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Vivências Jurídicas e Interdisciplinares E

UNIVERSIDADE DE SANTA CRUZ DO SUL CURSO DE DIREITO


Vivências Jurídicas e Interdisciplinares E
5º Semestre – Currículo 7711

Entendendo o papel dos Cartórios


Relatório e Podcast

Brunna da Silveira Brum


Fabiana da Rosa Maas
Laura de Souza
Milena Haeser
Nicholas Marques Vendruscollo
Paula Kessler Esber

Santa Cruz do Sul, RS, 5º Semestre de 2022


Vivências Jurídicas e Interdisciplinares E

Entendendo o papel dos Cartórios


Relatório e Podcast

Entendendo o papel dos Cartórios. Relatório e


Podcast. Trabalho a ser apresentado ao módulo de
Vivências Jurídicas e interdisciplinares E do Curso de
Direito da Universidade de Santa Cruz do Sul
(UNISC), ministrado pela Professora Dra. Elia Denise
Hammes. Santa Cruz do Sul 2022

Santa Cruz do Sul, RS, 5º Semestre de 2022


Vivências Jurídicas e Interdisciplinares E
1. CARTÓRIOS DE VENÂNCIO AIRES

Escolhemos a cidade de Venâncio Aires, localizada no estado do Rio Grande


do Sul e pertencente ao Vale do Rio Pardo. Possui extensão territorial de 773,2 km²
e conta com 72.373 habitantes (IBGE, 2021). O município é dividido em nove
distritos, os quais são: sede, Mariante, Deodoro, Santa Emília, Centro Linha Brasil,
Palanque, Linha Arlindo, Vale do Sampaio e Estância Nova. A figura 1 ilustra o mapa
da cidade e a figura 2 demonstra a localização da cidade em relação ao estado do
Rio Grande do Sul.

Figura 1 - Mapa de Venâncio-Aires

Fonte: Site da Prefeitura de Venâncio-Aires

Figura 2 - Localização de Venâncio-Aires no estado do RS

Fonte: Google Maps.


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No âmbito dos serviços de registros públicos, os cartórios existentes na


cidade são os seguintes: o Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais, Registro
Civil das Pessoas Jurídicas, Títulos e Documentos e Tabelionato de Protesto de
Títulos de Venâncio Aires, localizado na Rua Júlio de Castilhos, nº 1544, Centro, sob
responsabilidade do Oficial Luiz Henrique Delgado Dutra. A figura 3 ilustra o imóvel
do cartório na cidade.

Figura 3 - Imóvel do Cartório de Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais

Fonte: Google Maps.

Ainda, há o Cartório de Registro de Imóveis, localizado na Rua Tiradentes, nº


912, sala 03, Centro, sob responsabilidade do Registrador Délcio Edgar Heinrich, até
a data de seu óbito, em 08 de março do corrente ano. A figura 4 ilustra o imóvel do
cartório na cidade.
Figura 4 - Imóvel do Cartório de Cartório de Registro de Imóveis

Fonte: Google Maps.


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Por fim, o Tabelionato Lemos está localizado na Rua Júlio de Castilhos, nº
730, Centro, sob responsabilidade do Tabelião Almir Osmar Lemos e o Serviços
Notariais e de Registros de Vila Deodoro, localizado na RS 422, km 3,4, Linha Arroio
Grande, sob responsabilidade de Luiz Carlos Mirandolli. A figura 05 ilustra o imóvel
do Tabelionato de Notas Lemos e a figura 06 ilustra o imóvel do Cartório de
Deodoro.

Figura 5 - Imóvel do Tabelionato de Notas Lemos

Fonte: Google Maps.

Figura 6 - Imóvel do Serviços Notariais e de Registros de Vila Deodoro

Fonte: Folha do Mate, 2019.


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2. FUNÇÕES E ATRIBUIÇÕES AOS CARTÓRIOS


O Cartório, por delegação do Poder Público, exerce os serviços notariais e de
registro (art. 236, CF/88), que tem como função garantir a publicidade, autenticidade,
segurança e eficácia dos atos jurídicos praticados, tal como prevê o art. 1º da Lei
dos Cartórios (Lei 8.935/94). Cada Cartório tem um rol de atribuições definidas por
lei infraconstitucional, assim como ilustra a imagem 7.

