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Imunologia Clínica na Prática – Epifanio Fernandes

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Imunologia Clínica na Prática – Epifanio Fernandes

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Sobre Giovani Lavieri

Giovani é farmacêutico, formado pela Universidade Federal do


Rio Grande do Norte (UFRN), especialista em Toxicologia Clínica e
Forense pela Faculdade Unyleya e em Ciências Forenses e Perícia
Criminal pela Universidade Potiguar (UnP).

Possui experiência nas análises clínicas, já atuou como


farmacêutico bioquímico em laboratórios de grande rotina e é
professor universitário desde 2016. Também atua como assessor
científico.

Criou o Farmaceuticando com objetivo de ajudar estudantes da


área da saúde, bem como profissionais formados, a se aprofundarem
nas análises clínicas e toxicológicas.

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Olá, tudo bem? Obrigado por adquirir o e-book Imunologia na
Prática. Tenho certeza de que vai te ajudar bastante na sua jornada.
Esse material foi criado pelo meu amigo e colega Epifanio Fernandes,
um excelente profissional farmacêutico que topou me ajudar a criar um
conteúdo de qualidade para o Farmaceuticando. Ele preparou um e-
book bem completo, falando sobre as metodologias de imunologia
mais comuns na rotina laboratorial.

Depois dá uma olhada no meu site, lá tem bastante conteúdo


gratuito e outros e-books bem legais que eu preparei com muito
carinho. Para acessar o site, basta clicar aqui.

Se quiser, também tem meu Instagram @farmaceuticando_. Se


depois de ler o e-book, você ficar com alguma dúvida ou se quiser saber
mais sobre o conteúdo que eu preparo, fique à vontade para me
chamar no WhatsApp.

Quero te avisar que é proibido compartilhar o conteúdo desse e-


book sem minha autorização. Sei que posso contar com você!

Bom, espero que aproveite bastante o material que preparei e,


qualquer coisa, estou por aqui.

Todos os direitos reservados® ISBN: 978-65-995837-0-4

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Sumário

Introdução .......................................................................................................................................... 5

Ensaios de aglutinação – princípios e aplicações ................................................... 9

Aglutinação direta .................................................................................................................... 9

Aglutinação indireta ............................................................................................................. 10

Aplicações ......................................................................................................................................... 10

Tipagem sanguínea .............................................................................................................. 10

Pesquisa de anticorpos heterófilos ............................................................................ 12

Pesquisa de antígenos febris ......................................................................................... 12

Proteína C Reativa .................................................................................................................. 13

Antiestreptolisina O............................................................................................................... 15

Fator reumatoide .................................................................................................................... 16

Microaglutinação .................................................................................................................... 17

VDRL (Veneral Disease Research Laboratory) e Sífilis .................................. 18

Ensaios imunocromatográficos – princípios e aplicações ............................. 22

Aplicações de ensaios imunocromatográficos...................................................... 24

Pesquisa de β-hCG ................................................................................................................ 24

Marcadores sorológicos na Dengue ......................................................................... 24

Marcadores sorológicos nas Hepatites virais ..................................................... 26

Marcadores sorológicos da infecção por HIV ..................................................... 29

Marcadores sorológicos na infecção por SARS-CoV-2................................. 30

Métodos de imunofluorescência – princípios e aplicações .......................... 32

Imunofluorescência direta .............................................................................................. 33

Imunofluorescência indireta.......................................................................................... 34

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Aplicações da imunofluorescência ................................................................................ 35

FTA-Abs (Fluorescent Treponemal Antibody Absorption) ....................... 35

Fator antinuclear (FAN) ..................................................................................................... 36

Citometria de fluxo ............................................................................................................... 37

Ensaios imunoenzimáticos – princípios e aplicações ....................................... 39

ELISA ............................................................................................................................................... 39

ELISA indireto ............................................................................................................................ 41

ELISA sanduíche ou de captura .................................................................................. 42

Quimioluminescência .............................................................................................................44

Tópicos em imunoterapia e imunoprofilaxia .......................................................... 46

Soroterapia ................................................................................................................................. 47

Vacinas........................................................................................................................................... 50

Referências ...................................................................................................................................... 54

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Introdução
A principal função do nosso sistema imune é a defesa contra
microrganismos, mas substâncias estranhas não infecciosas e produtos
de células alteradas podem gerar uma resposta imune, se pensarmos
em processos alérgicos e doenças autoimunes. A própria resposta
imune, que tem a função de proteção, pode causar uma lesão tecidual
e um processo inflamatório. Assim, a Imunologia se preocupa com o
estudo dos eventos celulares e moleculares que acontecem após o
contato com microrganismos e moléculas estranhas.

A resposta imune pode ser dividida didaticamente em duas


sequencias de eventos coordenados e relacionados: a resposta inata e
a resposta adaptativa. A resposta inata tem como principais
características uma baixa especificidade e diversidade (embora possa
reconhecer padrões moleculares em alguns microrganismos), assim
como uma limitada capacidade de formar memória imunológica. Essa
resposta fornece uma defesa inicial contra as infecções, atuando desde
as primeiras horas até alguns dias após o contato com o patógeno. O
corpo humano possui barreiras naturais que compõem a imunidade
inata, dentre elas o tecido epitelial de revestimento da pele e das
mucosas, e as secreções como lágrimas, saliva, suco gástrico e secreção
vaginal. Além dessas barreiras citadas, a imunidade inata compreende
o sistema complemento, um sistema de proteínas envolvidas na defesa
contra patógenos e no processo inflamatório, e algumas células, como
os neutrófilos, as células natural killer, os macrófagos e as células
dendríticas, estas duas últimas são a principal conexão com a
imunidade adaptativa.

Sobre a resposta imune adaptativa é possível dizer que ela é mais


específica, uma vez que resposta depende de substâncias, derivadas de
microrganismos ou não, chamadas de antígeno. Assim, a resposta é

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desencadeada a partir da apresentação do antígeno pelas células
dendríticas e macrófagos aos linfócitos, que são as células efetoras da
imunidade adaptativa. Outras características da imunidade adaptativa
são a ampla diversidade, reconhecendo grande variedade de
antígenos, e a formação efetiva de uma memória imunológica. Os
linfócitos estão diretamente ligados com os principais mecanismos que
compõem a imunidade adaptativa, que são a resposta humoral e a
resposta celular. A resposta humoral é mediada por anticorpos
produzidos pelos linfócitos B. Esses anticorpos tem a função principal
de reconhecer antígenos (toxinas, microrganismos, etc.) localizados no
meio extracelular e neutralizá-los, ajudando na eliminação desses
patógenos. Os linfócitos T, por sua vez, são os mediadores da imunidade
celular e participam principalmente da eliminação de microrganismos
intracelulares (pois dentro da célula, os patógenos ficam inacessíveis
para os anticorpos).

Um antígeno é qualquer estrutura (em geral, são derivados


proteicos, mas podem ser polissacarídeos, lipídeos, ácidos nucleicos)
capaz de apresentar imunogenicidade, ou seja, capaz de ativar o
sistema imune e induzir a produção de anticorpos. Para isso, é
importante que o organismo saiba diferenciar o que é próprio (self) do
que é estranho (non-self). Quando o organismo passa a sintetizar
anticorpos contra antígenos próprios, ocorrem distúrbios de
autoimunidade. Antígenos também possuem uma propriedade
chamada antigenicidade, que é a capacidade de se ligar ao anticorpo
sintetizado contra ele.

