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ALEGAÇÕES FINAIS EM MEMORIAS

CÓDIGO DE PROCESSO PENAL


Prof. José Passos - 13.03.2021

As alegações finais, na forma oral ou por memoriais, constituem


peça defensiva de extrema importância no processo penal, considerando que são a
última manifestação da defesa - logo após a última manifestação da acusação -
antes da prolação da sentença.

O advogado criminalista deve estar muito atento em todo o


desenrolar processual, e deve primar por manifestações precisas e de qualidade, mas
sem dúvida alguma, nas alegações finais, o profissional deve dedicar o máximo de
tempo e de atenção.

Nas alegações finais, também denominadas memoriais, chega o


momento do defensor fazer uma síntese dos fatos, apontar nulidades, trabalhar as
teses de absolvição de forma inteligente e concluir com pedido de absolvição. Desta
parte em diante só restará a sentença, e em caso de derrota para seu cliente, recorrer.

A partir de 2008, com as alterações trazidas pela Lei 11.719, as


audiências de instrução que antes serviam para ouvir testemunhas, informantes,
peritos, e interrogatório dos réus, agregaram a possibilidade de ao final da instrução
processual, as alegações finais ocorrerem de forma oral.

Segundo o art. 403 do CPP, não havendo pedido de diligências ou


tendo sido as mesmas indeferidas, cumpre às partes a oferta oral de alegações finais,
na seguinte ordem: Ministério Público (por 20 minutos prorrogáveis por mais 10),
assistente de acusação (por 10 minutos) e defesa (por 20 minutos prorrogáveis por
mais 10).

Neste sentido, torna-se fundamental, o advogado preparar-se muito


bem para estas audiências de instrução e julgamento, pois tem a vantagem de
estarem concentrados no processo em questão e, ter domínio de todo o processo e
saber exatamente como finalizar sua participação antes da sentença.
O segredo para isso? Estudar todos os detalhes do processo,
preparar a relação de nulidades a serem questionadas e ter a certeza das teses
defensivas que deverão ser lançadas nas suas palavras.

Há possibilidade de o juiz, devido à complexidade do caso ou ao


número de acusados, substituir o debate oral pela oferta de memoriais por escrito,
no prazo de cinco dias para cada parte, conforme dispõe o § 3º do art. 403 do CPP.

Sendo as alegações finais substituídas por memoriais escritos, a


peça processual acusatória virá muito mais elaborada, pois houve tempo para isso,
então o trabalho dos defensores deve ser também de excelência técnica, tendo
sempre o olhar voltado para o mais importante do processo penal para a defesa, a
absolvição.

Nas alegações finais, a defesa deve expor eventual causa extintiva


da punibilidade, como prescrição, decadência, perempção ou abolitio criminis.
Também devem integrar as alegações finais eventuais preliminares de nulidade,
como a violação ao art. 212 do Código de Processo Penal, a realização de alguma
interceptação telefônica ilegal ou o cerceamento de defesa, bem como a ordem
prevista no art. 400 do CPP.

No mérito, a defesa precisa examinar o arcabouço probatório e


tratar da autoria e da materialidade. É o momento de não apenas expor o que cada
testemunha afirmou no inquérito ou durante a instrução, mas também fazer um
cotejo entre as várias versões expostas nos depoimentos, comparando
depoimentos das testemunhas e diferentes depoimentos da mesma testemunha.

É recomendável que a defesa faça um exame individualizado dos


elementos do crime (fato típico, ilicitude e culpabilidade), argumentando, por
exemplo, sobre a ausência de dolo, culpa, tipicidade formal/material, resultado,
nexo causal, imputabilidade, potencial consciência da ilicitude do fato e
exigibilidade de conduta diversa, assim como a presença de alguma excludente de
ilicitude.
Ainda nas alegações finais, é importante elaborar teses
subsidiárias, que deverão ser analisadas pelo julgador, ainda que contraditórias.
Assim, são cabíveis teses como a desclassificação do roubo para o furto ou da
tentativa de homicídio para a lesão corporal simples.

Na mesma linha, são pertinentes e necessários os pedidos de


acolhimento de atenuantes e causas de diminuição de pena, assim como os de
afastamento de qualificadoras, agravantes e causas de aumento de pena.

Também poderá arguir sobre o regime inicial de cumprimento da


pena e a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos,
sendo aplicáveis, como conduta social, personalidade, motivos, circunstâncias,
consequências do crime e comportamento da vítima (art. 59, III e IV, do Código
Penal), de modo semelhante à suspensão condicional da pena (art. 77, II,
do Código Penal).

Da mesma forma, a defesa também pode considerar manifestar-se


sobre a dosimetria de eventual pena de multa, quando cabível.

Dependendo do crime, também é imprescindível que a defesa se


manifeste sobre o direito do réu de recorrer em liberdade, tenha ou não
permanecido preso cautelarmente durante o processo.

Em suma, essas são algumas questões que podem ou devem ser


ventiladas nas alegações finais em processos criminais.

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