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• Introdução da perspectiva de aplicar a psicanálise à clínica social, destacando a influência de Lacan, seguindo os
passos de Freud.
• Ênfase na ideia de que o inconsciente vai além dos traumas individuais, incluindo aspectos não ditos e proibidos
nas relações familiares e sociais.
• Possibilidade de uma "clínica do social" para detectar preconceitos e padrões prejudiciais em práticas
institucionais e o papel da psicanálise - proporcionar uma compreensão mais crítica das dinâmicas sociais.
• O foco principal do livro está na intervenção psicanalítica em contextos marcados por conflitos sociais e
culturais. A psicanálise pode ajudar a compreender as dinâmicas entre o sujeito e o ambiente sociopolítico.
• A clínica psicanalítica está intrinsecamente ligada ao ambiente social, político e cultural no qual os sujeitos vivem
e se constroem, portanto, a compreensão do papel do sujeito nesses contextos é crucial para a prática clínica.
Laço social e clínica psicanalítica:
• Relação entre Laço Social e Clínica Psicanalítica: Os laços sociais são construídos através da linguagem e de esferas
relacionais, afetivas, libidinais e políticas, e como esses laços muitas vezes mascaram conflitos subjacentes.
• Conflitos no Laço Social e sua Relação com a Política: Os conflitos no laço social estão ligados à política e podem criar
impasses na relação do sujeito com os outros e com seu próprio desejo. Isso envolve instâncias políticas e várias
formas de violência.
• Desamparo Discursivo e Máscaras Políticas: traz o conceito de "desamparo discursivo" e como o discurso social e
político muitas vezes mascara sua verdadeira natureza, capturando o sujeito. Isso é usado para analisar fenômenos
sociais e efeitos subjetivos, incluindo a influência do discurso no capitalismo e na globalização.
• Cenas de Violência como Manifestações Políticas: As cenas de violência são manifestações visíveis de conflitos político-
culturais. Essas obscurecem as tramas subjacentes e limitam a reflexão política.
• Contribuição da Psicanálise à Compreensão dos Desafios Contemporâneos: A psicanálise não busca substituir outras
análises nos campos social e político, mas contribuir para a compreensão dos desafios contemporâneos, incluindo
questões como imigração, refúgio e a problemática adolescente.
• Ética e Política na Psicanálise: A ética não está acima da política, mas está fundamentada nela.
A clínica psicanalítica diante do desamparo social e discursivo: impasses e direção do tratamento
• Desafios na Clínica Psicanalítica em Contextos de Desamparo Social e Discursivo: a clínica psicanalítica enfrenta
desafios frente a esse contexto, havendo casos que variam desde crianças com dificuldades de aprendizagem até
adolescentes agressivos, imigrantes em situações precárias e vítimas de diversas formas de violência. O objetivo é
compreender como a psicanálise pode intervir eficazmente nessas situações, enfatizando abordagens como a
psicanálise implicada, a clínica do traumático e a prática clínico-política.
• Concepções Lacanianas de "Outro" e Linguagem: a autora explora as concepções lacanianas relacionadas ao "Outro",
que não se limitam a uma única definição, mas envolvem conceitos como "outro" (outro sujeito), "Outro" (campo dos
significantes) e "discurso do outro". A linguagem desempenha um papel fundamental na busca de identificação com os
outros, ao mesmo tempo em que pode evitar o reconhecimento da diferença. Jacques Lacan enfatiza a ambiguidade
inerente à linguagem, que nos conecta ao "Outro" enquanto nos impede de compreendê-lo completamente.
• Papel da Palavra e da Fala na Constituição do Sujeito: A importância da palavra e da fala na constituição do sujeito. Isso
ocorre por meio da mediação do "Outro primordial", muitas vezes associado à função materna, que fornece
significantes que marcam o corpo como pulsional e introduzem a criança no campo da linguagem. A palavra
desempenha um papel crucial ao registrar a história e fundar o fato. Além disso, é fundamental distinguir entre fala
(que opera no sujeito) e enunciado (que ocorre na sequência temporal do discurso).
• Inconsciente e Discurso do "Outro" na Perspectiva Lacaniana: O inconsciente é compreendido como história e
dimensão política. Discute-se como discursos sociais se transformam em um "discurso do Outro", que busca impor
suas próprias verdades ao sujeito, silenciando-o e deslocando seu lugar de fala. Essa dinâmica afeta profundamente o
desejo e o gozo do sujeito.
• Sobre a Transmissão do Não Dito: o não dito nos leva a questionar o poder das palavras. Ela destaca que o poder das
palavras está conectado ao silêncio, à alienação, à ideologia, à história e ao que é mal dito. O foco muda da palavra
para o "significante".
• O Significante e Sua Amplitude: O significante, ao contrário das palavras, não está restrito a indivíduos específicos e
atravessa gerações e grupos sociais. Ele é transmitido pelos pais para os filhos e marca o sujeito. Esses significantes
são transmitidos pela tradição familiar e moldam a singularidade do sujeito.
• Os Efeitos do Não Dito: Alguns significantes podem ser omitidos no discurso, o que leva a sua repetição de forma não
explicita. Isso pode bloquear a articulação de outros significantes e causar efeitos na constituição do sujeito, como
inibições e sintomas. O que não é dito pelos pais retorna nas fantasias e ações da criança.
• O Não Dito e a Repetição: O não dito age como um imperativo e opera por meio da repetição e identificação. Isso pode
afetar a relação entre o ser, o fazer e o dizer. A criança pode se identificar com o que não foi dito pelos pais,
transformando-o em repetições literais ou sintomas.
• Efeitos do Não Dito na Clínica: Na clínica, dois efeitos do não dito são observados. Primeiro, o não dito da história pode
causar atrasos no desenvolvimento e empobrecimento ideativo. Segundo, o não dito dos pais pode ser repetido pela
criança em sua ação. Isso leva à estranheza do sujeito diante de seu próprio comportamento.