Figura 7 - Funções de cada cartório

3. LEGISLAÇÃO APLICADA AOS CARTÓRIOS


A legislação aplicada aos cartórios, primeiramente, é a delegação dos
serviços, nos termos do art. 236 da Constituição Federal. Como regulamentação
desse dispositivo, está a Lei 8.935, de 18 de novembro de 1994, denominada Lei
dos Cartórios; outras lei de aplicação ao serviços notariais são:
1. LEI Nº 8.935, DE 18 DE NOVEMBRO DE 1994 = chamada de Lei dos
Cartórios. Regulamenta o art. 236 da Constituição Federal, dispondo sobre
serviços notariais e de registro.
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2. LEI Nº 6.015, DE 31 DE DEZEMBRO DE 1973 = Dispõe sobre os registros
públicos, e dá outras providências.
3. Lei 13.709/2018 - Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) =
busca proteger mais e melhor os dados, informações, liberdade e a
privacidade dos cidadãos. Essa lei dispõe sobre quais dados devem ser
resguardados, como, por exemplo, nome, sobrenome, e-mail, números de
documentos e de cartões de créditos, bem como dados bancários e
endereço.
4. INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 116, DE 5 DE MAIO DE 2021 = Disciplina o
procedimento relativo à apuração de descumprimento de qualquer obrigação
imposta pelo art. 68 da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991, assim como o
fornecimento de informação inexata pelos Titulares de Cartórios de Registro
Civil de Pessoas Naturais, para fins de aplicação de multa e propositura de
ação regressiva.
5. PROVIMENTO N. 100, DE 26 DE MAIO DE 2020 = estabelece normas gerais
sobre a prática de atos notariais eletrônicos em todos os tabelionatos de
notas do País. Dispõe sobre a prática de atos notariais eletrônicos utilizando o
sistema e-Notariado, cria a Matrícula Notarial Eletrônica-MNE.
6. MEDIDA PROVISÓRIA Nº 1.085/2021 = que dispõe sobre a criação do
Sistema Eletrônico dos Registro Públicos (SERP), com o objetivo de conectar
os cartórios existentes no Brasil, com atendimento remoto e envio de
documento e títulos pela internet.
7. LEI 9.492, DE 10 DE SETEMBRO DE 1997 = que regulamenta os serviços
concernentes ao protesto de títulos e outros documentos de dívida.
8. LEI 7.433, DE 18 DE DEZEMBRO DE 1985 E O DECRETO 93.240, DE 09
DE SETEMBRO DE 1986 = que dispõe sobre os requisitos para lavratura de
escrituras públicas.
9. LEI ESTADUAL Nº 12.692, DE 29 DE DEZEMBRO DE 2006 = que dispõe
sobre os emolumentos dos serviços notariais e de registro, cria o Selo Digital
de Fiscalização Notarial e Registral, institui o Fundo Notarial e Registral e dá
outras providências.
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10. LEI ESTADUAL nº 11.183, DE 29 DE JUNHO DE 1998 = que dispõe sobre
os concursos de ingresso e remoção nos serviços notarial e registral, neste
Estado, e sobre a ação disciplinar, relativa aos mesmos serviços, conforme
previsão da Lei Federal n° 8.935, de 18 de novembro de 1994, e dá outras
providências.

