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FACULDADE DE DESPORTO
UNIVERSIDADE DO PORTO

Prof. Doutor Manuel Botelho


NOTA PRÉVIA
A PERSPECTIVA SISTÉMICA do ensino das atividades gîmnicas na
universidade deve ter em linha de conta alguns principios fundamentais que
se prendem com o postulado de que elas não devem ser praticadas (e
ensinadas) como um fim em si mesmo mas, pelo contrário, serem um
instrumento de formação para/dos estudantes não apenas para a ginástica em
si mesmo mas também e sobretudo com transfert para qualquer atividade
desportiva ou para a vida quotidiana:
1º - A alfabetização motora dos estudantes (experiência) quando iniciam a
aprendizagem de qualquer uma das disciplinas dentro de cada
modalidade gímnica;
2º - O modo/perspetiva como o estudante é proposto a executar (ou näo)
qualquer movimento ou habilidade gímnica:
1) — Baseado no regulamentos/regras de funcionamento das
diferentes modalidades gímnicas, por um lado, e análise
biomecânica dos elementos a executar no que concerne à
relaçäo executante (peso/capacídades físicas) e os vários
aparelhos (estrutura material), por outro;
2) — Em termos de plasticidade comportamental (aprendizagem e
controlo motores), isto é, estruturaçäo/enriquecimento
psicomotores do executante no plano bio informacional (aquisição
do saber fazer e também como ensinar) por um lado, e por outro,
transformação de forma dinâmica do estudante, no plano postural
e motor, perante todas as situações inabituais caracteristicas das
diferentes modalidades gímnicas. O estudante deve adquirir uma
estrutura motora (memória motora) capaz de dar resposta nos
diferentes aparelhos ou situaşöes, isto é, aprender a fazer ou
como fazer um apoio invertido será automatizar um gesto
complexo (estrutura do movimento) que depois de apropriado
pelo executante será exequível/ajustável (acomodação) a
qualquer aparelho ou situação.

3º - Ensinar o estudante a compreender as ajudas, sejam elas de índole


material ou humanas, isto é, permitir aos estudantes meios pedagógicos
somato-sensoriais, visuais e auditivos (perceção cinestésìca)no sentìdo de

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saberem colocar o corpo do executante (aluno ou atleta) segundo o esquema
de açäo motora pretendida. Assim pretende-se melhorar o comportamento
motor e também psicológico de quem executa seguindo três princípios: 1) partir
do simples para o complexo; 2) ir do fácil para o difícil; 3) da execuçäo com
ajuda (material e/ou humana) até à forma cada vez mais autónoma.

Tipos de Ajuda
Temos que distinguir dois tipos de ajudas: ajudas materiais, isto é, utilizaçäo
de colchöes ou outro tipo de aparelhos que facilitem a execução de qualquer
habilidade gímnica; e ajudas humanas, isto é, intervençäo do professor ou de
outras pessoas que normalmente serão os colegas de quem executa.
Ajudas humanas
Manipulacăo — como o próprio nome indica, é uma açäo manual do professor
sobre o corpo do executante. Este tipo de ajuda permite colocar o executante
numa boa posişäo sem grande ação da sua parte, levando-o à execução
global do elemento pretendido. Mas nesta fase é importante a participação
ativa do

executante, isto é, ele deve compreender e sentir o que está a fazer (ter uma
boa perceçäo cinestésica e visual do movimento).

Imoulsão — é uma intervenşão junto do executante mas no momento chave da


execuçäo de um elemento, isto é, o executante já sabe fazer mats ou menos a
habilidade pretendida mas devido a fatores vários (físicos e a maioria das
vezes psicológicos) ainda não consegue sozinho ou tern uma postura
defeituosa. Então o professor acompanha a execuçao, mas apenas o ajuda
(“impulsiona”) para provocar maior amplitude ou corrigir a trajetória do corpo
levando a que a habilidade gímnica se torne mais fluida e ajustada.
Parada — este tipo de ajuda é mais de âmbito psicológico, isto é, o executante
já executa sozinho o que se pretende mas precisa da presença do professor
para qualquer eventualidade. Thomas et aI.1989, dá-nos dois tipos de parada:
a passiva, a já mencionada atrás e a ativa, isto é, o tipo de ajuda ou
intervenşão feita quando por qualquer motivo o executante adquiriu maior
velocidade na execuçao e entäo é preciso “parar” e estabilizar o corpo do
executante no final do movimento para que a receçäo seja feita de forma
segura.