• A Análise do Discurso do Outro: Para compreender o sintoma da criança, é essencial analisar o discurso do Outro, que é
influente na formação do sujeito. Isso envolve entender como o discurso dos pais afeta a criança e buscar estratégias
clínicas para promover a separação desse discurso.
• Reencontrando a Verdade no Não Dito: A verdade pode ser encontrada no que não foi dito, e isso pode ser revelado por
meio de diferentes formas, como no corpo, nas memórias de infância, na evolução semântica, nas tradições e nos rastros
deixados ao longo do tempo.
• Aplicação na Clínica com Crianças: A clínica com crianças ajudou a identificar como o discurso dos pais influencia os
sintomas das crianças e como isso está relacionado a atrasos de desenvolvimento, atos antissociais e outros problemas.
Essa abordagem permitiu avançar na compreensão e no tratamento clínico.
UMA ESCUTA PSICANALÍTICA DAS VIDAS SECAS E A RESISTÊNCIA DO PSICANALISTA
O sujeito excluído do modelo neoliberal: o silenciamento e o traumático
• Consequências da Pobreza e Exclusão Social: Apatia, solidão e emudecimento, reprodução da violência e da pobreza
emocional e intelectual como formas de encobrir traumas.
• O Silenciamento como Reação ao Trauma: reação ao trauma causado pela consciência da impotência diante de uma
sociedade que nega oportunidades. O sujeito cria uma barreira, silenciando-se, como uma proteção necessária para sua
sobrevivência psíquica.
• Ruptura do Contrato Narcísico e o Traumático: A exploração e exclusão social podem reforçar fantasias de rejeição, ódio e
despossessão, resultando na irrupção do traumático, que quebra os fundamentos do contrato social.
• Especificidades na Escuta Clínica: deve considerar sua exclusão dos bens e modos de gozo da cultura. Antes de
diagnósticos ou estruturas, é fundamental ouvir o sujeito em condição traumática.
• Diferentes Respostas à Exclusão: Diferentes indivíduos reagem de diferente formas à exclusão, alguns submissos, outros
fechados em si mesmos. A escuta deve romper barreiras e resgatar a experiência compartilhada com o outro.
• A Resistência do Analista na Escuta: Aborda o papel do analista na resistência ao lidar com violências. A escuta
psicanalítica envolve a presença do outro desejante e a compreensão dos limites da resistência ao lidar com o sofrimento
alheio.
• O Lugar do Sujeito na Estrutura Social: Ressalta a importância de considerar o lugar do sujeito na estrutura social,
especialmente na lógica discursiva do mercado. A identificação do sujeito como "dejeto" dificulta seu
posicionamento na trama de saber.
• A Ética e a Transformação Social: Enfatiza a ética e a necessidade de promover mudanças nas estruturas sociais e
políticas que sustentam a exclusão social. Sugere a construção de discursos que revelem os custos do
funcionamento do modelo neoliberal e o desenvolvimento de metodologias clínicas para a transformação do laço
social.
• No processo de constituição subjetiva, o sujeito constrói "bordas" em torno do real, que são formadas a partir do
desejo do Outro e da transmissão cultural pela linguagem.
• A exposição traumática é destacada como um elemento importante, com sujeitos constantemente expostos à violência
e recursos limitados para lidar com o trauma, resultando em desubjetivação.
• A autora também aborda a resistência do psicanalista à escuta desses sujeitos devido à sua própria posição de classe
social, o que pode dificultar a compreensão dos sujeitos em situações de desamparo.
• Destaca a necessidade de uma abordagem ética e política na psicanálise, que rompa com o pacto de silêncio do grupo
social ao qual o analista pertence e reconheça o sofrimento e a verdade dos sujeitos em situações de exclusão social. A
escuta psicanalítica é considerada transgressora em relação aos fundamentos da organização social e requer um
posicionamento ético do analista para superar os impasses na clínica e na sociedade.
• A autora menciona a questão da responsabilização injusta dos sujeitos como um dos impasses na escuta
psicanalítica. Ela observa que, muitas vezes, há uma tendência de culpar os sujeitos em situações de miséria e
violência, supondo que eles têm total controle sobre suas circunstâncias e decisões. Essa responsabilização
injusta pode dificultar o reconhecimento desses sujeitos como desejantes e a compreensão de suas
determinações inconscientes.
• Contexto e Parceria com a Casa do Migrante: O texto introduz o tema do trauma e da violência e menciona a
parceria com a Casa do Migrante, uma instituição que acolhe imigrantes e refugiados em São Paulo. O objetivo é
desenvolver intervenções para essa população, ajudando a reconstruir laços sociais e vínculos afetivos.
• Processos de Suspensão das Elaborações: Presença de angústia, culpa, vergonha e superação das violências em
alguns imigrantes atendidos. Inicialmente, a maioria era de latino-americanos fugindo da pobreza.
• Precariedade e Desafios dos Imigrantes: Descreve as condições precárias de muitos imigrantes, incluindo
estrangeiros de outros estados do Brasil, com baixa formação escolar e cultural, falta de referências culturais e
históricas, depressão, alcoolismo e sonhos não realizados.
• Violência na Imigração: Aborda a questão da violência na imigração e a distinção entre imigrantes e refugiados.
Refugiados são definidos pela Convenção de 1951 como pessoas que fogem de perseguição, enquanto imigrantes
por motivos econômicos ou naturais não são automaticamente considerados refugiados.
• Imigração Forçada: O texto propõe o termo "imigração forçada" para incluir o peso da violência nas situações de
exclusão social e econômica. Isso amplia a clínica para outros contextos de violência e a condição dos sujeitos
contemporâneos desgarrados de suas tradições e história.
