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EMBRIOLOGIA
Introdução
O alimento passa por processos de digestão químicos e mecânicos desde
a boca até o ânus, para que ocorra a formação do produto final desse
metabolismo, gerando, assim, as fezes. Muitos órgãos e estruturas têm
grande importância nesse processo, tais como a cavidade oral, a faringe,
o esôfago, o estômago, o intestino delgado e o intestino grosso.
Conhecer a morfologia e a fisiologia desses órgãos ajuda a entender
como os processos como a deglutição e o peristaltismo estão relacio-
nados ao mecanismo de digestão e às características anatômicas de
cada órgão.
Neste capítulo serão abordados os aspectos anatômicos e funções
das estruturas e órgãos que compõem o trato gastrintestinal bem como
as patologias que acometem o trato gastrintestinal.
Trato gastrintestinal
O trato gastrintestinal (TGI), também conhecido por sistema digestório,
apresenta-se em um tubo muscular conhecido por tubo digestório. O tubo
digestório é composto por boca, esôfago, estômago, intestino delgado e in-
testino grosso (Figura 1). Demais órgãos anexos são os dentes, a língua,
454 Sistema digestório: trato gastrintestinal
Figura 1. Uma visão geral do sistema digestório: apesar de muitos órgãos do sistema
digestório desempenharem funções semelhantes, cada um apresenta certas áreas de
especialização e características histológicas distintas.
Fonte: Martini, Timmons e Tallitsch (2009).
Peristalse e segmentação
Peristalse, ou peristaltismo, trata-se de contrações que propelem materiais
ao longo do trato digestório, por meio de contrações ou movimentos peris-
tálticos. São ondas de contração muscular que movimenta o bolo alimentar
por toda a extensão do trato digestório (Figura 3). A onda peristáltica se dá
pela contração da região imediatamente anterior ao do conteúdo do trato, em
seguida a camada muscular se contrai encurtando os segmentos adjacentes e,
com isso, a onda de contração da camada circular força o material digestório
na direção desejada (Figura 3a).
A segmentação um processo que ocorre na maioria das regiões do intestino
delgado e em algumas regiões do intestino grosso (Figura 3b). Os movimen-
tos intestinais revolvem e fragmentam os materiais digestivos, realizando
a mistura dos conteúdos com as secreções intestinais. A segmentação não
produz movimentos de rede em nenhuma direção específica, essa tarefa fica
a cargo da peristalse.
Segmentação e peristalse são desencadeadas por células autoajustáveis,
hormônios, agentes químicos e estimulação física. Ondas peristálticas também
podem ser produzidas pela estimulação dos nervos glossofaríngeo, vago ou
pélvico (MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009).
Sistema digestório: trato gastrintestinal 459
Peritônio e mesentérios
O peritônio (Figura 4) é uma túnica serosa, ou membrana serosa, que recobre
as paredes do abdome e a superfície dos órgãos digestivos.
O revestimento peritoneal produz continuamente líquido peritoneal aquoso
que lubrifica as superfícies peritoneais. Cerca de 7 litros de líquido são se-
cretados e reabsorvidos diariamente, apesar de o volume interno da cavidade
peritoneal ser pequeno e permanecer inalterado em um determinado momento
de avaliação em condições normais. Sob condições anormais, como em ca-
sos de doenças hepáticas, insuficiência cardíaca ou desajustes do equilíbrio
hidroeletrolítico, o volume de líquido peritoneal pode aumentar de modo
significativo. Isso resulta em uma redução perigosa do volume de sangue e
na distorção de vísceras (MARIEB; HOEHN, 2009).
460 Sistema digestório: trato gastrintestinal
Figura 4. Projeções do peritônio: (a) vista anterior de cavidade peritoneal vazia, mostrando
as fixações das projeções de peritônio e das vísceras à parede posterior da cavidade abdo-
minal; (b) organização das projeções de peritônio no adulto. Essa é uma vista estilizada; o
comprimento do intestino delgado foi muito reduzido.
Fonte: Martini, Timmons e Tallitsch (2009).
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Boca
A cavidade oral (Figura 5) apresenta basicamente quatro funções:
Figura 5. Cavidade oral: (a) cavidade oral vista em secção sagital; (b) vista anterior da
cavidade oral (boca aberta).
Fonte: Martini, Timmons e Tallitsch (2009).
A boca é revestida pela túnica mucosa oral que apresenta epitélio esca-
moso estratificado que exerce proteção contra abrasão durante a ingestão de
alimentos.
