolução de obras para seus países de origem. O desafio desses países hoje
é garantir condições de manutenção, exposição e restauro das obras que retornarem, já que um dos
argumentos usados pelas instituições que resistem às devoluções é justamente o risco de deterioração
das peças. Esse assunto não é apenas do passado: na Síria, desde o início da guerra, houve uma grande
quantidade de tráfico ilícito de antiguidades.

Mas qual a problemática envolvida?

O problema não é você individualmente usar algo que acha bonito, mas quando um elemento de
um grupo minoritário é "sequestrado" e passa a ser associado a outro grupo. Quando isso acontece, esse
novo grupo é considerado inovador ou criativo, enquanto o grupo que usava originalmente pode ter sido
marginalizado pelo mesmo elemento. Nos anos 50 nos EUA, por exemplo, o jazz era considerado música
de negros e visto de maneira negativa. Quando músicos brancos começaram a gravar nesse ritmo, o jazz
acabou se tornando uma música considerada refinada. A apropriação cultural, então, é um modo de
reforçar o desequilíbrio social entre pessoas de grupos dominantes e minoritários.

Fonte: Pixabay

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Essencialmente, você deve aprender a diferença entre apropriação, intercâmbio e assimilação


cultural:

Assimilação Cultural
Apropriação Cultural é Intercâmbio Cultural ocorre quando há uma
necessariamente uma ocorre quando diferentes obrigatoriedade por parte
relação de dominação, culturas promovem trocas de povos oprimidos de
opressão. mútuas. performar a cultura de seu
opressor.

Relação entre artistas e poder constituído


Um dos modos de relacionar-se com o poder, para além das críticas sociais ou questionamento de
sistemas é através da cooperação. Uma das principais relações entre artistas e Estado está nas políticas
de apoio às artes. Veja um breve histórico dos aportes financeiros do Estado para artes no Brasil.

Século 19 – A vinda da Corte Real portuguesa para o país deu origem à criação de mecanismos
culturais. Bibliotecas, teatros e casas de ópera começaram a integrar o cenário da colônia, como
acontecia na Europa.
Década de 1930 – governo Getúlio Vargas passou a ver o investimento como forma de propaganda.
Nos 20 anos seguintes, a atuação com caráter privado começou a se consolidar.
Ano de 1986 – Período de redemocratização, criação da Lei Sarney. Considerada pioneira, instituía
mecanismos de incentivo fiscal para atividades artísticas. Foi revogada em 1990, mas substituída
em 1991 pela Lei Federal de Incentivo à Cultura ou apenas Lei Rouanet.

O meio mais utilizado para fomentar o mercado cultural é o mecenato. As pessoas físicas e jurídicas
oferecem recursos que são usados como patrocínio para as realizações. Em troca, é comum que
recebam contrapartidas, como o incentivo fiscal dado pelo governo e outras vantagens.
O fomento cultural também pode surgir por meio de apoio ou parceria, mas nesses casos, não há a
política de incentivo fiscal.
(Disponível em <https://arteemcurso.com/blog/qual-e-a-realidade-do-incentivo-a-cultura-no-brasil/>)

A relação entre arte e Estado, porém, sempre suscita uma série de discussões. Elencamos aqui
algumas das principais questões que podem aparecer na sua prova ou até mesmo na sua redação.

A formação de Quais as
O Estado deveria Como preservamos a
público no Brasil é de consequências da
financiar a cultura e a Cultura e a Arte no
responsabilidade de dependência de
arte? Brasil?
quem? editais?

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2 – Conclusão
Na nossa aula 00, quando falamos sobre a conclusão da redação, citamos as principais estratégias
para escrever uma conclusão. Relembre esses dados:

• A conclusão deve ocupar apenas um parágrafo e ser tão sucinta quanto possível

• Não se deve colocar informações novas. A conclusão é um momento de reflexão, de retomada das
ideias principais, não de apresentação de dados.

Partindo do exemplo da tese “Deve-se iniciar cedo a prática de atividade física, a fim de garantir
uma maior qualidade de vida no futuro”:

Modo de organização Exemplo

Conectivos de conclusão: iniciar as Portanto, deve-se incluir atividades físicas no dia a


orações da conclusão com palavras que dia. Além de promover uma melhoria no aproveitamento
tenham sentido conclusivo possibilita a do tempo no trabalho, atividades físicas também
retomada de ideias. previnem doenças que podem encurtar a expectativa de
vida. Essa percepção faz com que a atividade não seja uma
Perceba que foi feito praticamente obrigação, mas um novo modo de vida.
uma paráfrase dos argumentos.
Reescrever os argumentos é um bom modo
de finalizar seu texto.

Retomada da tese: retomar a ideia Levando-se em consideração estes aspectos,


da tese citando os argumentos é o modo pode-se perceber que de fato a prática de atividades
mais comum de concluir um texto. Se físicas influi em diversas áreas da vida no dia a dia. Ao
estiver com dificuldade de criar uma mesmo tempo que é importante para a saúde, auxilia no
conclusão, esta é a maneira mais segura. trabalho (argumento principal) e na socialização com a
família e amigos (argumentos secundários). Incluindo-a
nos pequenos gestos do cotidiano, pode-se driblar a falta
de tempo da vida moderna (contra-argumento) e realizar
uma mudança de vida benéfica.

Antes de entrarmos nos exercícios em si, vamos pensar na ideia de progressão de texto.

A progressão do texto é o modo como um texto se constrói de maneira que as informações se


conversem, ou seja, que elas estejam ligadas. Um texto não pode se construir apenas de frases soltas,
dispostas de maneira aleatória. Nas próximas aulas, veremos sobre coesão e coerência. Por ora, vamos
nos preocupar apenas com a ordem em que as informações são dispostas no texto.

