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SAÚDE DA MULHER

Profª Carine Sena


ALEITAMENTO MATERNO

A alimentação ao seio constitui umas das questões mais importantes para a saúde
humana, principalmente nos primeiros anos de vida, pois atende às necessidades nutricionais e
metabólicas, além de conferir proteção imunológica ao lactente.

O leite materno é considerado um alimento perfeito, pois além de possuir proteínas,


lipídios, carboidratos, minerais e vitaminas, contem 88% de água. Nesse período especial da vida
humana, as necessidades calóricas por Kg de peso superam em aproximadamente 3 vezes a dos
adultos, chagando a 120Kcal/Kg de peso corpóreo.
Durante o primeiro ano de vida, cerca de 40% das calorias ingeridas são utilizadas para o
processo de crescimento e desenvolvimento, caindo para 20% no segundo ano.

Toda criança deve ser, portanto, alimentada exclusivamente no seio até os 6 meses de idade.
Nesse período não é necessário nenhum tipo de complementação, nem mesmo água.

O MS recomenda que a partir dos 6 meses de idade comecem a ser introduzidos outros
tipos de alimentos, porém não há necessidade de outros tipos de leite (industrializado, de vaca, soja,
cabra etc).

A apojadura (descida do leite) normalmente ocorre entre o 2º e o 5º dia após o nascimento


do bebê e toda mãe deve ser orientada para sobre a necessidade de se ordenhar leite para auxiliar no
esvaziamento da mama.
O tempo médio de cada mamada é de aproximadamente 10-15 minutos. Porém,
existem crianças que levam até 30 minutos sugando apenas um seio.
Ao terminar a mamada, o bebê deve ser colocado para eructar. A posição ideal é na
vertical com a cabeça apoiada sobre o ombro materno. Evita-se assim que o RN regurgite e
corra o risco de broncoaspirar o leite.
VANTAGENS:

Para o bebê:
 Proporciona uma nutrição superior e um ótimo crescimento;
 Fornece água adequada para hidratação;
 Protege contra infecções e alergias;
 Diminui a probabilidade de doenças diarreicas;
 Sofre menos risco de infecções no trato respiratório inferior, otite media, infecções por H. influenzae,
meningite bacteriana etc;
VANTAGENS:

Para o bebê:
 O leite materno tem efeito protetor contra síndrome da morte súbita do lactente, DM e doença de Crohn,
retocolite ulcerativa, linfoma, enfermidades crônicas do trato digestivo;
 Favorece o vínculo afetivo e o desenvolvimento.
 Estimula o correto desenvolvimento das funções orais;
 Transferência imunológica da mãe para o filho.do aleitamento materno:
 coasprar o leite. dustralizado, de vaca, soja, cabra etc).stipos de alimentos
Para a mãe:
 O aleitamento logo após o parto favorece a dequitação, promove involução uterina, perda de peso e
diminui a hemorragia pós-parto;
 A amenorréia lactacional prolongada evita anemia e o aparecimento precoce da ovulação;
 Melhora a remineralização óssea;
 Diminui risco de câncer ovariano, endometrial e mamário;

Para a família:
 Melhor saúde e nutrição, mais bem-estar;
 Vantagem econômica: o aleitamento materno custa menos do que a alimentação artificial; o
aleitamento materno resulta em menos gasto com cuidados médicos.
Para o hospital:

 Ambiente emocional mais calmo e tranquilo;


 Não existe berçário, mais espaço para o hospital;
 Menos infecção neonatal;
 Menos trabalho para a equipe;
 Melhor imagem e maior prestígio;
 Menos crianças abandonadas.
FASES DA PRODUÇÃO LÁCTEA:

Colostro – Secretado nos primeiros 5 dias após o parto, tem valor energético de 70Kcal/100ml.

Comparando-se com o leite maduro, o colostro é rico em eletrólitos, proteínas, vitaminas


lipossolúveis (vitamina A – que dá a coloração amarelada - a vitamina D, a vitamina E e a vitamina
K), minerais, e imunoglobulinas; porém é pobre em gordura, lactose e vitaminas hidrossolúveis
(vitaminas do complexo B - vitamina B1, vitamina B2, vitamina B6, ácido pantotênico, niacina,
biotina, ácido fólico, vitamina B12 – e vitamina C).

O colostro facilita a eliminação do mecônio nos primeiros dias.


Leite de transição – Seu período de produção está entre 6-10 dias até a segunda
semana pós-parto. É cada vez menos concentrado em imunoglobulinas e vitaminas
lipossolúveis. Ocorre aumento das hidrossolúveis, lipídios e lactose.

