Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Nome, brasileira, solteira, publicitária, portadora do RG n.° 00000-00 e inscrita no CPF/MF n.°
000.000.000-00, com o endereço eletrônico: email@email.com, residente e domiciliada na
Endereço, vem, respeitosamente, por seus Advogados (fls. 8), à presença de V. Exa., com fulcro
nos no artigo 227, § 6° da Constituição Federal e no artigo 1.593 do Código Civil, propor a
presente:
I - DA TEMPESTIVIDADE DA AÇÃO
O artigo 308, caput do novo Código de Processo Civil dispõe que, efetivada a tutela cautelar, o
pedido principal terá de ser formulado pelo autor no prazo de 30 dias, caso em que será
apresentado nos mesmos autos em que deduzido o pedido de tutela cautelar, sem necessidade
de novas custas processuais.
II - DOS FATOS
A Requerente nasceu em 16 de abril de 1977. É filha de Nome e Nome (fls. 12/13). Quando
tinha aproximadamente três anos de idade, seu pai biológico abandonou a família e, a partir de
então, nunca houve qualquer contato entre eles. Pouquíssimo se lembra dele e, em razão
deste episódio, a Autora nunca o considerou como verdadeiro pai.
Em 1991, quanto a Autora tinha 14 (quatorze) anos de idade, sua mãe casou-se com o
Requerido (cf. fls. 14 - certidão de casamento), com ele vivendo durante aproximadamente 4
(quatro) anos. Antes desse matrimônio, ele teve 2 (dois) filhos, Ana Cecília e Nome, oriundos
de um casamento anterior.
Durante o casamento com sua mãe, Maria Lucia, a convivência do então padrasto com a
Autora foi tão afetuosa e dedicada, que a lacuna provocada pela ausência de seu pai biológico
foi rapidamente preenchida. Por terem se identificado desde o início e por desfrutarem de
inúmeros bons momentos juntos, o Requerido desde então se tornou "afetivamente" o pai que
a adolescente nunca tivera (cf. fotos - fls. 15/21). Em seu 17° aniversário, ele lhe escreveu um
carinhoso cartão, em cujo final se lê: "Do pai, Nome" (cf. fls. 22). Por ocasião da Páscoa, a
Autora também recebe bilhete afetuoso (fls. 23).
Com a separação da mãe da Autora, em 1994, Nome e seu pai sofreram, mas por uma escolha
recíproca, ambos buscaram manter o contato por meio de bilhetes, cartas e encontros
familiares. Em carta que data do início de 1995 (fls. 24), percebe-se o carinho que este tinha
por Nome, a começar por chamá-la de "segunda filha". Nesta carta, fica evidente a tristeza pela
separação, porém, aos poucos, foram consolidando essa relação filial.
Basta dizer que por ocasião de sua formatura, a Autora o escolheu para dançarem a valsa
juntos (fls. 25/28), cabendo apontar o bilhete de 1999, em que o Requerido descreve o laço
entre eles como um "relacionamento de pai e filha" (cf. fls. 29).
Em 2002, o Requerido fez testamento público (fls. 54/55), na qual, logo após as informações
pessoais e de seus herdeiros necessários, contempla em primeiro lugar a Autora, destinando-
lhe um imóvel e seu terreno no Guarujá "tendo em vista que a mesma sempre lhe dispensou o
maior carinho e mesmo após a separação consensual com sua mãe Nome, portou-se como
uma verdadeira filha."
Não resta dúvida, após todas estas informações, de que a relação socioafetiva entre ambos se
equipara, em termos jurídicos, ao vínculo biológico entre pais e filhos.
Posteriormente, Nome contraiu nova união, com a Sra. Nome, atual Curadora, e, por iniciativa
desta, mudou-se em julho de 2004 para um condomínio em Vinhedo/SP. A partir de então, o
contato entre pai e filha ficou muito comprometido, porque Nome constantemente opunha
óbices para manter o Requerido isolado do resto da família. Há um bilhete singelo que data de
2006, que, por ocasião do Ano Novo, o Requerido enviou a ela (fls. 61).
Com o tempo, a Autora manteve a relação com o Requerido por meio de visitas e telefonemas.