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Contextualização

Tese
Comprovada
principalmente por esse
Argumento 1 argumento

Retomado
imediatamente na Argumento 2
conclusão e preparando
para a finalização com o
argumento principal. Conclusão com:

Retomada do Argumento 2

Retomada do Argumento 1.

Para que um texto progrida, ele precisa trazer um tanto de novidade e um tanto de repetição. O
que isso quer dizer que o texto deve trazer informações novas e remeter-se a algo dito anteriormente.

O desenvolvimento é o momento da novidade: você deve trazer argumentos diferentes daquilo


que está na introdução para comprovar sua ideia.

A conclusão é o momento da repetição: você deve retomar o que foi dito antes, para reforçar sua
ideia. Esse é o momento de fazer uma paráfrase dos seus argumentos. Lembre-se o que é uma paráfrase
e estratégias para fazê-la:

A paráfrase é uma reescrita do texto. Ocorre quando um autor reescreve, com suas próprias
palavras, o texto de outro, mantendo o sentido original. Veja um:

Texto Original Paráfrase

Comprar por impulso e se livrar de bens que já


não são atraentes, substituindo-os por outros Ser completo enquanto consumidor significa
mais vistosos, são nossas emoções mais ser completo na vida. As sensações que mais
estimulantes. Completude de consumidor nos estimulam vêm da compra por impulso e
significa completude na vida. de livrar-nos de coisas menos atrativas,
trocando-as por outras mais interessantes.
(Zygmunt Bauman. A riqueza de poucos beneficia todos
nós?, 2015. Adaptado.)

Observe as possíveis estratégias utilizadas aqui para criar a paráfrase:

• Inversão da ordem das informações – inverter os períodos ou a ordem das orações ajuda a
diferenciar os textos.

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• Sinônimos – trocar palavras por outras de sentido equivalente é um modo de reescrever sem perder
o sentido original. Ex.: “atraente” é substituído por “atrativas” na paráfrase. Termos genéricos
(como a palavra “interessante” que utilizamos na nossa paráfrase, por exemplo) também
funcionam.

• Troca de classes gramaticais – muitas vezes, o mesmo radical pode dar origem a palavras de
diferentes classes gramaticais. O radical “estimul-“, por exemplo, gera as palavras “estimulantes” e
“estimulam”, respectivamente, adjetivo e verbo.

Apenas mudar a ordem dos termos do texto não configura paráfrase.


Você precisa reescrever.

2.1 – Conectivos de conclusão


Conclusivas: Relacionam pensamentos em que o segundo conclui o primeiro.

A conjunção “pois” se emprega entre vírgulas.

Ex.: consequentemente, logo, pois, por conseguinte, portanto.

O carro quebrou; logo, não podemos viajar.

Você está atrasado; deve, pois, pedir desculpas.

Veja na tabela abaixo uma lista de conectivos de conclusão com exemplos de uso:

Assim, além de promover uma melhoria no aproveitamento do tempo no trabalho


(argumento secundário), atividades físicas também previnem doenças que podem
assim
encurtar a expectativa de vida (argumento principal). Essa percepção faz com que a
atividade não seja uma obrigação, mas um novo modo de vida (tese).

Assim sendo, além de promover uma melhoria no aproveitamento do tempo no


assim sendo
trabalho (...)

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Dessa forma, além de promover uma melhoria no aproveitamento do tempo no


dessa forma
trabalho (...)

dessa Dessa maneira, além de promover uma melhoria no aproveitamento do tempo no


maneira trabalho (...)

Desse modo, além de promover uma melhoria no aproveitamento do tempo no


desse modo
trabalho (...)

Em resumo, além de promover uma melhoria no aproveitamento do tempo no trabalho


em resumo
(...)

Em síntese, além de promover uma melhoria no aproveitamento do tempo no trabalho


em síntese
(...)

Em suma, além de promover uma melhoria no aproveitamento do tempo no trabalho


em suma
(...)

enfim Enfim, além de promover uma melhoria no aproveitamento do tempo no trabalho (...)

logo Logo, além de promover uma melhoria no aproveitamento do tempo no trabalho (...)

nesse Nesse sentido, além de promover uma melhoria no aproveitamento do tempo no


sentido trabalho (...)

Portanto, além de promover uma melhoria no aproveitamento do tempo no trabalho


portanto
(...)

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

Muitos alunos têm dúvida quando o assunto é a famosa proposta de intervenção. Estamos
acostumados a ouvir falar de redação sempre tendo o ENEM como referência, então é normal que essa
confusão ocorra. A proposta de intervenção é obrigatória na prova do ENEM, mas não em outras provas.
Como identificar então quando você deve ou não a fazer?

Uma proposta de intervenção nada mais é do que uma sugestão de solução para o problema
apresentado. Por vezes, a solução não é total, mas apenas uma ideia de como amenizar o problema. Não
é seu ponto de vista, mas sim uma proposta prática: o que de fato pode ser feito no mundo quanto ao
problema levantado. Ela deve ser utilizada quando a proposta da redação assim o exigir. Você reconhece
a necessidade quando o tema faz escolhas lexicais como as a seguir:

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Como resolver o problema de (...)

De que modo fazer com que (...)

Medidas para (...)

Modos de (...)

Por vezes, não aparecerão essas expressões de maneira explícita. Pense, por exemplo, uma
redação que o tema fosse “O conflito pode ser evitado”, que apareceu no Colégio Naval em 2019. Está
implícita a ideia de que você deve, em sua redação, responder “Como o conflito pode ser evitado?”. É
diferente, por exemplo, de uma proposta como a da AFA de 2020, que era “Qual, para você, seria a palavra
do ano 2019”. Nesse caso, não há proposta de intervenção possível: você deve apenas apontar qual a
palavra que você escolheria e defender sua escolha. Não há nenhuma questão a ser solucionada aqui.