4. PROVIMENTO NO CARGO E A CONDIÇÃO DE AGENTE PÚBLICO DOS


REGISTRADORES E NOTÁRIOS
De acordo com o art. 236. da CF 88, “Os serviços notariais e de registro são
exercidos em caráter privado, por delegação do Poder Público.” O seu § 3º disciplina
que “O ingresso na atividade notarial e de registro depende de concurso público de
provas e títulos, não se permitindo que qualquer serventia fique vaga, sem abertura
de concurso de provimento ou remoção, por mais de seis meses.”
Trata-se de atividades jurídicas que são próprias do Estado, porém exercidas
por particulares mediante delegação. Para se tornar delegatária do poder público e
assumir um cartório, é necessária a habilitação em concurso público de provas e
títulos, bem como o preenchimento dos seguintes requisitos: nacionalidade
brasileira, capacidade civil, quitação eleitoral e militar, diploma de bacharel em direito
e verificação de conduta condigna para o exercício da profissão (Art. 15, Lei
8395/94). Preenchidos todos esses requisitos, o candidato estará habilitado para o
exercício da atividade notarial e de registro, conforme ordem de classificação no
concurso (art. 19, Lei 8395/94).
Os notários e os registradores exercem atividade estatal, entretanto não são
titulares de cargo público efetivo, tampouco ocupam cargo público. Decorrente da
delegação, atribui-se ao notário a autonomia para o exercício de suas atribuições, ou
seja, decide e age em nome próprio, não sendo subordinado às manifestações de
vontades do Estado, cabendo à este somente a fiscalização, por meio do Poder
Judiciário.
Dessa forma, pela presença de independência, não identifica-se o notário e o
registrador como servidor público, mas sim como agente público, como particular em
colaboração com o Poder Público. Depreende-se agente público como “toda pessoa
física que presta serviços ao Estado e às pessoas jurídicas da Administração
Indireta.” (DI PIETRO, 2020, p. 1234), de forma que, os particulares em colaboração
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com o Poder Público é uma espécie de agente público que, embora particulares,
executam funções especiais que se qualificam como públicas.
Nesse sentido, a Suprema Corte consolida esse entendimento:
O art. 40, § 1º, II, da Constituição do Brasil, na redação que lhe foi conferida
pela EC 20/1998, está restrito aos cargos efetivos da União, dos
Estados-membros, do Distrito Federal e dos Municípios – incluídas as
autarquias e fundações. Os serviços de registros públicos, cartorários e
notariais são exercidos em caráter privado por delegação do poder
público – serviço público não privativo. Os notários e os registradores
exercem atividade estatal, entretanto não são titulares de cargo
público efetivo, tampouco ocupam cargo público. Não são servidores
públicos, não lhes alcançando a compulsoriedade imposta pelo
mencionado art. 40 da CF/1988 – aposentadoria compulsória aos setenta
anos de idade.[ADI 2.602, red. do ac. min. Eros Grau, j. 24-11-2005, P, DJ
de 31-3-2006.] = MS 28.440 ED-AgR, voto do min. Teori Zavascki, j.
19-6-2013, P, DJE de 7-2-2014. Vide RE 556.504 ED, rel. min. Dias Toffoli, j.
10-8-2010, 1ª T, DJE de 25-10-2010. (grifo nosso).

5. RESPONSABILIDADE CIVIL DOS REGISTRADORES


A responsabilidade civil pode ser definida “como sendo a obrigação que recai
sobre o autor de um ato contrário ao direito de reparar o dano causado à vítima”
(LOUREIRO, 2017, p. 115). Aos notários e aos registradores recai, sob força do art.
22 da Lei 8.935/94, a responsabilidade subjetiva, no qual respondem pelo
cometimento de ato ilícito (ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência)
ou falta de conduta, de forma dolosa ou culposa praticado pelo notário ou
registrador, ou pelo seus prepostos, devendo reparar ou indenizar a vítima. Podendo
o registrador, na última hipótese, ter direito de regresso em face de seus prepostos
quando estes tivessem agido com dolo ou culpa. Aos oficiais, incide também a
responsabilidade subjetiva e o direito de regresso, expresso no art. 28 da Lei nº
6015/73.

Art 22. Os notários e oficiais de registros são civilmente responsáveis por


todos os prejuízos que causarem a terceiros, por culpa ou dolo,
pessoalmente, pelos substitutos que designarem ou escreventes que
autorizem, assegurado o direito de regresso.
Parágrafo único. Prescreve em três anos a pretensão de reparação civil,
contado o prazo da data de lavratura do ato registral ou notarial.
Art. 28. Além dos casos expressamente consignados, os oficiais são
civilmente responsáveis por todos os prejuízos que, pessoalmente, ou pelos
prepostos ou substitutos que indicarem, causarem, por culpa ou dolo, aos
interessados no registro.
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Parágrafo único. A responsabilidade civil independe da criminal pelos delitos
que cometerem.

Ainda, conforme o art. 23 da Lei 8.935/94 e o Parágrafo Único do art. 28 da


Lei 6.015/73 a “A responsabilidade civil independe da criminal.”, ou seja,
dependendo do caso pode incidir ao registrador ou ao notário tanto a
responsabilidade civil, quanto a responsabilidade criminal.