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Nota: condicão fundamental da eficácia nas aiudas é nunca ajudar abaixo ou

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apenas na articulação mas sempre acima da mesma e, quando em
principiantes com pouca capacidade física, de preferência sempre nos dois
elementos da articulação e o ajudante deve colocar-se perto do executante
atuando o mais possível junto ao centro de gravidade do executante (ou
mesmo no CG, quando assim for necessário).

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GINÁSTICA ACROBÁTICA

1. Conteúdo Semântico
O termo acrobática é de origem grega AKpÓ§OTOç, de ÀKpoç que significa
ponta, extremidade. ÂKÇO§aTÉuJ, m é “andar nas pontas dos pés”. Assim,
provêm da antiguidade referências à acrobacia (em vasos de cerâmica, baixos
relevos, pinturas murais, etc.) como fazendo parte de festividades (no antigo
Egipto, China e América do Sul) ou de espetáculos (Grécia e Roma). É prova
disso o fresco Bull-Sports de Knossos (1500-1450 a.C.) encontrado na ilha de
Creta e que se encontra no museu Herakleion.
É a partir da Roma Antiga que esta atividade mais se espalha devido aos
números de acrobacia feitos principalmente nos circos, local privilegiado dos
espetáculos populares. Com o alargamento do Império Romano dá-se também
a sua expansão através da Europa sendo normal as acrobacias individuais, a
dois ou a três e de grupos, nas feiras, festas populares ou solenidades estatais.
Esta atividade toma-se desporto e desenvolve-se extraordinariamente no séc.
XX, sobretudo nos países do leste europeu, realizando-se a primeira
competição na Rússia em 1939 com 90 participantes masculinos, a nível
nacional, constando de “Tumbling” (exercícios de tapete), pares e pares-
duplos. No ano seguinte passaram a participar também mulheres.
A federação responsável pela Ginástica Acrobática começou por ser a
International Federation of Sports Acrobatics (IFSA), mas presentemente a
Ginástica Acrobática passou a fazer parte da Federação Internacional de
Ginástica (FIG).

1.1 A Ginástica Acrobática na escola


A forma tradicional como normalmente é abordada a ginástica na escola,
sobretudo a Ginástica Artística, leva muitas vezes à desmotivação dos nossos
alunos. Com efeito, a prática gímnica solicita permanentemente situações
inabituais da vida real onde predominam, por exemplo, a posição invertida, o
equilíbrio num pé ou numa das mãos, fases aéreas, figuras estáticas ou
dinâmicas tanto coreográficas como acrobáticas, etc. Não se pode

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menosprezar o facto de que o homem está habituado a um referencial de
bipedia organizado da cabeşa para os pés e suportada pela vigilância
(tonicidade) dos músculos anti gravitários e pela sensibilidade viso vestibular.
«O homem durante os dois terços da sua vida está na posişão vertical. Durante
o terço restante, está na posição horizontal, mas este terço corresponde ao
sono (...). Portanto, a posição fundamental do ser humano é de pé» (Bonnet,
1983, p. 45). «Ora, os desportos gímnicos ao colocarem o indivíduo em
situaşões sistematicamente inabituais obrigam-no a uma reorganização bio
informativa tanto no plano postural como motor. Além disso, contrariamente à
grande maioria dos desportos coletivos e individuais, a falta de êxito da
execução arrasta quase sempre o rìsco de acidentes comprometedores. Na
verdade, a posição de pé nos desportos gímnicos é quase sempre passageira
sendo a maior parte das vezes a partida e a chegada de gestos complexos
executados com ou sem rotaçäo do corpo» (Botelho, 1998, p.40).
Portanto, a eficácia do gesto gímnico está dependente não apenas de leis
biomecânicas (relação dinâmica do peso/força do praticante e a estrutura
própria dos diferentes aparelhos) mas, fundamentalmente, assenta na
adaptabilidade do indivíduo às situaçöes que se Ihe deparam: perceber a cada
instante, quer parado quer em rotaçăo ou suspensão, qual a postura
coordenada mais idónea (adaptável) aos pontos de apoio ou rotações no
espaço permitindo uma grande independência na mobilidade de diferentes
partes do corpo (Botelho, 1998) Ora, tudo isto é fruto de uma aprendizagem
sistematizada que, para levar à otimização de execução, exige uma atividade
preceptiva permanentemente reguladora das condutas motoras. A ginástica
demonstra o domínio mais perfeito do corpo, ora em movimento nos aparelhos,
ora em atitudes ou posições imóveis de forşa ou equilíbrio (Thomas e cols.,
1989).
A GA é fácil de abordar junto dos alunos porque o seu desenvolvimento
assenta nas seguintes premissas: necessidade reduzida de material a utilizar
(alguns tapetes são suficientes para a sua iniciaçäo), praticamente acessível a
todo o tipo de alunos (qualquer idade e morfotipo), ser fácil implementar
programas competitivos simples muito acessíveis desde os primeiros anos de
prática e é uma modalidade interessante em termos cénicos (exibişões ao ar
livre, em espetáculos de dança, de teatro ou festas populares, recorrendo a
pirâmides ou outros exerclcios). Contrariamente às outras modalidades

