Você está na página 1de 40

Alimentação e nutrição do

lactente
C T E S P - I N T E R V E N Ç Ã O E D U C AT I VA E M C R E C H E
U C : N U T R I Ç Ã O E S A Ú D E N A I N FÂ N C I A
P R O F. D O U TO R A R A Q U E L L E I TÃ O
Recuando “um pouco”…

As alterações
corporais na gravidez
Alterações no peso corporal durante a gravidez

GRAVIDEZ SAUDÁVEL

Associada a

IMC pré-gestacional de 23 kg/m2

No entanto, o ganho de peso durante uma gravidez


saudável é variável e influenciado pelo peso pré-
gestacional e pela presença de edema.
Ganho de peso ótimo durante a gravidez

Ganho de peso materno de 10-14 kg

Peso ótimo ao nascer de 3,1-3,6 kg

OMS (2015)
A importância da boa nutrição materna…
A malnutrição materna, quer a sobrenutrição, quer a subnutrição, constitui
um preditor do desenvolvimento futuro de obesidade do filho.

Gluckman, Hanson, Cooper, & Thornburg (2008)


Spencer (2012)

Baixo peso à nascença


Peso excessivo à nascença Risco de obesidade
Consequências da obesidade materna

Obesidade materna

Resistência à insulina e intolerância à glicose

Aumento da glicemia, ácidos gordos livres e aa

Peso
Sobrenutrição do feto excessivo à
nascença
Alterações permanentes no controlo do apetite, função neuro-endócrina e
metabolismo energético fetal

Maior risco de obesidade do filho

(Freinkel, 1980; Whitaker e Dietz, 1998; Lawlor e Chaturvedi, 2006).


Maternidade precoce ou tardia…os riscos!
A MÃE ADOLESCENTE A MÃE MAIS VELHA
Continua a crescer (portanto, as Diabetes gestacional
necessidades nutricionais são ainda maiores
do que uma mulher adulta); Hipertensão (induzida pela gravidez)

Dieta desequilibrada; Bebés com síndrome de Down ou outros problemas


relacionados com o desenvolvimento.
Hipertensão (induzida pela gravidez)
Anemia ferripriva (induzida pela gravidez)
Bebés prematuros
Necessidades nutricionais na gravidez

“Devido às necessidades do feto em crescimento e às


alterações fisiológicas e metabólicas que ocorrem na mãe,
requisitos nutricionais diferentes são exigidos na gravidez (…)
essas mudanças de requisitos não significam “comer por dois”

Benjamin Burton, in Nutrição humana


Necessidades energéticas na gravidez
Uma dieta completa, equilibrada e variada, associada a 30 minutos de
exercício físico por dia, é importante para uma gravidez saudável.

+ 200-300 Cal/dia
 O acréscimo nas exigências energéticas do 1º trimestre de gestação é diminuto;

 No segundo trimestre as exigências energéticas aumentam, sobretudo para a mãe;

 No terceiro trimestre aumentam, sobretudo para o filho.


Necessidades nutricionais na gravidez
 As mulheres grávidas são aconselhadas a tomar suplementos de ÁCIDO FÓLICO
antes da conceção e durante a gravidez para reduzir o risco de defeitos do tubo
neural no feto.

 Suplementos de VITAMINA D são recomendados durante a gravidez para


permitir o desenvolvimento ósseo ideal do feto e para ajudar a evitar o
raquitismo na infância.

 Para prevenir a deficiência de ferro durante a gravidez, a dieta deve conter


alimentos ricos em FERRO, como carne, ovos, feijão, nozes, vegetais verde-
escuro e alimentos fortificados (como alguns cereais de pequeno almoço).

 Durante a gravidez NÃO É ACONSELHADO tomar suplementos contendo


VITAMINA A*.

 O consumo de CAFEÍNA durante a gravidez deve ser limitado a 200 mg/dia, o


que equivale a cerca de duas chávenas de café por dia ou cerca de 3 chávenas
de chá/dia.
A resposta Letdown
“descida” do leite
LEITE HUMANO
ALEITAMENTO
MATERNO
Benefícios para o bebé e para a mãe:

 Nutricionais

 Psicológicos

 Afetivos

 De Saúde

 Financeiros

 Ambientais

A OMS recomenda o aleitamento exclusivo até aos 6 meses


Mais recomendações da WHO…
Aos 6 MESES devem ser introduzido os ALIMENTOS SÓLIDOS,
tais como frutas e legumes em puré, para complementar o aleitamento
materno até aos dois anos ou mais.

Além disso:

 A amamentação deve começar dentro de 1 HORA após o


nascimento.