• Migração como Busca de Diversidade: Enfatiza que a imigração não é patológica, mas sim um movimento de busca
da diversidade e de transformação do indivíduo. Faz referência ao conceito de desejo errante de Lacan.
• Diferenciação dos Tipos de Migração: Distingue entre migração voluntária e migração forçada e errante, que
representa a condição de excluídos destinados a vagar sem destino devido à imposição de outros.
Imigrantes, migrantes e refugiados e a condição errante do desejo
• O filme "Incêndios" é apresentado como um exemplo que aborda a história de Nawal, uma mulher que passou por
diferentes papéis e experiências ao longo da guerra e imigração, incluindo o luto, militância política, maternidade e
imigração. Ela perdeu seus filhos durante uma guerra civil no Líbano.
• No contexto do texto e do filme "Incêndios", a autora está explorando como as experiências de sofrimento de Nawal,
uma mulher que passou por várias adversidades devido à guerra e à imigração forçada, são transmitidas aos seus
filhos.
• A relação entre a dimensão sociopolítica do sofrimento e a transmissão da história é que as experiências traumáticas
de Nawal, como a perda de seus filhos durante a guerra civil, têm um impacto significativo em sua vida e na vida de
seus filhos. Essas experiências são parte integrante da história da família e de sua identidade cultural.
• O filme "Incêndios" mostra como as revelações sobre a história de Nawal, incluindo a verdade sobre o destino de seus
filhos, têm o poder de reabrir a trama da história e permitir que os filhos ressignifiquem suas próprias experiências à luz
dessas revelações. Isso ilustra como a história e o sofrimento de uma geração podem ser transmitidos para a próxima,
afetando a forma como os indivíduos entendem a si mesmos, suas raízes culturais e seu lugar no mundo.
• O diagnóstico desses casos não deve presumir uma estrutura psicótica prévia, pois isso desconsideraria os efeitos
disruptivos das situações traumáticas.
• Em alguns casos, o exílio forçado leva o sujeito a uma errância sem fim, e a intervenção clínica busca separar a violência
do acontecimento da dimensão traumática do sujeito.
• A intervenção clínica permite ao sujeito retomar sua causa e articular angústia e desejo, formulando uma narrativa que
o situe em sua história e na história da comunidade. A abordagem clínica busca reconhecer a complexidade dessas
situações e promover a ressignificação do sujeito em seu contexto histórico e cultural.
• A psicanálise deve se concentrar na especificidade do processo em casos de imigrantes e refugiados. A violência possui
uma força imaginária que impacta a verdade subjetiva política, transformando a contingência em verdade última e
reduzindo o sujeito. O trauma ocorre quando o sujeito recua diante do desamparo, lançando-o no impedimento do
esquecimento e na manifestação de imagens ou manifestações de loucura.
• A prática psicanalítica deve diferenciar os tempos na construção da narrativa e do trabalho de luto, com foco na
recuperação da escolha do sujeito para sustentar a partida. A escolha revela a divisão do sujeito e sua pulsão, indicando
um além das identificações sociais e uma transgressão das fronteiras culturais.
• Alienação e a separação: a ignorância caracteriza-se pelo excesso de significado, enquanto a separação evoca uma
vontade de sair e de saber o que se é além das inscrições do Outro.
• Processo de escolher a partida ou a fuga, o desejo de saber supõe o insabido, exigindo um percurso e um trabalho. Algo
se parte, e a escuta do processo de escolha é essencial para despotencializar a violência e permitir que o sujeito retome
seu lugar na cena. Por isso, eles oferecem uma escuta com características peculiares, incluindo visitas à moradia do
sujeito na Casa do Migrante, para promover o laço social.
• O trabalho clínico proposto visa construir a posição de testemunha e transmissora da cultura, transformando o trauma
em uma experiência compartilhada.
• Diferentes dimensões estão presentes nas narrativas, como o endereçamento, a posição enunciativa, a referência às
perdas, uma escolha, uma partida, um esquecimento, o reconhecimento e seus rastros, e um tempo posterior.
• O processo de construção da narrativa é dividido em três tempos: o momento de partir, o tempo de esquecer e o
tempo de contar, cada um com sua abordagem específica. A narrativa inicialmente se concentra na partida forçada e
nas escolhas, sendo ressignificada posteriormente na transmissão.
• O trabalho clínico enfrenta desafios como a dificuldade de expressão em língua não materna, questões de
desigualdade, diferenças culturais, a atuação em campo multidisciplinar, o desconhecimento das práticas de
psicologia/psicanálise por parte dos refugiados, questões de gênero, demandas objetivas e urgentes, e a desconfiança
em relação a qualquer laço.
• A presença dos profissionais permite que os abrigados organizem narrativas sobre suas histórias, motivos de saída do
país e reflitam sobre como os processos políticos, sociais e subjetivos os afetam. O foco está na dialetização das
demandas, no manejo da angústia e do luto para a construção de narrativas e na promoção de laços sociais, apesar das
diferenças culturais e das experiências de violência vividas.
• Papel do Psicanalista em Contextos de Violência: O texto discute o papel do psicanalista em situações de conflito e
violência, destacando as experiências de Márcio Gagliato, um psicólogo que trabalhou em regiões afetadas por guerras e
conflitos. Gagliato questiona a eficácia da escuta do sofrimento em auxiliar aqueles que enfrentam situações extremas.
• Experiências de Márcio Gagliato na Somália e no Sudão: O texto apresenta duas cartas de Márcio Gagliato descrevendo
sua experiência de trabalho em regiões de conflito, como a Somália e o Sudão. Ele destaca a importância de lidar com as
condições emocionais da equipe e a necessidade de permitir que as pessoas expressem suas experiências traumáticas.
• Dilema na Abordagem do Sofrimento: O texto levanta questões sobre como abordar o sofrimento em contextos de violência,
destacando o dilema entre encorajar a expressão do sofrimento e evitar a retraumatização. A discussão se concentra na
necessidade de encontrar estratégias de intervenção adequadas para auxiliar as pessoas afetadas e as equipes que trabalham
nesses cenários desafiadores.