6. SUJEIÇÃO DOS REGISTRADORES E DEMAIS EMPREGADOS DOS


REGISTROS NA LEI DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

A lei 8429/92, Lei de Improbidade Administrativa, em seu art. 2º, caput,


enumera quem são considerados agentes públicos, sujeitos ativos dos atos de
improbidade: “Para os efeitos desta Lei, consideram-se agente público o agente
político, o servidor público e todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou
sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer
outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas
entidades referidas no art. 1º desta Lei.
O parágrafo único do referido artigo diz que, no que se refere a recursos de
origem pública, sujeita-se às sanções previstas nesta Lei o particular, pessoa física
ou jurídica, que celebra com a administração pública convênio, contrato de repasse,
contrato de gestão, termo de parceria, termo de cooperação ou ajuste administrativo
equivalente.
A abrangência da lei e a aplicação do procedimento nela previsto a todos os
agentes públicos, políticos ou não, servidores ou não, indistintamente.
Por essa abrangência do conceito de sujeito ativo é que se pode dizer, que os
notários e registradores estão sujeitos à aplicação da Lei de Improbidade
Administrativa.

7. OS ATOS DOS REGISTRADORES ENQUANTO ATOS


ADMINISTRATIVOS

Apesar de serem profissionais dotados de certa independência e exercerem


função pública derivada do poder estatal, devem obediência à lei, aos atos,
regulamentos, provimentos e resoluções editadas pelo Poder Judiciário, sendo certo
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que o desrespeito pelos notários e registradores das exigências estabelecidas na
legislação e em normas técnicas provenientes da autoridade fiscalizadora
competente poderá acarretar falta funcional passível de aplicação de reprimenda em
conformidade com a legislação regente.
A autoridade competente, portanto, tem o dever legal de instaurar o devido
procedimento disciplinar ao identificar irregularidade na conduta do tabelião ou
registrador à frente de sua serventia.
A responsabilidade disciplinar do notário e registrador é regida pela lei 8.935,
de 1994, sendo certo que as penalidades a serem aplicadas se revestem em quatro
modalidades: repreensão, multa, suspensão e perda de delegação.
A lei 8.935, de 18 de novembro de 1994, estabeleceu que a finalidade
precípua desses serviços extrajudiciais, de organização técnica e administrativa, é
“garantir a publicidade, autenticidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos”

8. RELAÇÃO COM O CNJ


A Constituição Federal de 1988 (com a redação dada pela Emenda
Constitucional n. 45/2004) conferiu ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) a
atribuição de fiscalizar a atividade extrajudicial no País, de forma a aprimorar o
atendimento ao cidadão. Nesse sentido, a Corregedoria Nacional de Justiça
desenvolveu inúmeras iniciativas para garantir a modernização dos cartórios e o
respeito ao que determina a Constituição.
Com o objetivo de verificar a estrutura e o funcionamento das serventias
notariais e de registro no País, a partir de setembro de 2010 o serviço extrajudicial
de 16 estados foi inspecionado pela Corregedoria Nacional de Justiça. Com as
informações obtidas nas visitas, foram elaborados relatórios que tratam das
deficiências e das boas práticas verificadas nas unidades, além de determinações
aos tribunais para garantir a modernização dos serviços e o melhor atendimento aos
cidadãos.
Ademais, o Provimento n. 18 de 2012, da Corregedoria do CNJ, instituiu e
regulamentou o funcionamento da Central Notarial de Serviços Eletrônicos
Compartilhados (Censec). O sistema interligou os tabelionatos de notas do País,
possibilitando que órgãos públicos, autoridades e usuários do serviço notarial
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tenham acesso a informações dessas unidades, de maneira a facilitar a localização
de escrituras públicas e a obtenção de certidões.
Por meio dessas e de outras iniciativas voltadas ao aprimoramento e à
fiscalização do serviço extrajudicial, a Corregedoria do CNJ cumpre seu papel
constitucional que visa ao interesse público e à melhoria do atendimento aos
cidadãos.

9. CARTÓRIO E O MUNDO DIGITAL

Os cartórios precisaram se adequar ao mundo digital da atualidade, passaram


a ser praticados atos através do ambiente digital, por meio de videoconferências e
com assinatura eletrônica através de certificados digitais.
O Conselho Nacional de Justiça publicou o Provimento 100, estabelecendo as
regras para que os atos notariais possam ocorrer através de videoconferência e com
assinatura digital, dispensando a presença no local da prática do ato. A certificação
mencionada é o E-CPF ou E-CNPJ, devendo estar o certificado no padrão das
normas da ICP-BRASIL.
É importante destacar também a segurança jurídica das escrituras lavradas
por meio eletrônicos, uma vez que há conferência pelos notários dos documentos
apresentados, fazendo com que essas escrituras digitais possuam a mesma
validade das escrituras assinadas de forma física e presencialmente.