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gímnicas, a GA, além de ter uma prática mais concentrada numa única
disciplina e não dispersa por vários aparelhos, permite também que os ginastas
(alunos) desenvolvam a sua prática de uma forma não cingida ao estereotipo
dos desportos individuais, mas sim em permanente cooperação com outros
atletas (alunos) (Nissen, 1991), num processo de maior sociabilizaçäo
sobretudo nos escalões etários mais baixos.

Outra característica importante é o facto de esta modalidade assumir um


carácter menos individual que outras disciplinas gímnicas, fazendo apelo à
cooperação e entreajuda entre colegas onde se exige a colaboraşäo de dois,
três, quatro (na competiçäo formal) ou mais parceiros (pirâmides de cinco, seis,
sete, oito e mais elementos).
A GA proporciona aos seus praticantes/ginastas um trabalho coletivo, pois os
que têm estaturas maiores, mais pesados ou mais fortes, podem desempenhar
as funçöes de suporte (base), enquanto os considerados mais talentosos ou
mais ágeis e mais pequenos, desempenham normalmente o papel de volante,
cabendo a estes a execução da maior parte das destrezas (Labeau, 1993).
Outro aspeto a considerar diz respeito à possível e relativa longevidade dos
seus ginastas/praticantes (e das suas classes de competişão ou de exibiçäo —
por ex., as gìmnastradas), fazendo com que esta atividade desportiva näo se
esgote em “meia dúzia” de ginastas e se mostre flexível na sua utilizaşão
(Fodero e Furblur, 1989).

1.2 Objetivos da GA na escola


No intuito de facultar aos nossos alunos uma abordagem a uma modalidade gímnica
desportiva torna-se importante definir objetivos.
-Gerais:
- Elevar o nivel das capacidades condicionais e coordenativas;
- Promover a cooperação numa relação interpessoal saudável;
- Desenvolver a autoestima, coragem e determinação;
- Proporcionar a criatividade e espírito de iniciativa através da construção de novos
elementos ou figuras;
- Criar e desenvolver um sentido estético na elaboração de esquemas e rotinas;
- Despoletar e criar a noção de responsabilidade quer nas execuções, quer nas ajudas
aos companheiros, preservando as condições mínimas de segurança;
- Gerir quer o espaço, quer o tempo disponíveis para esta atividade;
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- Vivenciar ao máximo situações inabituais que também levem os alunos a perder o
medo e a desenvolver a coragem.

- Específicos:
- Ser capaz de compreender e também desempenhar funções de “base" ou "volante;
- Executar muito bem a técnica das pegas, os "montes” e os “desmontes";
- Ser capaz de sustentar tanto o próprio corpo, como o do colega, em posturas
estáticas e/ou dinâmicas;
- Desenvolver cada vez mais o equilíbrio tanto nas figuras simples como nas mais
complexas, isto é, na posição “base (de pé com os membros inferiores
afastados e semifletidos), de joelhos, em decúbito dorsal, etc.