• Estratégias de Intervenção Sensíveis: O texto ressalta a importância de estratégias de intervenção sensíveis às necessidades
individuais e culturais das pessoas afetadas. Isso envolve o uso de técnicas terapêuticas apropriadas e o treinamento
adequado das equipes de apoio.
• O Conceito de "Heróis" em Contextos Humanitários: O texto discute o conceito de "heróis" atribuído aos profissionais de
ajuda humanitária e como isso pode ser problemático. Ele destaca a necessidade de promover uma cultura de cuidado e
apoio emocional para esses profissionais, reconhecendo seu impacto emocional e desafiando estereótipos prejudiciais.
Resistência
• Resistência Política e Ética: O direito à resistência política é considerado uma forma de desobediência civil e está
relacionado à ética na política. Implica a capacidade de criar uma ordem jurídica revolucionária em substituição aos regimes
opressivos, baseada em princípios e normas substantivas.
• Destaque Atual da Resistência: A resistência política à opressão ganhou destaque recentemente em ações e discussões
filosóficas. A resistência é vista como uma experiência de subjetivação e autonomia, enfraquecendo o opressor e forçando-
o a recuar.
• Etienne de la Boétie e Ação Individual: A ação individual na transformação política - questionamento da servidão voluntária
e destacou a importância da ação individual na mudança política.
Resistência Em Psicanálise
• Evolução do Conceito na Psicanálise: De uma conotação de resistência contra o tratamento analítico para uma defesa do eu
contra traumas e repetições, protegendo o eu do conflito pulsional e permitindo que ele lide com a realidade de forma mais
tolerável.
• A Importância da Resistência do Analista: Lacan enfatiza que a resistência mais significativa na análise é a do analista, que
deve ouvir o paciente sem censura. A resistência do analista em ouvir é fundamental para o processo analítico.
• Resistência em Situações Extremas: Por exemplo, em campos de concentração, envolve a capacidade de manter uma
atitude de reserva diante do poder opressor do Outro, destacando a importância dos ideais políticos e religiosos na
resistência física e psíquica.
• A Ética da Psicanálise e o Ato Ético: Envolve o encontro com o real pulsional e a constatação de que o objeto do desejo não
existe na realidade. Isso leva ao luto, à perda de sentido e à necessidade de reconstruir uma sustentação fantasmática
mínima para dar sentido ao real. O ato ético na psicanálise desafia a moral tradicional e é um ato comprometido,
responsável e político, resistindo à instrumentalização social do gozo.
CENA SOCIAL: GOZO E EXPERIÊNCIA
• Foca na relação entre a clínica psicanalítica e o contexto sociopolítico. O objetivo principal é revelar como os sujeitos são
influenciados por estratégias de poder e os desafios que enfrentam em tempos difíceis. A contribuição da psicanálise
nesse contexto não visa esgotar a compreensão dos fenômenos sociais e políticos, mas sim destacar a dimensão
inconsciente presente nas práticas sociais que não pode ser abordada apenas de forma lógica.
• Análise focada na abordagem do campo sociopolítico na psicanálise. Isso envolve a importância de esclarecer o método e a
concepção de sociedade que guiam essa análise, com o objetivo de considerar o mal-estar como um indicativo da
necessidade de repactuação social. O campo social é visto como uma cena que inclui elementos de fantasia e gozo.
• O campo social é compreendido como constituído por discursos que mascaram a inconsistência e os antagonismos da
sociedade para impor uma identidade sociossimbólica. O método de análise não se limita à situação de análise, uma vez
que o inconsciente está presente em diversas manifestações humanas, culturais e sociais, e o sujeito do inconsciente
influencia todos os discursos.
• Prática extensiva da interpretação como legítima, permitindo trabalhar com discursos presentes em depoimentos,
entrevistas e outras fontes, além das associações livres. Freud já havia incluído a investigação de fenômenos
socioculturais e políticos em sua construção da psicanálise, demonstrando como a psicanálise dialoga com diferentes
campos de conhecimento e contribui para questões políticas e sociais.
• Envolvimento de Lacan em questões institucionais e sua articulação da psicanálise com o pensamento de Karl Marx.
Ele relaciona o conceito de "mais-de-gozar" à mais-valia e sugere a substituição da energia freudiana pela economia
política. Lacan também enfatiza a dimensão histórica conformada às exigências estruturais e a importância do
materialismo histórico.
• Política em Lacan, particularmente em seu Seminário 16, onde ele relaciona a psicanálise com o pensamento de Karl
Marx e aponta Marx como o inventor do sintoma. A relação entre a psicanálise e outras ciências afins, bem como a
articulação entre o sujeito e o campo sociopolítico, são aspectos presentes tanto em Freud quanto em Lacan,
permitindo uma abordagem clínica e crítica social integradas à constituição subjetiva e ao sofrimento humano.
• Teoria dos discursos de Lacan como uma ferramenta ainda não completamente explorada para intervenções clínico-
políticas no discurso que rege a sociedade. A proposta de elaboração coletiva do trauma é apresentada como uma
direção futura de pesquisa, sugerindo novas possibilidades de abordagem do sofrimento humano e das questões
sociopolíticas por meio da psicanálise.
Laço e transformação social
• O texto aborda a transformação da sociedade e as resistências individuais e coletivas contra práticas alienantes. Ele
destaca a importância de reconhecer o aspecto sociopolítico do sofrimento para reposicionar o sujeito em relação ao
seu discurso, luto e voz.
• A análise social não é apenas descritiva, mas visa revelar o desconhecimento que sustenta sintomas e gozo do sujeito,
buscando a dissolução desses sintomas.