A proposta nada mais é que uma demonstração do seu posicionamento enquanto cidadão, de
maneira crítica e reflexiva. Para isso, se pergunte:

O que deve ser feito?

Quem deve fazer?

Como deve fazer?

Para que fim?

DICA: sempre que for buscar responsáveis para resolve um problema, pense em três instâncias:

- Estado: leis, políticas públicas, políticos etc.

- Sociedade: família, instituições de ensino, empresários, cidadãos de modo geral etc.

- Indivíduos: as pessoas diretamente envolvidas com o problema em questão. Por exemplo: em questões
de saúde, os profissionais da área; em questões de educação, professores e pedagogos etc.

Se você abordar essas três instâncias na sua proposta de intervenção, ela ficará completa e
abrangente. Lembre-se que o principal risco de uma proposta de intervenção é que ela fique rasa ou
proponha soluções fáceis/sem materialidade.

2.2 – Análise de redação


Na sua prova, a menos que seja expressamente pedido que haja uma intervenção, você
deve preferir fazer uma redação que simplesmente retome os argumentos expostos. Veja um
exemplo desse tipo de conclusão

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Argumento 1
Argumento 2
Conclusão

2.3 – Exercícios: Conclusão


Na aula de hoje vamos fazer uma dinâmica um pouco diferente do que temos feito. Você
encontrará aqui redações prontas, apenas sem conclusão. Seu objetivo é ler a redação, identificar os
argumentos de cada uma e escrever uma redação que retome os argumentos e a tese.

Vamos lá?

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Proposta
Todas as redações aqui selecionadas se referem a uma mesma proposta: FUVEST 2010, cujos
textos de apoio eram:

Um mundo por imagens

A imaginação simbólica é sempre um fator Ao invés de nos relacionarmos diretamente


de equilíbrio. O símbolo é concebido como uma com a realidade, dependemos cada vez mais de
síntese equilibradora, por meio da qual a alma dos uma vasta gama de informações, que nos
indivíduos oferece soluções apaziguadoras aos alcançam com mais poder, facilidade e rapidez. É
problemas. como se ficássemos suspensos entre a realidade
da vida diária e sua representação.

Tânia Pellegrini. Adaptado.


Gilbert Durand

Na civilização em que se vive hoje, constroem-se imagens, as mais diversas, sobre os mais variados
aspectos; constroem-se imagens, por exemplo, sobre pessoas, fatos, livros, instituições e situações.

No cotidiano, é comum substituir-se o real imediato por essas imagens.

Dentre as possibilidades de construção de imagens enumeradas acima, em negrito, escolha apenas


uma, como tema de seu texto, e redija uma dissertação em prosa, lançando mão de argumentos e
informações que deem consistência a seu ponto de vista.

AULA 05 – REDAÇÃO 18
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I.

TESE:

ARGUMENTOS:

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CONCLUSÃO:

II.

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TESE:

ARGUMENTOS:

CONCLUSÃO:

III.

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TESE:

ARGUMENTOS:

CONCLUSÃO:

IV.

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TESE:

ARGUMENTOS:

CONCLUSÃO:

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Comentários

I. Sem limites

Essa redação se desenvolveu em torno da ideia de que imagens, mais do que simplesmente
entreter, são capazes de mudar situações vigentes, podendo mesmo trazer esperança em situações
difíceis.

Os argumentos são primeiro baseados em filmes em que a criação de imagens e fuga À realidade
possibilitou a sobrevivência em um ambiente hostil. Depois, utiliza-se a citação de Martin Luther King
(“Eu tenho um sonho”) para mostrar que uma imagem triste também pode mudar a realidade. Após o
discurso de esperança e a morte de King, há uma diminuição da violência contra os negros nos EUA.

A conclusão original da redação foi:

II. Questão de sobrevivência

Essa redação se desenvolveu em torno da ideia de que criamos imagens para tornar o mundo
mais bonito do que ele realmente é.

Os argumentos são: como tudo é muito breve e efêmero no mundo, criamos imagens para
tentar aproveitar e fixar os momentos; pessoas sofrendo com a desigualdade social também criam
imagens para tentar tornar sua realidade menos penosa; cada pessoa cria imagens de acordo com suas
próprias concepções de mundo e contextos.

A conclusão original da redação foi:

AULA 05 – REDAÇÃO 24
Prof.ª Celina Gil

III. Fatos: símbolos na memória

Essa redação se desenvolveu em torno da ideia de que os fatos em si pouco importam. Mais
importantes são suas consequências a partir das representações e símbolos obre ele.

Os argumentos são: o primeiro, sobre como um evento do passado pode ser compreendido no
futuro de acordo com os anseios de seu tempo (sobre como entendemos o Quilombo dos Palmares de
maneira diferente do que ele era entendido então); o segundo, sobre como em cada contexto, mesmo
no presente, produz imagens diferentes sobre a mesma pessoa ou situação (a partir do exemplo do
caso Cesare Battisti).

A conclusão da redação original foi:

IV. Simbolizar o passado, descobrir o presente

Essa redação se desenvolveu em torno da ideia de que a manipulação de imagens é capaz de


transformar as pessoas, dando-lhes status diferentes do que na vida real.

Os argumentos partem de exemplos da história brasileira: um para mostrar como uma imagem
pode mudar o significado de algum evento ou processo histórico (o grito da independência); o outro,
demonstrando como a atuação de pessoas pode ser ressignificada posteriormente através das imagens.
Assim, sua conclusão deveria abordar esses assuntos, reescrevendo-os.

