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23/08/2023 Tratamento e Profilaxia I

AULA 3 – TRATAMENTO E PROFILAXIA DE AFECÇÕES DOS SISTEMAS TEGUMENTAR,


ENDOCRINOLÓGICO E CARDIORRESPIRATÓRIO DE ANIMAIS DE PEQUENO PORTE

Micoses
• Micoses: infecções causadas por fungos
✓Podem acometer pele, pelo, unhas, outros sistemas
✓Superficiais
✓Profundas

Condições ambientais (calor, umidade, contato com terra...) e de manejo; estado


imunológico; estado nutricional; contactantes; predisposição genética...
Prevenção/controle/tratamento

Tratamento

• Tratamento medicamentoso:
✓Local/Tópico
✓Sistêmico
✓Associado e associações
Lesões locais, disseminadas, sistêmicas, superficiais, profundas...
Qual a afecção
Espécie, idade do paciente, estado nutricional, afecções concomitantes...
Condições clínicas do animal

Medicamentos para o Tratamento das Micoses

Medicamentos Antifúngicos
• Classe dos azóis: dois grupos:
o Imidazóis: atuam ao nível do citocromo P-450, por inibição da 14α-desmetilase, que é
responsável pela transformação do lanosterol em ergosterol => inibe, assim, a síntese
da membrana celular => impede o crescimento do organismo; altera
✓Atividade antifúngica de amplo espectro; são ativos contra algumas bactérias, principalmente as gram-positivas
✓Cetoconazol, clotrimazol, miconazol e econazol
o Triazóis: grande eficiência e menor toxicidade para mamíferos
✓Mecanismo de ação igual ao dos imidazóis, mas, diferentemente dos imidazóis, os triazóis têm alta afinidade pelo P-450
fúngico, não apresentando afinidade pelo P-450 de mamíferos.
✓Fluconazol, itraconazol, terconazol, voriconazol, ravuconazol e posaconazol
IMIDAZÓIS - Cetoconazol
• superficiais e sistêmicas
✓Tem apresentação oral e tópica
✓Absorção facilitada por pH ácido
- Antiácidos e antagonistas histaminérgicos H2 (p. ex., cimetidina), diminuem a absorção;
✓Distribui-se pelo organismo; baixos níveis no líquido cefalorraquidiano;
✓Atravessa a barreira placentária – teratogênico/embriotóxico – fetos mumificados/aborto;
✓Elevação de enzimas hepáticas - efeitos hepatotóxicos

✓Principais reações adversas: vômitos, náuseas, diarreia ou constipação intestinal e dor abdominal
- Esses efeitos podem ser diminuídos ou prevenidos pela administração de alimento
juntamente com o antifúngico;
✓Em cães: inapetência, prurido e alopecia; supressão da síntese de testosterona – distúrbios reprodutivos;
✓Altas doses – Pode diminuir a produção de cortisol
✓De modo geral, os felinos são mais sensíveis aos efeitos tóxicos do cetoconazol que os cães

Miconazol
✓Amplo espectro de atividade antifúngica e antibacteriana, particularmente em cocos gram-positivos (Staphylococcus e
Streptococcus)
✓Tópico:
-Rapidamente absorvido, podendo persistir por até 4 dias no estrato córneo
-Efeitos adversos: queimação, prurido e irritação
Clotrimazol
✓ Apenas tópico
✓Têm também ação em Staphylococcus e Streptococcus
✓Reações: ardência, eritema, edema, descamação, prurido

TRIAZÓIS - Itraconazol

✓VO
✓Micoses superficiais e profundas/sistêmicas
✓Comparado ao cetoconazol: maior espectro de ação, é mais efetivo em doses menores e tem menores manifestações de
efeitos colaterais;
✓Excelente absorção, especialmente se administrado com o alimento ou após; tb requer pH ácido;
✓Distribui-se amplamente=> pele; níveis no SNC são baixos, entretanto, é mais efetivo que os imidazóis;
✓Poucos efeitos tóxicos:
- Não produz atividade antiandrogênica;
- Doses elevadas - efeitos embriotóxicos e teratogênicos - não se recomenda o uso durante a gestação; hepatotóxico