• A teoria dos discursos de Lacan é usada como chave de análise, destacando casos de toxicomania e do Movimento
dos Trabalhadores Sem Terra (MST) como exemplos de impasses do sujeito contemporâneo e suas relações
problemáticas com ideais e violência.
• A fragilização da experiência e a incidência na lógica do poder/violência são discutidas, com ênfase na figura do
"muçulmano" como exemplo de instrumentalização social do gozo.
• As consequências do capitalismo avançado, como a relativização da existência compartilhada e a fragilização da
experiência, são exploradas, juntamente com elementos de resistência, como a recuperação da experiência, o laço
singular e coletivo, o humor e o encontro com o contemporâneo.
A criança e o adolescente e o lugar do pai: transmissão e transformação social
• Necessidade de examinar a família tradicional para compreender como as transformações sociais afetam a formação do
sujeito e os laços sociais, com foco no papel do pai, da sexualidade e da transmissão na formação subjetiva.
• Mudanças trazidas pelo capitalismo avançado, neoliberalismo e globalização após os anos 1950, caracterizando essas
mudanças como resposta a palavras-chave da era, como tecnologia, ciência e globalização.
• Os impactos: sentimentos de desenraizamento cultural e sobrecarga de informações, além de mencionar práticas
medievais ou fundamentalistas como respostas a essas mudanças.
• Implicações sociais dessas transformações, incluindo problemas crônicos como pobreza e desigualdade, bem como novos
desafios, como violência, exploração infantil e terrorismo.
• Mudanças na estrutura familiar em resposta às transformações sociais, incluindo questionamentos sobre o papel do pai, da
mulher e as relações entre casais, com ênfase nos impactos sobre crianças e adolescentes.
• Imaginário social como ferramenta para analisar a relação entre cultura e formação subjetiva, definindo-o como um
conjunto de significados e normas que moldam a subjetividade. O imaginário social pode desafiar a visão de universalidade
e verdade no discurso social sobre a criança, enfatizando a necessidade de diferenciar o imaginário social do discurso
Outro.
• A queda do papel do pai na sociedade, explorando como as mudanças no imaginário social afetam a constituição subjetiva,
incluindo as implicações no sintoma individual e coletivo. Continua a exploração da queda do pai, discutindo a importância
de identificar quem enuncia os enunciados fundamentais sobre a criança, destacando como as mudanças no imaginário
social afetam a formação subjetiva e o sintoma, especialmente quando o pai é substituído por outros saberes sociais, como
pediatras e psicólogos.
Gozo e política na psicanálise: o caso da toxicomania
• Relação entre a psicanálise, a política e a produção de verdades, destacando a importância de analisar como a produção
de verdade em discursos sociais muitas vezes está dissociada do fenômeno real.
• Toxicomania como um exemplo de como o discurso social cria uma figura, o toxicômano, que induz a certo tipo de
relação com o outro. A toxicomania apresenta desafios para a psicanálise, especialmente em tempos de capitalismo
avançado.
• A problemática do sujeito toxicômano que busca acesso direto ao objeto de gozo, sem a mediação do laço social, é
explorada, assim como a dimensão política do gozo do toxicômano, relacionada a termos como gozo, lei, vida, nome,
anonimato, dívida, sacrifício e mercado.
• Análise da toxicomania requer um exame das fantasias e dos lugares ocupados pelos agentes no discurso, uma vez que o
sentido de um discurso é determinado pelo lugar de onde é proferido. É importante considerar o desejo do sujeito em
relação ao desejo do Outro e como isso o posiciona no laço social.
• Além disso, o texto explora a figura construída em torno do toxicômano e como muitos indivíduos buscam modalidades
de gozo alternativas ao serviço de bens, desafiando o mercado e outros discursos que tentam silenciá-los.
Ética e política – os ideais
• Interligação de Ética, Política e Violência Contemporânea: Ética, política e violência contemporânea estão intrinsecamente
ligadas e são temas cruciais para o debate social. A psicanálise é uma ferramenta para analisar esses fenômenos - pode
fornecer uma perspectiva única para entender a interseção entre questões éticas e políticas na sociedade moderna.
• Relação entre Gozo, Laço Social e Dimensão Política: A psicanálise pode oferecer um método de análise que nos permite
compreender como o prazer e o sofrimento estão conectados ao contexto social e político, sugerindo que a política pode
afetar a experiência individual e coletiva desses aspectos.
• Estudo de Caso: MST e Representação Midiática: Um editorial de jornal que critica o MST, um movimento social no Brasil.
Ela destaca como esse editorial retrata o MST de maneira negativa, retratando-o como um grupo com ideias antigas,
oposição ao lucro e intenções radicais. Isso levanta questões sobre como os movimentos sociais são retratados na mídia e
como a retórica política pode influenciar a percepção pública. MST é frequentemente retratado de maneira negativa na
mídia, o que pode moldar a opinião pública e influenciar o debate político.
• Rotulação Política de Movimentos Sociais: Outro artigo que caracteriza o MST como uma forma de fascismo social-
religioso. Isso destaca como os movimentos sociais são rotulados e estigmatizados com base em retórica política.
• Perspectivas Divergentes sobre a Política Agrícola no Brasil: A política agrícola recente é bem-sucedida e que não há
concentração fundiária. Isso sugere uma perspectiva diferente sobre a situação agrária no Brasil e levanta questões sobre
como os dados podem ser interpretados seletivamente para apoiar argumentos políticos.
• Narrativas Divergentes e Papel da Mídia: Artigo que oferece uma perspectiva diferente sobre o MST, descrevendo uma
visita a um acampamento do movimento. Isso destaca como diferentes narrativas podem surgir com base na observação
direta e como a mídia desempenha um papel na formação da opinião pública.
• Discurso Político Incisivo e Hostilidade: No oitavo parágrafo, o autor descreve o discurso do editorial como incisivo e
baseado em dados numéricos, mas também aponta a hostilidade presente no discurso. Isso levanta questões sobre
como os discursos políticos são construídos e como a retórica pode ser usada para persuadir e influenciar a opinião
pública.
