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Descrição Conceituação de equilíbrio químico. Cálculo e aplicações da constante de equilíbrio tanto em sistemas com
comportamento ideal quanto em sistemas não ideais.
Propósito A conceituação de equilíbrio químico e o cálculo da constante de equilíbrio em situações de idealidade do sistema e
de não idealidade são conhecimentos necessários para o profissional que utiliza a ciência química em suas
atividades.
Preparação Antes de iniciar seus estudos, tenha em mãos uma calculadora científica — pode ser a de um smartphone ou celular.
Objetivos
Módulo 1 Módulo 2
Módulo 3 Módulo 4
Equilíbrio químico
O equilíbrio químico representa o momento em que o sistema em transformação alcança um estado
que não apresenta favorecimento da reação direta ou da reação inversa. Quando o equilíbrio químico é
alcançado, as quantidades de produtos e de reagentes presentes no sistema permanecem invariáveis.
Embora as quantidades tenham valores constantes, a reação continua a ocorrer.
Numericamente, podemos indicar esse momento por meio da constante de equilíbrio, K, que é um
parâmetro adimensional. Veremos a seguir como calcular a constante de equilíbrio de uma reação por
meio de duas abordagens.
A primeira abordagem, mais simples, baseada nos valores numéricos das concentrações de equilíbrio,
será explorada neste módulo. Nos módulos subsequentes, trataremos da segunda abordagem, que se
apoia nas atividades das espécies em equilíbrio.
A constante de equilíbrio para uma reação química: K
A constante de equilíbrio é uma das melhores ferramentas para verificarmos o avanço de uma reação
química de forma direta. O seu valor indica quanto dos reagentes foi convertido em produtos. Veja
alguns critérios e abordagens.
O cálculo da constante de equilíbrio tem algumas particularidades no que se refere aos coeficientes
estequiométricos reacionais e ao estado físico das espécies presentes. Vejamos essas
particularidades:
[C]
K = 2 3
[A] [B]
Onde:
[C] = Concentração do produto “C” no equilíbrio
Podemos calcular o valor numérico da constante de equilíbrio, considerando para essa reação que as
concentrações de equilíbrio sejam:
[C] = 1,2mol.L-1
[A] = 0,6mol.L-1
[B] = 0,4mol.L-1
Assim:
[1,2]
K = 2 3
= 52, 083
[0,6] [0,4]
Veja alguns exemplos para a constante de equilíbrio de algumas reações. Deve-se levar em conta o
estado físico dos participantes da reação:
Para essa reação, temos espécies em meio aquoso, simbolizado pelo “aq” subscrito do lado direito da
espécie. Assim, a expressão deverá levar em conta as concentrações molares dessas espécies. Onde:
G6P = Glicose-6-fosfato
G = Glicose
Pi = Fosfato inorgânico
Assim:
[G]x[P i ]
K =
[G6P]
Para essa reação, temos espécies em meio aquoso, espécies como gases e água como produto. A
expressão da constante de equilíbrio deve levar em conta as concentrações molares, as pressões dos
gases e o valor de “1” para a água:
6
(pCO 2 ) )
K = 2 5
[CH 3 COCOOH] x(pO 2 )
3) Qual a expressão para a constante de equilíbrio na reação em estado gasoso que segue?
Nessa reação, todas as espécies encontram-se no estado gasoso. A expressão utiliza as pressões
parciais das espécies presentes:
2
(pSO 3 )
K =
(pSO2) 2 x pO
2
Para uma reação, se tivermos os valores quantitativos das espécies em equilíbrio, chegaremos ao valor
numérico da constante de equilíbrio. Veja o exemplo de uma reação em equilíbrio em que todas as
espécies se encontram no estado gasoso:
pSbCl5 = 0,15bar
pSbCl3 = 0,2bar
Questão 1
O equilíbrio químico é uma condição dinâmica na qual a velocidade reacional direta (reagentes
formam produtos) é igual à velocidade da reação inversa (os produtos tornam-se reagentes). A
respeito do equilíbrio químico, assinale a alternativa correta:
B
Quando o equilíbrio químico é alcançado, as quantidades de produtos e de reagentes
tornam-se invariáveis.