A conclusão original da redação foi:

AULA 05 – REDAÇÃO 25
Prof.ª Celina Gil

3 - Propostas

(AFA – 2016)
Com base nos textos lidos e analisados, contidos na prova de Língua Portuguesa, e na coletânea
que segue abaixo, escreva um texto dissertativo-argumentativo, em prosa, sobre:

A realidade da vida nas favelas e a maneira como são apresentadas atualmente para o mundo.

TEXTOS DA PROVA

TEXTO I

Quarto de Despejo

“O grito da favela que tocou a consciência do mundo inteiro”

2 de MAIO de 1958. Eu não sou indolente. Há tempos que eu pretendia fazer o meu diario. Mas eu pensava
que não tinha valor e achei que era perder tempo.

...Eu fiz uma reforma para mim. Quero tratar as pessoas que eu conheço com mais atenção. Quero enviar
sorriso amavel as crianças e aos operarios.

...Recebi intimação para comparecer as 8 horas da noite na Delegacia do 12. Passei o dia catando papel.
A noite os meus pés doiam tanto que eu não podia andar. Começou chover. Eu ia na Delegacia, ia levar o
José Carlos. A intimação era para ele. O José Carlos tem 9 anos.

3 de MAIO. ...Fui na feira da Rua Carlos de Campos, catar qualquer coisa. Ganhei bastante verdura. Mas
ficou sem efeito, porque eu não tenho gordura. Os meninos estão nervosos por não ter o que comer.

6 de MAIO. De manhã não fui buscar agua. Mandei o João carregar. Eu estava contente. Recebi outra
intimação. Eu estava inspirada e os versos eram bonitos e eu esqueci de ir na Delegacia. Era 11 horas
quando eu recordei do convite do ilustre tenente da 12ª Delegacia.

...o que eu aviso aos pretendentes a política, é que o povo não tolera a fome. É preciso conhecer a fome
para saber descrevê-la.

Estão construindo um circo aqui na Rua Araguaia, Circo Theatro Nilo.

9 de MAIO. Eu cato papel, mas não gosto. Então eu penso: Faz de conta que estou sonhando.

10 de MAIO. Fui na Delegacia e falei com o Tenente. Que homem amavel! Se eu soubesse que ele era tão
amavel, eu teria ido na Delegacia na primeira intimação.

(...) O Tenente interessou-se pela educação dos meus filhos. Disse-me que a favela é um ambiente
propenso, que as pessoas tem mais possibilidades de delinquir do que tornar-se util a patria e ao país.
Pensei: se ele sabe disso, porque não faz um relatorio e envia para os politicos? O Senhor Janio Quadros,
o Kubstchek, e o Dr Adhemar de Barros? Agora falar para mim, que sou uma pobre lixeira. Não posso

AULA 05 – REDAÇÃO 26
Prof.ª Celina Gil

resolver nem as minhas dificuldades.(...) O Brasil precisa ser dirigido por uma pessoa que já passou fome.
A fome tambem é professora. Quem passa fome aprende a pensar no proximo e nas crianças.

11 de MAIO. Dia das mães. O céu está azul e branco. Parece que até a natureza quer homenagear as mães
que atualmente se sentem infeliz por não realizar os desejos de seus filhos. (...) O sol vai galgando. Hoje
não vai chover. Hoje é o nosso dia. (...) A D. Teresinha veio visitar-me. Ela deu-me 15 cruzeiros. Disse-me
que era para a Vera ir no circo. Mas eu vou deixar o dinheiro para comprar pão amanhã, porque eu só
tenho 4 cruzeiros.(...) Ontem eu ganhei metade da cabeça de um porco no frigorifico. Comemos a carne
e guardei os ossos para ferver. E com o caldo fiz as batatas. Os meus filhos estão sempre com fome.
Quando eles passam muita fome eles não são exigentes no paladar. (...) Surgiu a noite. As estrelas estão
ocultas. O barraco está cheio de pernilongos. Eu vou acender uma folha de jornal e passar pelas paredes.
É assim que os favelados matam mosquitos.

13 de MAIO. Hoje amanheceu chovendo. É um dia simpatico para mim. É o dia da Abolição. Dia
quecomemoramos a libertação dos escravos. Nas prisões os negros eram os bodes expiatorios. Mas
osbrancos agora são mais cultos. E não nos trata com desprezo. Que Deus ilumine os brancos para que os
pretos sejam feliz. (...) Continua chovendo. E eu tenho só feijão e sal. A chuva está forte. Mesmo assim,
mandei os meninos para a escola. Estou escrevendo até passar a chuva para mim ir lá no Senhor Manuel
vender os ferros. Com o dinheiro dos ferros vou comprar arroz e linguiça. A chuva passou um pouco. Vou
sair. (...) Eu tenho dó dos meus filhos. Quando eles vê as coisas de comer eles brada: Viva a mamãe!. A
manifestação agrada-me. Mas eu já perdi o habito de sorrir. Dez minutos depois eles querem mais comida.
Eu mandei o João pedir um pouquinho de gordura a Dona Ida. Mandei-lhe um bilhete assim:

“Dona Ida peço-te se pode me arranjar um pouquinho de gordura, para eu fazer sopa para os meninos.
Hoje choveu e não pude catar papel. Agradeço. Carolina”

(...) Choveu, esfriou. É o inverno que chega. E no inverno a gente come mais. A Vera começou a pedir
comida. E eu não tinha. Era a reprise do espetaculo. Eu estava com dois cruzeiros. Pretendia comprar um
pouco de farinha para fazer um virado. Fui pedir um pouco de banha a Dona Alice. Ela deu-me a banha e
arroz. Era 9 horas da noite quando comemos. E assim no dia 13 de maio de 1958 eu lutava contra a
escravatura atual – a fome!