10. GRATUIDADE DOS SERVIÇOS

O Código de Processo Civil de 2015 regulamentou a matéria atinente à


gratuidade dos serviços em seus arts. 98 a 102, contemplando a gratuidade na
concessão dos atos notariais e registrais (art. 98, IX). Os dispositivos abarcam tanto
a lavratura da escritura de inventário, partilha, separação, divórcio e atas notariais
em usucapião extrajudicial, bem como os atos registrais lavrados perante o Cartório
de Registro de Imóveis, mesmo quando não decorra de decisão judicial.
Dessa forma, haverá a concessão da gratuidade para o hipossuficiente nos
termos da lei, ainda quando não decorra de decisão judicial, no caso de optar pelo
acesso aos serviços forenses por intermédio dos Cartórios extrajudiciais. Ainda, há
outros atos que detém de gratuidade, os quais são definidos a partir de cada
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cartório.
Em relação ao registro de pessoas naturais, os documentos que são gratuitos
nos serviços cartoriais são os seguintes:
1. Registro de primeira via certidão de nascimento (art. 30, caput, Lei
6015/73).
2. Registro e primeira via certidão de óbito (art. 30, caput, Lei 6015/73).
3. Certidões e averbações advindas da Defensoria Pública e mandados
judiciais.

Para os reconhecidamente pobres, mediante declaração da própria pessoa,


estão isentos do pagamento de emolumentos das demais certidões emitidas pelo
Cartório de Registro Civil (art. 30, §1º e §2º, Lei 6015/73).

Quanto ao registro de imóveis, conforme o CNJ, são isentos de emolumentos:


1. Registro de regularização fundiária de interesse social.
2. Abertura de matrículas para lotes regularizados de interesse social.
3. Registro dos títulos aquisitivos de beneficiários de regularização
fundiária.
4. Averbação de indisponibilidade de bens decorrentes de ordens judiciais
e administrativas.
5. Qualquer ato de registro praticado em favor dos respectivos Estados
Federativos ou de suas autarquias.
6. Processamento da execução extrajudicial de dívidas com alienação
fiduciária de imóvel em garantia.
7. Processamento da retificação administrativa de área.
8. Atos oriundos de títulos judiciais contemplados com justiça gratuita.
Ao Tabelionato de Notas, conforme o art. 68-A da Lei 8212/91, a lavratura de
procuração pública e a sua primeira via para fins de recebimento de benefícios
previdenciários do INSS são isentas de pagamento de emolumentos.
Aos protestos de título, as certidões de dívida ativa em âmbito da União,
autarquias, Estados e Municípios são emitidos de forma gratuita, normalmente de
forma eletrônica. O registro de entidade exclusivamente pia e caritativa no registro
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de pessoas jurídicas detém a gratuitidade, conforme a lei estadual 12.692, de 29 de
dezembro de 2006.

11. ATA NOTARIAL


A ata notarial é “o documento lavrado por tabelião público, que goza de fé
pública e que atesta a existência ou o modo de existir de algum fato.” (LOUREIRO,
2017, p. 1204) a requerimento do interessado. A ata notarial pode registrar fatos e
dados apresentados por imagem ou som gravados em arquivos eletrônicos. Permite
por exemplo que imagens de televisão, sons veiculados em rádio, imagens na
internet, entre outros, possam ser documentadas por escrito.
A ata notarial está prevista no art. 384 do CPC/2015: “A existência e o modo
de existir de algum fato podem ser atestados ou documentados, a requerimento do
interessado, mediante ata lavrada por tabelião.”
É considerada meio de prova a ser postulada nos processos judiciais e
apresentada em juízo, por exemplo, a transcrição de conversas ofensivas enviadas
por mensagem via Whatsapp, messenger, ou outra rede social.

RECURSO INOMINADO. AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS MORAIS.


