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CONCEITO: Como sabemos, a sanção penal é a resposta dada pelo

Estado à pessoa que praticou uma infração penal. Existem duas espécies de
sanção penal: Pena e medida de segurança.
A medida de segurança é uma medida jurídica aplicada pelo sistema de
justiça em muitos países para lidar com indivíduos que tenham cometido
crimes, mas que, devido a distúrbios mentais ou transtornos psiquiátricos, não
são considerados responsáveis por suas ações da mesma forma que
indivíduos mentalmente saudáveis. Em vez de serem condenados a penas de
prisão tradicionais, esses indivíduos são submetidos a medidas de segurança
com o objetivo de proteger a sociedade e, ao mesmo tempo, fornecer
tratamento e reabilitação para sua condição mental.

Pode ser de duas espécies: detentiva e restritiva.

- Medida de segurança detentiva: consiste em internação em hospital de


custódia e tratamento psiquiátrico. Se não houver hospital de custódia, a
internação deverá ocorrer em outro estabelecimento adequado. É chamada de
detentiva porque representa uma forma de privação da liberdade do agente.

- Medida de segurança restritiva: consiste apenas em tratamento


ambulatorial. O agente permanece livre, mas tem uma restrição em seu direito,
qual seja, a obrigação de se submeter a tratamento ambulatorial.

Diferentemente das penas, a medida de segurança tem uma finalidade


essencialmente preventiva, e não retributiva. Volta-se para o futuro, e não para
o passado. Não se ajusta à gravidade do feto delituoso, mas sim ao grau de
periculosidade do agente.

Em resumo, a medida de segurança deve atender a dois interesses: a


segurança social e, principalmente, a obtenção da cura daquele a quem é
imposta, ou a possibilidade de um tratamento que minimize os efeitos da
doença mental.

Extinta a punibilidade do agente, não se impõe medida de segurança nem


subsiste a que tenha sido imposta (art. 96, parágrafo único, do CP).

INTERNAÇÃO PROVISÓRIA: Nos crimes praticados com violência ou


grave ameaça, quando os peritos concluírem ser o acusado inimputável ou
semi-imputável e houver risco de reiteração da conduta criminosa, o juiz
poderá determina a internação provisória do acusado.

ABSOLVIÇÃO IMPRÓPRIA: É a sentença que declara que o fato


cometido é típico e ilícito, mas o autor da infração penal é INIMPUTÁVEL.
Nesse caso, o juiz deve absolver o réu, mas aplicar uma medida de
segurança.

INCIDENTE DE INSANIDADE MENTAL: Qual é o procedimento


necessário para se constatar a necessidade ou não de aplicação da medida de
segurança? Se houver séria dúvida sobre a integridade mental do acusado, o
juiz determina a instauração de um incidente de insanidade mental (art. 149 do
CPP). O réu será submetido a um exame médico-legal que irá diagnosticar se
ele, ao tempo da ação ou da omissão criminosa, tinha capacidade de entender
o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

Após o incidente e, com base nas conclusões do médico perito, o juiz poderá
concluir que o réu é:

a) Imputável: nesse caso, ele será julgado normalmente e poderá ser


condenado a uma pena;

b) Inimputável: se ficar provado que o agente é inimputável, ou seja, que


por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado
ele era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com
esse entendimento, ele ficará isento de pena (art. 26 do CP) e poderá ou
não receber uma medida de segurança, a depender de existirem ou não
provas de que praticou fato típico e ilícito;

c) Semi-imputável: se ficar provado que, em virtude de perturbação de


saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado, o
agente não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato
ou de determinar-se de acordo com esse entendimento, ele poderá: 1)
ser condenado, mas sua pena será reduzida de 1/3 a 2/3, nos termos do
parágrafo único do art. 26 do CP; OU 2) receber medida de segurança,
se ficar comprovado que necessita de especial tratamento curativo (art.
98 do CP).

SISTEMAS: Há dois sistemas de aplicação da medida de segurança:


Duplo binário e vicariante.

- Duplo binário ou de dois trilhos: de acordo com esse sistema, aplica-se


ao semi-imputável a pena e a medida de segurança, cumulativamente.
Cumpria inicialmente a pena privativa de liberdade e, ao seu final, se mantida a
presença da periculosidade, ser

- Vicariante ou unitário: de acordo com esse sistema, aplica-se ao semi-


imputável pena ou medida de segurança. Ou uma ou outra: a aplicação é
alternativa. O sistema adotado pelo art. 98 do CP é o vicariante.

ATENÇÃO: Imaginamos que João cumpre uma pena privativa de


liberdade em razão de ter cometido um furto. Durante o cumprimento dessa
pena, João é condenado em outra ação pela prática de um roubo anterior,
ficando reconhecida, contudo, sua semi-imputabilidade. Pode o juiz fixar
medida de segurança ou isso seria violação ao sistema vicariante?

O STJ, no julgamento do HC 275.635/SP, entendeu que o sistema vicariante é


óbice para a fixação cumulativa de medida de segurança e pena privativa de
liberdade ao semi-imputável pelo mesmo fato. Como no caso acima narrado,
os fatos são diversos (crimes praticados em momentos distintos), não há que
se falar em violação ao sistema vicariante.

