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Como vegetariano adoraria dizer que nesse tipo de opção alimentar não é necessária a preocupação com
nenhum nutriente.
No entanto os estudos científicos sobre a adequação nutricional da dieta vegetariana nos mostram que a
vitamina B12 é o único nutriente que talvez não consigamos uma perfeita adequação, no caso dos veganos.
Segundo a ADA (American Dietetic Association) e nutricionistas do Canadá em seu posicionamento sobre dietas
vegetarianas de 2003 encontramos o seguinte parecer:
“Os profissionais da nutrição têm a responsabilidade de apoiar e encorajar os que demonstram interesse pelo
consumo de uma dieta vegetariana.”
Textos da ADA de 1997 já afirmavam que a dieta vegetariana pode ser utilizada em todas as etapas da vida
(incluindo a gestação e a infância). Cerca de 8 anos após ainda ouvimos absurdos sobre a dieta vegetariana. E
o que é pior: por profissionais ligados à área de nutrição.
O objetivo desse material é o de esclarecer as inúmeras dúvidas que tenho ouvido a respeito da vitamina B12
no contexto da dieta vegetariana.
Espero que esse texto ajude a orientar você que é vegetariano, simpatizante ou que tem a intenção de se
tornar vegetariano. Esse texto também pode ser útil aos profissionais de saúde que gostam de estudar e que
têm contato com vegetarianos.
O nosso foco aqui é com relação à vitamina B12. Procurei montar um texto relativamente completo.
Histórico
Revisando a literatura médica, alguns pesquisadores demonstraram que em 1824 já existiam relatos de uma
doença (anemia perniciosa), geralmente fatal em 1 a 3 anos após o seu diagnóstico.
A solução terapêutica surgiu apenas em 1926 quando George Minot e Willian Murphy demonstraram que a
ingestão diária de uma dieta contendo bife de fígado levemente cozido levava a uma remissão da anemia após
alguns meses.
A vitamina B12, ou Cobalamina, foi isolada pela primeira vez em 1948 simultaneamente nos Estados Unidos e
na Inglaterra.
0 a 6 meses 0,4
6 a 12 meses 0,5
1 a 3 anos 0,9
4 a 8 anos 1,2
HOMENS
09 a 13 anos 1,8
15 a 18 anos 2,4
19 a 50 anos 2,4
Mais de 50 anos 2,4
MULHERES
09 a 13 anos 1,8
15 a 18 anos 2,4
19 a 50 anos 2,4
Gestação 2,6
Lactação 2,8
Se são as bactérias que produzem a B12, por que ela pode ser encontrada nas carnes e no fígado ?
A presença de vitamina B12 nas carnes se deve ao fato de que os animais ingerem ou absorvem (quando
produzidas pelas bactérias do seu trato gastrointestinal) a vitamina (produzida pelas bactérias !!).
A presença de vitamina B12 no leite e nos ovos se deve à passagem dela do animal para as suas secreções.
Vamos deixar isso bem claro: quem produz essa vitamina são as bactérias !!
Da mesma forma que frango e peixe não são vegetais (você vegetariano já ouviu muito esse tipo de
“equívoco”, não ouviu ?), bactérias também não são vegetais.
Plantas não produzem vitamina B12 !!!
Portanto, se existir B12 em qualquer alimento de origem vegetal isso ocorreu por contaminação bacteriana.
OBS – Pode também ocorrer vitamina B12 por contaminação das carnes, mas o alto teor de cobalamina
existente nelas se deve à sua presença na própria carne (ingestão e absorção do animal) e não por
contaminação.
Curiosidade
Morcegos de fruta obtêm B12 pelo consumo inadvertido (o bicho é ceguinho !!) de insetos nas frutas.
Morcegos mantidos em cativeiro recebendo uma dieta com frutas limpas (lavadas) morrem de neuropatia
(doença dos nervos) decorrente de falta de B12 em 9 meses.
Nós temos bactérias no intestino grosso. Elas são capazes de produzir B12 para nós ?
Veremos mais adiante que o local que essas bactérias habitam (intestino grosso) é posterior ao local de
absorção (60 cm finais do intestino delgado).
Outros estudos mostram que quando há contaminação do intestino delgado por bactérias do intestino grosso
ocorre competição pela B12 ingerida.
Não somos ruminantes. Não temos várias câmaras gástricas e nem a mesma abundância de flora desses
animais nessas câmaras. Não somos capazes de adquirir a B12 da mesma forma que as vacas.