 A amamentação deve ser “A PEDIDO“, tantas vezes quantas


a criança quiser, quer de dia quer de noite.
Mais recomendações da WHO…
 Biberões ou chupetas devem ser evitados.
A composição do leite humano…
…Estabelece o PADRÃO para a nutrição infantil humana, incluindo os componentes bioativos, que permitam
salvaguardar o crescimento e o desenvolvimento infantil;

…É VARIÁVEL :
entre mamadas
ao longo do dia
ao longo da lactação
entre mães Esta variabilidade tem benefícios para a saúde infantil e para
a sobrevivência, mas para crianças de alto risco que
entre populações.
necessitam de supervisão nutricional, pode ser necessário a
suplementação…
…Pode ser ALTERADA com o tratamento do leite que é extraído*, incluindo a sua armazenagem e pasteurização.
POR ISSO ATENÇÃO!
“géneros alimentícios com indicações nutricionais especificas
destinados a lactentes durante os primeiros meses de vida e
que satisfaçam as necessidades nutricionais desses lactentes
até à introdução de alimentação complementar adequada”

Fórmulas para lactentes e fórmulas de transição


Satisfazer as necessidades nutricionais específicas dos lactentes
saudáveis (crianças com idade inferior a 12 meses).

“géneros alimentícios com indicações nutricionais especificas


destinados a lactentes quando é introduzida uma alimentação
complementar adequada, que constituam o componente
líquido principal de uma dieta progressivamente diversificada
desses lactentes”

http://ec.europa.eu/food/food/labellingnutrition/children/formulae_en.htm
4 categorias de leites:
Destinados a bebés de 4 a 6 meses

 Leites para lactentes ou Leites 1 Teor de ferro entre 0,3 e 1,3 mg/100kcal
Teor proteico entre 1,8 -3,0 g/100kcal

 Leites de transição ou Leites 2


Após os 6 meses de vida e crianças entre os 12 – 36 meses
Teor proteico entre 1,9 – 2,6 g/kcal
 Leites de Crescimento (Leites 3) Teor mais elevado de cálcio, fósforo e ferro

Para crianças entre 1-3 anos de vida

Com proteínas de alto valor biológico, cálcio e vitamina D

 Leites Especiais - recomendados para situações específicas (com proteínas hidrolisadas, anti-regurgitação, para
recém-nascidos de pré-termo ou de baixo-peso para a idade gestacional, pós alta hospitalar, entre outros.
Diversificação Alimentar – quando iniciar?

A partir dos 6 meses de idade.


Porquê?
Porque se torna progressivamente mais
difícil para os lactentes atingirem as
suas necessidades nutricionais através
do aleitamento materno exclusivo,
nomeadamente em:
Energia, proteínas, ferro, zinco e
algumas vitaminas lipossolúveis (A e D)
Diversificação Alimentar – quando iniciar?
O momento da introdução de alimentos sólidos deve ter em consideração o desenvolvimento da criança, que
é variável;
Mas há certos sinais sugestivos da adequação do início da diversificação alimentar:

• Começa a mostrar interesse por alimentos

• É capaz de sentar-se, embora ainda seja necessário algum apoio

• Quer mastigar e colocar objetos na boca

• É capaz de alcançar e agarrar com precisão

• Ainda parece ter fome depois de alimentada com leite


Indicações para a diversificação alimentar
◦ Guardar tempo para as refeições;

◦ Cada bebé é 1 bebé: é muito importante respeitar-se o ritmo e os gostos e vontades individuais;

◦ Se o bebé rejeitar um alimento à primeira, deverá insistir-se num outro momento ou dia;

◦ A introdução dos alimentos complementares deve ser lenta e gradual pois o bebé tende
◦ a rejeitar as primeiras ofertas do(s) alimento(s), e há muitas novidades:
- a colher,
- a consistência dos alimentos,
- os sabores, …

◦ Algumas crianças precisam ser estimuladas a comer, mas nunca devem ser forçadas.

Adaptado de: PASSE – Programa Alimentação Saudável em Saúde Escolar


Indicações para a diversificação alimentar
◦ No início, a quantidade de alimentos que a criança ingere é pequena;
◦ Há crianças que se adaptam mais facilmente às novas etapas e aceitam muito bem os novos alimentos;
◦ A partir da introdução da diversificação alimentar é importante que a criança beba água nos intervalos
das refeições;
◦ Mesmo recebendo outros alimentos, a criança pode, e deve, continuar a ser amamentada, já que o leite
materno continua a alimentá-la, protegendo-a contra doenças;

◦Não deve adicionar-se sal, açúcar ou mel na alimentação do bebé no 1º ano de vida;
◦ Deve evitar-se o uso desmedido de boiões de fruta;
◦ A introdução dos novos alimentos deve ser feita com colher (ou copo, no caso da oferta de líquidos) e
nunca com biberão.
Adaptado de: PASSE – Programa Alimentação Saudável em Saúde Escolar
Como iniciar a introdução dos novos alimentos?
A ordem de introdução dos alimentos não deve ser rígida (depende de diversos fatores
socioculturais, socioeconómicos, particularidades do lactente, etc*)
Pergunta frequente:
Começar com a “papa de cereais” ou a sopa de legumes?