Os anticorpos (também chamados de imunoglobulinas) são


proteínas sintetizadas quando os linfócitos B são ativados pelas células
apresentadoras de antígenos, recebendo o nome de plasmócitos. Eles
protegem o hospedeiro contra infecções através de três mecanismos:
ligação com o patógeno e inibição do seu efeito tóxico (neutralização),

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recobrindo o patógeno facilitando a fagocitose (opsonização) ou
ativando a o sistema complemento que leva à ruptura do patógeno.
Cada anticorpo é formado por duas cadeias pesadas e duas cadeias
leves ligadas por pontes dissulfeto. Na região amino-terminal
encontram-se os locais de ligação ao antígeno (porção Fab). A porção
carboxi-terminal compreende a fração cristalizável (porção Fc), que
tem a função de interagir com as células do sistema imune e do sistema
complemento. Os anticorpos possuem uma região variável, que
confere a especificidade para cada antígeno e uma região constante.

Esquema da estrutura básica de um anticorpo. Fonte: Barcelos e Aquino, 2018.

Os anticorpos são agrupados em cinco isotipos ou classes, são


elas: IgM, IgG, IgA, IgE e IgD. Todos possuem a estrutura básica descrita
anteriormente, mas alguns tipos podem se agrupar em dímeros ou
pentâmeros, como a IgA e a IgM, respectivamente. Na tabela abaixo é
possível visualizar algumas características de cada isotipo. Os
anticorpos são moléculas fundamentais nos imunoensaios.

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Fonte: Barcelos e Aquino, 2018.

Através dos imunoensaios, muitos exames laboratoriais são


realizados e contribuem muito do diagnóstico e acompanhamento de
doenças. Os imunoensaios são métodos analíticos para detecção ou
quantificação de algo que depende da interação de um antígeno com
um anticorpo formando um complexo. Para a realização dos
imunoensaios podem ser utilizados reagentes marcados ou não
marcados. Os ensaios com reagentes não marcados (como os ensaios
de aglutinação, por exemplo) são menos sensíveis, sendo necessário
uma grande quantidade de imunocomplexos para visualização do
resultado. O uso de reagentes marcados (com enzimas, fluorocromos
ou substâncias luminescentes, por exemplo) torna o teste mais sensível.

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Ensaios de aglutinação – princípios e
aplicações
O verbo aglutinar tem vários sinônimos, tais como juntar, agregar,
agrupar ou aglomerar. Nesse tipo de imunoensaio, a interação entre
antígeno e anticorpo ocorre de maneira que há formação de agregados
ou grumos suficientemente grandes com células ou partículas,
facilitando a visualização dos imunocomplexos que podem ser
formados em alguns minutos ou horas e, geralmente, macroscópicos e
visíveis a olho nu. Nesta seção serão abordadas diferentes técnicas de
aglutinação, todas partindo do mesmo princípio de formação de
imunocomplexos entre antígeno, anticorpo e um suporte (pode ser
algum tipo celular específico, como hemácias ou bactérias, ou
partículas artificiais inertes).

Aglutinação direta

No ensaio de aglutinação direta, o antígeno compõe


naturalmente a célula utilizada no ensaio e a aglutinação ocorrerá
quando anticorpos específicos contra esse antígeno estiverem
presentes no meio (no caso, no soro do paciente). O exemplo mais
clássico de aglutinação direta é a tipagem sanguínea no sistema ABO
e Rh, que utiliza anticorpos monoclonais específicos para determinados
antígenos eritrocitários presentes na membrana das hemácias,
formando agregados visíveis quando combinados.

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Aglutinação indireta

Na aglutinação indireta, é utilizado um suporte para facilitar a


reação. Esse suporte pode ser hemácias, leveduras ou partículas inertes
(látex, bentonita, agarose, gelatina, carvão, etc.). Entre os suportes mais
utilizados estão as micropartículas de poliestireno (que recebem o
nome de látex), que apresenta aspecto homogêneo e podem ser
utilizadas em lâminas ou placas com resultado rápido. As partículas de
látex podem receber artificialmente antígenos ou anticorpos, outra
diferença entre a aglutinação indireta e a direta. Assim, quando as
partículas de látex são revestidas com anticorpos, elas são utilizadas
para a pesquisa de antígenos no soro do paciente. E o contrário
também é verdadeiro, quando a partícula inerte é revestida com
antígenos, pode ser utilizada para a pesquisa de anticorpos.

Aplicações

Tipagem sanguínea

O sistema ABO e o sistema Rh são os mais importantes


considerado as transfusões sanguíneas porque são altamente
antigênicos e capazes de induzir a produção de anticorpos. Os grupos
sanguíneos no sistema ABO são classificados de acordo com a presença
de anticorpos naturais contra os antígenos de superfície das hemácias.

Pacientes do tipo A possuem o antígeno A nas hemácias e


anticorpos no plasma contra o antígeno B (anticorpos anti-B).
Indivíduos do tipo B possuem o antígeno B e anticorpos anti-A. Em
indivíduos do tipo AB, as hemácias expressam os antígenos A e B, assim,

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seu plasma não contém anticorpos anti-A ou anti-B pois poderia haver
hemólise. Os pacientes do tipo O não apresentam os antígenos A ou B
e possuem anticorpos anti-A e anti-B em seu plasma. O teste de
tipagem sanguínea é um exemplo de aglutinação direta, uma vez que
aos antígenos pesquisados estão expressos naturalmente nas
hemácias dos pacientes.

Esquema de tipagem sanguínea em lâmina com os possíveis resultados. Fonte:


Mineo et al, 2016.

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Pesquisa de anticorpos heterófilos

Os anticorpos heterófilos estão presentes em títulos elevados na


fase aguda da mononucleose infecciosa, doença causada pelo vírus
Epstein-Barr. Esses anticorpos são capazes de aglutinar hemácias de
carneiro ou de cavalo, ou seja, as hemácias de outros animais são
naturalmente aglutinadas quando em contato com soro de paciente
com anticorpos heterófilos. Esse é o fundamento do teste de Paul-
Bunnell-Davidsohn e é outro exemplo de aglutinação direta.

Esquema da pesquisa de anticorpos heterófilos por aglutinação direta. Fonte:


Adaptado de Alhabbab, 2018.

Pesquisa de antígenos febris

A pesquisa de antígenos febris consiste em colocar o soro do


paciente em contato com uma suspensão contendo bactérias mortas
(geralmente espécies do gênero Leptospira, Proteus, Brucella ou
Salmonella). Na presença de anticorpos específicos para antígenos
presentes nessas bactérias, ocorre aglutinação visível em tubo ou em
placa. Também se baseia na aglutinação direta. Podem receber nomes
específicos dependendo do microrganismo pesquisado, por exemplo,

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teste de Widal para salmonelose, teste de Wright para brucelose e teste
de Weil-Felix para pesquisa de riquetsiose.

Esquema da pesquisa de antígenos febris para Brucella. Adaptado de Alhabbab,


2018.

Proteína C Reativa

Durante o processo inflamatório, a liberação de citocinas estimula


a produção hepática de proteínas de fase aguda como a
ceruloplasmina, haptoglobina e a proteína C reativa (PCR). Assim, a PCR
é um marcador de processos inflamatórios, sejam eles infecciosos ou
não. É um teste muito sensível e pouco específico. A PCR se apresenta
elevada em casos de infecção de trato urinário, infarto agudo do
miocárdio, doenças autoimunes, cirrose, hepatites, viroses, colite
ulcerativa, entre outras condições. Com o princípio da aglutinação
indireta, é possível determinar de modo qualitativo (positivo ou
negativo) e semi-quantitativo (diluições seriadas e multiplicação do
título da última diluição positiva pela sensibilidade do teste – ver o
tópico VDRL). Lembre-se de não confundir PCR proteína C reativa com
a PCR reação em cadeia de polimerase, uma técnica de biologia
molecular.