1 . 3 Princípios metodológicos
A lógica da GA é um desafio e ao mesmo tempo provocação permanente ao
desequilíbrio do corpo do executante, quer individualmente quer em grupo, em
posturas estáticas e dinâmicas. Por isso, se torna evidente dizer que os
desportos gímnicos, ou seja, a Ginástica Artística, Acrobática, Aeróbica, o
Tumbling e os Trampolins (um pouco menos a Ginástica Rítmica), são
desportos de risco calculado. Assim é, porque a postura do corpo tanto em
apoio como em movimento, obriga o executante a um controlo preciso das
variações que essa postura sofre quando executa qualquer exercício ou rotina
(conjunto de elementos gímnicos e acrobáticos). Também podemos afirmar
que o corpo de um praticante ou ginasta na execução de figuras e elementos,
sobretudo os acrobáticos, está sujeito a um sistema de aferências (a partir de
estímulos visuais, tátilo quinestésicos e labirínticos) e processamento de
informações organizadas e programadas segundo uma lógica de relação
recíproca. Por isso notamos que, numa perspetiva meramente formal e não sob
um prisma de execução técnica, o corpo do ginasta parece desafiar
constantemente as leis da gravidade, quer em apoio, quer em movimento com
fases aéreas, e normalmente em situações não habituais da bipedia típica do
normal ser humano. Mas para chegar a um alto nível de execução, o
praticante ou o atleta de qualquer disciplina gímnica exerce sempre a sua
atividade entre dois polos sinérgicos: aprendizagem/treino dos elementos
(gímnicos, acrobáticos, coreográficos, etc.) e exercitação constante das suas
capacidades motoras e volitivas (sobretudo na competição de alto rendimento).

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Se a Ginástica Acrobática (GA) é uma disciplina acrobática onde o risco calculado
(díade tomada de risco — domínio do risco) é uma constante, como já foi atrás dito,
torna-se entáo necessźrio ter uma noçao constante de seguranşa.
Com efeito, o interesse do aluno por este tipo de atividade passa pela forma como o
professor intervém no processo de ensino/aprendizagem, porque tal interesse é uma
forte motivação quer para quem aprende, quer para quem ensina. Em qualquer
atividade é fundamental estimular o interesse natural do aluno para o desconhecido,
para a novidade ou para o gasto da aventura.
Assim torna-se importante organizar este tipo de atividade respeitando determinado
número de princípios. Ora na GA o êxito perante tão grande variedade de situações e
figuras possíveis de executar permite que os alunos, aumentando a componente
motivacional, se empenhem cada vez mais e possam atingir um razoável índice de
desempenho.
Antes de mais, é importante adequar o material (tapetes e outros aparelhos de ajuda)
em função quer das etapas de aprendizagem, quer das capacidades dos executantes.
Numa palavra, a ajuda material deve estar adequada à ajuda humana, isto é, por
exemplo, no início das aprendizagens, o(s) ajudante(s) devem estar à altura do(s)
“volante(s)” a fim de participar(em) eficazmente no apoio (ajuda de manipulaçäo)
conjuntamente com o(s) "base(s)” (o risco está sempre associado à distância entre o
corpo do executante e o solo) — é importante evitar a associação do medo à alteração
emocional que invade alguns principiantes, sobretudo nas posições invertidas. Por
outro lado, é muito importante, nos primeiros niveis de prática, o respeito pelas
funções de cada um, isto é, o “base” é sempre a garantia da execução dos elementos
em segurança por parte do "volante".
Princípio básico a respeitar, é o facto de o professor/treinador dar particularmente
atenção ao primeiro contacto entre parceiros, altura onde se gera a confiança mútua
entre eles, quando os seus corpos contactam entre si, numa reciprocidade de
captação/assimilação de informações extero e propriocetivas (constituição de uma
comunicação energética de interação motora). Então, respeitando a Iógica dos
princípios de ensino/aprendizagem das tarefas motoras mais ou menos complexas
como são todos os desportos acrobáticos, deve começar-se por execuções no solo e
só depois fazer montes, isto é, assegurando-nos dos requisitos de base,
estabelecemos progressões de aprendizagem partindo do trabalho individual inicial
(com ou sem aparelhos de ajuda) para as pirâmides estáticas (e,quiIibrios) ou
dinámicas (com fases aéreas).
É importante começar por exercícios simples de equilîbrio aos pares, contra
equilibrios (“forças combinadas"), montes e desmontes simples (com ajuda de um companheiro ou
material disponível do ginásio) e passar posteriormente para tarefas