Deve-se iniciar um novo alimento, em pequena quantidade, e ir aumentando gradualmente, respeitando um


intervalo mínimo de uma semana entre cada alimento. Assim, estará não só a facilitar-se a adaptação do bebé
aos novos sabores, como também a possibilitar a deteção de possíveis reações alérgicas.
Fontes: Acta Pediatr Port 2012:43(2):S17-S40 Guerra A et al. – Alimentação do lactente e PASSE – Programa Alimentação Saudável em Saúde Escolar
Como iniciar a introdução dos novos alimentos?

6 meses
SOPA DE LEGUMES

Com que hortícolas?


Batata, cenoura, abóbora, cebola, alho, alho francês,
alface, curgete, brócolos e couve branca, agrupados 4 a 5 (os mais utilizados)

Nota importante: O azeite deve ser adicionado “em cru” a cada dose de puré ou caldo de legumes (5 – 7,5 ml)

Fontes: Acta Pediatr Port 2012:43(2):S17-S40 Guerra A et al. – Alimentação do lactente


Como iniciar a introdução dos novos alimentos?

6 meses
- As farinhas lácteas devem ser reconstituídas com água;
- As farinhas não lácteas devem ser reconstituídas com leite materno ou com o leite
que o lactente está a tomar.

“PAPA DE CEREAIS” Que nutrimentos fornecem? - Hidratos de carbono (polissacarídeos amiláceos e


não amiláceos)
- Proteínas de origem vegetal (ex. no trigo),
- Ácidos gordos essenciais (ex. trigo, milho)
Farinhas de cereais - Minerais (fósforo: ex. na aveia, milho e cevada; magnésio e cálcio: no trigo)
- Vitaminas (B1 e B6: ex. no arroz).
RISCO AUMENTADO DE OBESIDADE!
Que quantidade deve conter uma refeição?
Entre 35 e 50 g de farinha para evitar um aporte energético-proteico excessivo.
Não
Lácteas Tal como as fórmulas infantis, também os cereais a partir do 6º mês deverão ser
lácteas
enriquecidos em ferro, de forma a reduzir o risco de ferropenia ou anemia
ferripriva, prevalentes nesta fase do crescimento.

Fontes: Acta Pediatr Port 2012:43(2):S17-S40 Guerra A et al. – Alimentação do lactente


Como iniciar a introdução dos novos alimentos?

6 meses Atualmente considera-se que o glúten não deve ser introduzido antes dos 4 meses
nem após os 7 meses;
“PAPA DE CEREAIS” A sua introdução deve ser gradual e preferencialmente em associação ao
aleitamento materno…
Farinhas de cereais

…com o objetivo de

Isentas Com …reduzir o risco de diabetes mellitus tipo 1, de doença celíaca e de alergia ao trigo
de glúten glúten

Fontes: Acta Pediatr Port 2012:43(2):S17-S40 Guerra A et al. – Alimentação do lactente


Como iniciar a introdução dos novos alimentos?

6 meses Inicialmente peixes magros tais como pescada, linguado, solha ou faneca.

E o salmão e outros peixes gordos? Só depois dos 10 meses e em


CARNE e PEIXE pequenas porções (não mais de 15g em cada dose).

Nota importante: A contribuição das gorduras para a


Preferencialmente de: ingestão energética diária de um lactente e até aos 3 anos
de idade deve ser obrigatoriamente superior (e nunca
aves (frango, peru e avestruz) inferior) a 30% do valor energético total.
ou
de coelho.

Fontes: Acta Pediatr Port 2012:43(2):S17-S40 Guerra A et al. – Alimentação do lactente


Como iniciar a introdução dos novos alimentos?
6 meses CARNE e PEIXE
A introdução destas fontes de proteína animal deve pois iniciar-se no caldo/puré de legumes, com porções de
10g e aumentando gradualmente até atingir a dose de cerca de 25-30g de carne ou peixe isentos de
gordura por dia.

Poderá ser oferecida toda numa refeição do dia (almoço) ou metade desta dose nas duas refeições principais.

Deverá idealmente ser oferecida carne 4 vezes por semana e peixe as restantes 3 vezes por semana.

A partir do 7º mês poderá adicionar-se a dose recomendada de carne ou peixe a preparados tais como
farinha de pau ou açorda e a partir dos 8 – 9 meses a arroz branco ou massa, cozidos sempre com legumes.