O equilíbrio químico é dinâmico. Isso significa que quando essa condição é alcançada, temos a
reação direta (reagentes são convertidos em produtos) e a reação inversa (produtos são convertidos
em reagentes) acontecendo com a mesma velocidade. Como as velocidades das reações
concorrentes são iguais, quaisquer moléculas de produtos formadas são convertidas em moléculas
de reagentes, mantendo-se as quantidades relativas das espécies invariáveis.
Questão 2
A reação de ionização para o ácido benzóico mostra que essa substância é um ácido orgânico fraco,
isto é, que libera poucos íons hidrônio (H3O+) no meio aquoso. A equação é dada por
C 6 H 5 COOH (aq) ⇌ H 3 O
+
(aq) + C 6 H 5 COO
−
(aq) . As concentrações das espécies em equilíbrio
são dadas por:
−2 −1 + −3 −1 −
[C 6 H 5 COOH] = 5 × 10 mol ⋅ L [H 3 O ] = 1, 74 × 10 mol ⋅ L [C 6 H 5 COO ]
A respeito do equilíbrio químico para essa reação e do valor de sua constante, assinale a alternativa
correta.
A Há predominância dos produtos no equilíbrio com o valor de K ≈ 1,74 x 10-3.
Por se tratar de um ácido fraco, há pouca ionização da espécie reagente. Assim, a quantidade de
produto é pequena em relação ao ácido reagente quando o equilíbrio químico é alcançado. Isso
indica que, no equilíbrio, a predominância é do reagente. Para o cálculo da constante de equilíbrio,
devemos utilizar as concentrações das espécies no equilíbrio de acordo com a equação:
+ − −3 −3
[H 3 O ]x[C 6 H 5 COO ] [1,74x10 ]x[1,74x10 ] −5
K = = −2
≈ 6, 1x10 )
[C 6 H 5 COOH] [5x10 ]
2 - Deslocamento de equilíbrio químico e a aplicação do princípio de Le Chatelier
Ao final deste módulo, você será capaz de descrever o deslocamento de equilíbrio químico e a aplicação do princípio de Le Chatelier.
Isso significa que, embora as quantidades de reagentes e produtos sejam invariáveis no equilíbrio
químico, as reações diretas e inversas continuam a ocorrer, mas com velocidades de conversão iguais
nos dois sentidos (sentido reacional direto e sentido reacional inverso).
A permanência das conversões reacionais em um sistema dinâmico é importante, tendo em vista que
qualquer perturbação no equilíbrio fará com que o sistema reaja no sentido inverso, de forma a anular
essa perturbação. Essa resposta do sistema permanece até que o equilíbrio seja restabelecido.
Assim, um sistema qualquer, quando se encontra em equilíbrio químico dinâmico, apresenta condições
bem definidas da quantidade de matéria e de energia em seu interior com ΔG = 0 sem o favorecimento
de nenhum sentido reacional.
No século XIX, o cientista Le Chatelier estudou os efeitos e as respostas dos sistemas quando
submetidos a alguma alteração em seu estado de equilíbrio químico.
Isso significa que para cada molécula de reagente que se converte em produto há
a conversão de uma molécula de produto em reagente, com a mesma velocidade.
As reações químicas reversíveis são aquelas que ocorrem nos dois sentidos. O sentido direto,
entretanto, é o parâmetro da extensão da conversão. Ao “ler” uma reação química, os componentes que
estão à esquerda são os reagentes e os que estão à direita são os produtos reacionais.
Uma reação que apresenta conversão quase que total dos reagentes em produtos é dita muito
deslocada para a direita (para o lado dos produtos) e sua reversibilidade pode ser desconsiderada,
tendo em vista que termodinamicamente a conversão dos produtos em reagentes é desprezível ou
inexistente do ponto de vista prático. Nesses casos, pode-se considerar que a reação é irreversível.
Exemplo
As reações de combustão são exemplos de reações irreversíveis. Veja a representação da combustão do etanol:
Atenção!
Reações irreversíveis são totalmente deslocadas no sentido direto.
Nas reações reversíveis, a conversão dos produtos formados em seus reagentes de origem não pode
ser desprezada. Veja o exemplo a seguir, no qual o reagente N2O4 é convertido no produto NO2 (reação
direta). O produto formado NO2 se recombina e se converte em reagente (reação inversa).
Reação reversível.
O princípio de Le Chatelier, quando analisado do ponto de vista das alterações nas quantidades de
produtos e de reagentes em um sistema em equilíbrio, mostra que há uma alteração na dinâmica das
reações direta e inversa, para que o estado de equilíbrio seja novamente alcançado.
