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serem tecnológicas, conceitualmente sistemáticas, efetivas e demonstrarem algum tipo de generalidade.

A
seguir, descrevemos brevemente cada uma dessas características.
Pesquisas aplicadas deveriam ser tecnológicas no sentido que todos os procedimentos utilizados devem
ser identificados e descritos em detalhes de forma que “um leitor treinado tipicamente conseguiria replicar
esse procedimento bem o bastante para produzir os mesmos resultados, apenas lendo a descrição” 13 de tal
procedimento (BAER et al., 1968, p. 95). Por exemplo, não basta dizer que foi utilizado um procedimento de
atraso progressivo de dica. É necessário informar qual a duração dos atrasos que foram utilizados, quais os
critérios para o aumento ou diminuição do atraso e que tipo de dica foi utilizado. Mais especificamente,
conforme discutido por Baer et al. (1968, p. 95),14
Não é suficiente dizer o que deve ser feito quando o indivíduo emite a resposta R1; também
essencial, sempre quando possível, dizer o que deve ser feito se o indivíduo emitir as respostas
alternativas R2, R3, etc. Por exemplo, alguém pode ler que birras em crianças são comumente
extintas ao se fechar a criança em seu quarto pela duração da birra mais 10 minutos. A não ser que
essa descrição do procedimento também afirme o que deveria ser feito se a criança tentar sair de
seu quarto antes do tempo, ou chutar a janela, ou besuntar fezes nas paredes, ou começar a fazer
sons de estrangulamento etc, esta não é uma descrição tecnológica precisa.
Ser conceitualmente sistemática refere-se ao fato que, não apenas os procedimentos devem ser descritos
em detalhes, mas eles devem sempre ser relacionados explicitamente aos conceitos e princípios da Análise
do Comportamento dos quais foram derivados, tendo “relevância para uma teoria compreensiva acerca do
comportamento” (BAER; WOLF; RISLEY, 1987, p. 318). Conforme discutido por Baer et al. (1968), Baer et al.
(1987), Cooper et al. (2007), entre outros: sem as ligações com a base conceitual, os procedimentos acabam
se tornando truques tecnológicos, e as pessoas acabam não conseguindo explicar o porquê seus
procedimentos funcionaram ou deixaram de funcionar. Por exemplo, muitas pessoas dizem utilizar o
procedimento conhecido como time out como uma estratégia que resulta na extinção do comportamento,
porém não avaliam se esse procedimento está realmente resultando na diminuição do comportamento-alvo
(característica definidora de um processo de extinção operante). Se um profissional utiliza time out sem o
aparato conceitual - que pressupõe que o tratamento seja baseado em uma análise funcional do
comportamento15 - pode, por não basear suas decisões nos princípios da Análise do Comportamento, sem
perceber, estar reforçando comportamentos inadequados. Em um exemplo mais específico em relação ao
time out, um profissional pode pedir a uma criança que rasga uma tarefa que vá para um canto da sala sem
ter de terminar a tarefa na qual estava trabalhando até rasga-la. Tal profissional, sem a base conceitual
necessária, pode não perceber que ir para o canto da sala está aumentando a probabilidade de a criança
rasgar a tarefa com mais frequência. Esse fato pode levar o profissional a dizer que time out não funciona,
ou ainda mais grave, dizer que os princípios da Análise do Comportamento não são válidos (BAER et al., 1987)
quando, na realidade, é o profissional que não tem o aparato teórico-conceitual necessário para avaliar a
situação e modificar seus procedimentos de acordo com uma análise comportamental da situação.
A eficácia é a dimensão que se refere à amplitude das mudanças comportamentais produzidas pelo
procedimento: as mudanças precisam ser clinicamente significativas, ou seja, a mudança precisa produzir
efeitos grandes o suficiente para que sejam considerados socialmente importantes. Baer et al. (1987)
discutem que, além de medir as mudanças no comportamento-alvo em si, para demonstrar efetividade,
deve-se medir se as razões explicativas e percepções acerca do comportamento-alvo modificaram-se. Esses
autores citam, como exemplo, que não é suficiente ensinar habilidades sociais; é necessário avaliar se tais
habilidades melhoraram a vida social do cliente; não é suficiente ensinar habilidades de se manter seguro,
sem avaliar se tais habilidades efetivamente mantiveram o cliente seguro em outros ambientes. Baer et al.
(1987) discutem que, apesar de não necessariamente ser uma prática corriqueira para analistas do

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