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envolvendo mais executantes utilizando as pirâmides (3, 4 ou mais elementos) — nas
aulas de Ginástica Escolar, de preferência mais para o fim da aula.
Portanto, conforme se vai desenrolando a aquisição das habilidades motoras
fundamentais, devem propor-se tarefas mais complexas. Contudo, recomenda-se que
a partir de uma determinada etapa os alunos devem constituir-se em grupos mais ou
menos fixos, de acordo com a sua disponibilidade/capacidade motora, organizando as
atividades com objetivos e normas bem definidas.
Uma questão de realce na execução das figuras é a comunicação constante que deve
sempre existir entre os intervenientes em ação pois é exigida uma sincronização na
execução das tarefas. Convém definir desde o infcio quem lidera ou exerce a voz de
comando tanto nos montes (entradas), como nos desmontes (saídas) ou em cada fase
da figura: estas instruções podem ser palavras de ordem, sinais previamente
combinados ou simples contagens numéricas.
Por último, o professor/treinador tem de ser capaz de saber analisar os fatores de
insucesso que impedem alguns alunos de participar ou estar motivados. Geralmente,
esses fatores são o medo das alturas, dificuldade no controlo do corpo em situações
de equilíbrio e, por vezes, possíveis dores de cabeça e/ou tonturas e náuseas,
sobretudo nas posições invertidas.

1.3.1 Perspetiva sistémica no ensino da Ginástica Acrobática na escola


Embora possamos adotar na escola a metodologia aqui encarada, no nosso caso,
vamos reportar-nos ao ensino universitário. Com efeito, aprender não é estereotipar
mas sim adquirir conhecimentos aplicáveis (principio da transferência) em diferentes
contextos, isto é, aprender um elemento não é uma mecanização de gesto ou
habilidade gímnica, mas sim desenvolver e estruturar a memória motora capaz de
permitir ao praticante ou ao ginasta lançar mão de uma estratégia de resolução dos
problemas que os diferentes aparelhos/situações colocam. Concretamente, por
exemplo, o apoio invertido, vulgarmente conhecido por pino, pressupõe uma estrutura
interna/externa de movimento com a sua complexidade: sistema de referências viso
espaciais e tátilo ouinestésicas diferentes da posição normal bípede (corpo de cabeça
para baixo), imgulsão dos membros inferiores e contracão isométrica (vulgarmente
conhecida por tonicidade) do corpo em equilíbrio estático e seqmentos corporais
alinhados na vertical (noção da bacia sobre apoio manual, contrariamente ao habitual
da vida diária que é sempre em apoio pedal).

1.4 Tipos de pegas


As pegas na GA são de primordial importância pois são utilizadas durante todas as
fases de execução. As mais usuais são as seguintes:

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Pega simples (fig.1) — esta pega é das
mais usadas, quer o volante esteja de
frente, de Iado ou de costas para o base.
Mão com mão, o indicador e o dedo médio
prendem no punho do colega dando
estabilidade, visto que é mais dificil que a
pega escorregue. Existe também a pega
simples dupla cruzada (fig.2).

O uso da pega simples nos apoios invertidos, por exemplo, é justificado pela
superfície de apoio que oferece ao volante e permite que o base ajude a controlar
o equilíbrio do volante na posição. Por vezes, o base opta por colocar o indicador
ou este e o dedo médio ao Iogo do punho, direccionados para o cotovelo do
volante.

Pega frontal (Fig.3) — é utilizada quando


os ginastas se encontram de frente um
para o outro, mão direita do base agarra a
mão direita do volante. Também se podem
utilizar as variantes da fig.3.1, sobretudo
nas classes principiantes, e da fig. 3.2,
quando o volante está de costas.

Fig. 3
Fig.3.1 Fig. 3.2

Pega de pulsos (fig.4) — existem várias


utilizações para este tipo de pega, mas
normalmente é utilizada para manter
posições estáticas e ao nível de iniciação
para puxar o volante, havendo também
pega dupla de pulos (fig.5).
fg 5

Pega facial transversa (fig.6) — é usada


nas posições de frente um para o outro,
colocando os punhos a 90º. Esta pega é
muito pouca utilizada.

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Pega de dedos (fig.7) — é pouco utilizada
fig 7 e, normalmente, só em posições estáticas,
havendo também a pega dupla de dedos
(fig.8) .