O palato duro e o palato mole formam o teto da cavidade oral e a língua
preenche seu assoalho. O palato duro tem a função de separar a cavidade oral
da cavidade nasal, enquanto o palato mole separa a cavidade oral da parte nasal
da faringe, fechando essa passagem durante a deglutição, auxiliada pela úvula
palatina, que pende do centro da margem posterior do palato mole, impedindo
a entrada prematura de alimento na faringe.
A manipulação de materiais fica a cargo da língua. Suas funções envolvem:
Faringe
Essa estrutura serve para a passagem de alimentos, líquidos e ar. Seu revesti-
mento e divisão anatômica garoam apresentados sobre vias aéreas superiores.
A faringe apresenta três músculos específicos envolvidos no processo de
deglutição (Figura 6), estando resumidos a seguir:
Esôfago
Órgão caracterizado por um tubo muscular oco que leva os alimentos ao estô-
mago. Fica posicionado posterior à traqueia, passando ao longo do mediastino
junto à parede posterior do tórax e adentrando a cavidade abdominal por meio
de uma abertura no diafragma, chamada de hiato esofágico, chegando, então,
no estômago.
Sua histologia apresenta túnica mucosa, tela submucosa e túnica muscular.
Existem diferenças específicas da parede esofágica que agora serão presentadas:
Estômago
O estômago é um órgão intraperitoneal em formato da letra J, que ocupa as
regiões do hipocôndrio esquerdo, e do epigástrio e partes das regiões umbilical
e lateral esquerda (Figura 7). Seu tamanho e seu formato variam de pessoa
pra pessoa. Esse órgão é responsável por três funções:
466 Sistema digestório: trato gastrintestinal
Intestino delgado
Órgão que está ligado diretamente à saída do estômago, recebendo dele o
quimo, que tem aproximadamente 6 metros, com variação entre 5 e 8 metros.
Fica localizado dentro da região abdominal, com exceção das regiões do
epigástrio e do hipocôndrio esquerdo.
Sua principal função é absorver nutrientes, pois 90% da absorção ocorrem
nele, os 10% restantes ocorrem na porção proximal do intestino delgado. Para
cumprir essa tarefa absortiva, o intestino delgado apresenta revestimento de
pregas transversais denominadas pregas circulares. Em torno de 800 pregas
circulares são observadas ao longo da extensão de um intestino delgado, e
a presença dessas pregas aumenta significativamente a área de superfície
disponível para absorção.
O intestino delgado é dividido em três partes (Figura 8):
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Intestino grosso
Intestino grosso (Figura 9) é órgão em formato de ferradura que se inicia
na parte terminal do íleo e se estende até o ânus. Localiza-se inferior ao
estômago e ao fígado circundando quase que todo o intestino delgado. Suas
principais funções incluem a absorção de agua e eletrólitos, compactação do
conteúdo intestinal em fezes e absorção de importantes vitaminas produzidas
por ação bacteriana e o armazenamento de material fecal antes da defecação.
Seu suprimento sanguíneo se dá através dos ramos das artérias mesentéricas
superior e inferior, enquanto que a drenagem do sangue se faz pelas veias
mesentéricas superior e inferior. Tem comprimento médio de 7,5 metros e se
divide em três partes:
Figura 9. Intestino grosso: (a) anatomia macroscópica do intestino grosso; (b) o ceco e o
apêndice vermiforme; (c) anatomia detalhada do reto e do canal anal.
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Doenças do TGI
As doenças que acometem o sistema digestório se manifestam, na maioria
das vezes, por meio de alimentos contaminados e disfunções fisiológicas, ou,
em outros casos, por problemas genéticos, causando mal-estar e desconforto.
A seguir, conheça as principais doenças que a acometem o TGI (BARRET,
2014; LONGO; FAUCI, 2015).
Estomatite
É a inflamação e a ruptura da mucosa oral em razão de várias causas, podendo
se localizar no lado interno do lábio, na bochecha ou na língua. Causa dor
relacionada a lesão e nutrição inadequada. Pode ser causada por agentes tó-
xicos, como vírus ou fungos, trauma mecânico, produtos irritantes, estresse,
fatores hormonais, alergias, sucos e alimentos ácidos ou, ainda, por deficiências
nutricionais.