Portanto: nada feito !! Não confie na sua flora intestinal como suprimento de B12.
Depende da quantidade de produtos animais ingeridos, da higienização dos alimentos e de quem estamos
comparando.
Ingestão com a dieta vegetariana: 0,25 a 0,5 mcg/dia – proveniente da atividade bacteriana no alimento, água
e de derivados de leite ou ovos ingeridos.
Atenção !!
Dietas fornecendo 0,5 mcg/dia de B12 ou menos estão associadas com uma alta proporção de pessoas com
níveis sanguíneos mais baixos dessa vitamina.
A Índia é um país pobre onde as condições de higiene são precárias e grande parte da população come com a
mão. Tudo a favor das bactérias e da B12.
Um estudo na Índia com 15.000 pessoas, quase todas vegetarianas demonstrou que 54 % tinham baixas
concentrações sanguíneas de B12.
Pesquisas demonstram que ela se mantém estável a 100oC por longos períodos.
No entanto, a cobalamina é destruída na presença de pH > 9, oxigênio, íons metálicos (Cu, Mo, Mn) e agentes
redutores (ascorbato).
Com relação à destruição por oxigênio, devemos lembrar que no alimento ela está protegida, pois se encontra
ligada aos nutrientes.
As fontes de vitamina B12 nos alimentos (segundo o Departamento de Agricultura dos EUA)
Pois é, existem algumas substâncias ingeridas muito parecidas com a vitamina B12, mas que não têm a mesma
função dela. São os chamados análogos da vitamina B12.
Os análogos da B12 podem ser produzidos por técnicas de preservação de alimentos, pelo cozimento e pela
microflora intestinal (as bactérias intestinais).
Esses análogos podem interferir com a absorção da B12 verdadeira (atrapalha a sua ligação com uma
substância chamada Fator Intrínseco) ou apresentar efeitos tóxicos se absorvidos.
Durante o processo digestivo o nosso organismo tem formas de isolar e remover esses compostos.
Nem as algas e nem os produtos fermentados podem ser considerados fontes confiáveis de B12.
As reservas de B12 são passadas para o feto nos últimos 2 meses de gestação.
Se a mãe tem baixas quantidades de B12 o bebê nascerá com um estoque baixo.
A deficiência pode ocorrer, principalmente se a mãe que o amamenta não usar suplementação de B12, já que a
concentração de cobalamina no leite é equivalente à concentração no sangue da mãe.
A resposta é simples: estudos demonstram que a ingestão de B12 durante a gestação tem mais influência
sobre a quantidade da vitamina que passa para o bebê do que a quantidade do estoque da mãe.
Mães vegetarianas (veganas) amamentando oferecem menos vitamina B12 para os seus bebês ?
Sim !!!
Mulheres com dieta mista (dieta que inclui carne) têm 0,04 mcg/100 ml de vitamina B12 no seu leite.
Crianças vegetarianas
As crianças veganas devem receber uma fonte segura de B12 (suplementação e/ou alimentos fortificados).
Sempre que vamos estudar bioquímica ou fisiologia precisamos primeiro conhecer as regras do assunto. Eis as
regras:
1. Só para relembrar a anatomia, a ordem dos compartimentos na digestão é (em negrito estão os pontos
principais para entender a vitamina B12):
- duodeno (tem cerca de 25 cm, recebe as secreções digestivas do pâncreas e da vesícula biliar e alcaliniza o
conteúdo gástrico proveniente do estômago)
- Jejuno – mede 2 a 3 metros – função de absorção, principalmente.
- Íleo – mede 3 a 4 metros – função de absorção, principalmente.
- Intestino grosso (Tem cerca de 1,5 m, alta concentração de bactérias e função de absorção de líquidos e
outras substâncias)
1. quando ingerimos um alimento com B12 precisamos torná-la disponível. Aí entra o processo digestivo. Não
existe B12 livre nos alimentos.
2. É absolutamente necessário haver a produção de uma substância chamada Fator intrínseco. Quem produz o
fator intrínseco é o estômago.
3. A vitamina B12 não consegue ser absorvida sozinha. Para ser absorvida ela precisa estar ligada ao Fator
intrínseco. Portanto: se não há Fator intrínseco não há absorção de B12.
4. O Fator intrínseco só consegue se ligar à B12 em pH alcalino.
5. A absorção da B12 (ligada ao Fator intrínseco) ocorre no íleo terminal.
Vamos ver então como tudo ocorre.
Escreverei FI no lugar de Fator intrínseco, ok ?