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Esquema da reação de aglutinação para PCR. Adaptado de Alhabbab, 2018.

Resultado do teste de PCR por aglutinação em látex. A, resultado positivo ou


reagente; B, C, D, F e G, negativo ou não reagente. Esse mesmo padrão de
visualização em vários testes de aglutinação por látex como ASLO e Fator
Reumatoide. Fonte: Ribeiro et al, 2019.

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Antiestreptolisina O

A bactéria Estreptococcus pyogenes é um coco Gram-positivo,


beta-hemolítico do grupo A. As infecções por Estreptococcus pyogenes
costumam causar faringites e impetigo, mas também podem causar
outras manifestações como glomerulonefrite aguda e febre reumática.
Durante a infecção, a bactéria produz vários fatores de virulência,
dentre eles a Estreptolisina O, uma molécula capaz de se ligar ao
colesterol da membrana plasmática, resultando em poros e levando a
célula hospedeira a entrar em apoptose, auxiliando no escape da
bactéria dos mecanismos celulares de defesa. A resposta imunológica
contra a bactéria Estreptococcus pyogenes inclui a produção de
anticorpos Antiestreptolisina O (ASLO) e a detecção desses anticorpos
é importante na identificação da presença da bactéria ou de exposição
anterior. Assim como a pesquisa de PCR, o teste de ASLO usando
aglutinação indireta pode ser qualitativo ou semi-quantitativo.

Esquema da reação de aglutinação para ASLO. Adaptado de Alhabbab, 2018.

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Fator reumatoide

Os transtornos autoimunes ocorrem quando o sistema


imunológico não consegue distinguir antígenos próprios de não-
próprios, passando a combater antígenos próprios do organismo, que
deveriam ser preservados. Assim é a fisiopatologia básica de vários
transtornos, como a artrite reumatoide e o lúpus eritematoso sistêmico.
O fator reumatoide (FR) é um autoanticorpo (IgA, IgG ou IgM)
produzido por linfócitos B durante o curso de doenças autoimunes e
podem se ligar com anticorpos próprios do tipo IgG, ou seja, o
organismo produz anticorpos que atacam seus próprios anticorpos. O
FR está associado com a artrite reumatoide, mas não é exclusivo dessa
condição, podendo aparecer em outras doenças autoimunes e em
baixos títulos em indivíduos saudáveis. A técnica mais utilizada é a
aglutinação indireta em látex mas existe uma variação que é o método
de Waaler-Rose, esse utiliza hemaglutinação indireta.

Esquema da reação de aglutinação para FR. Adaptado de Alhabbab, 2018.

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Microaglutinação

A microaglutinação indireta é um tipo de aglutinação que utiliza


placas de microtitulação, que são placas de plástico com
microcavidades em forma de U ou V. As técnicas mais comuns de
microaglutinação utilizam hemácias de aves, recebendo o nome de
hemaglutinação. O teste de hemaglutinação direta pode ser utilizado
para a pesquisa de alguns vírus, como o influenza, que tem a
capacidade de aglutinar naturalmente hemácias de aves. A variação
mais comum da microaglutinação é a hemaglutinação indireta, onde
hemácias de aves ou outros animais são utilizadas como suporte de
antígenos de microrganismos para pesquisa de anticorpos. No
mercado há testes disponíveis para pesquisa de anticorpos contra
Treponema pallidum, Toxoplasma gondii, Trypanosoma cruzi e outros.
Na técnica, as hemácias com antígenos são expostas ao soro do
paciente, que pode ou não conter anticorpos contra os antígenos. Em
caso de ausência de anticorpos, não ocorre aglutinação e as hemácias
precipitam na cavidade, formando um botão compacto no fundo da
microcavidade. Quando o resultado é positivo, ou seja, há anticorpos na
amostra do paciente, ocorre a aglutinação formando uma espécie de
rede ou tapete, que é vista macroscopicamente como um aspecto
homogêneo na superfície do poço.

Esquema de hemaglutinação indireta para doença de Chagas em microtitulação.


Fonte: Adaptado de Alhabbab, 2018.

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Resultados possíveis na hemaglutinação indireta em placa de microtitulação. O


aspecto homogêneo quando o resultado é Reagente. A formação do botão
compacto quando o resultado é Não Reagente. Quando o aspecto não é claro entre
homogêneo e botão, tem-se o resultado Inconclusivo, sendo recomendada a
repetição do teste. Fonte: TELELAB.

VDRL (Veneral Disease Research Laboratory) e


Sífilis

A sífilis é uma doença infectocontagiosa sistêmica, de evolução


crônica, com manifestações cutâneas temporárias provocadas pela
bactéria Treponema pallidum. A principal forma de transmissão da
sífilis adquirida é por via sexual. Na forma congênita, ocorre infecção
fetal por via hematogênica em qualquer fase gestacional. Na infecção
após o contágio sexual, surge uma lesão no local da inoculação da
bactéria, uma ulceração indolor, com bordas endurecidas que
desaparece espontaneamente. Na fase secundária ocorrem lesões
mucosas e linfadenopatia. Sem o diagnóstico precoce e o tratamento
adequado, as lesões cutâneas características da fase secundária da
doença podem desaparecer e a doença se tornar latente vários anos e
manifestar-se numa fase tardia com acometimento de vários órgãos e
sistemas.

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O teste de VDRL tem como princípio a floculação, uma variação
da aglutinação indireta onde as interações antígeno-anticorpo formam
imunocomplexos detectáveis com auxílio de microscópio. O VDRL é
um teste útil no diagnóstico e no acompanhamento do tratamento em
casos de sífilis. É importante salientar que o VDRL é um teste de
triagem (chamado de teste não treponêmico), sendo necessário um
teste confirmatório (chamado treponêmico) para o diagnóstico.

Os testes não treponêmicos recebem esse nome por


pesquisarem anticorpos não treponêmicos, anteriormente chamados
de lipoídicos, reagínicos ou anticardiolipínicos. São anticorpos que
estão presentes na sífilis, mas não são específicos para o Treponema
pallidum. Outras condições clínicas podem apresentar VDRL com
resultado reagente, como por exemplo, no lúpus eritematoso sistêmico,
na malária, na hanseníase e em casos de hepatite crônica.

No teste de VDRL é utilizada uma suspensão antigênica


composta de micelas de colesterol, lecitina e cardiolipina. A cardiolipina
é um tipo de lipídeo encontrado em baixas concentrações em tecidos
de mamíferos e apresenta semelhança com antígenos do Treponema
pallidum. Essa suspensão antigênica é colocada em contato com o soro
do paciente numa placa escavada de vidro transparente (placa de
Kline) e essa mistura é homogeneizada e observada em microscópio
óptico comum. A presença de anticorpos não treponêmicos pode ser
detectada pela formação de flocos ou grumos, que podem ser grandes
ou pequenos. Um teste negativo apresenta aspecto homogêneo com
uma granulação muito fina, quase imperceptível.

Obs: o VDRL é o único teste de floculação validado para pesquisa de


anticorpos não treponêmicos em amostra de líquor.

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Esquema da composição do antígeno do teste VDRL e da reação de floculação


desses antígenos com os anticorpos não treponêmicos. Fonte: TELELAB.