Fluconazol
✓Via oral, tópica
- VO => não requer as condições de pH ácido do meio;
✓Distribui-se amplamente por todo o organismo
- Atinge concentrações elevadas no líquido cefalorraquidiano => tratamento da maioria das meningites fúngicas;
✓Micoses superficiais e profundas;
✓Efeitos indesejáveis – pouco frequentes: náuseas, dor abdominal, vômito, diarreia, flatulência, erupções cutâneas e lesões
bolhosas;
✓Evitar o uso em animais prenhes;
✓Superdosagem pode provocar insuficiência hepática.
Terbinafina
✓Pertencente ao grupo das alilaminas;
✓Antifúngico: inibe a enzima esqualeno epoxidase que está envolvida na síntese do
ergosterol, importante para a formação da membrana fúngica. Além disso, o acúmulo do esqualeno no interior da célula produz
toxicidade para o fungo;
✓Ceratinofílico;
✓VO e tópica;
✓Tratamento de dermatofitoses;
✓Uso combinado com itraconazol no tratamento de algumas doenças fúngica sistêmicas ou profundas, como esporotricose
(casos refratários de esporotricose canina ou felina quando houver suspeita de resistência, intolerância ou pouca resposta ao
uso do itraconazol) e aspergilose.
✓Efeitos adversos: sinais gastrintestinais e, mais dificilmente, hepatotoxicidade, neutropenia ou pancitopenia.
Antibióticos antifúngicos
• Antibióticos poliênicos – ligam-se à membrana celular e comprometem o metabolismo
✓Anfotericina B e Nistatina
o Anfotericina B:
✓Tratamento de infecções fúngicas sistêmicas (IV);
✓Vários efeitos adversos; toxicidade renal (vasoconstritor em arteríola aferente);
✓Tópica
o Nistatina:
✓O uso limita-se às micoses de pele e mucosas; espectro de ação limitado às leveduras;
✓Efeitos adversos raros – Tópico: irritação

Antibióticos antifúngicos
• Antibióticos não poliênicos:
o Griseofulvina:
✓Penetra na célula fúngica e inibe a mitose. Causa, ainda, alterações morfogenéticas na
parede celular;
✓Utilizada no tratamento de dermatofitoses;
✓VO, tópico – contraindicado em gatos (p/te FIV)
- Pode-se aumentar a absorção por meio da administração concomitante com alimentos ricos em gordura / Absorção => pele: é
captada por queratinócitos, onde se incorpora à queratina
✓Reações adversas mais frequentes: vômito, diarreia e anorexia. P/te em felinos: anemia, leucopenia, mielosupressão e
anormalidades neurológicas; nefrotoxicidade
✓O uso em animais prenhes é totalmente contraindicado -> teratogênico

Outros Antifúngicos
• Iodeto de potássio:
✓Micoses profundas (esporotricose, se necessário)
✓Pouco se sabe sobre seus mecanismos de ação => afetam a resposta imune do hospedeiro, por meio do aumento da atividade
do sistema halida-peroxidase, nas células fagocitárias
✓Cães e gatos
- Felinos são mais sensíveis aos efeitos tóxicos
✓Reações adversas mais observadas: corrimento oculonasal, vômitos, anorexia, depressão

Dermatofitoses
• Micoses cutâneas superficiais – restritas à camada córnea da epiderme e/ ou tecidos queratinizados, como pelos, unhas,
cascos e penas
✓Agentes: Microsporum canis; Microsporum gypseum; Trichophyton mentagrophytes
o 2016 => estudo filogenético revisou a taxonomia dos dermatófitos
Estão distribuídos entre os gêneros Arthroderma, Epidermophyton, Lophophyton, Microsporum, Nannizzia e Trichophyton;
Guarromyces e Paraphyton
✓Importância em saúde pública => zoonoses
• Transmissão: contato direto com suscetíveis ou indireto
✓Alterações das barreiras da pele favorecem o desenvolvimento da doença

Tratamento e Controle das Dermatofitoses


• Tratamento tópico; tratamento sistêmico; associação
• Higienização ambiental
o Tratamento tópico:
✓Tosa – cuidado – sem machucar
✓Xampus: Miconazol – 2/3% ; Cetoconazol – 2/3% ; Clorexidine - 3%; Terbinafina 2%
- Associações
- 1 a 2x por semana; Deixar agir por 10 min.; no mínimo, 4-6 semanas (até que os resultados da cultura fúngica de
acompanhamento sejam negativos)
- Gatos e cães expostos e não infectados devem ser submetidos ao tratamento profilático semanal com banho com antifúngico
tópico pelo mesmo período que os animais infectados.
✓Creme, gel, loção, spray: imidazóis; terbinafina

Tratamento e Controle das Dermatofitoses


✓Tratamento sistêmico:
- Gatos e cães com dermatofitose NÃO RESPONSIVA à terapia tópica isolada => combinar à terapia sistêmica prolongada =>
continuar por até 3 a 4 semanas* após a obtenção de resultados negativos à cultura fúngica de acompanhamento. A duração
média da terapia é de 8 a 12 semanas
✓Itraconazol: 5 a 10 mg/kg VO a cada 24 horas com alimento - Menos efeitos adversos/colaterais (hepatotoxicidade)
Período: 5 – 8 semanas* ou cultura negativa
Preferencialmente deve-se obter dois resultados negativos de cultura fúngica com intervalos de 2 ou 3 semanas
entre eles.