Resumindo
De acordo com o Princípio de Le Chatelier: “Quando uma perturbação exterior é aplicada a um sistema em equilíbrio dinâmico, ele
tende a se ajustar para reduzir ao mínimo o efeito da perturbação” (ATKINS; JONES, 2006, p. 444).
Vejamos algumas alterações impostas aos sistemas e à forma como esse sistema se adequa
buscando minimizar os efeitos das alterações.
O aumento da conversão no sentido direto diminuirá a quantidade extra dos reagentes e aumentará a
quantidade de produto até que o valor da constante de equilíbrio, K, seja novamente alcançado.
Os efeitos das variações de quantidades de produtos e de reagentes podem ser resumidos a seguir,
considerando a seguinte reação reversível: N 2 O 4(g) ⇌ 2N O 2(g)
A reação se desloca no sentido do consumo de excesso do produto adicionado. A dinâmica reacional se desloca para a
esquerda até que o equilíbrio seja restabelecido.
A reação se desloca no sentido da reposição da quantidade de reagente retirada. A dinâmica reacional se desloca para a
esquerda até que o equilíbrio seja restabelecido.
Δn (g) ≠ 0 Δn (g) = 0
Onde: Δn (g) = n(g) produtos - n(g) reagentes = variação do número de mols de espécies no estado
gasoso.
Observe que o sistema a seguir não apresenta nenhum deslocamento ou favorecimento reacional, se
há aumento da pressão quando o equilíbrio dinâmico é alcançado. Tendo em vista que há 2 mols de
gás entre os reagentes e 2 mols de gás no produto, há números iguais de mols de gás em reagentes e
produtos, os volumes de gás são iguais em ambos os lados.
Δn (g) = 2 − 2 = 0
A reação a seguir se adequa ao efeito do aumento da pressão em seu equilíbrio, tendo em vista que há
quantidades diferentes de mols de gás entre os reagentes e os produtos. Nesse caso, o lado da reação
com menor número de mols de gás apresenta menor volume em comparação com o lado com maior
número de mols de gás.
Nesse caso, o aumento da pressão sobre o sistema desloca o equilíbrio para a direita, tendo em vista
um menor número de mols no estado gasoso e, consequentemente, um menor volume.
Para a reação a seguir, há menos mols de gás no lado do reagente.
Nesse caso, o aumento da pressão sobre o sistema desloca o equilíbrio para a esquerda, tendo em
vista um menor número de mols no estado gasoso. O quadro a seguir resume os sentidos de
deslocamento da dinâmica reacional de acordo com a variação de pressão sobre os sistemas.
Dinâmica reacional
Aumento Produto(s) Δn (g) < 0 desloca-se para a
direita (produtos).
Dinâmica reacional
desloca-se para a
Diminuição Produto(s) Δn (g) < 0
esquerda
(reagentes).
Dinâmica reacional
desloca-se para a
Aumento Reagente(s) Δn (g) > 0
esquerda
(reagente).
Alteração na Lado de menor
Δn (g) Reação do sistema
pressão volume
Dinâmica reacional
Diminuição Reagente(s) Δn (g) > 0 desloca-se para a
direita (produto).
Resumindo
De forma resumida, temos que o aumento da pressão favorece o deslocamento para o lado que tenha menor volume de gás e que
a diminuição da pressão favorece o deslocamento para o lado com maior volume de gás.
T 1 → K1 T 2 → K2 T 2 > T 1 → 2 > K1
Valor da constante de equilíbrio em uma Valor da constante de equilíbrio em uma Variação da constante de equilíbrio em
temperatura inicial. temperatura final. um processo endotérmico.
Nesse tipo de processo, a formação de produto não é favorecida ao se fornecer calor para o sistema.
T 1 → K1 T 2 → K2 T 2 > T 1 → 2 > K1
Valor da constante de equilíbrio em uma Valor da constante de equilíbrio em uma Variação da constante de equilíbrio em
temperatura inicial. temperatura final, um processo exotérmico.