Observação da reação de floculação e da ausência de floculação no microscópio na


reação de VDRL. Fonte: TELELAB

Os testes não treponêmicos podem sofrer influência do efeito


prozona. Ele ocorre quando uma amostra que contém anticorpos não
treponêmicos apresenta resultado negativo quando é testada sem
diluição, gerando um resultado falso-negativo. Isso é devido a
desproporção entre a quantidade de anticorpos e antígenos na reação
e acontece, pois, os pacientes podem apresentar altos níveis de
anticorpos. A presença do efeito prozona pode ser identificada quando

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a amostra do paciente é diluída de maneira seriada até 1:8 ou 1:16
durante o teste qualitativo, quando a amostra é negativa e a reatividade
aparece nas diluições.

A diluição seriada é a diluição do soro do paciente em solução


fisiológica de maneira que a concentração de anticorpos diminua a
cada diluição. Ela pode ser realizada diretamente na placa escavada do
teste ou realizada em tubo e depois transferida para a placa. O
resultado do VDRL é expresso como reagente e o título é o da última
diluição que apresentou resultado positivo (floculação).

Diluição da amostra para VDRL. (A) Diluição seriada na placa escavada: nos primeiros poços
são colocados os controles negativo e positivo, com o objetivo de testar a suspensão
antigênica utilizada no teste. Nesta imagem, é possível perceber a amostra do paciente pura
colocada no poço 3 e 4 (aspecto amarelado) e a partir do poço 5 até o 8 foi colocado solução
fisiológica (aspecto azulado). As setas indicam a mistura da amostra do poço 4 com a solução
fisiológica do poço 5 e depois a homogeneização e transferência para o poço 6 e assim
sucessivamente. (B) Diluição seriada em tubo: Em cada tubo foi adicionado previamente
100µL de solução fisiológica. Uma alíquota de 100µL do soro do paciente foi retirada e
misturada ao tubo com a solução fisiológica em partes iguais, formando a diluição 1:2. Depois,
foi retirado 100µL dessa diluição e misturado ao tubo 2 que já continha 100µL de solução
fisiológica, formando a diluição 1:4. É possível perceber que o soro do paciente vai ficando
cada vez mais diluído a medida que o processo avança. Essas diluições são expostas à
suspensão antigênica do VDRL, a última diluição que apresentar floculação será o título do
paciente. Fonte: TELELAB.

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22
Ensaios imunocromatográficos –
princípios e aplicações
Os testes imunocromatográficos são conhecidos popularmente
por testes rápidos, devido a rapidez na sua execução e conhecimento
do resultado. São testes de triagem, sensíveis, fáceis de serem
executados, não exigindo uma estrutura laboratorial para sua
realização, o que permite a utilização desses testes em clínicas,
farmácias, pesquisas de campo e até em casa, como exemplo, o
autoteste para detecção de anticorpos contra o vírus da
imunodeficiência humana (HIV, sigla em inglês para Human
Immunodeficiency Virus) e o teste de gravidez.

Com esse método é possível detectar anticorpos ou antígenos.


Em geral, os testes rápidos imunocromatográficos apresentam sua
estrutura composta de uma membrana de nitrocelulose, onde a
amostra será adicionada e ocorrerá migração cromatográfica por
capilaridade. Inicialmente, a amostra passará por uma região onde há
anticorpos ou antígenos conjugados com um corante, sendo o ouro
coloidal (cor rosa) o mais utilizado. Se a amostra do paciente possuir o
anticorpo ou antígeno pesquisado, haverá ligação com o conjugado e
esse imunocomplexo passará a migrar pela membrana de nitrocelulose
até encontrar uma linha de revelação contendo antígenos ou
anticorpos fixados na matriz (Linha T). Uma segunda linha contém
anticorpos contra o conjugado é utilizada como controle de qualidade
do teste rápido (Linha C).

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23

Representação esquemática de um teste rápido imunocromatográfico. Fonte:


Adaptado de Yang et al, 2017.

Para um teste imunocromatográfico ser considerado positivo e


válido, é necessário que as Linhas T e C estejam coradas ao final do
tempo estabelecido para aquele teste. Em um resultado negativo ou
não reagente, somente a linha C aparecerá. Quando somente a linha T
aparecer ou nenhuma das duas linhas aparecerem, o teste é
considerado inválido, sendo necessária a repetição e/ou verificação do
lote.

Possíveis resultados para o teste imunocromatográfico. É importante ressaltar que esses


testes são, geralmente, qualitativos, ou seja, não informam a quantidade do antígeno ou
anticorpo pesquisado. O teste é válido quando a linha C aparece e positivo quando também é
revelada a linha T, independente da tonalidade de coloração. Fonte: Adaptado de Yang et al,
2017.

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24
Aplicações de ensaios
imunocromatográficos

Pesquisa de β-hCG

A gonadotrofina coriônica humana (hCG) é um hormônio


peptídico secretado pelas vilosidades coriônicas e pela placenta em
desenvolvimento após a implantação do embrião. Durante o início da
gestação, o hCG estimula o corpo lúteo ativo produzindo progesterona,
que mantém o endométrio intacto. Outra função do hCG é estimular a
produção de testosterona pelos testículos nos fetos masculinos. A hCG
é relacionada estruturalmente a outras gonadotrofinas como o
hormônio luteinizante (LH) e o hormônio folículo estimulante (FSH),
exceto pela presença da subunidade β (por isso o nome β-hCG) que
confere especificidade ao imunoensaio para sua detecção. O β-hCG é a
molécula detectada nos testes de gravidez. Também pode ser um
marcador tumoral em células germinativas, ou seja, pode ser solicitada
a dosagem de β-hCG em indivíduos de todos os gêneros.

Marcadores sorológicos na Dengue

A dengue é uma doença infecciosa causado por um arbovírus da


família Flaviviridae, com material genético de RNA e quatro sorotipos
(DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4). A transmissão se dá por picada dos
mosquitos do gênero Aedes, como o Aedes aegypti e o Aedes
albopictus, que tem parte do seu ciclo biológico em pequenas coleções
de água. Por isso, a falta de condições sanitárias e falta de cuidado no
descarte de materiais que podem acumular água são fatores

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25
determinantes para a proliferação do vetor e disseminação da doença.
O quadro clínico da doença se constitui de febre alta, cefaleia intensa,
dores musculares, dores articulares, podendo apresentar
manifestações cutâneas eritematosas também. Alguns pacientes
podem apresentar petéquias e diminuição da contagem de plaquetas,
podendo evoluir para forma hemorrágica da doença, com
apresentação de distúrbios de coagulação sanguínea.

A aplicação da imunocromatografia no diagnóstico da Dengue é


útil na identificação da fase primária da doença, onde ocorre a viremia,
e durante a fase secundária, onde há produção de anticorpos contra o
vírus. As metodologias padrão-ouro para o diagnóstico de dengue são
a pesquisa do vírus por biologia molecular e a quantificação de
anticorpos por métodos imunológicos automatizados. Os testes
rápidos são uma ferramenta útil devido ao seu custo, facilidade de
realização do teste e rapidez do resultado.

Durante a fase primária da infecção pelo vírus da dengue, é


comum o paciente apresentar febre, nos dias iniciais desse sintoma é
quando ocorre uma maior replicação viral e é possível pesquisar o
antígeno NS1, uma proteína não estrutural que compõe o vírus da
dengue. Após 10 dias do início de sintomas, é mais comum a solicitação
da pesquisa de anticorpos IgM e IgG contra o vírus.

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Diagnóstico laboratorial de Dengue. A presença do vírus pode ser detectada através


de biologia molecular (reação em cadeia de polimerase). A imunocromatografia
pode ser aplicada na detecção do NS1, um teste rápido e de fácil execução que
indica a presença do vírus (fase aguda). A presença de anticorpos indica o contato
prévio com o vírus da dengue e a detecção desses anticorpos pode ser feita mais
tardiamente através de dosagem por método automatizado (quimioluminescência)
ou por imunocromatografia. Fonte: Adaptado de Guzman et al, 2019.

