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Português

Apresentação de morfologia, sintaxe e semântica

Teoria

Morfologia
A morfologia é a área da gramática que estuda a formação das palavras, sua estrutura e as classes
gramaticais. Nessa área de estudo, a palavra é analisada isoladamente, sem necessariamente estar
inserida em um contexto frasal, por exemplo, como é o caso da sintaxe.

As classes gramaticais são classificadas em:


• Classe de palavras variáveis: substantivo, artigo, adjetivo, numeral, pronome e verbo;
• Classe de palavras invariáveis: conjunção, preposição, advérbio e interjeição.

Como cai no vestibular?


A morfologia aparece nos vestibulares a partir de análises da
formação de palavras, por exemplo. Além disso, questões de
análise das classes gramaticais também são cobradas; nesses
casos, geralmente, recorre-se à semântica para compreendê-las.
Estudaremos semântica mais à frente!

Sintaxe
A sintaxe é a parte da gramática que estuda a organização das palavras em uma oração (estrutura
frasal que obrigatoriamente se forma em torno de um verbo ou de uma locução verbal) e a
organização das orações em um discurso.

A sintaxe analisa a função que as palavras desempenham em uma oração/período. Essas funções
são chamadas “funções sintáticas”. São elas: sujeito, predicado, agente da passiva, predicativos,
complementos verbais, complemento nominal, adjunto adverbial, adjunto adnominal, aposto e
vocativo. Além disso, ela também analisa o modo como as orações estão organizadas em um texto.

Classe gramatical Χ função sintática


Como foi visto nas definições anteriores, as classes gramaticais são analisadas isoladamente,
enquanto as funções sintáticas são analisadas em um contexto oracional. Veremos, a seguir, um
exemplo que nos ajudará a entender a diferença entre esses conceitos.
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Analisemos a frase: A menina comeu o bolo de chocolate.

Analisando morfologicamente, temos:


• A = artigo definido;
• Menina = Substantivo simples;
• Comeu = verbo;
• O = artigo definido;
• Bolo = substantivo;
• De chocolate = locução adjetiva.

Analisando sintaticamente a mesma estrutura, temos:


• A menina = sujeito;
• A = adjunto adnominal;
• Comeu = verbo transitivo direto;
• O bolo = objeto direto;
• O = adjunto adnominal;
• De chocolate = adjunto adnominal.

Agora, vamos analisar outra estrutura: O bolo gostoso é de chocolate.

Nesse caso, a análise morfológica é a mesma:


• O = artigo definido;
• Bolo = substantivo;
• Gostoso = adjetivo;
• É = verbo;
• De chocolate = locução adjetiva.

No entanto, perceba que a função sintática das palavras não é a mesma da oração anterior, pois as
palavras não desempenham funções sintáticas fixas:
• O bolo gostoso = sujeito
• O = adjunto adnominal
• Gostoso = adjunto adnominal
• É = verbo de ligação
• De chocolate = predicativo do sujeito
Português

Como cai no vestibular?


A sintaxe aparece nos vestibulares a partir da análise das
construções sintáticas, como a identificação de estruturas
sintáticas semelhantes. Um caso recorrente é a análise da sintaxe
em textos literários, como, por exemplo, a repetição de
determinadas palavras e trechos.

Semântica
A semântica estuda o significado e a interpretação do significado de um vocábulo, expressão ou
até mesmo de uma frase em um determinado contexto.

Alguns conceitos são extremamente importantes no campo da semântica. São eles:


• Conotação: sentido figurado (não literal);
• Denotação: sentido literal;
• Sinonímia: palavras com sentidos semelhantes;
• Antonímia: palavras com sentidos opostos;
• Polissemia: mais de um significado para uma mesma palavra ou expressão;
• Ambiguidade: mais de uma possibilidade de interpretação/duplo sentido.

Como cai no vestibular?


A interpretação dos valores semânticos de termos é algo
frequentemente cobrado em provas. Um exemplo é a
interpretação de recursos coesivos: você sabia que a conjunção
“e” não tem apenas valor aditivo? Depende do contexto. Veja o
poema a seguir, de Carlos Drummond de Andrade, e perceba o
valor semântico de oposição atribuído à conjunção em destaque.

O mundo é grande e cabe


nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar.
“O mundo é grande”, Carlos Drummond de Andrade.
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Exercícios de vestibulares

1. (Enem PPL, 2009) A tentação é comer direto da fonte. A tentação é comer direto na lei. E o
castigo é não querer mais parar de comer, e comer-se a si próprio que sou matéria igualmente
comível.
LISPECTOR, Clarice. A paixão segundo G.H. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1995.