(DE JESUS, Carolina Maria. Quarto de Despejo.)

TEXTO II

FAVELÁRIO NACIONAL

Carlos Drummond de Andrade

Quem sou eu para te cantar, favela,


Que cantas em mim e para ninguém
a noite inteira de sexta-feira
e a noite inteira de sábado
E nos desconheces, como igualmente não te
conhecemos?
Sei apenas do teu mau cheiro:
Baixou em mim na viração,
direto, rápido, telegrama nasal
anunciando morte... melhor, tua vida.
...

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Prof.ª Celina Gil

Aqui só vive gente, bicho nenhum


tem essa coragem.
...
Tenho medo. Medo de ti, sem te conhecer,
Medo só de te sentir, encravada
Favela, erisipela, mal-do-monte
Na coxa flava do Rio de Janeiro.
Medo: não de tua lâmina nem de teu revólver
nem de tua manha nem de teu olhar.
Medo de que sintas como sou culpado
e culpados somos de pouca ou nenhuma irmandade.
Custa ser irmão,
custa abandonar nossos privilégios
e traçar a planta
da justa igualdade.
Somos desiguais
e queremos ser
sempre desiguais.
E queremos ser
bonzinhos benévolos
comedidamente
sociologicamente
mui bem comportados.
Mas, favela, ciao,
que este nosso papo
está ficando tão desagradável.
vês que perdi o tom e a empáfia do começo?
...
(ANDRADE, Carlos Drummond de, Corpo. Rio de Janeiro: Record, 1984)

TEXTOS DA REDAÇÃO

TEXTO I

DUAS VEZES FAVELA

Marginalizados pela exclusão social e idealizados no cinema e na música popular, morros do Rio vivem
entre catástrofe e descaso do poder público

Boris Faust

A imensa tragédia nos morros do Rio de Janeiro relembra o quanto as favelas cariocas fazem parte
do imaginário dos brasileiros. Começando pela sua origem e por sua designação, elas têm uma história
peculiar e centenária. Embora haja controvérsias a respeito, parecem ter surgido, por volta de 1897, como
local de moradia, oferecido pelo governo aos soldados que regressavam da campanha de Canudos [na
Bahia]. Não por acaso, a designação "favela" foi dada por esses soldados que, nas proximidades do arraial
de Canudos, acamparam num morro, chamado de morro da Favela, em referência a um arbusto
resistente, muito conhecido nas zonas secas do Nordeste. (...) Com uma distância de 50 anos, o editorial
da revista "Anhembi", de responsabilidade do escritor e jornalista Paulo Duarte, fala da vitória de Getúlio

AULA 05 – REDAÇÃO 28
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Vargas nas eleições presidenciais de 3 de outubro de 1950, vinculando-a, no Rio de Janeiro, ao "meio
milhão de miseráveis, analfabetos, mendigos famintos e andrajosos, espíritos recalcados e justamente
ressentidos, indivíduos tornados pelo abandono homens boçais, maus e vingativos, que desceram os
morros embalados pela cantiga da demagogia (...)".

Idealização do morro

O reverso da demonização da favela veio pela mão do cinema e principalmente da música popular.
No caso do cinema, uma referência lendária é o filme "Favela dos Meus Amores", de 1935, do qual, se
não estou enganado, não sobrou uma só cópia. Dirigido por Humberto Mauro, com a colaboração de
Henrique Pongetti, sua trilha musical era feita de canções e sambas de Ary Barroso, Custódio Mesquita e
Orestes Barbosa, entre outros.

Milhares de sambas tematizaram a favela, em fases que têm a ver com a história do país, onde
predominam ora a idealização romântica (as cabrochas, os barracos sem trinco, a proximidade do céu),
ora a violência (dos marginais ou da polícia), ora o protesto contra as injustiças sociais. Isso foi muito bem
mostrado por Jane Souto de Oliveira e Maria Hortense Marcier num ensaio intitulado "A Palavra É Favela",
que se encontra no livro já citado de Zaluar e Alvito.

Curiosamente, Noel Rosa [1910-37], um dos grandes da música popular brasileira, tematizou quase
todos esses aspectos, inclusive na célebre polêmica com Wilson Batista, respectivamente na defesa e na
condenação do malandro.

Nos versos da música popular, encontramos às vezes um apelo para que a cidade enfrente o
problema da favela e da habitação popular. É o caso de "Barracão", a célebre canção de Luiz Antonio e
Oldemar Magalhães, que não eram compositores do morro, mas sabiam o que diziam: "Ai, barracão/
Pendurado no morro/ Vai pedindo socorro/ À cidade a seus pés".

Bela inversão, em que uma cidade, geograficamente submetida, tem, no entanto, socialmente,
uma posição dominante com relação aos habitantes lá do alto.

Até que ponto o pedido de socorro, diante da catástrofe atual, será ouvido? Até que ponto o
problema será enfrentado com um misto de humanidade e competência técnica, à margem da falsa
dualidade "remoção ou urbanização", que percorre a história das favelas, como se todas as situações - na
realidade, muito diversas - fossem idênticas?

A folha corrida do poder público, onde consta o crime do esquecimento de tantas e tantas
tragédias, não me permite ser otimista. Mas quem sabe – assim espero – eu esteja completamente
enganado.

(www1.folha.uol.com.br/paywall/login.shtml?http://www1.folha.uol.com.Br/fsp/mais/fs1804201009.htm – acesso em
20/05/2015)

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(INÉDITA)
Com base na coletânea que segue abaixo, escreva um texto dissertativo-argumentativo, em prosa,
sobre:

Os novos arranjos familiares no século XXI

TEXTO 1

TEXTO 2

Por que temos filhos?