Marcadores sorológicos nas Hepatites virais

O vírus da hepatite B é um vírus de DNA que causa infecção


geralmente sintomática caracterizada por mal-estar geral, cefaleia,
febre baixa, náuseas e vômitos, anorexia e desconforto no hipocôndrio
direito, além de elevação dos níveis de transaminases. A infecção pode
se tornar crônica e o processo inflamatório hepático permanecer por
mais de seis meses. A principal via de transmissão da hepatite B é a
sexual, mas pode ocorrer por via parenteral e transmissão vertical.

A hepatite C é causada por um vírus de RNA que causa uma


infecção que durante a fase crônica pode evoluir para cirrose e
hepatocarcinoma, podendo levar o paciente ao transplante hepático. A

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transmissão da hepatite C ocorre principalmente por via parenteral.
Desde a implantação da testagem em bolsas de sangue, a transmissão
por hemoderivados foi praticamente eliminada. Transmissão sexual e
vertical são incomuns.

No Brasil, o Ministério da Saúde disponibiliza testes rápidos na


busca de infecções ativas por hepatites B e C. Para a Hepatite B, o teste
rápido detecta o HBsAg, o antígeno de superfície do vírus, em amostras
de sangue total, plasma ou soro. O teste rápido para Hepatite C detecta
anticorpos anti-HCV no soro, plasma, sangue total ou fluido oral. Em
casos de resultados positivos no teste rápido, amostras podem ser
coletadas para confirmação através de teste molecular para pesquisa
do vírus.

A presença do HBsAg na amostra do paciente, ou seja, um


resultado positivo no teste de imunocromatografia, indica infecção
pelo vírus da Hepatite B. Quando o HBsAg se apresenta positivo por um
período superior a seis meses, é caracterizado o quadro de hepatite B
crônica.

O teste rápido da Hepatite C detecta anticorpos anti-HCV, ou seja,


indica se o paciente já teve contato com o vírus da Hepatite C. Em caso
de resultado negativo, mas permanecendo a suspeita de infecção,
deve-se realizar o teste rápido com nova amostra após 30 dias.

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Princípio metodológico do teste rápido para Hepatite B. Fonte: TELELAB.

Princípio metodológico do teste rápido para Hepatite C. Fonte: TELELAB.

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Marcadores sorológicos da infecção por HIV

O vírus da imunodeficiência humana (HIV) é um retrovírus, possui


um RNA e a enzima transcriptase reversa, que codifica um DNA viral
complementar. Esse vírus possui como alvo principal os linfócitos T
CD4+ e ao atacar essas células, causa uma disfunção no sistema imune
deixando o indivíduo suscetível a infecções oportunistas. A transmissão
do HIV se dá através de via sexual e parenteral, podendo ocorrer
também através de leite materno e acidentes com materiais perfuro
cortantes.

A imunocromatografia é utilizada na triagem para o diagnóstico


do vírus da imunodeficiência humana. Mesmo após um resultado
positivo é necessária a realização de um teste confirmatório, por
método imunoenzimático ou de biologia molecular. Os testes rápidos
disponíveis no Brasil, em sua maioria, detectam anticorpos anti-HIV 1 e
anti-HIV 2, porém existem testes rápidos que detectam também a
proteína p24, um antígeno viral que se eleva na corrente sanguínea
antes da soroconversão (início da produção de anticorpos). Todas as
amostras com resultados positivos ou inconclusivos nos testes de
triagem devem passar por um exame confirmatório.

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Princípio metodológico do teste rápido para detecção de anticorpos anti-HIV 1 e


anti-HIV 2. Fonte: TELELAB.

Marcadores sorológicos na infecção por SARS-


CoV-2

Durante a pandemia do novo coronavírus (SARS-CoV-2), várias


empresas produziram testes rápidos que podem ser utilizados em
diferentes fases da infecção. Durante a fase inicial da infecção, nos
primeiros dias de sintomas, pode ser realizado o teste rápido para
pesquisa de antígenos virais. Esse teste utiliza como amostra a secreção
nasofaríngea coletada com swab. Após cerca de dez dias do início dos
sintomas, a melhor opção é a pesquisa de IgM/IgG no sangue do
paciente, com o objetivo de verificar se houve resposta imune humoral,
com produção de anticorpos.

As metodologias padrão-ouro para o diagnóstico do novo


coronavírus são a pesquisa de material genético viral por RT-PCR

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(transcrição reversa seguida de reação em cadeira da polimerase) em
amostra de secreção nasofaríngea ou orofaríngea e a dosagem de
anticorpos por método automatizado.

Diagnóstico laboratorial da COVID-19. Durante a fase inicial da infecção pelo SARS-


CoV-2 há o aumento da carga viral nas secreções das vias respiratórias. Essa amostra
biológica pode ser utilizada para pesquisa do RNA viral (biologia molecular) ou na
detecção qualitativa de antígenos virais (imunocromatografia). Anticorpos gerados
em resposta ao vírus podem ser detectados por imunocromatografia ou
quantificados em técnicas automatizadas após alguns dias de infecção. Fonte:
<https://delboniauriemo.com.br/saude/diagnostico-infectados-coronav%C3%ADrus>

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Métodos de imunofluorescência –
princípios e aplicações
Os testes de imunofluorescência baseiam-se na propriedade dos
anticorpos se ligarem com fluorocromos de maneira covalente, sem
perder a sua capacidade de se ligar ao antígeno. Fluorocromos são
moléculas que conseguem absorver energia quando expostas a luz de
alta energia (ultravioleta, por exemplo) e emitir luz de baixa energia (luz
visível, por exemplo). Dentre os fluorocromos mais utilizados estão o
isotiocianato de fluoresceína (FITC) e a rodamina B. As técnicas de
imunofluorescência são muito utilizadas em laboratórios de pesquisa e
vem sendo substituída nos laboratórios clínicos devido à necessidade
de microscópio de fluorescência e subjetividade da leitura. Os métodos
de imunofluorescência podem ser utilizados para detectar antígenos
ou anticorpos. Existem dois tipos de imunofluorescência, a direta e a
indireta.

Esquema de uma lâmina com resultado positivo e negativo de imunofluorescência.


Fonte: Mineo et al, 2016.

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Imunofluorescência direta

Ocorre com a utilização de um anticorpo específico ligado ao


fluorocromo que interage diretamente com o antígeno nas células ou
tecidos de interesse. A interação do anticorpo/fluorocromo com o
antígeno forma um complexo estável que pode ser observado no
microscópio de fluorescência. As principais aplicações da
imunofluorescência direta estão nas técnicas de imunocitoquímica,
para evidenciar antígenos em biópsias de rins e pele, na pesquisa de
doenças imunológicas.

Desenho esquemático da imunofluorescência direta. Fonte: Adaptado de Alhabbab,


2018.

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Imunofluorescência indireta

Essa técnica pode ser utilizada para pesquisa de anticorpos e


antígenos, porém é mais empregada na pesquisa de anticorpos. Aqui a
reação ocorre em duas etapas, a primeira consiste na ligação dos
anticorpos presentes na amostra do paciente (anticorpo primário) com
o antígeno específico fixado. A segunda etapa utiliza um anticorpo anti-
imunoglobulina humana conjugado com o fluorocromo (anticorpo
secundário). Assim, o anticorpo secundário pode ser usado em
diferentes pesquisas, uma vez que ele só precisa ser específico para
imunoglobulinas humanas, o anticorpo primário é que precisa ser
específico para cada célula/microrganismo pesquisado. Esse é o
princípio de alguns testes para doenças autoimunes e infecciosas como
a pesquisa de FAN e o FTA-Abs.