Ao ingerirmos um alimento com B12, precisamos deixar essa B12 disponível para ser ligada ao FI.
Começa a digestão. O estômago é o principal órgão responsável pela liberação da B12 do alimento.
Ok: B12 liberada do alimento no estômago. Vamos unir o FI com a B12. Essa ligação ocorre no intestino (pH
alcalino).
No final do intestino (nos últimos 60 cm do íleo terminal) esse complexo (FI + B12) é absorvido.
Essa absorção também depende de cálcio, pH alcalino (maior que 6) e componentes da bile (composto liberado
pela vesícula biliar).
Dessas reações, o que é interessante saber é que quando há pouca vitamina B12 o nível sanguíneo de 2
compostos ficam elevados.
Esses compostos são o Ácido Metilmalônico e a Homocisteína.
Porque podemos dosar essas substâncias no sangue. Se encontrarmos os seus valores elevados é possível que
haja falta de B12.
Importante: há um limite de absorção para a quantidade de B12 ingerida em uma única refeição.
A explicação se deve ao fato de que os transportadores do FI + B12 ficam cheios (saturados) e não conseguem
absorver mais do que a oferta.
Portanto, se forem feitas 3 refeições com boa quantidade de B12 podemos absorver 4,5 mcg por dia.
Ela é transportada para diversas células. Ocorrem diversas reações muito complexas.
Dessas reações, o que é interessante saber é que quando há pouca vitamina B12 o nível sanguíneo de 2
compostos ficam elevados.
Cerca de 3 a 5 mg.
Se o estômago for completamente retirado (gastrectomia total) ocorrerá falta do FI. Quanto tempo
irá demorar para surgir anemia por deficiência de B12 ?
O nosso próprio organismo elimina uma pequena quantidade de B12. Ela é lançada no intestino pela vesícula
biliar e sai pelas fezes.
Ao invés de eliminá-la pelas fezes o nosso organismo consegue colocá-la de volta no organismo. Esse ciclo é
chamado de ciclo êntero-hepático (ciclo que leva a vitamina do êntero (intestino) para o hepático (fígado)).
Esse ciclo reaproveita 1 mcg/dia de B12, o que corresponde a cerca de 2/3 da vitamina que é excretada por
essa via.
Somando os fatos:
Nosso estoque de B12 – 3 a 5 mg.
Reaproveitamos 1 mcg/d de B12 (ciclo êntero-hepático)
Se não ingerirmos nada de B12 (ou não tivermos mais o FI) os nossos estoques serão suficientes para 2500
dias ou mais.
Muitas pessoas que têm anemia megaloblástica (anemia com células grandes, que pode ser devido à falta de
B12) referem poucas queixas, mas praticamente todas referem melhora após reposição de B12.
Estudo com 95 pacientes com anemia megaloblástica nutricional (todos vegetarianos indianos) foram vistos ao
longo de 14 anos. Havia 52 homens e 43 mulheres. Idade dos estudados: 13 a 80 anos. As queixas eram:
Cansaço (33%)
Respiração curta (25%)
Perda de apetite (23%)
Perda de peso (22%)
Dores generalizadas (19%) – geralmente decorrente de deficiência associada de cálcio e vitamina D
Vômito (19%)
Parestesia – alteração de sensibilidade (11%): sensação de formigamento simétrica nos dedos das mãos e pés
é um dos sintomas mais comuns.
Alteração da pigmentação da pele (8%)
Boca dolorida (7%)
Diarréia (6%)
Cefaléia – dor de cabeça (5%)
Infertilidade (5%)
Em 6% apenas a deficiência foi vista no hemograma (célula grande – megaloblástica).
Entendendo as anemias
Anemia ferropriva – como o próprio nome diz é por privação, por falta de ferro. A célula fica pequena.
Anemia megaloblástica – é a anemia com célula grande. Como veremos mais adiante, isso pode ocorrer por
falta de B12 e/ou B9 (ácido fólico).
Anemia perniciosa – a vitamina relacionada é a B12, mas nesse caso existe necessariamente relação com o FI.
A célula também ficará grande (megaloblástica), mas a etiologia (relacionada ao FI) é bem definida e por isso
recebe o nome de anemia perniciosa.
Outras anemias: talassemia, falciforme, sideroblástica. Apresentam outras etiologias (não são decorrentes da
privação alimentar).
As principais manifestações são duas: a anemia megaloblástica e a neuropatia (doença dos nervos). Já vimos
os diversos sinais e sintomas acima.
