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20 Coleção Pedagógica 12 | Condutas em Cirurgias do HUOL

II PÓS-OPERATÓRIO

João Batista Cosme de Souza Junior


Luís Felipe Revorêdo Antunes de Melo
Larissa Kaline Santana Diniz

1. INTRODUÇÃO

O pós-operatório é o período que se inicia desde a admissão do


paciente no Centro de Recuperação Operatória (CRO) até o com-
pleto restabelecimento do seu estado de saúde. Nesse momento, como
forma de reação ao trauma cirúrgico, o organismo responde através das
respostas endócrina e metabólica no intuito de elevar a capacidade de
responder ao trauma provocado durante a cirurgia.

O cuidado pós-operatório é de extrema importância, pois visa man-


ter o equilíbrio homeostático e metabólico do paciente, preservando sua
capacidade de recuperação. Neste cenário, a dor se configura como um
dos mais importantes sintomas relatados pelos pacientes recém-opera-
dos e o seu controle é fundamental no período pós-operatório.

Dessa forma, vários medicamentos, vias de administração e modali-


dades terapêuticas estão disponíveis para o tratamento eficaz da dor agu-
da, incluindo os agentes analgésicos opioides, drogas anti-inflamatórias
não esteroidais (NSAIDs), paracetamol, dipirona e anestésicos locais.

No que concerne à dor que persiste por um mês além do tempo


previsto para recuperação inicial, denominada síndrome de dor crônica,
as modalidades de tratamento incluem o uso de medicações adjuvantes,
antidepressivos e anticonvulsivantes, bloqueios nervosos, fisioterapia e
tratamento psicológico.

Na reposição de fluídos e eletrólitos (sódio, potássio, cloreto, bicar-


bonato, cálcio, magnésio e fosfato) leva-se em consideração seus níveis
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basais, as perdas calculadas e as necessidades de manutenção.

1.1. Resposta ao trauma

Alterações clínicas e laboratoriais da resposta metabólica ao trauma

ALTERAÇÃO CAUSA
Atonia intestinal Catecolaminas e opioides
Oligúria funcional/ Edema de ferida ADH
Aldosterona, SNG, hiperventilação anestési-
Alcalose mista
ca e associada à dor.
Hiperglicemia Glucagon, cortisol, catecolaminas.
Elevação da temperatura (37,8 °C) IL-1
Anorexia TNF-alfa

2. CUIDADOS PÓS-OPERATÓRIOS

 Sinais vitais;
 Controle da dor;
 Ferida operatória;
 Sondas e drenos (débito diário e aspecto);
 Balanço hídrico (manter diurese entre 0,5 a 1,0 mL/Kg/h);
 Dieta oral precoce, dependente do tipo de procedimento reali-
zado e anestesia utilizada.

Controle da dor aguda

 Dipirona (paracetamol se o paciente for alérgico);


 AINE’s (Tenoxicam, diclofenaco, cetoprofeno);
 Opioides (Tramadol, nalbufina, morfina).
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3. NECESSIDADES DIÁRIAS

Fluídos:

 4mL/kg/h nos primeiros 10 Kg;


 2mL/Kg/h entre 10Kg e 20Kg;
 1mL/kg/h para cada Kg a partir de 20Kg;

Sódio:

 1mEq/Kg/dia (uma ampola de NaCl a 20% tem 34 mEq).

Potássio:

 1mEq/Kg/dia (uma ampola de KCl a 19,1% tem 25mEq).


OBS: Não há necessidade de reposição de ions no 1º dia pós-opera-
tório. Dependerá de evolução pós-operatória do paciente.

Calorias:

 25caL/Kg

4. COMPLICAÇÕES

4.1. Febre

Nas primeiras 72h a febre geralmente não é de origem infecciosa:

 Atelectasia;
 Resposta inflamatória.
Após 72h pensar em foco infeccioso e mesmo antes é importante
procurar foco:
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 Tosse (produtiva ou não);


 Disúria, piúria;
 Checar sinais inflamatórios no acesso venoso (central ou peri-
férico);
 Hiperemia na ferida.

4.2. Complicações pulmonares

Atelectasia

 Fisioterapia respiratória;
 Controle da dor.

Pneumonia

 Considerar como de origem hospitalar;


 Colher culturas;
 Iniciar antibiótico com cobertura para pseudomonas (contactar
CCIH – Comissão Controle de Infecção Hospitalar).

4.3. Complicações cardíacas

Arritmias

 Complicações cardíacas mais comuns, principalmente Fibrila-


ção Atrial (FA) e flutter;
 Tratar inicialmente com drogas; havendo instabilidade hemo-
dinâmica - realizar cardioversão elétrica.

Infarto

 Principal causa de morte de origem cardiovascular no pós-


-operatório;
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 Prevenir com boa avaliação pré-operatória e adequado controle


do paciente durante o ato operatório.

4.4. Complicações da ferida operatória

Seroma

 Acúmulo de soro e linfa no subcutâneo;


 Prevenção com melhor aproximação do subcutâneo e colocação
de drenos;
 Tratamento com aspiração e curativo oclusivo.

Hematoma

 Acúmulo de sangue e coágulos sob a ferida operatória;


 Prevenção com boa hemostasia;
 Os grandes hematomas devem ser drenados. Hematomas pe-
quenos podem ser tratados conservadoramente.

LEITURA COMPLEMENTAR

Fischer JE, Bland KI, Callery MP, Clagett GP, Jones DB, Logerfo FW,
Seeger JM. Mastery of Surgery. 5th ed. Philadelphia: Lippincott Wil-
liams & Wilkins; 2007.

Townsend CM, Evers BM, Beauchamp RD, Mattox KL. Sabiston


Textbook of Surgery: The Biological Basis of Modern Surgical Practice.
18th ed. Philadelphia: Saunders/Elsevier; 2008.

Lawrence VA, Hilsenbeck SG, Mulrow CD, Dhanda R, Sapp J, Page


CP. Incidence and hospital stay for cardiac and pulmonary complications
after abdominal surgery. J Gen Intern Med. 1995 Dec;10(12):671-8.

Montravers P, Veber B, Auboyer C, Dupont H, Gauzit R, Korinek AM,


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et al. Diagnostic and therapeutic management of nosocomial pneumo-


nia in surgical patients: results of the Eole study. Crit Care Med. 2002
Feb;30(2):368-75.

Marquardt DL, Tatum RP, Lynge DC. Postoperative management of


the hospitalized pacient. In: Fink M, Jurkovich GJ, Kaiser LP, Pearce
WH, Pemberton JH, Souba WW. ACS Surgery: Principles and Prac-
tice. 6th ed. New York: B. C. DECKER; 2007.

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