CONVERSAS OFENSIVAS ENVIADAS PELA RÉ DIRETAMENTE PARA O
WHATSAPP PESSOAL DA AUTORA. TEOR DOS ÁUDIOS CONSTANTES
NA ATA NOTARIAL QUE DEMONSTRA DESACERTO ENTRE AS
PARTES ENVOLVENDO FAMILIAR DA AUTORA. OFENSAS</em> QUE,
MESMO LANÇADAS EM MENSAGENS DE DISCÓRDIA,
ULTRAPASSARAM O LIMITE DO ACEITÁVEL, JÁ QUE ATRIBUEM À
AUTORA A PECHA DE “NOJENTA”, “IMBECIL”, “FALSA”, “CÍNICA” E
“HIPÓCRITA”. DANOS MORAIS CONFIGURADOS, AINDA QUE AS
MENSAGENS NÃO TENHAM EXTRAPOLADO O ÂMBITO PARTICULAR.
REVELIA DA DEMANDADA QUE INDUZ À PRESUNÇÃO DE
VERACIDADE DOS FATOS VERTIDOS NA INICIAL. QUANTUM FIXADO
EM R$2.000,00. PROCEDÊNCIA PARCIAL DO PEDIDO. RECURSO
PARCIALMENTE PROVIDO.(Recurso Cível, Nº 71009430414, Quarta
Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Luis Antonio Behrensdorf
Gomes da Silva, Julgado em: 17-07-2020) (grifo nosso)

Como prova para ajuizar ação de indenização por danos morais no caso de
excessos de ligações.

RECURSO INOMINADO. CONSUMIDOR. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR


DANOS MORAIS. EXCESSO DE LIGAÇÕES. ABUSIVIDADE DA
CONDUTA DO DEMANDADO. PROVA AMPARADA EM ATA NOTARIAL.
DEVER DE CESSAR AS CHAMADAS. TRANSTORNOS QUE
ULTRAPASSARAM O MERO DISSABOR. DANO MORAL CONFIGURADO.
VALOR INDENIZATÓRIO ARBITRADO EM R$ 2.000,00, DE ACORDO
COM OS PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E DA
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RAZOABILIDADE, BEM COMO OS PARÂMETROS ADOTADOS PELAS
TURMAS EM CASOS ANÁLOGOS. RECURSO PROVIDO. POR MAIORIA.
(Recurso Cível, Nº 71009283136, Quarta Turma Recursal Cível, Turmas
Recursais, Relator: Jerson Moacir Gubert, Julgado em: 17-07-2020) (grifo
nosso)

Também, pode ser usada para a prova do esbulho na ação de reintegração


de posse:

AGRAVO INOMINADO. AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE.


COMPROVAÇÃO DA POSSE. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. A parte
agravante de instrumento e demandante da reintegração de posse
comprova, por meio de documentos, a posse anterior, a propriedade do
imóvel, que também faz presumir a posse, no mínimo indireta, e a
recenticidade do esbulho mediante casa de madeira recente, certificadas
na ata notarial criteriosamente elaborada por. Tabelião do Tabelionato
de Notas da Comarca. (Agravo, Nº 70064808645, Vigésima Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Carlos Cini Marchionatti, Julgado em:
10-06-2015) (grifo nosso)

12. ESCRITURA PÚBLICA

A escritura pública é um documento onde se transcreve declarações de


vontade. Consiste na interpretação no papel de um ato ou negócio jurídico, feito por
um Tabelião a partir do pedido das pessoas interessadas, contendo a assinatura das
partes e estando de acordo com os preceitos da lei.
A finalidade da escritura pública depende do seu tipo, que se divide em
reconhecimento e transmissão de bens, assim como comprovação de atos da vida
civil. Exemplos de escrituras muito utilizadas: Cessão de Direitos Hereditários;
Inventário e partilha; Reconhecimento de Paternidade; Declaração de União Estável;
Divórcio consensual.
A escritura pública pode ser utilizada como prova na Ação de
Reintegração de Posse para provar a propriedade do bem imóvel.
AGRAVO DE INSTRUMENTO. POSSE (BENS IMÓVEIS). NOVO PEDIDO
DE TUTELA PROVISÓRIA. AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE
CONEXA COM AÇÃO DE CONHECIMENTO. AUSÊNCIA DE PROVA
CABAL DA POSSE ANTERIOR E DO ESBULHO. NÃO PREENCHIMENTO
DOS REQUISITOS DO ART. 561 DO CPC. I. Para a concessão da
reintegração de posse em sede de tutela provisória, necessário o
preenchimento dos requisitos elencados no art. 561 do CPC. II. Caso em
que os fatos narrados na própria exordial impedem que se conclua, em sede
de cognição sumária, pela existência da posse anterior e do esbulho. III.
Trata-se de imóvel inicialmente adquirido pelo autor, outrora proprietário do
terreno, com base em “Contrato de Permuta com Pagamento em Área
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Construída no Local” firmado com a construtora - que foi, posteriormente,
formalizado por meio de escritura pública de compra e venda. Ocorre
que, não obstante a verossimilhança da fraude havida por parte de terceiro,
corretor de imóveis, que alienou os apartamentos recém construídos em
nome do demandante, na hipótese dos autos, o termo de recebimento das
chaves, assinado pelo autor, data de apenas um mês antes da suposta
aquisição pela demandada. IV. Assim, diante da necessidade de dilação
probatória, para que seja aferido o efetivo exercício da posse anterior pelo
requerente, e diante da pendência de julgamento da ação de conhecimento
ajuizada pela requerida, na qual visa à declaração de validade do contrato
que deu origem à sua posse, flagrante a impossibilidade de concessão da
medida reintegratória em sede de tutela de urgência antecipada. Negaram
provimento ao agravo de instrumento. Unânime.(Agravo de Instrumento, Nº
70083535823, Vigésima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Dilso Domingos Pereira, Julgado em: 11-03-2020) (grifo nosso)