A pergunta do título comporta vários níveis de resposta. No plano biológico, a reprodução é um


imperativo, fazendo parte de várias das definições de vida. Mas a biologia é só parte da história. A
paternidade também encerra dimensões culturais, econômicas e emocionais.

Inspirado em “Anti-Pluralism”, de William Galston, arrisco algumas reflexões sobre a matéria.

Até o começo do século 19, filhos eram um ativo econômico. Ajudavam desde cedo com o trabalho
doméstico, colaborando para o bem-estar da família, e ainda faziam as vezes de plano de aposentadoria
para os pais.

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Prof.ª Celina Gil

Hoje, contudo, crianças ficaram caras. E, para piorar, elas demoram muito até começar a trazer
contribuições econômicas. Como observa Galston, no espaço de dois séculos, a criação de filhos deixou
de ser um bem privado para tornar-se um bem público.

Embora a paternidade possa trazer recompensas emocionais, do ponto de vista estritamente


econômico, ela favorece a sociedade como um todo, enquanto a maior parte dos custos recai sobre os
genitores.

E por que crianças beneficiam a sociedade? A crer na análise de economistas como Julian Simon,
riqueza são pessoas. Quanto mais gente, melhor, já que são indivíduos que têm ideias (além de consumir
produtos) e são as novas ideias que vêm assegurando o brutal aumento de produtividade a que assistimos
nos últimos 200 anos.

E isso nos coloca diante de um dos grandes dilemas dos tempos modernos. Para assegurar a
sustentabilidade da exploração dos recursos naturais do planeta, precisaríamos estabilizar ou até reduzir
a população. Só que fazê-lo é uma espécie de suicídio econômico, já que ficaria muito difícil manter taxas
positivas de crescimento, sem as quais instituições como previdência e até democracia representativa
podem entrar em colapso.

(Hélio Schwartsman. Folha de S.Paulo. Adaptado)

(EPCAR – 2018)
TEXTO I

O PODER DA LITERATURA

José Castello

Em um século dominado pelo virtual e pelo instantâneo, que poder resta à literatura? Ao contrário
das imagens, que nos jogam para fora e para as superfícies, a literatura nos joga para dentro. Ao contrário
da realidade virtual, que é compartilhada e se baseia na interação, a literatura é um ato solitário, nos
aprisiona na introspecção. Ao contrário do mundo instantâneo em que vivemos, dominado pelo “tempo
real” e pela rapidez, a literatura é lenta, é indiferente às pressões do tempo, ignora o imediato e as
circunstâncias.

Vivemos em um mundo dominado pelas respostas enfáticas e poderosas, enquanto a literatura se


limita a gaguejar perguntas frágeis e vagas.

A literatura, portanto, parece caminhar na contramão do contemporâneo. Enquanto o mundo se


expande, se reproduz e acelera, a literatura contrai, pedindo que paremos para um mergulho “sem
resultados” em nosso próprio interior. Sim: a literatura – no sentido prático – é inútil. Mas ela apenas
parece inútil. A literatura não serve para nada – é o que se pensa. A indústria editorial tende a reduzi-la a
um entretenimento para a beira de piscinas e as salas de espera dos aeroportos. De outro lado, a
universidade – em uma direção oposta, mas igualmente improdutiva – transforma a literatura em uma
“especialidade”, destinada apenas ao gozo dos pesquisadores e dos doutores. Vou dizer com todas as
letras: são duas formas de matá-la. A primeira, por banalização. A segunda, por um esfriamento que a
asfixia. Nos dois casos, a literatura perde sua potência. Tanto quando é vista como “distração”, quanto
quando é vista como “objeto de estudos”, a literatura perde o principal: seu poder de interrogar, interferir

AULA 05 – REDAÇÃO 31
Prof.ª Celina Gil

e desestabilizar a existência. Contudo, desde os gregos, a literatura conserva um poder que não é de mais
ninguém. Ela lança o sujeito de volta para dentro de si e o leva a encarar o horror, as crueldades, a imensa
instabilidade e o igualmente imenso vazio que carregamos em nosso espírito. Somos seres “normais”,
como nos orgulhamos de dizer. Cultivamos nossos hábitos, manias e padrões. Emprestamos um grande
valor à repetição e ao Mesmo. Acreditamos que somos donos de nós mesmos!

Mas leia Dostoievski, leia Kafka, leia Pessoa, leia Clarice – e você verá que rombo se abre em seu
espírito. Verá o quanto tudo isso é mentiroso. Vivemos imersos em um grande mar que chamamos de
realidade, mas que – a literatura desmascara isso – não passa de ilusão. A “realidade” é apenas um pacto
que fazemos entre nós para suportar o “real”. A realidade é norma, é contrato, é repetição, ela é o
conhecido e o previsível. O real, ao contrário, é instabilidade, surpresa, desassossego. O real é o estranho.

(...)

A literatura não tem o poder dos mísseis, dos exércitos e das grandes redes de informação. Seu
poder é limitado: é subjetivo. Ao lançá-lo para dentro, e não para fora, ela se infiltra, como um veneno,
nas pequenas frestas de seu espírito. Mas, nele instalada pelo ato da leitura, que escândalos, que estragos,
mas também que descobertas e que surpresas ela pode deflagrar.

Não é preciso ser um especialista para ler uma ficção. Não é preciso ostentar títulos, apresentar
currículos, ou credenciais. A literatura é para todos. Dizendo melhor: é para os corajosos ou, pelo menos,
para aqueles que ainda valorizam a coragem.

(...)