Quantidade relativa
Constante de de produtos e
Tipo de reação Temperatura
equilíbrio reagentes no
equilíbrio
Proporção bem
definida entre
Equilíbrio 1 (K1) Temperatura 1
produtos e
reagentes em T1
Endotérmica
Aumenta a
T2 > T1
proporção de
K2 > K1
produtos em
Equilíbrio 2 (K2) Temperatura 2 relação à
quantidade de
reagentes no novo
equilíbrio em T2
Proporção bem
definida entre
Equilíbrio 1 (K1) Temperatura 1
produtos e
reagentes em T1.
Exotérmica
Diminui a
T2 > T1
proporção de
K2 < K1
produtos em
Equilíbrio 2 (K2) Temperatura 2 relação à
quantidade de
reagentes no novo
equilíbrio em T2
Atenção!
É importante destacar que, quando o sistema em equilíbrio é resfriado, os deslocamentos dos equilíbrios químicos para as
reações endotérmicas e exotérmicas são exatamente opostos àqueles observados anteriormente, em que é fornecido calor ao
sistema.
Observe o quadro a seguir que resume o efeito da diminuição da temperatura sobre as constantes de
equilíbrio em processos endotérmicos e exotérmicos.
Quantidade relativa
Constante de de produtos e
Tipo de reação Temperatura
equilíbrio reagentes no
equilíbrio
Proporção bem
definida entre
Equilíbrio 1 (K1) Temperatura 1
produtos e
reagentes em T1
Endotérmica
Aumenta a
T2 < T 1
proporção de
K2 < K1
reagentes em
Equilíbrio 2 (K2) Temperatura 2 relação à
quantidade de
produtos no novo
equilíbrio em T2
equilíbrio em
T2/td>
Questão 1
Para os sistemas que se encontram em equilíbrio químico dinâmico a uma temperatura constante,
temos que as quantidades de reagentes e produtos são invariáveis nessa condição. De acordo com o
princípio de Le Chatelier, a retirada de quantidades de produto de um sistema que se encontra em
equilíbrio provoca deslocamento no sistema de forma a anular o efeito dessa retirada. Assinale a
resposta que corresponde à alteração na dinâmica reacional provocada pela retirada de produtos no
sistema em equilíbrio:
A Haverá um aumento da conversão de produto em reagente.
Questão 2
Uma transformação endotérmica apresenta variação de entalpia positiva. A respeito desse tipo de
processo, assinale a alternativa correta quanto ao efeito do aumento na temperatura do sistema e à
descrição do fluxo de calor entre sistema e vizinhança:
As reações endotérmicas são aquelas em que há absorção de calor pelo sistema, isto é, o calor flui
da vizinhança para o sistema. Nesses processos, há um favorecimento da reação direta, se houver
um aumento de temperatura no sistema. Isso significa aumento da conversão de reagentes em
produtos, elevando o valor da constante de equilíbrio reacional.
3 - Atividade das espécies químicas em um meio químico
Ao final deste módulo, você será capaz de descrever o conceito de atividade das espécies químicas em um meio químico.
A termodinâmica prevê que a constante de equilíbrio de uma reação química deve ser calculada
considerando o comportamento real em solução, com a utilização das atividades das espécies
presentes no meio.
Veja a diferença entre o cálculo da constante de equilíbrio de uma reação utilizando a concentração
das espécies no meio e o cálculo considerando as atividades dessas mesmas espécies para uma
reação química.
[C] aC
K = K = 2
2
[A] [B] aA aB
Vejamos alguns exemplos numéricos de cálculo de equilíbrio de acordo com as atividades das
espécies.
Exemplo 1
O ácido acético é um ácido orgânico fraco e tem a reação de ionização dada por:
+ −
CH 3 COOH (aq) ⇌ H 3 O + CH 3 COO
(aq) (aq)
Para um ácido, a constante de equilíbrio de suas espécies em meio aquoso pode ser denominada por
Ka. Observe que Ka tem o mesmo significado que K. O subíndice “a” representa a ionização do ácido.
As concentrações das espécies em equilíbrio dinâmico na ionização do ácido acético são as seguintes:
+ −4 −1
[H 3 O ] = 4, 2 × 10 mol. L
− −4 −1
[CH 3 COO ] = 4, 2 × 10 mol. L
−3 −1
[CH 3 COOH] = 9, 58 × 10 mol. L
+ − −4 −4
[H 3 O ][CH 3 COO ] 4,2X10 X4,2X10 −5
Ka = = −3
= 1, 84X10
[CH 3 COOH] 9,58X10
Observe que, para as espécies ionizadas, a atividade de cada uma é ligeiramente diferente de suas
concentrações.