Pirose
Popularmente chamada de azia, é uma sensação de queimadura com origem na
parte de trás do peito e que, por vezes, sobe, podendo irradiar até o pescoço e a
garganta. Essa ardência é quase sempre provocada pelo refluxo do suco gástrico
para o esôfago. O esfíncter esofágico inferior, a cárdia, uma espécie de válvula
que está entre o esófago e o estômago, só deveria abrir para a passagem dos
alimentos durante as refeições, mas, por funcionamento deficiente, permite
o fluxo do ácido do estômago em sentido inverso, causando o desconforto.
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Úlcera péptica
Escavação que se forma na mucosa do estômago, duodeno ou esôfago, por
processo evolutivo de gastrite, duodenite ou esofagite. Tem grande relação com
a infecção pela bactéria Helicobacter pylori, sendo responsável por mais de
95% dos casos de úlcera duodenal e 80% dos casos de úlcera gástrica. Também
está relacionada com predisposição genética, uso excessivo de álcool, cigarro,
café e maus hábitos alimentares.
Gastrite
É uma versão um pouco mais branda da úlcera péptica, mas ainda assim
perigosa. Trata-se de inflamação no revestimento do estômago. Diferente
da úlcera, ela pode durar por pouco tempo, se bem controlada com medica-
mentos mais leves e reeducação alimentar. O consumo constante de bebidas
alcoólicas e alimentos com alto teor de acidez e hábitos como o tabagismo
são algumas das causas mais comuns da gastrite. O tratamento, conforme
sugerido anteriormente, é feito à base de medicamentos e mudanças simples
nos hábitos alimentares.
Doença de Crohn
Doença intestinal inflamatória crônica que se estende por toda a espessura
da mucosa intestinal. É também conhecida como enterite regional ou colite
granulomatosa. Doença de difícil diagnóstico. Acomete mais adolescentes e
adultos jovens entre 10 e 30 anos. Como manifestações clínicas, apresenta
dor abdominal, diarreia crônica, perda de peso, obstrução intestinal, febre,
esteatorreia, etc.
Colite ulcerativa
Doença intestinal inflamatória e ulcerativa crônica do cólon e do reto. É de causa
desconhecida, mas geralmente associada a fatores infecciosos, psicossomáticos,
autoimunes, alérgicos e nutricionais. Se caracteriza por múltiplas lacerações,
inflamações difusas e descamação ou desprendimento do epitélio do cólon.
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Gastroenterite
Significa uma inflamação do estômago e dos intestinos que tipicamente tem
sua presença reconhecida na forma de vômito e/ou diarreia. É geralmente
causada por um vírus ou bactéria que ganha acesso às suas entranhas por
meio da boca. A gastroenterite pode afetar qualquer um, em qualquer lugar,
e é uma forma muito comum de doença no mundo todo. Seu maior dano é a
desidratação, que pode ser fatal em alguns casos.
Apendicite
É a inflamação do apêndice fecal, ocorre por alimentos que ficam na cavidade
do apêndice. Ela pode ser crônica ou aguda. Como tratamento, é recomendável
que seja feita uma cirurgia, removendo as infecções. Se a cirurgia não for
feita, uma doença chamada peritonite destrói o órgão.
Diverticulite
Se caracteriza por pequenas bolsas que se formam na parede do cólon, ge-
ralmente em pessoas com mais de 60 anos de idade, sendo, na maioria das
vezes, assintomática (em 70% dos casos), sendo que apenas 10% apresentam
sintomas. Também é conhecida por apendicite do lado esquerdo ou diverti-
culose. A principal causa da diverticulite é a obstrução do divertículo por
pequenos pedaços de fezes, os quais favorecem a proliferação de bactérias
dentro dele. O divertículo, pequena bolsa que se forma na parede do cólon, que
é semelhante a um dedo de uma luva, pode levar o paciente ao quadro chamado
diverticulite, que costuma apresentar febre, dores abdominais e alterações do
trânsito intestinal. Em média, 30% das pessoas acima de 60 anos e mais de
60% das pessoas acima de 80 anos têm divertículos.
Peritonite
É a inflamação provocada por bactéria ou fungo do peritônio, o tecido que
reveste a parede interna do abdome e recobre a maioria dos órgãos da região
abdominal. A infecção do peritônio pode acontecer por uma variedade de
razões. Na maioria dos casos, a causa é uma ruptura (perfuração) na parede
abdominal, mas a doença também pode se desenvolver sem que tenha havido
uma ruptura abdominal, embora seja raro. Esse tipo de peritonite é chamado
peritonite espontânea. As causas mais comuns de rupturas que levam à perito-
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