Contudo, a partir de meados de 2013, a Sra. Nome começou a dificultar a comunicação de
ambos. A saúde do Requerido começou a piorar. Ajuizada ação de interdição, sobreveio o laudo
médico, apontando ser portador de Alzheimer, doença permanente e progressiva, que teve
início em meados de 2009 (fls. 62/65).
Em setembro p.p., a Autora ingressou com Ação de Regulamentação de Visitas em face da Sra.
Nome, em razão da dificuldade no contato e visitas com o Requerido. A ação tramita na 2a Vara
Cível desta Comarca sob o n° XXXXX-19.2015.8.26.0659.
A MM. Juíza logo concedeu liminar, estabelecendo regime de visitas pleiteado na exordial (fls.
66). Apesar de ter sido designada audiência de conciliação para o dia 30 de novembro p.p., a
Curadora Sra. Nome não o levou à audiência, redesignada para o dia 03 de dezembro p.f.,
restando infrutífera, pois Nome não deseja a proximidade de Nome com o Requerido, pelo
mero fato de a mãe da Autora ter sido casada com ele por anos .
Embora em todas as visitas - conseguidas devido à liminar - o Requerido trate Nome por filha -
D. Nome evita que o mesmo vá a juízo, pois não tem interesse que ele ali demonstre a
afetividade de Nome por Nome. Tanto que nas audiências realizadas, ela nunca o levou e
sempre junta atestados médicos sucessivos, contando com que o agravamento do Mal de
Alzheimer comprometa esse liame. Ele somente compareceu na última, por ser a de produção
antecipada de prova para ser tomado o seu depoimento.
O Requerido categoricamente demonstra o desejo de ver Nome (8min06s), bem como manter
contato telefônico com esta (9min48s). Não se opõe ao fato de Nome continuar morando em
seu apartamento (10min34s).
Aos ver as fotos juntadas às fls. 25 e 27, nos autos de produção antecipada de prova, em que
estão juntos Nome e Nome, o Requerido reconhece um restaurante frequentado por
advogados (8min55s), no qual ia com ela e os amigos dele.
Após a separação de Nome e Maria Lúcia, mãe de Nome, afirma o depoente que via a Autora
uma vez por semana pelo menos, a qual ia a sua casa por alguns meses após a separação
(5min18s e 5min32s).
Nome se recorda de momentos juntos com a Nome, como o restaurante ("Paulistano"), perto
do escritório que tinha em São Paulo/SP, ao qual iam juntos (7min22s).
IV - DO DIREITO
A presente ação encontra fundamento no artigo 1.593 do Código Civil e no artigo 227, § 6° da
Constituição Federal, os quais preceituam:
Art. 227, §6° da Constituição Federal. Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou
por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações
discriminatórias relativas à filiação.
- Merece reforma o acórdão que, ao julgar embargos de declaração, impõe multa com amparo
no art. 538, par. único, CPC se o recurso não apresenta caráter modificativo e se foi interposto
com expressa finalidade de prequestionar. Inteligência da Súmula 98, STJ.
- O STJ vem dando prioridade ao critério biológico para o reconhecimento da filiação naquelas
circunstâncias em que há dissenso familiar, onde a relação sócio-afetiva desapareceu ou nunca
existiu. Não se pode impor os deveres de cuidado, de carinho e de sustento a alguém que, não
sendo o pai biológico, também não deseja ser pai sócio-afetivo. A contrario sensu , se o afeto
persiste de forma que pais e filhos constroem uma relação de mútuo auxílio, respeito e
amparo, é acertado desconsiderar o vínculo meramente sanguíneo, para reconhecer a
existência de filiação jurídica.
(Superior Tribunal de Justiça, REsp n° 878.941 - DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, J. em: 21 ago.
2007) (negrito nosso).
