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O SÁBADO É UMA ORDENANÇA?

Por Paulo Cristiano da Salva

Geralmente quando os cristãos evangélicos citam Efésios 2.15 e Colossenses 2.14 como
prova de que a lei mosaica juntamente com o sábado foi cravada na cruz, os adventistas
contrapõe dizendo que o sábado semanal não é uma ordenança por isso não pode ser abolido.

Podemos colher um exemplo desse tipo de argumentação em escritos que fazem apologia ao
sábado. A título de ilustração temos os escritos de Arnaldo B. Christianini; tentando refutar o
argumento de que a lei e os sábados de Colossenses 2.14-16 eram meros sábados cerimoniais.
Christianini construiu sua argumentação da seguinte maneira:

“Nem a palavra ‘lei’ também sequer é mencionada nos textos, mas apenas uma cédula de
ordenanças. Sabemos que o preceituário cerimonial consistia de extensas instruções
ritualísticas.a que os judeus ficavam obrigados. Um autêntico ‘escrito de divida”.

Veja que ele tenta resolver o problema por explorar a tese da chamada lei cerimonial. O
escrito de dívida, segundo ele, referia-se apenas a essa lei. Seguindo esta premissa ele passa
então a demonstrar o significado da palavra “ordenanças” e sua natureza, vejamos:

“— como reza outra tradução. “Ordenanças são meras prescrições litúrgicas, e isto não se
aplica à lei moral. Compare-se com Hebreus 9:1.Ordenança ‘é um rito religioso ou cerimô-
nia ordenada por autoridade divina ou eclesiástica” define, com propriedade, o autorizado
Standard Dictionary.” (Subtilezas do Erro, pág. 120)

E prossegue dizendo:

“O contexto esclarece alguma coisa do conteúdo desta “cédula de ordenanças”. Alguns dos
seus itens se acham exarados no versículo 16, ligado aos versículos anteriores pela
conjunção “portanto”. Lemos que aí consta comer, beber, festividades. Lua nova e sábados
prefigurativos. tudo averbado de “sombras de coisas futuras”. Ora, resta verem qual código
constavam tais exigências ritualistas e festivais. Consultemos o decálogo. Examinemos-lhe
os preceitos. Há nele algum mandamento sobre o comer e o beber? E sobre os dias de festa e
a Lua nova? Não! Nele só há preceitos morais e éticos.” (ibdem)

E conclui triunfalísticamente: “Nenhuma ‘ordenança’, portanto.” (Subtilezas do Erro, pág.


120)

Perceba que sua conclusão o leva a admitir que o sábado do decálogo não pode ser uma
ordenança.

O GRANDE CONFLITO

O caso é que toda essa exegese entusiasta cai por terra diante das explicações da profetisa de
seu próprio movimento. Ellen G.White numa interpretação toda capciosa de Isaías 56, tenta
armar uma profecia para encaixar a Igreja Adventista como sendo os verdadeiros
restauradores do sábado. Vejamos o que ela diz:

“De nôvo é dada a ordem: “Clama em alta voz, não te detenhas, levanta a tua voz como a
trombeta e anuncia a Meu povo a sua transgressão, e à casa de Jacó os seus pecados.” Não
é o mundo Ímpio, mas são aquêles a quem o Senhor designa como “Meu povo,” os que
devem ser reprovados por suas transgressões. Declara Ele ainda: “Todavia, Me procuram
cada dia, tomam prazer em saber os Meus caminhos, como um povo que pratica a justiça, e
não deixa a ordenança do seu Deus.” Isaías 58:1 e 2. Aqui se faz referência a uma classe
que se julga justa, que parece manifestar grande interesse no serviço de Deus; mas a
repreensão severa e solene dAquele que examina os corações, prova que se acham a calcar a
pés os preceitos divinos.” (O Grande Conflito, pág. 452)