(http://blogs.oglobo.globo.com/jose-castello/post/o-poder-da-literatura444909.html - Acesso em: 21 fev 2017)

TEXTO II

VIVEMOS O FIM DO MUNDO

Luis Antônio Giron

(...) Bauman é autor do conceito de “modernidade líquida”. Com a ideia de “liquidez”, ele tenta
explicar as mudanças profundas que a civilização vem sofrendo com a globalização e o impacto da
tecnologia da informação. Nesta entrevista, ele fala sobre como a vida, a política e os padrões culturais
mudaram nos últimos 20 anos. As instituições políticas perderam representatividade porque sofrem com
um “déficit perpétuo de poder”. Na cultura, a elite abandonou o projeto de incentivar e patrocinar a
cultura e as artes. Segundo ele, hoje é moda, entre os líderes e formadores de opinião, aceitar todas as
manifestações, mas não apoiar nenhuma.

(...)

ÉPOCA – As redes sociais aumentaram sua força na internet como ferramentas eficazes de
mobilização. Como o senhor analisa o surgimento de uma sociedade em rede?

Bauman – Redes, você sabe, são interligadas, mas também estão descosturadas e remendadas por
meio de conexões e desconexões... As redes sociais eram atividades de difícil implementação entre as
comunidades do passado. De algum modo, elas continuam assim dentro do mundo off-line. No mundo
interligado, porém, as interações sociais ganharam a aparência de brinquedo de crianças rápidas. Não

AULA 05 – REDAÇÃO 32
Prof.ª Celina Gil

parece haver esforço na parcela on-line, virtual, de nossa experiência de vida. Hoje, assistimos à tendência
de adaptar nossas interações na vida real (off-line), como se imitássemos o padrão de conforto que
experimentamos quando estamos no mundo on-line na internet.

ÉPOCA – Os jovens podem mudar e salvar o mundo? Ou nem os jovens podem fazer algo para
alterar a história?

Bauman – Sou tudo, menos desesperançoso. Confio que os jovens possam perseguir e consertar o
estrago que os mais velhos fizeram. Como e se forem capazes de pôr isso em prática, dependerá da
imaginação e da determinação deles. Para que se deem uma oportunidade, os jovens precisam resistir às
pressões da fragmentação e recuperar a consciência da responsabilidade compartilhada para o futuro do
planeta e seus habitantes. Os jovens precisam trocar o mundo virtual pelo real.

ÉPOCA – O senhor afirma que as elites adotaram uma atitude de máximo de tolerância com o
mínimo de seletividade. Qual a razão dessa atitude?

Bauman – Em relação ao domínio das escolhas culturais, a resposta é que não há mais
autoconfiança quanto ao valor intrínseco das ofertas culturais disponíveis. Ao mesmo tempo, as elites
renunciaram às ambições passadas, de empreender uma missão iluminadora da cultura. A elite deixou de
ser o mecenas da cultura. Hoje, as elites medem sua superioridade cultural pela capacidade de devorar
tudo. (...)

ÉPOCA – Como diz o crítico George Steiner, os produtos culturais hoje visam ao máximo impacto
e à obsolescência instantânea. Há uma saída para salvar a arte como uma experiência humana
importante?

Bauman – Bem, esses produtos se comportam como o resto do mercado. Voltam-se para as vendas
de produtos na sociedade dos consumidores. Uma vez que a busca pelo lucro continua a ser o motor mais
importante da economia, há pouca oportunidade para que os objetos de arte cessem de obedecer à
sentença de Steiner... (...)

(Revista Época nº 819, 10 de fevereiro de 2014, p.68 – 70)

TEXTO III

SÓ É LITERATURA QUANDO INCOMODA

Jana Lauxen

Como escritora, editora e, principalmente, leitora, tenho observado um fenômeno desconcertante


acometer a literatura nacional: o processo de politização obediente dos novos escritores brasileiros.
Muitas vezes tenho a impressão de que a nossa produção literária cortou o cabelo, fez a barba, colocou
sapatos de couro, terno, gravata, e agora é o genro que mamãe pediu a Deus. E, sabem: isso me incomoda.
Profundamente.

Porque, em minha opinião, a literatura que não lhe sacode; que não lhe tira do lugar onde você
confortavelmente está; que não lhe faz repensar; que não desconstrói e bagunça; que não coloca o dedo
na ferida e chafurda; é uma literatura inofensiva – logo, irrelevante. Os livros e autores que me
conquistaram, e me fizeram compreender o poder da literatura na formação política e social de qualquer
cidadão, falavam de sexo, de drogas, de dor, de vida, de desespero – e não de dragões, fadas e gnomos.

AULA 05 – REDAÇÃO 33
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(...)

(http://zonacurva.com.br/o-caminho-dos-excessos-fazendo-diferenca/ Acesso em: 21 fev 2017)

TEXTO IV

PROVA DE REDAÇÃO

Com base no excerto a seguir, na tirinha abaixo e na prova de Língua Portuguesa, escreva um texto
dissertativo-argumentativo, em prosa, sobre a seguinte questão: A importância da Literatura na
formação do ser humano.

TEXTO I

“A literatura desconcerta, incomoda, desorienta, desnorteia mais que os discursos filosófico,


sociológico ou psicológico porque ela faz apelo às emoções e à empatia. (...) ela percorre regiões que os
outros discursos negligenciam, mas que a ficção reconhece em seus detalhes.”

(COMPAGNON, Antoine. Literatura para quê? Tradução de Laura Tadei Brandini. Belo Horizonte: UFMG,
2009. p.46.)

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TEXTO II

Observação: Dê um título à redação.

Orientações:

• Não copie os textos da prova, sob pena de ter a redação zerada.

• A redação deverá conter no mínimo 100 (cem) palavras, considerando-se palavras todas aquelas
pertencentes às classes gramaticais da Língua Portuguesa.