13. RELAÇÃO DE ATIVIDADE CARTORIAIS E AS DISCIPLINAS DO 5º


SEMESTRE

a) Módulo de Direito Civil das Coisas: Em Direito Civil das Coisas foi
abordado em aula a legislação aplicada aos cartórios, bem como a possibilidade de
utilizar como prova a Escritura Pública ou a Matrícula do Imóvel, a fim de comprovar
a propriedade do bem em ações possessórias.

b) Módulo Direito Administrativo A:


No módulo de Direito Administrativo A foi abordado o conceito “Agentes
Administrativos”, e dentro disso tratamos sobre a relação dos particulares em
colaboração com o Poder Público. Um exemplo que foi tratado em aula é a atividade
notarial e registral exercida pelos tabeliães, este conceito está disposto no Artigo
236 da Constituição Federal.

Art. 236. Os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado,


por delegação do Poder Público. (Regulamento)

Também foi tratado que o regimento desta modalidade é feito por lei própria,
mas que o ingresso na atividade notarial é dado por meio de concurso público.

c) Módulo Processo Civil Contemporâneo B: Em Processo Civil


Contemporâneo B foi apresentado em forma de estudo independente a diferença
entre Ata Notarial e Escritura Pública, na abordagem da ata notarial como prova no
processo civil.
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d) Módulo Processo Penal A: Pode ser usada a Ata Notarial como meio de
prova oficial no Processo Penal, por exemplo, nos crimes de ação privada, como o
de ameaça, é o próprio advogado que prepara a ação. Deverá levar o equipamento
com as provas e o tabelião atesta o que viu (se a ameaça for por mensagem) ou
ouviu (se for por telefone).

14) PERGUNTAS PODCAST SOBRE TABELIONATO DE NOTAS E ATA


NOTARIAL

A. Laura de Souza - Quais são as funções e a finalidade do Tabelionato de


Notas? O Tabelionato de Notas pratica autenticações, reconhecimento de
firmas, procurações públicas, escrituras públicas, testamentos, inventários,
partilhas, separações, divórcios e reconciliações, atas notariais, validação de
certificados digitais, entre outros atos. Este cartório tem como finalidade tornar
estes atos públicos, seguros e autênticos.
B. Paula Kessler Esber - Qual a formação dos servidores de um Tabelionato
de Notas? Para prestar concurso e ser aprovado para preencher a vaga em
um Tabelionato de Notas, o interessado precisa ser bacharel em Direito ou ter
completado dez anos de exercício de função em cartório; possuir a
nacionalidade brasileira, e estar em pleno exercício dos direitos civis e
políticos; estar quite com as obrigações do serviço militar e ter aptidão física e
mental para exercício das atribuições, não possuindo antecedentes criminais
e cíveis.
C. Fabiana Maas - Para que servem as escrituras públicas? É obrigatório
seu registro para compra e venda de imóvel?

As escrituras públicas são lavradas na presença de um tabelião, o que


garante ao documento a fé pública e prova plena, servem para formalizar
juridicamente a vontade das partes e fornecer maior segurança jurídica aos
atos e negócios realizados.