E ainda: “Desta maneira indica o profeta a ordenança que tem estado esquecida: —
‘Levantarás os fundamentos de geração em geração: e chamar-te-ão reparador das roturas,
e restaurador de veredas para morar. Se desviares o teu pé do sábado, de fazer a tua vontade
no Meu santo dia, e se chamares ao sábado deleitoso, e santo dia do Senhor, digno de honra,
e o honrares, não seguindo os teus caminhos, nem pretendendo fazer a tua própria vontade,
nem falar as tuas próprias palavras, então te deleitarás no Senhor.” Isaías 58:12-14. Esta
profecia também se aplica a nosso tempo. A rotura foi feita na lei de Deus, quando o sábado
foi mudado pelo poder romano.” (Ibdem)

Veja que ela chama desembaraçadamente o sábado de “ordenança” e diz que essa
“ordenança” tem estado esquecida. Não há como negar... Está explícito: a tal ordenança é o
sábado do sétimo dia que constava no decálogo!
Cabe aqui uma pergunta: quem está com a razão, Ellen G. White, que diz ser o sábado “uma
ordenança” ou Arnaldo Christianini que jurava de pés juntos que a palavra “ordenança” não
pode se referir ao sábado semanal? Convém lembrar o que este mesmo escritor disse a
respeito dos escritos de Ellen G. White:

“Tudo quanto disse e escreve foi puro, elevado, cientificamente correto e profeticamente
exato.” (Subtileza do Erro, pág. 35)

Vejamos o que ela mesma pensava sobre seus escritos:

“Disse o meu anjo assistente. ‘ Ai de quem mover um bloco ou mexer num alfinete dessas
mensagens. A verdadeira compreensão dessas mensagens é de vital importância. O destino
das almas depende da maneira em que forem elas recebidas.’” (Primeiros Escritos, p. 258)

Diante de uma contradição gritante como essa qual vai ser o posicionamento dos adventistas?
De que lado eles irão ficar? Em qual interpretação irão se estribar?

Por exemplo: se optarem pela interpretação de Christianini deixarão o “espírito de profecia” -


a Senhora White - em situação embaraçosa, pois se persistirem em aplicar a regra de que
“Ordenanças são meras prescrições litúrgicas, e isto não se aplica à lei moral” então o
sábado que Ellen White apontou como ordenança não pode ser da lei moral. Os adventistas
estariam restaurando no máximo, no máximo um sábado cerimonial e só.
Agora, se Ellen White estiver com a razão, o escritor acima mencionado está completamente
errado, pois aqueles sábados de Colossenses 2.16 que ele chama de cerimonial, afirmando
que fazia parte das ordenanças, deve ser o sábado do sétimo dia e por isso abolido. O que
entende a teologia adventista pela palavra ordenança afinal? Veja que é uma verdadeira
babel exegética!

ENTENDENDO A QUESTÃO

“Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e, derribando a parede de
separação que estava no meio, na sua carne desfez a inimizade, isto é, a lei dos
mandamentos, que consistia em ordenanças...” Efésios 2:14,15 –

É preciso ter presente que o texto em apreço fala de “A Lei dos Mandamentos”, que consistia
em ordenanças. Ordenanças são leis e estatutos ou como diz o texto “Lei dos Mandamentos”
especialmente no que concerne aos dias de festa, luas novas e sábados (semanal), com suas
solenidades específicas de comemoração. Além disso, devemos considerar que o texto de
Colossenses 2.14 fala que a cédula que era contra nós, nas suas ordenanças, não podia ser
ligada somente a cerimônias e rituais, pois estas foram estabelecidas a favor dos homens,
vejamos:

“Porque todo sumo sacerdote tomado dentre os homens é constituído a favor dos homens
nas coisas concernentes a Deus, para que ofereça dons e sacrifícios pelos pecados, podendo
ele compadecer-se devidamente dos ignorantes e errados, porquanto também ele mesmo está
rodeado de fraqueza.E por esta razão deve ele, tanto pelo povo como também por si mesmo,
oferecer sacrifício pelos pecados.” (Hebreus 5.1-3).

“Guardareis, pois, os meus estatutos e as minhas ordenanças, pelas quais o homem,


observando-as, viverá. Eu sou o Senhor.” (Levítico 18.5)

“Que minha alma viva, para que te louve; ajudem-me as tuas ordenanças.” (Salmo 119.175)
“andando nos meus estatutos, e guardando as minhas ordenanças, para proceder segundo a
verdade; esse é justo, certamente viverá, diz o Senhor Deus” (Ezequiel 18.9)

“E dei-lhes os meus estatutos, e lhes mostrei as minhas ordenanças, pelas quais o homem
viverá, se as cumprir.” (Ezequiel 20.11)

O que era contra nós? Paulo diz que era a cédula de dívida. Onde estava esta cédula de
dívida? No decálogo. Ele nos fazia devedores.