Desenho esquemático da imunofluorescência indireta. Fonte: Adaptado de


Alhabbab, 2018.

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Aplicações da imunofluorescência

FTA-Abs (Fluorescent Treponemal Antibody


Absorption)

É considerado o teste de referência ou padrão ouro dentre os


testes treponêmicos no diagnóstico de sífilis, pois pesquisa anticorpos
específicos para a bactéria Treponema pallidum. É o primeiro teste a se
tornar reagente após a infecção, antes do VDRL e outros testes não
treponêmicos. A reação de FTA-Abs utiliza o método de
imunofluorescência indireta. A técnica utiliza bactérias Treponema
pallidum fixadas em áreas demarcadas em lâminas de vidro em que
são adicionadas, posteriormente, os anticorpos primários (específicos
para a bactéria) e secundários (conjugados com o fluorocromo e
específicos para o anticorpo primário). A última etapa é a observação
no microscópio de fluorescência. É importante utilizar controles
positivo e negativo ao preparar a lâmina de FTA-Abs, para que seja mais
fácil a comparação e interpretação dos resultados que podem ser:
reagente (quando as bactérias emitem fluorescência e emitem cor
verde claro, cor de maçã verde), não reagente (os treponemas
apresentam cor avermelhada ou até verde pálida) ou inconclusivo
(bactérias com baixa intensidade de fluorescência ou padrão de
fluorescência descontínua, em pontos espaçados, ou ainda, quando há
num mesmo campo microscópico bactérias com coloração verde fraca
e outras com coloração avermelhada).

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Resultado FTA-Abs positivo. Fonte: <microbeonline.com>

Fator antinuclear (FAN)

O termo Fator antinuclear se refere, de maneira genérica, aos


autoanticorpos pesquisados através de imunofluorescência indireta.
Esses autoanticorpos podem ocorrer em várias doenças autoimunes,
como a artrite reumatoide e lúpus eritematoso sistêmico. Esse método
utiliza células derivadas de um carcinoma de laringe humana e são
conhecidas como células Hep-2. É uma linhagem de células
imortalizada, sendo cultivada em laboratório e com o ciclo de
reprodução de cerca de 36 horas, permitindo ao pesquisador observar
várias fases do ciclo de divisão celular numa mesma lâmina. Uma
limitação da pesquisa de FAN é a dificuldade de padronização dos
laudos. No início dos anos 2000 foram publicados dois Consensos
Brasileiros para padronização, mas alguma variedade nos padrões de
fluorescência nas células, no sistema óptico usado na análise
prejudicam essa uniformidade. Entretanto, há alguns padrões celulares
bem estabelecidos como o padrão nuclear, nucleolar, citoplasmático e
de aparelho mitótico.

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Padrão de fluorescência na pesquisa de FAN em células Hep-2. (A) padrão nuclear


homogêneo; (B) padrão citoplasmático pontilhado reticulado; (C) aparelho mitótico
e centríolos. Fonte: Dellavance, 2002.

Citometria de fluxo

É uma técnica de aplicação de imunofluorescência na


identificação de células em suspensão, podendo ser utilizada na
identificação de antígenos em células vivas. As células passam uma a
uma, pelo sensor, onde são interceptadas por um feixe de luz. Elas vão
sendo analisadas eletronicamente de acordo com a interação com a
luz, como o espalhamento frontal e lateral da luz ou a emissão de
fluorescência.

A citometria de fluxo permite medir vários parâmetros celulares


simultaneamente, como o tamanho, a forma, complexidade interna da
célula e a presença de antígenos marcados com fluorocromos na
superfície das células. Permite também a separação de subpopulações
celulares. Uma aplicação importante dessa técnica é na
imunofenotipagem de células tumorais, na identificação de antígenos
leucocitários e complexo de histocompatibilidade nos transplantes e
no prognóstico de imunodeficiências, principalmente, na infecção pelo
vírus da imunodeficiência humana, onde a contagem de células CD4+
e CD8+ são importantes para o prognóstico do paciente.

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Desenho esquemático da citometria de fluxo. Nesse exemplo, as células marcadas


com anticorpos conjugados com fluorocromo passam pelo aparelho onde são
excitadas pelo feixe de laser e separadas de acordo com suas características
antigênicas. Fonte: Voltarelli et al, 2009.

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Ensaios imunoenzimáticos –
princípios e aplicações

ELISA

Os imunoensaios enzimáticos se baseiam na utilização de


antígenos ou anticorpos conjugados com enzimas e permitem a
detecção e quantificação de substâncias de interesse biológico. O tipo
mais comum é o enzimaimunoensaio ou ELISA (Enzyme-Linked
ImmunoSorbent Assay) e trata-se de um método quantitativo em que
a reação entre o anticorpo e o antígeno é monitorada pela medida de
atividade enzimática. O ELISA utiliza uma fase sólida para imobilização
de um dos antígenos ou anticorpos. Devido a facilidade de manuseio,
realização de múltiplos ensaios e possibilidade de automação, as fases
sólidas mais utilizadas são as placas plásticas de microtitulação. Dessa
forma, um dos reagentes é ligado à fase sólida enquanto outro é
conjugado com a enzima, preservando sua atividade imunológica e
enzimática. A reação é positiva quando o substrato da enzima é
adicionado ao meio e ocorre alteração de cor. Normalmente, o ELISA
utiliza para detecção um sistema espectrofotométrico, sendo o
resultado expresso em densidade óptica. Existem alguns tipos de ELISA
e nesta seção destacaremos o ELISA indireto e o de captura (ou
sanduíche).

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Placa de microtitulação, conhecida popularmente como placa de ELISA. Feita em


plástico com 96 microcavidades. Fonte: Ferreira, 2013.

Esquema representativo dos componentes dos métodos ELISA indireto e ELISA


sanduíche ou de captura. Fonte: Adaptado de Mineo, 2016.

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ELISA indireto

É um dos métodos mais utilizados quando se pretende pesquisar


anticorpos. As placas de microtitulação são sensibilizadas com o
antígeno correspondente ao anticorpo de interesse. Caso o anticorpo
(primário) esteja presente na amostra do paciente, ocorrerá ligação
com o antígeno formando um complexo, que será detectado com a
adição de um segundo anticorpo, este específico para o anticorpo da
amostra e conjugado com uma enzima (geralmente uma peroxidase).
Quando se adiciona o substrato específico da enzima e um agente
cromógeno, ocorre uma reação com geração de cor. A intensidade da
cor é proporcional à atividade da enzima e também proporcional à
concentração do anticorpo ligado ao antígeno. Ao colocar a placa num
espectrofotômetro leitor de placas, a densidade óptica é obtida e pode
ser comparada a uma curva-padrão com concentrações conhecidas de
anticorpos.

Esquema com o princípio do ELISA indireto. Fonte: Voltarelli et al, 2009.

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ELISA sanduíche ou de captura

Este tipo é mais utilizado para pesquisas de antígenos, que


podem ser antígenos de microrganismos (como o HBsAg, antígeno de
superfície do vírus da hepatite B), hormônios, proteínas, dentre outros.
Aqui, os anticorpos específicos são fixados na fase sólida (placa de
microtitulação) e depois é adicionada a amostra em que se visa a
pesquisa do antígeno. Posteriormente é adicionado um segundo
anticorpo, este é específico também para o antígeno e conjugado com
uma enzima. Após a adição do substrato e cromógeno, ocorrerá a
reação de cor, semelhante ao ELISA indireto.