Pega de cotovelos (fig.9) — é utilizada


quando os ginastas se encontram
frente a frente. Um dos ginastas agarra
acima do cotovelo do colega, pelo lado
de fora, e o outro agarra acima do
cotovelo, pelo lado de dentro.

Pega de braços (fig.10) — é utilizada


principalmente para suporte em posições
invertidas. O base agarra o ombro do
volante junto do deltóide e do biceps,
enquanto que o volante agarra o braço do
base na zona do tricípite.
fig. 10

Pega de pé/mão (fig.11) — esta pega


é utilizada para suporte do volante em
posições estźticas e dinâmicas,
podendo ser feita de frente (fig.11) ou
de costas (fig.12).

fig.1 I fig.12 a) b)

c)

Pega mão/cabeça (fig.13) — este tipo


de pega é utilizado normalmente nas
figuras de equilíbrio, sobretudo nos
pares masculinos e nas quadras. Às
vezes as mãos podem aparecer
sobrepostas.
œ
Formas de im ulsionar o volante - as pegas mais usadas nas projeçöes/dinâmicos

a) Pega pé/mao — (anteriormente referida) preferencialmente usada nas projeções nos


esquemas de pares. Fig. 11 e 12

b) Pega de apoio ou estafa (Fig.14) — posição das mãos do base. O


volante deve apoiar o terço anterior do pé nas mãos do base. Pode ser
usada em qualquer par/grupo. Nos trios e, por vezes nas quadras, a
projeção é feita por dois bases, sendo que o volante apoia um pé em
cada base.

Fig. 14 a) b)

c) Pega entrelaçada (Fig.15) - também


conhecida por "cadeirinha", é utilizada em
exercícios de grupo. Nas quadras, por vezes
o outro base ou intermédio pode ajudar na
projeção, impulsionando com as duas mãos
por baixo da "cadeirinha", permitindo assim
que o volante atinja uma altura mais
elevada.

Fig.15

O volante pode ser projetado a partir de sentado, decúbito dorsal ou ventral ou

entâo a partir de apoio invertido.

d) Pega de Braços alternados (Fig.16) — utilizada também em


exercícios de grupo quer para projeções (por ex. a partir de
decúbitos) quer nos catches.

Manuel Botelho
Fig.16

1.5 Considerações gerais sobre a competição na Ginástica Acrobática:


A GA O apresenta cinco disciplinas: Pares Femininos; Pares Masculinos; Pares
Mistos; Grupos Femininos (Trios) e Grupos Masculinos (Quadras).
Os ginastas de um par/grupo devem executar três exercícios: Equilíbrio,
Dinâmico e Combinado. O exercício de equilíbrio valoriza os elementos
estáticos. O exercício Dinâmico é mais ativo e com elementos de
lançamentos
com voos do parceiro. O Exercício Combinado, como o seu próprio nome
indica, envolve elementos dos dois anteriores. Todos são executados com
música e com coreografia. Os exercícios de equilibro são constituídos por
elementos em que se evidencie a manutenção do equilíbrio (apoios faciais
invertidos, pranchas, de pé, etc.), sempre em contacto entre os parceiros,
durante um período de tempo preestabelecido (no atual código de pontuação a
duração de cada elemento será de 3”), procurando obter a manutenção da
estabilidade do centro de gravidade (Barker, 1980). Estes exercícios podem
dividir-se em manutenções e exercícios de transição. Nas manutenções a
posição de equilíbrio definida é igual de início ao fim, e nas transições a
posição inicial do volante, do base ou dos dois, evolui de uma inicial para outra
final. Os exercícios dinâmicos são constituídos por elementos em que existe,
obrigatoriamente, uma fase de voo. Podem ser divididos em 5 categorias: 1 -
Início e final sobre o parceiro (catch); 2 - Início no solo e final sobre o parceiro
(catch); 3- Início sobre o parceiro e final no solo (desmonte); 4 - Início sobre o
parceiro e final no solo, após um breve contacto no parceiro (desmonte); 5 -
Início e final no solo, após um breve contacto no parceiro (dinâmico puro). O
exercício combinado é constituído por uma combinação das características
enunciadas para os outros exercícios.
Os exercícios devem obrigatoriamente ter acompanhamento musical, essencialmente

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instrumental, durante 2,30 minutos. A voz pode ser um dos instrumentos usados,

