As alegações finais, na forma oral ou por memoriais, constituem
peça defensiva de extrema importância no processo penal, considerando que são a última manifestação da defesa - logo após a última manifestação da acusação - antes da prolação da sentença.
O advogado criminalista deve estar muito atento em todo o
desenrolar processual, e deve primar por manifestações precisas e de qualidade, mas sem dúvida alguma, nas alegações finais, o profissional deve dedicar o máximo de tempo e de atenção.
Nas alegações finais, também denominadas memoriais, chega o
momento do defensor fazer uma síntese dos fatos, apontar nulidades, trabalhar as teses de absolvição de forma inteligente e concluir com pedido de absolvição. Desta parte em diante só restará a sentença, e em caso de derrota para seu cliente, recorrer.
A partir de 2008, com as alterações trazidas pela Lei 11.719, as
audiências de instrução que antes serviam para ouvir testemunhas, informantes, peritos, e interrogatório dos réus, agregaram a possibilidade de ao final da instrução processual, as alegações finais ocorrerem de forma oral.
Segundo o art. 403 do CPP, não havendo pedido de diligências ou
tendo sido as mesmas indeferidas, cumpre às partes a oferta oral de alegações finais, na seguinte ordem: Ministério Público (por 20 minutos prorrogáveis por mais 10), assistente de acusação (por 10 minutos) e defesa (por 20 minutos prorrogáveis por mais 10).
Neste sentido, torna-se fundamental, o advogado preparar-se muito
bem para estas audiências de instrução e julgamento, pois tem a vantagem de estarem concentrados no processo em questão e, ter domínio de todo o processo e saber exatamente como finalizar sua participação antes da sentença. O segredo para isso? Estudar todos os detalhes do processo, preparar a relação de nulidades a serem questionadas e ter a certeza das teses defensivas que deverão ser lançadas nas suas palavras.
Há possibilidade de o juiz, devido à complexidade do caso ou ao
número de acusados, substituir o debate oral pela oferta de memoriais por escrito, no prazo de cinco dias para cada parte, conforme dispõe o § 3º do art. 403 do CPP.
Sendo as alegações finais substituídas por memoriais escritos, a
peça processual acusatória virá muito mais elaborada, pois houve tempo para isso, então o trabalho dos defensores deve ser também de excelência técnica, tendo sempre o olhar voltado para o mais importante do processo penal para a defesa, a absolvição.
Nas alegações finais, a defesa deve expor eventual causa extintiva
da punibilidade, como prescrição, decadência, perempção ou abolitio criminis. Também devem integrar as alegações finais eventuais preliminares de nulidade, como a violação ao art. 212 do Código de Processo Penal, a realização de alguma interceptação telefônica ilegal ou o cerceamento de defesa, bem como a ordem prevista no art. 400 do CPP.
No mérito, a defesa precisa examinar o arcabouço probatório e
tratar da autoria e da materialidade. É o momento de não apenas expor o que cada testemunha afirmou no inquérito ou durante a instrução, mas também fazer um cotejo entre as várias versões expostas nos depoimentos, comparando depoimentos das testemunhas e diferentes depoimentos da mesma testemunha.
É recomendável que a defesa faça um exame individualizado dos
elementos do crime (fato típico, ilicitude e culpabilidade), argumentando, por exemplo, sobre a ausência de dolo, culpa, tipicidade formal/material, resultado, nexo causal, imputabilidade, potencial consciência da ilicitude do fato e exigibilidade de conduta diversa, assim como a presença de alguma excludente de ilicitude. Ainda nas alegações finais, é importante elaborar teses subsidiárias, que deverão ser analisadas pelo julgador, ainda que contraditórias. Assim, são cabíveis teses como a desclassificação do roubo para o furto ou da tentativa de homicídio para a lesão corporal simples.
Na mesma linha, são pertinentes e necessários os pedidos de
acolhimento de atenuantes e causas de diminuição de pena, assim como os de afastamento de qualificadoras, agravantes e causas de aumento de pena.
Também poderá arguir sobre o regime inicial de cumprimento da
pena e a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, sendo aplicáveis, como conduta social, personalidade, motivos, circunstâncias, consequências do crime e comportamento da vítima (art. 59, III e IV, do Código Penal), de modo semelhante à suspensão condicional da pena (art. 77, II, do Código Penal).
Da mesma forma, a defesa também pode considerar manifestar-se
sobre a dosimetria de eventual pena de multa, quando cabível.
Dependendo do crime, também é imprescindível que a defesa se
manifeste sobre o direito do réu de recorrer em liberdade, tenha ou não permanecido preso cautelarmente durante o processo.
Em suma, essas são algumas questões que podem ou devem ser
ventiladas nas alegações finais em processos criminais.