Esquema com o princípio do ELISA de captura. Fonte: Voltarelli et al, 2009.

O teste confirmatório para infecção por HIV pode ser realizado


através do método imunométrico de quarta geração do tipo ELISA, que
é uma aplicação do ELISA sanduíche. A vantagem desse teste em
relação aos anteriores é a detecção simultânea de anticorpos
específicos anti-HIV e da proteína p24. Essa proteína p24 pode ser
detectada no soro do paciente antes da produção de anticorpos, isso
torna o ELISA de quarta geração um teste muito mais sensível e
específico, reduzindo também a janela diagnóstica para cerca de 15 dias
(ensaios que detectam somente anticorpos tem uma janela
diagnóstica de cerca de 30 dias).

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Esquema do ensaio imunométrico de quarta geração do tipo ELISA para diagnóstico


confirmatório de infecção por HIV. Fonte: TELELAB.

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Quimioluminescência
O fundamento da quimioluminescência se baseia no fenômeno
em que se obtém energia luminosa a partir de uma reação química
envolvendo moléculas que emitem luz quando passam de um estado
de excitação para o estado eletrônico basal. É diferente da
fluorescência, onde a luz é emitida em resposta a uma radiação
incidente, aqui a luz é produto de uma reação química.

O princípio de um imunoensaio por quimioluminescência


consiste na detecção da interação antígeno-anticorpo utilizando uma
enzima e uma mistura de substâncias que atuarão como substrato da
enzima e como emissor de luz. Esse princípio guarda muitas
semelhanças com o imunoensaio enzimático (ELISA). Um sistema
bastante conhecido em quimioluminescência é a utilização da enzima
peroxidase com o luminol. Pela ação da peroxidase, o peróxido de
hidrogênio do meio promove a oxidação do luminol, formando um
radical aniônico aminoftálico, que é uma espécie eletronicamente
excitada. Ao retornar para seu estado basal, essa espécie química emite
luz, que pode ser detectada por um luminômetro.

Vários sistemas automatizados foram desenvolvidos


empregando a quimioluminescência em imunoensaios. A medida da
luz emitida é chamada de luminometria, por isso os aparelhos recebem
o nome de luminômetros. Por se tratar de um ensaio muito sensível, é
bastante utilizado na dosagem de anticorpos, antígenos, fármacos,
enzimas, vitaminas, hormônios, marcadores tumorais, sendo uma
metodologia tão importante quanto a espectrofotometria no âmbito
da bioquímica clínica.

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45

Esquema de um imunoensaio quimioluminescente. O anticorpo é ligado à HRP,


sigla para horseradish peroxidase, uma enzima peroxidase isolada de raiz forte,
muito utilizada nos sistemas de quimioluminescência. Fonte: TELELAB.

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46
Tópicos em imunoterapia e
imunoprofilaxia
A imunidade contra patógenos e antígenos em geral pode ser
alcançada tanto pela resposta imune do hospedeiro quanto pela
transferência direta de anticorpos que neutralizam os patógenos e
antígenos. Quando a imunidade é induzida através da exposição ao
antígeno é chamada de imunidade ativa. Nesse caso, os linfócitos
inexperientes são apresentados aos antígenos e induzem a imunidade
humoral e celular. Este processo ocorre quando o indivíduo é infectado
pelo patógeno ou quando o indivíduo é vacinado.

A imunidade passiva ocorre com a transferência de anticorpos de


um indivíduo imunizado para um indivíduo inexperiente, que nunca
entrou em contato ou gerou resposta eficaz contra um antígeno. Um
exemplo fisiológico de imunidade passiva é a transferência de
anticorpos por via placentária durante a gestação e através do leite
materno. Outro exemplo de imunidade passiva é a utilização de soro
contendo anticorpos no tratamento de acidentes com animais
peçonhentos.

A resposta imune dos indivíduos pode ser manipulada. Os


anticorpos podem ser utilizados como uma ferramenta terapêutica no
tratamento de situações clínicas, processo denominado imunoterapia.
Já a utilização das vacinas na prevenção de doenças configura um
processo de imunoprofilaxia.

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Imunidade ativa e passiva. Fonte: Abbas, 2019.

Soroterapia

A utilização de soro contendo anticorpos é uma estratégia


utilizada no tratamento de algumas condições, como infecção por
alguns patógenos, intoxicação por medicamentos (exemplo mais
representativo é a utilização de anticorpos na intoxicação por
digitálicos) ou acidentes com animais peçonhentos. O mecanismo de
ação do soro é a ligação direta dos anticorpos com os venenos, as
toxinas ou patógenos, neutralizando a atividade tóxica. São utilizados
porque são compostos de anticorpos prontos, e se tratando de uma
condição clínica urgente, não daria tempo de esperar a resposta imune
do hospedeiro.

Os soros são produzidos a partir da inoculação do veneno (ou


antígeno), em baixas doses, em um animal, sendo os cavalos os mais
utilizados. O animal irá desenvolver uma resposta imune natural contra
o veneno. O sangue do animal é coletado e posteriormente os

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anticorpos são separados e purificados, além de receberem alguns
tratamentos que reduzam a chance de causar reações adversas. Um
desses tratamentos é a fragmentação do anticorpo, de modo que
apenas a fração Fab, que se ligará com o veneno, esteja na preparação.
Por serem produzidos a partir de outra espécie para ser utilizado em
humanos, esses soros recebem o nome de soros hiperimunes
heterólogos.

Produção de soro hiperimune heterólogo. O veneno é inoculado no animal, que


desenvolverá anticorpos contra o veneno. Esses anticorpos são purificados e
utilizados no tratamento de acidentes com inoculação do veneno. Fonte: Ribeiro et
al, 2019.

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Quadro 1. Soros heterólogos hiperimunes produzidos no Brasil.


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Tipo de soro Nome Indicação


Acidentes com serpentes do
Antibotrópico gênero Bothrops,
pentavalente popularmente conhecidas
como jararaca

Acidentes com serpentes do


Anticrotálico gênero Crotalus, popularmente
conhecidas como cascavel

Acidentes com serpentes do


gênero Micrurus, popularmente
Antielapídico bivalente
conhecidas como coral
verdadeira

Antibotrópico e Acidentes com serpentes do


anticrotálico gênero Bothrops e Crotalus
Antiveneno

Acidentes com serpentes do


Antibotrópico e gênero Bothrops e Lachesis,
antilaquético popularmente conhecidas como
surucucu

Acidentes com aranhas do


Antiaracnídico (Loxosceles, gênero Loxosceles (aranha-
Phoneutria e Tityus) marrom), Phoneutria (armadeira)
e escorpiões do gênero Tityus

Acidentes com escorpiões do


Antiescorpiônico
gênero Tityus

Acidentes com lagartas do


Antilonômico
gênero Lonomia

Antitetânico Tratamento de tétano

Antidiftérico Tratamento de difteria


Antitoxina
Tratamento de botulismo do tipo
Antibotulínico tipo AB
AeB

Tratamento de botulismo do tipo


Antibotulínico tipo E
E
Profilaxia pós-exposição ao vírus
Antiviral Antirrábico
da raiva
Fonte: Instituto Butantan, 2018.