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contudo está interdito o uso de palavras precetivas.
Em todos os exercícios (dinâmico, equilíbrio e combinado) os constituintes de cada
par/grupo devem ainda apresentar a execução mínima de 4 elementos individuais
(podendo ser um deles coreográfico) e de 6 posições de par/grupo. Os grupos, quer
femininos (trios) quer masculinos (quadras), têm que apresentar no mínimo 2
pirâmides diferentes com 3 manutenções mantendo-se a obrigatoriedade de
executarem 6 exercícios dinâmicos tal como nos pares.
Os exercícios devem ser executados num praticável de 12 X 12 metros. Apenas é
permitida a colocação de colchões de segurança nos exercícios de equilíbrio em
grupos masculinos, devido à elevada altura que as pirâmides elaboradas pelos atletas
podem atingir, sobretudo no caso das colunas em que se podem colocar os quatro
atletas em pé (nos ombros uns dos outros).
Em todos os esquemas há restrições e obrigações para a construção dos mesmos
(Ver Tabela). Apenas alguns exemplos: obrigações - a execução de dois mortais como
elementos individuas nos exercícios dinâmicos, a execução de um apoio invertido nos
exercícios de equilíbrio por parte do volante, etc.; restricões — não é permitida a
repetição de qualquer elemento, os grupos femininos não podem repetir uma pirâmide
de categoria 1, etc.

1.6 6 A GA em Portugal
O aparecimento da GA no nosso país remonta ao que na altura se designava por
ginástica de “forças combinadas". São disto exemplo as manifestações gímnicas
(“Ginástica Demonstrativa" hoje conhecida por “Ginástica de Grupos") protagonizadas
pelo Professor de Educação Física Robalo Gouveia (primeiro presidente da Federação
de Ginástica de Portugal (FGP)) e Moura e Sá (Professor no antigo INEF, hoje FMH-
UTL), respetivamente, através das classes de ginástica do Instituto Militar dos Pupilos
do Exército e do Ginásio Clube Português. Poderemos considerar estas classes de
ginástica como precursoras da prática da modalidade no nosso país. Todavia, só em
1982 apareceu em Portugal a modalidade de uma forma integrada na Federação
Portuguesa de Ginástica (hoje FPG) e sob o nome de Ginástica Acrobática. Com
efeito, o presidente da FPG, Prof. Robalo Gouveia, enviou à Bulgária o treinador de
Tumbling do Alhandra (Eng. Mota), onde fez um estágio que serviu de base às
primeiras ações de formação em Lisboa e Porto (tive oportunidade de pertencer ao
grupo de treinadores que participou na ação realizada no Porto, no ginásio do antigo
ISEF, hoje FADE-UP) sobre a divulgação desta modalidade desportiva. A partir daqui
todo o processo de desenvolvimento da GA se orientou na utilização do regulamento
internacional, embora no início estivesse cingida a programas adaptados para os