Leite maduro – Produzido a partir da 2ª quinzena pós-parto. Tem teor maior de


lipídios e de lactose, ao mesmo tempo que menor quantidade de proteínas.
Diferença entre os leites: Materno, Animal e Artificial

Leite Materno Leite Animal Leite Artificial


Quantidade adequada e fácil de Excesso, difícil de Parcialmente
Proteínas
digerir. digerir. modificado.
Suficiente em ácidos graxos Deficiente em ácidos Deficiente em ácidos
Lipídeos essenciais, lipase para graxos essenciais, não graxos essenciais, não
digestão. apresenta lipase. apresenta lipase.
Vitaminas Suficiente. Deficiente de A e C. Vitaminas adicionadas.
Minerais Quantidade adequada. Excesso. Parcialmente correto.
Pouca quantidade, boa Pouca quantidade, má Adicionado, má
Ferro
absorção. absorção. absorção.
Água Suficiente. Precisa de mais. Pode precisar de mais.
Propriedades
Presente. Ausente. Ausente.
antiinfecciosas
Fatores de Crescimento Presente. Ausente. Ausente.
Diferenças entre as fases do leite materno: Colostro, de Transição e Maduro

Vitaminas
Pobre Intermediário Rico
hidrossolúveis
Minerais Rico Intermediário Pobre
Imunoglobulinas Rico Intermediário Rico
Gordura Pobre Intermediário Rico
Lactose Pobre Intermediário Rico
Lipídios Pobre Intermediário Rico
Ácidos graxos Rico Intermediário Pobre
c) Iniciativa Hospital Amigo da Criança:

A Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC) foi idealizada em 1990 pela OMS e UNICEF para
promover, proteger e apoiar a amamentação. Foi incorporada pelo Ministério da Saúde como ação prioritária
em 1992.

Desde então, com o apoio das Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, vem capacitando
profissionais de saúde, realizando as avaliações e estimulando a rede hospitalar para o credenciamento. Já
são mais de 20 mil hospitais credenciados na IHAC em todo o mundo e no Brasil já há 336 Hospitais Amigos
da Criança.
Ao ser reconhecido com o título Hospital Amigo da Criança, estes estabelecimentos se tornam
referência em amamentação para seu município, região e estado. Nestes hospitais, as mães são
orientadas e apoiadas para o sucesso da amamentação desde o pré-natal até o puerpério,
aumentando dessa forma os índices de aleitamento materno exclusivo e continuado e reduzindo a
morbimortalidade materna e infantil, o que tem gerado grande interesse pelos gestores nessa
habilitação.

Essa iniciativa tem como objetivo mobilizar toda a equipe de saúde dos hospitais-maternidade,
estabelecimentos com leitos de parto para que modifiquem condutas e rotinas responsáveis pelos
altos índices de desmame precoce e, para isso, foram estabelecidos os:
PRODUÇÃO E EJEÇÃO DE LEITE:

Anatomia das mamas:


A estrutura da mama é dividida em dois componentes funcionais: o componente epitelial (o sistema que
produz leite) e o componente estrutural (o sistema do tecido gorduroso e ligamentos que suportam e
protegem a estrutura das mamas).

O componente epitelial é composto de 15 a 25 lobos colocados em ordem ao redor do centro da mama.


Cada lobo contém aglomerados de lóbulos que lembram os cachos de uvas.
Todos os lóbulos terminam em dezenas de pequenos bulbos produtores de leite. Todos os lóbulos se
conectam a uma rede de dutos chamados de seios lactíferos, que carregam o leite para o bico do seio.
O componente estrutural da mama é compreendido principalmente de tecido adiposo. Não existe
músculo na mama real, mas existe uma série de músculos atrás e por baixo das mamas. Estes músculos
trabalham em conjunto com o ligamento de Cooper e juntos agem como um sutiã natural, que suporta o
peso das mamas na parte dianteira do corpo da mulher.
O tamanho e forma da mama de uma mulher são principalmente determinados pela hereditariedade.
Outros fatores que podem afetar o tamanho das mamas (excluindo os traumas e câncer) inclui peso
flutuante, medicamentos, gravidez, menstruação e menopausa.
d.2) Produção e descida de leite:

O processo de lactação é comandado por uma glândula denominada hipófise, localizada no cérebro da
mãe. Quando o bebê suga, é enviada uma mensagem para a hipófise, que libera os hormônios prolactina
(responsável pela produção do leite) e ocitocina (responsável por sua liberação).
A principal regra para o aumento da produção de leite materno é o estímulo à glândula mamária com a
sucção do bebê.
Todo o processo de produção e descida do leite está diretamente relacionado ao sistema nervoso. O
“reflexo de descida” pode ser estimulado pela presença ou choro do bebê e ser inibido pela fadiga ou
estresse materno.
Se a mãe estiver cansada ou tensa, deve procurar relaxar para não interferir na produção e saída do
leite.
Posições para amamentação:

Na hora de amamentar, assim como sempre a mãe for pegar seu, bebe é muito importante ficar
atenta á sua postura. A melhor posição para amamentar é aquela em que mãe e bebê estão confortáveis.
Técnica de amamentação:

Para ter uma boa pega, a boca do bebê deve ser levada em direção ao mamilo, e não o contrário. A
mãe deve posicionar o polegar acima da auréola e o indicador abaixo, formando um ‘C’.
Ao mamar, a boca do bebê deve estar bem aberta, com os lábios para fora, abocanhando quase
toda a auréola e não somente o bico do peito, e as mamadas serão grandes e espaçadas.
Quando for tirar a criança do peito, é bom usar a técnica conhecida popularmente como "técnica
do dedo mínimo", onde a mãe coloca o dedo mínimo na boca da criança para enganá-la.
Ela aceita trocar o bico do peito pelo dedinho e, assim, não puxa o mamilo da mãe com força.
Quando o bebê largar a mama, os mamilos devem estar levemente alongados e redondos.
PROBLEMAS COM A MAMA

FISSURAS DO MAMILO (bico do peito rachado)

As fissuras do mamilo ocorrem no seio despreparado, devido à má posição da criança no


momento da mamada e, principalmente, devido à técnica incorreta de sucção.
Conduta

Para evitar a fissura:

 A mãe deve preparar a mama durante o pré-natal utilizando estratégias para o fortalecimento do
tecido areolar e mamilar.
 A posição adequada da criança no momento da mamada é fundamental para o não aparecimento de
fissuras. Para posicionar a criança corretamente no momento da mamada:
o Segure o seio posicionando a mão em forma de "C".
E após a criança começar a mamar deixe o seio livre.
o O corpo da criança deve estar de frente para o corpo da mãe estando com a sua barriga
encostada na barriga da mãe.
o A criança deve por na boca o máximo de aréola possível. Se a criança colocar apenas o
"bico" do peito na boca não sairá leite suficiente e o bebê poderá ficar irritado,
adormecer devido ao cansaço de sugar e acordar logo depois devido à fome. O maior
tempo do bebê no seio realizando sucção inadequada ocasionará fissuras.
o Não se preocupe com a respiração do bebê. Não aperte o seio para livrar o nariz do bebê
pois você estará dificultando a saída do leite pelos ductos mamários. O bebê possui o
reflexo de jogar a cabecinha para trás quando sentir-se sufocado ou mesmo quando já
estiver satisfeito.
O aparecimento de fissuras não significa interromper a amamentação. As fissuras causam dor mas
não impedem que a mãe continue a amamentar seu bebê, até mesmo por que elas cicatrizam
rapidamente se a mãe tomar as devidas providências.
Para tratar da fissura:

 A mãe deve corrigir a posição da mamada, seguindo as orientações citadas anteriormente.


 Os mamilos devem ser lavados apenas uma vez ao dia, no momento do banho, e deve-se usar pouco ou
nenhum sabão.
 A mãe deve expor os mamilos ao ar e ao sol tanto quanto possível no intervalo das mamadas, ou dar
banho de luz com lâmpadas de 40 watts, colocada a um palmo de distância da mama 10 minutos de
cada lado, 3 x dia.
 Lavar os mamilos com o próprio leite materno após as mamadas, pois o leite materno possui efeito
cicatrizante.
 A mãe deve mudar a posição costumeira, colocando a criança numa posição diferente para mamar.
Nos casos graves, dependendo da extensão da fissura, a mãe deve suspender a sucção direta ao seio
por um período de 24 a 48 hs, ordenhar a mama e oferecer o leite na “colherinha” ou “conta-gota”.
INGURGITAMENTO MAMÁRIO (peitos muito cheios e doloridos)