O romance A Paixão Segundo G. H. é a tentativa de dar forma ao inenarrável, esbarrando a


todo momento no limite intransponível das palavras. Tal paradoxo, vale dizer, é o que funda
toda literatura clariceana.
ROSENBAUM, Y. No território das pulsões. In: Clarice Lispector. Cadernos de Literatura Brasileira. Instituto Moreira Salles.
Edição Especial, cadernos 17 e 18, dez. 2004, p. 266

A repetição de palavras é um dos traços constantes na obra de Clarice Lispector e remete à


impossibilidade de descrever a experiência vivida.
A repetição de “comer”, no trecho citado, sugere:
(A) União de significados contrários realizados para reforçar o sentido da palavra.
(B) Realce de significado obtido pela gradação de diferentes expressões articuladas em
sequência.
(C) Ausência de significação em consequência do acréscimo de novas expressões
relacionadas em cadeia.
(D) Equívoco no emprego do verbo em consequência do acúmulo de significados
relacionados em sequência.
(E) Uniformidade de sentido expressa pela impossibilidade de transformação do significado
denotativo do verbo.
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2. (FUVEST, 2012) RECEITA DE MULHER


As muito feias que me perdoem
Mas beleza é fundamental. É preciso
Que haja qualquer coisa de flor em tudo isso
Qualquer coisa de dança, qualquer coisa de
[haute couture*
Em tudo isso (ou então
Que a mulher se socialize elegantemente em azul,
[como na República Popular Chinesa).
Não há meio-termo possível. É preciso
Que tudo isso seja belo.
É preciso que súbito
Tenha-se a impressão de ver uma garça apenas
[pousada e que um rosto
Adquira de vez em quando essa cor só encontrável no
[terceiro minuto da aurora.
Vinicius de Moraes.

* “haute couture”: alta costura.


Tendo em vista o contexto, o modo verbal predominante no excerto e a razão desse uso são:
(A) Indicativo; expressar verdades universais.
(B) Imperativo; traduzir ordens ou exortações.
(C) Subjuntivo; indicar vontade ou desejo.
(D) Indicativo; relacionar ações habituais.
(E) Subjuntivo; sugerir condições hipotéticas
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3. (UECE, 2019) Mulher proletária


Jorge de Lima
Mulher proletária — única fábrica
que o operário tem, (fabrica filhos)
tu
na tua superprodução de máquina humana
forneces anjos para o Senhor Jesus,
forneces braços para o senhor burguês.
Mulher proletária,
o operário, teu proprietário
há de ver, há de ver:
a tua produção,
a tua superprodução,
ao contrário das máquinas burguesas,
salvar o teu proprietário.
LIMA Jorge de. Obra Completa (org. Afrânio Coutinho). Rio
de Janeiro: Aguilar, 1958.

As relações de sentido que o poeta estabelece no poema podem ser representadas por vários
pares de oposição semântica de palavras, EXCETO por
(A) Sujeito x objeto.
(B) Libertação x escravidão.
(C) Igualdade x desigualdade.
(D) Produção x riqueza.
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4. (UEMG, 2018) Trabalivre


Um dia minha mãe me disse Atolado de trabalho para entregar
Você já é grande, tem que trabalhar Na terça não tem brincadeira
Naquele instante aproveitei a chance Quarta-feira tem serviço para terminar
Vi que eu era livre para me virar Na quinta já tem hora extra
Fiz minha mala, comprei a passagem E na sexta o expediente termina no bar
O tempo passou depressa e eu aqui cheguei
Passei por tudo que é dificuldade Mas tenho o sábado inteiro pra mim mesmo
Me perdi pela cidade mas já me encontrei Fora do emprego
Pra me aprimorar
Domingo boto meu pijama Sou easy, eu não entro em crise
Deito lá na cama para não cansar Tenho tempo livre
Segunda-feira eu já tô de novo Pra me trabalhar
(Tribalistas).
Disponível em: <https://www.letras.mus.br/tribalistas/trabalivre/>. Acesso em: 10 nov. 2017.

Assinale a alternativa correta a respeito dos elementos linguísticos da música “Trabalivre”.


(A) No excerto “Mas tenho o sábado inteiro pra mim mesmo / Fora do emprego / Pra me
aprimorar”, o elemento coesivo de contraposição indica que o sábado representa um dia
de descanso, ao contrário dos outros dias da semana. No entanto, essa expectativa é
quebrada quando se insere uma finalidade alheia ao descanso.
(B) Os verbos conjugados no presente do indicativo demonstram que as ações realizadas
pelo eu lírico são pontuais e se dão no presente momentâneo do ato enunciativo.
(C) A colocação dos pronomes pessoais do caso oblíquo presentes no texto obedece à
norma culta da língua portuguesa. Tal fato pode ser observado especialmente no verso
“Me perdi pela cidade mas já me encontrei”.
(D) Os advérbios de modo dão o tom narrativo ao texto, utilizados para caracterizar ações
durativas como a que se expressa no verso “O tempo passou depressa e eu aqui cheguei”.
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5. (Enem, 2009) Canção do vento e da minha vida