Diferença
Concentração no percentual da
Atividade
Espécie equilíbrio em mol x atividade em
(adimensional)
L-1 relação à
concentração
Isso representa “menor disponibilidade reacional” das espécies. Normalmente esse fato é atribuído,
entre outros fatores, à estabilização mútua das espécies iônicas em virtude das forças eletrostáticas
(forças de atração entre as cargas opostas das espécies iônicas).
Exemplo 2
O sal cloreto de prata, AgCl, é praticamente insolúvel no meio aquoso. No equilíbrio químico que se
estabelece entre o sal sólido e seus íons, de acordo com a reação de solubilização:
+ −
AgCl + H 2 O (l) ⇌ Ag + Cl
(s) (aq) (aq)
+ −5 −1
[Ag (aq)] = 1, 33 x 10 mol x L
Temos as seguintes concentrações iônicas: − −5 −1
[Cl (aq)] = 1, 33 x 10 mol x L
A constante de dissociação de um sal (normalmente em
meio aquoso) é denominada de Kps (constante de produto
de solubilidade) e representa a constante de equilíbrio dos
íons do sal solubilizado.
O cálculo para Kps do cloreto de prata, considerando as concentrações dos íons quando se alcança o
equilíbrio químico, é dado por:
Atenção!
Conforme visto anteriormente, os valores para as espécies sólidas ou líquidos puros se reduzem à unidade. Isso justifica o
número 1 no denominador para o cálculo de Kps.
− −5 −1
[aCl (aq)
] = 1, 324 × 10 mol . L
Da mesma forma que vimos no primeiro exemplo, a atividade das espécies iônicas é numericamente
menor que as concentrações de equilíbrio. Veja a tabela a seguir.
Diferença
Concentração no percentual da
Atividade
Espécie equilíbrio em mol x atividade em
(adimensional)
L-1 relação à
concentração
LOREM_IPSUM
Nos dois exemplos, os valores das atividades levam a valores menores das constantes de equilíbrio.
Observe que no segundo exemplo, no qual há menor concentração dos íons, a diferença entre a
concentração e a atividade é percentualmente menor quando comparado ao primeiro exemplo. Esse
fato é observado para soluções mais diluídas.
Esse comportamento pode ser explicado pelo fato de que, para soluções muito diluídas, a distância
média entre as partículas catiônicas e aniônicas é mais elevada. A maior separação entre os íons de
cargas opostas minimiza as forças eletrostáticas que estabilizam as espécies químicas. Assim, a
atividade tende a ter o mesmo valor da concentração no momento em que a concentração se torna
cada vez menor (quando a diluição aumenta).
O cálculo da constante de equilíbrio ao usar as atividades das espécies também possui algumas
particularidades de acordo com a apresentação dessas espécies no meio reacional.
Os coeficientes
estequiométricos são os
expoentes para as atividades
das espécies na expressão da
constante de equilíbrio.
Questão 1
A atividade das espécies químicas é um parâmetro importante quando desejamos calcular o real
valor da constante de equilíbrio em uma solução. Assinale a alternativa que descreve corretamente o
conceito de atividade de uma espécie química.
A atividade das espécies químicas é aplicada considerando-se todos os fatores que afetam a
reatividade das espécies em um meio. Ela tem um valor diferente da concentração das espécies,
tendo em vista que são consideradas as estabilizações das espécies no meio. Assim, a atividade
pode ser considerada o potencial reacional real das espécies químicas em solução.
Questão 2
A constante do produto de solubilidade Kps para o carbonato de cádmio, CdCO3, tem o valor 1 x 10-12
considerando o comportamento ideal da solução formada. O equilíbrio químico que se estabelece
para a solubilização do carbonato de cádmio em meio aquoso é dado por:
2+ 2−
CdCO 3(s) + H 2 O (l) ⇌ Cd + CO
(aq) 3(aq)
Assinale a alternativa correta quanto ao valor do Kps desse sal em um sistema não ideal.
Para um sistema não ideal, haverá uma elevação do valor do Kps calculado, tendo em
A
vista que as atividades dos íons são mais elevadas que suas concentrações.
Para um sistema não ideal, haverá uma diminuição do valor do Kps calculado, tendo
B
em vista que as atividades dos íons são mais elevadas que suas concentrações.