O ingurgitamento mamário, consiste em parte no aumento da quantidade de sangue e fluídos nos


tecidos que suportam a mama (congestão vascular) e de certa quantidade de leite que fica retido na
glândula mamária.
Quando isto ocorre, as duas mamas ficam inchadas (aumentam de volume, dolorosas, quentes,
vermelhas, brilhantes e tensas por causa do edema (líquido) nos tecidos. A mãe queixa-se de dor
principalmente na axila e pode ter febre.
O ingurgitamento geralmente ocorre alguns dias (2 a 5) após o nascimento (na apojadura) ou em
qualquer outra época durante a amamentação, todavia, é mais difícil de acontecer em hospitais onde há
alojamento conjunto e sistema de livre demanda precoce.
Conduta

 Para evitar o ingurgitamento:


As mães devem amamentar no sistema de livre demanda logo após o parto e verificar se a criança
mama em boa posição desde o primeiro dia.
 Para tratar o ingurgitamento:

 A criança precisa continuar sugando.


 Quando a criança estiver satisfeita e os seios ainda estiverem muito cheios a mãe deve retirar o leite por
expressão manual. Atualmente existem os bancos de leite materno e as mães que produzem bastante leite
podem doar o leite em excesso para ajudar outras crianças que não podem mamar no seio de suas mães.
 O uso de um sutiã firme e confortável pode tornar o ingurgitamento menos doloroso
 Fazer compressas geladas ou quentes sobre o seio por 20 min. Alternadamente às compressas deve-se
fazer massagens com movimentos circulares que começam no mamilo e vão se estendendo
vagarosamente para o restante do seio. Desta forma, o leite irá saindo lentamente e aliviará a dor.
MASTITE (inflamação da mama)

O ingurgitamento mal tratado pode facilitar o início da mastite, que é facilmente diagnosticado:
mamas quentes, febre, dor a palpação e podendo existir pus.

A mastite é mais frequente na 2ª e 3ª semanas depois do parto. A mãe deverá descansar por mais
tempo. Deverá tirar uma licença de seu emprego. Se continuar a trabalhar a infecção poderá retornar.
Conduta

 Para evitar a mastite:


 As mães devem amamentar no sistema de livre demanda, e se certificar que o bebê está em posição
adequada.
 Se o bebê não esvaziar a mama, complete com auto-ordenha, ou solicite colaboração para
o esvaziamento por ordenha.
 Para tratar a mastite:
 Aplique compressas úmidas e mornas sobre a área afetada; antes de cada mamada e se for necessário
também nos intervalos, até sentir alívio (5 a 10 min.) amamente até esvaziar a mama e massageie
delicadamente, com movimentos circulares, as áreas afetadas enquanto estiver amamentando.
 Se necessário, o médico pode prescrever o uso de analgésico antes de proceder à auto-ordenha.
 Deve-se usar um sutiã que sustente bem a base da mama, mas que não a aperte.
 Se houver demora no início do tratamento, pode se formar um abcesso mamário e, neste caso, a
amamentação deve ser suspensa na mama afetada e a mãe deve ser encaminhada para a drenagem.

Após o tratamento, pode-se retomar a amamentação nos dois seios.


DUCTO BLOQUEADO (leite empedrado)

Essa situação é provocada pelo esvaziamento incompleto de um ou mais canais. Neste caso, o leite
não drena porque está endurecido e, desta forma, bloqueia a passagem do leite pelos ductos. Uma
"tumoração" dolorosa se forma na mama.

A causa exata do ducto bloqueado não está clara, mas pode ser resultado de roupa apertada, ou
porque a posição da criança não permite a mesma sugar eficientemente aquela parte da mama.
Um "tabu" bastante comum entre as mães é que a criança não
pode "arrotar" no seio porque o leite "pedra". Esta afirmação não é
verdadeira. O fato da criança arrotar no seio não ocasionará o
"empedramento do leite", ou seja, o bloqueio dos ductos mamários.
Conduta

 Para evitar o ducto bloqueado:


 As mães devem conhecer, durante o pré-natal, as técnicas de posição e pega de amamentação.
 O bebê deve sugar até o completo esvaziamento da mama, caso isto não ocorra, proceder a ordenha
manual.

 Para tratar:
 A mãe deve se certificar que a posição da mamada está adequada para o bebê.
 A mãe deve variar a posição para amamentar de tal modo que o leite seja retirado de todos os
segmentos da mama
 A criança deve mamar frequentemente do lado afetado.
 A mãe deve massagear delicadamente com movimentos circulares a parte afetada. A massagem deve
começar no mamilo e se distanciar vagarosamente para o restante do seio.

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