• Ambiente:
✓M. canis – até 18 meses no ambiente
✓Higienização:
- Remoção mecânica dos esporos (aspirar pelos)
- Lavar superfícies com desinfetantes (remoção de matéria orgânica) Hipoclorito de sódio 1:10 água / Amônia quaternária a
0,3% Mínimo - 2x por semana
- Os esporos de fungos não gostam de luz ultravioleta (luz solar) => colocar gaiolas, caixas de transporte e outros materiais ao
sol em um ambiente externo após a limpeza e a desinfecção
- Usar luvas. Considerar também o uso de máscara e óculos de proteção

Malasseziose
• Micose superficial causada pela multiplicação excessiva
de leveduras do gênero Malassezia
✓O gênero inclui 15 espécies: M. furfur, M. globosa, M. obtusa, M. restricta, M. slooffiae, M. sympodialis, M. dermatis, M. nana,
M. japonica, M. yamatoensis, M. equina, M. caprae e M. cuniculi, M. arunalokei, M. pachydermatis.
✓Gênero é comensal da pele e mucosas de diferentes espécies animais
- Pode vir a causar dermatite e otite externa em determinadas situações
- Fatores predisponentes: distúrbios endócrinos e metabólicos, disfunção imunológica, umidade aumentada, predisposição
genética e alterações
cutâneas por hipersensibilidade
- Afecções concomitantes
• Tratamento:
✓Qualquer causa subjacente (alergias, endocrinopatia...) deve ser identificada e corrigida

o Casos brandos: terapia tópica isolada geralmente é eficaz


✓Banho a cada 2 a 3 dias com xampu com cetoconazol a 2%, cetoconazol a 1%/clorexidina a 2%, miconazol a 2%, clorexidina a
2% a 4% ou sulfeto de selênio a 1% (apenas em cães)
- Os xampus com dois ingredientes ativos têm maior eficácia
- O tratamento deve continuar até a resolução das lesões e a ausência de microrganismos à citologia cutânea de
acompanhamento (≈ 4 semanas)
✓Creme, pomada, solução otológica...

Tratamento e Controle
o Casos moderados a graves:
✓Itraconazol: dose de 5 a 10 mg/kg VO a cada 24 horas, por 4 semanas
o Prognóstico/Controle/Prevenção:
✓Bom se a causa subjacente puder ser identificada e corrigida.
- Caso contrário, banhos regulares, uma ou duas vezes por semana, com xampu antifúngico, podem ser necessários para a
prevenção de recidivas
- Essa doença não é considerada contagiosa a outros animais ou seres humanos, à exceção de indivíduos imunocomprometidos

Esporotricose
• Micose profunda – zoonose; Notificação compulsória – CCZ/SP
✓Causada por fungos do complexo Sporothrix schenckii
- Encontrados comumente na vegetação, no solo e na matéria orgânica em decomposição
• Transmissão: através do implante traumático do fungo na pele; ou contato direto na pele lesionada, ou mucosa, com
secreções de animais doentes ✓Gato - arranhadura ou mordedura - pele, mucosa/trato respiratório

Tratamento e Profilaxia
• Tratamento:
✓Terapia antifúngica sistêmica prolongada (por semanas a meses / 4 a 9 meses)
- Continuar após a resolução clínica completa (+ 1; 2 meses)
✓Podem ocorrer recidivas
✓Fármaco de escolha: itraconazol
❖Gatos: A dose de itraconazol indicada em literatura para gatos com esporotricose é de 10 a 20 mg/kg
FIOCRUZ/RJ:
✓Gatos acima de 3 kg de peso: podem iniciar o tratamento com 100mg/dia;
✓De 1 a 3 kg de peso: iniciar com 50 mg/dia;
✓Até 1 kg: 25 mg/dia

O tratamento deve ser ininterrupto, com acompanhamento periódico por médico veterinário. De modo geral, o
medicamento tem sido bem tolerado pelos animais
❖Casos em que o tratamento com Itraconazol não esteja sendo responsivo, quando as
lesões são extensas ou há comprometimento nasal:
✓Pode-se associar Iodeto de Potássio:
- dose de 2,5 mg por kg de peso, por cápsula, por dia; com alimento
- A dose inicial recomendada não deve ultrapassar 10 mg/dia => pode causar reações
adversas nos gatos, tais como emagrecimento, inapetência, vômito, entre outros
- O animal deverá ser acompanhado para avaliação no período inicial, podendo a dose
ser ajustada

❖Orientação para administração da medicação:


✓Misturado em alimento palatável e de consistência pastosa (patês; ração úmida)
- Para evitar a manipulação e risco de infecção dos responsáveis pelo animal no momento de medicá-lo
- Capsula (Itraconazol e Iodeto de Potássio): orienta-se abrir a cápsula e misturar o seu conteúdo junto a pouca quantidade da
alimentação pastosa => garantir que o animal ingira todo o medicamento e, posteriormente, acrescentar a ração dada
habitualmente.
=> Importante que o tratamento não seja interrompido até a alta clínica, independente da cicatrização das lesões. O tratamento
deve ser continuado por até 30 dias após a cicatrização no caso de poucas lesões e nos casos de lesões extensas e múltiplas ou
com comprometimento nasal, o tratamento deve ser no mínimo por dois meses após regressão total dos sintomas.

Tratamento e Profilaxia
❖Cães:
✓Itraconazol:
- 5 a 10 mg/kg. Pode ser necessária a adequação da dose; acompanhar;
- O tratamento deve ser ininterrupto, com acompanhamento periódico por médico veterinário.
- Se o tratamento não for responsivo: deve-se avaliar a dose de Itraconazol ou a associação com outros fármacos, como o Iodeto
de Potássio.
• Recidivas:
✓Pode haver recidiva dos sintomas após alta:
- Aparecimento de lesões, geralmente nos mesmos locais, especialmente quando houve lesões na região nasal (retorno de
espirros com epistaxe - deve-se avaliar a possibilidade de reinfecção)

Eutanásia e Medidas Preventivas


• Eutanásia:
✓Pode ser indicada nos casos de muita gravidade e que não sejam responsivos ao tratamento, após avaliação por médico
veterinário, nos termos da legislação vigente - Lei Estadual nº 12.916 de 16/04/2008 e Lei Federal n° 14.228 de 20/10/2021.
• Medidas preventivas:
✓Esterilização animal - restrição do trânsito de animais extra domicílio;
✓Medidas de proteção individual (EPI);
✓Contenção adequada de animal suspeito ou confirmado => prevenção de acidentes por
mordedura ou arranhadura;
- luvas de procedimento descartáveis; avental; máscara semi facial N95 ou PFF2; óculos de proteção; touca descartável
(facultativo - usar principalmente em caso de ocorrência de sinais respiratórios); luva de raspa de couro em casos de gatos ferais
=> Boas práticas

Criptococose
• Gênero Cryptococcus - solo, madeira, frutos e vegetais em decomposição
✓Micose profunda - Cryptococcus neoformans; Cryptococcus gattii.
✓O fungo é ingerido por aves (p/te pombos) e eliminado nas fezes, onde pode permanecer por mais de dois anos
- A infecção humana decorre da exposição a um ambiente comum, classificando-se como uma saprozoonose => alvo - pacientes
imunossuprimidos
✓Acometimento por inalação => infecção na cavidade nasal, seios paranasais e/ou pulmões.

Pode haver disseminação para a pele, os olhos, o SNC e outros órgãos

Tratamento
✓Terapia antifúngica sistêmica administrada por um período longo (vários meses)
- Continuar por pelo menos + 1 mês após a resolução clínica completa.
- O tratamento deve ser mantido até que os títulos séricos de antígeno criptococóccico sejam negativos.
❑Fármacos:
✓Itraconazol, 10 mg/kg VO, administrado com alimento, a cada 24 horas; não há necessidade de associar;
✓Flucitosina: fármaco de eleição para tratamento de síndrome neurológica - atravessa a barreira hematoencefálica. De 25 –
50mg/kg, VO, 6/6h ou 8/8h;

Tratamento, Prognóstico e Prevenção


✓Fluconazol, 5 a 15 mg/kg VO a cada 12 a 24 horas
- Em quadros com manifestação neurológica (atravessa barreira hematoencefálica) e/ou
ocular. No caso, 50 mg/animal, 12 horas, por via oral.
- Pode provocar inapetência e erupções, assim, seu uso deve ser descontinuado; após a
melhora dos sinais, retomar o tratamento com uma dose 50% menor que a primeira
• Prognóstico: é moderado a bom, exceto na presença de acometimento do SNC. Neste
caso, é mau
• Não existem medidas preventivas específicas. Recomenda-se:
✓Utilização de EPIs, sobretudo de máscaras, na limpeza de galpões onde há criação de aves ou aglomerado de pombos;
✓Medidas de controle populacional de pombos: reduzir a disponibilidade de alimento, água e, principalmente, abrigos;
✓Os locais onde existem acúmulos de fezes de aves devem ser umidificados para que os fungos possam ser
removidos com segurança, evitando a dispersão por aerossóis.

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