“Do modo como essa parede no templo era uma barreira física entre judeus e gentios, assim a
lei mosaica dos mandamentos na forma de ordenanças (15) constituía o elemento
significativo em sua separação moral (e também na separação entre os homens e Deus). Mas,
quando Cristo foi crucificado, o véu do templo se rasgou em dois, o que representa o fim das
ordenanças legais como sistema de vida do crente, e possibilitou acesso direto a Deus, tanto
para os judeus como para os gentios (cfr. vers. 18 com Hb 10.19). Note a passagem paralela
em Cl 2.14, onde a mesma idéia se expressa em termos diferentes.” (Novo Comentário da
Bíblia)

“tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças ,
o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz” (Revista e
Atualizada)

“Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma
maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz.” (Revista e
Corrigida)

“e anulou a conta da nossa dívida, com os seus regulamentos que nós éramos obrigados
a obedecer. Ele acabou com essa conta, pregando-a na cruz.” (Nova Tradução na
Linguagem de Hoje)
“havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma
maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz.” (Revista e
Corrigida - 1995)

“tendo cancelado o escrito de dívida que era contra nós e que constava de ordenanças, o
qual nos era contrário, removeu-o inteiramente, cravando-o na cruz” (Tradução
brasileira)

“Cancelando o documento escrito contra nós, cujas prescrições nos condenavam.


Aboliu-o definitivamente, ao encravá-lo na cruz” (Versão católica – Monges Maredsous)

escrito de ordenanças ...

Isto é uma referência ao Decálogo e à Lei inteira de Moises...Para Paulo não há nenhum
significado a distinção entre lei moral e lei cerimonial. A Lei é uma unidade...Para Paulo, o
caráter hostil da Lei é peculiarmente associada com o lado moral dela. A Lei...é representado
pelos 10 Mandamentos...”

Escrito de ordenanças ...

como neste verso, expressa as tabuas de pedra escritas pelo dedo de Deus. Como Wallace
apontou, isto é deplorável que "Por omissão de `manuscrito de ordinances' o revisionists
quebra esta conexão." F39 As palavras certamente pertencem como um testemunho seguro
que o Decalogue é aqui indicado.

removeu-o do meio de nós, cravando-o na cruz...

Esses termos indicam o cancelamento absoluto e ab-rogação da Lei de Moises. Também, não
deveríamos perder de vista o fato de que a heresia de Colossenses estava fundamentada e
envolvida com a Lei de Moises...”

A aplicação especial deste verso, inclusive da parte moral da Lei de Moises, foi discutido
assim por Macknight:
Os preceitos morais da Lei de Moises são chamados o Chirograph, ou manuscrito de
ordenanças, porque a maioria essencial destes preceitos foram escritos pela mão de Deus em
duas tabelas de pedra; e Moises foi instruído a escrever isto em um livro.”
(James Burton Coffman's, Comentário do Novo Testamento)

A lei (incluindo especialmente a lei moral, em que põe a dificuldade de obedecer) é ab-
rogada ao crente...

O manuscrito" (aludindo ao Decálogo, o representante da lei, escrita pela mão de Deus) é a


lei inteira...,

Comentário Crítico e Explicativo da Bíblia - comentário preparado por Robert Jamieson, A.


R. Fausset e David Brown

“Paulo introduz no vers. 14 duas figuras para descrever o que Deus tem feito com o pecado e
a culpa. Primeiro, Ele cancelou o escrito de dívidas (14). A lei é aqui contemplada como
débito do homem pelo que ele é responsável. É contra nós porque permanece como
testemunho da nossa falência, mas Deus, em Cristo, cancelou o título da dívida. Segundo, Ele
fez ainda mais. Ele a tomou e a jogou fora (14). Lightfoot parafraseia "a lei de... ordenanças
foi cravada na cruz, rasgada com o corpo de Cristo, e destruída com a sua morte". A sugestão
de que se refere ao cancelamento de uma dívida por ser cravada num lugar público não é
convincente. Não há nenhuma evidência de tal costume.” (Novo Comentário da Bíblia)