Nesta parte do livro, aborda-se a necessidade de considerar os contextos que levam a relações sociais violentas nas práticas
clínico-políticas. Especial atenção é dada aos adolescentes em conflito com a lei, particularmente aqueles que vivem em áreas
empobrecidas das grandes cidades. O texto explora como as intervenções nesse grupo são influenciadas pelos discursos sociais
e pelo sistema jurídico, e discute a responsabilidade individual à luz da psicanálise, destacando a importância de incluir a
responsabilidade coletiva nas políticas públicas para a adolescência e juventude.
• Explora como as narrativas de vitimização são construídas em situações de violência e seu impacto nos sujeitos.
•Importância de considerar o contexto social e político das situações de violência e como os discursos sociais e jurídicos
influenciam a abordagem da violência.
•Crítica à abordagem binária do discurso jurídico, que tende a retratar uma vítima fraca e um agressor a ser punido,
argumentando que isso pode levar à vitimização e à judicialização dos conflitos sociais.
• Proposta - uma abordagem baseada na responsabilidade em vez da vitimização, examinando como a construção da vítima
ocorre na posição subjetiva e no discurso jurídico.
• Perigos de fixar uma identidade de vítima, que pode limitar a capacidade de ação das pessoas que sofreram violência.
•A psicanálise é apresentada como uma ferramenta útil para compreender esses processos e apoiar o desejo dos sujeitos.
• Importância de uma abordagem mais abrangente que leve em consideração a complexidade das situações e inclua a
responsabilidade coletiva em vez de respostas simplistas por meio do discurso jurídico.
•A noção de responsabilidade surge como um ponto central nas interações entre psicologia, psicanálise e direito, mas é
interpretada de maneira distinta em cada um desses campos.
•O texto explora a perspectiva psicanalítica da responsabilidade e responsabilização, que oferece insights para o
tratamento e a interlocução entre psicanálise e direito.
•Essa abordagem propõe uma teoria da responsabilidade baseada na teoria do tempo lógico de Jacques Lacan,
enriquecendo o debate sobre a adolescência em conflito com a lei no campo jurídico.
Responsabilização e sua interface com o dever jurídico
• Responsabilidade não significa simplesmente concordância passiva com as normas sociais ou culpa automática por
transgressões, mas está enraizada na interação entre as demandas culturais e a subjetividade única do sujeito.
• Freud, em "O Mal-Estar na Civilização," oferece uma perspectiva sobre a civilização que envolve a subordinação das
disposições pessoais às normas culturais. Isso cria uma tensão entre as regras sociais e as inclinações individuais,
resultando em um "mal-estar" na relação entre família, Estado e sociedade.
• Diferença entre enfatizar a obediência à lei como um limite superegoico que ativa a culpa individual e promover a
capacidade de colocar-se no lugar do outro, o que leva a uma moral intersubjetiva.
• A responsabilidade é apresentada como um sensor interno que pode ser influenciado por uma lei exterior ou exercido
de forma intersubjetiva para reconhecer a alteridade. Isso forma a base para acordos que contêm excessos, como o
pacto original baseado nas ideias de Freud em "Totem e Tabu."
• Além disso, a responsabilidade está ligada à construção da lei por meio de um pacto social que deve levar em
consideração a igualdade na distribuição do gozo. Caso contrário, a observância da lei servirá principalmente para
preservar a normatividade social, reprimindo críticas ou transformações sociais em detrimento do bem-estar da
sociedade.
• Portanto, a conformidade com a lei resulta da compatibilidade do sujeito com a versão específica de civilização que essa
lei representa. O processo civilizatório implica o assentimento subjetivo e envolve a inserção e experiência de cada
indivíduo nesse campo sociopolítico específico.
Responsabilidade, culpa e assentimento subjetivo: construindo disjunções
• Freud estabelece uma disjunção entre culpa e responsabilidade. Ele identifica duas dimensões: a do imperativo
categórico do superego, que está ligado à obediência à norma social, independentemente da responsabilidade do
sujeito, e a anterioridade da culpa em relação aos desdobramentos do ato.
• O sentimento de culpa é construído pelo superego, o que forma a consciência moral e é constitutivo do sujeito. A
consciência moral pode tornar-se dura e cruel em relação ao eu. Freud equipara o superego ao imperativo categórico,
como formulado pela moral kantiana, que é internalizada pelo sujeito.
• No campo jurídico, muitas vezes, a responsabilidade é vista como uma relação causal, em que a culpa é atribuída ao
sujeito com base em uma redução simplista do ato infracional. Isso pode levar a uma desresponsabilização do sujeito,
pois a culpa é colocada antes mesmo do ato.
• A eficácia da punição no sistema jurídico depende do assentimento subjetivo do sujeito às normas sociais e à lei. O
sujeito deve concordar com a validade da lei para que a punição tenha significado. Isso implica uma relação entre o
crime e a lei que exige aceitação e reconhecimento.
• O assentimento subjetivo refere-se ao acordo do sujeito com a ordem civilizatória e simbólica, e não apenas com
normas específicas de uma sociedade. Envolve a aceitação da lei como verdade e sustentação do funcionamento social.
A responsabilidade implica a relação do sujeito com o pacto social proposto.
• A responsabilidade não é apenas uma relação com a lei, mas também com o Outro. O sujeito deve reconhecer a
alteridade e aceitar o pacto social proposto. Isso envolve uma lógica de reconhecimento e de consideração da alteridade,
que vai além da relação causal.
• A responsabilidade também pode ser vista como a assunção da causalidade do próprio desejo. Isso implica não ceder ao
desejo e reconhecer o papel do sujeito na sua própria determinação. A responsabilidade não está apenas na obediência à
lei, mas na relação com o desejo e a sua própria causalidade.