O REsp n° 1.352.529, julgado em 24/02/2015, também aponta o reconhecimento da
paternidade voluntariamente, mesmo sabendo que não era seu filho biológico:
4. Com efeito, tal providência ofende, na letra e no espírito, o art. 1.604 do Código Civil,
segundo o qual não se pode "vindicar estado contrário ao que resulta do registro de
nascimento, salvo provando-se erro ou falsidade do registro", do que efetivamente não se
cuida no caso em apreço. Se a declaração realizada pelo autor, por ocasião do registro, foi uma
inverdade no que concerne à origem genética, certamente não o foi no que toca ao desígnio de
estabelecer com o infante vínculos afetivos próprios do estado de filho, verdade social em si
bastante à manutenção do registro de nascimento e ao afastamento da alegação de falsidade
ou erro.
6. Recurso especial não provido. (Superior Tribunal de Justiça, REsp n° 1.352.529 - SP, Rel. Min.
Não obstante ter o exame de DNA afastado a paternidade, deve prevalecer a realidade
socioafetiva sobre a biológica, diante da relação formada entre pai e filha ao longo de anos .
RECURSO DESPROVIDO.
(Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, AC n° (00)00000-0000, 8a Câmara Cível, Rel. Des.
Alfredo Guilherme Englert, J. em: 18 mar. 2004) (negrito nosso).
[...] a paternidade não pode ser vista puramente pelo enfoque biológico, que dá especial
relevância à relação genética, mas sim analisada através da relação socioafetiva, conforme
amplamente manifestado pela jurisprudência.
[...]
No presente caso, não vejo como afastar a relação socioafetiva existente entre o apelante e
Poliana, pois, registrada em 1984 (fl. 07), sempre foi tratada como filha, conforme evidenciam
as fotos de fls. 09/10, relação que perdurou até o ajuizamento da ação, em 1996, ou seja, por
mais de dez anos, tempo suficiente para solidificar o afeto mútuo entre ambos, constituindo-se
verdadeira relação de pai e filha (RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça, 2004, p. 3-4).
(Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, AC n° (00)00000-0000, 7a Câmara Cível, Rel. Des.
Liselena Schifino Robles Ribeiro, J. em: 29 jul. 2015) (negrito nosso).
O Tribunal também entendeu, nessa apelação, que as relações parentais de filiação pautadas
e/ou edificadas pela afetividade devem prevalecer sobre a filiação biológica ou registral.
No caso em questão, embora não esteja presente a filiação biológica, os fatos demonstram que
a paternidade existe na relação entre Nome e Nome, a qual deve ser reconhecida
juridicamente, pedido esse requerido na presente ação.
O Novo Código de Processo Civil prevê, em seu artigo 300, caput, que a tutela de urgência será
concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de
dano ou o risco ao resultado útil do processo.
Portanto, presentes os requisitos para a tutela de urgência são o fumus boni iuris e o periculum
in mora.
No caso em questão, vislumbra-se o fumus boni iuris no vínculo paternal existente entre Nome
e Nome, demonstrado pelos documentos anexados (fotos e bilhetes trocados entre o pai e a
filha) e a mídia obtida na produção antecipada de provas.
Tal vínculo fático encontra amparo jurídico no Código Civil e na Constituição Federal, como
supramencionado.
O periculum in mora também se encontra presente, visto que Nome tem 87 anos, além de ser
portador de doença de Alzheimer, cuja doença tende à degeneração de suas faculdades
mentais. Outrossim, Nome, curadora de Nome, também possui idade avançada.
Ademais, em razão dessa doença, Nome deseja acompanhar Nome em seu tratamento, o qual
é urgente por se tratar de uma enfermidade degenerativa.
Sendo concedida a tutela antecipada, de acordo com o artigo 304 do CPC, requer a
estabilização da tutela, se não for revista, reformada ou invalidade por decisão de mérito
proferida na ação (artigo 304, §3° do CPC).
VI - DOS PEDIDOS
Ante todo o exposto, a Autora requer integral procedência da presente nos seguintes termos:
incidência dos efeitos da estabilização dessa tutela, conforme o art. 304 do CPC;
audiência designada, sem necessidade de nova citação conforme o art. 308, §3° do CPC e
Público estadual com atribuições perante esse Juízo para intervir no feito.
Por fim, protesta provar o alegado por todos os meios de provas em direito admitidos.
Termos em que,
Pede Deferimento.
Nome
00.000 OAB/UF