PRAZO DE DURAÇÃO DA MEDIDA DE SEGURANÇA: O artigo 97, § 1º,


do Código Penal afirma que a medida de segurança será aplicada por tempo
indeterminado e que deverá ser mantida enquanto o indivíduo for considerado
perigoso. O prazo mínimo deve ser de 01 (um) a 03 (três) anos.

Desse modo, pela redação literal do CP, a medida de segurança poderia durar
por toda a vida do indivíduo, já que, enquanto não ficasse provado que cessou
a periculosidade, ele ainda teria que permanecer internado ou em tratamento
ambulatorial.

Todavia, esse prazo indeterminado de cumprimento da medida de segurança é


incompatível com a CR/88, que dispõe expressamente em seu art. 5º, inciso
XLVII que não pode haver “penas de caráter perpétuo”. Desse modo,
atualmente, tanto o STJ como o STF afirmam que existe sim prazo máximo de
duração das medidas de segurança, porque estas possuem caráter punitivo.

- STF: Predomina o entendimento no sentido de que a medida de


segurança deverá obedecer a um prazo máximo de 30 (trinta) anos, fazendo
uma analogia ao art. 75 do CP. Contudo, o próprio STF já decidiu em algumas
oportunidades que a medida de segurança deve observar a pena máxima
abstratamente cominada ao delito praticado.

- STJ: Editou a Súmula nº 527: “O tempo de duração da medida de


segurança não deve ultrapassar o limite máximo da pena abstratamente
cominada ao delito praticado.” A conclusão do STJ é baseada nos princípios
da isonomia e proporcionalidade (proibição de excesso). Não se pode tratar de
forma mais gravosa o infrator inimputável quando comparado ao imputável.
Ora, se o imputável somente poderia ficar cumprindo a pena até o máximo
previsto na lei para aquele tipo penal, é justo que essa mesma regra seja
aplicada àquele que recebeu medida de segurança.

DOENÇA MENTAL SUPERVENIENTE: E no caso de o agente capaz na


data da conduta vier a desenvolver anomalia psíquica no curso da execução da
pena privativa de liberdade, o que o juiz deve fazer?

Os artigos 108 e 183 da LEP tratam sobre o assunto. Dependendo do caso


concreto, o juiz poderá determinar uma simples internação para tratamento e
cura de doença passageira, hipótese em que o tempo de tratamento contará
como pena cumprida. Ou, tratando-se de anomalia não passageira, o juiz
poderá substituir a pena privativa de liberdade por medida de segurança, nos
moldes do art. 96 do CP. Nessa hipótese, o STJ decidiu no HC 219.014/RJ que
a medida de segurança substitutiva deve ter a mesma duração da pena
privativa imposta na sentença penal condenatória, sob pena de ofensa à coisa
julgada.
CRITÉRIO PARA ESCOLHA DA INTERNAÇÃO OU TRATAMENTO
AMBULATORIAL: O caput do art. 97 do CP determinou o seguinte critério
para guiar o juiz no momento de fixar a medida de segurança cabível:

- Se o agente praticou fato punido com RECLUSÃO, ele receberá,


obrigatoriamente, a medida de internação.

- Se o agente praticou fato punido com DETENÇÃO, o juiz, com base na


periculosidade do agente, poderá submetê-lo à medida de internação ou
tratamento ambulatorial.

OBS 1: Esse critério é alvo de críticas da doutrina e da jurisprudência,


havendo julgados abrandando o rigor e concedendo tratamento ambulatorial
para pessoas que praticaram fatos punidos com reclusão. No entanto, em
provas, o mais comum é ser cobrada a redação literal do art. 97 do CP.
OBS 2: Em qualquer fase do tratamento ambulatorial, o juiz poderá determinar
a internação do agente, se essa providência for necessária para fins curativos
(art. 97, § 4º, do CP). Não se trata de uma regressão, como medida punitiva,
mas sim de uma medida curativa.

OBS 3: O médico particular pode acompanhar a execução da medida,


resolvendo o juiz da execução eventual divergência com as conclusões do
perito oficial (art. 43 da LEP).

DESINTERNAÇÃO: Caso a perícia médica conclua que a periculosidade


do agente se encontra cessada, a desinternação, ou a liberação, será sempre
CONDICIONAL devendo ser restabelecida a situação anterior se o agente,
antes do decurso de 1 (um) ano, pratica fato (não necessariamente crime)
indicativo de persistência de sua periculosidade (art. 97, § 3º, do CP).

Referencias:

https://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/bibliotecavirtual/presos/
parte910.htm#:~:text=A%20medida%20de%20segurança%20é,pode%20ser
%20tratado%20em%20Pres%C3%ADdio%3F

https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/03042022-A-
aplicacao-das-medidas-de-seguranca-sob-o-crivo-do-STJ.aspx

https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/8536/Medida-de-seguranca-
principios-e-aplicacao

https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/campanhas-e-produtos/direito-
facil/edicao-semanal/medidas-de-seguranca#:~:text=O%20C%C3%B3digo
%20Penal%2C%20nos%20artigos,podem%20sofrer%20as%20penas%20cab
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