O vento varria as folhas, Cada vez mais cheia
O vento varria os frutos, De afetos e de mulheres.
O vento varria as flores…
E a minha vida ficava O vento varria os meses
Cada vez mais cheia E varria os teus sorrisos…
De frutos, de flores, de folhas. O vento varria tudo!
[…] E a minha vida ficava
O vento varria os sonhos Cada vez mais cheia
E varria as amizades… De tudo.
O vento varria as mulheres… “Anda, apressando-se, como a fugir.”
E a minha vida ficava
BANDEIRA, M. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1967.

Na estruturação do texto, destaca-se:


(A) A construção de oposições semânticas.
(B) A apresentação de ideias de forma objetiva.
(C) O emprego recorrente de figuras de linguagem, como o eufemismo.
(D) A repetição de sons e de construções sintáticas semelhantes.
(E) A inversão da ordem sintática das palavras.

6. (FUVEST, 2020) Examine a capa da revista Superinteressante, publicada em julho de 2019.

(A) Indique o duplo sentido presente na manchete de capa da revista, explicitando os


elementos linguísticos utilizados.
(B) Explique como a imagem e o texto se combinam na construção do sentido.
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7. (FUVEST 1ªfase, 2019) I. Diante da dificuldade, municípios de diferentes regiões do país


realizaram um segundo “dia D” neste sábado. O primeiro ocorreu em 18 de agosto. A adesão,
no entanto, ainda ficou abaixo do esperado. Agora, a recomendação é que estados e
municípios façam busca ativa para garantir que todo o público alvo da campanha seja
vacinado.
II. Pensar sobre a vaga, buscar conhecer a empresa e o que ela busca já faz de você alguém
especial. Muitos que procuram o balcão de emprego não compreendem que os detalhes são
fundamentais para conseguir a recolocação. Agora, não pense que você vai conseguir na
primeira investida, a busca por um novo emprego requer paciência e persistência, tenha você
20 anos ou 50.
Balcão de Emprego.
Disponível em: <https://empregabrasil.com.br/>

O termo “Agora” pode ser substituído, respectivamente, em I e II e sem prejuízo de sentidos


nos dois textos, por
(A) Neste momento; Por conseguinte.
(B) Neste ínterim; De fato.
(C) Portanto; Ademais.
(D) Todavia; Então.
(E) Doravante; Mas.