• Mesmo em atos que são considerados desumanos, há uma dimensão sobretudo humana que nos constitui. A
irresponsabilidade não significa uma perda completa do caráter humano. Mesmo no que é visto como desumano, há um
resíduo que nos transforma em direção a respostas singulares na cultura.
Uma teoria da responsabilidade com base na teoria do tempo lógico de Jacques Lacan
• Duas noções de responsabilidade: uma relacionada ao campo do saber e outra vinculada ao assentimento subjetivo.
• Exemplo hipotético - três prisioneiros devem adivinhar a cor de discos nas costas uns dos outros. Em três momentos
cruciais no tempo lógico desse cenário, os prisioneiros passam por diferentes fases de raciocínio e responsabilidade:
"tempo de ver" (baseado na aparência visual), "tempo de compreender" (reflexão sobre a lei e ética), e "tempo de
concluir" (responsabilidade pela própria causalidade).
• A dimensão diacrônica do "momento de concluir" envolve a historicidade do desejo e a singularidade na história dos
desejos desejados. A pressa surge na lacuna entre a verdade e a certeza antecipada, e o sujeito age antes mesmo de
entender plenamente a situação. Antígona é citada como um exemplo paradigmático desse processo de
responsabilização do ato, desafiando as imposições da lei e marcando sua singularidade.
• O texto aborda a complexidade da responsabilidade em diferentes fases da vida, com ênfase na adolescência,
destacando a importância de uma abordagem mais ampla que considere aspectos políticos, sociais e subjetivos.
• A responsabilidade não deve ser apenas vista sob a ótica jurídica, mas também como parte fundamental da
transformação humana e social.
• A psicanálise desempenha um papel crucial na compreensão da responsabilidade, especialmente em relação aos atos
infracionais na adolescência.
• A ética da escuta clínica é essencial nesse contexto, e o texto apresenta um estudo de caso clínico para ilustrar como a
psicanálise pode ser aplicada para compreender a responsabilidade na adolescência.
• O caso clínico destaca não apenas o paciente, mas também o papel do analista na escuta, enfatizando as
complexidades envolvidas nos discursos e no campo clínico.
• A narrativa clínica se desenvolve em torno da perda de sentido e da construção de um enigma para o analista, com foco
em três aspectos cruciais: a marca do caso, a construção do caso e sua transmissão por meio da escrita.
• Caso clínico: "Falando pelos muros: um recorte de acontecimento do caso Shake" - adolescente em um contexto institucional
relacionado à Justiça, destacando os desafios enfrentados pelo analista.
• Este caso expõe a interseção entre a cena psicanalítica e a cena sociopolítica, desafiando a capacidade de sustentação do
trabalho analítico. Questões como adolescência, uso de drogas, tráfico, condições socioeconômicas, discurso jurídico e atos
infracionais são abordadas, ressaltando a importância de considerar aspectos éticos e políticos.
• O caso destaca um incidente em que o adolescente Shake escreveu nas paredes do prédio onde ocorria a sessão de terapia,
tornando-o relevante ao transcender o âmbito privado e adentrar o domínio público e político. A analista enfrenta o desafio
de equilibrar a preservação do espaço terapêutico com a necessidade de responsabilizar Shake por seu ato, sem permitir que
o discurso jurídico domine a narrativa.
• O texto também explora a relação entre espera e angústia, destacando como a angústia atua como um alerta ao sujeito,
indicando que ele está sendo aguardado no encontro entre desejo e gozo. A angústia introduz uma dimensão temporal
na equação, afetando o processo de tomada de decisão.
• O papel do analista nesse contexto envolve permitir que o sujeito inscreva sua singularidade na instituição,
possibilitando que ele deixe de ser meramente rotulado como "infrator" ou "usuário de substâncias" e se torne um
sujeito com uma história de vida própria. A escrita nas paredes é vista como uma forma de expressão subjetiva.
• O "muro da linguagem" é mencionado como um elemento simbólico que insere os sujeitos no campo social por meio da
linguagem. A representação dos adolescentes pela instituição contribui para a construção de suas identidades sociais.
Shake escreve nas paredes como uma tentativa de expressar sua experiência subjetiva, incluindo a angústia em relação à
paternidade.
• Importância da abordagem clínico-política na instituição, permitindo que os sujeitos encontrem uma posição de fala e
estabeleçam um novo relacionamento com a linguagem, a instituição e os desafios que enfrentam no contexto dos
muros sociais que os cercam.
A função do semelhante e a responsabilidade em cena o adolescente autor de ato infracional
• O texto aborda a importância das relações interpessoais e da comunicação na construção de laços sociais e na superação de
estigmas associados à vitimização e à criminalização, especialmente no contexto de adolescentes autores de atos
infracionais.
• Os sujeitos não têm fronteiras claras entre seu interior e exterior, e suas representações e identidades variam de acordo com
o reconhecimento e a legitimidade que recebem em diferentes contextos.
• Desde o início da vida, os seres humanos dependem do outro, de seus cuidados e de sua voz para construir seus desejos e
identidades.
• Jacques Lacan adverte que o próximo, ou seja, o semelhante, pode tanto facilitar quanto obstruir a realização dos desejos,
tornando-se uma figura desafiadora em relação ao gozo. Isso levanta questões sobre como o outro atua como suporte para o
bem comum, independentemente de ser um obstáculo ou uma via para alcançar objetivos comuns.
• O texto explora teorias sobre as funções do outro e do semelhante, com base nas ideias de Lacan, usando a análise do
personagem Hamlet como exemplo. Argumenta-se que a realização do desejo de Hamlet não se limita à rivalidade com seu
semelhante, e são apresentadas cenas que ilustram dois tipos de intervenção do outro e do semelhante nesse contexto.