Outras associações que ocorrem na deficiência: ateroma (acúmulo de placas de gordura nos vasos sanguíneos),
defeito de formação do tubo neural (alteração que faz com que crianças nasçam com sérias alterações na
coluna vertebral e paralisia das pernas irreversível), esteatose hepática (acúmulo de gordura no fígado).
Anemia megaloblástica
A regra:
Toda célula, antes de se dividir, cresce. O DNA precisa se duplicar para depois ser dividido.
Quando falta B12, além dela própria em falta, não é possível entrar B9 na célula.
O nosso sistema nervoso pode ser comparado com um sistema elétrico onde os nervos são os cabos por onde a
eletricidade passa.
Ao redor dos nossos nervos existe uma “capa de gordura” (bainha de mielina) que é fundamental para a
passagem do estímulo nervoso e proteção do nervo.
Na falta de B12 ocorre defeito nessa “capa de gordura” (desmielinização), levando a alterações de
sensibilidade.
Ateroma (placas de gorduras)
A falta de B12 é um fator de risco para doenças cardíacas (infarto agudo do miocárdio, acidente vascular
cerebral).
Quando há falta de B12 ocorre aumento de uma substância chamada homocisteína, que é fator de risco
independente (não precisa se associar a nenhum outro fator de risco) para doenças cardíacas.
Na falta de B12 ocorre maior formação de placas de gordura em vários vasos sanguíneos. Isso causa maiores
chances de ter um infarto ou um “derrame” cerebral.
Já vimos que essa vitamina é fundamental para a divisão das células e para a integridade dos nervos.
A criança pode nascer com perda total de sensibilidade e movimentação das pernas, retenção urinária,
alterações na estrutura da coluna vertebral ... Tudo isso é irreversível já ao nascer !!
Gestantes vegans :
Atenção !!! Suplementação é indiscutível !!
A falta de B12 causa alterações metabólicas que evoluem com acúmulo de gordura no fígado.
O diagnóstico de deficiência de B12 não pode ser feito baseado apenas nos sinais e sintomas de um indivíduo.
Muitos estudos demonstraram que cerca da metade dos indivíduos que têm a vitamina B12 em níveis baixos no
sangue não apresentam sintomas consideráveis.
Hemograma:
Pode demonstrar a anemia (hemoglobina e hematócrito reduzidos) e o tamanho da célula (a parte do
hemograma que mostra o tamanho é o VCM – volume corpuscular médio).
Se a anemia se torna mais grave ocorre diminuição das células de defesa (neutropenia) e das plaquetas
(trombocitopenia).
Atenção !!! Pessoas com baixa concentração de B12 no sangue podem mostrar células de tamanho normal.
Portanto: hemograma normal não significa B12 normal no sangue !!
No entanto, é raro encontrar deficiência clínica importante de B12 sem alteração no hemograma.
Lembra daquele estudo comentado anteriormente da Índia com 15.000 pessoas, quase todas vegetarianas que
demonstrou que 54 % tinham baixas concentrações sanguíneas de B12 ? Esse estudo demonstrou que apenas
10 pacientes por ano eram vistos no hospital local com anemia megaloblástica.
Reticulócitos:
São as células vermelhas jovens. Na deficiência de B12 os seus níveis sanguíneos ficam reduzidos (para o grau
da anemia).
** Estudo realizado em Londres demonstrou que os níveis sanguíneos de 1.000 amostras consecutivas de
indianos (predominantemente vegetarianos) eram em média de 198 pcg/ml. Os níveis encontrados em
caucasianos com dietas mistas eram em média de 334 pcg/ml.
Ácido Metilmalônico:
Na deficiência de B12 ocorre aumento do ácido metilmalônico (esse aumento não ocorre na deficiênciia de B9).
Esse aumento pode ser detectado no sangue e na urina.
Antibióticos podem reduzir e a doença renal pode aumentar o nível sanguíneo desse ácido. Valores normais:
0,1 a 0,4 micromol/l. Na deficiência de B12: 50 a 100 micromol/l.
Homocisteína:
Se eleva na deficiência de B12 (e também na de B9 e B6). Algumas doenças como hipotireoidismo e doença de
Down podem alterar o nível desse composto.
Holotrascobalamina II:
É a proteína que transporta a B12 no sangue. Não é realizado no Brasil. Apenas 1 laboratório em São Paulo faz
a coleta desse exame e o envia ao exterior. Como você pode imaginar, é extremamente caro.
Atenção !! Todo exame laboratorial deve ser corretamente interpretado com a associação do quadro
clínico e dos outros exames laboratoriais.