8. (UERJ, 2013)
Há exatos cem anos, saía da vida para a história um dos maiores brasileiros de todos os
tempos: o pernambucano Joaquim Nabuco. Político que ousou pensar, intelectual que não se
omitiu em agir, pensador e ativista com causa, principal artífice da abolição do regime
escravocrata no Brasil. Apesar da vitória conquistada, Joaquim Nabuco reconhecia: “Acabar
com a escravidão não basta. É preciso acabar com a obra da escravidão”, como lembrou na
semana passada Marcos Vinicios Vilaça, em solenidade na Academia Brasileira de Letras.
Mas a obra da escravidão continua viva, sob a forma da exclusão social: pobres,
especialmente negros, sem terra, sem emprego, sem casa, sem água, sem esgoto, muitos
ainda sem comida; sobretudo sem acesso à educação de qualidade.
Ainda que não aceitemos vender, aprisionar e condenar seres humanos ao trabalho forçado
pela escravidão – mesmo quando o trabalho escravo permanece em diversas partes do
território brasileiro –, por falta de qualificação, condenamos milhões ao desemprego ou
trabalho humilhante. Em 1888, libertamos 800 mil escravos, jogando-os na miséria. Em 2010,
negamos alfabetização a 14 milhões de adultos, negamos Ensino Médio a 2/3 dos jovens. De
1888 até nossos dias, dezenas de milhões morreram adultos sem saber ler.
Cem anos depois da morte de Joaquim Nabuco, a obra da escravidão se mantém e
continuamos escravocratas.
Somos escravocratas ao deixarmos que a escola seja tão diferenciada, conforme a renda da
família de uma criança, quanto eram diferenciadas as vidas na Casa Grande ou na Senzala.
Somos escravocratas porque, até hoje, não fizemos a distribuição do conhecimento:
instrumento decisivo para a liberdade nos dias atuais. Somos escravocratas porque todos
nós, que estudamos, escrevemos, lemos e obtemos empregos graças aos diplomas,
beneficiamo-nos da exclusão dos que não estudaram. Como antes, os brasileiros livres se
beneficiavam do trabalho dos escravos.
Somos escravocratas ao jogarmos, sobre os analfabetos, a culpa por não saberem ler, em vez
de assumirmos nossa própria culpa pelas decisões tomadas ao longo de décadas.
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Privilegiamos investimentos econômicos no lugar de escolas e professores. Somos
escravocratas, porque construímos universidades para nossos filhos, mas negamos a mesma
chance aos jovens que foram deserdados do Ensino Médio completo com qualidade. Somos
escravocratas de um novo tipo: a negação da educação é parte da obra deixada pelos séculos
de escravidão.
A exclusão da educação substituiu o sequestro na África, o transporte até o Brasil, a prisão e
o trabalho forçado. Somos escravocratas que não pagamos para ter escravos: nossa
escravidão ficou mais barata e o dinheiro para comprar os escravos pode ser usado em
benefício dos novos escravocratas. Como na escravidão, o trabalho braçal fica reservado para
os novos escravos: os sem educação.
Negamo-nos a eliminar a obra da escravidão.
Somos escravocratas porque ainda achamos naturais as novas formas de escravidão; e
nossos intelectuais e economistas comemoram minúscula distribuição de renda, como antes
os senhores se vangloriavam da melhoria na alimentação de seus escravos, nos anos de alta
no preço do açúcar. Continuamos escravocratas, comemorando gestos parciais. Antes, com
a proibição do tráfico, a lei do ventre livre, a alforria dos sexagenários. Agora, com o bolsa
família, o voto do analfabeto ou a aposentadoria rural. Medidas generosas, para inglês ver e
sem a ousadia da abolição plena.
Somos escravocratas porque, como no século XIX, não percebemos a estupidez de não
abolirmos a escravidão. Ficamos na mesquinhez dos nossos interesses imediatos negando
fazer a revolução educacional que poderia completar a quase-abolição de 1888. Não ousamos
romper as amarras que envergonham e impedem nosso salto para uma sociedade civilizada,
como, por 350 anos, a escravidão nos envergonhava e amarrava nosso avanço.
Cem anos depois da morte de Joaquim Nabuco, a obra criada pela escravidão continua,
porque continuamos escravocratas. E ao continuarmos escravocratas, não libertamos os
escravos condenados à falta de educação.
Cristovam Buarque.
Adaptado de O Globo, 30/01/2000

“Somos escravocratas ao deixarmos que a escola seja tão diferenciada,” (l.13)


A forma sublinhada introduz uma relação de tempo. A ela, entretanto, se associa outra relação
de sentido.
Essa outra relação de sentido presente na frase acima é de:
(A) Causa.
(B) Contraste.
(C) Conclusão.
(D) Comparação.
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Gabarito

1. B
A repetição do verbo “comer” acontece para enfatizar e esgotar os sentidos da palavra,
característica recorrente da pós-modernidade e dos novos costumes literários.

2. C
O modo subjuntivo, predominante no excerto do poema “Receita de mulher” (“perdoem”, “haja”,
“socialize”, "seja", "tenha", "adquira") indicam a vontade ou o desejo do eu lírico por esse ideal
de mulher.

3. D
Note que não há, no texto, oposição entre produção e riqueza. Embora o texto aborde o universo
semântico do proletariado, o poeta se concentra na questão da desigualdade entre homens e
mulheres. Além disso, mostra a maneira como elas ficam em posição subalterna no mundo
burguês.

4. A
A quebra de expectativa se dá pelo fato de que o eu lírico usará o sábado para aprimorar suas
capacidades em vez de descansar.

5. D
É possível verificar no poema a repetição do fonema /v/, que pode ser associada ao barulho do
vento. No plano sintático, vemos a repetição de estruturas como “O vento varria...”.

6. a) As duas possibilidades de interpretação são:


I) “Para” sendo verbo no imperativo; “noia” sendo vocativo. Nesse caso, a ideia é de parar a nóia,
como se mandasse ela acabar.
II) A formação do substantivo “Paranoia”, que na psiquiatria é associado a alguns transtornos
psicológicos, mas também é conhecido pela abreviação “noia”.
b) A imagem sugere alguém sentado em um momento de análise psicológica e, no lugar da
cabeça/mente, há linhas circulares que marcam a “paranoia”, dificuldade de pensar
racionalmente.

7. E
No primeiro caso, a palavra “agora” tem sentido temporal: daqui para frente. Já no segundo, ela
marca uma quebra de expectativa e pode ser substituída por “no entanto”, “mas”, “entretanto”.

8. A
Além de estabelecer uma relação de tempo, o conectivo “ao” também permite uma relação de
causa. Para verificar, podemos trocá-lo pela conjunção causal “porque”: “Somos escravocratas
porque deixamos que a escola seja tão diferenciada”.

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