Demais disso, a leitura atenta do texto também nos convence de referir-se a palavra
“ordenanças” à lei inteira. Note-se, com efeito, o verso 13: “e a vós, quando estáveis mortos
nos vossos delitos e na incircuncisão da vossa carne, vos vivificou juntamente com ele,
perdoando-nos todos os delitos” As ofensas procediam contra as disposições morais do
decálogo. Se tratasse ai de ordenanças puramente cerimoniais, como de resto querem os
adventistas, o texto teria se valido do termo “dikaioma” aplicado no plural “dikaiomata”
com este sentido ao aludir a cerimônias judaicas em Heb. 9:1,10, e não a forma verbal
“dogmatizomai”. Ou ter-se-ia valido do vocábulo “ethos” que significa rito e costumes,
encontrado em Lc. 1:9; Jo.19:40; At. 6:14; 15:1;16:21; 21:21;25:16;26:3;28:17 e Heb. 10:25.
Sim, “cheirographon” é uma metáfora da lei mosaica inteira, mas sobretudo em seu aspecto
moral, que nos fazia grandes e insolventes devedores, porquanto, ao proibir o pecado, fazia-o
contudo, mais abundante, escravizando-nos e levando-nos à morte (cf. Rm. 5:20; 7:5-13,25;
IICo. 3:6; Gl. 5:1).

. "Em meio à aflição e aos conflitos da consciência, o diabo costuma amedrontar-nos com a
Lei e dirigir contra nós a consciência do pecado, nosso passado ímpio, a ira e o juízo de Deus,
o inferno e a morte eterna, a fim de que dessa maneira possa levar-nos ao desespero, sujeitar-
nos a si mesmo e arrancar-nos de Cristo" (Preleções sobre Gálatas, 1535 – LW 26:10).

"Assim, a lei revela um duplo mal, um interno e o outro externo. O primeiro, que nós
causamos a nós mesmos, é o pecado e a corrupção da natureza; o segundo, que Deus causa, é
a ira, a morte e a maldição" (Contra Latomus, 3 – LW 32:224). Lutero

The "Handwriting of Requirements"

Christ "wiped out the handwriting of requirements that was against us...having
nailed it to the cross" (Colossians 2:14, NKJ). What kind of requirements are being
discussed?

The Greek word for "handwriting" is cheirographon, used in common Greek for a
document written in one's own hand as legal proof of indebtedness. Some modern
translations call it a bond of indebtedness.

Christ wiped out a note of debt. What kind of debts did Christ cancel? He canceled
our spiritual debts, our sins, our transgressions of God's law, and this is what the
note of debt refers to. In his crucifixion, Christ symbolically nailed our note of debt
to his cross because his sacrifice paid our debts. 1 Peter 2:24 uses a similar analogy.
The Greek word for "requirements" (KJV "ordinances") is dogmasin, a form of the
word dogma, which is used only five times in the New Testament. Dogma can refer to
decrees of Caesar (Luke 2:1, Acts 17:7) or apostolic decrees (Acts 16:4). In other
writings of that era, dogma could also refer to the commandments of God (3
Maccabees 1:3, Josephus, Against Apion 1, 42) or the commandments of Jesus
(Barnabas 1:6, Ignatius to the Magnesians 13:1).

Commentators generally agree that dogma in Colossians 2:14 refers to God's laws.
That makes the most sense in the context, because our spiritual debts have come
from breaking God's laws. However, some commentators have erred in saying that
God's laws have been against us and were nailed to the cross.

The meaning becomes more clear if we notice that cheirographon is singular and
dogmasin is plural. It is the cheirographon, the note of debt, that "was [singular]
against us, which was [singular] contrary to us. And He has taken it [singular] out of
the way, having nailed it [singular] to the cross." The last part of verse 14 is about the
handwriting, not the requirements.

God's laws are not against us. It is the note of debt, our sin, that has been against us.
The validity of the laws is not in question here; the fact that we incur a debt if we fail
to keep the requirements implies that Paul is refering to laws that are valid.

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