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ginastas de nível técnico menos avançado existentes na época, segundo as
sensibilidades emergentes e predominantes em cada fase do crescimento desta
atividade (FPG, 1983). É disto testemunho o que foi apresentado em 1982 onde, um
conjunto de posições obrigatórias, deu o mote à primeira abordagem regulamentar
nacional ao que viriam a ser os Desportos Acrobáticos em Portugal: Tumbling e
Ginástica Acrobática. No entanto, foi o Plano de Progressão de 1983, da ainda FPG,
que definiu os exercícios em cada uma das disciplinas, dividindo as diferentes
categorias e permitindo os primeiros contactos internacionais (a princípio apenas
cingidos ao Tumbling ) que começou a haver urna orientaçăo de todos os agentes da
modalidade. Através da participação em Tumbling nas provas europeias, na altura
com seleções onde predominavam ex-ginastas da Ginástica Artística, os treinadores e
dirigentes da FPG começaram a observar o que se fazia nas provas internacionais,
permitindo uma estruturaçăo nesta modalidade com um nova Plano de Progressão em
1989 que deve muito ao trabalho implementado pelo Prof. J. Fernandes. No Plano de
Progressão de 1983 estavam definidos 6 níveis de progressão para os ginastas com
as notas que eles deveriam atingir para transitar de nível e os elementos que deviam
ser incluídos nos exercícios de pares/grupos. Para os 2 primeiros níveis (iniciação) era
exigido um exercício combinado e para os outros 4 níveis era necessário executar um
exercício de equilîbrio e outro dinâmico. No Plano de 1989 foram apresentados cinco
niveis de progressão, mantinha o sistema de notas de passagem de nível e os
elementos de pares/grupos e individuais, ainda que obrigatórios, apresentavam um
sistema de alternativas que permitia uma maior flexibilidade na evoluçăo técnica de
cada ginasta. Assim, no nível de iniciação era exigido apenas um esquema
combinado, ao contrário dos outros 4 níveis onde era obrigatório executar um
exercício de equilíbrio e outro dinâmico.
De notar que nessa altura os Pianos de Progressão, tanto na Ginástica Artística (na
altura denominada Ginástica Desportiva) como na Ginástica Acrobática, eram
baseados em programas de outros países, nomeadamente das Progressões
Pedagógicas da Federação Francesa de Ginźstica. Quando a modalidade passou a
fazer parte da Federação Portuguesa de Trampolins e Desportos Acrobáticos (FPTDA)
o salto qualitativo deu-se de forma mais evidente: em 1994 é apresentado um
Programa com normativas e orientações específicas, embora os escalões etários
ainda não fossem coincidentes com o Programa da IFSA (federação que tutelava a
Ginástica Acrobática nessa altura). Hoje, a Federação Internacional de Ginástica (FIG)
rege os destinos da GA, e em Portugal, com a extinção da FPTDA, esta modalidade
está sob a alçada da FGP, que estabelece um Regulamento nacional de provas.
Existem atualmente 4 escalões: - Seniores, Juniores, Juvenis e lnfantis, dos quais se
subdividem Categoria A e B nos escalões Seniores e Juniores. As competições
Manuel Botelho 16
nacionais enquadram somente os escalões Seniores, Juniores e Juvenis, sendo da
responsabilidade das Associações regionais a organização e regulamentação do
escalão de Infantis.
Por ano organizam-se 6 eventos nacionais, a saber : - Torneio de Abertura, Torneio da
Primavera, Prova Qualificativa, Campeonato Nacional A, Campeonato Nacional B e
Taça.
A GA está disseminada por todo o território nacional notando-se uma
preponderância de clubes na zona litoral. (por exemplo: Zona Norte — Acro
Clube da Maia, Ginásio Clube Vilacondense e Sport Clube do Porto; Zona
Centro — Associação Académica de Coimbra e Ginásio Clube de Tomar; Lisboa
— Ginásio Clube Português e Grupo Dramático e Sportivo de Cascais e Zona
Sul — Louletano Desportos Clube e Gimnofaro Ginásio Clube).

ALGUNS ELEMENTOS BASE

Posturas e alguns elementos de ligação

Manuel Botelho
APOIO INVERTIDO

Manuel Botelho
DEC0U\/żU EXRODER

VOD8tED

AFFINEt

ADOlOINVEDTDO
8QUltUD|O

HAT?!/D ELADG COY48XV?D,ZNCHANE

Manuel Botelho 19
RODA

DEC0UYšI8 J0UEî

EtAżGI2, COMPŁEXIFIEt ENCHAlNEî

Manuel Botelho 20
Manuel Botelho
RONDADA

RONDADA

Manuel Botelho
ALGUNS EXERCÍCIOS SIMPLES DE EQUILÍBRIO (iniciação)

Manuel Botelho
ELEMENTOS DE EQUILIBRIO (BASICOS)

Manuel Botelho
PEQUENAS LIGAÇÕ ES

20

l8

(Adaptado de FFG-Acrosport, 2003)

Manuel Botelho
MONTES SIMPLES (para os ombros)

Exercícios Metodológicos

Meia coluna ventral, monte com '/• de volta

Manuel Botelho
DESMONTE

Meia coluna (dorsal)

ou por salto

Exercícios metodológicos

Manuel Botelho
PROJECÇÕES E ELEMENTOS EM VOO

Manuel Botelho
Mortal atrás engrupado
a) Partindo de sentado

b) De pega de estafa

Manuel Botelho
Manuel Botelho
ELEMENTOS SIMPLES DINÂMICOS

RODA

Manuel Botelho 31
SALTO de MÃOS

FLIC FLAC

ROLAMEHTO (“tank ou cremalheira")

Manuel Botelho 32
EXEMPLOS DE PIRAMIDES

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Manuel Botelho 34
Manuel Botelho 35

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