Para um sistema não ideal, haverá uma diminuição do valor do Kps calculado, tendo
C
em vista que as atividades dos íons são menores que suas concentrações.
Para um sistema não ideal, o valor do Kps calculado será igual ao Kps para o sistema
D
ideal, tendo em vista que as atividades dos íons são iguais às suas concentrações.
Para um sistema não ideal, o valor do Kps calculado será igual ao Kps para o sistema
E ideal, tendo em vista que as atividades dos íons são irrelevantes para o cálculo desse
parâmetro.
Primeiro tópico
No módulo anterior, vimos que a atividade das espécies químicas em solução é o parâmetro mais
correto para estabelecer a constante de equilíbrio químico real em um sistema. Mas como determinar
as atividades das espécies presentes?
Existe um método matemático baseado nos estudos de dois cientistas que permite determinar as
atividades das espécies presentes em soluções suficientemente diluídas. Neste módulo, veremos a
aplicação da teoria de Debye-Hückel para a determinação das atividades das espécies.
Teoria de Debye-Hückel
As interações eletrostáticas entre os íons presentes em uma solução prevalecem sobre todos os
outros fatores que afetam a reatividade das espécies químicas. Essa prevalência é a base da teoria
formulada em 1923 pelos cientistas Peter Debye e Henrich Hückel.
A intensidade e o longo alcance da interação coulombiana entre os íons significam que essa interação
é a principal responsável pelos afastamentos em relação à idealidade das soluções iônicas e
predomina sobre todas as outras contribuições para o comportamento não ideal.
Coulombiana
Interação entre as cargas elétricas.
A figura a seguir mostra um íon central (em azul) e dois íons na vizinhança. O íon vizinho com a cor azul
tem a mesma carga que o íon central e o íon preto tem carga oposta. A trajetória reflete o tempo de
permanência dos íons em relação ao íon central.
Observe que o íon de cor preta (com carga oposta à carga do íon central) tem um tempo de
permanência mais elevado, fato refletido em sua trajetória maior.
Existência de uma atmosfera iônica na qual os íons se encontram estabilizados por íons de
cargas opostas (contraíons).
A carga global da solução é neutra, entretanto, nas proximidades de um íon há uma “nuvem” de
contraíons que estabiliza a espécie e baixa o seu potencial químico.
Essa estabilização faz com que uma quantidade menor de espécies iônicas esteja disponível para
reagir.
A atividade de uma espécie iônica representa justamente a quantidade real e reativa dos íons,
descontando-se o fator de estabilização pelos contraíons.
Lei limite de Debye-Hückel
A lei limite de Debye-Hückel mostra uma metodologia matemática para se estabelecer as atividades
das espécies iônicas. Essa lei e seus cálculos associados funcionam bem para concentrações iônicas
Veremos as equações formuladas por Debye e Hückel que permitem determinar o coeficiente médio de
atividade, um fator que ajusta a concentração dos íons à sua atividade no meio reacional.
mi
ai = γi
θ
m
Onde:
ai = í
atividade do on
γi = í
coef iciente de atividade do on
−1
mi = í
molalidade do on (mol. kg )
θ −1
m = ã
molalidade padr o (1 mol. kg )
Para soluções aquosas muito diluídas, podemos considerar que a molalidade (mol.kg-1) é praticamente
Destacamos que, pela teoria de Debye-Hückel, quanto mais diluída for a concentração dos íons, mais
próximo da idealidade a solução se encontra. Esse fato se deve a uma diminuição das forças atrativas
entre os íons de cargas opostas em concentrações muito diluídas. Assim, conforme a concentração
dos íons decai (molalidade tendendo a zero), a solução tende a ter um comportamento ideal e o
coeficiente de atividade (γ) tende ao valor unitário ((γ) tende a 1).
Estamos interessados em descobrir o valor do coeficiente de atividade quando a solução é não ideal,
isto é, quando γi ≠ 1.