• Destaque pra a importância das relações interpessoais e da compreensão do papel do outro e do semelhante na construção
dos desejos e identidades dos sujeitos, especialmente em contextos complexos como o da adolescência e da delinquência. A
responsabilidade se desenvolve nessas interações e a análise da dinâmica do outro pode auxiliar na compreensão dos
processos sociais e subjetivos.
O semelhante
• O texto aprofunda a importância do reconhecimento do self por meio das relações interpessoais, notadamente
explorando a obra "Hamlet," analisada no contexto do Seminário 6 de Lacan. Em "Hamlet," o protagonista se vê
imerso em um processo que envolve não apenas o desejo, mas também o luto, culminando em ações significativas
em sua jornada.
• No cerne dessa discussão está a noção de que as relações com os outros, em especial aqueles que se assemelham a
nós, desempenham um papel fundamental na construção do desejo e na responsabilização individual.
• O texto vai além da teoria ao apresentar duas situações concretas como exemplos ilustrativos. A primeira envolve um
grupo de adolescentes submetidos a medidas socioeducativas, enquanto a segunda descreve um adolescente
envolvido em um processo de justiça restaurativa após cometer um ato infracional.
• Ambos os casos ressaltam de forma vívida como as interações com os outros têm uma influência significativa na
formação do desejo e na promoção da responsabilização individual.
• Além disso, essas interações desempenham um papel crucial na construção de laços comunitários, realçando assim a
importância das relações interpessoais como alicerces fundamentais na vida dos sujeitos em contextos complexos
como esses.
A função do semelhante em analise das cenas
• Na primeira cena - um grupo de adolescentes submetidos a medidas socioeducativas, que participam de um programa
visando a reflexão sobre suas ações e o estabelecimento de perspectivas para o futuro. No entanto, essa experiência é
marcada por uma atmosfera de hostilidade por parte dos funcionários da instituição, o que, por sua vez, gera
sentimentos de desânimo e desesperança entre os jovens. Nesse contexto, é notável como a hostilidade e a falta de
apoio afetam profundamente a psicodinâmica desses adolescentes.
• À medida que as sessões se desenrolam, os adolescentes começam a destacar elementos de sua identidade, como o
consumo de maconha e o envolvimento em atos transgressores. Entretanto, surge uma oportunidade de construção de
laços entre eles quando começam a refletir sobre como podem ajudar um amigo que está em apuros ou cometendo
erros. Isso abre espaço para a construção de um "ideal do eu" baseado na proteção e no apoio aos amigos, revelando um
aspecto positivo e construtivo em suas interações.
• No entanto, a morte de um amigo rompe abruptamente esse laço emergente, causando um profundo sentimento de
vazio e indiferença entre os adolescentes. O impacto desse evento trágico os retira de uma apatia anterior e gera um
desejo genuíno de construir um destino diferente, afastando-se do uso de drogas. Nesse processo, a presença de uma
psicóloga desempenha um papel fundamental ao testemunhar e apoiar suas tentativas de elaboração do luto e da
transformação.
• Esse processo de transformação pode ser comparado ao drama de Hamlet, no qual o objeto de amor é negligenciado e,
posteriormente, o desejo de cuidar do amigo falecido emerge como uma forma de os outros adolescentes elaborarem o
luto pelo objeto perdido. Isso abre caminho para a formação de novos objetos de amor e desejos.
• Entretanto, é importante notar que a ausência de um suporte discursivo e identificatório adequado na instituição limita o
processo de elaboração dos adolescentes ao campo do imaginário. Isso ocorre devido à hostilidade vivida na instituição,
que impede a articulação de um discurso e identidade mais saudáveis e, consequentemente, dificulta a construção de
laços significativos.
• Na segunda cena, em contraste com a primeira, estamos diante de um cenário que envolve um assalto com uma arma "de
brinquedo." Nessa situação, diferentes redes sociais e afetivas entram em jogo, uma vez que o objeto roubado possui um
valor simbólico considerável. Aqui, a complexidade da relação entre os sujeitos e os objetos torna-se evidente.
• A carta enviada pelo joalheiro ao adolescente, endereçando-o como "um pai para um filho," desempenha um papel
central nessa cena. Essa abordagem desloca o valor do objeto roubado para o valor do próprio sujeito, tratando-o como
uma presença significativa e não apenas como um mero autor de um crime. Isso representa uma mudança importante na
dinâmica entre os sujeitos envolvidos.
• A cena restaurativa subsequente envolve uma reflexão profunda sobre o luto da imagem fálica, e demonstra como a
presença de figuras paternas ou representantes da função paterna pode gerar apoios identificatórios mais profundos e
construtivos. Isso contrasta com a primeira cena, na qual a falta de tais apoios deixou os adolescentes em um estado de
desamparo e indiferença.
• A análise dessas cenas ressalta a importância da construção de laços coletivos e da responsabilização na jornada de
reposicionamento do adolescente em seu processo identificatório e no pacto social. Ela nos lembra que, quando esse
compromisso coletivo não é estabelecido, nenhuma ferramenta ou dispositivo pode sustentar a possibilidade de
responsabilização e transformação. Portanto, a ênfase não deve estar apenas nas ferramentas de trabalho, mas também
no compromisso com a responsabilização coletiva e na construção de laços que apoiam o desenvolvimento saudável dos
sujeitos em situações complexas como essas.
Tempo de concluir
Psicanálise implicada: a dimensão coletiva da elaboração do sofrimento sociopolítico
•É importante considerar a dimensão traumática do sofrimento quando os sujeitos não conseguem construir
um sintoma.
•A autora propõe uma abordagem chamada "clínica do traumático" para lidar com esses casos.
•A experiência analítica pode ajudar o sujeito a recuperar sua dimensão de desejo e resistir à
instrumentalização social do gozo.
•A "psicanálise implicada" busca trazer a psicanálise para o campo dos conflitos sociais e políticos,
reconhecendo o papel do psicanalista como agente de mudança e resistência.