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Vacinas

A vacinação consiste na administração de um imunógeno, e este,


por sua vez, consiste num antígeno que induz resposta imune protetora
de longa duração e é capaz de prevenir a doença. A imunização natural
de um indivíduo ocorre quando ele entra em contato com o agente
etiológico selvagem ou natural, que causa a doença mesmo. As vacinas
são desenvolvidas com o objetivo de prevenir doenças graves, logo, não
seria racional administrar o próprio microrganismo nas pessoas pois
induziria a forma natural da doença. Assim, uma vacina precisa ser
eficaz e segura, ou seja, ela deve induzir uma imunidade que seja
protetora por um determinado tempo e que não apresente risco (ou
apresente um risco mínimo) quando comparada ao risco da infecção
natural. A seguir serão abordadas algumas estratégias empregadas no
desenvolvimento de vacinas.

A estratégia mais antiga de vacinação consiste na utilização de


microrganismos completos ou intactos que receberam algum
tratamento (passagem repetidas por culturas de células, tratamento a
frio ou seleção de cepas menos virulentas que a selvagem) para serem
atenuados ou mortos. Dessa forma, esses microrganismos não causam
a doença mas mantém a sua capacidade de induzir resposta
imunológica. Há diferenças importantes entre vacinas de
microrganismos atenuados e mortos. As vacinas de microrganismos
atenuados são capazes de induzir uma ótima memória imunológica,
especialmente as vacinas virais atenuadas. Porém, as vacinas
atenuadas apresentam um risco de reativação em pacientes
imunodeficientes e debilitados. Já as vacinas de microrganismos
mortos não apresentam risco de causar a doença por reativação,
mesmo em indivíduos imunodeficientes. Entretanto, sua proteção é
menos duradoura e geralmente são necessárias várias doses para
indução de imunidade. Entre as vacinas de microrganismos atenuados

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tem-se a vacina BCG (bacilo de Ca lmette-Guérin), a vacina
poliomielite oral (“zé gotinha”), a vacina febre amarela, a vacina
rotavírus e a vacina tetravalente (sarampo, caxumba, rubéola e varicela).
Dentre as vacinas de vírus inativados ou mortos, é possível citar a vacina
poliomielite injetável, vacina hepatite A, vacina da raiva, vacina
influenza sazonal trivalente e, mais recentemente, a vacina contra o
novo coronavírus (SARS-CoV-2) desenvolvida pelo laboratório
Sinovac/Butantan.

As vacinas de subunidades vieram como uma alternativa mais


segura quando comparadas as vacinas atenuadas, que poderiam
causar reativação. Essas vacinas são compostas por toxinas inativadas
ou polissacarídeos. Algumas vacinas são compostas por toxinas que
receberam tratamento químico para serem inativadas sem perder as
propriedades antigênicas, recebendo o nome de toxoide. Toxoides
diftérico e tetânico são utilizados há décadas para imunização. Toxoides
botulínicos e colérico também podem ser utilizados em alguns casos.

Alguns polissacarídeos são os principais antígenos de algumas


bactérias capsuladas, como Streptococcus pneumoniae, Neisseria
meningitidis e Haemophilus influenzae, porém esses polissacarídeos
são imunógenos fracos, podendo ser utilizados isoladamente ou
necessitando do acoplamento com uma proteína carreadora para
aumentar a imunogenicidade, recebendo o nome de vacinas
conjugadas. Essas vacinas necessitam também de adjuvantes, que
aumentam o processo inflamatório e o tempo de exposição ao
antígeno. Como exemplo destas vacinas, a meningocócica AC
(polissacarídica), a vacina pneumocócica (conjugada) e a Hib
(Haemophilus influenzae – conjugada).

Outro tipo de vacina com mais segurança é a produção sintética


de antígenos. Nesse tipo, os antígenos mais imunogênicos dos

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microrganismos podem ser sintetizados por tecnologia de DNA
recombinante, preparando grades quantidades de antígenos. Vacinas
recombinantes são usadas atualmente para hepatite B (antígeno de
superfície do HBV) e papilomavírus humano (proteínas do vírus HPV 6,
HPV 11, HPV 16 e HPV 18). A empresa Novavax desenvolveu uma vacina
para o novo coronavírus baseada em nanopartículas recobertas com as
proteínas Spike do SARS-CoV-2 sintéticas.

Um novo passo no desenvolvimento de vacinas veio com a


possibilidade de utilizar material genético como vacina. Com essa
estratégia, as células hospedeiras recebem “instruções” para a
produção dos antígenos e indução da resposta imune. Com o advento
dos vetores virais, são utilizados vírus não patogênicos como
carreadores de material genético microbiano, que irá codificar os
antígenos com a auxílio das células hospedeiras e apresentar esses
antígenos aos linfócitos. A vantagem desse tipo de vacina é a indução
de uma forte resposta imune. Um possível problema seria a produção
de anticorpos contra as células hospedeiras infectadas com os vírus não
patogênicos. Os laboratórios Johnson & Jonhson, Gamaleya (Sputnik V)
e Oxford/AstraZeneca/FIOCRUZ utilizam vetores virais no
desenvolvimento de suas vacinas de DNA contra o SARS-CoV-2. Outras
empresas, como a Pfizer/BioNTech e a Moderna, utilizam uma
tecnologia um pouco diferente e desenvolveram suas vacinas contra o
novo coronavírus utilizando RNA mensageiro (mRNA) inserido em
partículas lipídicas que são captadas pelas células hospedeiras.

As vacinas são uma importante estratégia de prevenção e


enfrentamento das doenças. Diferentes técnicas são elaboradas para o
desenvolvimento de vacinas cada vez mais eficazes e seguras, que
induzam a produção de anticorpos neutralizantes e de células de
memória.

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Referências
ABBAS, Abul K; PILLAI, Shiv; LICHTMAN, Andrew H. Imunologia celular
e molecular. 9 ed. Rio de Janeiro: Editora Elsevier, 2019.

ALHABBAB, Rowa Yousef. Basic Serological Testing. Springer


International Publishing, 2018.

BARCELOS, Luiz Fernando (Ed.); AQUINO, Jerolino Lopes (Ed.). Tratado


de Análises Clínicas. 1 ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2018.

DELLAVANCE, Alessandra et al. I Consenso Nacional para Padronização


dos Laudos de FAN HEp-2. J. Bras. Patol. Med. Lab. Rio de Janeiro , v. 38,
n. 3, 2002.

FERREIRA, Antonio Walter; MORAES, Sandra do Lago. Diagnóstico


laboratorial das principais doenças infecciosas e autoimunes. 3 ed. Rio
de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013.

GUZMAN, Maria G. et al. Dengue: a continuing global threat. Nat Rev


Microbiol, 8, 2010.

MINEO, José Roberto et al. Manual ilustrado de práticas laboratoriais em


imunologia. Uberlândia: EDUFU, 2016.

NATURE. The race for coronavirus vaccines: a graphical guide.


Disponível em <https://www.nature.com/articles/d41586-020-01221-y>.
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RIBEIRO, Helem Ferreira et al. Imunologia clínica. Porto Alegre: SAGAH,


2019.

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TELELAB. Diagnóstico de Hepatites Virais. Disponível em
<https://telelab.aids.gov.br/index.php/component/k2/item/94-
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TELELAB. Diagnóstico de Sífilis. Disponível em


<https://telelab.aids.gov.br/index.php/component/k2/item/95-
diagnostico-de-sifilis>. Acesso em 11 de mar. de 2021.

VAZ, Adelaide J; TAKEI, Kioko; BUENO, Ednéia Casagranda.


Imunoensaios – fundamentos e aplicações. 1 ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2007.

VOLTARELLI, Júlio César et al. Imunologia clínica na prática médica. São


Paulo: Atheneu, 2009.

YANG, Suzhen et al. A rapid immunochromatographic strip for


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serotype O. RSC Adv, 7, 2017.

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