Para íons em solução, temos que as atividades de cátions e de ânions atendem às relações:
m+ m−
a+ = γ+ θ
a− = γ− θ
m m
a + = atividade do c tion á a − = atividade do ânion
γ + = coef iciente de atividade do c tion á γ − = coef iciente de atividade do ânion
−1 −1
á
m + = molalidade do c tion (mol. kg ) m − = molalidade do ânion ( mol. kg )
−1 θ −1
m
θ
= ã
molalidade padr o (1mol. kg ) m = ã
molalidade padr o (1 mol. kg )
Observe que temos γ+ como o coeficiente de atividade para o cátion e γ- como o coeficiente de
atividade para o ânion. Esses coeficientes para as cargas dos íons não são determináveis
experimentalmente ou por nenhuma metodologia matemática, em virtude das interações existentes na
solução.
Os estudos de Debye e de Hückel estabeleceram uma relação matemática bastante útil para a
determinação de um coeficiente médio de atividade que pode ser aplicado para qualquer íon presente
em solução, dada por:
1/2
log γ ∓ = −A |z + z − |I
Onde:
A = constante = 0,509
Z+ = carga do cátion
Z- = carga do ânion
I = força iônica
A grandeza força iônica, I, de uma solução é determinada com base nas molalidades e nas cargas dos
íons presentes por:
2 2
(m + z +m − z )
1 + −
I = θ
2 m
I = ç
f or a i nica ô
m+ = molalidade do c tion á
Z+ = carga do c tion á
Onde:
m− = molalidade do ânion
Z− = carga do ânion
m
θ
= molalidade padr o (1 mol. kg ã −1
)
O uso do coeficiente médio de atividade para a determinação das atividades de cátions e de ânions é
dado por:
m+ m−
a+ = γ± θ
a− = γ± θ
m m
a − = atividade do ânion
a + = atividade do c tion á
é
γ ± = coef iciente m dio de atividade
γ ± = coef iciente m dio de atividade é
−1
−1 m − = molalidade do ânion (mol. kg )
m + = molalidade do c tion ( mol. kg á )
−1
θ −1
m
θ
= ã
molalidade padr o (1 mol. kg )
m = molalidade padr o (1 mol. kg ã )
Vamos aplicar a lei limite de Debye-Hückel nos exemplos a seguir para estabelecer as atividades dos
íons em solução.
Exemplo 1
Para uma solução de KCl 0,001mol.kg, a uma temperatura de 25°C, utilize a lei limite de Debye-Hückel
para calcular:
1/2
−3
log γ ∓ = −0, 509| + 1. −1|(1 × 10 ) = −0, 0161
Estamos interessados em determinar γ±. Assim, temos que aplicar a operação inversa do log
(base 10):
−0,0161
log γ ∓ = −0, 0161 → γ ∓ = 10 → γ ∓ = 0, 964
Exemplo 2
a) A força iônica.
b) O coeficiente médio de atividade.
c) As atividades dos íons presentes.
Para a solução em questão, temos uma relação entre os íons de 1:2, tendo em vista que a equação de
dissociação é dada por:
2+ −
CaCl 2(s) + H 2 O (l) → Ca + 2Cl
(aq) (aq)
Observe que há o dobro da quantidade de íons Cl- em relação aos íons Ca2+, essa relação se reflete nas
concentrações. Assim:
1/2
−3
log γ ∓ = −0, 509| + 2 ⋅ −1|(3 × 10 ) = −0, 056
−0,056
γ ∓ = 10 = 0, 88
A importância do cálculo das atividades reside em se determinar a reatividade real das espécies e a
constante de equilíbrio da solução não ideal. Veja o Exemplo 3.
Exemplo 3
O equilíbrio que se estabelece entre o sal insolúvel cloreto de prata em meio aquoso é representado
pela equação:
+ −
AgCl + H 2 O (l) → Ag + Cl
(s) (aq) (aq)
+ −
aAg ×aCl
Kps =
1
Calcule o Kps do AgCl, considerando que as concentrações dos íons são as seguintes (quando o
equilíbrio químico é alcançado a 25°C).