Como você viu acima pode ser um pouco complicado o diagnóstico por apenas um exame ou pelo quadro
clínico.
Apenas um médico com experiência na área pode avaliar com precisão esses exames e associá-los com as
alterações clínicas.
Estudos com idosos que tinham neuropatia (doença dos nervos) demonstram que eles podem ter hemograma
normal e concentração sanguínea de B12 normal.
No entanto, a concentração de ácido metilmalônico estava elevada e se reduzia após a oferta de B12.
Isso sugere que idosos devem ser muito bem avaliados, pois podem estar com deficiência mesmo com alguns
exames dentro dos valores normais.
Resumindo: precisamos saber quanto o indivíduo está ingerindo e quanto está absorvendo.
Para se ter uma idéia da importância de saber exatamente sobre a ocorrência ou não dessas 2 condições,
vejamos o resultado de um estudo realizado com indianos vegetarianos com deficiência de B12:
Assim, oferecer vitamina B12 por via oral será eficiente apenas nos indivíduos que têm carência alimentar sem
distúrbio de absorção.
OBS – a dieta vegetariana é rica em vitamina B9 (ácido fólico). Isso pode mascarar a deficiência
de B12, que muitas vezes só é diagnosticada quando surgem alterações no sistema nervoso. A
deficiência de B9 causa manifestações muito parecidas com as da deficiência de B12, exceto pela
neuropatia (não ocorre na falta de B9).
Por tanto, no caso de vegetarianos é sempre recomendado dosar a homocisteína sanguínea (sérica),
o ácido metilmalônico e a holotranscobalamina II.
OBS- como já vimos anteriormente, a dosagem da holotranscobalamina II não é factível em nosso
meio.
As seguintes drogas reduzem a absorção da B12: colchicina, neomicina e anticoncepcionais (usados por via
oral).
O álcool também reduz a sua absorção.
Tratando a deficiênica de B12
Como vimos anteriormente todos os pacientes com deficiência de B12 que não tem deficiência alimentar têm
má absorção.
Também vimos que mesmo pacientes veganos com baixa ingestão de B12 podem ter anemia perniciosa, o que
significa que o problema está também na absorção da B12.
Regra do tratamento:
1. Quem consegue absorver B12 pode ser tratado com B12 por via oral. Não há problemas se optarmos em repor
a vitamina de forma injetável.
2. Quem tem problema de absorção de B12 deve receber a vitamina injetável (intramuscular). Oferecer a
cobalamina via oral não é conveniente.
Dose: 1.000 mcg por dia por 1 semana; seguido por dose de 1 mcg em dias alternados até a normalização da
hemoglobina e do hematócrito (correção da anemia).
Se existe manifestação neurológica: manter 5.000 mcg a cada 2 semanas nos primeiros 6 meses.
Na anemia perniciosa o uso intramuscular da vitamina deve ser por toda a vida. Dose: 1.000 mcg por mês no
primeiro ano, seguido de 5.000 mcg por ano. (Fonte: Atualização Terapêutica, 2003).
No tratamento por via oral (apenas quando a causa da deficiência é devida à privação alimentar de B12) foi
demonstrado que o uso de 5 mcg uma vez ao dia conseguiu normalizar os níveis sanguíneo da vitamina.
O tratamento da anemia por falta de B12 com cobalamina por via oral não é recomendado na literatura médica,
talvez pelo fato de que a maior causa de anemia por deficiência de B12 não seja devido à deficiência alimentar.
OBS- A B12 é absorvida ligada ao FI, mas existe uma outra forma de absorção chamada difusão passiva. Nesse
caso, altas doses de B12 passariam do intestino para o sangue por si só (sem o FI). A absorção passiva ocorre
com 1% da vitamina ingerida.
O uso de altas doses para conseguir aproveitar a B12 dessa forma não é recomendado.
Quando menos de 5 mcg de B12 cristalina é ingerida de uma só vez, cerca de 60% é absorvida.
Quando se usa uma dose de 5000 mcg, cerca de 1% é absorvida.
Muitas vezes não temos recursos diagnósticos (dosagem de B12, homocisteína, ácido metilmalônico ...) para
diferenciar a causa (falta de B12 ou B9) da anemia megaloblástica.
Nesses casos podemos “testar”um tratamento, desde que a deficiência não esteja em grau avançado.