• Recomenda-se que a redação seja escrita em letra cursiva legível. Caso seja utilizada letra de forma
(caixa alta), as maiúsculas deverão receber o devido realce.

• Utilize caneta de tinta preta ou azul.

Estratégia Militares - 2020


TEXTO 1

A valorização da música e a desvalorização do músico

A pandemia do Covid-19 expõe a vulnerabilidade do trabalho musical pós-digital

Nas respostas à crise do coronavírus, a música tem sido uma das principais protagonistas. Nas
varandas, nas lives no Instagram e no Facebook, nas manifestações encabeçadas por celebridades a favor
do isolamento social, nos festivais virtuais independentes ou patrocinados, só dá ela. A música até nos
pareceu uma resposta natural ao momento necessário de coletividade, união e conscientização, afinal
"music makes the people come together", já cantava a bola a hitmaker Madonna na virada do milênio
(em "Music", 2000).

Públicos, cativos ou não, encontraram na música uma distração para a árdua tarefa de ficar em
casa, fazer parte da construção de barreiras para frear a transmissão do vírus e aplacar a angústia que traz
a falta de respostas governamentais efetivas para evitar o colapso econômico que se anuncia. Sem

AULA 05 – REDAÇÃO 35
Prof.ª Celina Gil

dúvidas, como muitos colegas críticos de música têm celebrado, são lindas e louváveis as iniciativas de
músicos e produtores que vêm disponibilizando seu tempo e seu trabalho (frise-se!) para shows virtuais
cem porcento na faixa. Porém, é nesse trabalho, que agora se espera gratuito, que residem questões
profundas e complexas que devem ser postas.

Fazer música, nesta crise humanitária, converteu-se em um sinal de altruísmo, de doação. O artista
que não quiser/puder entrar nessa onda de shows gratuitos pode até mesmo ser considerado pouco
empático à situação — leitura, inclusive, que já podemos observar em comentários direcionados a
determinados artistas nas redes sociais. Essa cobrança e até mesmo queixa que têm assolado alguns
artistas mostra que o público, muitas vezes, está alheio a tudo o que pode envolver o fazer música ao vivo
e online, como direitos autorais, cinegrafistas, editores, qualidade de equipamentos de imagem e som
etc. A falta de empatia, para usar o termo do momento, talvez resida em querer de graça a única coisa
que tais artistas têm a nos oferecer: seus shows, suas vozes e suas canções.

Quem paga a conta dos músicos? Aplausos, visualizações e curtidas virtuais, via de regra, não
enchem os bolsos do artista nem de toda a cadeia produtiva que está por trás de uma canção gravada,
composta ou apresentada (destaquemos aqui a extensa rede de produtores, instrumentistas,
compositores, técnicos de som etc.). Embora, em editais e em negociações com casas de espetáculos, o
alcance virtual de determinado artista tem contado como um importante argumento para sua
contratação, na nova configuração da produção musical independente, é nos shows que a grande maioria
dos artistas ganha o seu pão, como o sociólogo Thiago Galletta já apontou em "Cena Musical Paulistana
dos Anos 2000: a Música 'Brasileira' Pós-Internet'" (2015).

Uma vez que todos os shows, com toda a razão, foram suspensos para auxiliar no controle da
pandemia do Covid-19, de onde virá o sustento desses músicos que estão por aí sendo intimados a
disponibilizarem seu trabalho como se fossem voluntários em uma espécie de Músicos Sem Fronteiras?
O atual desamparo ao qual a classe artística musical está submetida só expõe a fragilidade, a precariedade
e a vulnerabilidade do trabalho musical no Brasil nos últimos anos.

(Disponível em: <https://medium.com/revista-bravo/avaloriza%C3%A7%C3%A3o-da-m%C3%BAsica-e-


adesvaloriza%C3%A7%C3%A3o-do-m%C3%BAsicoc5d409008fd3> Acesso em 15 abr. 2020)

TEXTO 2

AULA 05 – REDAÇÃO 36
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TEXTO 3

Tempo e Artista
Chico Buarque
Imagino o artista num anfiteatro
Onde o tempo é a grande estrela
Vejo o tempo obrar a sua arte
Tendo o mesmo artista como tela

Modelando o artista ao seu feitio


O tempo, com seu lápis impreciso
Põe-lhe rugas ao redor da boca
Como contrapesos de um sorriso

Já vestindo a pele do artista


O tempo arrebata-lhe a garganta
O velho cantor subindo ao palco
Apenas abre a voz, e o tempo canta

Dança o tempo sem cessar, montando


O dorso do exausto bailarino
Trêmulo, o ator recita um drama
Que ainda está por ser escrito

No anfiteatro, sob o céu de estrelas


Um concerto eu imagino
Onde, num relance, o tempo alcance a glória
E o artista, o infinito

(Disponível em: https://www.letras.mus.br/chico-buarque/86064/ Acesso em 15 abr. 2020)

Com base nos textos da prova de Língua Portuguesa, bem como no seu conhecimento de mundo,
escreva um texto dissertativo-argumentativo, em prosa, sobre o seguinte questionamento:

O papel da arte e imagem do artista no contemporâneo.

Considerações Finais
Não deixe de produzir as redações e enviá-las para correção. É muito importante que você não
acumule redações para a última hora, pois não teremos tempo para corrigir.

Na próxima aula, vamos nos aprofundar ainda mais no estudo de coesão e coerência, pensando
também alguns aspectos gramaticais.
Qualquer dúvida estamos à disposição no fórum ou nas redes sociais.

Prof.ª Celina Gil

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Professora Celina Gil @professoracelinagil @professoracelinagil

AULA 05 – REDAÇÃO 38

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