Inúmeros negócios jurídicos são formalizados por meio da escritura pública,


como, por exemplo, inventários, partilhas de bens, divórcios, separações
consensuais, atas notariais.
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A escritura pública é muito utilizada nas transações que envolvem imóveis,
como a compra e venda, e são obrigatórias nas negociações com bens
imóveis de valor superior a 30 vezes o maior salário mínimo vigente no país.

Art. 108 do CC. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é


essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição,
transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de
valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País.

D. Milena Haeser - O que é ata notarial e qual é a sua finalidade? A ata


notarial é um documento público, que a pedido da pessoa interessada, o
tabelião de notas registra fielmente fatos, coisas, pessoas ou situações, a fim
de comprovar a sua existência ou estado. É utilizada principalmente como
prova em processos judiciais, uma vez que o documento é dotado de fé
pública.
E. Brunna da Silveira Brum – Tendo em vista que a ata notarial é um
documento dotado de fé pública, quando utilizá-la?

A ata notarial será utilizada quando houver necessidade de reconstruir fatos


ocorridos de uma situação em que, em alguns casos, são perigosos ou
danosos, bem como de circunstâncias que são difíceis de provar. Posto isto, o
documento será dotado de fé pública, lavrado pelo tabelião, garantindo
segurança para a comprovação dos fatos narrados por ele, servindo de prova
plena perante qualquer Juízo.

F. Nicholas Marques Vendruscollo – Diálogos em redes sociais


podem ser utilizadas como provas em um processo jurídico?

Sim, podem ser utilizadas. Para que a prova tenha credibilidade, basta a parte
deslocar-se a um Tabelionato de Notas, com o aparelho eletrônico, objeto da
conversa, a partir disto, o tabelião, dotado de fé pública, terá que analisar e
certificar o conteúdo digital, devendo transcrever o que visualizou e ouviu,
bem como detalhar a data e o horário do fato ocorrido. Ademais, ele poderá
anexar uma imagem do diálogo na ata notarial. Diante disso, o documento
passará a possuir fé pública que garantirá sua integridade e autenticidade.
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REFERÊNCIAS

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registradores. Disponível em:
https://www.migalhas.com.br/coluna/migalhas-notariais-e-registrais/337173/responsa
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BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.


Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.

BLOG DO CARTÓRIO ANTÔNIO DO PRADO. Escritura Pública: o que é e para que


serve. Disponível em:
https://www.cartorioantoniodoprado.com.br/blog/escritura-publica-o-que-e-e-para-qu
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CANOVA, Jeferson Luciano. A gratuidade dos serviços forenses prestados pelos


Cartórios de Notas e de Registro de Imóveis. Disponível em:
https://www.migalhas.com.br/depeso/260465/a-gratuidade-dos-servicos-forenses-pre
stados-pelos-cartorios-de-notas-e-de-registro-de-imoveis. Acesso em: 02 de junho
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em:https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2011/10/servico_extrajudicial.pdf .
Acesso em: 10 de abril de 2022.

DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 33. ed. – Rio de Janeiro:
Forense, 2020.

FIGUEIREDO, Elisa Junqueira; RODRIGUES, Fabiano Oliveira. Escritura digital:


Inovação administrativa trazida em decorrência da covid-19. Disponível em:
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https://www.migalhas.com.br/depeso/327734/escritura-digital--inovacao-administrativ
a-trazida-em-decorrencia-da-covid-19. Acesso em 20 de maio de 2022.

LISBOA, José Herbert Luna. Responsabilidade administrativa do tabelião e


registrador. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 20, n. 4259, 28
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LOUREIRO, Luiz Guilherme. Registros Públicos teoria e prática. 8 ed. Salvador:


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SANTOS, Paulo Cesar Batista. A improbidade administrativa e os notários e


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https://www.irib.org.br/noticias/detalhes/artigo-a-improbidade-administrativa-e-os-not
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2022.

SELL, Joelson. Saiba o que é preciso para se tornar um tabelião e assumir uma
serventia extrajudicial – por joelson sell. Disponível em:
https://www.notariado.org.br/artigo-saiba-o-que-e-preciso-para-se-tornar-um-tabeliao
-e-assumir-uma-serventia-extrajudicial-por-joelson-sell/#:~:text=Para%20prestar%20
concurso%20e%20ser,estar%20quite%20com%20as%20obrigações. Acesso em: 05
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STF. Artigo 236 da CF. Disponível em:


https://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigoBd.asp?item=2079. Acesso em: 02 de
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