Inicialmente aplica-se uma dose única de 1.250 mcg de B12 intramuscular. Após 5 a 8 dias repete-se a
dosagem da hemoglobina, hematócrito e reticulócitos. Se a deficiência era devido à falta de B12 ocorrerá
aumento importante do número de reticulócitos (reticulocitose) e às vezes discreta melhora da anemia.
Não havendo resposta a nenhum dos dois é necessário uma investigação especializada com um hematologista.
Havendo deficiência real de B12 os indivíduos referem uma notável sensação de bem estar dentro de 1 a 2 dias
após uma injeção de cobalamina. Também relatam um aumento dramático do apetite.
Neste ponto, atenção !! O aumento do apetite após a suplementação de B12 ocorre em quem tem deficiência
de B12 !!
Daqui provavelmente surgiu o mito de utilizar vitaminas do complexo B para aumentar o apetite. Se o indivíduo
não tem deficiência não ocorrerá aumento do apetite !!
Ainda avaliando a resposta ao tratamento, ocorrerá uma maior produção de células vermelhas. Isso será
evidenciado pela elevação das suas células jovens (reticulócitos), que atingem o seu máximo em 5 a 7 dias
após o início do tratamento.
“É essencial que todos os vegetarianos tomem um suplemento, usem alimentos enriquecidos ou consumam
laticínios ou ovos para atingir a ingestão recomendada de vitamina B12.”
Resposta : devemos ingerir a quantidade de B12 recomendada por dia (veja o tópico: quanto precisamos dessa
vitamina por dia ?), ou seja, cerca de 2,4 mcg para adultos.
Dificilmente você vai encontrar um suplemento com baixa quantidade de B12. O uso de cerca de 5 mcg/dia
conseguiu normalizar os níveis sanguíneos dessa vitamina em pessoas com deficiência em alguns estudos.
Portanto, para manutenção, talvez não seja necessário utilizar mais do que essa dosagem.
Não há problemas se a ingestão for maior, já que não existem relatos de toxicidade com o uso de altas doses
dessa vitamina.
A recomendação utilizada pela IVU (orientação revisada por Stephen Walsh) é absolutamente coerente :
1. Ingerir alimentos enriquecidos 2 ou 3 vezes por dia para obter pelo menos 3 mcg de B12, ou
2. Tomar um suplemento de B12 diariamente que forneça pelo menos 10 mcg de B12, ou
3. Tomar um suplemento semanal de B12 que forneça pelo menos 2.000 mcg.
A ingestão de alimentos fortificados com B12 para veganos seria uma opção. No Brasil essa abordagem
nutricional não é muito utilizada pelos fabricantes de alimentos. Diversos produtos da Nestlé são fortificados
com B12 no Brasil.
Importante: 10 a 30% dos indivíduos (com qualquer tipo de dieta, inclusive com carne) com mais de 50 anos
têm dificuldade de extrair a B12 dos alimentos. A Food and Nutrition Board recomenda que todos os indivíduos
acima dessa idade, vegetarianos ou não, utilizem suplemento de B12 ou alimentos enriquecidos.
Indivíduos que utilizam a vitamina B12 também devem realizar exames laboratoriais periodicamente. Essa
precaução é valida na medida que não é apenas a deficiência de ingestão que causa a deficiência da vitamina.
Lembre-se que outros problemas decorrentes de distúrbio de absorção podem ocorrer em qualquer pessoa.
Indivíduos veganos (adultos, não gestantes nem em lactação) que optem em não utilizar suplementação devem
necessariamente ser acompanhados por um médico ou nutricionista com prática na interpretação dos exames
laboratoriais para que seja feita intervenção nutricional caso necessário. Mas lembre-se o recomendado é fazer
uso da suplementação !!
Gestantes e mães amamentando: sem discussão !!! Suplemento e/ou uso de fontes confiáveis
(alimentos enriquecidos) de B12 !!!! Dosagem laboratorial também !!!
Sim !!!
Alguns vegetarianos dizem que se você não utiliza alimentos refinados (açúcar branco, arroz branco, farinhas
brancas) nem aditivos químicos ou medicações como antibióticos, a sua flora pode produzir a B12 que você
precisa. Somado a isso, o uso de produtos fermentados (como o missô), forneceriam a dose de B12 que você
precisa.
Pelos inúmeros motivos descritos anteriormente nem a sua flora e nem qualquer alimento de origem vegetal
(nem algas e nem fermentados !!!) são capazes de suprir adequadamente a vitamina B12.
A ciência está à nossa disposição para termos mais segurança no desenvolvimento e na manutenção da nossa
saúde.
Seja coerente.