Fontes: Acta Pediatr Port 2012:43(2):S17-S40 Guerra A et al. – Alimentação do lactente


Como iniciar a introdução dos novos alimentos?

6 meses
ÁGUA Se houver aleitamento materno exclusivo, não é necessária a oferta de água até aos 6 meses.
A água deve ser dada ao lactente, várias vezes por dia, em pequenas quantidades.
Estão contraindicados os:
Chás (ricos em taninos; podem alterar a motilidade intestinal e a absorção de minerais);
Sumos de fruta (reduzem o apetite, induzem a procura do sabor doce com rejeição da água, entre outros
aspetos);
Sumos artificiais/bebidas açucaradas/refrigerantes (por conterem frequentemente edulcorantes artificiais
ou açúcar, para além dos aspetos indesejáveis descritos para os sumos de fruta).

Fontes: Acta Pediatr Port 2012:43(2):S17-S40 Guerra A et al. – Alimentação do lactente


Como iniciar a introdução dos novos alimentos?

6 meses Atenção! O morango, a amora, o maracujá e o kiwi só após os 12


meses, por serem potencialmente alergénicos.
FRUTA
A maçã e a pêra (cozidas ou assadas com casca e caroço ou em vapor) e a banana, são
habitualmente os primeiros frutos a serem utilizados.
Os frutos devem ser oferecidos individualmente e não sob a forma de puré de vários frutos,
de forma a permitir o treino do paladar.
Deve variar-se os frutos, preferindo os da época.
Sem adição de açúcar ou mel!
Fontes: Acta Pediatr Port 2012:43(2):S17-S40 Guerra A et al. – Alimentação do lactente
Como iniciar a introdução dos novos alimentos?
9 meses
GEMA DE OVO
Introduzir de forma gradual - meia gema cozida/refeição/semana durante 2 a 3 semanas
Depois dar uma gema/refeição/semana nas 2 a 3 semanas seguintes.
Não consumir mais do que 1 gema em cada refeição e não mais de 2 a 3 por semana. A utilização de uma gema
substitui a carne ou peixe nessa refeição.
Sem adição de sal!

Atenção: A clara de ovo só deve ser iniciada aos 11 meses, ou aos 24 meses caso haja história individual de
atopia.
Fontes: Acta Pediatr Port 2012:43(2):S17-S40 Guerra A et al. – Alimentação do lactente
Como iniciar a introdução dos novos alimentos?

9 meses
LEGUMINOSAS SECAS – feijão, grão de bico, ervilhas, favas…
Começa-se com o feijão (fradinho, branco ou preto) e a lentilha
previamente bem demolhadas e inicialmente sem casca e em pequenas
porções.

São uma importante fonte nutricional pelo seu teor em proteína de


origem vegetal e em hidratos de carbono complexos.
Também são boas fontes de minerais, vitaminas e fibras.

Fontes: Acta Pediatr Port 2012:43(2):S17-S40 Guerra A et al. – Alimentação do lactente


Como iniciar a introdução dos novos alimentos?
9 meses
Pode dar-se IOGURTE NATURAL – sem aditivos (como aromas), açúcar ou natas (tipo cremoso)

 É fonte de proteínas de alto valor biológico, vitaminas e minerais (ex. cálcio).


Tem um papel pré e próbiotico importante.
É um alimento bem tolerado.
Protege contra infeções intestinais.
Regula a flora cólica. Quantidade diária recomendada : 150 - 200 ml
- ao lanche, em alternativa ao leite ou papa
É “prático”.

Fontes: Acta Pediatr Port 2012:43(2):S17-S40 Guerra A et al. – Alimentação do lactente


Como iniciar a introdução dos novos alimentos?

12 meses
Diversificar os hortícolas na SOPA DE LEGUMES
com a introdução de:
◦ Espinafre, nabo, nabiça, beterraba e aipo (entre outros)

Porquê só aos 12 meses e não antes?


◦ Devido ao elevado teor de nitrato e de fitato.

Nota importante: Os produtos hortícolas e os tubérculos têm baixo valor


energético (40 – 80 cal/100g) mas são importantes fontes de macronutrimentos
(excepto gordura) e micronutrimentos.

Fontes: Acta Pediatr Port 2012:43(2):S17-S40 Guerra A et al. – Alimentação do lactente


Variação das necessidades energéticas (Kcal) ao longo do
crescimento

Fonte: American Academy of pediatrics


Variação das necessidades energéticas (Kcal) ao longo
do crescimento
IDADE (ANOS) RAPARIGAS RAPAZES
2-3 1000 1000
4-8 1200-1400 1200-1400
9-13 1600 1800
14-18 1800 2200
Nota: Estes valores podem ser mais elevados devido à influência da atividade física

Fonte: American Academy of pediatrics

Você também pode gostar