Concentração no
Espécie
equilíbrio em mol x L-1
Para determinar as atividades dos íons, devemos aplicar a lei limite de Debye-Hückel. Assim:
−5 −1 2 −5 −1 2
1 1, 33 × 10 mol ⋅ kg ⋅ (+1 ) + 1, 33 × 10 mol ⋅ kg ⋅ (−1 )
I = ( )
−1
2 1 mol. kg
−5
= 1, 33 × 10
−0,00186
γ ∓ = 10 = 0, 996
+ −5 −1
mAg 1, 33 × 10 mol. kg
+ −5
aAg = γ∓ = 0, 996 ⋅ = 1, 32 × 10
θ −1
m 1 mol. kg
− −5 −1
mCl 1, 33 × 10 mol. kg
− −5
aCl = γ∓ = 0, 996 ⋅ = 1, 32 × 10
θ −1
m 1 mol. kg
+ −
aAg × aCl
−5 −5
Kps = → Kps = 1, 32 × 10 × 1, 32 × 10
1
−10
→ Kps = 1, 74 × 10
O cálculo da constante de equilíbrio de uma reação química com as atividades das espécies representa
o equilíbrio dinâmico das espécies em um sistema não ideal. Nesse ponto, a lei limite de Debye-Hückel
permite estabelecer os valores dessas atividades.
Questão 1
Para sistemas que não se comportam idealmente, devemos adotar a grandeza atividade como um
parâmetro que substitui a concentração das espécies químicas em equilíbrio. A respeito das
atividades das espécies químicas, de acordo com o que prediz a teoria de Debye-Hückel, assinale a
alternativa correta:
E
A atividade representa as forças de atração eletrostática entre os íons de cargas
opostas.
Um sistema não ideal possui parâmetros químicos que “estabilizam” as espécies, reduzindo a sua
disponibilidade reacional. A atividade de uma espécie representa a sua reatividade real, descontando-
se de sua concentração os parâmetros de estabilidade, principalmente os referentes às atrações
eletrostáticas entre os íons com cargas opostas presentes na solução.
Questão 2
O sal pouco solúvel carbonato de prata (I) (Ag2CO3) a 25°C apresenta, quando em equilíbrio dinâmico
entre os íons presentes em solução e o excesso de sal insolúvel, as seguintes molalidades de seus
íons:
+ 2+
Ag CO 3(s) + H 2 O (l) ⇌ 2Ag + CO
2 (aq) 3(aq)
+ −4 −1 2− −4 −1
mAg 2, 56 × 10 mol ⋅ kg mCO 1, 28 × 10 mol. kg
+ −4 2− 3 −4 +2 2− −4
aAg = γ∓ = 0, 955 ⋅ = 2, 445 × 10 aCO = γ∓ = 0, 955 ⋅ = 1, 222 × 10 Kps = aAg × aCO → (2, 445 × 10 )
θ −1 3 θ −1 3
m 1 mol. kg m 1 mol. kg
Considerações finais
Neste estudo, verificamos o conceito da constante de equilíbrio e a sua importância para o
comportamento dinâmico de um sistema que alcança o equilíbrio químico. O cálculo dessa constante
segue duas abordagens. Na primeira, consideramos o sistema ideal que utiliza a concentração das
espécies em equilíbrio para o cálculo da constante de equilíbrio. Na segunda abordagem, mais correta
do ponto de vista físico-químico, são levadas em conta as atividades das espécies químicas para o
cálculo da constante de equilíbrio. Nela julgamos o comportamento não ideal do sistema.
Um sistema que se encontra em equilíbrio tende a anular as perturbações externas sobre ele de forma
a retornar ao equilíbrio, conforme estabelecido pelo princípio de Le Chatelier. A determinação das
atividades das espécies pode ser realizada matematicamente com a aplicação da lei limite de Debye-
Hückel, que considera a estabilização das espécies com base na atração entre íons de cargas opostas,
fator preponderante para a redução da reatividade dos íons em solução.
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Neste podcast, o especialista fará um resumo do tema, com os principais conceitos abordados.
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PubliSBQ (órgão responsável pelas publicações da Sociedade Brasileira de Química) na seção Salas de
Aula: Equilíbrio Químico. Os princípios do equilíbrio químico são aprofundados no vídeo Equilíbrio
químico da amônia: efeito do íon comum. Confira!
Referências
ATKINS, P; DE PAULA, J. Físico-Química: fundamentos. 6. ed. Grupo GEN, Rio de Janeiro, 2017.
ATKINS, P; DE PAULA, J. Físico-Química. 10. ed. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2018. v. 1.
ATKINS, P; JONES, L. Princípios de Química: questionando a vida moderna e o meio ambiente. 3. ed.
Porto Alegre: Bookman, 2006.
ATKINS, P; JONES, L. Princípios de Química: questionando a vida moderna e o meio ambiente. 7. ed.
Porto Alegre: Bookman, 2018.
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